Grandes Escolhas Vinhos & Sabores de volta à FIL em Outubro
É já em Outubro, entre os dias 14 e 16, que o grande evento de referência do sector vínico em Portugal, Grandes Escolhas | Vinhos & Sabores, regressa à Feira Internacional de Lisboa (FIL), no Parque das Nações, Pavilhão 1, num espaço com cerca de 7000m2. A abertura das portas ao público decorre a partir […]
É já em Outubro, entre os dias 14 e 16, que o grande evento de referência do sector vínico em Portugal, Grandes Escolhas | Vinhos & Sabores, regressa à Feira Internacional de Lisboa (FIL), no Parque das Nações, Pavilhão 1, num espaço com cerca de 7000m2.
A abertura das portas ao público decorre a partir das 15h00 de Sábado, dia 14. Aqui, os visitantes terão a possibilidade de interagir com os produtores e, provar em primeira mão, vinhos e sabores únicos, bem como assistir a provas comentadas de excelência e showcooking com conhecidos chefs de cozinha num evento para o público e profissionais.
A edição deste ano conta com Vítor Adão como chef residente, que fará preparações e petiscos variados disponíveis durante todo o horário da feira. O apoio do Turismo de Portugal decorre da aposta no Enoturismo como o tema central do evento, com exposição no local das rotas de vinhos de várias regiões do país e com a realização de um colóquio profissional sobre o tema, na segunda-feira dia 16 de Outubro. A Ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, irá estar presente na inauguração oficial da feira, no dia 14 de Outubro, pelas 17h00.
“A feira Vinhos & Sabores posiciona-se como o evento mais importante do sector vínico em Portugal, que congrega produtores de todas as regiões do país, que durante o mesmo apresentam as suas últimas colheitas e as grandes novidades do ano. Não menos importante é a enorme qualidade do programa das Provas Especiais, assim como o aumento do número de produtores, jornalistas, sommeliers e compradores estrangeiros presentes no evento, razões excelentes para não faltar a esta edição”, acrescenta Luís Lopes, director da revista Grandes Escolhas.
Num esforço de internacionalização, a organização da feira convidou, nesta edição de 2023, um número significativo de importadores e jornalistas de alguns dos principais mercados de exportação para os vinhos portugueses: 18 representantes estrangeiros oriundos do Reino Unido, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo e países nórdicos. Estes visitantes terão um programa próprio de provas e visitas, estabelecendo contactos com muitos dos produtores presentes.
“O ano de 2023 traz-nos a 6ª edição do evento, que tem vindo a atrair cada vez mais visitantes, ano após ano, sejam
eles particulares ou profissionais, o que faz com que o desafio seja mais exigente, mas, por outro lado, também gratificante. A feira Vinhos & Sabores possibilita que os responsáveis de compras de muitas garrafeiras, restaurantes e hotéis, compradores da moderna distribuição, sommeliers, wine bars, e outros profissionais, possam provar as novidades antecipadamente e decidir — no dia 16 de Outubro, exclusivamente para os visitantes profissionais — as suas compras futuras”, reforça João Geirinhas, director de negócio da Grandes Escolhas.
No espaço Vinhos com Gosto, prestigiados chefs de cozinha levarão a cabo apresentações culinárias, nas quais, para além da apresentação de propostas gastronómicas irresistíveis, se ensaiam harmonizações desafiantes com vinhos de todos os estilos e regiões, numa colaboração com as Edições do Gosto.
Para o público em geral e de acesso gratuito, haverá, como habitual, sessões “Prove Connosco”, à disposição de todos os expositores para curtas apresentações e provas de vinhos. Aqui, qualquer produtor que participe na feira poderá reservar uma sessão de 20 minutos para dar a conhecer dois vinhos e orientar a sua prova.
PROVAS ESPECIAIS
As Provas Especiais, que este ano decorrem no espaço FIL Meeting Center, mesmo ao lado do Pavilhão 1, são dos momentos mais procurados do evento. Para os apreciadores mais exigentes, estas provas comentadas, com duração de 1h30 cada, são ocasiões imperdíveis para provar grandes vinhos, muitos deles autênticas raridades, colheitas históricas e que há muito não estão disponíveis no mercado. O acesso a estas provas faz-se por inscrição prévia, através da Ticketline, e tem um custo de €50 cada.
A destacar: prova “Quinta do Regueiro, Alvarinho com Classe” (dia 14/10, 15h30-17h00, sala 1); prova “Grandes Tintos de 2013” (dia 14/10, 17h30-19h00, sala 1); “Esporão, os Primeiros 50 Anos” (dia 14/10, 19h30-21h00, sala 1). Na sala 2, ainda no dia 14 de Outubro, destacam-se as para as provas “Júlio B. Bastos, Alicante Bouschet na sua origem” (16h00-17h30) e “Quinta da Lêda, Essência do Douro Superior” (18h00-19h30). O dia 15 de Outubro, domingo, está reservado para as provas a decorrer na sala 1 de “Dirk Niepoort: Os Vinhos da Minha Vida” (15h30-17h00); “Vinho do Porto Graham’s: Quintas, Adegas e Vinhos (17h30-19h00) e “Cartuxa, Um Clássico do Alentejo na Celebração dos 60 Anos da Fundação Eugénio de Almeida” (19h30-21h00). A sala 2 irá acolher, ainda, as provas “Luís Pato, Desde 1980 a Falar de Bairrada” (16h00-17h30) e “Nicolau de Almeida, Uma Família, A Mesma Paixão Pelo Douro” (18h00-19h00).
Ainda no âmbito deste evento, decorreu, a 19 de Setembro, o concurso “Escolha da Imprensa”, organizado pela Grandes Escolhas, uma competição sui generis na qual uma publicação especializada convida colegas de outros órgãos da comunicação social — da imprensa escrita, à rádio, televisão, plataformas digitais e redes sociais — a provar uma amostra significativa do melhor que se faz na produção de vinhos em Portugal. A divulgação e entrega dos prémios aos vencedores será feita logo na abertura da feira, dia 14, às 15h00.
As Provas Especiais, com lugares limitados, já se encontram à venda na Ticketline, bem como o bilhete diário para o público, que tem o valor de €15 (com direito a um copo), ou de €20 pelos dois dias. Qualquer ingresso para a feira pode ser adquirido também no local.
Companhia Agrícola do Sanguinhal renova imagem da emblemática marca Cerejeiras
A Companhia Agrícola do Sanguinhal apresentou a nova imagem de uma das suas marcas emblemáticas, Cerejeiras, nas três versões: branco, rosé e tinto. Trata-se de uma marca presente, sobretudo, em grandes superfícies, com preços que podem variar (conforme as promoções) entre €3,49 e €3,99. Este rebranding prescindiu, ainda, dos anteriores designativos, como o Colheita Seleccionada […]
A Companhia Agrícola do Sanguinhal apresentou a nova imagem de uma das suas marcas emblemáticas, Cerejeiras, nas três versões: branco, rosé e tinto. Trata-se de uma marca presente, sobretudo, em grandes superfícies, com preços que podem variar (conforme as promoções) entre €3,49 e €3,99.
Este rebranding prescindiu, ainda, dos anteriores designativos, como o Colheita Seleccionada que agora, em garrafa borgonhesa, apenas se chama Cerejeiras. É uma marca que, no conjunto dos três vinhos, faz cerca de 250 mil garrafas, como disse Carlos João Pereira da Fonseca na apresentação da nova imagem, CEO da empresa e descendente directo de Abel Pereira da Fonseca, uma das figuras de referência dos vinhos portugueses na primeira metade do século passado.
Os vinhos agora lançados, todos da colheita de 2022, incluem as castas Arinto, Sauvignon Blanc, Fernão Pires e Vital (em branco), Castelão, Touriga Nacional, Aragonez e Syrah na versão rosé, e o tinto, além de incorporar as mesmas castas do rosé, ainda tem Cabernet Sauvignon.
A Companhia Agrícola do Sanguinhal, com sede no Bombarral e importante símbolo da Denominação de Origem Óbidos, é também conhecida pelos seus licorosos, aguardentes velhas e a sua marca ícone, Quinta das Cerejeiras, que começou apenas na versão tinto mas que, actualmente, integra também branco e rosé. Além dos vinhos, o enoturismo desta empresa ganha cada vez mais preponderância com a visita às antigas adegas, onde existem as prensas gigantes que tanto impressionam os visitantes.
Baías e Enseadas: da garagem para o mundo
Daniel Afonso – uma pessoa genuína e apaixonada – é um verdadeiro garagista, com as cubas, barricas e uma prensa vertical justapostas num espaço minúsculo em Mercês (de Sintra), e com um carro velho à porta para ir às vinhas, espalhadas pela zona de Colares. O seu carácter terra-a-terra continua na genuinidade dos seus vinhos, […]
Daniel Afonso – uma pessoa genuína e apaixonada – é um verdadeiro garagista, com as cubas, barricas e uma prensa vertical justapostas num espaço minúsculo em Mercês (de Sintra), e com um carro velho à porta para ir às vinhas, espalhadas pela zona de Colares. O seu carácter terra-a-terra continua na genuinidade dos seus vinhos, que, nascidos num ambiente modesto, encontram o glamour no seu destino, servidos nos restaurantes estrelados do Algarve e Nova Iorque.
A ideia de fazer vinho nasceu muito cedo. “Desde que comecei conscientemente a gostar de vinhos, tive logo o sonho de fazer um vinho meu”, confessa Daniel Afonso. Em 2012 começou a realizar o seu sonho: fez a primeira surriba e no ano seguinte plantou três castas brancas, típicas da região de Lisboa — Fernão Pires, Arinto e Malvasia de Colares (que considera a melhor casta branca nacional) — a 5km do mar em linha recta. Em 2014 plantou mais 0,5 hectares acrescentando Castelão.
A vindima de 2015 serviu de ensaio e a de 2016 deu origem aos primeiros vinhos apresentados no mercado. A pouco e pouco, ia plantando mais vinha e mais castas: o Cercial que gosta pelo seu carácter e acidez e duas castas estrangeiras – Chardonnay e Pinot Noir – que no início pensou fazer só para si, mas as experiências de vinificação mostraram os resultados de tal modo promissores que ficou motivado a dar-lhes mais protagonismo.
Mas havia outro sonho: fazer um vinho DOC Colares, com Malvasia e Ramisco plantadas em chão de areia. Este demora mais tempo, porque a propria plantação em chão de areia é diferente. E este ano já conseguiu lançar o primeiro Colares Malvasia.
A abordagem enológica é simples. Sem desengaço, vai tudo para a prensa, onde acaba por ter uma pequena maceração porque o processo demora 7-9 horas. Fermenta com leveduras indígenas, um pouco de sulfuroso para impedir a fermentção maloláctica e retira a borra mais grosseira. A fermentação acaba nas barricas e lá os vinhos ficam de 6 a 8 meses, com bâtonnage. Nos tintos, as uvas também não desengaçadas, levam uma ligeira pisa a pé, ficando com alguns cachos inteiros. O estágio também é em barricas, durante cerca de 6 meses.
Neste momento, Daniel só faz os monovarietais a querer mostrar “o que cada casta fala da região”. Os vinhos da gama Escolha Pessoal estão sujeitos a uma selecção mais criteriosa em todos os passos desde a uva às barricas.
“Faço o melhor que posso e tento intervir o mínimo possível” – diz o produtor, não tendo intenção nenhuma de produzir vinhos funky para agradar os wine freaks. Não é por ser um produtor pequeno que vou atrás de modas. “Eu não quero ser diferente, quero representar a região”, afirma o vigneron com convicção, “quero que quando alguém prove os meus vinhos, diga ‘Isto só pode ser de Colares!’”.
Neste momento, tem quatro vinhas e precisa de aumentar a área. A produção de hoje conta com cerca de 8 mil garrafas, das quais 90% vai para a exportação: Estados Unidos, Inglaterra, Noruega e Bélgica. Em Nova Iorque, os Baías e Enseadas estão presentes em 70% dos restaurantes estrelados. No famoso Per Se, com três estrelas Michelin, só estão quatro vinhos brancos portugueses, um deles é o Baías e Enseadas Malvasia. Os 10% vendidos no mercado nacional estão principalmente presentes no Algarve, em restaurantes como o Vila Joya, A Ver Tavira, Al Sud e Bon-Bon.
Nos futuros planos estão um vinho rosé, um espumante e o Ramisco de Colares.
(Artigo publicado na edição de Maio de 2023)
Vinhos de Lisboa: 2022 foi o melhor ano de sempre
Com mais 5,5 milhões de garrafas colocadas no mercado, face ao ano anterior, os Vinhos de Lisboa atingiram números recorde em 2022, o que se traduz num crescimento de 9%, segundo dados partilhados pela Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa (CVR Lisboa). Francisco Toscano Rico, presidente da CVR Lisboa, explica: “Este desempenho resultou do aumento […]
Com mais 5,5 milhões de garrafas colocadas no mercado, face ao ano anterior, os Vinhos de Lisboa atingiram números recorde em 2022, o que se traduz num crescimento de 9%, segundo dados partilhados pela Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa (CVR Lisboa).
Francisco Toscano Rico, presidente da CVR Lisboa, explica: “Este desempenho resultou do aumento significativo das vendas de vinhos brancos de Lisboa em mais de 25%, do crescimento das exportações para quase 100 países (+5% em volume e +7% em valor), o que permitiu alcançar uma quota de 20% do total das exportações de vinhos certificados nacionais (total das DOP/IGP excepto Vinho do Porto) e ainda das vendas dos Vinhos de Lisboa na restauração nacional, onde registaram, em 2022, o seu melhor ano de sempre, com crescimentos acima dos 100%, em volume e em valor”.
Especificamente quanto ao papel da restauração, Francisco Toscano Rico comenta: “Vemos como muito positivo a crescente penetração dos Vinhos de Lisboa nas cartas dos restaurantes, é um segmento especialmente importante para os vinhos mais premium, de maior valor acrescentado, e isso é fundamental sobretudo para os pequenos e médios produtores que foram os mais impactados durante a pandemia (…)”.
O presidente da CVR Lisboa sublinha, ainda, a importância dos vinhos brancos para a região: “Destaco a afirmação de Lisboa como região de excelência para a produção de grandes vinhos brancos e a subida importante das DOP de Lisboa como Bucelas, Óbidos, Carcavelos, Colares e Lourinhã, a atingirem valores pré-pandemia, sustentados pela recuperação da restauração nacional”.
Lisbon Bar Show regressa em Maio
A oitava edição do Lisbon Bar Show — marcada para 16 e 17 de Maio, na Sala Tejo da Altice Arena — já foi apresentada à imprensa e ao sector, e as novidades para 2023 foram desvendadas, bem como a lista de finalistas dos prémios Lisbon Bar Show. Segundo Alberto Pires, fundador deste que é […]
A oitava edição do Lisbon Bar Show — marcada para 16 e 17 de Maio, na Sala Tejo da Altice Arena — já foi apresentada à imprensa e ao sector, e as novidades para 2023 foram desvendadas, bem como a lista de finalistas dos prémios Lisbon Bar Show.
Segundo Alberto Pires, fundador deste que é um dos maiores eventos de Bar e Hospitalidade da Península Ibérica, o Lisbon Bar Show é “a plataforma de partilha de conhecimento, das tendências da indústria dos Bares, que conta com alguns dos mais importantes nomes do sector. É também o local certo para troca de experiências e para conhecer o que de melhor se faz, tanto a nível nacional como internacional”.
As novidades do Lisbon Bar Show 2023 são muitas, começando pela alteração de horário, que passa para o período das 12h00 às 20h00; e pelo país convidado, o Brasil.
Pela primeira vez, o evento promove o Congresso Ibérico de Bartenders que, de acordo com a organização, “abrirá a porta a uma nova dimensão no território e nas relações bilaterais entre os países”. O 1º Congresso Ibérico de Bartenders terá palestras, mesas redondas e debates, bem como troca de ideias sobre as principais tendências dos dois mercados, e tem já confirmados nomes como Fernando Brito, Presidente do Conselho Técnico da Associação Barmen de Portugal; Marc Alvarez do SIPS Bar, em Barcelona; François Monti, escritor de Madrid; Pablo Melian, do Bartenders.news, Espanha; Sergio Estevez, consultor, também do país vizinho; e,Daniel Nevsky, Cortesia Martin Miller’s (Barcelona).
O programa completo está ainda por anunciar, no final do mês de Março, mas já há bastantes participações confirmadas, ao nível nacional e internacional. A lista de oradores está disponível aqui.
A oitava edição do Lisbon Bar Show será ainda palco da disputa da final do Concurso Nacional Rabo de Galo, que este ano se estreia fora do Brasil. Quanto aos finalistas dos Prémios Lisbon Bar Show, podem ser consultados na respectiva página do website do evento, dividindo-se por 11 categorias. A cerimónia da entrega de prémios, por sua vez, acontecerá dia 17 de Maio, encerrando assim o Lisbon Bar Show 2023.
Os bilhetes, já à venda, custam €27 até 10 de Maio, e €30 nos dias do evento, na bilheteira do local, e são válidos para os dois dias.
Vinhos Porta 6 abraçam mercado nacional com distribuidora Vinalda
A Vinalda anunciou que vai iniciar a distribuição no mercado nacional, em exclusivo, dos vinhos Porta 6 da Vidigal Wines, empresa que hoje pertence ao grupo Abegoaria. A marca Porta 6 é um sucesso de exportação e líder das vendas nacionais de vinho em vários mercados. Segundo a Vinalda, “é o vinho tinto português mais […]
A Vinalda anunciou que vai iniciar a distribuição no mercado nacional, em exclusivo, dos vinhos Porta 6 da Vidigal Wines, empresa que hoje pertence ao grupo Abegoaria.
A marca Porta 6 é um sucesso de exportação e líder das vendas nacionais de vinho em vários mercados. Segundo a Vinalda, “é o vinho tinto português mais vendido no Reino Unido (e o terceiro europeu) e no Canadá, estando no top 5 de vendas dos vinhos nacionais no Brasil e um caso de sucesso também na Suécia e nos Estados Unidos”. No entanto, e de acordo com a distribuidora, “é um vinho com vendas ainda pouco significativas em Portugal”.
Em relação a este assunto, Manuel Bio, CEO do grupo Abegoaria, comenta: “O Porta 6 é o vinho tinto nacional que mais vende fora de Portugal. A estratégia da Vidigal Wines foi sempre de internacionalização, sem olhar muito para o mercado português. Para o grupo Abegoaria, está na hora de apostar no nosso mercado, porque não faz sentido ter um vinho que é um caso de sucesso lá fora que vende pouco em Portugal”.
Já José Espírito Santo, director-geral da Vinalda, refere que esta vai “começar por apostar mais nas regiões fortes em turismo, uma vez que os estrangeiros já conhecem e bebem este vinho nos seus países de origem”. Adicionalmente, a distribuidora quer “apresentar este vinho de sucesso aos consumidores portugueses”.
Os vinhos Porta 6 são produzidos com uvas da Região de Lisboa, por uma equipa técnica orientada pelo enólogo António Ventura. Mauro Azóia, um dos enólogos residentes da Vidigal Wines, explica que “O tinto Porta 6 é um vinho desenhado para o consumidor. Fomos ver o que este gosta e partimos daí para o fazer, um tinto só de castas nacionais que é frutado, suave e fresco, que não nos cansamos de beber”.
O rótulo do Porta 6, por sua vez, foi inspirado na icónica carreira 28 do eléctrico da capital portuguesa, e feito com base numa obra do artista plástico alemão Hauke Vagt, residente em Alfama há mais de 20 anos.
Grande Prova: Lisboa, a magnífica
Provados quase 40 vinhos brancos, assentes em diferentes combinações de castas e elaborados segundo conceitos de vinificação muito diversos, não nos restam quaisquer dúvidas: Lisboa é “the next big thing”. Uma região singular, de perfil atlântico, capaz de produzir brancos personalizados e vibrantes, dentro do que de melhor se faz em Portugal. Texto: Nuno de […]
Provados quase 40 vinhos brancos, assentes em diferentes combinações de castas e elaborados segundo conceitos de vinificação muito diversos, não nos restam quaisquer dúvidas: Lisboa é “the next big thing”. Uma região singular, de perfil atlântico, capaz de produzir brancos personalizados e vibrantes, dentro do que de melhor se faz em Portugal.
Texto: Nuno de Oliveira Garcia Fotos: Ricardo Palma Veiga
Ensina-nos a geografia que Portugal Continental é um território disperso verticalmente ao longo do Oceano Atlântico, com o norte e o sul a distarem mais entre si do que o este e o oeste. No que respeita a regiões vitivinícolas, porém, a longitude, e a respetiva distância ao mar, fazem a diferença quanto a perfis de vinho. No nosso país temos, como regiões essencialmente costeiras — ou seja, aquelas cujos vinhedos distam um máximo de 40 quilómetros do oceano, e com um clima maioritariamente influenciado por essa proximidade — a região dos Vinhos Verdes, a Bairrada e Lisboa. E, destas três, é a região de Lisboa aquela que é a mais marcada por essa proximidade marítima. Com efeito, enquanto a região dos Vinhos Verdes é distinta pela sua localização no extremo norte do país (e pela circunstância de produzir vinhos a partir de um conjunto limitado de castas, algumas pouco ou nada difundidas fora do seu território), e a Bairrada é destacada pelos seus característicos solos argilo-calcários, o que mais demarca a região de Lisboa é mesmo a proximidade de toda a região ao mar.
E o que essa proximidade traz a uma região extensa, de Carcavelos quase até Pombal? Em primeiro lugar, essa cercania ao oceano aporta um clima temperado, com temperaturas mediterrânicas no Inverno e amenas no Verão, e uma pluviosidade muito acima da média nacional. Francisco Bento dos Santos, à frente da Quinta do Monte d’Oiro, menciona-nos que é raro existirem temperaturas muito quentes no verão (“raramente acima dos 31ºC” diz-nos) sendo que as noites frias, com bastante humidade e vento permanente, estão sempre presentes. Assim, obtém-se maturações muito lentas e completas, boa conservação da acidez, o que, por regra, quer significar uma preservação dos aromas das castas, e bom potencial de guarda.
A proximidade ao mar proporciona também, ou melhor, explica, a existência de alguns dos melhores solos para vinhos brancos, seja os calcários com argila, muitos do período jurássico (que se encontram em Bucelas, mas também de origem atlântica no perfil ‘Kimmeridgiano’, entre Arruda dos Vinhos e Torre Vedras), seja a areia livre de filoxera (em Colares e Carcavelos). A orografia da região também beneficia a produção de vinho de qualidade, com a existência de encostas não acentuadas que permitem, simultaneamente, solos bem drenados e uma atividade vitícola sem grandes dificuldades de logística. Por tudo isto, e com castas bem-adaptadas, as produções de uva e vinho na região são genericamente altas, o que ajuda a rentabilidade dos vários projetos. Como nos confidenciou Diogo Lopes, enólogo em várias regiões (e na região de Lisboa há quase uma década e meia), “em Lisboa é possível uma viticultura com produções muito interessantes, raras até noutras regiões, sobretudo com este binómio de qualidade/produtividade, o que é decisivo para que toda a fileira, desde logo os viticultores que são devidamente recompensados e, assim, podem colocar mais investimento na produção”.
EXPORTAÇÃO DETERMINANTE
Mas serão estes factores naturais que explicam, por si só, o recente sucesso da região? Para aventarmos uma resposta, precisamos de compreender melhor o que é região de Lisboa. Em números, fornecidos pela CVR, temos cerca de 2000 viticultores e mais de 300 operadores económicos (entre produtores e engarrafadores) espalhados por 10 mil hectares de vinha certificada para IGP e DOC. Mas talvez o dado mais relevante seja o facto de, só nos últimos 5 anos, as vendas terem duplicado, alcançando-se a cifra anual de 65 milhões de garrafas. Igualmente de destaque temos a circunstância de essa produção ser exportada num total de 80%, número muitíssimo significativo mesmo comparado com o de outras regiões tradicionalmente exportadoras. É, ainda nesse sentido, paradigmático que, se retiramos da equação a exportação de vinho do Porto, uma em cada três garrafas que saem de Portugal para o estrangeiro terem origem na região de Lisboa…
O que explica tudo isto? Um dos factores na base do sucesso é a reestruturação das vinhas operada nos últimos 15 anos. Com efeito, enquanto a marca Lisboa se impunha, houve um trabalho laborioso de reestruturação de vinha, introduzindo novas castas, substituindo vinhas, e plantando-se mais uva branca. Com tudo isto, o manuseamento da vinha também melhorou muito, surgiu uma cada vez melhor abordagem de cada casta, e os profissionais são hoje mais conhecedores da sua região do que nunca. Não espanta, assim, que a produtividade da região se tenha mantido em bons níveis conjugadamente com um aumento da qualidade dos seus vinhos. Actualmente, nos brancos, as uvas Fernão Pires e Arinto dominam o encepamento, acompanhadas por Moscatel Graúdo e Chardonnay, a casta estrangeira mais representativa (talvez por o solo e o clima poderem lembrar, em alguns terroirs, a Borgonha). Ainda no mesmo tema é crescente a revitalização de castas autóctones, como seja a Malvasia de Colares, mas também a Vital e a Jampal, sendo de elogiar a fantástica adaptação da variedade Viosinho (muito habitual nos lotes do Douro) que contribui com excelentes vinhos em estreme ou em blend. Nas internacionais, a par da referida Chardonnay que está há muito na região, encontramos ainda Sauvignon Blanc, Viognier e Marsanne, todas com óptimos resultados.
Outra razão de sucesso relaciona-se com a valorização da marca Lisboa, sobretudo junto da exportação. Com a denominação Lisboa, e com a crescente fama que a capital portuguesa tem agraciado no turismo mundial, podemos afirmar que o prestígio da região é maior fora do país do que dentro. A isso ajuda uma relação preço-qualidade muito competitiva e um perfil moderno e fresco, onde a acidez está sempre muito presente, sobretudo nos vinhos brancos.
PERFIL DE FRESCURA
Certo é que esse perfil sempre existiu, fosse nos brancos clássicos de Colares e Bucelas ou, mais a norte, com os brancos de Óbidos (por exemplo nas clássicas Casa das Gaeiras ou Quinta das Cerejeiras). Produtores como Quinta de Pancas (brancos e tintos), Fonte das Moças (sobretudo tintos) e Quinta do Rol (em especial nos espumantes) foram esteios de qualidade ao longo dos anos para a região que viu ainda a sua fama consolidada por projectos ambiciosos como Quinta do Monte d’Oiro, Quinta da Chocapalha ou Quinta do Gradil, produtores que contribuíram com o lançamento de vinhos de grande qualidade, muitos deles com preços então pouco habituais para a região. Em Colares e Bucelas, apesar de alguma estagnação na segunda metade do século passado, o perfil refrescante e estaladiço dos seus vinhos brancos sempre se manteve, graças a produtores como Chitas (família Bernardina Paulo da Silva), Adega de Colares, Caves Velhas, Quinta do Avelar e Companhia das Quintas. Outro aspecto relevante é a chegada de uma nova vaga de produtores em toda a região, existindo hoje uma multiplicidade de marcas nunca vista. Actualmente, Lisboa é uma região que mostra uma vitalidade única, com produtores jovens, independentes e destemidos, que apresentam ao mundo os seus vinhos frescos e vibrantes, em muitos casos biológicos e de baixa intervenção. E surpreenda-se o leitor ao saber que esses mesmos produtores vendem os seus vinhos nas melhores garrafeiras de Madrid, e nos melhores restaurantes de Barcelona e até de Nova Iorque. Podemos resumir este fenómeno utilizando as palavras do enólogo Bernando Cabral (que assina em Bucelas o vinho Murgas) segundo o qual, Lisboa é, hoje, uma das regiões portuguesas “com mais mundo”. Ao mesmo tempo, a região abraçou players de dimensão significativa, caso, entre outros da DFJ, Casa Santos Lima, Parras ou Adega Mãe, empresas que dão músculo financeiro à região e consolidam tendências. No mesmo sentido, Francisco Bento dos Santos sustenta que “actualmente a região tem já projectos de todos os tipos, mas todos eles com imagem moderna e atractiva, credibilidade técnica e qualidade nos vinhos produzidos. O mercado já vê Lisboa com outros olhos…”. E isso comprova-se quando falamos de certificação pois, tratando-se esta de uma prova de vinhos com ambição, de preço médio/alto, estiveram presentes muitos vinhos orgulhosamente com indicação da respectiva DOC (Arruda, Bucelas, Colares, Óbidos…), mas mais de 90% do vinho certificado é mesmo IGP Lisboa, a “marca” institucional de maior impacto.
DO MELHOR DE PORTUGAL
Apesar da região ainda produzir mais tinto, não temos dúvidas que parte significativa do seu território é (mais) propícia para brancos e, em alguns terroirs, até mesmo para espumantes. A já referida temperatura média anual amena, os mencionados solos de areia e calcários, e utilização de castas com boa acidez (os estudos prévios sobre as melhores castas estão a dar resultados a cada dia que passa) apontam claramente para a produção de brancos excitantes, tensos e cítricos. Em alguns casos tal assunção não é sequer uma novidade, como sucede em Bucelas —demarcada em 1911 e onde DOC só pode ser branco — e em Colares — demarcada em 1908, onde a Malvasia (de Colares), mais a mais sem recurso a porta-excerto americano — é rei no seu estilo salino, vibrante e muitas vezes longevo. Na mesma medida, não deixa também de ser curioso encontrar na literatura antiga referências várias a grandes brancos de Torres Vedras…. Por isso já não é novidade afirmar que alguns operadores estejam a substituir videiras de uva tinta por branca, sobretudo nas DOC mais atlânticas onde menos incide a influência quente do estuário do Tejo e da lezíria ribatejana (nas zonas protegidas a oeste e norte pela Serra de Montejunto o clima é necessariamente mais seco). Com efeito, na região de Lisboa, um pouco em redor da conhecida autoestrada A8, o território é marcado por uma paisagem verdejante e ondulante, na qual raramente existem fenómenos de seca ou calor extremo, condições vantajosas para os vinhos brancos. Como nos referiu Aníbal Coutinho, produtor na região há mais de uma década, existe em Lisboa “uma riqueza de microclimas em relevos muitos variados, nos quais a maturação das uvas pode mudar bastante em poucos quilómetros”. Diogo Lopes é assertivo e conclui: “acredito verdadeiramente que Lisboa será uma das grandes regiões de brancos de Portugal”, e Daniel Afonso, o homem à frente do projeto-nicho Baías e Enseadas, é ainda mais categórico ao afirmar que “Lisboa pode vir a ser melhor região de brancos em Portugal em poucos anos”.
Pois bem, tudo o que se escreveu acima sobre a região, sobretudo respeitante à propensão para brancos frescos e tensos, foi confirmado no copo de prova, com a análise a 37 vinhos. De diferentes colheitas e com diferentes idades (os mais antigos: um de 2012, outro de 2013 e dois de 2016), todos se revelaram em forma com a acidez (em muitos casos acima dos 7 gr. por litro) a servir de espinha dorsal nos lotes. A expressão cítrica, e por vezes com referências minerais, foi também uma constante, numa prova global fantástica com uma dezena de vinhos a mostrarem-se ao melhor nível nacional. Venha daí!
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2023)
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Quinta da Boa Esperança
- 2019 -
Morgado de Bucelas Cuvée
Branco - 2021 -
Morgado de Sta. Catherina
Branco - 2021 -
Quinta do Boição Vinhas Velhas
- 2019 -
Mira do Ó
- 2019 -
CH by Chocapalha
- 2019 -
Arenae
- 2020 -
Troviscal
Branco - 2017 -
Adega Belém Curtimenta
Branco - 2020 -
Vale da Mata
Branco - 2021 -
Quinta do Pinto
Branco - 2018 -
Quinta de Vale Mourisco
Branco - 2020 -
Quinta da Folgorosa
Branco - 2020 -
Pactus
Branco - 2018 -
Madame Pió
Branco - 2020 -
Carlota A Imperatriz
Branco - 2020 -
Quinta Nogueira
Branco - 2017 -
Quinta do Lagar Novo
Branco - 2021 -
Quinta do Avelar Branco Velho
Branco - 2013 -
Quinta de Pancas
Branco - 2019 -
Murgas
Branco - 2018 -
Mare & Corvus
Branco - 2021 -
Dona Fátima
Branco - 2021 -
Colares
Branco - 2016 -
Casal Sta. Maria
Branco - 2021 -
Cabo da Roca
Branco - 2020 -
Arinto Oak Barrel
Branco - 2020 -
Quinta do Monte d’Oiro
Branco - 2020 -
Quinta do Rol
Branco - 2012 -
Quinta das Cerejeiras
Branco - 2020 -
Lisboa
Branco - 2021 -
Escolha Pessoal
Branco - 2020 -
Escondido(a)
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Murgas Wines: Bucelas a mexer
A quinta é antiga, mas o entusiasmo e a renovação da vinha são recentes. João França lidera um projecto integrado que oferece já várias valências e terá ainda mais no futuro, com mais vinha e enoturismo. Texto:João Paulo Martins Fotos: Murgas Wines João França estava recém-chegado das férias na praia, tranquilo, boas cores, muita energia. […]
A quinta é antiga, mas o entusiasmo e a renovação da vinha são recentes. João França lidera um projecto integrado que oferece já várias valências e terá ainda mais no futuro, com mais vinha e enoturismo.
Texto:João Paulo Martins Fotos: Murgas Wines
João França estava recém-chegado das férias na praia, tranquilo, boas cores, muita energia. A sua quinta em Bucelas fervilha de vida, humana e animal. Originalmente a propriedade pertenceu ao avô, Sérgio Geraldes Barba que, além desta Quinta das Murgas, tinha mais propriedades na região, como a quinta do Avelar, hoje detida por um tio de João. As referências ao avô foram uma constante ao longo da nossa visita e da nossa conversa. Entrámos numa viatura todo-o-terreno e fomos visitar muitas instalações existentes na zona, quase todas desactivadas. Aqui ficavam os aviários do Freixial, um colosso (para a época era o maior da Península Ibérica) de criação de frangos, ainda activo nos anos 70 e 80 e que chegou a empregar 300 pessoas, com escolas e cantinas. Hoje muitas das casas estão em adiantado estado de degradação, finalizada que foi a “aventura franguística”. Sobrou espaço e João não põe de lado a ideia de alargar a área de vinha, assim o negócio prospere. Sérgio Barba era um empresário multifacetado, ligado também à construção, tendo sido da sua responsabilidade a substituição do hotel Aviz pelo Imaviz e actual hotel Sheraton, em Lisboa. O seu nome ficou igualmente ligado à odisseia (é mesmo assim que se deve chamar…) da introdução da Coca-Cola em Portugal. Depois de décadas de tentativas, a Coca-Cola foi finalmente autorizada no país em Janeiro de 1977, era Mário Soares Primeiro Ministro. Sérgio Barba esteve na criação da empresa Refrige que iniciou a construção de fábrica própria para a Coca-Cola em Palmela. Terminavam assim todas a reticências que remontavam ao tempo de Salazar que, nos anos 40, era feroz opositor da entrada do grupo em Portugal.
As vinhas e as florestas
João conviveu muito com o avô e dele recebeu o gosto pela terra, pelo vinho e pela natureza em geral. Essa ligação foi uma constante até à morte que ocorreu em 2006. Em Bucelas detinha para cima de 1000 hectares de terras e ainda hoje (nomeadamente na Quinta do Avelar) se percebe um micro-cosmos onde a exuberância da vegetação nos faz esquecer que estamos às portas de Lisboa.
Os vinhos de Bucelas estiveram durante décadas confinados a muito poucos produtores. Na altura, além de Geraldes Barba apenas as Caves Velhas tinham um papel de relevo na região. Eram herdeiras de um outro grande empresário mas de época muito anterior, João Camillo Alves que, nos anos 40 e 50 –, era assessorado pelo enólogo Manuel Vieira. Foi preciso esperar pelo início dos anos 90 para conhecermos uma nova era para a região com a constituição da Quinta da Romeira e o plantio de largos hectares de vinha onde a casta Arinto passou a brilhar a solo, então pela mão de Nuno Cancela de Abreu e mais tarde, João Corrêa. Hoje, a Romeira pertence à Sogrape. A tradição regional impunha os vinhos de lote, com a ligação entre a Arinto, a Rabo de Ovelha e a Esgana Cão. Cancela de Abreu começou a contrario a fazer brancos onde apenas entrava a casta Arinto. Ainda hoje a Quinta das Murgas vende parte das uvas à Quinta da Romeira. Esse gosto pelo vinho monovarietal desenvolveu-se e actualmente a maioria dos produtores locais opta pelo uso exclusivo da Arinto.
Bucelas é famosa desde o séc. XIX e a demarcação ocorreu há mais de um século, no conjunto das primeiras demarcações pós-pombalinas, já no final da monarquia. São pergaminhos de que poucas regiões se podem gabar. Era a esta “zona saloia”, onde pontificavam as hortas e pomares, que os lisboetas iam passear aos fins-de-semana. Temas queirosianos por excelência…
Estamos em terras de brancos, os únicos que têm direito à DOC Bucelas e, embora aqui se produzam também tintos, a verdade é que toda a fama recai na casta Arinto, responsável pelo carácter muito próprio dos brancos locais. Como sabemos pelas informações dos cientistas da vinha que estudam ADN e genética quantitativa das castas, a Arinto nasceu mesmo em Bucelas e foi daqui que, aos poucos, se foi espalhando por todo o país. Ganhou fama e é hoje, reconhecidamente, uma das mais, se não mesmo a mais importante casta branca que temos no país, na conjugação de qualidade, adaptabilidade e dispersão geográfica. A principal característica que todos lhe reconhecem é o seu carácter ácido que se conserva mesmo em climas mais quentes. A Arinto ganhou assim muito espaço nomeadamente no sul de Portugal, onde passou a ser parte integrante do lote mais característico do Alentejo.
O dia estava soalheiro e por ali andavam alguns cavalos, dos muitos que aqui estão em permanência, actividade que está a cargo do irmão de João. O que se sente na quinta é uma grande presença de animais, alguns exóticos ou pouco conhecidos, espécies anãs, por exemplo, mas também galinhas, lamas, gamos, borregos e um leitão que circula livremente e até nos veio visitar na sala de provas.
Recuperado o casario mas ainda sem adega – os vinhos são feitos em espaço alugado na Quinta da Murta – a vinha estende-se por 12 ha, dos quais 2 de casta tinta que o avô plantou (Touriga Franca, agora rebaptizada de Touriga Francesa) e de gostava particularmente, um hectare de Esgana Cão e o restante de Arinto. Há intenção de plantar mais 4 ha mas a produção para já é suficiente e ainda se vendem uvas para terceiros. O objectivo de João França e do enólogo Bernardo Cabral, passa por conseguir uma produtividade de 15 toneladas por hectare sem prejuízo da qualidade. Estamos em solos argilo-calcários, com muita pedra e muita disponibilidade de água no solo, sendo possível jogar com várias exposições da vinha, o que é uma vantagem. João França já adquiriu algumas parcelas contíguas que também pertenciam à família e por isso há espaço para crescer, jogando com vinhas em encosta de considerável inclinação. Além do branco e do tinto irão fazer este ano um rosé; a produção em 2021 repartiu-se por 7000 garrafas de tinto e outras tantas de branco. Neste momento já se faz alguma exportação para os EUA e Brasil e são, no mercado interno, distribuídos pela Wine Concept.
O mosto da uva branca fermenta (20%) em barrica usada e o mosto das tintas em inox, indo depois para barricas usadas. Após a recuperação da vinha de Touriga Francesa, fez-se o primeiro branco em 2017 e o primeiro tinto em 2019. O branco 2018 estagiou 9 meses sobre borras finas, com bâtonnage nos primeiros dois meses. Cerca de 70% do tinto descansou barricas. Quando da nossa visita, provámos também os brancos de 2017 e 2019. Ficamos em grande expectativa em relação à edição de 19 que, tal como o 17, se apresenta muito citrino e vibrante (17,5). Os tintos são, por ora, feitos em Alenquer na adega da empresa Félix Rocha.
Quando neste mês de Setembro arrancar o projecto de enoturismo será possível organizar passeios pela quinta, a cavalo, em viatura todo o terreno ou a pé, provas de vinho a meio do percurso, convívio com toda a fauna local, percursos pessoais em que se entrega um mapa, uma cesta com a merenda e, a pedido, uma bicicleta, para fazer o circuito. Não faltarão motivos, não já para ir “ver as hortas” queirosianas, mas para usufruir de um ambiente rural sofisticado bem perto de Lisboa.
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2022)