Roquette & Cazes: Xisto, Douro de traço bordalês
O evento teve lugar no Porto e destinou-se a mostrar a nova edição do tinto Xisto, um vinho com origem na quinta do Meco (Douro Superior), uma propriedade que pertence à família Cazes e que se situa ao lado da quinta da Cabreira, que pertence à Quinta do Crasto. A ideia desta colaboração é muito […]
O evento teve lugar no Porto e destinou-se a mostrar a nova edição do tinto Xisto, um vinho com origem na quinta do Meco (Douro Superior), uma propriedade que pertence à família Cazes e que se situa ao lado da quinta da Cabreira, que pertence à Quinta do Crasto. A ideia desta colaboração é muito antiga. A família Cazes tem uma relação familiar com Portugal, uma vez que o patriarca Jean-Michel, recentemente falecido, casou com uma portuguesa de Moçambique. Embora sempre a viver em Bordéus, a verdade é que, em casa dos Cazes, a conversa entre os filhos e os visitantes se desenrola em português.
A ideia do projecto nasceu em 2002, mas o primeiro tinto Xisto a entrar no mercado foi da colheita de 2003, quando se entendeu que o vinho tinha o perfil e qualidade desejada. Uma segunda marca – Roquette & Cazes – surgiu em 2006. Mais do que ser um rótulo que surge em anos que não há Xisto, esta marca, com um PVP bem convidativo, poderá ter sempre edição, beneficiando da boa produção da quinta do Douro Superior. Neste momento atinge as 85 000 garrafas, mas Tomás Roquette, que conduziu esta apresentação, não deixou de salientar que em breve poderá chegar às 100 000 garrafas. A empresa, para além da quinta, não tem, como lembrou Tomás, “nada de nada. Nem adega nem equipa própria, nem armazém de barricas, nem estrutura comercial: tudo é alugado ou sub-contratado à quinta do Crasto”. No final, metade do stock é comercializado cá e o resto pela família Cazes.
Selecção exigente
A frequência de saída do tinto Xisto não acompanha a outra marca. “Ainda não conseguimos fazer todos os anos” e desde 2003 não teve edição em 2006, 06, 08, 10, 14, 16 e 17. A seguir a este, agora apresentado (2019), é certo que vai haver um hiato. Temos então dois tintos feitos com castas portuguesas, de vinhas do Douro mas com a expertise da enologia de Bordéus. Daniel Llose, consultor de enologia da família Cazes, e que está neste projecto desde o início, não deixou margem para dúvidas: “é preciso ser capaz de dizer não, quando não estamos 100% seguros da excelência. Por isso, creio que a seguir a este 2019, o que se vislumbra como próxima edição, poderá ser o 2023”. Seguro mesmo é que, nos anos em que não há Xisto, é o Roquette & Cazes que vê a sua quantidade aumentar. Mas Daniel ainda não tem todas as certezas, quando lembra que “após 48 vindimas, a única coisa que sei é que não sei tudo e há que continuar a estar atento. Não se pode fazer copy paste de Bordéus para o Douro”. Também não deixou de ser curiosa a sua tese de que, nos anos abundantes, a vinha está mais equilibrada e, por isso, não é dado adquirido que pouca produção seja sinónimo de qualidade.
Manuel Lobo, enólogo da quinta do Crasto e da Roquette & Cazes, salientou que as vinificações se fazem por casta (nos lotes entram Touriga Nacional, Franca e Tinta Roriz) e por parcela, o que permite uma maior atenção a todos os detalhes, acrescentando que não pára de se “surpreender com a qualidade que se obtém naquela vinha, bem diferente da Cabreira que fica mesmo ao lado.” Coisas do terroir, diríamos nós… O estágio do Xisto em barrica requer um acompanhamento permanente, porque quer a casta quer a barrica podem ter comportamentos imprevisíveis e as provas periódicas destinam-se a despistar desvios.
O momento foi também aproveitado para provar o Xisto 2012, que revelou estar em muito boa forma. Os vinhos são agora distribuídos pela Heritage Wines. Desta edição de Xisto fizeram-se 7412 garrafas e 203 magnuns. O tinto Roquette & Cazes está agora a entrar no mercado.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)