19|90 Premium Wines: Santar volta ao mapa

A 19|90 Premium Wines, divisão de vinhos topo de gama da Global Wines, assina agora o mais recente projecto de enoturismo do grupo, no Dão: WineX, um conjunto de experiências que promete fazer de Santar a nova coqueluche da região.  Texto: Mariana Lopes  Fotos:1990 Premium Wines  Quem conhece a vila e a zona de Santar, […]

A 19|90 Premium Wines, divisão de vinhos topo de gama da Global Wines, assina agora o mais recente projecto de enoturismo do grupo, no Dão: WineX, um conjunto de experiências que promete fazer de Santar a nova coqueluche da região.

 Texto: Mariana Lopes  Fotos:1990 Premium Wines

 Quem conhece a vila e a zona de Santar, até se pergunta “como é que isto não está cheio de gente?”. A resposta é simples: por muito bonita que seja a paisagem, natural e urbana, se não houver actividades interessantes e chamativas, as pessoas não chegam a saber que o sítio existe. Foi com consciência disto mesmo que a 19|90 Premium Wines — divisão de vinhos topo de gama da Global Wines, que integra as marcas Vinha do Contador e Casa de Santar (Dão), Encontro (Bairrada) e Saturno (Alentejo) — decidiu agir. Com direcção-geral de Vítor Castanheira, também administrador da Global Wines, a 19|90 contratou, recentemente, Marisol Benites para o cargo de directora da unidade de negócio e responsável de enoturismo. Contratação de peso, Marisol tem no currículo passagens por casas como o grupo Vranken-Pommery Monopole (que detém a Rozès), Symington Family Estates ou Sandeman (antes desta ser adquirida pela Sogrape), onde geriu marcas e integrou equipas de enoturismo. Sob a sua coordenação, a 19|90 Premium Wines começou a desenvolver um novo projecto de enoturismo, sério e profissionalizado, mas sobretudo adaptado ao perfil de enoturista que consome vinhos e experiências segmento premium, condizentes com o potencial de Santar. “Autenticidade com patine e requinte”, resume assim Marisol Benites as WineX (Wine Experiences), que são uma das fases de investimento da 19|90 no enoturismo, (a par da construção de um “wine center”) e nas instalações de vinificação e estágio, que serão reabilitadas gradualmente.

wines santar mapaGirando em torno das adegas e vinhas da Casa de Santar (são cerca de 113 hectares, de um total de 200 no Dão), e das vinhas e do restaurante do Paço dos Cunhas — antiga casa senhorial com quatro séculos — as WineX dividem-se pelos níveis Standard, Prestige, Gold e Platinum, e não incluem apenas as habituais provas de vinho e espumantes (da enologia de Osvaldo Amado) e visitas às adegas. Essas também há, a começar nos 20 euros por pessoa, mas as estrelas são, por exemplo, o programa Santar Gold (€90 pax), com visita guiada aos jardins do Paço dos Cunhas e à emblemática Vinha do Contador, passeio de jipe pelas vinhas da Casa de Santar e até ao alto da Vinha dos Amores, um local tão romântico quanto o nome sugere, e prova de vários vinhos Casa de Santar harmonizados com tábua beirã; o Pic-Nic Beirão (€55 pax), actividade intimista com iguarias do chef Henrique Ferreira (responsável pelo restaurante Paço dos Cunhas) que também inclui visita guiada ao Paço e passeio de jipe ao redor da Casa de Santar; ou o Almoço Beirão no Sobreiro (€120 pax, mínimo de 10), uma luxuosa, mas autêntica, refeição de 5 horas à sombra do centenário sobreiro que faz companhia às vinhas do produtor, preparada pelo chef Henrique, com o seu sub-chef Alberto Correia, que explica que este almoço é inspirado “no que se trazia para comer no trabalho da vinha, e feito com produtos locais, de fornecedores próximos”. Para servir os vinhos da 19|90 Premium Wines, entra em cena André João, sommelier e chefe de sala do restaurante Paço dos Cunhas. Igualmente, esta experiência inclui a visita e passeio de jipe, que culmina na chegada ao sobreiro.

wines santar mapaAdicionalmente, o restaurante do Paço dos Cunhas de Santar inaugurou a carta de Verão que, além das opções à carta — onde constam reinvenções das estivais Sardinhas Assadas com Pimentos, dos Peixinhos da Horta e da Bifana no Pão; ou pratos de peixe como Massa Fresca de Lingueirão à Bolhão Pato, Arroz Caldoso de Polvo e Caldeirada de Peixes; e os de carne Frango do Campo de Fricassé, Barriga de Porco com Beterraba e Couve ou Bife de Cebolada — apresenta três menus de degustação: “Origens” (€27,50 pax ou €36,50 com harmonização de vinhos), “Santar” (€35 ou €50) e o menu “Do Chef” (€57,50 ou €82,50).

“Nesta área do enoturismo, o nosso objectivo foi criar experiências que permitissem avaliar o vinho no seu contexto original, perceber as suas diferenças, a sua história e a sua personalidade, associando-o à gastronomia, ao património, à cultura e à riqueza da região. Queremos que os nossos clientes conheçam bem os nossos vinhos, associando-os a experiências inesquecíveis”, esclarece Vítor Castanheira. Também a Quinta do Encontro, na Bairrada, e a Herdade Monte da Cal, no Alentejo, foram, e serão, alvo de investimento nesta área.

(Artigo publicado na edição de Setembro de 2022)

 

“Bomcar Mini à descoberta do Dão – Powered by Paço dos Cunhas” é o evento perfeito para amantes de vinho e de automóveis. Já no dia 5 de Julho, numa parceria entre a 19|90 Premium Wines e a Bomcar mini, será possível participar num passeio de Mini pelas vilas de Santar e Moreira, no Dão, contemplando as vinhas e o centro histórico de uma das mais antigas vilas do país. 

O modelo escolhido para a actividade é o Mini Countryman, cedido pela Bomcar, numa aventura que também proporcionará provas de vinho e um almoço no Pátio do Paço dos Cunhas de Santar. As inscrições estão limitadas a 15 Mini, o que equivale a 30 pessoas, e têm um custo de 50€/pax.

A parceria estabelecida prevê ainda, para o futuro e em eventos realizados pela marca automóvel, o fornecimento de serviços de catering pelos restaurantes do grupo – Cabriz, Paço dos Cunhas de Santar e Quinta do Encontro.

Mais informações pelo telefone 232 945 452 e pelo e-mail enoturismo@pacodoscunhas.pt.

Colheita Tardia: Uma vindima muito especial

Artigo publicado na edição nº 33, Janeiro 2020 O tempo normal das vindimas já lá vai há muito, mas eis os trabalhadores na vinha. E tesouras. E caixotes que se enchem de uvas. Os últimos meses do ano são a época dos Colheita Tardia, vinhos delicados e doces que nascem da anacrónica simbiose entre tempo […]

Artigo publicado na edição nº 33, Janeiro 2020


O tempo normal das vindimas já lá vai há muito, mas eis os trabalhadores na vinha. E tesouras. E caixotes que se enchem de uvas. Os últimos meses do ano são a época dos Colheita Tardia, vinhos delicados e doces que nascem da anacrónica simbiose entre tempo frio e húmido, fungos cinzentos e muita sabedoria. Chamam-lhe podridão nobre.

TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez

Se o saudoso Vasco Santana, actor incontornável das comédias portuguesas dos anos 1930 e 40, estivesse aqui, não deixaria de saudar esta visão com a adaptação livre de uma das suas mais famosas falas no filme “A Canção de Lisboa”: “Esta planta está muito doente!” E tem todo o ar disso, de facto. Se na longa-metragem de José Cottinelli Telmo o boémio e cábula candidato a médico interpretado por Vasco Santana via doença nas manchas da girafa, aqui mais razões teria para desconfiar da salubridade destas uvas: bolor, podridão, todo um leque de anomalias. E, no entanto…

Felizmente, há aqui gente sabedora, com muitos anos disto. De tesouras na mão – uma mais forte, para destacar os cachos, outra de pontas finas, para aparar os bagos que interessam –, decidem com rapidez e gestos precisos o que vai para o caixote e rumará à adega e o que fica no chão, enriquecendo o solo para colheitas futuras. É assim, afinal, em todas as vindimas. Um olhar mais atento permite, no entanto, descortinar uma diferença fundamental: as uvas que se aproveitam não são as de ar mais saudável, antes as que se encontram cobertas por uma suave teia de bolores cinzentos, as películas num tom arroxeado.

Afinal, o que se passa aqui?

O dia chegou com nuvens no céu, mas boas abertas, depois da chuva da véspera. O vento mal incomoda as folhas nas encostas suaves do vale de Santar, ajudando a suportar uma temperatura que ronda os 4 graus centígrados. Parece uma meteorologia pouco clemente para final de Verão, mas a verdade é que não estamos no Verão. O Outono já vai adiantado. Estamos em Novembro e é agora que se faz uma vindima muito especial: a das uvas destinadas aos vinhos Colheita Tardia.

Os Colheita Tardia são vinhos de sobremesa, delicados, aromáticos, quase incongruentes na sua alquimia de doçura e leveza. E são o produto da podridão das uvas. Não uma podridão qualquer, como facilmente se percebe observando o trabalho da dezena e meia de pessoas que se afadigam na vinha e escutando as explicações do viticólogo da GlobalWines, Aurélio Claro.

Há cachos que estão já castanhos, completamente podres e com um cheiro avinagrado. Estes não prestam, já passaram o ponto. Outros apresentam-se em tons verdes ou amarelados, típicos das uvas saudáveis de castas brancas. Nada feito, ainda não chegaram onde era preciso. As uvas que interessam estão colonizadas no exterior por um fungo cinzento, a botrytis cinerea, mas a polpa continua sumarenta e solta-se facilmente da película. É com elas que faz o Colheita Tardia.

Pequenas quantidades

As uvas que mãos e olhos sábios colhem esta manhã em Santar, nas vinhas da Casa de Santar, geridas pela GlobalWines, foram aqui deixadas propositadamente para este fim. São, ao todo, três longas fileiras (uns 300 metros cada uma) de Encruzado e outras duas de Furmint, casta que na Hungria está na base dos afamados Tokaj, um dos mais valorizados néctares do mundo dos vinhos. Dito assim, parece pouco, mas um cálculo por alto do enólogo Osvaldo Amaro aponta para uns 8 a 10 mil quilos nesta vinha (a que junta outro tanto numa vinha adjacente). Deste total, apenas entre 10 a 20 por cento são uvas com a qualidade necessária para fazer Colheita Tardia. Todas as outras acabam no chão.

Só que o crivo da qualidade não se esgota aqui. Depois de levadas para adega – são feitas apenas três prensagens pneumáticas; a primeira sem qualquer aperto (dá origem ao chamado mosto-flor), as outras com apertos suaves – destas uvas extraem-se mostos que vão, separados, para depósitos em inox, onde se procede à clarificação estática durante três a cinco dias. Daí passam para barricas de 225 litros de segundo uso com mais de dez anos, onde se dá a fermentação alcoólica. Este processo decorre, mais ou menos, durante 30 dias e é interrompido com frio, permitindo que o vinho mantenha a doçura que o caracteriza e um grau alcoólico controlado. Segue-se a alquimia do tempo. A estabilização microbiológica e a maturação podem durar entre 12 e 48 meses. Só então estes vinhos especiais ficam prontos para chegarem ao copo.

Aurélio Claro e Osvaldo Amado.

É muito trabalho. E pouco vinho, uma vez estas uvas não têm tanto sumo como as colhidas na época normal das vindimas. Não espanta, por isso, que os Colheita Tardia sejam uma pequena preciosidade, vendidas em garrafas de menores dimensões e a preços mais elevados. A marca Casa de Santar é comercializada em meias garrafas (375ml) que custam qualquer coisa a rondar os 20 euros.
Até porque, apesar dos cuidados na vindima e do acerto dos procedimentos na adega, estamos a falar de um processo natural de apodrecimento que nem sempre produz os resultados desejados. “Todos os anos é feita a vindima do Colheita Tardia. Mas o histórico diz-nos que só se engarrafa o vinho aí umas três vezes por década”, explica Osvaldo Amaro. O crivo é apertado: “Este é um Colheita Tardia onde procuramos a nobreza da podridão tardia”, sublinha. Há outras maneiras de fazer vinhos de sobremesa, mas o enólogo da GlobalWines é taxativo: “Deviam ter outro nome.”

O saber de muitos anos

Voltemos à Vinha do Judeu, onde se apanham as uvas para o Colheita Tardia. Os vindimadores avançam devagar, mas persistentemente, ao longo das linhas, ouve-se o “tique-tique” das tesouras, aqui e ali o arrastar de um caixote, de vez em quando uma instrução ou pedido dirigidos a alguém. Fala-se pouco, toda a atenção é necessária para selecionar as uvas na vinha. É aqui que está o segredo.

Conceição Neves tem 55 anos e “já uns aninhos” disto. Apesar da insistência dos repórteres, não se estica em comentários nem se faz à fotografia: está concentrada na escolha das uvas que vão para o caixote. Garante, no entanto, que “esta vindima é mais trabalhosa, exige outra atenção”. Só se consegue abrir uma brecha nesta compostura com uma pequena provocação. Depois de tanto trabalho, deve ser um gosto beber um copinho de Colheita Tardia… “Gosto muito”, atira, finalmente com um sorriso. “É maravilhoso!”

Por volta das 9h30, já com umas boas duas horas e meia de trabalho no corpo, o pessoal interrompe a vindima para comer uma bucha. Por esta altura, a temperatura subiu uns graus e até há quem ande manga curta. Um exagero, assuma-se, que isto ainda é uma manhã bem fresquinha de Inverno. No entanto, este frio é bom para as uvas, porque protege a sua frescura enquanto aguardam que o tractor as recolha para as levar para a adega; e também para as pessoas. Trabalha-se melhor ao fresco, sim, mas o argumento mais forte tem a ver com a reduzida actividade das vespas, nomeadamente as asiáticas, que hão-de aparecer daí a algum tempo, com o sol mais alto no horizonte, atraídas pelos aromas estonteantes das uvas podres que se vão amontoando nos caixotes – algumas, as escolhidas para o Colheita Tardia – ou no solo. E estas são a maior parte.

Por agora, gozemos a pausa na vindima. Passamos pelo gigantesco sobreiro que vigia a vinha do alto da encosta – e sob o qual crescem cogumelos de dimensões jurássicas – e vamos sentar-nos junto à estrada. Daqui contemplamos um imenso anfiteatro de vinhas, entremeadas com manchas de arvoredo, a paisagem típica do Dão vinhateiro. O mosaico de cores é fantástico, desde o verde berrante da erva fresca aos tons quase vermelhos da folhagem de algumas castas, passando por toda uma paleta de amarelos, ocres, castanhos e cinzentos. A paisagem fala por si. E justifica para lá de qualquer explicação o nome do vinho que daqui sai. Este é o Outono de Santar.