Romana Vini: Boutique vínica no Tejo e em Lisboa

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Romana Vini é o nome da empresa que produz vinhos a partir de uvas de duas quintas próximas entre si. Quis o destino que ficassem em duas regiões vitivinícolas diferentes: Lisboa e Tejo. Só uma tem adega, mas as duas compartilham o compromisso do proprietário de fazer apenas vinhos de excepção.

TEXTO António Falcão           NOTAS DE PROVA Nuno de Oliveira Garcia            FOTOS Ricardo Gomez

O património da Romana Vini começa na Quinta do Porto Nogueira, que data da primeira metade do século XVIII e esteve sempre na posse da mesma família. Sem herdeiros, por volta de 1980, o último proprietário ofereceu a quinta à Academia das Ciências de Lisboa. Em 2002 é vendida aos actuais proprietários, António Barreira e sua mulher. O nome da empresa vem da ponte romana sobre o rio Arnóia, quase encostada à adega. O conjunto de edifícios é importante e é atravessado pela estrada que sai para sul de Alguber, a escassos 250 metros desta aldeia.
A outra propriedade chama-se Quinta da Escusa e uma parte dela já pertencia aos avós e aos pais dos actuais proprietários, que aí exerceram a agricultura e a viticultura ao longo de décadas. A área é sobretudo agrícola, vinha e muita floresta, mas existe ainda uma pequena adega na aldeia de Quintas.
Quis a sorte que a Quinta do Porto Nogueira ficasse na região de Lisboa (sub-região de Óbidos), no concelho do Cadaval, cerca de 60 Km a norte de Lisboa, em linha recta. É aqui que está a sede da exploração e onde chegam todas as uvas da casa. Incluindo as que vêm da Quinta da Escusa, que fica a 10/15 minutos de carro, mas está na região do Tejo e no concelho de Rio Maior. O produtor tem uma licença para vinificar tudo na mesma adega, um procedimento normal nestes casos.
Quem gere a Romana Vini é António Barreira, consultor de gestão e habituado a tudo o que é empresarial. E é sobretudo alguém que sabe fazer contas. Antes de se lançar nesta aventura, António estudou a sua lição e vai optar, desde o início, por uma estratégia arriscada: criar marcas premium baseadas em vinhos de muito alta qualidade. E é exactamente aqui que esta empresa produtora se destaca face a muitas outras deste país.

António Barreira (proprietário), Manuel Botelho (viticultura), António Ventura (enologia) e Filipe Catarino (residente em viticultura e enologia).

Dois terroirs a caminho do biológico

A vinha da Quinta do Porto Nogueira, com os edifícios da casa em segundo plano. Ao fundo, a povoação de Alguber.

A pergunta seguinte que António Barreira se colocou foi esta: como se fazem vinhos de ‘muito alta’ qualidade? Essa é fácil, bastando saber perguntar a quem sabe. E um dos que mais sabe neste país é sem dúvida António Ventura, um dos enólogos mais experientes deste país e que cada vez mais, na nossa opinião, está à vontade a fazer pequenos volumes, como é este o caso. Na viticultura está Manuel Botelho Moreira, um técnico da região já com bastante experiência e que faz uma perninha no ensino universitário, no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. No dia-a-dia da vinha e adega pontua Filipe Tomé Catarino, que faz o interface com os dois consultores. António Barreira vai-se informando, chegando à conclusão de que os “grandes vinhos são feitos de pequenos pormenores”.
E tudo começou na vinha, com a escolha dos melhores terroirs para cada uma das castas. Depois, tudo é feito para ter as videiras saudáveis e conseguir as melhores uvas possíveis. As práticas agrícolas para isso apontam: pouca mobilização do solo, não se usam herbicidas nem fertilizantes, apenas estrume natural. Manuel Botelho diz-nos ainda que “estamos também a reduzir os fungicidas e queremos, no futuro, deixar de os usar”. As vinhas estão em modo de produção integrada, mas há a intenção de as passar, em breve, para o modo biológico.
A empresa, já agora, tem tomado medidas para potenciar a biodiversidade e ser o mais sustentável possível. Por exemplo, diz-nos António Barreira, “toda a energia consumida na nossa adega é produzida em Porto Nogueira a partir de energia solar e conseguimos auto-suficiência energética”. As áreas de floresta que rodeiam a vinha, em ambas as quintas, estão certificadas pelas normas FSC – Forest Stewardship Council. A terceira cultura da casa, já agora, é a Pêra Rocha. Esta fruta, a vinha e a floresta são, portanto, os 3 pilares onde assenta a agricultura da casa.
No total estamos a falar de 27 hectares de vinha: 17 em Porto Nogueira, com terrenos argilosos, e 10 na Escusa, que possui solos mais arenosos. O encepamento é variado, mas a viticultura privilegiou as castas tintas na Escusa, onde o clima mais quente permite melhores maturações para os tintos. Quase toda a vinha é recente e, à excepção de uma pequenina parcela de vinha velha, as plantas mais antigas são de 2012. As mais recentes nem sequer estão em produção.

A importância dos pormenores

As instruções que Manuel Botelho recebe vão no sentido de “fazer as melhores uvas possíveis”. podas estão, logo no início, adaptadas ao perfil dos vinhos, e não existem restrições a nível de produção por hectare, gastos de mão-de-obra ou quaisquer outras. O pináculo desta estratégia chega na altura da vindima, onde há escolha de cachos no campo e depois na adega. Mas não acaba aqui: uma mesa de inox permite ainda a escolha de bagos. Não entra assim um bago de uva com defeito na adega. Um único. É por isso que António Ventura nos diz que “aqui tudo é fácil para o enólogo, com esta qualidade da uva”. Neste sentido, Ventura tem ainda o encargo de deixar que os vinhos reflictam o terroir onde nasceram as uvas. António Barreira não hesita neste aspecto: “quero que os nossos vinhos sejam verdadeiros”. Outra exigência do proprietário é que os vinhos consigam suportar o teste do tempo: “Trabalhamos também para vinhos longevos”, afirma, mas que quer ainda, ao longo das futuras vindimas, “consistência e comparabilidade“. Ou seja, fidelizar os seus consumidores mais assíduos, ano após ano.

Vista aérea da vinha da Quinta da Escusa.

A Romana Vini só usa as uvas próprias e nem todo o vinho vai para as marcas da casa: qualquer branco ou tinto que não seja de topo é vendido a terceiros. O resto do processo na adega é o normal e, como se calcula, não faltam equipamentos de qualidade. Incluindo o parque de barricas, das melhores marcas e proveniências.
As produção começou em 2015, com apenas 21 mil garrafas. Têm vindo a aumentar anualmente e para 2020 o objectivo é chegar às 45 mil garrafas. António Barreira espera conseguir atingir a velocidade de cruzeiro em 2022/2023, com 75 mil garrafas. E não quer mais. Nessa altura espera vender 60% no mercado de exportação, que já se iniciou na Alemanha, Bélgica, Canadá, Japão, França e EUA.
Na distribuição nacional, António Barreira trilhou também um caminho pouco usado: prefere trabalhar directamente na Grande Lisboa e na região Oeste, usando distribuidores apenas no resto do país. “se entregássemos toda a produção num distribuidor seríamos apenas mais um; assim conseguimos explicar os nossos vinhos aos compradores”, garante o gestor.

Estratégia arriscada, mas bem calculada

O portefólio da casa está também definido, sendo igual para as duas quintas. De um lado os vinhos de lote, do colheita ao Grande Reserva ou Grande Escolha. Por outro, um conjunto de monovarietais, “produzidos e engarrafados apenas em anos de uvas excepcionais”. Pelo meio, alguma coisa especial, como um espumante, que já existe e tem o nome de Berbereta (nome dado à borboleta em tempos que já lá vão) ou, quem sabe, um colheita tardia.
O leitor já calculou que, com estas exigências, os preços não podem ser baratos. É uma consequência da estratégia seguida e dos custos assumidos. Diga-se em abono da verdade que há muito vinho a ser vendido mais caro e não tem a qualidade e consistência da gama da Romana Vini. Os vinhos são sérios, bem feitos, distintos, e um sinal disto é que os prémios já começaram a chover, um pouco por todo o mundo.

Em força para o enoturismo

Para o futuro mais próximo, a empresa pretende fazer uma aposta muito forte no enoturismo. As instalações estão praticamente prontas e incluem vários quartos para hospedes. Uma visita rápida deixou-nos água na boca, com excelentes instalações e primorosa decoração, a cargo da mulher de António Barreira.
Fica assim completo o ciclo do vinho: vinha, adega, vinhos e agora o enoturismo. Só falta mesmo o mais importante, o estabelecimento da marca como um ponto de referência entre os enófilos com maior poder de compra. Os primeiros passos nesta estratégia já foram dados, com o lançamento de vinhos bem-apresentados e com inegável qualidade. O resto vai levar mais tempo, mas António Barreira já o sabe e não está muito preocupado. Todos os negócios têm os seus timings e este não é diferente: só precisa um pouco mais de tempo…

Instalações em Porto Nogueira, a anunciarem um ambicioso projecto enoturístico.

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Edição n.º32, Dezembro 2019

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Toda a diversidade do Tejo

Aventurarmo-nos pelo Tejo enoturístico arrisca-se sempre a ser uma experiência incompleta, se a ideia for abarcar numa só tirada toda a realidade de uma região tão vasta e diversificada. Desta vez, porém, fomos à procura de casos especiais. Porque o Tejo descobre-se um bocadinho de cada vez, devagar, ao ritmo das águas do maior rio […]

Aventurarmo-nos pelo Tejo enoturístico arrisca-se sempre a ser uma experiência incompleta, se a ideia for abarcar numa só tirada toda a realidade de uma região tão vasta e diversificada. Desta vez, porém, fomos à procura de casos especiais. Porque o Tejo descobre-se um bocadinho de cada vez, devagar, ao ritmo das águas do maior rio da Península Ibérica.

TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez

Antes de mais, uma confissão. O título desta reportagem é manifestamente exagerado: ninguém consegue abarcar toda a diversidade da região vitivinícola do Tejo em dois dias. Na verdade, o que procurámos fazer foi ir à procura de locais que simbolizassem toda essa variedade de solos, microclimas, paisagens e realidades que dão origem a um mosaico de vinhos tão diverso. Nesse sentido, o que este título pretende salientar é essa riqueza, pegando em dois exemplos de como o Tejo tem sempre mais qualquer coisa para descobrir.

Antes de mais, a região é bastante grande: 17 mil hectares de vinha produzem cerca de 650 mil hectolitros de vinho, qualquer coisa à volta de dez por cento do total nacional. De Mação, a Leste, até Rio Maior, a Oeste. De Ferreira do Zêzere, a Norte, até Benavente e Coruche, a Sul. Sempre com o rio Tejo como espinha dorsal, a região abarca paisagens acidentadas e lezírias planas, zonas mais urbanas e outras de agricultura intensiva. E um dos pontos de união de todas estas peças do puzzle é o vinho.

No Tejo as vinhas fazem parte da paisagem e da vida das pessoas há milénios. Embora não haja evidências científicas absolutamente incontestadas, estima-se que se terá feito vinho em Portugal pela primeira vez por volta de 2000 a.C., pela mão dos Tartessos, a primeira grande civilização da Península Ibérica, varrida do mapa no século VI a.C. pelos Cartagineses e cuja capital se situaria no estuário do rio Guadalquivir. À boleia de contactos comerciais, a vinha terá começado a ser plantada nos vales do Tejo e do Sado há cerca de quatro mil anos.

Daí para cá, muita água passou por estes dois grandes rios da península, mas o vinho manteve-se sempre à tona. Na região do Tejo, no entanto, a longa história não chegou para manter o prestígio dos seus néctares, associados durante décadas à ideia de quantidade e não à qualidade. Produzia-se (e produz-se) muito no Tejo e muitos produtores, engarrafadores ou vendedores a granel de todo o país encontravam aí forma de compor os seus lotes. O vinho do Tejo estava em todo o lado, mas não tinha assinatura.

Os últimos anos trouxeram um movimento de recuperação do estatuto dos vinhos do Tejo, que procuram afirmar a sua qualidade e diversidade no panorama nacional. Para já, apenas cerca de 15 por cento (110 mil hectolitros) da produção é certificada, mas estes números estão em crescendo. E a qualidade vai-se afirmando.

 

O charme da fidalguia

A proximidade e a facilidade de acesso a partir de Lisboa (navegando o Tejo) levaram a que muitas famílias da aristocracia se virassem para esta região como zona de tempos livres. Nasceram as quintas e os palacetes, respirava-se o ar puro do campo em vez das pestilências da cidade, organizavam-se caçadas, criavam-se cavalos, realizavam-se touradas, comia-se, bebia-se e convivia-se em belas e românticas propriedades, algumas das quais conservaram todo o seu charme até aos dias de hoje.

E é aqui que o enoturismo entra, e em força. Um pouco por toda a região – a uma distância confortável de Lisboa e mais perto do Norte dada a sua posição central no país – produtores de vinho perceberam que os enoturistas hoje em dia são, essencialmente, turistas. Ou seja, não querem apenas conhecer adegas e provar vinhos. A experiência do vinho e da comida pode e deve estar associada a outros argumentos de sedução.

Um dos locais que visitámos nesta reportagem, a Quinta de Vale de Fornos, na Azambuja, é bem um exemplo disso mesmo: naqueles edifícios as forças francesas montaram quartel-general durante as invasões do século XIX e há quem defenda (numa versão ainda rodeada de alguns pontos de interrogação) que Cristóvão Colombo ali pernoitou – e talvez tenha mandado rezar missa – quando regressou das Américas e foi a Vale do Paraíso para se encontrar com D. João II.

Vale de Fornos tem ainda outra característica curiosa, esta directamente ligada ao universo vínico: nos seus 50 hectares de vinha, metade dos quais estão actualmente em remodelação, podemos encontrar os três terroirs típicos do Tejo: o Bairro, característico da margem direita do rio; o Campo, bordejando a linha de água; e a Charneca, na margem esquerda. Em si só, é um retrato da região, mas, curiosamente, podia nem ser, porque a sua localização coloca a propriedade mesmo na fronteira com a região vitivinícola de Lisboa. Foi dada aos proprietários a possibilidade de optar por uma delas e assim se decidiu que seria Tejo.

Um pouco mais a Norte, em Almeirim, também a Falua tem um contributo para dar à diversidade da região. Os solos do Tejo são maioritariamente constituídos por argilo-calcários na margem direita, mais acidentada; por aluviões, no leito do rio e seus afluentes; e por areias, na margem esquerda. Há também uma mancha de xistos perto de Tomar. E, depois, há a Vinha do Convento. Quatro metros de profundidade de pedra rolada, anacronicamente localizada numa colina, longe do curso do Tejo. Uma paisagem singular, talvez única em Portugal. Vamos até lá.

Fundada em 1994 por João Portugal Ramos, um dos nomes incontornáveis da história moderna do vinho português, a Falua passou entretanto a ser controlada maioritariamente pelo grupo agro-industrial francês Roullier, que aqui fez o seu primeiro grande investimento mundial no sector vitivinícola. Mas se a história é relativamente curta, essa contemporaneidade permite à empresa ter instalações modernas e muito funcionais, construídas de raiz aquando do lançamento do projecto. Adequar essa lógica de produção ao apelo enoturístico é agora um dos desafios deste grande (mais de seis milhões de garrafas/ano) produtor do Tejo.

O edifício cinzento-metalizado situado na zona industrial de Almeirim não é, manifestamente, um château… Mas há muito para descobrir lá dentro. Da sala da recepção passamos à nave das barricas, separada da zona social por uma parede em vidro e com acesso à adega do outro lado. O pé alto generoso, a ausência de luz exterior directa e uma climatização exemplar cumprem a dupla função de proporcionar excelentes condições de estágio para os vinhos e criar uma atmosfera especial.

Passeamos pelo meio das barricas e desembocamos na adega, primeiro na zona dos balseiros em madeira, depois através das alamedas de depósitos em inox. A higiene é aqui levada muito a sério, por opção da casa e por imposição das especificações internacionais que estão associadas à exportação para o Reino Unido. O resultado é impecável: não se vê nada fora do sítio, o chão está sempre a brilhar e toda a gente cumpre escrupulosamente as regras de limpeza – o que implica, por exemplo, que haja balneários com chuveiro para os funcionários.

Subimos ao andar de cima, para a sala de provas e refeições, também ela ligada visualmente à nave de barricas por uma parede de vidro. Duas grandes mesas em madeira dominam o espaço, onde também pontifica um ecrã para passar vídeos promocionais. Do lado oposto às barricas, uma varanda abre-se sobre a fachada do edifício. Num terreno lateral, a Falua plantou uma vinha pedagógica, com todas as castas cultivadas pela casa. E são bastantes, em 68 hectares de vinha própria, mais 250 sob gestão, em colaboração com os proprietários.

Mas é no campo que está a impressão mais forte. Ali a dois ou três quilómetros, visitamos a Vinha do Convento, uma extensão de 40 hectares agora cortada pela A13 que desafia a imaginação. Estamos a uns três quilómetros do curso actual do Tejo, mas percebe-se que o rio, em tempos, teve outros planos. A vinha cresce numa colina cujo solo é formado por pedra rolada, típica dos leitos de água corrente, e foi plantada de origem – e à mão – num terreno vazio quando a Falua foi fundada. Uma loucura que deu à região do Tejo um terroir único.

FALUA
Zona Industrial, Lote 56, Almeirim
Tel: 243 594 280
Mail: falua@falua.net
Web: www.falua.net

As instalações da empresa estão abertas das 9h30 às 12h30 e entre as 14h e as 17h30. As visitas são agendadas mediante marcação prévia e custam 10 euros por pessoa (visita ao centro de vinificação e sala de barricas, mais prova de três vinhos (gamas Conde de Vimioso e/ou Falua); ou 15 euros por pessoa (inclui ainda visita à Vinha do Convento e prova de cinco vinhos das gamas já mencionadas). No menu há também um Curso de Iniciação à Prova de Vinhos (8 vinhos das gamas Conde Vimioso e Falua), que custa 25 euros por pessoa.

Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 1,5

AVALIAÇÃO GLOBAL: 16,5

Ali a pouco mais de duas dezenas de quilómetros, na outra margem do rio, a paisagem não podia ser mais diferente. Da modernidade para a tradição, do cascalho rolado para uma variedade de terrenos, dos horizontes abertos para uma paisagem ondulada. Uma alameda arborizada com vinha de ambos os lados conduz-nos a um complexo de edifícios de cor ocre. Um enorme cão dormita lá ao fundo, à nossa frente um portão fechado deixa entrever um terreiro com árvores delimitado por construções térreas e um bloco de maiores dimensões ao fundo.

Há uma porta aberta e por ela entramos no Douro. Perdão, na adega. Mas é tão forte a sensação de estarmos mais a Norte, perante a visão de lagares em granito (escavados à mão no local a partir de ciclópicos blocos únicos) e da organização do espaço, que é quase sem surpresa que ficamos a saber que tudo isto é obra dirigida pela mão certeira de D. Adelaide Ferreira, a Ferreirinha, que ofereceu a Quinta de Vale de Fornos à filha como prenda de casamento. Num dos cantos desta adega velha, ligando com um varandim que permite vista desafogada sobre os gigantescos balseiros (que em breve serão inspecionados, para se saber se podem ser usados), está uma porta que leva directamente à entrada principal da casa. Aqui, o vinho era parte do dia-a-dia.

Descemos as escadas e percebemos pormenores como a existência de um poço e de uma lareira, truques de antanho para climatizar o espaço. As grandes traves em madeira do tecto voltam a trazer-nos o Douro à memória. E saímos para os jardins do palacete, onde, nem de propósito, um faisão se pavoneia nos relvados. O jardim, plantado em socalcos, sobe na direcção da casa principal e estende-se, lateralmente, para a zona de eventos, um grande pavilhão e o pequeno edifício da loja encavalitando-se na encosta sobranceira ao tapete de relva.

Antes passámos por uma velha destilaria, onde varandins em madeira, alambiques antigos, caldeiras e depósitos de água convivem num equilíbrio instável. Espreitamos as vinhas que se estendem, ora em encosta, ora em vales mais férteis. E pressentimos o Tejo lá ao fundo, para lá do vale da entrada da propriedade e por onde sopram constantes as brisas mais frescas que ajudam a temperar o clima mais quente no Verão.

A casa produz quatro tintos e dois brancos – e os vinhos estão agora sob gestão da empresa Encostas de Alqueva, que aqui descobriu um enorme potencial para néctares estruturados e complexos, lotes em que se conjugam castas portuguesas e estrangeiras, mais um varietal de Syrah. Sentemo-nos, portanto, à sombra destas construções seculares, apreciando o silêncio e recordando a história e as histórias do local. De copo na mão, como convém.

QUINTA VALE DE FORNOS
Rua da Olaria, nº48, Azambuja
Tel: 263 402 105 / 919 544 548
Mail: eventos@quintavalefornos.com
Web: www.quintavalefornos.com

A quinta está aberta todos os dias (9h-12h30 e 14h-17h30 aos dias de semana; 10h-17h aos sábados e domingos), excepto nos principais feriados. Exige-se marcação prévia. O leque de opções abre com a prova de vinhos (três vinhos – 7,5 euros por pessoa) e a prova de vinhos com queijos (três vinhos – 15 euros), passando a 20 euros com visita à adega ou vinhas. Almoços e jantares por 30 euros (mínimo 20 pessoas). Almoço com prova de vinhos e visita à adega: 40 euros (mínimo 15 participantes). É possível fazer passeios a cavalo pela quinta (80 euros meio dia, 125 dia completo) e outras actividades mediante solicitação.

Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2

AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5

ESTAÇÃO DE SERVIÇO

No Verão os dias são mais longos e convém não descurar o abastecimento sólido, por mais que o calor peça líquidos – o ideal é mesmo conjugar os dois. Nesta volta pelo Tejo, e porque o panorama gastronómico da região tem evoluído de forma sensível, não haverá dificuldade em encontrar boas mesas, mas em jeito de ajudinha aqui ficam três sugestões. Em Santarém, a conjugação dos sabores tradicionais com uma apresentação moderna torna o Ho!Vargas um local altamente recomendável. Em Almeirim, será pecado não “atacar” uma sopa da pedra e o local para o fazer é o Tertúlia da Quinta. Se procura algo mais leve, em Aveiras tem o AveiraMariscos, que não se fica apenas pelos frutos do mar… Bom apetite.

Edição nº29, Setembro 2019

Casa Cadaval: A nobreza num copo de vinho

Ocupando uma parte da povoação a norte de Muge, a Casa Cadaval é um dos mais antigos e prestigiados produtores de vinho da região do Tejo. Tem nobres pergaminhos na sua história, nacionais e internacionais, e os vinhos seguem o mesmo caminho, com carácter, qualidade e polimento de mãos dadas. TEXTO António Falcão NOTAS DE […]

Ocupando uma parte da povoação a norte de Muge, a Casa Cadaval é um dos mais antigos e prestigiados produtores de vinho da região do Tejo. Tem nobres pergaminhos na sua história, nacionais e internacionais, e os vinhos seguem o mesmo caminho, com carácter, qualidade e polimento de mãos dadas.

TEXTO António Falcão
NOTAS DE PROVA Mariana Lopes
FOTOGRAFIAS Ricardo Gomez

Teresa Schönborn é descendente de nobreza nacional, mas ostenta ainda o título de Condessa de Schönborn e Wiesentheid, um título germânico com centenas de anos de história. Teresa teve uma educação esmerada e fala sete línguas diferentes, mas a sua maneira de ser dificilmente poderia transmitir mais simpatia e simplicidade. Como administradora da Casa Cadaval, esta executiva passa parte do seu dia no meio de tractores, estradas poeirentas, gado e cavalos, vinhas e adega. E aqui sente-se feliz, conseguindo ainda ser pessoa muito respeitada na zona, até porque muito tem ajudado a freguesia de Muge, do concelho de Salvaterra de Magos, em pleno Ribatejo.
Esta é uma casa com centenas de anos de história ilustre. Pertenceu a D. Nuno Álvares Pereira de Melo, personagem de grande relevo na história de Portugal e nomeado 1º Duque do Cadaval, em 1648 (não confundir com o general que derrotou Castela em Aljubarrota).
Teresa Schönborn é descendente desta família e o nome alemão vem do casamento de sua mãe, Graziela Álvares Pereira de Melo, com Friedrich Karl Anton, conde de Schönborn-Wiesentheid. A família possui vinhas na Alemanha, na Francónia (bem no coração do país) e no Reno, mais para o lado da França. “Já se faz lá vinho há 800 anos!”, graceja Teresa.
Por cá o terreno é muito maior. De facto, a Casa Cadaval é uma das maiores explorações agrícolas nacionais, com quase 5.000 hectares de terra. Sem contar com o pessoal adstrito à já famosa coudelaria de cavalos lusitanos (que data de pelo menos 1648!), aqui trabalham em permanência 37 pessoas, geridas por António Saldanha, o braço direito de Teresa. Para lá dos tractoristas da casa, que são muitos, a maior parte dos tratamentos e amanhos da vinha são realizados por pessoal de fora.
A herdade abrange muitas culturas – arroz e outros cereais, leguminosas, como tomate, gado de carne, uma enorme floresta de montado e, claro, vinha. Possui cerca de mil hectares de terra extremamente fértil e com abundância de água, dois factores que marcam fortemente a riqueza de uma exploração agrícola e o respectivo valor dessas terras. É por isso que o negócio do vinho nem sequer é o mais importante da Casa Cadaval. “A vinha (e o vinho) dá dinheiro, mas também muito trabalho”, diz-nos Teresa. No entanto, a maioria dos solos da Herdade de Muge é relativamente pobre e é exactamente aí que reside o enorme montado… e a vinha.

Um pulo às vinhas
Vinha e adega estão a cargo de Raquel Santos, a enóloga residente, e do consultor Mário Andrade, conhecido enólogo com um grande pendor na viticultura. Raquel entrou há cerca de um ano, vinda do Alentejo, mas a sua origem é do Dão e tem avô e pai viticultores. Ou seja, dois enólogos que adoram estar nos 45 hectares de vinha, espalhadas por três manchas: Adua, Serradinha e Amoreira. A primeira é a maior, a que tem a vinha mais velha e é onde estão, diz Raquel, “as castas com maior importância para nós”. Ou seja, é da Adua que saem os monocastas da casa, o topo de gama Marquesa de Cadaval, e por aí fora. As melhores partes e as uvas brancas são vindimadas à mão, juntamente com as vinhas muito jovens; o resto fica para uma máquina, alugada.
A vinha mais velha é de Trincadeira e data ainda de tempos antigos, quando a Casa Cadaval chegou a possuir 416 hectares de vinha, numa zona de areias. Na altura da plantação as coisas foram feitas a preceito, com a consultoria de técnicos franceses. A uva ia para vinho a granel e foi só por acção do pai de Teresa (e da avó) que a situação mudou, apostando-se antes em vinho com outras exigências de qualidade. Friedrich Karl Anton era, aliás, um “estudioso da vinha”, diz a filha. A área de vinha foi assim sofrendo reduções sucessivas. Com a nova vinha, e uma parcela de velha, o produtor começou a enviar vinho para a Alemanha, para a adega do pai de Teresa, onde era engarrafado com o rótulo Casa Cadaval. Isto por volta de 1975/1976. Por isso é que a marca tardou alguns anos a ser conhecida por cá, coisa que terá acontecido só por volta do início dos anos 80, altura em que existiam ainda muito poucas marcas no mercado português.
A era moderna da produção de vinho começou com o pai de Teresa, Friedrich, que, à semelhança do que acontecia na Alemanha, achava que as vinha tinha que ser plantada por castas e também que seriam feitos vinhos monovarietais. Hoje é corriqueiro, mas na altura era quase revolucionário. A Casa Cadaval foi assim das primeiras a lançar vinhos de uma só casta. E nas castas tintas apareceu Trincadeira, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Merlot, e, nas brancas, a casta bem típica do Ribatejo, o Fernão Pires. Só bem mais tarde aparecem, por exemplo, outras castas brancas, como Riesling, Viognier e Verdelho.

Os solos de areia
Nos solos predominam as areias, algumas partes com argila no subsolo. Sondas colocadas o ano passado mostram bem os teores de humidade a um metro de fundo e têm ajudado muito os técnicos a planear a rega: “evitamos estar a regar demais ou de menos”, declara Mário. Aqui não há problema de falta de água. A enorme barragem, ao pé da sede agrícola da casa, os canais interiores e a proximidade ao Tejo asseguram que, mesmo nos Verões mais secos, exista sempre água em abundância. E o subsolo é também rico.
Ainda assim, a maioria da vinha está em solos com pouca fertilidade: “em média não conseguimos mais de 5 a 6 toneladas por hectare”, diz-nos Raquel. A técnica sabe que é pouco e que será bom para vinhos de qualidade, mas gostava de ter mais, mantendo o equilíbrio das uvas produzidas. Mário Andrade está de acordo e acrescenta: “aqui, com clima quente e solo pobre, até convém ter os bagos um pouco maiores, porque resistem melhor à seca e aos golpes de calor. Os antigos já o sabiam”.
Apesar de nenhuma vinha estar em terras de aluvião, Mário acredita que estes solos muito férteis são “excepcionais” para vinhos brancos, dando vinhos mais aromáticos e com menos taninos”. Para tintos, é melhor a charneca, a zona de solos mais pobres, que “dá vinhos mais estruturados e com mais taninos”.

À procura daquele solo especial
Mário e Raquel enfrentam, entretanto, num novo desafio, que é o de encontrar o espaço certo para plantar uma nova vinha. Já fizeram vários ensaios, em locais diferentes, mas até agora nenhum conseguiu reunir as condições certas para os requisitos dos técnicos. Os técnicos procuram, em termos muito simples, uma boa parcela, com solos de estrutura e perfil diferentes (para melhor) das existentes. Existe ainda muita terra para explorar e os ensaios vão continuar, porque esta não vai ser apenas mais uma vinha: “tem que ser boa e identitária”, diz Mário Andrade.
Com tanta mexida no campo, Raquel diz-nos que, no último ano, passou mais tempo na vinha que na adega. E vai conseguindo bons sucessos: as podas feitas este ano, por exemplo, foram de correcção. E o resultado foi muito bom, deixando Raquel muito contente: “Via-se que as plantas estavam mais felizes”, gracejou a técnica, enquanto nos dirigíamos para a adega.

Uma adega em remodelação
A adega foi em tempos concebida para vinificar milhares de toneladas de uva, por isso espaço é coisa que não falta. Chegaram-se a vinificar aqui 4 milhões de litros por ano e tudo estava em cimento, como era tradição, em quatro grandes alas. Muita coisa já mudou, entretanto, e outras vão mudar ainda nos próximos tempos. A traça original e vários depósitos vão-se manter, mas o laboratório desce do primeiro andar para o rés-do-chão e as seis prensas Titan – da Casa Hipólito, com 50 anos de idade – vão ser recuperadas. “São óptimas para tintos”, diz Mário.
Descemos ao piso subterrâneo, onde existem tegões de recepção, depósitos e muita maquinaria antiga, que vão sofrer remodelações e restaurações. É aqui que vão passar a ficar as barricas, até porque é o sítio mais fresco. Mário Andrade já espiolhou tudo e fica espantado com o planeamento da adega na altura e com algumas soluções engenhosas. Parece que, de facto, toda a adega foi planeada de raiz por enólogos franceses, há muitas décadas atrás. O enólogo acha que a adega é uma pequena jóia da arqueologia industrial.
De resto, Mário e Raquel são adeptos de vinificações minimalistas e das leveduras indígenas, sempre que possível. “É tudo o mais simples possível”, garante Mário Andrade, que fez centenas de testes ao longo dos anos e os vinhos feitos com métodos mais naturais (os testemunhas) estavam sempre entre os melhores. Por isso a receita é ter “uvas sãs, higiene e deixar correr o processo natural; dá menos trabalho, é mais barato e dá melhores resultados”.

Enoturismo a toda a força
Quem trata de toda a estratégia comercial e de marketing é Cátia Casadinho, com muita experiência nacional e internacional. Cátia organiza ainda o enoturismo da casa, com uma bela loja de vinhos, de generosas dimensões. A loja tem cada vez mais visitas, o resultado, diz Cátia, da crescente notoriedade turística de Portugal (e do seu vinho). As próprias agências pedem visitas, até porque a distância para a capital não é muita (75 km).
Na altura da nossa visita, um grupo de franceses tinha acabado de entrar, atraídos pelo sinal da loja de vinhos. É frequente fazerem aqui vários programas à volta do vinho (ver em www.casacadaval.pt), várias vezes com actividades complementares, como o baptismo de montar um cavalo lusitano, ou conhecer o montado de sobro. “Criamos aqui uma sinergia que acaba por gerar muita curiosidade nas visitas e é para nós uma mais-valia”, diz-nos Cátia. Outros atractivo é, por exemplo, a arqueologia. Prova disso são as vitrines na recepção com toda a espécie de artefactos de várias idades – do neolítico à época romana – encontrados um pouco por toda a herdade. Quase a querer dizer que, de facto, esta casa tem bem mais do que os 400 anos de história…

Edição Nº30, Outubro 2019

Lagoalva de Cima: Um Tejo diverso e pioneiro

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Em Alpiarça, estende-se uma propriedade que junta algumas das mais fortes dimensões do mundo rural português: cortiça, cavalo lusitano, azeite e vinho. A Lagoalva, primeira casa portuguesa a fazer monovarietais de Syrah e Alfrocheiro, é coisa séria.

TEXTO Mariana Lopes        NOTAS DE PROVA Luís Lopes     FOTOS Lagoalva

O que é que a margem Sul do rio Tejo tem? Uma propriedade de 800 hectares, rica em história, na freguesia de Santo Eustáquio de Alpiarça e a 2 quilómetros da mesma vila. É a Quinta da Lagoalva de Cima que, na verdade, detém um total de 7 mil hectares espalhados por diferentes locais. Com uma beleza natural muito sua, o terroir caracteriza-se, essencialmente, por grandes extensões planas de terrenos de regadio, muito férteis, onde o Tejo desempenha um papel preponderante e onde crescem várias culturas agrícolas. Também a floresta é parte importante do cenário. A casa mãe, uma bonita construção setecentista, pinta o cenário de amarelo torrado e transporta aquele local para o século XVIII: foi nesse século que a Lagoalva obteve uma comenda da Ordem de Santiago, sendo tutelada por um dos membros da família da Casa Lavre. Assim, a 9 de Dezembro de 1776, foram feitos vários investimentos na propriedade, já a preparar a terra para o que lá havia de ser erguido. Para minimizar os efeitos da subida do nível das águas do rio, mandou-se abrir uma vala que obrigasse o Tejo a seguir o seu leito natural, e um dique em estacada. Depois, reduziram-se os terrenos maninhos e espargais a cultura agrícola e edificaram-se paredes na herdade, de onde nasceu o palácio da Lagoalva, as suas casas e a sua capela.
Mais tarde, em 1834, a Quinta da Lagoalva é comprada por Henrique Teixeira de Sampayo, 1º Conde da Póvoa. Em 1842, todos os bens passam para Maria Luísa Noronha de Sampayo que, ao casar-se com Domingos António Maria Pedro de Souza e Holstein, 2º Duque de Palmela, acaba por reverter as posses para a Casa Palmela, de onde são descendentes os actuais proprietários. Deste modo, a Quinta da Lagoalva e os terrenos anexos pertencem à Sociedade Agrícola da Quinta da Lagoalva de Cima, encabeçada pelos irmãos Manuel e Miguel Campilho.

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Já desde o século XIX que a Lagoalva é produtora de vinho. “A ligação da nossa família a Itália motivou o surgimento do vinho, do azeite e do bicho da seda”, elucidou Manuel Campilho, que vive na Quinta há 44 anos. Sempre em grande, a Lagoalva levou, em 1888, 600 cascos de vinho para a Exibição Portuguesa da Indústria. Porém, o primeiro vinho engarrafado, com o nome Lima, data de 1989. Em 1992, a enologia passou para João Portugal Ramos que, em 2002, a passou para Rui Reguinga. Foram os primeiros, em Portugal, a fazer monovarietal de Alfrocheiro, tendo o primeiro sido em 1999, e também de Syrah, em 1994 (embora só a colheita de 97 tivesse sido apresentada como tal). Hoje é Diogo Campilho, filho de Manuel, que está à frente desta faceta da empresa. Diogo é enólogo e ao seu lado trabalha, desde 2007, o também enólogo Pedro Pinhão, numa dupla cúmplice e inseparável.
Dos 50 hectares de vinha, 35 encontram-se em plena produção, assentes em três tipos de solos: 100% arenosos (onde estão variedades tintas), argilo-arenosos (a “casa” do Alfrocheiro) e de aluvião (brancas). Neles estão plantadas as castas Sauvignon Blanc, Alvarinho, Arinto, Fernão Pires, Verdelho e Chardonnay; e as tintas Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz, Cabernet Sauvignon, Syrah, Tannat e Castelão. “Iremos plantar, em breve, Petit Verdot, no sentido de dar mais estrutura aos vinhos tintos”, contou Diogo.

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O enólogo, que passou uma temporada na Austrália a fazer vinho, trouxe inspirações do Novo Mundo para a vinha e para a adega, onde coabitam várias opções enológicas mais modernas e outras tradicionais. Tudo isto se traduz no perfil dos vinhos, juntamente com a especificidade daquele terroir. Diogo explicou a filosofia: “Os nossos vinhos têm muito que ver com o nosso modo de estar e com o nosso público alvo, que é a faixa-etária dos 20 aos 40 anos”. São quase 30 as referências presentes no portfólio, entre brancos, tintos, espumantes, colheita tardia e licorosos, perfazendo uma produção anual de 350 mil garrafas, que se traduzem em 850 mil euros. “O objectivo para 2019 são mais 100 mil”, descortinou Diogo Campilho.

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Onze foram as novas colheitas que a Grandes Escolhas provou na Quinta da Lagoalva, antes de três impressionantes provas verticais. O espumante branco, com 80% de Arinto e 20% de Alfrocheiro, a mostrar-se jovem, revelou bela acidez e frescura. O espumante rosé, por sua vez, é feito apenas com Alfrocheiro, num perfil suave, mas encorpado, também com boa acidez. A “espumantização” é feita na Lagoalva. O Lagoalva Sauvignon Blanc é expressivo com ananás e leves amargos vegetais, de uvas vindimadas durante a noite “para preservar os aromas”, e vinificadas em inox, por oposição ao Lagoalva Barrel Selection, também de Sauvignon Blanc mas em carvalho francês. A versão tinta do Barrel Selection tem, na sua composição, Syrah e Touriga nacional, numa bela combinação de fruta com barrica. O Lagoalva rosé é também ele de Syrah e Touriga Nacional em inox, e o tinto divide-se, em partes iguais, em Castelão e Touriga Nacional, com maloláctica e estágio de seis meses em barricas de carvalho francês e americano. Já o Lagoalva Talhão 1, inclui Alvarinho, Arinto, Fernão Pires, Sauvignon Blanc e Verelho, com fermentação em cubas de inox. O Reserva branco e o Reserva tinto têm em comum a alta aptidão para a mesa, sendo o primeiro feito de Arinto e Chardonnay, fermentados e estagiados em barrica, e o segundo de Alfrocheiro, Touriga Nacional e Syrah, com estágio de 10 meses em carvalho francês.

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O Lagoalva de Cima Alfrocheiro Grande Escolha 2016 é o mais recente de uma linhagem de quinze edições. Nascido de uma vinha de inícios da década de 70, plantada com um clone vindo da casa José Maria da Fonseca, é o vinho bandeira da Lagoalva e sempre foi. Pedro Pinhão esclareceu que “Mesmo sendo uma casta difícil na vinha, num bom ano tem uma relação produtividade/qualidade fantástica”. A “tiragem” é de 5000 garrafas, de um vinho vinificado em lagar com pisa mecânica e estagiado em barricas francesas, novas e usadas. Do Lagoalva de Cima Syrah Grande Escolha foram feitas oito edições, que culminam na de 2016, também fermentado em lagar com pisa mecânica e com estágio no mesmo tipo de barricas do Alfrocheiro.
A estória do vinho Dona Isabel Juliana é engraçada e prende-se com a avó de Diogo Campilho, que a conta com ternura. Em 2009, Diogo e Pedro decidiram criar este tinto e, no Natal do mesmo ano, foi apresentado a Isabel Juliana. Emocionada, a avó agradeceu ao neto, dizendo-lhe: “Obrigada, o vinho é muito bom, mas se não te importares dá-me um copo de rosé” – era o seu tipo de vinho favorito. O Dona Isabel Juliana tinto 2015 tem Alfrocheiro e Touriga Nacional no lote, com maloláctica e estágio de 14 meses em barricas novas e usadas. Fazem-se entre 2500 e 3 mil garrafas deste belíssimo vinho.

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Durante a nossa visita tivemos oportunidade de fazer uma prova vertical das três marcas mais emblemáticas da casa: Lagoalva de Cima Syrah, Lagoalva de Cima Alfrocheiro, e Dona Isabel Juliana. A Syrah colocou a Lagoalva “no mapa” dos grandes representantes nacionais desta casta, desde a sua estreia em 1994. Para além do vinho que está no mercado (2016) provámos as colheitas de 1997 (algo cansado de nariz, melhor na boca), 2000 (excelente fruto, tudo no sítio, em grande forma), 2005 (maduro e compotado – ano quente – mas prazeroso), 2008 (fechado, austero, especiado, ainda jovem, um portento), 2010 (leve e aberto, madeira muito presente), 2012 (todo fruta e elegância, muito bom) e 2015 (expressivo, afinado e apimentado, belo vinho). A Alfrocheiro é uva bastante acarinhada na casa, e essa atenção é patente nos vinhos provados. No mercado está o Alfrocheiro 2016 (que apresentamos à parte), mas apreciámos as colheitas de 1999 (elegante, perfumado, ainda com leve floral), 2003 (bastante frutado, jovem ainda, a acidez a mantê-lo bem vivo), 2005 (cremoso, cheio de especiaria e mirtilos, em grande forma), 2008 (sisudo – tal como o Syrah do mesmo ano – groselha e leve vegetal de grande qualidade, muita vida pela frente), 2009 (denso, rico e texturado) e 2011 (a complexidade e profundidade do ano perfeito, eucalipto, finura, garra e longevidade).
Finalmente, o Dona Isabel Juliana, o topo de gama da casa, lote de castas que varia, mas onde a Alfrocheiro tem estado sempre presente, acompanhada, consoante o ano, de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tannat ou Alicante Bouschet. Provados o 2009 (enorme surpresa, vigoroso e austero, complexo, grande), 2012 (gordo e sumarento, cheio de sabor e presença), 2013 (o mais fino de todos, muito expressivo e elegante, mineral) e 2015 (contido, com acidez muito precisa, taninos poderosos, sólido e longo).

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“Temos e fazemos aqui a excelência do mundo rural português: cavalos lusitanos, vinho, azeite e cortiça”, diz Diogo Campilho, com orgulho. A estes juntam-se milho, trigo, floresta, cevada, ervilha, gado… e mais alguns. Vinte são os cavalos, todos em competição e o azeite gera cerca de 5 mil garrafas, de olival tradicional. A agricultura, a floresta e a pecuária formam um negócio de 4,5 milhões de euros. Também a consultoria e o equipamento agrícola são actividades económicas da Lagoalva, a gerar cerca de 3 milhões de euros. Por aqui se vê a dimensão de uma empresa com tradição secular na região do Tejo, diversa e pioneira, onde se junta um legado de gerações ao know-how moderno de quem não fica parado no tempo.

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Certificação no Tejo aumenta quase 40%

O primeiro trimestre de 2019 registou, face ao mesmo período de 2018, um aumento de quase 40% no que toca à certificação de Vinhos do Tejo. Quem o diz é a Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo), precisamente a entidade a quem cabe esta missão, emitindo os respectivos selos de garantia de qualidade. De […]

O primeiro trimestre de 2019 registou, face ao mesmo período de 2018, um aumento de quase 40% no que toca à certificação de Vinhos do Tejo. Quem o diz é a Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo), precisamente a entidade a quem cabe esta missão, emitindo os respectivos selos de garantia de qualidade. De acordo com os dados, foi o maior crescimento de sempre registado até ao momento.

Nos meses de Janeiro, Fevereiro e Março de 2019 houve, respectivamente, um aumento em volume de 33,06%, 50,21% e de 31,55% de selos DOC e IGP, ou seja, de vinhos com Denominação de Origem Controlada (Do Tejo) e Indicação Geográfica Protegida (Vinho Regional do Tejo).

O maior impulsionador deste incremento foi a Adega do Cartaxo, com a marca Encostas do Bairro, que passou de Vinho (designação dada aos vinhos sem certificação, tendo já caído a expressão “vinho de mesa”) para Vinho Regional do Tejo.

Rio abaixo, de copo na mão

Os vinhos do Tejo estão, de forma segura e consistente, a vencer o preconceito. E se o que nos chega ao copo é bom, então vamos descobrir o que está por trás, as histórias, os terroirs e as pessoas que dão corpo e alma a uma região que se reafirma. “Descemos” o Tejo, parando pelo […]

Os vinhos do Tejo estão, de forma segura e consistente, a vencer o preconceito. E se o que nos chega ao copo é bom, então vamos descobrir o que está por trás, as histórias, os terroirs e as pessoas que dão corpo e alma a uma região que se reafirma. “Descemos” o Tejo, parando pelo caminho para retemperar o corpo e o espírito.

TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Palma Veiga

A região vitivinícola do Tejo é muito recente, mas tem uma história secular. Paradoxo? Nem por isso. A tradição de fazer vinho no vale da metade oeste do maior rio da península Ibérica tem a sua origem nos tartessos, um povo oriundo da região do Guadalquivir (sul de Espanha), que terão introduzido a vinha no que viria a ser o território português por volta de 2000 anos antes de Cristo. Um milénio depois, os fenícios trouxeram novas castas para as regiões onde estabeleciam comércio, nomeadamente a embocadura dos grandes rios, como o Guadiana, o Sado, o Tejo e o Mondego. Em 1170, no foral de Santarém, já D. Afonso Henriques menciona o vinho. E o resto é história.
Mas quando se fala de vinhos do Tejo estamos a olhar para pouco mais de uma década: a região vitivinícola do Tejo só ganhou este nome em 2008, enterrando – no papel, ainda que não de imediato nas mentalidades – a antiga região Ribatejo. Esta reorganização lá terá tido a sua argumentária burocrática, mas o propósito subjacente desde sempre ficou claro: era preciso mostrar aos consumidores que se vivia uma nova era. O vinho do Tejo já não era o “carrascão” produzido em grandes quantidades e despachado para as carvoarias e tascas de Lisboa. Nascia o futuro.
Hoje, o Tejo engloba cerca de 17 mil hectares de vinha e é responsável por cerca de dez por cento da produção nacional (média de 650 mil hectolitros/ano). Espraia-se ao longo do rio desde praticamente o centro geográfico do país (Mação, Ferreira do Zêzere) até às portas da cintura urbana de Lisboa (Azambuja, Benavente). O rio define os três terroirs da região: junto à água, as férteis planícies do Campo; na margem esquerda, os solos arenosos da Charneca; na margem direita, os terrenos argilo-calcários do Bairro.
Mas isto é saber de biblioteca (ou internet, nos tempos que correm). É preciso pôr os pés ao caminho para descobrir tudo o que o Tejo tem para dar, no seu cruzamento de rituais e culturas (das Beiras, do Alentejo, das influências litorais que chegavam nos barcos e, naturalmente, desse imenso Ribatejo que alberga esta região). Começámos no Tramagal, junto a Abrantes, e descemos o grande rio até ao Cartaxo, com paragem em Almeirim. De copo na mão e espírito aberto. Já temos saudades.

Há muito tempo que se produz vinho por aqui, mas a “era moderna” da Quinta do Casal da Coelheira começou em 1986, quando foi adquirida pelos actuais donos. Nessa altura, vendia-se toda a produção em garrafão e foi preciso criar marcas, investir na adega, reconverter as vinhas. Em pouco tempo, a qualidade desse trabalho teve expressão nos vinhos. Mas ainda havia um problema, explica Nuno Rodrigues, enólogo e proprietário: “A imagem dos vinhos, o que as pessoas sentiam no copo, não correspondia ao que encontravam aqui.” E há seis anos o espaço foi remodelado.
As linhas tradicionais da unidade agrícola ribatejana continuam lá, com os edifícios compridos a delimitarem um pátio interior (enriquecido com incríveis painéis de azulejo que mantêm toda a frescura ao cabo de quase 40 anos), um antigo poço no centro do espaço. A diferença é que numa das alas, em vez de celeiro e estábulos, temos agora uma loja, um espaço multiusos e uma sala de provas. Visual moderno e simplista, com madeiras claras e superfícies vidradas coabitando em harmonia sob um altíssimo tecto forrado a madeira mais escura.
Entramos pela loja, onde os vinhos da casa se mostram em expositores e armários de madeira, enquanto num ecrã passa em vídeo a história deste projecto. Duas grandes portas levam-nos ao salão, capaz de albergar eventos para até uma centena de pessoas e onde encontramos alguma maquinaria antiga e pedestais com as garrafas mais emblemáticas da casa. Por cima de quem entra, um cubo de madeira projecta-se sobre o espaço – é um escritório. Ao canto, um balcão; parte do chão fez-se aproveitando antigos esteios da vinha, em pedra.
Uma porta ao fundo leva-nos até à “sala das vaidades”, assim chamada por ter as paredes forradas a diplomas conquistados pelos néctares da Coelheira ao longo de décadas. É aqui que se fazem provas de vinhos, em mesas e cadeiras de madeira. Numa das paredes, duas imagens pintadas a vinho, por um artista local; ao canto um velho alambique. Abaixo deste nível fica a sala de barricas, do outro lado do complexo a adega, as vinhas (cerca de 55 hectares) a um quilómetro de distância.
Abrantes (apesar da sinuosidade da estrada; que, por outro lado, oferece magníficas vistas sobre o Tejo) fica a poucos minutos e há a promessa de uma nova ponte para aceder directamente do Tramagal à A23. O Casal da Coelheira recebe à volta de 1500/2000 visitas por ano, sem grandes grupos, que não são fáceis de gerir naquele espaço. Famílias, casais e grupos de amigos encontram aqui um espaço moderno e funcional integrado num complexo com toda a sedução dos velhos tempos. Quanto aos vinhos, ano após ano marcam presença segura entre os melhores da região.

CASAL DA COELHEIRA
Estrada Nacional 118, nº1331, Tramagal
Tel: 241 897 219 / 241 897 802
Mail: geral@casaldacoelheira.pt
Web: www.casaldacoelheira.pt
GPS: 39,26º 58,38N | 8,15º 04,20W
As visitas podem ser efectuadas entre as 9h e as 12 e entre as 14h e as 18h aos dias de semana. Sábados, das 9h às 12h. Mínimo duas pessoas, máximo 15. A visita com prova de três vinhos (branco, rosé, tinto) custa 10 euros por pessoa ou 20 euros por pessoa com prova de três vinhos topo de gama da casa à escolha dos visitantes. A loja funciona no mesmo horário, encerrando ao domingo.

Originalidade (máx. 2): 1,5
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 1,5

AVALIAÇÃO GLOBAL: 17

Se as instalações do Casal da Coelheira não renegam a sua ligação à terra (chamava-se mesmo Centro Agrícola do Tramagal), mais abaixo no rio entramos numa zona fortemente marcada pela presença aristocrática das grandes famílias que frequentavam a corte – a zona de Almeirim era Coutada Real desde 1424 (D. João I). Os exemplos de grandes propriedades que aliam latifúndio e belos palacetes são vários e extraordinários – Lagoalva de Cima, em Alpiarça; Casal Branco e Alorna, em Almeirim, por exemplo. Escolhemos, desta vez, a Alorna, tutelada historicamente pela figura notável da Marquesa de Alorna, poetisa e mulher de causas que viveu na transição do século XVIII para o século XIX, numa altura em que ao universo feminino estavam reservados tradicionalmente papéis de bem menor protagonismo.
De um lado da EN118, as instalações de trabalho; do outro os jardins e o palácio, com a (agora) anacrónica fachada principal virada de costas para a estrada – mas de frente para a Vala Real, via por onde chegavam, vindas do Tejo, as embarcações que transportavam a fidalguia lisboeta até à lezíria. Com o tempo, nos terrenos contíguos, para lá do arvoredo, cresceram a adega e edifícios de apoio, mas a silhueta esbelta do palacete continua a dominar a paisagem.
A loja fica junto à estrada, na outra “margem”, e no terreiro delimitado pelos edifícios agrícolas cresce uma espantosa planta, um arbusto que só as regras da botânica obrigam a que se chame assim, tal a sua dimensão. Chamam-lhe “bela-sombra”, nome científico phytolacca dioica, também conhecida pelos nomes comuns ombú ou umbú e originária das pampas da América do Sul. Uma bela imagem para nos enquadrarmos na dimensão da quinta: 2.500 hectares, 220 de vinha, produção projectada para 2019 de 2,4 milhões de garrafas.
Visitamos a adega, espreitamos a imponente sala de barricas, passeamos pela alameda ajardinada e admiramos o palacete que reina sobre a imensa lezíria (o interior do edifício está fora do roteiro turístico), as arribas de Santarém ao fundo, a silhueta da ponte Salgueiro Maia mais à esquerda. Junto aos jardins, uma vinha que junta as 27 castas existentes na propriedade, justamente apelidada Jardim das Castas.
Fechamos a visita na loja, para apreciarmos a elegância e funcionalidade das instalações e nos demorarmos no espaço que fica atrás, copos e garrafas sobre mesas que são pipas, conversa fluindo ao ritmo do vinho. Em 2018, não contando naturalmente com o enorme movimento exclusivo da loja, passaram pela quinta cerca de 2.000 enoturistas. Esperam-se mais em 2019. E não espanta: os vinhos são extraordinários, as histórias que vêm com eles também.

QUINTA DA ALORNA
Estrada Nacional 114, Almeirim
Tel: 243 570 706
Mail: geral@alorna.pt; carolina.gomes@alorna.pt
Web: www.alorna.pt
As visitas (centro equestre, adega, exterior do palácio, mas sem prova de vinhos) custam 5 euros por pessoa, 8 euros (prova de dois vinhos), 11 euros (três vinhos) ou 35 euros (seis vinhos, incluindo os Marquesa de Alorna). Ao domingo, segunda e terça o enoturismo funciona das 10h às 12h30 e das 14h às 18h. Quartas, quintas, sextas e sábados, o horário prolonga-se mais meia hora da parte da tarde. A loja está aberta todos os dias, no horário normal.

Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2

AVALIAÇÃO GLOBAL: 18

Depois de uma empresa familiar e de uma propriedade com história e “pedigree”, o retrato do actual Tejo fica bem composto com a nossa próxima paragem: a Adega Cooperativa do Cartaxo. Antes de mais, um louvor a quem pegou nos destinos desta instituição com quase sete décadas de actividade (foi fundada em 1954) e apostou na sua modernização. Não há-de ser fácil encontrar um nome mais susceptível ao estigma do que este: não lhe basta ser adega cooperativa e ser do Ribatejo, como ainda é do Cartaxo! E, no entanto…
Quando, há alguns anos, a crítica e o público acordaram para o bom trabalho que estava a ser feito por aqui, já a “má fama” dos vinhos ribatejanos levara fortes estocadas de produtores da região que apostavam na qualidade e ambicionavam a excelência. A este lote juntou-se, por direito próprio, a Adega Cooperativa do Cartaxo, que gere cerca de 600 hectares de vinhas, vinifica à volta de 11 milhões de quilos de uva por ano e faz entre cinco e seis milhões de garrafas, mais “bag-in-box”. E se houver dúvidas sobre o gigantismo da operação, basta espreitar as traseiras da adega e pasmar com a dimensão impressionante dos três depósitos em inox que ali se alinham: dois deles têm capacidade para 500 mil litros, o maior chega ao milhão!
Estes, e outros instalados numa ala exterior do edifício de quatro andares (dois abaixo do solo) que alberga a adega, armazéns, laboratório, sala de barricas e, enfim, toda a unidade produtiva, são a resposta para um bom problema: a Adega Cooperativa estava a operar no seu limite e em 2018 nem sequer pôde aceitar novos sócios. A aposta na qualidade e na consistência do trabalho (há 25 anos que Pedro Gil é responsável pela enologia) trouxe frutos e o futuro comercial anuncia-se de crescimento sustentado.
Perante o que atrás foi descrito, facilmente se percebe que a aposta no enoturismo não foi, durante muito tempo, prioritária. Mas as coisas estão a mudar. A inauguração da nova loja, de visual moderno e com sala de provas, logo à entrada das instalações, justificou-se pela elevada procura, mas abarcou igualmente o universo do turismo. Até porque, na última vindima, criaram-se pela primeira vez programas para visitantes e a adesão foi de tal modo entusiástica que ficaram bem claras todas as potencialidades desta actividade. Vai ser melhorado o percurso pela adega e dinamizada a oferta enoturística. Para já, quem for ao Cartaxo não dará o seu tempo por mal empregue. E, ainda melhor, poderá descobrir um lote de vinhos de enorme qualidade a preços bem interessantes.

ADEGA COOPERATIVA DO CARTAXO
EN 365-2, Cartaxo
Tel: 243 770 987
Mail: geral@adegacartaxo.pt
Web: www.adegacartaxo.pt
GPS: 39º 09’ 20.33’’N | 8º 48’ 33.18’’W
As visitas (adega, zona de vinificação, sala de barricas, cave) custam cinco euros por pessoa, convertidos em vale de desconto para a aquisição de produtos na loja. Solicita-se marcação antecipada com 72 horas de antecedência. Na altura das vindimas, estão disponíveis dois programas, um com visita à adega e prova de vinhos comentada (5 euros por pessoa), o outro (30 euros) juntando visita às vinhas com explicação das castas e almoço. Os preços indicados são os de 2018.

Originalidade (máx. 2): 1,5
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 1,5

AVALIAÇÃO GLOBAL: 16,5

ESTAÇÃO DE SERVIÇO
Numa região tão extensa e variada, é quase impróprio recomendar apenas três mesas onde o viajante poderá “reabastecer”. Mas, sem prejuízo para tantos outros locais onde a gastronomia – local, ou outras – está muito bem representada, aqui ficam três sugestões. E não deixe de pedir um vinho da região para acompanhar.
Restaurante Santa Isabel – Rua Santa Isabel, 12, Abrantes; 916 777 068, 967 893 970 (encerra aos domingos e feriados)
Taberna Ó Balcão – Rua Pedro de Santarém 73, Santarém; 243 055 883; www.tabernaobalcao.pt
Taberna do Gaio – Estrada N3 – Cruz do Campo, Cartaxo; 243 759 883; tabernadogaio@hotmail.com; GPS – 39º 07’46.38’’N / 8º 48’50.96’’W

Edição nº22, Fevereiro 2019

 

FALUA: Um empurrão francês contra o preconceito

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Quais são as probabilidades de um grande investidor estrangeiro – francês, ainda por cima – entrar para o negócio do vinho através da região do Tejo? Se pensarmos na desconfiança que alguns consumidores ainda mantêm sobre esta zona do país, muito poucas. Mas aconteceu na Falua. E são vários os argumentos que sustentam esta declaração anti-preconceito.

TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Palma Veiga

O Grupo Roullier nasceu na Bretanha em 1959 e transformou-se num gigante: em 2007, estava presente em 122 países, tinha 8000 funcionários e o seu volume de negócios atingiu os 2,5 mil milhões de euros, em áreas como a agropecuária, a agroalimentar ou produtos para a indústria. Mas só no ano passado se aventurou no mundo dos vinhos, com a aquisição da Falua, empresa portuguesa com 25 anos de história sob a batuta de João Portugal Ramos, agora acionista minoritário. Como se explica que uma grande corporação mundial escolha a região do Tejo para se estrear na produção vitivinícola? “Estamos onde queremos estar.”
Estão na região do Tejo, que não será das mais prestigiadas do país entre os apreciadores nacionais. Mas numa empresa que sempre se colocou na linha da frente ao combate a esse estigma. A Falua faz cerca de 5,5 milhões de garrafas por ano, facturou no ano passado 6,7 milhões de euros, exporta 54 por cento da sua produção e mantém um foco constante na investigação e parcerias com instituições universitárias. E aí reside também o seu poder de atracção para o Grupo Roullier, que aqui encontra um excelente campo de ensaios para os seus produtos.
Com 68 hectares de vinhas próprias e outros 250 sob gestão, em colaboração com os proprietários, a Falua tem um portefólio já respeitável, mas concentrado em apenas três marcas: Falua, Conde de Vimioso e a “moderna” Nazaré North Canyon. Esta, por enquanto apenas em versão tinto, visa um público mais jovem; a primeira jogava na conjugação de duas castas em vinhos acessíveis mas alarga-se agora ao nível Reserva; sob a chancela Conde Vimioso albergam-se os vinhos com maiores ambições.
E estes vinhos têm um terroir: a vinha do Convento da Serra, uma improvável extensão de calhau rolado no alto de uma suave colina, muito longe do Tejo (e agora com uma auto-estrada a cortá-la em duas parcelas). A verdade é que, em termos geológicos, esta elevação fez até recentemente parte do leito do rio Tejo – há pelo menos 300.000 anos que as pedras estão aqui e formam uma camada com vários metros de espessura, entrecortada por alguma areia.
Foi por aqui que começou a visita, antes de rumarmos à adega e nos sentarmos à mesa para conhecer melhor este produtor português, o grupo francês que assumiu a sua gestão e, principalmente, os vinhos que por ali se fazem, com enologia a cargo de Antonina Barbosa. O Tejo está de parabéns.

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Edição Nº20, Dezembro 2018

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Das 32 regiões mais conhecidas na China, uma é portuguesa

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A França, por sua vez, representa metade da lista, com Bordéus a encabeçar a pesquisa:[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”31973″ alignment=”center” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%” img_link=”https://infogram.com/les-32-origines-de-vins-les-plus-connues-en-chine-selon-le-sondage-wine-intelligence-1hnq41wrzmep63z”][/vc_column][/vc_row]