Adega do Cartaxo: um caminho de revoluções até ao sucesso

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]É curioso ver como evoluem algumas empresas produtoras de vinho ao longo das décadas. No caso das cooperativas, quem não tinha especiais valores acrescentados – caso de Monção, com o Alvarinho, e o Moscatel, com Favaios, por exemplo – só sobreviveu quem soube adaptar-se à evolução do mercado. Foi exactamente o que aconteceu com a Adega do Cartaxo, a fazer quase 66 anos de idade.

TEXTO António Falcão
NOTAS DE PROVA Luís Lopes e Nuno de Oliveira Garcia
FOTOS Ricardo Gomez

Cartaxo é um caso à parte dentro da região Tejo. Desde logo pelo seu antiquíssimo histórico vitícola, havendo vestígios que remontam ao século X. E depois pela concentração da vinha e do vinho. Só para se fazer uma ideia, há muitas décadas atrás, uma aldeia do concelho tinha mais de 200 adegas!
A sua adega cooperativa é também um caso extraordinário, e não só na região. Foi fundada em 1954 por 22 associados, mas, desde essa data até à actualidade, muita coisa foi acontecendo, a maioria de cariz positivo. O que mais nos interessa tem a ver com a evolução dos vinhos. E aqui, muito há para dizer, e escrever. A história conta-se depressa. Há 30, 40, 50 anos corria pelo povo vinícola um mito de que o vinho do Cartaxo era “carrascão”. O adjectivo poderia ser entendido de forma negativa, como designando um vinho difícil de beber, verdasco, de taninos amargos. Mas também havia quem considerasse carrascão um sinónimo de vinho concentrado, vivo, de taninos vigorosos, mas puros. Será mais esta a tradição nesta sub-região da região Tejo e tem razão de ser. Antes dos anos 70 do século passado, mais ou menos, a maioria do vinho produzido no Cartaxo ia de barco, Tejo abaixo, até Lisboa. Depois, ou era enviado para outros destinos, como as antigas colónias, ou era consumido na capital, nas tabernas e tascas, que abundavam. Ora, reza a história que “o vinho do Cartaxo era vendido um pouco mais caro que os outros, porque era considerado de melhor qualidade”. Quem conta esta história é Fausto Silva, director executivo da Adega do Cartaxo, gestor de formação e funcionário da empresa desde 1994. Depois, começaram os problemas. Por volta dos anos 70, operadores pouco escrupulosos traziam vinhos de outros lados para fazer lotes que diziam ser apenas do Cartaxo. E depois, ocorreu uma mudança nefasta na viticultura da região, provavelmente para ‘navegar a onda’ de sucesso das décadas atrás: muitos viticultores iniciaram a plantação de castas híbridas, com enorme potencial produtivo, boa cor e corpo, mas que davam vinhos de fraca qualidade. Fausto calcula que foi a partir daqui que começou a fase negativa do termo ‘carrascão’.

O sucesso da Adega do Cartaxo começa na vinha e é um trabalho de equipa: Pedro Gil (enologia), Jorge Antunes (presidente), José Barroso (direcção) e Fausto Silva (Director Executivo).

Começa o declínio

Nos anos 80, a adega vê-se confrontada com um cenário onde o granel cada vez valia menos porque os paradigmas de consumo estavam em mudança; nos grandes centros bebia-se cada vez menos, mas bebia-se melhor. É nessa altura que começam a desaparecer tascas e tabernas um pouco por todo o lado. E desapareceu também, em 1994, o maior cliente da adega, responsável por assimilar mais de 50% das vendas de todo o vinho engarrafado.
“A Adega do Cartaxo vivia na altura muito virada para si própria”, diz-nos Fausto. Finais dos anos 80 até meados dos anos 90, a casa só fazia reservas de vez em quando. E não tinha frio para as fermentações, nem muita da tecnologia que já existia no domínio da recepção, fermentação, estágio e engarrafamento. E a enologia era feita em part time (o enólogo dava suporte a outra adega da região). A falta de tecnologia implicava um quadro de pessoal exagerado para a capacidade/necessidade da empresa, prejudicando a sua rentabilidade e, por consequência, a sua capacidade de investimento.
Ao mesmo tempo, a região que na altura se chamava Ribatejo mostrava dificuldades em se organizar. De tal maneira que vários produtores do Cartaxo decidem criar a sua própria Comissão Vitivinícola, no início dos anos 90. A CVR (Riba)Tejo só seria criada alguns anos mais tarde (1998), acabando por absorver a operação Cartaxo. Contudo, durante anos faltou uma organização forte, que desse orientações aos produtores e promovesse os vinhos da região. Tempo perdido…
Era por isso urgente mudar de rumo e evitar um caminho que iria certamente levar a empresa à ruína, mais tarde ou mais cedo. Foi, aliás, o que aconteceu com muitas cooperativas, que não reagiram a tempo e desapareceram. De tal maneira que hoje, estarão apenas 2 ou 3 em funcionamento (em sistema cooperativo). Eram muitas mais na região…

A revolução no campo

O maior problema, porventura, residia nas vinhas. O caminho para a modernização passava necessariamente pela viticultura e o primeiro passo era substituir os híbridos ultra-produtivos. Esta mudança implica o arranque da vinha existente e a plantação de nova; ou seja, investimentos pesados para os viticultores associados. Assim sendo, como se consegue esta mudança quase radical? Por um lado, os subsídios estatais ao arranque de vinha vieram dar uma ajuda. Mas, por outro, entra o papel de uma direcção forte e esclarecida. A resolução passou por um forte e claro sistema de incentivos às uvas de melhor qualidade. Ou seja, apelar à carteira dos associados. À carteira e ao coração: como nos disse um dos maiores associados da adega e actual membro da direcção, “eu, se tivesse castas híbridas, até podia continuar e ganhar dinheiro. As elevadíssimas produções assim o permitem”. José Barroso acrescenta: “Mas não queria. Não era esse o caminho certo para o futuro”. Ou seja, houve aqui também uma componente de social que não pode ser descurada.
De uma forma ou outra, a mensagem passou e a revolução silenciosa começou. Num espaço de tempo de pouco mais de uma década, a região do Cartaxo mudou substancialmente de encepamento. Onde antes existia Boal Alicante ou Carignan passou a existir Fernão Pires, Arinto, Touriga Nacional, Alicante Bouschet e por aí fora. As produções baixaram em média, é verdade, mas Fausto Silva não tem hesitações e diz que “a qualidade das uvas subiu exponencialmente”. Pedro Gil, o enólogo da casa, vai mais longe: “temos as uvas mais equilibradas de Portugal”. Cortesia de um clima não tão quente nem tão atlântico como em outras regiões.

A revolução na adega

Pedro Gil entra em 1995 e vai dar assistência ao enólogo Azóia Bento e, depois, a Pita Grós. Mais tarde acaba por assumir toda a produção. A adega, preparada para fazer volume e granel, tem de levar obras para se adaptar à nova filosofia de qualidade. Em 1998 é feito um projecto, mas só arranca em 2004. Entram finalmente novas cubas, equipamentos e a enologia funciona a tempo inteiro com orientação para o mercado. São construídas novas alas. Os enormes depósitos de cimento foram revestidos a epoxy e a maior parte dos postigos de madeira foram substituídos por versões de inox. São excelentes para estagiar vinhos. Tudo está agora climatizado. E aumenta brutalmente o investimento em barricas. Todos os melhores vinhos da casa passam por aqui, até ao Terras do Cartaxo. É quase tudo carvalho francês à excepção dos Bridão Private Collection, que só usam carvalho nacional. No total estão aqui cerca de 1.100 barricas!
A partir de agora é muito mais fácil melhorar a qualidade média dos vinhos e, ao mesmo tempo, aumentar a consistência. Dois anos mais tarde, em 2006, a Adega do Cartaxo tinha consolidado a mudança na viticultura e enologia. A estratégia comercial e de exportação, assim como maiores cuidados com a imagem e marketing foram também alvo dos esforços da direcção. Aumentou o número de referências (incluindo varietais) e a exportação arrancou em força. Hoje ocupa cerca de 25% do volume produzido. “Só não temos mais exportação porque a nossa quota de mercado nacional também tem crescido”, declara Fausto. E explica: “havia muito ainda a fazer aqui”. Fausto sabe bem do que fala porque correu (e corre) Portugal e o mundo a promover e vender os vinhos da casa.
O preço médio do vinho, entretanto, também foi crescendo, mas lentamente: não só por precaução, mas também porque, diz Fausto, “queremos dar uma imagem de confiança e consistência ao mercado”.
Desde essa altura os investimentos nunca mais pararam. Jorge Antunes, presidente da Adega do Cartaxo, diz-nos, com orgulho: “nos últimos anos, já investimos 12 milhões de euros”.
Uma parte foi para a mudança cosmética no exterior da adega e para o novo edifício que alberga a área administrativa, moderno e funcional, que inclui uma loja de belíssimo recorte.

Rumo a novos patamares

A ambição da direcção não fica por aqui. Há muito ainda para fazer e melhorar. O grosso da produção vai ainda para vinhos de baixo preço, o Encostas do Bairro (um regional Tejo a cerca de 2,25 euros a garrafa). Seria bom conseguir desviar cada vez mais o volume para a gama Bridão (a começar nos €3,30). Para isso, o Cartaxo terá de melhorar na viticultura e privilegiar ainda mais a qualidade.
Foi assim que nasceu uma das mais radicais iniciativas desta direcção: a criação de um sistema de incentivos aos associados. O objectivo é o de receber uvas cada vez melhores, avaliadas através de uma série de parâmetros conhecidos. A maior parte tem a ver com a parcela de onde vêm as uvas, um pouco à imagem do sistema de benefício do Douro. Aqui falamos dos três grandes tipos de solos do Tejo: os de areia (Charneca) e os argilo-calcáreos (Bairro), que são solos de menor fertilidade; e depois os solos de aluvião, o chamado Campo, extremamente fértil, ao lado do Tejo. Ora, são atribuídas diferentes majorações consoante não só o sítio onde estão as parcelas, mas também elementos como produtividade, pedregosidade, exposição solar e casta. E, na altura da vindima, a sanidade das uvas, claro. Pedro Gil usa um sistema de pontuação e, por exemplo, para o topo de gama da casa, o Desalmado, só entram uvas com 900 pontos: estas uvas podem valer 60 ou mais por cento que umas ‘normais’. O sistema, apoiado num cadastro informatizado, ainda não está totalmente implementado, mas o histórico das parcelas já existe. Este é, sem dúvida, um sofisticado e completo sistema de valorização das uvas.
Melhor ainda, estes novos passos podem ser afinados em qualquer altura, em resposta, por exemplo, a estratégias da empresa. Em assembleia geral, tudo isto foi explicado aos sócios. Pedro Gil registou com agrado que a ideia foi muito bem aceite. O panorama da viticultura não fica finalizado sem dizermos que a adega trabalha com a associação de viticultores local (VitiCartaxo) mas está prevista a contratação de um técnico a tempo inteiro. Para além da assistência aos associados, este técnico ajudará a fazer a recolha de dados para um histórico de viticultura das vinhas, com máquinas e ferramentas sofisticadas, ainda em projecto de investimento. O técnico vai dar ainda uma ajuda preciosa num factor fulcral: a data de vindima para cada parcela. Pedro Gil explica: “passamos a escolher a data consoante o perfil de vinho que pretendemos fazer com aquelas uvas”. Na verdade, já o fazem parcialmente para os vinhos de topo, quase sempre oriundos das mesmas parcelas, controladas pela adega.

Criar cada vez maior valor

Em década e meia, a Adega do Cartaxo completou uma pequena revolução. Isto não passou despercebido à agricultura local. Existem muitos viticultores interessados em entrar para a empresa. No entanto, o presidente Jorge Antunes é claro neste aspecto: “damos prioridade aos associados já existentes e alguns estão a aumentar área, com nossa autorização. Não estamos, portanto, a aceitar sócios novos”. No fundo, aumentar a capacidade de uva implicaria investimentos substanciais em vários departamentos, em especial no armazenamento de produto acabado. Com cerca de 400.000 garrafas em estágio, já se luta com falta de espaço…
Para o futuro, Jorge Antunes acha que a adega não quer crescer em volume, quer antes manter o tamanho, mas manter-se estável e, se possível, crescer em facturação. Isto é, ser ainda mais rentável, criar notoriedade, entrar no coração e mente dos enófilos. Isto passará também por promover esta sub-região, de que a adega é o principal operador. Fausto Silva não hesita em considerar que “o Cartaxo tem todas as condições para atingir a excelência”. Mas, aconteça o que acontecer na próxima década ou duas, esta equipa está orgulhosa do que conseguiu até agora. “Sabíamos que tínhamos potencial e nunca virámos as costas aos desafios”, diz Fausto. E acrescenta: “levou vários anos, mas o mercado olha hoje para a adega (e região) com outros olhos”. Considerando o que vimos, ouvimos e provámos, a história dar-lhe-á certamente razão.

A ADEGA DO CARTAXO EM NÚMEROS

A casa ribatejana produz hoje cerca de 10 milhões de litros, mas tem espaço para armazenar 18 milhões (com a ajuda de alguns balões no exterior). Pedro Gil tira partido disto para fazer os lotes: “à excepção do Encostas do Bairro tinto (lote com 5 milhões de litros), todos os nossos vinhos têm um só lote”. Ou seja, mantêm a consistência ao longo do tempo.
Três quartos da produção vem de uvas tintas. Esta casa é a maior cliente da CVR Tejo, o produtor que mais compra selos de certificação.
Actualmente, os 205 associados activos da adega exploram uma área de vinha a rondar os 760 hectares. Isto dá cerca de 3,7 hectares por sócio. Nada mau… Neste momento trabalham aqui um pouco mais de 40 pessoas e no ano passado, a Adega do Cartaxo facturou cerca de 10 milhões de euros.

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Edição nº 35, Março de 2020

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