Leya edita livro sobre gastronomia e vinhos das aldeias históricas de Portugal

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Há, no mercado, um novo livro sobre as tradições gastronómicas e as receitas das 12 aldeias históricas de Portugal, onde são divulgados quais os vinhos que melhor se harmonizam com estes pratos. A obra “Receitas que Contam Histórias – Carta Gastronómica e Vinhos das Aldeias Históricas de Portugal”, editada pela Leya, foi lançada recentemente na […]

Há, no mercado, um novo livro sobre as tradições gastronómicas e as receitas das 12 aldeias históricas de Portugal, onde são divulgados quais os vinhos que melhor se harmonizam com estes pratos.

A obra “Receitas que Contam Histórias – Carta Gastronómica e Vinhos das Aldeias Históricas de Portugal”, editada pela Leya, foi lançada recentemente na Livraria Buchholz, em Lisboa, com apresentação do chef João Rodrigues e de Olga Cavaleiro, que foi a responsável pelo trabalho de investigação realizado e pela escrita do livro. Tem 420 páginas e o seu conteúdo tem, como base, uma pesquisa que decorreu durante três meses junto dos residentes de 12 Aldeias Históricas de Portugal, realizada para recolher informações sobre os produtos, práticas culinárias e tradições que deram origem às receitas únicas do legado gastronómico das Aldeias Históricas de Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso.

Depois de identificadas as receitas, foram desenvolvidas, com o apoio da Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra e da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior, sessões formativas para os agentes do sector da hotelaria e restauração do território das Aldeias Históricas de Portugal sobre a forma de as harmonizar com os vinhos da região. O processo levou à selecção de 13 restaurantes capacitados para produzir os menus Receitas que Contam Histórias com a Chancela Aldeias Históricas de Portugal.

Imprensa premiou os melhores vinhos no evento Beira Interior Vinhos & Sabores

Beira Interior Escolha Imprensa

A feira Beira Interior Vinhos & Sabores 2023 — uma iniciativa do Município de Pinhel e da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior — teve lugar, como habitualmente, no Centro Logístico de Pinhel, de 17 a 19 de Novembro. Além do salão com 50 expositores, que deram a provar os seus vinhos e outros produtos, […]

A feira Beira Interior Vinhos & Sabores 2023 — uma iniciativa do Município de Pinhel e da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior — teve lugar, como habitualmente, no Centro Logístico de Pinhel, de 17 a 19 de Novembro.

Além do salão com 50 expositores, que deram a provar os seus vinhos e outros produtos, foram várias as actividades paralelas que compuseram o evento, desde provas de vinho comentadas por especialistas a showcooking com chefs de cozinha, passando por um seminário sobre comercialização de vinhos da Beira Interior e pelo Concurso de Vinhos Escolha da Imprensa, que teve apoio à produção da Grandes Escolhas.

Beira Interior Escolha Imprensa

Na edição deste ano do concurso, com um júri composto por jornalistas, críticos de vinho e outros “wine writers”, foram atribuídos dois Grandes Prémios Escolha da Imprensa, ao branco Quinta do Cardo Vinha do Lomedo Biológico Síria 2021, da Agrocardo, e ao tinto Pinhel 75ª Vindima Reserva Especial 2018, da Adega Cooperativa de Pinhel. Foram, ainda, entregues 19 Prémios Escolha da Imprensa, a oito brancos, dez tintos e um rosé. Veja a lista completa dos vencedores, em baixo.

BRANCOS

Grande Prémio Escolha da Imprensa
Quinta do Cardo Vinha do Lomedo Biológico Síria 2021 – Agrocardo

Prémio Escolha da Imprensa
Aforista Reserva 2021 – Agrodaze, Vinhos e Agropecuária
Alvinho Colheita Selecionada 2021 – Lúcia e Américo Ferraz
Bal da Madre Biológico 2022 – Miss Vitis Wines
Ethos Natureza da Serra  2021 – Aromas do Mondego Quintas de S. Lourenço
Quinta da Ribeira da Pega Síria 2021 – Casa Agricola Metello Nápoles
Marquês D’Almeida Grande Reserva 2021 – CARM
Quinta da Caldeirinha Biológico Síria e Chardonnay 2022 – Quinta da Caldeirinha
Quinta dos Currais Colheita Selecionada Fonte Cal e Arinto 2021 – Quinta dos Currais

TINTOS

Grande Prémio Escolha da Imprensa
Pinhel 75ª Vindima Reserva Especial 2018 – Adega Cooperativa de Pinhel

Prémio Escolha da Imprensa
Beyra Grande Reserva 2021 – Rui Roboredo Madeira, Vinhos
Casas Altas Rufete 2020 – José Madeira Afonso
D. Manuel I  Reserva do Enólogo 2017 – Adega Cooperativa de Pinhel
Duplo Sentido Parcelas da Estação Touriga Nacional e Tinta Barroca 2018 – Vinumnostrum
Entrevinhas Grande Reserva 2017 – Sociedade Agro Pecuária Baraças Irmãos Unidos
Monte Barbo Reserva 2016 – Monte Barbo
Óptima Pergunta Private Selection 2017 – Cooperativa Agrícola Beira Serra
Quinta da Biaia Biológico Reserva 2018 – QDB – Quintadabiaia
Quinta dos Termos Reserva Vinha das Colmeias Alfrocheiro 2020 – Quinta dos Termos
Sapientia Grande Reserva 2021 – Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo

ROSÉS

Prémio Escolha da Imprensa
Avelanez Seleção Touriga Nacional 2021 – João Carlos Matias Ferreira

Titan of Douro vai ter vinho do Porto e ganha nova distribuição a norte

Titan of Douro

Luís Leocádio, produtor e enólogo dos vinhos Titan of Douro, acaba de anunciar que irá ampliar, muito em breve, o seu portefólio com uma linha de vinho do Porto e uma nova marca para a região da Beira Interior. “Estas novidades são fundamentais para impulsionar a oferta de produto para um nicho de mercado específico, […]

Luís Leocádio, produtor e enólogo dos vinhos Titan of Douro, acaba de anunciar que irá ampliar, muito em breve, o seu portefólio com uma linha de vinho do Porto e uma nova marca para a região da Beira Interior.

“Estas novidades são fundamentais para impulsionar a oferta de produto para um nicho de mercado específico, que revê na marca factores de diferenciação, tais como elegância, frescura e sofisticação”, refere o Luís Leocádio.

A acompanhar este anúncio, o produtor revelou, ainda, que a empresa M. Cunha Vinhos passou a distribuir os vinhos Titan of Douro, deste o primeiro dia de Agosto, no norte e centro de Portugal, em regime de exclusividade.

Titan of Douro
Titan of Douro é um nome inspirado no fiel amigo da família, um Dogo Argentino.

“A parceria com a M. Cunha Vinhos permite-nos encarar com grande optimismo o futuro da marca Titan junto do mercado tradicional. Para uma empresa como a nossa, onde o lado humano e de proximidade revela grande importância, a identificação com o ambiente corporativo, independente do grau hierárquico na M. Cunha vinhos, a sua estrutura altamente profissionalizada e o know-how de desenvolver marca junto de um mercado cada vez mais exigente no serviço prestado, gerou de imediato uma grande empatia, acreditando que assim será possível ter uma melhor colaboração, alinhamento de metas e produtividade”, explica Luís Leocádio.

Aforista Reserva Branco 2021 eleito Melhor Vinho da Beira Interior

Concurso Vinhos Beira Interior

A entrega de prémios do 16º Concurso de Vinhos da Beira Interior realizou-se no passado sábado, em Marialva, onde o vinho Aforista Reserva branco 2021 recebeu o prémio de “Melhor Vinho” da região. Além deste galardão, o júri do concurso, que aconteceu nos dias 19 e 20 de Junho, na Guarda, atribuiu várias distinções, incluindo […]

A entrega de prémios do 16º Concurso de Vinhos da Beira Interior realizou-se no passado sábado, em Marialva, onde o vinho Aforista Reserva branco 2021 recebeu o prémio de “Melhor Vinho” da região. Além deste galardão, o júri do concurso, que aconteceu nos dias 19 e 20 de Junho, na Guarda, atribuiu várias distinções, incluindo os prémios “Melhor Vinho no Feminino”, “Melhor Imagem” e “Melhor Imagem no Feminino”. Ao todo, 92 vinhos, de 34 produtores da região, estiveram a concurso, resultando em 17 medalhas de Ouro e 11 medalhas de Prata.

O presidente da CVR (Comissão Vitivinícola Regional) da Beira Interior, Rodolfo Queirós, destacou a importância deste tipo de eventos para a promoção da Rota dos Vinhos da Beira Interior, salientando que a escolha da aldeia histórica de Marialva contribui para a valorização de todo o território. Já o presidente do Município de Mêda, João Mourato, expressou satisfação pelo facto da gala de entrega de prémios ter ocorrido pela primeira vez no seu concelho, realçando a produtiva parceria entre a CVR da Beira Interior e o Município de Mêda.

A cerimónia foi presidida pela Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, com raízes no concelho de Mêda, que sublinhou a importância do sector vitivinícola na coesão territorial, na atracção de investimentos e na fixação de pessoas. A Ministra enalteceu, ainda, o papel desempenhado pela CVR da Beira Interior como elo de ligação entre os 20 concelhos que compõem a região.

16º Concurso de Vinhos da Beira Interior

MEDALHAS DE OURO

Adega 23 IG Terras da Beira branco 2020
Aforista DOC Beira Interior Reserva branco 2021
Beyra DOC Beira Interior Grande Reserva tinto 2021
Marquês D’Almeida DOC Beira Interior Reserva tinto 2018
Quinta Vale do Ruivo DOC Beira Interior branco 2020
Torre de Pinhel – 75º Vindima DOC Beira Interior Reserva Especial tinto 2018
Alvinho DOC Beira Interior Colheita Selecionada branco 2021
Aforista DOC Beira Interior branco 2021
Convento de Marialva DOC Beira Interior Reserva tinto 2021
Quinta do Cardo DOC Beira Interior Grande Reserva Biológico Síria branco 2021
Souvall DOC Beira Interior Reserva branco 2022
Beyra DOC Beira Interior Vinhas Velhas branco 2022
Pombo Bravo DOC Beira Interior Reserva Touriga Nacional e Tinta Roriz rosado 2021
1808 Portugal – Field Blend DOC Beira Interior Biológico tinto 2018
Torre de Pinhel IG Terras da Beira tinto 2020
Quinta dos Currais DOC Beira Interior Colheita Selecionada branco 2021
Beyra DOC Beira Interior Reserva Tinta Roriz e Jaen tinto 2021

MEDALHAS DE PRATA

Quinta da Arrancada DOC Beira Interior Reserva Branco 2022
Quinta dos Currais DOC Beira Interior Reserva tinto 2019
doispontocinco DOC Beira Interior tinto 2018
Folhas Caídas DOC Beira Interior Chardonnay Branco 2022
Quinta das Senhoras – Dona Maria de Deus DOC Beira Interior Grande Reserva tinto 2019
Portas D’El Rei DOC Beira Interior Colheita Selecionada tinto 2020
Quinta da Arrancada DOC Beira Interior Grande Reserva tinto 2020
Quinta dos Termos DOC Beira Interior Reserva Talhão da Serra tinto 2020
Quinta dos Currais DOC Beira Interior Síria Branco 2021
Entrevinhas DOC Beira Interior Touriga Nacional tinto 2021
Quinta da Arrancada – Açor DOC Beira Interior Reserva tinto 2020

Quinta dos Termos: “O vinho e o campo sempre me aqueceram o coração”

Quinta dos Termos Beira Interior

João Carvalho nasceu na Quinta dos Termos, em Belmonte, e aí cresceu. Mas foi bem antes disso, quando da divisão administrativa do país, que a propriedade recebeu este nome, por se encontrar precisamente na divisão entre (nos termos de) dois distritos — Guarda e Castelo Branco — dois concelhos e três freguesias. Todo o vale […]

João Carvalho nasceu na Quinta dos Termos, em Belmonte, e aí cresceu. Mas foi bem antes disso, quando da divisão administrativa do país, que a propriedade recebeu este nome, por se encontrar precisamente na divisão entre (nos termos de) dois distritos — Guarda e Castelo Branco — dois concelhos e três freguesias. Todo o vale onde está inserida a quinta, com cerca de 200 hectares, pertenceu sempre à família de João Carvalho. No entanto, em 1910, a Quinta dos Termos foi vendida a um espanhol, tendo regressado ao seio familiar apenas em 1945, quando Alexandre Carvalho, pai de João, a comprou, mudando-se para lá.

Na década de cinquenta, Alexandre Carvalho reestruturou grande parte da área vitícola, preservando algumas parcelas de vinhas velhas. Na altura, toda a produção era vinificada e vendida nas tabernas da região. “Quem nasce e vive numa quinta, começa a trabalhar quase desde o nascimento”, confessa-nos João Carvalho. “Por isso, quando fui para a universidade, disse, ingenuamente, ‘adeus quinta, nunca mais cá me apanhas’.”. Engenharia Têxtil foi o curso que escolheu, e começou a trabalhar ainda durante o mesmo. Quando terminou, iniciou a carreira como director técnico e director geral de algumas empresas têxteis. Entretanto, com o falecimento do seu pai, foi feita a partilha familiar, e o empresário acabou por ficar com a Quinta dos Termos. “Lá tive de dizer, em 1993, ‘bom dia quinta, cá estou eu outra vez!’, brinca João Carvalho. “Mas na verdade, o vinho e o campo sempre me aqueceram o coração…”. Coincidentemente, fundou a sua actual empresa têxtil, a Fitecom, no mesmo ano. “Passei a ter três trabalhos: o agrícola, o industrial, e o de docente no ensino superior, na área do Design Têxtil”, revela.

Quinta dos Termos Beira Interior

O início do projecto de vinhos

Quando João Carvalho pegou na quinta, as vinhas estavam em muito mau estado. Recuperou logo cerca de 6 hectares, dos 16 que já havia e que tinham sido plantados em 1931. O resto reconverteu totalmente a partir de 1996. Acompanhado pela sua esposa, Lurdes Carvalho, estudou e recuperou muitas das castas históricas da Beira Interior, naturalmente adaptadas aos solos graníticos pobres e ao clima agreste da região. Desde o início do projecto esteve, também, o enólogo Virgílio Loureiro, ainda hoje consultor técnico da Quinta dos Termos, orientador da enóloga residente Ángela Marín. Assim, a primeira casta que seleccionaram para recuperação, identificada nas vinhas velhas, foi a branca Fonte Cal. João Carvalho lembra: “Andávamos a provar as uvas das vinhas velhas, e havia uma casta muito diferente, com uma particularidade tostada… era a Fonte Cal”. Desta forma, foi plantada separadamente em 1997, tendo sido vinificada como monovarietal pela primeira vez em 2003. Era o início da definição do conceito da casa, declarado pelo produtor como “produção sustentável, com foco nas castas tradicionais”.

Nos anos seguintes, a Quinta dos Termos entregou as suas uvas à Cooperativa da Covilhã, mas em 2000 a equipa decidiu começar a fazer vinho com marca própria. O primeiro que lançou foi de 2001, um Quinta dos Termos Reserva tinto que, como se “saiu muito bem nas publicações da especialidade, na altura”, conta o produtor, foi o primeiro indicador (engarrafado) do potencial do projecto. “A partir de 2003, foi uma bola de neve, arrancámos em velocidade de cruzeiro. Fomos comprando direitos de plantação, e atingimos os mais de 60 hectares de vinha que a quinta tem. Decidir o que plantar foi, no entanto, um desafio…”.

Em solos graníticos, a uma altitude de cerca de 500 metros, a Quinta dos Termos alberga hoje as castas tintas Touriga Nacional, Trincadeira, Rufete, Jaen, Tinta Roriz, Marufo, Tinto Cão, Alfrocheiro, Baga, Syrah, Petit Verdot e Sangiovese; e as brancas Fonte Cal, Síria, Arinto, Verdelho e Riesling. “Regamos por aspersão, quando está mais calor, porque o clima aqui é muito seco e para homogeneizar a rega, numa tentativa de não desvirtuar o terroir”, explica João Carvalho. A adega — de momento a sofrer intervenções, sobretudo de expansão — tem certificação de Produção Integrada, e combina a modernização tecnológica com técnicas tradicionais de vinificação. As uvas utilizadas são, na maior parte, de produção própria, com recurso adicional a parcerias estreitas com pequenos viticultores. Na Quinta dos Termos, e nas outras propriedades da empresa, a vindima é manual e feita casta a casta (com excepção das vinhas velhas). A vinificação é também ela individual, “recorrendo a uma forma de enologia pouco interventiva, para que que se exprima o sentido de lugar e o carácter varietal”, indica o produtor.

A expansão

Em 2012 e 2013, com direitos de plantação que ainda não tinha utilizado, a família foi à procura de outra propriedade na Beira Interior, acabando por adquirir os 150 hectares da Herdade do Lousial, na Lousa, em 2015, após estudar a zona ao nível do solo e clima, e dessa propriedade se mostrar ideal. Aqui estão, agora, 32 hectares de vinha em produção, plantados em 2016 e 2017, após terem sido arrancados os que já lá estavam — com planos para plantação de mais 20 — em solos graníticos, com pouca matéria orgânica, e arenosos, mais profundos do que os de Belmonte, embora semelhantes. Nesta herdade existe, também, aquela que é, segundo João Carvalho, a primeira vinha de clones seleccionados de Fonte Cal. São mais de vinte, vindos da Quinta dos Termos, do campo de recuperação da casta que tem 212 clones. Hoje, este modelo já foi replicado na casa, e adaptado para a tinta Rufete e a branca Callum. Será a vindima de 2023 a originar o Fonte Cal de estreia da Herdade do Lousial, cuja marca com o mesmo nome já existe, a par dos entrada de gama Alto da Lousa. Adicionalmente, crescem neste lugar entre Lardosa e Penamacor, na transição das montanhas para a planície, tintas Touriga Nacional, Tinta Roriz, Syrah, Sangiovese e Nebbiolo; e as brancas Síria, Arinto, Riesling, entre outras. Os primeiros vinhos, por sua vez, foram da colheita de 2019.

Quinta dos Termos Beira Interior
Mas a vontade de expansão não se ficou pela região original, sobretudo depois da entrada de Pedro Carvalho na empresa, filho mais novo de João e Lurdes. Pedro decidiu, em 2016, abandonar a carreira que tinha e mergulhar no negócio de vinho da família. “Licenciei-me em Economia, com mestrado em Gestão, e apesar do negócio principal da família ser o têxtil, eu sempre naveguei mais para os vinhos. Quando vivia em Lisboa ia, inclusive, servir vinhos nos cursos dados pelo Prof. Virgílio Loureiro, e assistir a apresentações de outros produtores… gostava realmente deste mundo e de tudo o que ele envolvia, que a meu ver são três áreas diferentes: ciência, história e, de certa forma, arte”, confessa Pedro, que acabou por concluir a pós-graduação em Wine Business, e receber, pela sua prestação, um prémio da ViniPortugal. “Acabada a pós-graduação, quis ir trabalhar para os Termos, mas o meu pai queria que eu fosse para outra empresa antes disso, durante pelo menos 3 anos, e eu fui. Trabalhei na área de gestão e finanças em Lisboa, mas passado 36 meses despedi-me e vim para a quinta”, conta o jovem. João Carvalho não esconde o seu ponto de vista: “Fiz tudo o que estava ao meu alcance para ele não vir. Ambos os meus filhos, o Pedro e o Miguel, trabalham hoje comigo, mas apenas por vontade deles. Tiveram de me convencer. Sinceramente, nunca acreditei em empresas familiares. Tanto no têxtil como no vinho, sempre achei que ia criar uma administração extra-familiar. Acabei por ter de ceder!”. Pedro Carvalho, agora responsável de Marketing e Estratégia da Quinta dos Termos, agitou as águas na empresa. “Uma das minhas prioridades foi trazer boas rotinas e mais organização, o que levou até a algumas saídas de pessoal. Diziam que não estavam para aquilo. A equipa acabou por rejuvenescer, com profissionais qualificados. Criei, no início, um plano de integração: quem entrava na empresa, tinha um calendário para passar por todas as áreas, pelo menos uma hora em cada sector, para ganhar sensibilidade geral do negócio. E só as novas rotinas trouxeram excelentes resultados comerciais. Facilitaram, também, o trabalho das pessoas, mantendo a quantidade de horas laborais. Passámos a apostar na formação externa, além da interna que já existia, e impulsionámos a componente do enoturismo”, avança. E acabou por convencer o pai noutras coisas, como a investir no Douro Superior em 2019, concretamente nos 32 hectares da Quinta do Pocinho. Esta propriedade, na aldeia homónima, já tinha vinha, mas a família plantou mais, chegando a 22 hectares de vinhedos — em patamares e ao alto, entre os 200 e os 350 metros de altitude — com predominância das variedades tintas Touriga Francesa, Touriga Nacional, Tinto Cão e Tinta Roriz; e das brancas Rabigato e Viosinho; havendo ainda algumas vinhas velhas com mistura de dezenas de outras castas. Na senda de um projecto de enoturismo ambicioso, a equipa está aqui a construir um edifício multifacetado e luxuoso, com arquitectura de autor, junto à adega original. O ex-libris será uma sala de provas e eventos com uma generosa varanda e vista privilegiada para o rio. João Carvalho descortina: “Acreditamos que, dentro de dois ou três anos, o que estamos a construir na Quinta do Pocinho será capaz de seduzir os corações mais gélidos…”.

(Artigo publicado na edição de Março de 2023)

Rodolfo Queirós reeleito Presidente da CVR Beira Interior

Rodolfo Queirós Beira Interior

Depois da eleição dos seus órgãos sociais, na passada terça-feira 10 de Janeiro de 2023, a Comissão Vitivinícola da Regional da Beira Interior volta a ter Rodolfo Queirós, em segundo mandato, como Presidente. Agostinho Monteiro e Luís Costa acompanham-no na Direcção. O Presidente do Conselho Geral, José Madeira Afonso, foi também reeleito para um segundo […]

Depois da eleição dos seus órgãos sociais, na passada terça-feira 10 de Janeiro de 2023, a Comissão Vitivinícola da Regional da Beira Interior volta a ter Rodolfo Queirós, em segundo mandato, como Presidente. Agostinho Monteiro e Luís Costa acompanham-no na Direcção. O Presidente do Conselho Geral, José Madeira Afonso, foi também reeleito para um segundo mandato.

“Os principais objectivos desta Direcção, recém-eleita, são os de manter o crescimento das vendas da região, quer no mercado nacional, quer no mercado externo; aumentar a notoriedade dos vinhos da Beira Interior e potenciar o crescimento do enoturismo da região”, refere a CVRBI em comunicado.

Natural de Marco de Canaveses, Rodolfo Queirós tem-se dedicado, nos últimos anos, à Beira Interior como se de sua filha se tratasse. É licenciado em Engenharia Agrícola pela Escola Superior Agrária de Viseu, tendo também uma pós-graduação em Marketing de Vinhos pela Escola Superior Agrária de Ponte de Lima. Na formação do reeleito Presidente da CVRBI, conta-se ainda o diploma WSET 3, Wine & Spirit Education Trust. É também formador no Turismo de Portugal e Coordenador da Pós-Graduação de Enoturismo do Instituto Politécnico da Guarda. É Vogal Suplente da Direção da ANDOVI e Vice-Presidente da Associação das Rotas de Vinho de Portugal.

Imprensa escolheu os melhores vinhos da Beira Interior em concurso

Concurso vinhos Beira Interior

TEXTO João Geirinhas Integrado no evento Beira Interior Vinhos e Sabores 2022 — que decorreu em Pinhel, de 18 a 20 de Novembro — aconteceu o concurso de vinhos Beira Interior Escolha da Imprensa, cujos prémios foram divulgados durante o certame. Aforista Colheira Seleccionada branco 2019, da Agrodaze Vinhos Aforistas, e Quinta dos Termos Talhão […]

TEXTO João Geirinhas

Integrado no evento Beira Interior Vinhos e Sabores 2022 — que decorreu em Pinhel, de 18 a 20 de Novembro — aconteceu o concurso de vinhos Beira Interior Escolha da Imprensa, cujos prémios foram divulgados durante o certame.

Aforista Colheira Seleccionada branco 2019, da Agrodaze Vinhos Aforistas, e Quinta dos Termos Talhão da Serra Rufete Reserva tinto 2019, levaram para casa o Grande Prémio Escolha da Imprensa. Numa prova que teve lugar nas instalações do Posto de Turismo de Pinhel, o Júri de 15 elementos, constituído por jornalistas e comunicadores especializados, avaliou os 64 vinhos em concurso, entre brancos, tintos, espumantes e rosados. De ano para ano, a feira de Pinhel, com organização do Município e colaboração da CVR Beira Interior, tem vindo a afirmar-se como um importante evento de divulgação e promoção dos vinhos e produtos endógenos não só do concelho, mas de toda a vasta e diversificada região que é a Beira Interior. 

Particularmente patente nos resultados obtidos no concurso deste ano, que contou mais uma vez com a colaboração da revista Grande Escolhas, foi a qualidade dos vinhos em prova e a sua forte identidade. Tanto os brancos como os tintos da Beira Interior revelam um carácter distintivo, em grande parte assente em castas com forte implantação local como a Síria e a Fonte Cal, nos vinhos brancos, e o Rufete, nos tintos, para além de uma grande diversidade de solos e morfologias próprias de uma região tão extensa. Destaque, também, para a grande quantidade de vinhos que apresentam a certificação de biológicos, ou que estão em vias de a receber, aproveitando as boas condições naturais e climáticas que a região oferece.

Foram ainda distinguidos com o Prémio Escolha da Imprensa, na categoria de brancos, mais oito vinhos: 7 Capelas 2018, Adega 23 2020, Adega do Fundão Private Selection 2019, Bal da Madre Biológico 2020, Beira Serra Reserva 2017, Convento de Marialva Colheita Selecionada 2020, Quinta do Cardo Biológico Superior 2021 e Quinta dos Currais Colheita Selecionada 2020. O melhor espumante foi o Exilado Bruto Natural Grande Reserva 2015 e o melhor Rosado foi o Pinhel Terras da Beira 2021. Na categoria de vinhos tintos, foram galardoados, com o Prémio Escolha da Imprensa, os seguintes: Adega do Fundão Private Selection 2018, Beyra Garrafeira 2017, Entre Serras 2018, Entrevinhas Grande Reserva 2018, Marquês d’Almeida Reserva 2018, Pinhel Celebração 250 Anos Premium 2018, Quinta da Biaia Biológico Reserva 2018, Quinta das Senhoras Dona Carolina Grande Reserva 2015, Quinta do Cardo Biológico Reserva 2019 e Raya 2017.

Chuva de prémios para Dão, Tejo, Beira Interior e Espumantes

O início do Verão coincide normalmente com a realização e anúncio de resultados de diversos concursos, promovidos quer pelas Comissões Vitivinícolas Regionais (CVR) quer por outras entidades, nacionais e internacionais. Após o interregno provocado pela pandemia, e alguma timidez em 2021, os concursos voltaram em força em 2022. Entre eles, o XIII Concurso “Os Melhores […]

O início do Verão coincide normalmente com a realização e anúncio de resultados de diversos concursos, promovidos quer pelas Comissões Vitivinícolas Regionais (CVR) quer por outras entidades, nacionais e internacionais. Após o interregno provocado pela pandemia, e alguma timidez em 2021, os concursos voltaram em força em 2022.

Entre eles, o XIII Concurso “Os Melhores Vinhos do Dão”, promovido pela CVR desta região. Como grande vencedor, o tinto Villa Oliveira Vinha das Pedras Altas 2016, considerado o melhor vinho a concurso, produzido por uma casa “repetente” nestas distinções, O Abrigo da Passarella. Destaque ainda para outros quatro vinhos medalhados com Platina: Tesouro da Sé Private Sellection branco 2017, Casa da Passarella A Descoberta rosé 2021, Casa de Santar Vinha dos Amores Encruzado 2017 e Quinta do Cerrado Espumante Reserva rosé 2016, cada um em sua categoria. A lista completa de premiados pode ser aferida no website www.cvrdao.pt

Melhor vinho a concurso na Beira Interior, Adega 23 Reserva tinto 2018.

Também na Beira Interior, a CVR local organizou a 15ª edição do concurso regional. O troféu mais ambicionado, “Melhor Vinho a Concurso”, coube ao Adega 23 Reserva tinto 2018, tendo sido atribuídas mais 14 medalhas de ouro e 10 medalhas de prata. Este ano, a organização deliberou atribuir igualmente prémios para “Melhor Vinho no Feminino” (Bodas Reais Grande Escolha Síria branco 2019), “Melhor Imagem” (Quinta do Cardo Síria branco 2021) e “Melhor Imagem no Feminino” Almeida Garrett TNT tinto 2018. Detalhes em www.vinhosdabeirainterior.pt

O clássico Concurso Mundial de Bruxelas continua ser bem recebido em Portugal, tendo escolhido Anadia para realizar a sua primeira edição dedicada a espumantes, com cerca de 1000 amostras de 23 países distintos. Os espumantes portugueses, e em particular os da Bairrada, não se saíram nada mal. Atenção particular, com Grande Ouro e troféu “Espumante Revelação de Portugal”, ao Quinta dos Abibes Baga Bairrada branco 2015. Grande Ouro recebeu igualmente o Quinta de S. Lourenço Blanc de Noirs branco 2011, de Caves do Solar de São Domingos. Dão, Península de Setúbal, Vinho Verde e Lisboa foram outras regiões nacionais que tiveram espumantes premiados. Resultados completos em https://concoursmondial.com

Enólogos do Ano, do Tejo: João Vicêncio e Nuno Faria.

Finalmente, os “Prémios Vinhos do Tejo” seguiram outro caminho, evidenciando não vinhos concretos mas sim as pessoas e as empresas que os originam. Assim, por iniciativa da CVR Tejo, foram premiadas as empresas Enoport (“Empresa de Excelência”), Encosta do Sobral/Santos & Seixo (“Empresa Dinamismo”) e Companhia das Lezírias (“Prémio de Sustentabilidade”). Nuno Faria e João Vicêncio, da Enoport, foram eleitos como “Enólogos do Ano” e Pedro Castro Rego foi distinguido com o ‘Prémio Carreira’.

Grande Prova: Beira Interior 2.0

Beira Interior desafiante

Brancos e tintos desafiantes A Beira Interior está em constante mudança, com o solidificar e desenvolver de projectos clássicos e bem-sucedidos e o surgir de outros que vêm trazer ainda mais dinamismo e competitividade. Nesta prova, percorremos os brancos e tintos bem diferenciadores de uma região com antigas tradições de vinha e de vinho, onde […]

Brancos e tintos desafiantes

A Beira Interior está em constante mudança, com o solidificar e desenvolver de projectos clássicos e bem-sucedidos e o surgir de outros que vêm trazer ainda mais dinamismo e competitividade. Nesta prova, percorremos os brancos e tintos bem diferenciadores de uma região com antigas tradições de vinha e de vinho, onde o carácter, a frescura e a elegância são denominador comum.

Texto: Valéria Zeferino
Fotos: Ricardo Palma Veiga

A tradição vitivinícola antiga na Beira Interior remonta à época romana, sendo oficialmente demarcada em 1999. Há alguns anos falámos no despertar da Beira Interior, quando surgiram projectos novos a inspirados pelos entusiastas, alguns com raízes na região, outros vindos de fora dela. Enólogos conhecidos, como Virgílio Loureiro, Anselmo Mendes, Rui Madeira, Rui Reguinga ou Patrícia Santos, trouxeram o seu conhecimento, elevaram a qualidade dos vinhos e deram credibilidade à região. O consumidor também despertou, (re)descobrindo uma região antiga na sua versão 2.0 com identidade própria que privilegia frescura e elegância.

Hoje, a região produz mais de 3 milhões de garrafas, apostando cada vez mais na exportação. Nos últimos dois anos a exportação duplicou chegando a 40% de produção. Os principais mercados neste momento são Brasil, Letónia, USA, Canadá, Dinamarca, Bélgica e Holanda, de acordo com os dados da CVRBI. Esta entidade certificadora também assume um papel de promotora da região, apostando fortemente no enoturismo e na internacionalização dos seus vinhos, trazendo potenciais importadores à região através das missões inversas. Nos últimos dois anos foi criada a Rota dos Vinhos da Beira Interior que pretende atrair cada vez mais pessoas ao interior. Até porque a oferta enogastronómica e cultural dentro da região é grande. E não podemos esquecer que das 12 aldeias históricas de Portugal, 11 ficam na Beira Interior.

Identidade geográfica

A altitude, a continentalidade e os solos pobres moldam as condições edafo-climáticas da Beira Interior.  A região estende-se do vale do Douro e Trás-os-Montes no norte ao rio Tejo no sul. Faz fronteira com a Espanha e é separada da Beira Litoral pelas várias formações montanhosas:  Serra da Estrela, do Açor, Gardunha e Lousã, que cortam a influência atlântica, deixando o clima mais seco, com maior amplitude térmica diária e anual.

A continentalidade manifesta-se pelos invernos rigorosos e frios, temperaturas negativas e neve frequente e pelos verões curtos, mas quentes e secos, com muitas horas de sol. A amplitude também ameniza os extremos de temperatura no pico de Verão. As noites frescas criam condições importantes para maturações mais homogéneas e retenção da acidez que mais tarde se traduz na frescura dos vinhos produzidos.

As montanhas e planaltos elevam as vinhas à altitude de 300 a 700 metros, amenizando as temperaturas médias, pois a temperatura baixa 0,6˚C por cada 100 metros.

Os solos são pobres em matéria orgânica e bem drenados, de origem maioritariamente granítica, mas também xistosa em zonas de transição para o Douro, com filões de quartzo e alguma ascendência arenosa.

Existem três sub-regiões, que antes da criação de denominação de origem em 1999, eram três regiões separadas: Pinhel, Castelo Rodrigo e Cova da Beira.

A sub-região de Pinhel com altitude média de 650 metros fica a norte da Guarda e estende-se até Mêda e à serra da Marofa.  A sub-região do Castelo Rodrigo está praticamente colada à de Pinhel, tendo como a linha de separação o rio Côa e uma estrutura montanhosa. Caracteriza-se pelos planaltos a 600 e 750 m de altitude. Ambas as sub-regiões são secas, com precipitação anual raramente a ultrapassar os 500 mm e com grandes amplitudes térmicas.

A Cova da Beira situa-se na zona sul da região, sendo limitada, a Norte, pelas serras da Estrela, Gardunha e Malcata e a sul, pela bacia hidrográfica do Tejo, onde o clima já tem alguma influência mediterrânica. É a sub-região mais extensa da Beira Interior, onde dá para distinguir duas zonas com características um pouco diferentes. Uma mais a Norte, entre as Serras da Gardunha e da Serra, à volta do Fundão e da Covilhã, com a precipitação a variar muito (de 600 a 1.800 mm por ano) em função do relevo. Outra, a Sul da Serra da Gardunha, com temperaturas mais elevadas e de precipitação a rondar os 500-700 mm. Aqui o clima apresenta semelhanças com o Alentejo.

A vindima entre a Cova da Beira e Pinhel pode começar com três semanas de diferença. As geadas de primavera são problemáticas na maior parte da região. Como diz Pedro Carvalho, da Quinta dos Termos, “geada há sempre, a dúvida é se será muita ou pouca”. Por isto as podas são mais tardias, às vezes são feitas em Abril para os abrolhamentos serem mais tarde, não prejudicando a produção em caso de geada.

Castas com carácter

De acordo com os dados do IVV, houve uma diminuição em termos de área plantada nos últimos anos (de 15110 ha para 13874 ha), provavelmente devido  ao abandono da vinha e a algum arranque para plantação de outras culturas. Mesmo que 75% da vinha não tenha DOP/IGP, a área de vinha para vinhos certificados como DOP e IGP aumentou bastante, o que é uma dinâmica muito positiva.

As castas mais plantadas na Beira Interior, segundo o IVV, são Rufete e Siria representando 16,2% e 15,6% da área plantada, respectivamente. O Aragonez também tem uma grande presença na região ocupando 14,5% da vinha.

As primeiras duas castas existiam antes da filoxera, variando um pouco entre as zonas, e expressam mais a região, mas na maior parte dos vinhos entram em lotes. Outras castas antigas são Fonte Cal, Malvasia, Gouveio, Rabigato e Folgasão, nas brancas e Marufo, Bastardo, Tinta Francisca, Donzelinho, entre castas tintas. Com o passar do tempo e novas tendências o encepamento mudou e hoje encontramos na região as castas nacionais de outras regiões (Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, por exemplo) e estrangeiras como a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot. Até Sangiovese e Nebbiolo foram plantadas pela Quinta dos Termos a título de experiência.

A casta Rufete, também é conhecida como Tinta Pinheira no Dão e encontra-se em pouca quantidade noutras regiões, ocupando 2% de encepamento do país. Produz imenso, diz o produtor José Afonso, das Casas Altas. Tirando isto, na sua opinião, é bem amiga do viticultor. Antigamente, quando chovia mais no Outono, verificavam-se problemas de podridão a que a casta é sensível, ultimamente nem isto. Na adega tem tendência para aromas um pouco reduzidos, pelo que convém transfegar logo quando acaba a fermentação.

Pela sua grande produtividade, o Rufete ganhou alcunha de “pai dos pobres”. Nas adegas cooperativas chegava a produzir até 20 tn/ha, perdendo completamente a sua identidade e imagem, e nos anos 80-90 acabou por ser renegada na sua terra natal. O proprietário da Quinta dos Termos, João Carvalho, contou uma vez que em algumas adegas cooperativas até nem se aceitavam novos sócios com muito Rufete, dando preferência a outras castas.

O Rufete origina vinhos de grau alcoólico contido, com pouco tanino, cor aberta e acidez média. Plantada nos sítios certos, em solos pobres, com produções controladas a não ultrapassar 6-7 tn/ha, produz vinhos sérios, mas delicados, com frescura e carácter próprio.

A enóloga e produtora Patrícia Santos (Rosa da Mata), refere que, em termos aromáticos, Rufete tem bastante fruta, mas é delicada, nada de excessos. Tem bastante acidez e evolui bem em barrica.

É sempre uma óptima alternativa a vinhos mais extraídos, carnudos e tánicos que são cada vez mais apreciados pelos enófilos, mas nem sempre a cor mais aberta do Rufete é entendida pelo consumidor geral. José Afonso explica que vende os vinhos de Rufete mais aos conhecedores e hotelaria de luxo do que ao consumidor menos informado, embora as pessoas mais antigas da região, que entendiam o vinho como parte da alimentação, aceitassem bem a cor menos intensa.

A casta Síria no nosso país responde por muitos nomes: Roupeiro no Alentejo e Códega no Douro, são os sinónimos oficiais. Para além disto é conhecida como Alvadourão ou Alvadurão no Dão, Malvasia Grossa e Dona Branca em Bucelas e Crato Branco no Algarve. Até na Beira Interior, na zona de Belmonte, e em Portalegre, usava o sinónimo de Alva. Como vemos é bastante comum em várias regiões e ocupa 3% do encepamento nacional. Mas é na Beira Interior que a casta se destaca pela maior frescura e aromas menos terpênicos, mais delicados e focados, mas que duram mais tempo no envelhecimento em garrafa. Segundo Patrícia Santos, a Síria é uma casta muito versátil e expressa de forma identificativa não só a região da Beira Interior, como também cada sub-região. Na zona de Castelo Branco demonstra mais perfume, mas consegue manter a frescura; na zona de Pinhel é mais discreta, mais selecta; na zona de Figueira é um compromisso entre as outras duas.

A Fonte Cal é uma casta originária da zona de Pinhel e praticamente só existe na Beira Interior, sobretudo nos encepamentos antigos. Representa menos de 1% do encepamento da região, mas encontra-se principalmente em vinhas velhas onde existe uma mistura de muitas castas e por isto não se encontra identificada pelo IVV como Fonte Cal. É uma casta vigorosa, mas não muito produtiva. Precisa de mais tempo para amadurecer do que a Síria, mas perde rapidamente a acidez, pelo que a janela de vindima é muito pequena. Por esta razão entrava sempre nos lotes com Síria ou Arinto com mais nervo.

Patrícia Santos refere que na adega a Fonte Cal também não é fácil. Tem tendência para oxidar e perde aromas rapidamente. Como se não bastasse, apresenta instabilidade em termos de tartaratos de cálcio e tem tendência para o pinking (um fenómeno oxidativo do vinho branco, dando origem a uma evolução da cor para um tom cinzento-rosado). A verdade é que continuam a existir muito poucos vinhos monovarietais de Fonte Cal.

Algumas castas antigas da região são pouco conhecidas hoje em dia e trazem alguma polémica quanto à sua origem. E o caso da Callum, vinificada em extreme pela Quinta dos Termos. As opiniões dividem-se e nem os especialistas chegam a um consenso: uns dizem que é uma das castas antigas na zona que era chamada Pinhal Interior, enquanto existe possibilidade de ser a mesma casta chamada Batoca na região de Vinhos Verdes. Também foi referenciada nos distritos de Aveiro, Leiria, Vila Real e Bragança, com os nomes de Sedouro ou Alvaraça. Mas independentemente da sua origem, não há dúvidas que a casta teve sempre presença naquela zona da Beira Interior. Antes da filoxera entrava nos encepamentos de Sertã, Covilhã e Belmonte. O produtor e enólogo Pedro Carvalho conta que Callum já era autorizada para produção de vinhos na antiga Cova da Beira ainda antes de criação da denominação de origem.

Tudo começou quando a Quinta dos Termos adquiriu em 2015 outra propriedade – Herdade de Lousial, onde plantou nos cerca de 2 hectares 92 clones de Callum, provenientes de zonas distintas do pais, incluindo o Minho. Fizeram-se cerca de 1200 garrafas de um vinho único desta casta em 2020 e a experiência foi repetida em 2021, com mais de 3 mil garrafas.

A casta Fernão Pires não é muito associada à Beira Interior, ocupando cerca de 1% de vinha, mas tem na zona de Pinhel uma expressão bem interessante. Patrícia Santos ficou fascinada pela performance da casta que em Pinhel mostra uma quase salinidade inexplicável. Compara com vinhos de Sancerre, que, feitos de uma casta aromática, naquela região revelam uma personalidade diferente. No final de fermentação o vinho passa para as pipas de 500 litros, onde permanece pelo menos um ano. A produtora gosta de vinhos com madeira para dar outra dimensão ao vinho, desde que não seja exagerada. Deste vinho produz  apenas 1500 litros, mas faz um vinho de que gosta e que reflecte o terroir.

Na zona de transição para a região do Douro, os solos são xistosos e nota-se grande presença das castas durienses. As vinhas da Casas do Côro, na aldeia histórica de Marialva a poucos quilometros de Mêda, são velhas com quase 100 anos, com produções baixíssimas de 1500 kg/ha e ficam numa altitude de 600 metros. Entre as castas tintas predominam Mourisco e Touriga Franca e nas brancas Rabigato e Códega, aos quais se juntam uvas de Rabigato, Verdelho da Madeira e Donzelinho, provenientes da primeira vinha plantada em 2009.

Projectos novos e antigos

Na Beira Interior nota-se um movimento em direcção à qualidade e valorização da região. Já há produtores de renome, marcas associadas aos vinhos de autor, com personalidade vincada, que começam a ficar emblemáticas para a região, como a Casas de Côro, Biaia, Quinta dos Termos (também é uma das mais antigas) e Rui Madeira, entre outros.

E quase todos os anos aparecem projectos novos de grande dedicação e com propósito. Podem não ter ainda dimensão, mas contribuem para o nível qualitativo da região. Um dos mais interessantes é o de Miss Vitis Wines com marca Bal da Madre. Gil Taveira conta que o projecto começou no Douro pelo seu avó e com ele teve continuação. Há poucos anos resolveu apostar na Beira Interior para fazer vinhos de agricultura biológica, já que a região reúne as condições para isso. Em conjunto com produtores de azeite e mel, entre outros produtos, exportam para o Reino Unido, transportando a mercadoria em veleiros (para reduzir a pegada ecológica). O nome Bal da Madre significa “Vale da Mãe” em língua mirandesa e presta homenagem à mulher e à videira, onde tudo começa. A primeira colheita foi de 2017. O perfil dos vinhos é muito limpo, delicado, com uma simplicidade cativante.

A notoriedade constrói-se com resiliência e dedicação e pequenos projectos por vezes seguem conceitos bem sucedidos, são rapidamente captados pelos radares dos enófilos e propagados, valorizando a imagem global da região.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2022)

 

Prémios Beira Interior Gourmet 2021 elegeram vencedores

Beira Interior Gourmet vencedores

Numa cerimónia que aconteceu dia 21 de Fevereiro, no grande auditório do Teatro Municipal da Guarda, foram entregues os Prémios Beira Interior Gourmet 2021. A celebração do melhor que se faz a nível gastronómico na Beira Interior — e, nesta edição, também no resto do país — foi presidida por Ana Abrunhosa, Ministra da Coesão […]

Numa cerimónia que aconteceu dia 21 de Fevereiro, no grande auditório do Teatro Municipal da Guarda, foram entregues os Prémios Beira Interior Gourmet 2021. A celebração do melhor que se faz a nível gastronómico na Beira Interior — e, nesta edição, também no resto do país — foi presidida por Ana Abrunhosa, Ministra da Coesão Territorial.

À semelhança da edição inaugural de 2020, o júri composto por especialistas do sector percorreu a região, e ao longo de mais de dois meses visitou presencialmente todos os restaurantes a concurso. A grande novidade foi a extensão do concurso a restaurantes de fora da Beira Interior, que teve grande adesão. “Com finalidades diferentes dentro e fora da região, neste último caso aferiu-se a validade e brilho dos menus no que toca à harmonização com os vinhos da Beira Interior”, explica a Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior, em comunicado.

Os vencedores da segunda edição do Beira Interior Gourmet: 

Melhor Espaço – Convento de Belmonte, em Belmonte
Melhor Carta de Vinhos – Nobre Vinhos e Tal, na Guarda
Melhor Serviço de Vinhos – Colmeia, na Guarda
Melhor Entrada – Alquimia, no H2otel Congress & Medical SPA na Covilhã
Melhor Prato – Adega dos Apalaches, em Oleiros
Melhor Sobremesa – Taverna da Matilde, em Figueira de Castelo Rodrigo
Melhor Harmonização Vinho e Comida – Soadro, na Guarda
Melhor Restaurante – Alkymia, na Covilhã

Estreou-se também o prémio especial Valdir Lubave, “em memória de um dos obreiros mais excelentes e dedicados à Beira Interior”. Este prémio foi entregue aos Chefs Mário Rui Ramos e Júlio Fernandes.]