O TGV e as vinhas da Bairrada

TGV Bairrada

É um dos grandes projectos estruturantes dos próximos anos em Portugal, para além do futuro aeroporto de Lisboa. A construção da linha de caminho de ferro entre Lisboa e o Porto, onde irão circular comboios de alta velocidade (Comummente chamados TGV, sigla da designação francesa Train à Grande Vitesse) e de mercadorias, já começou. Muito […]

É um dos grandes projectos estruturantes dos próximos anos em Portugal, para além do futuro aeroporto de Lisboa. A construção da linha de caminho de ferro entre Lisboa e o Porto, onde irão circular comboios de alta velocidade (Comummente chamados TGV, sigla da designação francesa Train à Grande Vitesse) e de mercadorias, já começou.
Muito se tem especulado sobre este tema, a nível político e não só. Devido ao seu custo, que deverá ascender aos seis mil, ou oito mil milhões de euros se a linha se prolongar até Valença para ligar depois a Vigo, em Espanha. Mas também por haver outras opções mais lógicas, como a ligação da capital a Madrid. E há quem não concorde com o traçado escolhido ou forma como foi estabelecido. Tem sido assim quase sempre em Portugal, seja por razões que vão das tricas políticas às mais terrenas, aquelas que afectam as pessoas e os seus bens, como a destruição de casas, terrenos agrícolas ou edifícios empresariais. É isso que irá acontecer na Bairrada durante a fase de construção, e depois da implantação da obra.

TGV Bairrada

12 milhões de passageiros
Os custos da obra foram anunciados por Frederico Francisco, secretário de Estado das Infraestruturas, à agência Lusa, no dia do lançamento do concurso para a sua primeira fase. O governante também disse que as previsões do governo apontam para o transporte de 12 milhões de passageiros entre Lisboa e Porto anualmente por esta via, que serão retirados aos transportes aéreo e terrestre, contribuindo para a diminuição de emissões e para a sustentabilidade ambiental do país. E, por consequência, para se atingirem as metas estabelecidas de emissões da União Europeia neste campo. É, por isso, que “é difícil de estar contra esta obra do ponto de vista institucional”, diz Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVBairrada). Mas o número de passageiros “é muito semelhante aquele com que os políticos justificaram a construção da A8, que não se sabe onde estão”, salienta Mário Sérgio Nuno, proprietário da Quinta das Bágeiras, defendendo que em Portugal se aposta sobretudo em grandes obras mediáticas, e pouco nas pequenas, como a ligação ferroviária entre Sangalhos e Aveiro, onde se demora o mesmo tempo que há 40 anos, ou seja, muito. Ou seja, e como todos sabemos ou podemos constatar, há coisas feitas, mas ainda há muito para fazer entre aquilo que é necessário para o nosso país e as suas pessoas.

 

TGV Bairrada

“Substituir a vista de mar de vinhas verdes pela de um viaduto ferroviário é devastador, com a agravante de a linha não passar abaixo da cota das vinhas. Será uma ferida na paisagem” – Manuel Pinheiro, CEO da Global Wines

 

 

Um pedacinho de ferrovia
E fazer um investimento deste tipo, sem prever ligações a Vigo, a norte, que ainda está apenas esboçada, e Madrid, a capital do país vizinho, “significa que teremos apenas um pedacinho de ferrovia e que Portugal não poderá tirar todo o potencial de um investimento deste tipo, que é muito significativo para os cofres do país”, realça o presidente da CVBairrada.
Mas são sobretudo as opções para a implementação da linha ferroviária tomadas, certamente, com base no seu custo/benefício, mas sem consulta de quem está, vive e desenvolve os seus negócios no terreno, que estão em causa para Pedro Soares. Pelo menos “não foi isso que aconteceu com produtores da Bairrada que vão ser afectados de forma directa, ou indirecta, como a Adega Campolargo, a Quinta do Encontro, do Grupo Global Wines, ou as Colinas de São Lourenço, do Grupo Fladgate Partnership”. Apesar de ir ocupar apenas o equivalente a 250 hectares de vinha, é preciso não esquecer que a obra irá acrescentar, a uma paisagem que é um dos postais da região, uma linha de comboio.

 

Uma paisagem alterada
“O traçado escolhido não só prejudica e coloca em causa empresas e postos de trabalho, como inviabiliza qualquer estratégia enoturística da Bairrada, enquanto região demarcada”, defende Manuel Pinheiro, CEO da Global Wines. “Há vinhas que irão ser cortadas e algumas vinhas velhas passarão a ter aterros ou viadutos com uma linha por cima, o que irá transformar a capacidade de sedução da região”, salienta Mário Sérgio Nuno, da Quinta das Bágeiras. Pedro Soares acrescenta que “muitos dos cartões postais, que são hoje o seu valor imaterial, vão desparecer, e muitas fotografias que usamos na comunicação para a sua promoção já não a vão representar, porque o horizonte vai estar parcialmente preenchido por uma linha em aterro ou em viaduto”. Para além disso, a obra será também prejudicial para a Bairrada por afectar vários enoturismos, “que são veículos de divulgação e valorização dos territórios, das empresas e das suas marcas, e também constituem, em alguns casos, importantes fontes de receita através das vendas à porta”, salienta o responsável da CVBairrada. E não é só a faixa de terreno dedicada à alta velocidade que será afectada diretamente, porque haverá também vinhas, caminhos à volta e cursos de água que serão alterados durante a construção da obra.

 

“Os governos poderiam, talvez, usar as linhas de caminho de ferro já implantadas ou as estradas e autoestradas já construídas para implantar a linha do TGV. Mas não, tem de ser feita uma obra nova” – Mário Sérgio Nuno, proprietário da Quinta das Bágeiras    TGV Bairrada

 

As melhores soluções
É verdade que não é possível falar com todas as pessoas e empresas individualmente quando se projecta uma obra desta dimensão. Mas se tem de ser construída, e a Bairrada tem de ser atravessada, isso deveria ser feito após as entidades promotoras, e quem faz o projecto, falarem directamente com quem vai ser prejudicado para procurar, e encontrar, as melhores soluções em conjunto. “É isso que tem faltado”, conta Pedro Soares, referindo que esteve apenas “em duas ou três reuniões a reboque da Câmara da Anadia, e numa sessão pública de esclarecimento” com esse tema. “O processo de consulta podia e deveria ter sido mais relevante”, defende Manuel Pinheiro.
Sabe-se, hoje, que serão afectados cerca de 250 hectares de vinha na Bairrada. Mas, segundo Pedro Soares, ninguém procurou saber se havia, no seio dela, por exemplo um terroir específico, uma parcela especial que dê origem, hoje, a uma marca de um vinho de qualidade que é único por ter essa origem, que existe após ter dado muito trabalho na vinha e na adega para o encontrar, e muito esforço para comunicar a sua diferença ao mercado até se tornar um símbolo daquilo que a empresa que o produz faz bem, e pode agora desaparecer. “Será que não se deve pagar ao produtor, não apenas pelo terreno, mas também pela marca que desapareceu?”, questiona o responsável. São estas e outras perguntas que ainda estão por responder, numa altura em que as obras do futuro TGV entre Lisboa e o Porto estão a arrancar. Estamos a falar de algo que tem uma componente imaterial muito significativa, como algumas vinhas velhas, cujo valor tem a ver com a qualidade do vinho e a história e imagem da marca que tem no mercado.
“Sabemos quais são os valores pensados para indemnizações e a forma como foram calculados, mas não se pode pensar, aqui, da mesma forma como se faz para valorizar cada metro quadrado urbano”, defende Pedro Soares, acrescentando ainda que, para fazer as avaliações, deveria ser criada uma equipa multidisciplinar para avaliar os terrenos integrando todas as condições, “para fornecer as recomendações necessárias para mitigar o impacto brutal que vamos ter na nossa região”.

 

TGV Bairrada

 

“Muitas fotografias que usamos na comunicação para a sua promoção já não a vão representar, porque o horizonte vai estar parcialmente preenchido por uma linha em aterro ou em viaduto” – Pedro Soares, presidente da CVBairrada

 

 

 

(Artigo publicado na edição de Março de 2024)

Millèsime: A festa do espumante na Bairrada

Millèsime

(veja todas as imagens do evento AQUI) Durante dois dias, muitas centenas de pessoas rumaram de todo o país até à Curia, para viver de perto o Millèsime, festa que celebra o espumante e toda a sua essência. A festa decorreu, pelo segundo ano consecutivo, no Curia Palace Hotel, um pedaço de charme da arquitectura […]

(veja todas as imagens do evento AQUI)

Durante dois dias, muitas centenas de pessoas rumaram de todo o país até à Curia, para viver de perto o Millèsime, festa que celebra o espumante e toda a sua essência.

A festa decorreu, pelo segundo ano consecutivo, no Curia Palace Hotel, um pedaço de charme da arquitectura imaginado, no início do século 20, por Manuel Joaquim Norte Júnior, e inaugurado e conservado, até agora, pela família Alexandre Almeida como ícone de uma vida de outros tempos, mesmo após a renovações mais recentes.

Era difícil de encontrar um sítio melhor para um evento de encanto como aquele que reuniu 45 produtores de espumantes portugueses e internacionais.

Nos dois dias, quem comprou o bilhete foi trazido em carros dos anos 20 do século passado, motorizados e puxados a cavalo, passando pelos jardins fronteiriços ao Palace Hotel, para entrar no seu foyer de época, marcado pela grandiosa escadaria em caracol, pelo elevador e pela elegante varanda do andar superior. Lá dentro, um músico tocava piano de cauda e algumas personagens, que retratavam as pessoas dos dourados (ou loucos, segundo se diz também) anos 20, passeavam e conversavam com os visitantes sem sair dos seus papéis.

No interior dos grandes salões estavam os produtores, principalmente os da Bairrada, a apresentar os seus espumantes, mas também havia representações das regiões dos Vinhos Verdes, Douro, Távora Varosa, Dão, Beira, Tejo, Lisboa, Alentejo e Cava, em Espanha e decorria a festa, com muita gente interessada em provar os seus vinhos e conhecer melhor quem os fez. Para além da degustação de espumantes, havia também, nas amplas varandas viradas para os jardins da propriedade, uma mostra e venda de produtos gourmet. Em paralelo ao evento, decorreram visitas para jornalistas, escanções, profissionais de turismo e proprietários de garrafeiras, convidados pela organização para visitar os produtores Luís Pato, Quinta dos Abibes, Idálio Estanislau Wines e Caves da Montanha. J.M.D.

Enólogo Osvaldo Amado regressa às Caves Primavera

Osvaldo Amado

Osvaldo Amado está de regresso às Caves Primavera, como consultor, 20 anos depois da sua última vindima pela empresa em 2004. “É com grande satisfação que volto às Caves Primavera, por regressar à casa que me viu nascer no mundo do vinho, que me volta a receber com o mesmo entusiasmo do início do meu […]

Osvaldo Amado está de regresso às Caves Primavera, como consultor, 20 anos depois da sua última vindima pela empresa em 2004.

“É com grande satisfação que volto às Caves Primavera, por regressar à casa que me viu nascer no mundo do vinho, que me volta a receber com o mesmo entusiasmo do início do meu percurso profissional”, comenta o enólogo a propósito da nova parceria com a empresa, salientando que “trabalhar com a terceira geração da família Almeida é muito estimulante”.

O regresso de Osvaldo Amado a uma casa que bem conhece, e onde ajudou a criar vinhos reconhecidos pelo mercado como o espumante Primavera Baga Bairrada, é um marco importante para as Caves Primavera, no ano em que é celebrado o 80º aniversário da empresa.

Segundo Lucénio Saraiva, diretor de Business e Comunicação das Caves Primavera, e membro da terceira geração da empresa, “o regresso do Enólogo Osvaldo Amado é uma oportunidade que não poderíamos deixar escapar, por respeito ao trabalho que desenvolveu nas Caves Primavera entre 1989 e 2004. O seu currículo no mundo dos vinhos fala por si só”.

Parceria entre as Caves Primavera e Antero Silvano chega ao fim

As Caves Primavera e Antero Silvano anunciaram recentemente o fim da parceria que ligava uma das casas mais tradicionais da Bairrada ao enólogo, que se iniciou em 2005 e tinha passado a ser, nos últimos dois anos, feita numa base de consultoria. Segundo Lucénio Saraiva, diretor de Business e Comunicação da empresa, “no trajeto de […]

As Caves Primavera e Antero Silvano anunciaram recentemente o fim da parceria que ligava uma das casas mais tradicionais da Bairrada ao enólogo, que se iniciou em 2005 e tinha passado a ser, nos últimos dois anos, feita numa base de consultoria.

Segundo Lucénio Saraiva, diretor de Business e Comunicação da empresa, “no trajeto de Antero Silvano nas Caves Primavera, onde demonstrou toda a sua qualidade e competência, salienta-se o trabalho realizado com a casta Baga, que originou grandes proveitos para a Região da Bairrada”. Por isso, “merece, sem dúvida, o reconhecimento que tem por parte dos seus pares e do mundo do vinho em geral”.

Durante os 20 anos da parceria, as Caves Primavera lançaram, no mercado, muitos produtos com o selo de qualidade único de Antero Silvano, que contribuíram para fortalecer a marca e para o seu reconhecimento no mercado. O exemplo mais recente disso é o Espumante Baga Bairrada Primavera Grande Reserva da colheita de 2017, que foi considerado o melhor espumante Baga@Bairrada na edição de 2022 do Concurso de Melhores Vinhos e Espumantes da Bairrada.

A Região da Bairrada recebe VinoEuro 2024

Os Municípios da Anadia, Mealhada e Oliveira do Bairro vão ser palco da competição VinoEuro 2024 Portugal, que irá decorrer entre 22 e 25 de maio de 2024, numa organização da União das Seleções Nacionais Europeias de Futebol de Enólogos e da Associação de Futebol dos Vitivinicultores de Portugal. A competição conta com a participação […]

Os Municípios da Anadia, Mealhada e Oliveira do Bairro vão ser palco da competição VinoEuro 2024 Portugal, que irá decorrer entre 22 e 25 de maio de 2024, numa organização da União das Seleções Nacionais Europeias de Futebol de Enólogos e da Associação de Futebol dos Vitivinicultores de Portugal.

A competição conta com a participação de oito países: Portugal, Itália, Suíça, Hungria, Eslovénia, República Checa, Áustria e Alemanha. Trata-se de um evento em que as equipas de futebol são maioritariamente constituídas por vitivinicultores, que procura mostrar como o vinho e o futebol podem ultrapassar todas as barreiras linguísticas, sociais e culturais. Os encontros de futebol vão decorrer nos três concelhos, com os jogos das meias-finais a decorrer na Mealhada e em Oliveira do Bairro. A final do VinoEuro 2024 irá realizar-se no Estádio Municipal de Anadia.

Todas as seleções que competem na terceira edição do evento irão também participar num programa que contempla visitas a produtores da região, museus e outros locais de interesse turístico e cultural.

Adega de Cantanhede faz mudanças na equipa de enologia

Adega de Cantanhede enologia

A Adega Cooperativa de Cantanhede — produtora de reconhecidos vinhos da Bairrada, como Marquês de Marialva ou Foral de Cantanhede — está a fazer grandes mudanças na equipa de enologia. Osvaldo Amado anunciou que deixa agora de ser enólogo consultor da Adega de Cantanhede, posição que será ocupada por outro experiente enólogo, António Ventura, facto […]

A Adega Cooperativa de Cantanhede — produtora de reconhecidos vinhos da Bairrada, como Marquês de Marialva ou Foral de Cantanhede — está a fazer grandes mudanças na equipa de enologia.

Osvaldo Amado anunciou que deixa agora de ser enólogo consultor da Adega de Cantanhede, posição que será ocupada por outro experiente enólogo, António Ventura, facto confirmado hoje, por este, à Grandes Escolhas.

Em comunicado de imprensa, Osvaldo Amado — que trabalhou com a cooperativa durante mais de 12 anos — refere que, entre os vários vinhos da Adega de Cantanhede que assinou, os que mais o marcaram foram rótulos como Marquês de Marialva Confirmado, Foral de Cantanhede, Grande Reserva Baga e Grande Reserva Arinto, Baga Unoaked e Baga Complexo, Espumantes Primitivo Cuvée e Baga Cuvée.

“A Adega de Cantanhede representou um grande desafio, que considero superado”, declarou o enólogo.

O Concurso de Vinhos e Espumantes 2023, organizado pela Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), aconteceu no passado 31 de Outubro, dia em que 14 jurados avaliaram, em prova cega, 120 vinhos. O anúncio dos vencedores e a entrega de prémios tiveram lugar em Águeda, no Palácio da Borralha, no dia 3 de Novembro, sendo que o vinho Original Reserva branco 2020, do produtor Quatro Cravos, foi o grande vencedor da competição, com a pontuação mais elevada.

Os restantes vinhos e espumantes bairradinos premiados dividiram-se em seis categorias, destacando-se o melhor em cada uma. No que toca aos espumantes, o Montanha Chardonnay & Arinto Grande Cuvée branco 2018 (Caves da Montanha) foi eleito o Melhor Espumante em absoluto e o Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto Natural branco 2021 (Aliança Vinhos de Portugal) arrecadou o título de Melhor Espumante Baga Bairrada.

O já referido Original Reserva branco 2020 (Quatro Cravos) recebeu dois galardões, ao ser eleito o Melhor Branco, prémio ao qual somou o de Grande Vencedor do Concurso.

Do produtor Idálio de Oliveira Estanislau, o Pedra Só 2022 ganhou na sua categoria, como Melhor Rosé, tendo o António Marinha Grande Reserva tinto 2015 (António Marinha Vinhos) se destacado como Melhor Tinto.

O Encosta da Criveira Reserva tinto 2021, de Isaura Conceição Reis, levou para casa a distinção de Melhor Vinho das Terras de Sicó. 

Foram, ainda, atribuídas três dezenas de medalhas de Ouro, 12 das quais a espumantes, 9 a vinhos brancos e 9 a tintos. Como director do Concurso de Vinhos e Espumantes da Bairrada, marcou presença o director editorial da Grandes Escolhas, Luís Lopes, ao lado de Pedro Soares, presidente da CVB. Já no júri estiveram reconhecidos enólogos da região, um representante de media bairradino e alguns sommeliers, nomeados para esta acção pela Associação Escanções de Portugal.

Consulte AQUI a lista completa de premiados do Concurso de Vinhos e Espumantes da Comissão Vitivinícola da Bairrada 2023.

Aliança: Como alfaiataria para espumantes

Aliança Espumantes

Foi em 2018 que a Aliança Vinhos de Portugal decidiu dar mais um passo na produção dos seus espumantes de topo na Bairrada, com a casta Pinot Noir. Em versão blanc de noirs (branco de uvas tintas), este “bruto natural” vem juntar-se à gama onde já se encontrava o Aliança Grande Reserva branco, um lote […]

Foi em 2018 que a Aliança Vinhos de Portugal decidiu dar mais um passo na produção dos seus espumantes de topo na Bairrada, com a casta Pinot Noir. Em versão blanc de noirs (branco de uvas tintas), este “bruto natural” vem juntar-se à gama onde já se encontrava o Aliança Grande Reserva branco, um lote de Chardonnay e Baga cuja colheita de 2018 sai também agora para o mercado.

No evento de apresentação de ambos, que teve como palco as Caves Aliança e o Underground Museum, em Sangalhos (concelho de Anadia) a equipa da casa proporcionou um dia totalmente dedicado a este tipo de vinhos. Mas, antes de uma prova de bases de espumante, de outra das várias colheitas do Grande Reserva branco e do novo espumante Pinot Noir, conduzidas pelo enólogo Francisco Antunes, foi visitada a nova vinha da empresa em Sangalhos — Quinta da Rigodeira II — concebida exclusivamente para originar vinhos base para os espumantes. E isto, na verdade, é coisa rara…

Aliança Espumantes

Em solo argilo-calcário, com algumas manchas arenosas, a Quinta da Rigodeira II teve os seus primeiros quinze hectares plantados em 2021, e mais nove já em 2023, sendo que para 2024/2025, estão previstos seis hectares adicionais. O que se encontra nesta vinha em início de vida, que terá este ano a sua segunda produção, são as castas mais emblemáticas na produção de espumantes da Bairrada: Baga, Chardonnay e Pinot Noir.

“Os clones deste Chardonnay e deste Pinot Noir são específicos para espumante. Já o material vegetativo da Baga, que provém da Estação Vitivinícola da Bairrada, é enviado para Itália, voltando enxertos já prontos para plantar”, elucidou Francisco Antunes. O director de enologia da Aliança, que chegará aos 30 anos de casa em Setembro de 2023, é actualmente um dos maiores especialistas em espumante do país. Também responsável pelos vinhos de outras regiões onde o grupo opera — Vinhos Verdes, Douro, Beira Interior e Dão — e pelas aguardentes, Francisco Antunes formou-se em Engenharia Agrícola na Universidade de Évora, e em Enologia em Bordéus.

“Queremos ter matéria-prima nossa, que possamos controlar totalmente, para o projecto dos espumantes de topo” afirmou, junto à vinha da Quinta da Rigodeira II, onde Eduardo Medeiro, vice-presidente executivo do grupo Bacalhôa (proprietário da Aliança Vinhos de Portugal), salientou ter sido “muito importante definir um foco para a Bairrada, nomeadamente os espumantes e a casta Baga”. Este incremento na região levou a que, segundo o viticólogo e director técnico Clemente Almeida, o custo da uva Baga passasse de cerca de 15 cêntimos, por quilo, para mais de 50 cêntimos em apenas 15 anos.

Aliança Espumantes

Francisco Antunes, director de enologia da Aliança, chegará aos 30 anos de casa em Setembro. É um dos maiores especialistas em espumantes do país.

De volta às caves, estiveram em prova três bases de espumante, de vinhos que sairão a partir de 2026: Quinta da Rigodeira 2022, um novo espumante que nasce na vinha agora plantada, de Baga, Chardonnay e Pinot Noir; Grande Reserva branco 2022 e Pinot Noir Grande Reserva branco 2022. Surpreendentemente, os três mostraram enorme equilíbrio e harmonia, a fugir da “agressividade” que se espera numa base de espumante. Depois da prova vertical do Grande Reserva branco — colheitas 2012, 2015, 2016, 2017 e a mais recente 2018 — chegou-se à estrela do dia. O Aliança Pinot Noir Grande Reserva branco 2018 viu o seu vinho base estagiar durante 5 meses, antes do engarrafamento, e permaneceu depois, “sur lies”, 43 meses em cave.

A Aliança produz, de acordo com Francisco Antunes, um milhão de garrafas de espumante por ano, das quais 156 mil são do Baga-Bairrada, outro produto “flagship” da empresa. Ainda segundo o alfaiate dos espumantes Aliança, em Setembro deste ano será lançado um vinho branco Bairrada Clássico, 100% Bical, proveniente de uma parcela descoberta na Quinta da Rigodeira… de 1931.

(Artigo publicado na edição de Julho de 2023)

Grande Reserva: Mealhada tem uma nova garrafeira

Garrafeira Grande Reserva

Uma “boutique wine shop” com vinhos diferenciadores e de todo o país. Grande Reserva é a garrafeira que acaba de abrir na Mealhada, pelas mãos de Ricardo Barrelas, empreendedor com experiência de uma década em comunicação e estratégia de marcas de vinho. “Temos procurado criar uma oferta ecléctica e não elitista, com vinhos de inquestionável […]

Uma “boutique wine shop” com vinhos diferenciadores e de todo o país. Grande Reserva é a garrafeira que acaba de abrir na Mealhada, pelas mãos de Ricardo Barrelas, empreendedor com experiência de uma década em comunicação e estratégia de marcas de vinho.

“Temos procurado criar uma oferta ecléctica e não elitista, com vinhos de inquestionável qualidade mas acessíveis a qualquer enófilo”, assume o proprietário, que pretende apresentar ao consumidor “vinhos que não estão, na sua esmagadora maioria, disponíveis nas grandes superfícies, assim como nas garrafeiras mais próximas”, construindo, assim, um portefólio único.

Garrafeira Grande Reserva

O objectivo é, também, proporcionar uma experiência de compra personalizada: “Somos, muitas vezes, o ponto de contacto entre o produtor e o consumidor porque nas grandes superfícies esse trabalho não existe e na restauração ainda existe um caminho longo a percorrer de educação vínica, digamos assim. O ‘storytelling’ de uma marca deve ser feito no ponto de venda e temos esse dever para com o consumidor. Dizer que o vinho cheira a isto ou sabe a isto simplesmente não chega”, defende Ricardo Barrelas.

A garrafeira Grande Reserva está, ainda, a desenhar experiências de enoturismo com um grupo de produtores, alguns dos quais estreantes nesta área, e a criar um clube de vinhos, onde cada membro terá acesso a benefícios exclusivos. Adicionalmente, o espaço é um dos poucos em Portugal que aderiu ao movimento global “Wine in Moderation” que visa promover uma cultura do vinho saudável e positiva.

A Grande Reserva está situada no centro da cidade da Mealhada, na Urbanização Quinta da Nora, Rua Armindo Pêga 49. Possui, igualmente, uma loja online, em grande-reserva.pt.

Comissão Vitivinícola da Bairrada preocupada com Linha de Alta Velocidade

Bairrada Linha Alta Velocidade

A Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB) deu o seu parecer, partilhado em comunicado de imprensa, na sequência da consulta pública promovida pela Agência Portuguesa do Ambiente, no âmbito do procedimento de Avaliação de Impacto Ambiental para o estudo prévio da Linha Ferroviária de Alta Velocidade (LAV) entre o Porto e Lisboa, mostrando-se preocupada com as […]

A Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB) deu o seu parecer, partilhado em comunicado de imprensa, na sequência da consulta pública promovida pela Agência Portuguesa do Ambiente, no âmbito do procedimento de Avaliação de Impacto Ambiental para o estudo prévio da Linha Ferroviária de Alta Velocidade (LAV) entre o Porto e Lisboa, mostrando-se preocupada com as propostas apresentadas para os troços de Porto/Soure e Soure/Aveiro.

“A decisão política de se avançar com a construção da LAV vai ter um impacto bastante negativo nesta região vitivinícola do Centro de Portugal, na medida em que há troços que atravessam aquele que é o território vitivinícola da Indicação Geográfica Beira Atlântico, onde se insere a Região Demarcada da Bairrada. A construção da LAV, tal como é apresentada, destrói uma mancha que, ao longo dos últimos anos, tem sido um dos maiores cartões-postais da região vitivinícola da Bairrada e um dos seus mais eficientes embaixadores. A sua singularidade e identidade vão, desta forma, ser irremediavelmente afectadas”, introduz a Comissão Vitivinícola da Bairrada.

Pedro Soares, presidente da CVB e seu porta-voz, desenvolve: “A noção de importância colectiva nacional do projecto que nos é apresentado, nomeadamente através dos documentos disponíveis no sítio participa.pt, os seus eventuais benefícios em relação a questões como a diminuição do tempo de viagem de comboio entre Lisboa e Porto, o aumento da competitividade, a descarbonização do sector dos transportes ou a redução da sinistralidade rodoviária não nos impede de ter uma posição crítica em relação ao projeto apresentado, pelo facto de, também nós, os que produzimos os vinhos da Bairrada, sermos uma parte desse mesmo Portugal. É importante relembrar que a região é já dividida por outras vias de comunicação existentes, que, em benefício coletivo, causam danos irreparáveis à nossa região”.

Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada. ©CVB/Gonçalo Villaverde

Ainda no mesmo comunicado, a CVB refere que “os traçados que são do conhecimento público são extremamente penalizadores para a região da Bairrada. O cultivo da vinha é uma atividade económica com enorme importância social e cultural, mas também económica. Através das Denominações de Origem é possível valorizar uma actividade não deslocalizável (produção de uvas), fixar população, contribuir de forma decisiva para a economia local e tornar mais sustentável todo um território. Uma vinha é, em si, um ativo tão único e importante que, em muitos casos, dá origem a vinhos que levam aos quatro cantos do mundo o nome dessa mesma vinha, da região e de Portugal.

Os solos, a sua biodiversidade, as linhas de água existentes e as pessoas – que cuidam, no dia-a-dia, as suas vinhas, contribuindo assim para melhorar também a sustentabilidade ambiental – vão, todos eles, sofrer prejuízos incalculáveis e irreparáveis. As obras necessárias, os taludes a efetuar, os transportes durante a fase de construção e um conjunto de condicionantes associados a este tipo de projectos vão, em muitos casos, alterar de forma irrecuperável boa parte da região bairradina.

Ao longo dos últimos anos, vários foram os investimentos efetuados na recuperação e plantio de vinha, na adaptação, manutenção e construção de adegas que viabilizem não só a produção de vinhos e espumantes, mas se tornem activos colectivos da Região, na criação de caminhos e percursos que permitam intensificar o enoturismo (atividade que o Turismo de Portugal assume, nos dias de hoje, como uma ferramenta fundamental do sector do turismo), na criação de rotas, na valorização da paisagem natural. A Bairrada possui uma associação específica para o enoturismo, por reconhecer esta actividade como de importância decisiva para o sector”.

Pedro Soares questiona também sobre “quem se responsabilizará por tantos danos, materiais e imateriais, que o avanço desta obra trará para a nossa região?”, afirmando que a Comissão Vitivinícola da Bairrada “não é contra a Linha Ferroviária de Alta Velocidade em Portugal, mas não podemos concordar e aceitar os traçados propostos, pois são demasiado penalizadores para uma região de passado, presente e futuro, como é a Bairrada”.