Sovina Tempo Wild Ale é a nova cerveja de Touriga Nacional

Sovina Tempo

A Sovina, marca de cerveja do Esporão, lançou uma cerveja da gama Tempo, em parceria com a Quinta dos Murças (propriedade duriense do grupo) e a Mikkeller Baghaven. A nova Sovina Tempo Wild Ale (p.v.p. €8,5) foi feita com uvas da casta Touriga Nacional, da Quinta dos Murças, para ser, segundo a marca, “apreciada com […]

A Sovina, marca de cerveja do Esporão, lançou uma cerveja da gama Tempo, em parceria com a Quinta dos Murças (propriedade duriense do grupo) e a Mikkeller Baghaven. A nova Sovina Tempo Wild Ale (p.v.p. €8,5) foi feita com uvas da casta Touriga Nacional, da Quinta dos Murças, para ser, segundo a marca, “apreciada com tempo”.

“As Sovina Tempo exploram os limites na inovação da produção de cerveja. Neste projecto, todos os pormenores contam, com longo tempo de maturação, procurando encontrar sinergias com o universo Esporão, fazendo uso da liberdade criativa para lançar cervejas únicas”, explica a empresa.

Lourenço Charters, responsável de enologia e viticultura da Quinta dos Murças, lembra que “durante a vindima 2022, após prova de vários vinhos e cervejas, chegou-se ao perfil aromático desta Tempo, carregada da fruta vermelha viva que a casta Touriga Nacional oferece”.

Depois de vindimadas à mão, as uvas de Touriga Nacional foram adicionadas a um mosto simples de malte “pale” — trigo não maltado e lúpulo envelhecido — com o objectivo, segundo a Sovina, de “criar uma base robusta e propícia à acção de leveduras selvagens”. O envelhecimento decorreu em barrica de carvalho francês, durante seis meses.

Luís Pires, cervejeiro da Sovina, descreve a Tempo Wild Ale: “Com cor de vermelho vivo, esta cerveja apresenta notas frutadas de morango, cassis e ginja. A complexidade das uvas, e da fermentação selvagem, dá-lhe um toque terroso e um perfil tânico e silvestre. Uma Wild Ale com um final suave e frutado”.

Touriga Nacional: Orgulho Nacional

Prova Touriga Nacional

Da “casta mais plantada nos contrarrótulos” de meados dos anos 90, a Touriga Nacional tornou-se a mais emblemática casta portuguesa. A área de vinha de Touriga Nacional não pára de aumentar, fazendo a poesia de contrarrótulo já não um exagero de marketing, mas sim uma verdade dita antes de o ser, uma profecia auto-realizável. Num […]

Da “casta mais plantada nos contrarrótulos” de meados dos anos 90, a Touriga Nacional tornou-se a mais emblemática casta portuguesa. A área de vinha de Touriga Nacional não pára de aumentar, fazendo a poesia de contrarrótulo já não um exagero de marketing, mas sim uma verdade dita antes de o ser, uma profecia auto-realizável. Num país tão orgulhoso das suas castas, a Touriga Nacional é a superstar, o Cristiano Ronaldo de uma selecção campeã.

Texto: Luís Antunes
Fotos: Ricardo Palma Veiga

Prova Touriga Nacional

Num país milenar de vinho, escrever a história da Touriga Nacional é escrever a história da revolução tranquila que os vinhos portugueses atravessaram nos últimos 30 anos. Relembremos a história, em jeito de um livro (adaptação em prosa de “Os Lusíadas”) que na minha infância estava em todas as bibliotecas de escola primária: “A Touriga Nacional contada às crianças e lembrada ao povo.”

Vamos lá então. Apesar de elogiada desde tempos antigos, mesmo antes da praga da filoxera (a partir de c.1860), como capaz de produzir grandes vinhos, a Touriga Nacional era até há pouco tempo uma casta com pouquíssima expressão em todo o Portugal. Quando no final dos anos 80 o vinho de mesa português começou a revolução que hoje nos orgulha a todos, poucos falavam de castas, quanto mais de Touriga Nacional. Claro que no mundo do vinho tudo é lento, e para que apareçam vinhas a dar vinhos estremes de Touriga Nacional, com qualidade de topo, as plantações têm de ter ocorrido anos antes, por vezes décadas antes. Para que vejamos como no mundo do vinho tudo é lento e ainda misterioso basta revermos a recente entrevista televisiva do experiente jornalista e apreciador de vinhos Miguel Sousa Tavares ao experiente crítico e produtor de vinhos Pedro Garcias: quando Miguel lhe perguntou o que é afinal uma casta, Pedro pouco mais fez do que gaguejar. Uma casta?!… Ora, na verdade não é fácil sem ir ao Lineu. Mas com um exemplo é evidente para todos: maçã Reineta, maçã Golden Delicious, maçã Royal Gala, tudo castas, variedades, cultivares (de “cultivated varieties”). Ok? Bora lá, então. Siga.

Voltemos ao ano de 1995. Nesta colheita apareciam os primeiros vinhos comercializados de Touriga Nacional, e os apreciadores prestavam atenção. Álvaro de Castro, um dos pioneiros do Novo Dão, contou-me que andou nas vinhas velhas a colher o Tourigo (nome local da casta, como há muitos outros noutros locais, Preto Mortágua na Bairrada, Tourigão no Douro) escolhendo-a de cepa em cepa. O Dão será a região de origem desta casta, sabe-se hoje pela maior variabilidade genética, e também o sítio onde ela se terá adaptado melhor ao terroir. O sucesso destes vinhos levou a uma aposta cada vez maior dos produtores na Touriga Nacional. De repente, todos os vinhos continham Touriga Nacional, foi a fase do contrarrótulo. Dizia-se na altura que haveria menos de 1% de área de vinha com Touriga. Mas os números do IVV de 2018 já mostram mais de 13 mil hectares, um total de 7% das plantações de vinha, o que é um aumento extraordinário em apenas 20 anos. Note-se que apenas há 5 anos, o mesmo relatório assinalava 8 mil hectares, 3.7% da área total.

Para esta aposta, muito contribuiu a selecção de clones. Os clones antigos eram muito dados a doenças, que contribuíam para uma baixíssima produção. Com a selecção clonal, os níveis de produção, subiram, mas para Álvaro de Castro, os clones antigos ainda são os que dão os melhores vinhos. Com esta ideia concorda Manuel Lobo Vasconcelos, enólogo da Quinta do Crasto no Douro, bem como de outros projectos da sua família no Tejo e Alentejo. Apesar de na zona da Quinta do Crasto se poderem encontrar algumas das primeiras vinhas monovarietais de Touriga Nacional, plantadas nos anos 1960, Manuel não usa essas uvas para o extraordinário varietal de Touriga que faz no Crasto, prefere de longe as uvas dos chamados PEDRITMs, vinhas plantadas em 1985-86 por Nuno Magalhães, com selecção massal, o que preserva mais material genético antigo. O Quinta do Crasto Touriga Nacional sai assim destas duas parcelas de cerca de 5ha, que produzem apenas 8 a 9 mil garrafas por ano, e nem todos os anos alcança a qualidade que o produtor exige.

Prova Touriga Nacional

A Touriga é uma casta que sabe ser amiga na vinha e recompensadora na adega. Mas também sabe ser caprichosa. Álvaro e Manuel numa coisa concordam: tudo tem de ser bem feito. Na vinha, a variedade tem de estar plantada no sítio certo, já que a Touriga sofre com exposições muito agressivas. Estas duas parcelas do Crasto estão viradas uma a Nascente e outra a Norte, o que evita exposições excessivas. Quando exposta a Sul, em anos quentes as videiras sofrem muito, as folhas basais desaparecem e o vinho fica rústico, estruturado, mas sem elegância.

Uma peça-chave é a marcação da data de vindima, para assegurar equilíbrio entre a acidez e o pH. Nos anos em que se consegue o equilíbrio perfeito, os vinhos têm fruta preta, muito bem definida e focada, e um lado de grande frescura. Também no Crasto o primeiro TN foi de 1995, mas houve poucas garrafas, depois 1999, 2001, 2004, e desde então com mais regularidade. Este equilíbrio entre acidez total e pH fazem com que o vinho envelheça lindamente em garrafa, assegura Manuel Lobo. Com sobre-extracção, o vinho morre. Manuel faz uma primeira pisa em lagar, e depois finaliza o vinho em cuba de inox refrigerada, com um controle rigoroso da cinética fermentativa, em particular cuidando da nutrição das leveduras. Quando o vinho reduz não se consegue recuperar os aromas elegantes. Fundamental também é selecionar as melhores barricas, tem de se encontrar a barrica que não vai matar o vinho. Na Touriga por vezes falta um pouco de meio de boca, e a barrica ajuda a construir a sensação de continuidade na boca, de modo a o vinho não secar no final. Em resumo, para Manuel Lobo, os principais pontos são a viticultura, a barrica, e não dormir na vindima, já que tudo tem de ser perfeito, uma remontagem a mais pode estragar o vinho.

Nos anos de construção da febre da Touriga Nacional, chegou a haver entre os apreciadores alguma quase rejeição da casta, já que alguns vinhos mostravam uma exuberância aromática tão impressionante que se poderia tornar cansativa. Essa exuberância resultava de vários factores, fossem as vinhas novas a dificultar a maturação perfeita e a gerar uma ênfase no lado cítrico (bergamorta), fosse a própria juventude dos vinhos, já que com algum estágio em garrafa eles se acalmavam e ofereciam um lado mais sério. Mas se uns provadores rejeitavam esse lado festivo da casta, outros agradeciam-no, já que ele dava aos vinhos um apelo imediato e um reconhecimento de um carácter varietal que não era normal nos vinhos portugueses, tradicionalmente feitos com lotes de várias castas. Aliás, no Douro, e ainda segundo Manuel Lobo, a Touriga Nacional sempre será uma grande casta de lote, em particular na mágica parceria com a Touriga Franca (que agora já se pode chamar, de novo, Francesa), que tem acidez baixa e pH alto. A Nacional aporta sempre aquela frescura tão necessária para dar equilíbrio aos vinhos.

Prova Touriga Nacional

Frescura não é o problema dos vinhos do Dão, apesar de por vezes se verem alguns graus alcoólicos tão elevados que dão razão a Álvaro de Castro quando diz que durante uns anos o Dão andou a tentar fazer Douro, enquanto o Douro tentava fazer Dão. Se durante anos o peso da região de origem era marcante em relação ao peso da casta dos vinhos, pouco a pouco isso esbateu-se. Álvaro faz o seu Carrocel com Touriga Nacional de várias parcelas, mas prefere sempre os vinhos de lote, embora obviamente no Dão a Touriga tenha sempre um grande peso no lote, mas isso começa logo na vinha. Para Álvaro, se é verdade que a Touriga está agora na sua fase madura, ela é apenas “mais uma” casta, Portugal é um país de lotes. É verdade que de algumas castas se pode fazer vinho estreme, e a Touriga é uma delas. Mas os lotes que começam na vinha, com muitas castas, funcionaram bem em muitos sítios. A Touriga, com as dificuldades que traz na vinha e na adega, exige que tudo seja bem feito. Álvaro diz que nunca viu uma videira de Touriga com excesso de produção, principalmente as de clones antigos. Até em cima de fontes de água nunca produzem demais. Nos clones antigos, pelo contrário, a dificuldade é a irregularidade na produção, na floração pode perder-se toda a produção. Nos primeiros vinhos que produziu, Álvaro teve bastantes problemas com a dekkera, o famoso brett. A Touriga Nacional é naturalmente rica em ácidos que favorecem o desenvolvimento da dekkera, ou brettanomyces, bactérias que dão ao vinho um aroma desagradável, por vezes chamado suor de cavalo. Depois de anos de experiência e com o aumento do conhecimento científico, esse problema está agora bastante controlado. Uma solução mais fácil é a filtração apertada do vinho, mas para evitar rapar o vinho, Álvaro defende que é preferível usar sucessivas e cuidadosas passagens a limpo (trasfegas), já que é junto das borras que as bactérias estão mais presentes. Em geral, Álvaro prefere fazer a Touriga Nacional em lagares, ou cubas abertas, e de modo geral com pouca tecnologia. Em cubas mais sofisticadas o vinho resulta mais intenso, mais redutor, e caminha tudo no sentido da extracção.

Nesta prova de mais de 40 vinhos, apareceu ocasionalmente um tracito de brett, mas nada que me chocasse. Como em tudo, há provadores mais sensíveis a uns defeitos do que a outros, e grosso modo, achei os vinhos bastante limpos. Também fiquei agradavelmente surpreendido por vários outros factores. Não encontrei, nem em vinhos muito jovens, exuberâncias excessivas, vinhos com explosão aromática que quase pareciam cocktails de frutas. Nada disso, sempre vinhos sérios, e em todas as faixas da ampla gama de preços convocada neste prova. Encontrei ainda bastante contenção do lado alcoólico, prova de que pouco a pouco os excessos de todo o tipo estão a recuar, e os vinhos apresentam-se hoje como bons companheiros à mesa, não como cúmplices da GNR no caça-multas. Houve vinhos muito jovens e outros já com alguma idade, e em todos, com excepções raras, encontrei muita saúde e equilíbrio, provando que os méritos propalados da casta não eram só fogo de palha, e os vinhos realmente mostram as qualidades que há décadas vêm fazendo de advogados da casta, e da casta como uma das estrelas para vinhos mono-varietais. Vinhos fragrantes, joviais, muito frescos, com cores bonitas e boa fruta, na boca estruturados, com corpo, acidez e taninos em sintonia, muito vinosos, muito gastronómicos, sempre a pedir um prato consistente da nossa cozinha tradicional. Se quase todos os vinhos iriam crescer com mais tempo em garrafa, mesmo nas excepções que não seriam de abrir já, a vontade de o provar e um prato adequado podem fazer a harmonização já hoje, e com grande prazer. É verdade que são tradicionalmente raros os vinhos tintos estremes, com evidente excepção da super-localizada Baga na Bairrada. Mas com a Touriga Nacional, vemos uma casta de grande universalidade, capaz de produzir grandes vinhos em todos os sítios onde ela é plantada, evidência mais forte agora que o binómio viticultura-enologia recebeu o seu alimento preferido: tempo. Com vinhas adultas e mais experiência, os resultados estão à vista. Touriga, és o Orgulho Nacional.

(Artigo publicado na edição de Junho 2021)[/vc_column_text][vc_column_text]

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Plansel vai celebrar Touriga Nacional com prova vertical

No dia 5 de Março, a Quinta da Plansel irá organizar uma prova vertical de Touriga Nacional (prova com vários anos de colheita), nas sua propriedade de Montemor-o-Novo, a Quinta de São Jorge. Esta prova, aberta ao público mediante inscrição prévia, a custar €90, tem o objectivo de mostrar a expressão da casta naquele sítio […]

No dia 5 de Março, a Quinta da Plansel irá organizar uma prova vertical de Touriga Nacional (prova com vários anos de colheita), nas sua propriedade de Montemor-o-Novo, a Quinta de São Jorge.

Esta prova, aberta ao público mediante inscrição prévia, a custar €90, tem o objectivo de mostrar a expressão da casta naquele sítio do Alentejo. Serão colheitas da casa, desde 2009 a 2015, sendo a primeira vez que a empresa compõe uma prova deste género. Para harmonizar, estará incluído um jantar tradicional alentejano.

A reservas podem ser feitas através do e-mail quintadaplansel@plansel.com e do telefone 266 898 920.

A Touriga que é Nacional

A Touriga Nacional é uma casta de grande personalidade, capaz de produzir todo o tipo de vinhos – desde espumantes de alta qualidade até Vinhos do Porto. É expressiva, com muita frescura aromática, numa fina elegância que integra os traços inconfundíveis de violeta, bagas e citrinos de bergamota. Mesmo tendo o carácter varietal bem definido, […]

A Touriga Nacional é uma casta de grande personalidade, capaz de produzir todo o tipo de vinhos – desde espumantes de alta qualidade até Vinhos do Porto. É expressiva, com muita frescura aromática, numa fina elegância que integra os traços inconfundíveis de violeta, bagas e citrinos de bergamota. Mesmo tendo o carácter varietal bem definido, deixa transparecer o terroir, a abordagem enológica e até o estilo do produtor, sem perder a sua identidade. Nesta prova de 50 vinhos de Touriga Nacional, a grandeza e versatilidade da casta ficaram bem evidentes.

TEXTO Valéria Zeferino FOTOS Ricardo Gomez

A casta tinta mais nacional nem sempre foi apelidada como tal. Ao longo da sua existência teve muitas sinonímias em várias zonas do país – Tourigo e Touriga, Tourigo Fino e Touriga Fina, Mortágua, Preto Mortágua e até Azal. Considera-se que, precisamente, os nomes Tourigo e Mortágua indicam a origem da casta, ligando-a à região do Dão, onde existem duas localidades com o mesmo nome. De acordo com o Estudo de Ampelografia Portuguesa de 1865, a Touriga era de longe a casta mais plantada no Dão antes da filoxera.
As primeiras referências do seu cultivo surgem em 1790 por Lacerda Lobo e em 1791 é Rebelo da Fonseca que a caracteriza como “uma casta produtiva e de maturação precoce”. Vis¬conde de Villa Maior em 1865 elogia a Touriga, dizendo que “é excelente e dá vinho muito coberto, resiste ao oídio (…)”.
Em 1900, Cincinato da Costa referiu a variedade no seu monumental O Portugal Vinícola como “casta tinta de valor, geralmente aprecia¬da em todo o norte do país pelo grande rendimento que dá e a superior qualidade dos vi¬nhos que origina.” Dizia ainda que na região da Beira e em especial entre os rios Mondego e o Dão, “os vinhedos têm um cunho muito característico e são justamente afamados, é a Touriga a casta predominante (…)”.

O potencial enológico da Touriga Nacional foi com¬provado, o que não só a salvou da extinção, como fez dela o primeiro objecto de investigação clonal aprofundada em Portugal, que permitiu identificar do universo de 197 clones os melhores em termos de resistência a doenças, rendimento, açúcar, acidez etc.
O combate da filoxera obrigou o uso de porta¬-enxertos americanos, resistentes ao insecto malicioso. Esta medida, embora tenha resolvido o problema da praga, não foi particularmente acertada no caso da Touriga Nacional, reduzindo drasticamente a sua produtividade. A casta, com “muita parra e pouca uva”, passou de bestial a besta no meio dos viticultores, pois o rendimento baixíssimo (menos de 800 gramas por planta) não era comercialmente viável.
A recuperação da fama foi lenta e só aconteceu a partir de meados do século passado graças aos estudos de Gastão Taborda no Douro nos anos 50 (continuados posteriormente por José António Rosas e João Nicolau de Almeida) e Alberto Vilhena no Dão dos anos 60. O potencial enológico da Touriga Nacional foi com¬provado, o que não só a salvou da extinção, como fez dela o primeiro objecto de investigação clonal aprofundada em Portugal, que permitiu identificar do universo de 197 clones os melhores em termos de resistência a doenças, rendimento, açúcar, acidez etc.

ADAPTÁVEL MAS COM MUITA PERSONALIDADE

A Touriga dá-se bem em todos os tipos de solos, mesmo pesados e férteis. Continua a ser uma casta com vigor vegetativo notável e tem porte retumbante, crescendo para os lados, o que exige mais trabalho na vinha e pode causar danos físicos à planta em condições de ventos fortes. Para além do baixo rendimento, a Touriga Nacional ainda tem a tendência para o desavinho e a bagoinha, com abrolhamento e floração precoce, problemas que podem acentuar-se nas condições climáticas adversas na primavera. Actualmente, com conhecimento adquirido, é possível controlar o vigor e o rendimento através de clones e porta-enxertos apropriados e da poda correcta conforme as condições.
A Touriga Nacional amadurece algo tarde, sendo uma casta de ciclo longo, cujo amadurecimento completo às vezes pode ser comprometido pelo frio e chuvas de outono. Produz cachos pequenos de cerca de 100-200 gramas, raramente atingindo 250 gramas. Os seus pequenos e relativamente soltos bagos possuem uma película bastante grossa que é rica em polifenois e protege o bago do sol e do calor. É uma autêntica trabalhadora, resiste bem ao calor e continua a fazer fotossíntese até a última graças à elevada eficiência do uso da água. Entretanto, o stress hídrico tem que ser controlado, sobretudo quando combinado com calor excessivo. Nestas condições, a Touriga é sensível ao escaldão das folhas e tem tendência a livrar-se delas, expondo os cachos ainda mais ao sol.

N’O Portugal Vinícola, a Touriga é referida como uma casta aneira que produz muito num ano para dar pouco noutro. O enólogo Manuel Vieira (Caminhos Cruzados) não a considera aneira do ponto de vista enológico e é até bastante regular em termos qualitativos: não varia do óptimo para péssimo, antes oscila entre óptimo e muito bom ou bom. Tinta Roriz e Alfrocheiro, neste aspecto, são mais aneiras, diz Manuel Vieira. Mas o factor ano acaba por ser importante quando se quer fazer um vinho varietal de grande qualidade, repara o enólogo da Quinta do Crasto, Manuel Lobo. Como diz, e bem, Pedro Rodrigues, da Quinta dos Termos, a Touriga Nacional dá o que toda a gente quer: cor, álcool, tanino, acidez e um aroma atraente.
É uma casta terpénica pela concentração elevada de terpenos livres, responsáveis pelos aromas florais e frutados que, curiosamente, são mais intensamente encontrados sobretudo em variedades brancas como Moscatel, Gewurztraminer, Viognier ou Alvarinho.
A Touriga ainda é particularmente rica em norisoprenóide beta-ionona, associado ao aroma de violeta. Conforme os estudos do Instituto Superior de Biotecnologia, a concentração deste composto diminui com a presença de oxigénio, o que explica porque os aromas de violeta são mais evidentes quanto menos barrica se usa na vinificação.

Sabe-se também que a nossa Touriga é atreita a desenvolver fenóis voláteis (o desagradável aroma de suor de cavalo) por ter grande teor de ácido ferúlico e cumárico, utilizados no metabolismo de brettanomyces. Se, ainda por cima, o vinho for estagiado em barricas novas que mais rapidamente absorvem o sulfuroso, é preciso um controlo redobrado.
A Touriga funciona bem nos vinhos de entra¬da de gama por ter um aroma imediatamente atractivo e ser naturalmente muito equilibra¬da. Mas existem Tourigas que evoluem muito bem. Manuel Lobo atribui à Touriga uma longevidade média, já Graça Gonçalves afirma que na Quinta do Monte D’Oiro tem Tourigas de 2004 e estão óptimas, e Manuel Vieira lembra-se de provar no final dos anos 80 as mini-vinificações de Touriga Nacional feitas nos anos 50 pelo Eng.º Vilhena em Nelas, que estavam de perfeita saúde.

A TOURIGA E A BARRICA

“Touriga é uma casta muito plástica, capaz de dar vinhos bem diferentes uns dos outros. Sem barrica dá vinhos elegantes, mas também tem especial apetência pela barrica, não se deixa comer pela madeira. Tem personalidade, é uma casta criativa.” – defende Manuel Vieira. O enólogo costuma fazer maceração pré e pós-fermentativa, ao que Touriga responde bem. Utiliza barricas de primeiro, segundo e terceiro ano, prefere tosta média, mas varia o nível de tosta para fazer um lote final.
Já Manuel Lobo indica que a casta não tem muito tanino, comparativamente com a Tinta Roriz ou Touriga Franca. Às vezes falta-lhe um pouco de dimensão e de persistência e não tem camadas como algumas outras castas. Precisa de madeira para lhe conferir algum tanino, mas prefere barricas com porosidade apertada e não gosta de tosta muito elevada.
Graça Gonçalves menciona que a Touriga Nacional se porta muito bem na fermentação alcoólica, costuma ser a mais rápida a atingir o pico, por isto é necessário um bom arrefecimento na vinificação. Tem uma cor fabulosa, mas perde-a com alguma facilidade por não ter muito tanino a fixar antocianinas. Prefere Touriga em barricas usadas, mas utiliza 30% de barrica nova com tosta média.
Na Quinta dos Termos opta-se por um lote de barricas de carvalho francês e húngaro. Pro¬curam “não matar a frescura”. Utilizam madeiras com tempo de secagem longo (8 anos) pela convicção que é preferível do que usar uma barrica velha com poros saturados, ex¬plica Pedro Rodrigues.
Bernardo Cabral, enólogo da Companhia das Lezírias, afirma que quando é feito um bom trabalho de campo, a Touriga equilibra-se bem na adega. Não gosta de utilizar carvalho americano, que mascara a personalidade da Touriga Nacional, ao contrário do carvalho francês que eleva a casta. E sempre tem uma parte sem barrica para compor o lote final.
Na opinião do enólogo e produtor António Maçanita é o perfil aromático que define a casta, por isto não utiliza barrica para preservar a pureza dos aromas varietais. “É mais difícil fazer uma grande Touriga de concentração do que uma Touriga igual a si própria. Não vale a pena forçar. Há outras castas para potência”, refere.

MANTENDO O CARÁCTER REGIONAL

O terreno do Douro com um número infinito de exposições multiplicadas por diversas altitudes permite fazer um lote de vinhas como, por exemplo, acontece na Quinta do Crasto. Utilizam uvas oriundas das três vinhas com exposições diferentes: uma virada a nascente, outra a sul e a terceira apanha um pouco de exposição norte. As vinhas ficam à altitude de cerca de 300m, que parece ser a ideal, por¬que estão afastadas dos calores das cotas baixas, mas sem comprometer a maturação. Como as vinhas não são rega¬das, é importante que em baixo do xisto, a um metro de profundidade, exista argila que retém água do inverno.
No mais húmido Dão, a resistência da casta às chuvas é um requisito importante. Manuel Vieira explica que a película da Touriga Nacional é bastante elástica e não deixa o bago rebentar quando incha, como acontece com Alfrocheiro. A Touriga Nacional do Dão tem frescura, equilíbrio e complexidade. Os aromas raramente chegam a lembrar fruta em compota. O clássico aroma ao citrino bergamota é para Manuel Vieira associado a pouca maturação.
António Maçanita trabalha com Touriga Nacional em duas regiões. No Alentejo, inicialmente andava à procura da concentração na Touriga. Em 2015 ficou impressionado com o seu perfil aromático (pétalas de rosas, flor de laranjeiro), quando vindimada mais cedo.

A partir daí privilegia a elegância à concentração. No Douro, a sua Touriga do Cima Corgo também só estagia em inox para acentuar os aromas, mas a do Douro Superior tem mais consistência e estrutura, por isto já utiliza alguma barrica.
Segundo Pedro Rodrigues, na Beira Interior a Touriga demora muito a amadurecer, sendo geralmente das últimas a ser colhida. A acumulação de açúcares não acontece rápido, por isso tem tempo para desenvolver os aromas. Mesmo que chova não há problema, porque resiste à chuva. Considera que o factor ano é importante para o perfil do vinho monovarietal. Em 2016 conseguiram o perfil que tanto procuravam – leve, elegante e aromático.

A TOURIGA E O CONSUMIDOR

Nas lojas de vinhos nacionais os consumidores, normalmente, não procuram os vinhos pela variedade, diz Vanessa Neves da garrafeira Empor Spirits & Wine em Lisboa, mas quando se sugere a Touriga Nacional a maioria reconhece e valoriza a casta. Ivone Ribeiro, a proprietária da garrafeira Garage Wines em Matosinhos, nota que há algum interesse pelos monovarietais, quando o consumidor vai à procura da essência das castas. Alguns grupos de clientes até se juntam para provar, por exemplo 10 Tourigas diferentes.
Ambas apontam que a casta funciona sempre bem como opção de oferta. Os Tourigas estruturados e com madeira normalmente impressionam, mas os consumidores mais “exigentes” ou com mais conhecimento de marcas e estilos procuram Touriga mais fresca e elegante.
Mesmo tendo muito orgulho na nossa Touriga Nacional, temos que ter noção que para maioria dos consumidores estrangeiros a casta continua uma ilustre desconhecida. Marco Alexandre – diretor do Table Group com 8 restaurantes no centro de Lisboa, onde 95% da clientela é internacional, afirma que os estrangeiros procuram mais aquilo que conhecem – Sauvignon Blanc, Chardonnay e Cabernet Sauvignon. Mas aceitam provar um vinho de Touriga Nacional quando é sugerido e normalmente gostam.
Inegável é o facto de que, entre as mais de 250 castas portuguesas, a Touriga Nacional é a variedade tinta que possui mais notoriedade e imagem mais consolidada entre os enófilos e os profissionais. O ritmo de crescimento da Touriga nas novas plantações é o reflexo disso mesmo. E lá fora, é quase sempre a casta bandeira do país, autêntica embaixadora quando se fala de vinhos de Portugal. Elegante, personalizada, impositiva, exuberante (demasiado, por vezes), a Touriga Nacional não deixa ninguém indiferente.

Cada vez mais plantada
Em 1989 (há 30 anos) a Touriga Nacional nem sequer fazia
parte das 15 castas mais plantadas de Portugal, ou seja,
representava menos de 1% dos encepamentos nacionais
(na altura a lista era liderada por Fernão Pires, Castelão e
Baga com 9, 8 e 5% respectivamente).
De acordo com os dados mais recentes do Instituto da
Vinha e do Vinho, a Touriga Nacional subiu ao terceiro lugar
(a seguir a Aragonez e Touriga Franca) e ocupa 13.032 ha, o
que corresponde a 7% da plantação nacional. A maior área
da Touriga está no Douro – 4.524 ha. No Dão é a 2ª casta
mais plantada, a seguir à Jaen, com 3.191 ha. No Alentejo
ocupa 1.313 ha, em Trás-os-Montes 1.169 ha, ficando as
Beiras (Bairrada + Beira Interior) com 930 ha, a região de
Lisboa com 646 ha e o Tejo com 504 ha.

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Edição Nº25, Maio 2019

Top Touriga Nacional | Maio 2019

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text] Porque uma Boa Escolha dá sempre um grande gozo, aqui ficam 7 tintos provados em Maio que mereceram o nosso selo Boa Escolha 2019. São 7 Boas Escolhas da casta maravilha – Touriga Nacional! *Selo atribuído […]

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Porque uma Boa Escolha dá sempre um grande gozo, aqui ficam 7 tintos provados em Maio que mereceram o nosso selo Boa Escolha 2019.

São 7 Boas Escolhas da casta maravilha – Touriga Nacional!

*Selo atribuído aos vinhos com a melhor relação preço/qualidade.

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Veja mais em Pesquisa de Vinhos

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Caminhos Cruzados aposta na viticultura biológica

A empresa do Dão sempre investiu na prossecução de um caminho moderno e sustentável para o seu projecto. Agora, é tempo de iniciar o processo de reconversão de vinhas, processo esse que começa com uma parcela de Touriga Nacional. Lígia Santos, administradora da Caminhos Cruzados, declarou: “Este investimento surge naturalmente com o crescimento da empresa, […]

A empresa do Dão sempre investiu na prossecução de um caminho moderno e sustentável para o seu projecto. Agora, é tempo de iniciar o processo de reconversão de vinhas, processo esse que começa com uma parcela de Touriga Nacional.

Lígia Santos, administradora da Caminhos Cruzados, declarou: “Este investimento surge naturalmente com o crescimento da empresa, e escolhemos a vinha de Touriga Nacional por ser também um símbolo do Dão, para dar início a este processo de transformação. Esta é uma mudança muito significativa para nós e apesar de pequena, marca o início de um caminho que queremos percorrer nos próximos anos e preparar para as gerações vindouras. No ano em que nasce o primeiro elemento da próxima geração da Caminhos Cruzados, não há melhor presente do que dar os primeiros passos na preparação de um futuro mais duradouro e sustentável”.

Trata-se de um hectare, localizado em frente à adega em solo granítico, onde foram plantadas 4200 videiras, a uma altitude de 470m, que será reconvertido durante três anos.