Barcos Wines: A Revolução do Loureiro
Se, há uns anos, por uma questão de justiça e equidade, a, até então, Adega Cooperativa de Ponte da Barca consagrou na sua designação social a sua vila contígua, Arcos de Valdevez, hoje, por força da importância dos mercados externos e de uma comunicação mais fluída e perceptível, a cooperativa assume o “naming” de Barcos […]
Se, há uns anos, por uma questão de justiça e equidade, a, até então, Adega Cooperativa de Ponte da Barca consagrou na sua designação social a sua vila contígua, Arcos de Valdevez, hoje, por força da importância dos mercados externos e de uma comunicação mais fluída e perceptível, a cooperativa assume o “naming” de Barcos Wines. Com 36 mercados externos onde coloca os seus vinhos, a Barcos Wines foca-se cada vez mais numa missão de internacionalização, assumindo-se como uma instituição de vertente essencialmente exportadora, colocando o nome Vinho Verde nos quatro cantos do mundo. Uma aposta que o Director Geral, José Antas Oliveira, reputa de muito positiva, contribuindo para a notoriedade do produto e da Adega.
Fundada em 1963, a cooperativa tem como associados os agricultores de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, contribuindo, cada uma destas povoações, equitativamente e em percentagens idênticas com as uvas que elaboram os seus vinhos.
Num território de minifúndio, a Adega possui cerca de 800 associados, os quais representam 900 hectares de vinha em produção de uva. A média por agricultor não ultrapassa o hectare e meio. Uma realidade que se vem alterando perante uma nova visão de obtenção de maior rentabilidade da vinha. O crescente abandono da actividade por agricultores mais idosos tem levado à alienação dessas propriedades a produtores mais jovens e profissionais, que concentram agora propriedades mais extensas, diminuindo custos e aumentando os rendimentos. São estes novos produtores, com áreas que podem ultrapassar os seis hectares, que representam o futuro do Vale do Lima e a maior profissionalização dos procedimentos da Adega. A última década trouxe também uma política sistemática de valorização do preço pago pela uva, sobretudo motivada pelo aumento substancial dos custos de produção e pelo incentivo à continuidade da atividade económica, através da angariação de novos viticultores. Neste campo, o contributo do departamento de viticultura da Adega tem sido fundamental, quer no acompanhamento às novas plantações, com submissão dos projetos VITIS, quer no aconselhamento na escolha das videiras a plantar, análise de solos ou definição das melhores exposições solares na plantação. As próprias videiras são adquiridas na Adega, seguindo um critério de escolha prévio feito pelo departamento de viticultura. Essa definição conjunta da planificação tem dado bons frutos. No âmbito dessa cooperação de proximidade, e só nos últimos 10 anos, a Adega submeteu ao VITIS mais de 500 hectares de vinha a plantar.
Num território de minifúndio, a Adega possui cerca de 800 associados, que representam 900 hectares de vinha. Os vinhos brancos representam cerca de 80 a 85% da produção, cabendo 10% a rosados e apenas 5% aos vinhos tintos.
Loureiro “on”, Vinhão “off”
Há actualmente um fenómeno paradigmático e que representa uma mudança significativa do encepamento que, não obstante a maior rentabilidade económica, está a causar o definhamento daquela que já foi a casta mais importante do Vale do Lima, Vinhão.
Sabemos pela história que o Vinhão, nos séculos XVIII e XIX, dominava a paisagem vinhateira e representava o grosso das exportações, sobretudo para o Reino Unido. O director geral e responsável de enologia, José Antas de Oliveira, não precisa ir tão longe e recorda que, ainda há 20 anos, as castas tintas eram maioritárias na sub-região, com as brancas a terem uma expressão menor. Hoje, os vinhos brancos na Adega representam cerca de 80 a 85% da produção, cabendo 10% à produção de rosados e apenas 5% aos vinhos tintos. Dir-se-á que é a procura que demanda as regras e, nesta cooperativa virada para o exterior, é a crescente busca de vinhos brancos leves e frescos que define, não apenas as estratégias da Adega, mas igualmente de todo o Vale do Lima. Os números são claros e não permitem visões apenas emocionais: a Barcos Wines exporta 75% da sua produção e, no primeiro trimestre do ano corrente, perante a contração do mercado nacional, o volume de exportação já subiu para os 88% da produção global. E, aqui, são os brancos quem mais ordena, seguidos ainda de longe pelos rosados que se vão impondo com uma quota ascendente.
São 6,5 milhões de unidades, entre vinho engarrafado e Vinho Verde certificado em lata, tendo a região percebido a importância destes novos formatos, criando regulamentação específica.
O futuro dos tintos
E que futuro se avizinha para o Vinhão? A preocupação existe e a consciência de que, no futuro, esta casta outrora bandeira de toda a região, pode tornar-se rara e, numa abordagem alarmista, até desaparecer do encepamento minhoto, faz soar os alarmes. O Vinhão tradicional é, cada vez mais, um lampejo do passado. De forte pendor rústico, o seu consumo cinge-se à região e a um consumidor mais velho e saudosista. Os jovens já não lhe mostram a devoção dos antigos e o seu consumo retrai-se. A Adega está consciente dessa viragem e pretende assumir as rédeas do renascimento da casta. Se o perfil tradicional não atravessa fronteiras, há que o subjugar a novas formas de vinificação que, não lhe retirando a identidade aromática e gustativa do “verde tinto”, retiram-lhe a rusticidade, subtraindo-lhe o mais intenso contacto com as películas no processo fermentativo, criando vinhos de cor menos retinta, menos extraídos, com menor teor alcoólico e, sobretudo, mais elegantes e contemporâneos. Esta nova abordagem nasce em 2017, com as referências Reserva dos Sócios Vinhão, com estágio em barricas de carvalho francês, ou o espumante Naperão Vinhão Bruto, este elaborado pelo método charmat. Esta abordagem diferenciada do Vinhão tem permitido, num contexto internacional, e perante a sua exuberância de fruta, juventude e cor mais aberta, compará-lo aos Beaujolais ou Gamay. E, é nesta perspectiva de encontrar outro modo de abordar a vinificação do Vinhão que se tentará, presente e futuramente, combater a sua cada vez menor expressão nas vinhas, encontrando nas suas potencialidades, novas formas de o preservar. Aliado a esta nova abordagem, a Adega assumiu também a responsabilidade cultural da sua preservação, aumentando o preço pago pela uva, superior ao pago pela Loureiro, como forma de incentivar o incremento da produção e desmotivando o seu arranque para produção de uvas brancas. Os dados estão lançados para assegurar o futuro desta casta cheia de autenticidade e potencial. E a Adega assume essa responsabilidade de a fazer renascer.
Contudo, o Loureiro veio para ficar e reinar. A sua elegância, a frescura dos vinhos que dela nascem, o forte pendor mineral, para além de ser “amiga” do produtor graças à sua graciosidade para produzir em quantidade e qualidade, tornam-na hoje rainha absoluta e incontestada de todo o Vale do Lima.
A espumantização na Adega já leva 8 anos, tendo-se optado pelo Método Charmat, de modo a vincar o perfil das castas e da tradição de vinhos jovens, frescos, frutados e de consumo mais rápido.
Lata, pet nat, curtimenta, premium…
A Adega tem sido um foco de pioneirismo e inovação, antecipando tendências e desbravando mercados. Actualmente produz 6,5 milhões de unidades, entre vinho engarrafado e vinho verde certificado em lata, tendo a região, e bem, percebido a importância destes novos formatos, criando regulamentação que permite a sua certificação, levando o nome “Vinho Verde” a todo o mundo. Com meio milhão de latas produzidas, a Adega vê neste segmento de negócio já não um nicho, mas uma realidade económica muito significativa nas contas. A certificação marca o compromisso inalienável com a região e é mais uma bandeira que se hasteia nos melhores mercados brasileiros e americanos, denotando-se um crescimento acentuado noutros, como a Alemanha, Polónia, Estónia ou México.
Brasil e Estados Unidos levam hoje a dianteira nos mercados preferenciais da Adega. O “país irmão” tem, nos últimos anos, liderado as exportações e, acredita a Direcção, com uma tendência de crescimento absolutamente notável.
José Antas Oliveira não deixa de salientar a vertente experimentalista e inconformada que existe nas equipas de viticultura e enologia que lidera. A potenciação do Loureiro, nos últimos 10 anos passou não apenas pelo cada vez maior conhecimento e rigor técnico no volume, mas igualmente pela séria aposta no segmento Premium. Do pensamento ao acto foi apenas um piscar de olhos. Hoje o Loureiro veste-se com diferentes roupagens e surge em versões espumantizadas, nos Pet Nat, em vinhos com maceração pelicular ou vinhos de curtimenta. Dentro desta vertente experimental, surgem também os diferentes estágios em madeira, utilizando diversos materiais – carvalho, castanho português e acácia – com resultados distintos, revelando a plasticidade da casta e, também, o seu potencial de longevidade com imensa qualidade e sem perda de singularidade e distinção. Não obstante a Adega privilegiar o volume, a robustez financeira tem permitido criar produtos diferenciados, em pequena escala, também eles destinados a nichos, até agora, com pleno sucesso, aportando maior notoriedade à Cooperativa e permitindo-lhe reforçar as posições nos mercados internacionais habituais e, ao mesmo tempo, entrar em novos e mais exigentes espaços.
A espumantização na Adega já leva oito anos, tendo-se optado pelo Método Charmat de modo a vincar o perfil das castas e também as práticas tradicionais da região de criar vinhos mais jovens, mais frescos, frutados e de consumo mais rápido. A identidade da Sub-Região, que dá os primeiros passos na produção de espumantes, passa pelos monovarietais de Loureiro e Vinhão. A categoria espumante já representa entre 20 a 30 mil garrafas de venda anual, e com foco no mercado nacional, sendo um segmento que está em crescimento e que pode ser mais uma alternativa na afirmação da versatilidade desta Adega que já completou 60 anos desde a sua criação.
A dinâmica de criatividade e sensibilidade ao futuro próxima está solidamente reflectida na Adega. Necessidades dos mercados, lançamento de novos produtos, antecipação de tendências, de hábitos de consumo, nomeadamente, de redução do teor alcoólico dos vinhos e redução da pegada ecológica, são constantes do seu quotidiano. Entretanto, e porque o mundo continua a girar a uma velocidade estonteante, a Adega continua a realizar investimentos avultados, mantendo-se na linha da frente da inovação e vanguarda que a tornam ponta de lança da valorização e promoção do verdejante território do Vale do Lima.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2024)
Granvinhos adquire Quinta de S. Salvador da Torre nos Vinhos Verdes
A Granvinhos anunciou a ampliação da sua presença noutras regiões vitivinícolas do país, com a aquisição de uma propriedade de 37 hectares na região dos Vinhos Verdes, a Quinta de S. Salvador da Torre. Este investimento foi, segundo a empresa, resultado de meses de negociações com o Grupo Soja de Portugal, ao qual a Granvinhos […]
A Granvinhos anunciou a ampliação da sua presença noutras regiões vitivinícolas do país, com a aquisição de uma propriedade de 37 hectares na região dos Vinhos Verdes, a Quinta de S. Salvador da Torre. Este investimento foi, segundo a empresa, resultado de meses de negociações com o Grupo Soja de Portugal, ao qual a Granvinhos comprou a Agromar S.A., que detém a Quinta de S. Salvador da Torre, no Vale do Lima, concelho de Viana do Castelo.
A Quinta de S. Salvador da Torre, também conhecida como Quinta de Santo Isidoro, localiza-se na margem direita do rio Lima e tem mais de 400 anos de existência. “Uma propriedade agrícola impressionante, com uma casa senhorial datada de 1685”, revela a Granvinhos. Com 30 hectares de vinha, das castas Loureiro e Alvarinho, a quinta beneficia, segundo a Granvinhos, da brisa marítima característica do Vale do Lima, apresentando condições edafo-climáticas excepcionais.
A Granvinhos manterá o modelo de exploração desta propriedade dos Vinhos Verdes, em parceria com o enólogo Anselmo Mendes, que já era adoptado pela Agromar. Concretiza-se, assim, o primeiro projecto conjunto entre o enólogo e o director-geral da Granvinhos, Jorge Dias, alavancado por uma amizade de mais de 30 anos. Juntos pretendem explorar o potencial da casta Loureiro e a localização privilegiada da quinta, trabalhar na requalificação patrimonial da propriedade e, previsivelmente em 2024, lançar um novo vinho Loureiro.
“Acredito no futuro do Vinho Verde, em particular das castas Alvarinho e Loureiro, produtos bem-adaptados aos novos tempos e hábitos de consumo. No entanto, é necessário valorizar a ligação desses vinhos às respectivas zonas de produção, bem como à dieta atlântica, na qual Portugal tem uma oferta única”, afirma Jorge Dias.
Sugestão: Loureiro, a rainha do Lima
São várias as castas de uva que proliferam no Minho. Umas são bem conhecidas de todos, aparecendo em lugar de destaque nos rótulos das garrafas. Outras, um pouco mais obscuras, são hoje apenas curiosidades ampelográficas. Das primeiras, destacamos a variedade Loureiro, para muitos a melhor casta da região dos Vinhos Verdes. TEXTO João Paulo Martins […]
São várias as castas de uva que proliferam no Minho. Umas são bem conhecidas de todos, aparecendo em lugar de destaque nos rótulos das garrafas. Outras, um pouco mais obscuras, são hoje apenas curiosidades ampelográficas. Das primeiras, destacamos a variedade Loureiro, para muitos a melhor casta da região dos Vinhos Verdes.
TEXTO João Paulo Martins
As castas de uva têm por vezes características enigmáticas. Uma delas é a diferente apetência que mostram em querer viajar. Temos em Portugal exemplos para todas as situações, desde variedades que evidenciam muitas virtudes em todos os locais para onde foram levadas, caso da Alvarinho, mas também a Verdelho, Arinto ou Roupeiro, até outras que se quedaram na zona de origem e não deram mostras de querer viajar muito. Recordamos aqui o caso paradigmático da Encruzado e da que hoje tratamos, a Loureiro. No que respeita a esta variedade emblemática dos Vinhos Verdes, foram feitas algumas tentativas de a levar para outras zonas. Recordamos aqui que ela já esteve plantada na Quinta dos Carvalhais, no Dão, onde chegou a integrar, por uma única vez, um branco feito de lote entre Bical e Loureiro, na colheita de 2000. À época enólogo nessa quinta do Dão, Manuel Vieira disse à Grandes Escolhas que a casta produzia muito, mesmo muito, mas que “originava mostos com teor ácido baixo”, o que contraria a ideia que temos dela. A ideia de arrancar a vinha foi decisão empresarial, mas, na verdade, o tal 2000 Bical/Loureiro, ainda em 2019 dava mostras de estar em grande forma. Também na zona de Setúbal se fizeram experiências com a Loureiro. Domingos Sores Franco, enólogo da casa José Maria da Fonseca, confirmou que a casta foi para ali levada, há muitas décadas, pelo seu tio António Soares Franco. Ainda hoje tem cerca de 2ha de Loureiro plantados na zona de Azeitão, destinando-se o mosto para o lote do Quinta de Camarate branco doce, um vinho que nada tem a ver com vinhos doces de colheita tardia, mas que Domingos nos confirma ser um enorme sucesso, do qual se produzem 25.000 litros por ano. “Noto-lhe aromas de grande qualidade que lembram os que se conseguem no Minho, mas aqui tem menos acidez, tem mesmo uma certa gordura e peso na boca que funcionam muito bem no branco doce, onde a juntamos com a casta Alvarinho”, disse.
Uma casta produtiva
O vale do rio Lima, o solar do Loureiro, é bem distinto em configuração dos vales do Minho ou do Douro, importantes rios que atravessam a região dos Vinhos Verdes. O vale do Lima é amplo e largo, deixando entrar a influência atlântica bem dentro de terra.
Como já escreveu João Afonso em reportagem publicada neste revista, “em termos orográficos podemos dividir a sub-região do Lima em três zonas distintas: a zona mais litoral e ventosa de Viana, com vale aberto e pouca montanha; uma zona intermédia de Ponte de Lima (de Geraz do Lima até Jolda e Gondufe) ainda de vale aberto, mais protegido da nortada e já com traços de montanha; e a zona interior de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez com vale mais estreito, de perfil montanhoso e com alguma continentalidade a misturar-se com o clima marítimo.”
A casta Loureiro gosta de frio, mas não aprecia vento. Segundo Anselmo Mendes, “prefere zonas mais abrigadas para evitar partir as varas e é exigente na gestão da sebe para que a vinha possa respirar. Produz bem, mas não convém deixar ir muito além das 10 ton/hectare para não perder carácter.” Esta produtividade, que se pode considerar normal na região do Verdes está, no entanto, muito acima do que encontramos noutras zonas do país, nomeadamente na vizinha região do Douro. José Luis Moreira da Siva é enólogo na quinta dos Murças (Douro) e, por via da aquisição por parte do Esporão da Quinta do Ameal, ficou também responsável pela viticultura e enologia desta propriedade minhota. As diferenças não podiam ser maiores, “é que estou a lidar com produções por hectare que são cinco vezes superiores às do Douro, com terrenos muito mais férteis e também muito mais propícios às doenças e pragas da vinha e tudo isso é um grande desafio”. José Luis confirma que apesar dessa pressão das doenças, é no Minho mais fácil assegurar uma produção regular, com solos ricos e água com fartura. A Quinta do Ameal esteve durante algum tempo certificada como bio, mas, foi-nos confirmada, essa certificação foi abandonada. O enólogo foi pragmático: “estamos a seguir tratamentos e práticas bio, mas se houver um ataque a sério avançamos com tratamentos químicos; não faz sentido perder a produção por falta de tratamentos. Estou de resto convencido que enquanto no Douro é mais fácil a certificação bio, aqui nos Verdes tenho muito mais dúvidas”.
Polivalente na adega
Na adega, a Loureiro mostra-se polivalente. Na Quinta do Ameal sempre se usou uma vinificação diferenciada, ora em inox ora em barricas usadas, praticando abundantemente a bâtonnage, mesmo no inox. Essa prática pode ser fundamental sobretudo se se pretende fazer um Loureiro que dure 20 anos na garrafa. No Ameal sempre existiu a preocupação de mostrar a longevidade da casta Loureiro, a única plantada na quinta e inúmeras provas confirmam amplamente que o tempo está muito mais ao lado da casta do que em tempos se pensava. Anselmo Mendes diz-nos que, “com o tempo, os aromas transformam-se e surgem algumas notas terpénicas que, essas sim, fazem lembrar o Riesling do Mosela”. No entanto, salienta ainda, “existem vários clones de interesse desigual, alguns originam vinhos com notas de Moscatel, mas eu prefiro uns clones que fazem vinhos mais discretos, mas que evoluem bem com o tempo”.
Além da fermentação em inox e barrica (mais usada do que nova), no Ameal estão a fazer-se ensaios com ovos e túlipas de cimento. E trabalhar com teores alcoólicos na casa dos 11,5% de “chega perfeitamente, não precisamos de mais”, confirma Moreira da Silva.
Mesmo nas outras sub-regiões dos Verdes onde a Loureiro entra em lote com outras variedades, os resultados são compensadores. É boa a ligação com a casta Arinto e está em desuso o lote com a Trajadura, uma variedade que recolhe cada vez menos adeptos. Como nos diz Anselmo Mendes, “em tempos era usada para fazer baixar a acidez do Alvarinho, mas hoje já se usa menos”. E em Valença, bem perto da zona de Monção e Melgaço, mas fora da sub-região, a casta Loureiro dá resultados muito interessantes.
Tal como acontece noutras sub-regiões dos Vinho Verdes, o Vale do Lima é a pátria da casta Loureiro, é ali sem dúvida que melhor se expressa e também a casta que melhor expressa as virtudes daquele terroir. Já na sub-região do Sousa impera a Arinto, em Baião a Avesso, exemplos que nos mostram que, embora viajantes, as castas encontram por vezes razões de sobra para não saírem de onde estão.
SABIA QUE…
Loureiro, uma variedade das terras friasA casta Loureiro é, do ponto de vista económico, a variedade mais importante da região dos Vinhos Verdes. É no vale do rio Lima que ela melhor mostra as suas virtudes. Casta produtiva, gosta sobretudo de zonas onde se faça ainda sentir a influência atlântica, contribuindo com elevada acidez para os mostos. Por esta razão é aqui, na sub-região do Lima, que melhores resultados origina. As zonas mais interiores, de Basto até Baião e Amarante já não lhe convêm porque perde rapidamente a acidez, característica marcante desta casta. Gera vinhos de teor alcoólico médio, mas muito aromáticos, razão pela qual é muito procurada pelos viticultores. Também presente nas Rias Baixas tem aí, no entanto, um peso muito residual, uma vez que a região é quase monocultura de Alvarinho. Apesar de gerar boas produções, não se pode deixar produzir demais porque depois perde aromas. Prefere solos férteis e abundância de água, mostrando muitas dificuldades para enfrentar o stress hídrico. Existem vários clones certificados desta casta sendo mais cotado o que gera o cacho com bagos pequenos e coloração dourada. Segundo informação da CVR dos Vinhos Verdes, existem 189 marcas válidas de vinhos varietais de Loureiro, correspondendo a 111 engarrafadores. Até aos anos 80 do século passado não existiam no mercado vinhos varietais de Loureiro e foi então nessa década que surgiram os primeiros varietais de Loureiro, da Adega Cooperativa Ponte de Lima e de alguns produtores engarrafadores, como a Quinta de S. Cláudio, Casa dos Cunhas ou Quinta do Luou.
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