Álvaro Martinho Lopes: Prémio Viticultura do Ano

Álvaro Martinho Lopes

Quando Álvaro se dispõe a fazer um passeio na Quinta das Carvalhas faz questão de indagar de que tempo dispomos e se, de facto, queremos saber os segredos da quinta. Sendo a resposta positiva é certo que temos tema de conversa para horas. Aqui há que reparar na estratificação do solo, ali há que perceber […]

Quando Álvaro se dispõe a fazer um passeio na Quinta das Carvalhas faz questão de indagar de que tempo dispomos e se, de facto, queremos saber os segredos da quinta. Sendo a resposta positiva é certo que temos tema de conversa para horas. Aqui há que reparar na estratificação do solo, ali há que perceber que estas plantas e aquelas ervas são fundamentais porque relacionadas com o clima, a água disponibilizada no solo e a forma como a cepa interage com o ambiente. A meio do passeio já Álvaro arrancou um galho seco e está a desenhar no chão de terra.

Tudo aquilo faz sentido: a forma como as distintas castas se relacionam, as diferenças suscitadas pela exposição solar, a altitude e a inclinação do solo. Se o passeante for interessado e perguntadeiro, Álvaro está no seu mundo. O que se percebe é que a terra e os seus segredos, as cepas e as suas manias são Sol e Dó para o nosso guia. Difícil mesmo é resistir a ficar ali até que todos os palmos das centenas de hectares da quinta sejam percorridos e todos os segredos revelados. Costuma dizer-se que o bom vinho nasce na vinha, mas, canta Álvaro, é preciso conhecer bem a ecologia da planta para que depois, na adega, onde a música é outra, se consiga que o vinho expresse, passe o soundbite, o local de onde vem.

Esse, que é o objectivo de todo o enólogo, deverá ser, imaginamos, bem mais fácil quando temos um espírito de equipa em que todos aprendem com todos, algo que transparece quando estamos junto da equipa da Real Companhia Velha. Lidar com vinhas velhas, ajudar a preservar castas antigas, fazer experiências e perceber o que poderá vir a ser o Douro num futuro climaticamente tão incerto, são seguramente desafios. Mas, cremos, para Álvaro, o assunto é música para os ouvidos, tal o empenho que mostra. Mas o tempo ainda lhe chega para Álvaro fazer um vinho seu e tratar da horta onde, em pleno Verão, se colhem bons pimentos e tomates e tudo o mais em que o Douro é especialmente generoso. E, quando cai a noite, é altura de tirar a viola do saco. Showtime! J.P.M.

Adega de Favaios organiza Encontro Sobre Viticultura Regenerativa

Encontro Sobre Viticultura Regenerativa

O Encontro do Ciclo Sobre Viticultura Regenerativa é uma iniciativa da Adega de Favaios, cuja terceira edição acontece já neste mês de Abril, no dia 14. Os dois temas em debate neste evento da adega cooperativa duriense — “Viticultura Regenerativa” e “O solo como ferramenta de adaptação ao impacto das alterações climáticas na vinha” — […]

O Encontro do Ciclo Sobre Viticultura Regenerativa é uma iniciativa da Adega de Favaios, cuja terceira edição acontece já neste mês de Abril, no dia 14.

Os dois temas em debate neste evento da adega cooperativa duriense — “Viticultura Regenerativa” e “O solo como ferramenta de adaptação ao impacto das alterações climáticas na vinha” — contarão com a participação de profissionais com experiência na área, como Miguel Soares (Zona Agro) e Pedro Tereso (Agrosustentável).

“Não podemos aceitar a ideia de que, para termos uvas de qualidade, as videiras têm que sofrer e produzir pouco. Na agricultura regenerativa, tenta-se compreender os mecanismos naturais de regeneração dos ecossistemas para que os possamos mimetizar, adaptando-os à nossa exploração agrícola”, refere Miguel Soares.

Encontro Viticultura Regenerativa

Já “a perda de nutrientes e destruição do solo, que a agricultura convencional, incluindo algumas práticas da agricultura biológica, tem causado”, é uma das questões a merecer a atenção de Pedro Tereso.

Por sua vez, Mário Monteiro, presidente da direcção da Adega de Favaios, cometa que “pela sua história e dimensão, a Adega Cooperativa de Favaios tem uma grande importância na região duriense e, nesse sentido, queremos o mais possível implicar a Adega no desenvolvimento e nas questões prementes da agricultura e ecologia actuais, acreditando que estamos assim a dar o nosso contributo para a sustentabilidade e futuro do território”.

A entrada no Encontro do Ciclo Sobre Viticultura Regenerativa é gratuita, mas limitada aos lugares disponíveis, que podem ser reservados através dos contactos liliana@adegadefavaios.com.pt, 967897926 e 259957310.

A Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, fez recentemente várias alterações ao regime de apoio à reestruturação e reconversão das vinhas (programa VITIS), atribuindo agora nova dotação de 50 milhões de euros.

Através da Portaria publicada em Diário da República, entram nos critérios de prioridade as vinhas que se destinem à produção biológica, os produtores detentores do estatuto da agricultura familiar, as vinhas históricas e os projectos de interesse nacional (PIN).

Há ainda um conjunto de outras alterações que resultam do trabalho em conjunto com o sector, como a possibilidade de candidaturas agrupadas — apresentadas por cinco ou mais viticultores —  e o aumento da ponderação para os beneficiários sem candidatura aprovada nos dois concursos anteriores.

“Num tempo de grande incerteza, o sector do vinho tem dado provas de enorme resiliência e capacidade de adaptação. Apesar de especialmente afectado pelo encerramento e constrangimentos do canal HORECA, o que levou à diminuição das vendas no mercado interno, tendo, no entanto, continuado a crescer nas exportações, com um aumento de 3,8% em volume e de 2,4% em valor. Queremos continuar a apostar no seu crescimento, na sua valorização e na nossa capacidade de inovar”, explica a Ministra da Agricultura.

O prazo para apresentação de candidaturas ao VITIS termina dia 15 de Janeiro de 2021, às 17 horas, e estas devem ser feitas na página do IFAP (Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas).

 

Imagem: Dooder / Freepik

Seis castas portuguesas viajaram para a Croácia

TEXTO Valéria Zeferino E, em simultâneo, seis castas croatas foram plantadas em Portugal. Tudo isto aconteceu no âmbito do acordo entre dois países – Portugal e Croácia – dois municípios – Alenquer e Benkovac – e dois institutos – INIAV e Universidade de Zagreb. Para acompanhar o desenvolvimento do projecto, no passado dia 9 de […]

TEXTO Valéria Zeferino

E, em simultâneo, seis castas croatas foram plantadas em Portugal. Tudo isto aconteceu no âmbito do acordo entre dois países – Portugal e Croácia – dois municípios – Alenquer e Benkovac – e dois institutos – INIAV e Universidade de Zagreb. Para acompanhar o desenvolvimento do projecto, no passado dia 9 de Outubro as entidades envolvidas organizaram uma video-conferência internacional. 

Na primeira fase do projecto, em 2017, foram apresentados vinhos feitos de castas autóctones de cada país. Do lado de Portugal, a casta Vital (típica da zona de Alenquer e injustamente esquecida) deu origem ao vinho “Empatia”, elaborado pela Adega Cooperativa da Labrugeira. Do lado da Croácia, foram feitos dois vinhos monovarietais das castas Maraština (branca) e Svrdlovina (tinta).

Já em 2019, foi realizada uma permuta de castas: seis castas portuguesas (Vital, Arinto, Fernão Pires, Touriga Nacional, Touriga Franca e Vinhão) seguiram para Croácia, e de lá vieram seis castas autóctones (Pošip, Maraština, Vugava, Plavac Mali, Plavina e Svrdlovina), 130 pés de cada, que foram plantadas em Maio deste ano nos Viveiros Pierre Boyer em Penusinhos.

Nesta vinha experimental será efectuada uma avaliação agronómica (estados fenológicos, resistência a doenças, etc.) para perceber a sua capacidade de adaptação às condições da zona de Alenquer, na região de Lisboa. Mais a frente, serão realizadas duas vinificações de cada casta para avaliar o seu potencial enológico. José Eiras Dias, Coordenador da Estação Nacional de Viticultura e Enologia do INIAV, é responsável pela parte científica deste projecto. Por sua vez, as castas portuguesas na Croácia serão submetidas ao mesmo tipo de ensaios. Em função dos resultados, algumas delas poderão ser utilizadas pelos produtores croatas. Desta forma, pretende-se valorização das castas autóctones de dois países, aprendizagem mútua e estabelecimento de relações comerciais.

Foto: Daniel Pavlinovic / Croatia Feeds. Vinha Dingač em Pelješac, Dalmatia.

EyesOnTraps+: o projecto inovador para controlar pragas na vinha

Numa parceria entre a Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID), a Fraunhofer Portugal Research e a GeoDouro (co-promotor principal), está a ser desenvolvido EyesOnTraps+, um projecto inovador que culminará numa aplicação móvel que permitirá a contagem automática de “pragas-chave” em armadilhas na vinha (traça-da-uva, cigarrinha-verde, cigarrinha da Flavescência Dourada), com o objectivo de […]

Numa parceria entre a Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID), a Fraunhofer Portugal Research e a GeoDouro (co-promotor principal), está a ser desenvolvido EyesOnTraps+, um projecto inovador que culminará numa aplicação móvel que permitirá a contagem automática de “pragas-chave” em armadilhas na vinha (traça-da-uva, cigarrinha-verde, cigarrinha da Flavescência Dourada), com o objectivo de diminuir o erro humano e acelerar o processo de análise e decisão. Mas não só: será também possível o registo automático de temperatura, através de um sensor acoplado, o que permitirá implementar modelos como a emissão de alertas ou avisos ao viticultor/técnico.

Indivíduo adulto em armadilha.

“Estes alertas darão indicação mais precisa dos períodos ideais para a realização das estimativas do risco das pragas, suportando o correcto posicionamento de tratamentos insecticidas, maximizando a sua eficácia e promovendo o seu uso sustentável”, explica a ADVID em comunicado.

O  EyesOnTraps+ é um sistema que permitirá actualizações futuras, para detecção de novas pragas ainda não consideradas no projecto. Quando estiver finalizado, este resultará numa solução móvel e comercializável. 

A Sogevinus, a Adriano Ramos Pinto e a Sogrape, são alguns dos representantes do sector do vinho que participam como stakeholders.

Espanha apoia vindima em verde

TEXTO Luís Lopes Até agora, que saibamos, em Portugal nenhuma entidade sugeriu o financiamento da vindima em verde como possível medida de apoio ao sector do vinho no âmbito da covid-19, mas em Espanha o governo já a incluiu no pacote de medidas para esta área. Tal como acontece em Portugal, aqui ao lado também […]

TEXTO Luís Lopes

Até agora, que saibamos, em Portugal nenhuma entidade sugeriu o financiamento da vindima em verde como possível medida de apoio ao sector do vinho no âmbito da covid-19, mas em Espanha o governo já a incluiu no pacote de medidas para esta área.

Tal como acontece em Portugal, aqui ao lado também a destilação de crise recolhe a maior fatia dos apoios directos, que se estendem também ao subsídio ao armazenamento. Mas novidade são os 15 milhões de euros destinados exclusivamente à vindima em verde, ou seja, o corte para o chão dos cachos ainda não maduros, reduzindo a produção e, ao mesmo tempo, aumentando a qualidade.

Os apoios para a vindima em verde definidos pelo Ministério da Agricultura de Espanha e pelas regiões autónomas, assentam em duas vertentes: pagamento de 60% dos custos directos (mão de obra mecânica ou manual) da operação de redução de produção; e uma compensação pela quantidade perdida, calculada com base em 60% do valor médio da uva nas três últimas colheitas. Esta medida aplica-se apenas a vinhas com denominação de origem e o valor a pagar por hectare varia, naturalmente, de região para região, pois tem em conta o preço da uva.

Várias autonomias anunciaram já os valores envolvidos para os apoios à poda em verde. Por exemplo, na região autónoma de Castilla y Leon (que abrange 13 Denominações de Origem), os apoios para a operação de poda/eliminação de cachos são de €1.200/ha para a eliminação manual, €1000/ha para a mecânica e €300/ha para a química; e a compensação pela produção perdida pode ir de até €600/ha em Arribes, €1300/ha em Cigales e em Toro, €2000/ha em León, €2.800/ha em Bierzo, €3500/ha em Rueda e, o valor mais elevado, €4.700/ha em Ribera del Duero.

Em Espanha teme-se uma colheita bastante generosa em quantidade, que trará sérias implicações ao nível da armazenagem, comercialização e preços de venda. Também França e Itália esperam colheitas volumosas o que, em conjunto, significa uma enormidade de produtores a procurarem vender a qualquer preço nos mercados internacionais. Portugal será inevitavelmente atingido, de forma directa e indirecta, por esta “tempestade perfeita”.

Opinião – Para que o vinho proteja 10 milhões de portugueses

Tal como acontece com outros setores, também a fileira do vinho atravessa momentos de grande dificuldade. A comercialização está quase estagnada, as fontes de receita escasseiam, mas a vinha não pára e exige atenção e despesas. Entretanto, faltam 121 dias para 30 de Agosto, a data média de vindima. O que é possível fazer por […]

Tal como acontece com outros setores, também a fileira do vinho atravessa momentos de grande dificuldade. A comercialização está quase estagnada, as fontes de receita escasseiam, mas a vinha não pára e exige atenção e despesas. Entretanto, faltam 121 dias para 30 de Agosto, a data média de vindima. O que é possível fazer por este setor do qual dependem dezenas de milhar de pessoas? E o que é que o vinho pode fazer pelo País?

TEXTO João Vila Maior
FOTOS Arquivo

João Vila Maior é enólogo e viticólogo.

Nos últimos dois meses várias empresas vitivinícolas produziram e ofereceram alguns milhares de litros de álcool gel a Hospitais, Centros de Saúde, Bombeiros e Lares. Muitas empresas da indústria têxtil produziram máscaras e ofereceram-nas ao mesmo tipo de instituições. E tantas e diferentes indústrias desdobraram-se em iniciativas de Solidariedade sem nada pedirem em troca. Por muitos defeitos que tenhamos, Nós, os Portugueses, Portugal, somos um Nobre Povo. Somos Enormes.

Vivemos momentos difíceis e de incerteza, que nunca pensávamos poder viver. Ao que tudo indica, iremos, em breve e, pouco a pouco, ter um cheirinho “da normalidade” que conhecíamos antes de março. Março, mostrou-nos o que é um “mês horribilis” e o que poderá vir a ser um ano ou vários anos “horribilis”. Isto porque, se a tragédia humanitária foi limitada, para já, a abrupta queda da atividade económica faz adivinhar um cenário não menos trágico. Se as piores, mas talvez realistas perspetivas, de ocorrência de surtos de infeção periódicos virem a confirmar-se, teremos um cocktail assustador que nos fará cair numa depressão económica e humanitária sem paralelo. Temos de nos precaver, aprender com este primeiro episódio e repensar o futuro.

Centrando-nos na fileira vitivinícola o cenário não é menos animador. O vinho não é um bem de primeira necessidade. Se é verdade que se bebe em família, potencialmente em confinamento, o vinho é, essencialmente, um bem para usufruir com companhia. Acresce o facto de, mesmo ainda para quem não esteja a sentir na carteira o que aí vem, em função do medo que se faz sentir, instintivamente e mesmo que de uma forma não consciente, consome-se menos de uns artigos e mais de outros. Como é sabido, o papel higiénico é recordista do lado do “mais”. Seguem-se os artigos de desinfeção, as conservas, tintas para o cabelo e não muitos mais. Mas, no lado oposto, estão os protetores solares, as flores, tanta e tanta coisa mais e, claro está, vinho. O Vinho!

Já li várias previsões. Quebras de 20, de 35%. Que valem o que valem, até porque não sabemos como vai evoluir a pandemia. Mas, garantidamente, que a quebra será da ordem das duas casas decimais, e que nunca será inferior a 20%. Se atingirá os 35% ou se será superior, não sabemos. Mas o cenário é muito pessimista.

Os produtores desdobram-se em tentativas de mitigação, especialmente, no ciberespaço, em webinares, em provas online, com o objetivo de conseguir vender algum vinho. Uma míngua que seja para tentar compensar a queda abrupta resultante do encerramento dos restaurantes e do comportamento mais defensivo, mesmo que inconsciente, do mercado.

A vinha não tem teletrabalho

Entretanto, estamos a 30 de abril. E amanhã será dia 1 de maio. O dia do Trabalhador. De todos os trabalhadores. Dos que trabalham no setor da vinha e do vinho. E, na vinha o layoff não é fácil de praticar. As vinhas vão crescendo a olhos vistos, necessitando de mão de obra, de serem erguidas, de serem despampadas e, qualquer dia, vindimadas. O míldio, o oídio e os ácaros não se confinam. Estão aí para fazer das suas. Ou seja, a torneira das despesas não se fecha. Não é possível fechar. A vinha não dá tréguas ao viticultor. Não reconhece a figura do teletrabalho. E faltam 121 dias para o dia 30 de agosto, uma hipotética data, média, para a vindima. E amanhã faltarão somente 120 dias. O relógio não para. Nem a ampulheta, seja movida a grãos de areia da península de setúbal, ou a partículas mais grosseiras dos solos graníticos dos alvarinhos. Nem mesmo uma laje de xisto do Douro seria capaz de parar uma ampulheta. Se tal fosse possível, estou certo, que o Douro o faria a bem de toda a nação do vinho.

E se, entretanto, o vinho não se escoar, não for bebido a nosso bel-prazer, temos a cuba entornada. O setor viverá uma forte crise. Muito forte.

E faltam 121 dias. Temos 33% de um ano para reagir. O que poderemos fazer por este setor?

O setor do vinho, direta e indiretamente, emprega algumas dezenas de milhar de pessoas. Quando falamos deste setor não nos podemos esquecer da sua íntima ligação com uma variedade de setores como o da cortiça, da proteção das plantas, dos produtos enológicos, das garrafas, entre outros. Estamos a falar de muita gente. De muitas empresas, também elas, vítimas indiretas, deste problema que se adensa. O setor do vinho, para além da importância como empregador, gera um notável volume de negócios, cria um valor acrescentado na nossa economia e contribui de forma significativa nas nossas exportações e na promoção da imagem de Portugal.

Neste momento os telejornais oscilam entre notícias que fazem o ponto da situação da pandemia, o precipício da economia e os pedidos desesperados dos agentes económicos por uma boia de salvação. E, de momento, as ajudas que vão surgindo não auguram nada de suficiente. Viramo-nos para a Europa. Como sempre. É verdade que fazemos parte dela, que temos os nossos direitos e que ela tem deveres para connosco. Mas, se pusermos a mão na consciência, também teremos de reconhecer que, nem sempre, sabemos fazer o melhor com o que de lá vem.

O diagnóstico da situação está feito. É grave. Está doente. Precisa de Cuidados. E se o tempo passar e nada for feito, terão de ser Cuidados Intensivos. E muitas empresas serão desligadas da máquina. Algumas empresas mais velhas, mas também empresas jovens.  Impõe-se pensar no que fazer, como reagir, como tentar mitigar as dificuldades. Na última crise, enorme também, o setor soube reagir, nomeadamente, conseguindo aumentar as exportações. Na crise atual não me parece que o setor consiga ir por aí ou, pelo menos, não será suficiente pois, na realidade, a crise está por toda a parte. É global.

Afinal, o que poderemos fazer?

A resposta, certamente, não será uma. Terão de ser várias e complementares, mas todas a apontar no mesmo sentido. Passará por estratégias traçadas por todas e por cada uma das empresas, das organizações de produtores e das Distribuidoras.

Destilar para produzir álcool

Da parte que a cada um toca, sem dúvida que solidariedade individual, daqueles que estiverem numa situação de alguma estabilidade e que tenham a possibilidade de manter o consumo, de continuar a usufruir do prazer que um copo de vinho lhe pode dar, ao manterem o consumo já estão a ser solidários. O prazer que tínhamos quando usufruíamos de um vinho até há dois meses, agora, ávidos que estamos de coisas boas, acredito que ainda possa ser maior. E tenha em conta que, com esse gesto, para além de tudo, está ainda a ser Solidário!

Por parte do Estado Português, todas as medidas lançadas para o tecido empresarial, em geral, terão de ser mais significativas e céleres. Mas sabemos que, histórica e cronicamente, as medidas ficam sempre aquém das necessidades.

Como já referi, estou certo de que a solução não será única e terá de passar por um conjunto vasto de soluções. Neste sentido faço, humildemente, duas propostas. A primeira, já abordada, de caráter individual, que poderei de chamar de “altruísmo ou filantropia” enófilo, que não é mais que consumir, manter o padrão de consumo ou mesmo aumentá-lo, de forma moderada claro está. Se é verdade que o vinho tem muito de bebida social, confesso que, às vezes gosto de estar a sós com o vinho e bebê-lo na companhia do silêncio, duma paisagem. Este exercício de prazer, acredito, poderá ajudar a aquietar a alma nestes tempos de incerteza.

A segunda proposta que faço está em linha com uma necessidade destes tempos de pandemia. Como, infelizmente, o Covid-19 parece estar para durar e o álcool gel, a lixivia, as máscaras e outros produtos de desinfeção e proteção vão continuar a assumir-se como bens de primeira necessidade e de consumo massivo. Várias empresas vitivinícolas, a título voluntário, já contribuíram para repor os níveis de álcool que, subitamente, deixou de existir no mercado. A minha proposta vai no sentido de serem criados mecanismos, com caráter de urgência, no sentido que o álcool para produção de álcool gel venha ser, no futuro próximo, maioritária e prioritariamente, de origem vínica.

Existe uma medida no setor, designada por “Prestação Vínica” que consiste na obrigatoriedade de proceder à eliminação controlada dos subprodutos da vinificação, nomeadamente bagaços de uva, borras de vinho e, muitas vezes, vinhos de menor qualidade. Esta prestação é de percentagem variada, de acordo com o ano, mas sempre inferior aos 10%. Na prática, esta figura obriga a eliminar uma pequena parte da produção, conduzindo-a para destilação ou para a indústria do vinagre. Desta forma, consegue-se elevar a qualidade média do vinho produzido e, poder-se-á conseguir regular o mercado. Neste sentido, o que proponho, com base na figura da “Prestação Vínica”, se o enquadramento legal (e Comunitário) o permitir, ou na figura duma medida extraordinária, “Prestação Corona” à maneira das “Corona Bonds”. Na prática, consistiria no Estado Português se propor a comprar e pagar, com celeridade, um volume de vinho para destilação, numa quantidade calculada com base na quebra de vendas para que aponta o mercado (20-30%), pagando um preço justo pelo vinho. Justo!

Desta forma, o Estado supriria as necessidades de álcool, com base num produto nacional, daria um balão de oxigénio ao setor do vinho, evitaria alguns milhares de desempregados, o pagamento de subsídios de desemprego, de prestações de layoff, e manteria vivo um setor que acrescenta muito à identidade e economia do país.

A incrível realidade que vive o setor do petróleo, com o crude a assumir valores negativos, ou seja, a pagar para que se esvaziem os depósitos, fez-me recordar uma história ou mito que há uns anos se ouvia. Que, num certo ano, um conhecido negociante de vinho a granel, enviou a seu mando um falso comprador de vinho a algumas Adegas Cooperativas, em meados de janeiro. Este, abordava a Adega como comprador e acabava por assumir o compromisso de comprar a totalidade da produção armazenada nas cubas. Para o efeito dava um chorudo sinal, em dinheiro. Boa notícia, julgavam eles. Com o passar dos meses, a ausência do comprador fantasma, as cubas cheias, e uma vindima quase à porta, o chorudo sinal tornava-se numa mão quase cheia de nada. Era então a altura para o dito e conhecido negociador de vinho a granel, aparecer e varrer milhões e milhões de litros a um preço miserável e, pasme-se, assumir-se como o salvador da pátria.

Pois o que me preocupa é que faltam 121 dias e, se nada se fizer, muitos petroleiros poderão ir ao fundo.

Novo curso de viticultura biodinâmica com aulas online

viticultura biodinâmica

A ABIOP (Associação Biodinâmica Portugal) vai realizar mais um curso de formação em Viticultura Biodinâmica. Com o estado de emergência, a ABIOP optou por mudar o método de ensino, adaptando-o uma parte da formação ao ensino à distância, através de plataformas digitais. Segundo o formador e organizador João Castella, a alteração de formato tem sobretudo […]

A ABIOP (Associação Biodinâmica Portugal) vai realizar mais um curso de formação em Viticultura Biodinâmica. Com o estado de emergência, a ABIOP optou por mudar o método de ensino, adaptando-o uma parte da formação ao ensino à distância, através de plataformas digitais. Segundo o formador e organizador João Castella, a alteração de formato tem sobretudo a ver com o aumento do número de módulos, mas, ao mesmo tempo, baixando o tempo de duração de cada um deles. Segundo João Castella, isto foi feito para “melhorar o poder de concentração das pessoas”. Mas tem outra vantagem: “esta nova forma implica também uma redução de custos, pois diminuem bastante as deslocações dos formadores”.

O curso destina-se a produtores, técnicos, enólogos, comerciantes e outros agentes da produção vitivinícola em Portugal. Nele serão abordados de uma forma teórico-prática todos os temas da Biodinâmica adaptados à viticultura.

O curso iniciar-se-á assim que estiverem reunidas todas as condições necessárias (mas nunca antes de Junho) e as datas serão combinadas antecipadamente com os participantes. Alguns dos módulos têm datas fixas pois será necessário cumprir o calendário biodinâmico e fazer as demonstrações no tempo certo.

O preço individual é de €400 mas com inscrições empresariais, o custo unitário desce para cada formando. A ABIOP garante que o curso será ministrado por consultores biodinâmicos acreditados internacionalmente.
Mais informações neste folheto.