Está para breve: Casa Ferreirinha confirma lançamento do Reserva Especial 2014

Reserva Especial 2014

É a 18ª edição de um dos vinhos mais cobiçados da duriense Casa Ferreirinha. O tinto Reserva Especial 2014 tem lançamento confirmado para Junho de 2023, e vem saciar a sede dos consumidores que procuram vinhos mais raros e exclusivos. Luís Sottomayor, enólogo da casa do grupo Sogrape, declara: “O ano de 2014 foi de […]

É a 18ª edição de um dos vinhos mais cobiçados da duriense Casa Ferreirinha. O tinto Reserva Especial 2014 tem lançamento confirmado para Junho de 2023, e vem saciar a sede dos consumidores que procuram vinhos mais raros e exclusivos.

Luís Sottomayor, enólogo da casa do grupo Sogrape, declara: “O ano de 2014 foi de maturação equilibrada, com alguma chuva no Inverno e uma onda de calor em Junho, mas harmonioso. Estas características reflectiram-se no vinho, dotado também de uma complexidade assinalável. E a excelente capacidade de envelhecimento comprovada ao longo destes nove anos que se passaram, tornaram este vinho digno de Reserva Especial”.

Reserva Especial 2014
Reserva Especial 2009, a colheita que antecedeu o 2014.

Produzido há seis décadas, o Reserva Especial existiu nas edições de 1960, 1962, 1974, 1977, 1980, 1984, 1986, 1989, 1990, 1992, 1994, 1996, 1997 2001, 2003, 2007, 2009 e agora 2014.

Prémios Grandes Escolhas – Saiba quem são os melhores do ano a 3 de Março

Prémios Grandes Escolhas

No próximo dia 3 de Março (sexta-feira) decorre mais uma edição dos Prémios Grandes Escolhas, organizada pela sexta vez pela revista Grandes Escolhas, uma iniciativa que distingue os melhores vinhos, bem como empresas, profissionais e instituições na área de vinhos e gastronomia, em Portugal. O evento decorrerá a partir das 19:00 horas no C.A.R. – […]

No próximo dia 3 de Março (sexta-feira) decorre mais uma edição dos Prémios Grandes Escolhas, organizada pela sexta vez pela revista Grandes Escolhas, uma iniciativa que distingue os melhores vinhos, bem como empresas, profissionais e instituições na área de vinhos e gastronomia, em Portugal. O evento decorrerá a partir das 19:00 horas no C.A.R. – Centro de Alto Rendimento (Velódromo) em Sangalhos, Anadia, e contará com a presença da Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes e com a Presidente da Câmara Municipal de Anadia, Maria Teresa Cardoso.

Mais uma vez, a cerimónia apostará num modelo misto que une a transmissão via streaming, através do site e das redes sociais da revista, à presença de convidados.

Os Prémios Grandes Escolhas definem-se como a celebração do que melhor se faz em cada ano na área dos vinhos e da gastronomia em Portugal e têm como objectivo o reconhecimento da excelência do trabalho no sector, premiando anualmente os melhores vinhos, os melhores profissionais, empresas, produtores, restaurantes, garrafeiras e instituições que mais se distinguiram, segundo os critérios editoriais da nossa revista”, explica João Geirinhas, diretor de negócio da revista Grandes Escolhas. “Depois de dois anos consecutivos em que esta cerimónia, tão relevante para este sector, teve de se limitar à sua versão minimalista de transmissão online, pelos motivos de todos conhecidos, voltamos finalmente, agora em 2023, ao formato habitual de jantar de entrega de prémios, com centenas de convidados presentes. No entanto, o anúncio dos Prémios Grandes Escolhas, relativos ao ano 2022, continuará a ser divulgado online e poderá ser seguido em directo por todos os interessados”, acrescenta João Geirinhas.

Durante o evento, serão premiados os melhores vinhos provados em 2022, tal como os profissionais, as instituições, os produtores do sector vitivinícola e as figuras e projectos do panorama gastronómico nacional, que mais se destacaram durante o ano. Os 30 melhores vinhos portugueses de 2022, provados pela redacção da revista Grandes Escolhas, serão anunciados na cerimónia, bem como os melhores cinco vinhos do ano em cada categoria (tinto, branco, espumante, fortificado e rosé).

Prémios Grandes Escolhas, edição de 2020.

Ainda no decorrer da iniciativa, a revista Grandes Escolhas irá atribuir também os 20 Troféus Grandes Escolhas, nas categorias Restaurante Cozinha Tradicional Portuguesa; Restaurante Cozinha do Mundo; Restaurante; Sommelier; Prémio David Lopes Ramos; Loja Gourmet; Garrafeira; Wine Bar; Enoturismo; Iniciativa; Viticultura; Adega Cooperativa; Produtor Revelação; Produtor; Empresa Vinhos Generosos; Empresa; Prémio Singularidade; Enólogo Vinhos Generosos; Enólogo; e Senhor/a do Vinho.

Para nós, o mais importante é continuarmos a dar reconhecimento ao que de melhor se faz no país, e que ano após ano nos tem dificultado a escolha, pela quantidade e qualidade dos projectos que existem de Norte a Sul e Ilhas. Esta é uma oportunidade de os destacar e celebrar em conjunto o melhor que Portugal tem para oferecer no domínio dos vinhos e gastronomia. É isso que nos une a todos e é essa a razão que justifica o nosso trabalho e a nossa paixão comum”, acrescenta Luís Lopes, director da revista.

O evento dos Prémios Grandes Escolhas é o mais conceituado e reconhecido entre os profissionais do mundo dos vinhos e da gastronomia em território nacional, e este ano volta a recuperar um momento de convívio e interação entre todos, com a realização de um cocktail no início da cerimónia, seguido de um jantar, durante o qual haverá oportunidade para provar alguns dos vinhos premiados, facilitando e promovendo o contacto entre produtores, patrocinadores e profissionais do sector.

Veja AQUI imagens e vídeos das edições passadas dos Prémios Grandes Escolhas.

Lavradores de Feitoria: Casa nova, vinhos novos

lavradores de feitoria

Fundada em 2000 por 15 viticultores durienses, a Lavradores de Feitoria é um projecto inovador a diversos níveis. Agrupando 20 propriedades, dispersas pelas três sub-regiões do Douro, num total de mais de 600 hectares de vinha, conta desde 2021 com uma nova sede e adega e, desde abril do ano passado, com um centro de […]

Fundada em 2000 por 15 viticultores durienses, a Lavradores de Feitoria é um projecto inovador a diversos níveis. Agrupando 20 propriedades, dispersas pelas três sub-regiões do Douro, num total de mais de 600 hectares de vinha, conta desde 2021 com uma nova sede e adega e, desde abril do ano passado, com um centro de enoturismo. No meio de tanta novidade cabem, claro, novos vinhos e colheitas.

Texto: Luís Lopes       Fotos: Lavradores de Feitoria

O associativismo no sector do vinho é fenómeno raro e, quando acontece, normalmente não dura muito. O projecto Lavradores de Feitoria merece, por isso, forte aplauso, pela longevidade (quase 23 anos!), dimensão (são hoje 53 accionistas, dos quais 16 proprietários de quintas), conceito (lógica de sustentabilidade social, económica e ambiental) e solidez, reforçada pela aquisição da quinta do Medronheiro, em Sabrosa, e a construção da nova sede e adega no local.

Lavradores de Feitoria
A nova adega é também sede e centro de enoturismo.

Na base de tudo isto está um enorme capital de confiança gerada entre todos os intervenientes e que a administração da Lavradores de Feitoria, cujo rosto mais visível é a CEO Olga Martins, procura retribuir. Um exemplo, é o valor base de remuneração das uvas aos produtores associados, sempre acima da média praticada na região, garantindo que cobre o custo de produção, numa lógica de “fairtrade”. A Lavradores de Feitoria tem um sistema de pagamentos assente em três patamares – base, superior e extra (que chega a valer mais do dobro do valor base), como forma de valorizar a qualidade das uvas e, por conseguinte, dos vinhos. O pagamento aos fornecedores 30 dias após a emissão da factura é igualmente um ponto de honra da casa.

Mas falemos de vinhas, adegas e vinhos. E aqui é incontornável o nome de Paulo Ruão, director de enologia da Lavradores de Feitoria desde a vindima de 2005. Para construir uma gama de vinhos segmentada e criteriosa, que abarca lotes, monocastas e vinhos de quinta, a partir de 20 propriedades e 600 hectares, é preciso estar familiarizado com cada um destes terroirs e suas particularidades. Paulo conhece bem as quintas dos sócios da empresa. Para além do acompanhamento periódico anual, visita cada uma das vinhas duas vezes antes da vindima, para fazer controle de maturação e escolher as parcelas que pretende, podendo estas variar de ano para ano.

Quando a empresa nasceu, em 2000, a coisa era muito mais simples: cada quinta fazia o seu vinho e a sua marca. Rapidamente se verificou, porém, a insustentabilidade enológica e comercial do modelo. Hoje, estas propriedades dispersas pelo Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior, com uvas de castas bastantes diversas, cepas de todas as idades, plantadas a múltiplas altitudes, com diferentes exposições, numa enorme heterogeneidade de solos, originam apenas duas linhas de vinhos, identificadas como “vinhos de lote”, onde estão as marcas Lavradores de Feitoria e Três Bagos, e “vinhos de vinha”, onde se inserem os clássicos Meruge, branco e tinto, Quinta da Costa das Aguaneiras e, a grande novidade de 2022, Vinha do Sobreiro.

Depois da fase “naif” inicial, a vinificação comum passou a estar concentrada numa adega montada na zona industrial de Paços, em Sabrosa. A ambição de Olga Martins e Paulo Ruão, porém, era outra. Numa empresa assente em quintas e vinhas, fazia sentido ter “uma adega no meio das videiras”. O sonho levou tempo a concretizar. Primeiro, em 2008, foi preciso adquirir, com capitais próprios, a Quinta do Medronheiro. Com 8 hectares de área total, entre os 540 e 580 metros de altitude e exposição sul, 6,5 hectares são de vinha, exclusivamente uvas brancas, Viosinho, Gouveio e Boal, em modo de produção biológica. Depois, houve que ganhar músculo financeiro para construir a adega, inaugurada somente 13 anos depois, em 2021.

Lavradores de Feitoria
O espaço de enoturismo foi inaugurado em abril de 2022.

O projecto, da autoria do arquitecto Belém Lima, assenta numa estrutura e paredes exteriores em betão armado pré-fabricado, com um padrão texturado onde impera a cor do xisto. Os painéis isolados e de grande eficiência térmica, associados à produção de energia através de painéis fotovoltaicos e ao tratamento de águas, avolumam a vertente de sustentabilidade da empresa. A adega possui todo o equipamento moderno expectável numa instalação destas. Porém, a pisa a pés em lagar de granito, que Paulo Ruão exige para alguns vinhos de topo, continua a ser feita nas quintas dos produtores accionistas. Para além da parte produtiva, o edifício comporta ainda os escritórios da empresa e a área dedicada ao enoturismo, inaugurado em abril de 2022. Também aqui, a Lavradores de Feitoria procura fazer diferente, privilegiando as visitas personalizadas, a cargo de Eduardo Ferreira, exímio contador da história do Douro e das estórias dos vinhos e das gentes…

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2023)

 

Cristiano e Francisca van Zeller mostram novos Vintage e LBV da Van Zellers & Co

Van Zellers vintage

Decorreu em Lisboa, no dia 10 de Fevereiro, a apresentação de novidades Van Zellers & Co, empresa familiar que trouxe agora os seus novos vinhos do Porto. O momento foi também aproveitado para prova de algumas colheitas anteriores. Assim, do LBV foram provados os 2014, 2015 e 2017 (este a novidade); e dos Vintage começou-se […]

Decorreu em Lisboa, no dia 10 de Fevereiro, a apresentação de novidades Van Zellers & Co, empresa familiar que trouxe agora os seus novos vinhos do Porto. O momento foi também aproveitado para prova de algumas colheitas anteriores.
Van Zellers vintage
Francisca e Cristiano van Zeller, na apresentação dos novos vinhos. ©João Paulo Martins
Assim, do LBV foram provados os 2014, 2015 e 2017 (este a novidade); e dos Vintage começou-se também com o 2014, seguindo-se as edições de 2015 e 2017, acabando no 2020. Este novo Vintage 2020 será agora sugerido ao mercado “en primeur” com um desconto de 30% sobre o preço final, que mais tarde rondará os €120. J.P.M.
Mais sobre estes vinhos numa das próximas edições da revista Grandes Escolhas

JNcQUOI lança vinho Madeira em parceria com Cossart Gordon & Co

JNcQUOI Madeira

Depois dos JNcQUOI branco e tinto, e dos JNcQUOI Grand branco e tinto (todos do Douro), a Amorim Luxury Group lança agora um novo vinho, um Madeira produzido em parceria com a Cossart Gordon & Co. Resultado de um trabalho conjunto entre Ricardo Morais, Wine Director do JNcQUOI, e o enólogo Francisco Albuquerque, o JNcQUOI Madeira […]

Depois dos JNcQUOI branco e tinto, e dos JNcQUOI Grand branco e tinto (todos do Douro), a Amorim Luxury Group lança agora um novo vinho, um Madeira produzido em parceria com a Cossart Gordon & Co.

Resultado de um trabalho conjunto entre Ricardo Morais, Wine Director do JNcQUOI, e o enólogo Francisco Albuquerque, o JNcQUOI Madeira 2008 é, segundo os próprios, “um vinho tenso, gastronómico, equilibrado e persistente”.

Engarrafado em Setembro de 2022, o JNcQUOI Madeira 2008 foi feito com a casta Bual e envelhecido numa barrica de 244 litros. Deste vinho, surgiram 138 garrafas Magnum (1500ml), para serviço a copo nos restaurantes Asia e Avenida (€17/copo); e 48 garrafas de 750ml para venda na garrafeira do DeliBar do JNcQUOI Avenida, por €135 cada.

Esta notícia surge no seguimento de outra sobre o 4º aniversário do Big Bottle Day, iniciativa do JNcQUOI Avenida que consiste na abertura de garrafas de vinho de grande formato. Ao longo destes quatro anos, o JNcQUOI Avenida tem sido palco de algumas das mais exclusivas aberturas de garrafas de vinho, de grande formato (entre 6 e 18 litros), durante o “It’s Friday, Big Bottle Day”. Já foram abertas mais de 250 garrafas, nesta iniciativa que permite ao público conhecer alguns dos mais raros e exclusivos vinhos do Mundo, a um preço acessível. Durante a celebração do aniversário, no passado dia 3 de Fevereiro, abriram-se quatro garrafas de 6 litros: Chateau Smith Haut Lafite 2018, Chateau Cos D´Estournel 2017, Joseph Phelps Insignia 2018 e Catena Zapata Adrianna Vineyards “Mundus Bacillus Terrae” Malbec.

Entrevista: Daniel Niepoort

entrevista daniel niepoort

“É importante adaptarmo-nos aos tempos, sem radicalismos” Nascido em 1992, Daniel Niepoort é hoje responsável de enologia na empresa com o seu apelido, depois de ter trabalhado em vários países do Mundo. Poderia carregar o peso de ser filho de Dirk Niepoort, mas a verdade é que o jovem de 30 anos se preocupa mais […]

“É importante adaptarmo-nos aos tempos, sem radicalismos”

Nascido em 1992, Daniel Niepoort é hoje responsável de enologia na empresa com o seu apelido, depois de ter trabalhado em vários países do Mundo. Poderia carregar o peso de ser filho de Dirk Niepoort, mas a verdade é que o jovem de 30 anos se preocupa mais com as uvas, com o que tem no seu copo e com que a empresa coloca no copo do consumidor. Apareceu, para a nossa conversa, descontraído, como já o conhecemos e queremos, e acompanhado pela sua cadela. São inseparáveis. Sobre a Niepoort e o Douro, tem as suas convicções, e não deixa nada por dizer.

Texto: Mariana Lopes      Fotos: Niepoort

Quem é Daniel Niepoort?

Gosto de vinhos e estou a fazê-los. Nasci em Portugal, no entanto, não sou um clássico português: a minha mãe é da Suíça e o lado do meu pai é holandês e alemão. Uma grande mistura, mas o meu coração é português. Estive até aos 4 ou 5 anos cá, e depois do divórcio dos meus pais, fui com a minha mãe para a Suíça. Fiz lá a escola e a tropa, depois fiz um curso técnico de 3 anos, em Viticultura e Enologia, na Universidade de Strickhof. No curso, alternavam-se as aulas com os estágios académicos, e este foi o meu primeiro contacto com a área, sem ser através do meu pai. Com o meu pai, o contacto com o vinho era diferente, e foi bom poder ter as duas perspectivas…

entrevista daniel niepoort
Daniel com o pai Dirk Niepoort.

Sempre acompanhaste o teu pai nestas “andanças”, enquanto filho e curioso do vinho?

Quem conhece o meu pai sabe que a vida dele sempre foi a Niepoort. Quando eu era criança, nunca tinha as férias convencionais, de ir à praia e etc. Estava com ele a fazer lotes, jantares, viagens de vinho, visitas a produtores. Hoje é igual, porque trabalho na Niepoort e ele, além de meu pai, é o meu patrão, e acima de tudo, muito meu amigo. Mesmo durante os tempos que passei na Suíça, recorria muito ao meu pai, e felizmente os meus pais sempre se deram bem depois do divórcio, nunca foi difícil para mim.

O curso foi determinante para a tua vida profissional?

O curso técnico foi muito importante para aprender as bases, mas é um pouco frustrante o facto de, na escola, ser muito à base do “isto faz-se desta maneira, e pronto”. Do outro lado tinha o meu pai a dizer “mas eu faço assado”, e eu replicava isso na escola. Nesta altura, o meu pai não me ajudou nada com o curso, eu tinha mesmo de pesquisar e aprender por mim. Perguntava-lhe, triste, “‘Papi’, porque não me ajudas com isto?”, e ele respondia “tens de fazer as tuas coisas, por ti”. Escolhi depois alguns sítios na Suíça para estagiar, ainda durante o curso, e na maioria foi um desastre. Ligava ao meu pai a dizer o que tinha acontecido, e ele replicava “ainda bem, é assim que aprendes, a fazer”.

Acabei o curso, ainda fiz uma vindima na Suíça, e depois quis ir estagiar profissionalmente para alguns sítios, e o meu pai ajudou-me a ir para essas empresas, com contactos e nomes. Ele queria que eu saísse e não fosse logo para a Niepoort. Fui, então, para vários países: França, África do Sul, Austrália, Argentina, Espanha, Itália… ver como se fazia vinho em todo o lado. Ele sempre me disse, e também ao meu irmão, que também trabalha connosco: “Vocês têm de encontrar o vosso caminho, e se não gostarem de fazer vinho, não têm de fazer. Se quiserem, não digo que não”. Aqui, eu tive a minha fase “será que eu gosto mesmo de vinho, ou estou influenciado?, mas a decisão que tomei foi a melhor.

Foi, então, depois dos estágios profissionais que vieste para a Niepoort?

Ainda não. A seguir, fui para a Alemanha, região de Mosel, onde conseguia, pelo facto da vindima ser tarde, fazer vindima também em Portugal e França. Acabei por ser sócio do projecto alemão e fiquei lá 5 anos. Depois é que vim para Portugal, e já cá estou há 3 anos. Na verdade, não tinha muita vontade, não pelo país, mas porque ainda não queria assumir a responsabilidade de um projecto de tanto peso como a Niepoort. Além disso, a empresa estava a atravessar uma fase conturbada, com “guerras internas e familiares”. Eu não queria ter nada que ver com isso. Só que, para ser sincero, adorava a Niepoort, os vinhos do Porto… tive um clique, percebi que tinha de vir, e o meu pai aceitou.

entrevista daniel niepoort

Como foi, nessa altura, ingressar na Niepoort? O que fazias?

Comecei por tentar perceber o que era exactamente o trabalho do meu pai. E depois percebi que é difícil, e que requer trabalhar para uma coisa cujo resultado só dez anos depois. Uma das melhores coisas foi… as pessoas. Mas aprendi que também podem ser a pior. Nós, funcionários, crescemos na empresa. Há alguns que estão na Niepoort quase há 50 anos. São os trabalhadores que fazem a empresa, talvez por isso, ou pelo meu lado suíço [ri-se], não sou obcecado pela componente familiar da coisa. Para mim é mais importante a Família Niepoort. Somos todos Niepoort. Na altura, o meu pai disse-me que eu tinha um lugar na empresa. Perguntei-lhe “a fazer o quê?”, e ele respondeu-me “não sei, vens e logo se vê”. Na verdade, ele sempre teve esta filosofia de contratar as pessoas pelo seu carácter, e não tanto pelo currículo. Quando chegavam à Niepoort, faziam a função à qual se adaptavam melhor. Andei a fazer muitas coisas diferentes, no início. Entretanto, começou a pandemia de Covid-19, e isso, para mim, foi óptimo. Nunca tinha passado tanto tempo com o meu pai, desde que entrei na empresa, e aprendi muito durante essa fase.

E qual é a tua função actual na empresa?

A minha função é perceber o meu pai [ri-se]. Oficialmente, sou responsável de enologia. Mas é um “team work”, e eu trabalho ao lado do Luís Pedro [Cândido da Silva, enólogo na Niepoort]. Gosto muito de fazer o que faço. Mal cheguei, o meu pai abrandou um pouco e confiou mim, porque sabia que eu já tinha bons conhecimentos e que, de qualquer das formas, estava lá o Luís Pedro, que é muito bom enólogo. A empresa girava muito à volta do meu pai, e porque tinha de ser assim. Um dos meus trabalhos agora, de forma faseada, é “desfocar” a Niepoort do meu pai, sendo que isso não significa que vou focá-la em mim. Vou lá estar, no meu lugar, mas sem ser uma repetição dele. Tenho sorte por, em muitos aspectos, estar sintonizado com o meu pai, na filosofia e nas ideias.

O que queres para a Niepoort e para os vinhos Niepoort? Que conceito?

Continuar o que estamos a fazer, e melhorar. Não só fazer vinho, mas fazer algo pela região. Neste momento fazemos viticultura biológica e/ou biodinâmica em todas as nossas propriedades, a 100%, e eu gosto disso. Mas também compramos muita uva, que não é de produção bio, e não escondemos isso. Talvez pareça que faria mais sentido, ao invés disto, termos mais quintas em biológico, mas sem mão-de-obra teríamos, por exemplo, de mecanizar tudo, e não é esse o biológico que eu quero. Assim, temos quase 250 viticultores, que nos trazem as uvas, e isso é como um field blend. Se calhar, não fazem tudo como nós faríamos, mas em compensação, fazem algumas coisas melhores do que nós. Têm vinhas velhas em sítios especiais, por exemplo, que dão melhores uvas que algumas das nossas. E depois, como eu já disse, são pessoas. E eu adoro pessoas. Alguns só produzem para a Niepoort.

Quais os desafios e dificuldades que encontras agora, no teu trabalho?

Estão a perder-se vinhas e viticultores, e depois há as mudanças do clima e a necessidade de ter cada vez mais tecnologia. Não podemos fugir disto, mas temos de encontrar um equilíbrio. Além disso, é preciso mudarmos a maneira de pensar. Cada vez mais, o ser humano pensa só em si e as empresas querem crescer e ser muito grandes sem pensar num “todo”. Não podemos focar-nos apenas em cêntimos, custos, e “não podemos fazer isto e aquilo”, Já nem quero falar em sustentabilidade, por ser um termo tão usado para fazer marketing. Mas é um tema que me preocupa muito. O Douro, sem as oliveiras, amendoeiras, medronhos e todas as outras culturas, seria monocultura de vinho, e isso não seria bom. Se calcularmos os custos de fazer azeite das oliveiras tradicionais, não vale a pena fazê-lo. Mas se, em vez disso, pensarmos que é um produto que não precisa de tratamento, é apanhar e prensar, e que é tão utilizado na gastronomia portuguesa, culturalmente vale a pena produzi-lo. Os suíços não sabem quantos quilos de azeitona é necessário para gerar um litro de azeite. Mas eu, como sou, em parte, português, sei. E estou convicto de que vale a pena. Quero também trabalhar mais com animais na vinha, entre outras coisas.

entrevista Daniel Niepoort

Como é que propões que se tente solucionar a perda de vinhas no Douro e o facto de muitos viticultores não terem sucessão que pegue nelas?

Ainda não sei, mas tenho várias ideias. Primeiro, motivá-los, comprando toda a sua uva, quer seja de uma vinha mais nova ou mais velha. Já fazemos isto com muitos deles. Depois, mostrar-lhes que nós percebemos o que custa trabalhar na vinha. Também pagamos as uvas ao quilo, apesar de perdermos com isso. E nós, produtores de vinho, temos de cultivar mais a relação com as pessoas que produzem e nos entregam uva. Para mim isso surge fácil, porque eu sou “um gajo do campo”. Sou, infelizmente, “obrigado” a viver em Vila Nova de Gaia, na cidade, onde está a empresa.

Ao longo das últimas décadas, a própria Niepoort foi mudando, por exemplo, nos perfis de alguns vinhos. Como vez essas mudanças?

É importante adaptarmo-nos aos tempos, sermos flexíveis, sem radicalismos. Hoje posso estar a fazer um vinho com 10% de teor alcoólico, e amanhã um com 14%. Quando eu estava na tropa, e simulávamos situações, o meu patrão dizia-me “don’t fall in love with your plan” [não te apaixones pelo teu plano]. Porque não há só uma maneira de fazer as coisas. É muito isto.

Nós não fazemos os vinhos pelas modas. Pelo contrário, acho até que criámos algumas. No fim do dia, agimos consoante o que faz sentido para nós. E Portugal, com tanta diversidade de castas e terroirs, é um sonho para experimentar. O meu pai passou por tempos duros, houve alturas em que toda a gente queria arrancar as vinhas velhas. Hoje, as pessoas dão tudo para ter uma. Tudo muda, e nós também.

Podes afirmar, hoje, que fazes o vinho de que gostas?

Sim, sem dúvida. Sei que vou fazer coisas que agradam a umas pessoas e a outras não. Na escola, diziam-me que se devia fazer vinho para o consumidor. Mas qual deles? Há tantos… Por isso, nós fazemos os vinhos de que gostamos, e vamos encontrar as pessoas que também gostam deles. No entanto, não há ditaduras na Niepoort. Se alguém me sugere, ou ao meu pai, que devíamos fazer uma coisa de maneira diferente, nós dizemos tantas vezes “não”, como “sim”.

Quando era mais novo e ingénuo, dizia ao meu pai: “Porque é que fazes tanto vinho? Podias fazer menos e vender mais caro”. Hoje, penso de forma diferente. Tenho muito orgulho no nosso Diálogo, do qual produzimos 1,5 milhões de garrafas. É um vinho fantástico, e nem toda a gente tem possibilidade de comprar vinho caro.

Qual o vinho que mais gostas de beber, fora dos teus?

O vinho que ainda não provei. Bebo muitos desses. O estilo, não consigo dizer. Gosto de tudo, depende do momento. E, de vez em quando, também sabe bem uma cerveja…

Qual o conselho mais importante que o teu pai te deu, e que transportaste para o teu dia-a-dia?

Que tenho de ser sempre fiel a mim próprio. Parece simples mas, na verdade, na Niepoort e no mundo do vinho, todos querem que eu seja como o Dirk, e ao mesmo tempo, melhor ainda do que ele.

Tens algum conselho para um jovem que esteja a entrar no mundo do vinho?

Provar muito. E não só ler e estudar, mas sim ir ao terreno trabalhar, tocar, falar com as pessoas, questionar a razão das coisas. Isto não é só química. Também a tem, mas, acima de tudo, tem muito amor.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2023)

Editorial: O rei vai nu

Editorial

Luís Lopes É, no mundo inteiro, uma das mais conhecidas estórias infantis. Escrita pelo dinamarquês Hans Christian Andersen foi publicada, pela primeira vez, em 1837. Desde então teve milhares de traduções e, sobretudo, versões, muitas delas afastadas do texto original. Mas o que é que isto tem a ver com vinho, perguntarão? Editorial da edição […]

Luís Lopes

É, no mundo inteiro, uma das mais conhecidas estórias infantis. Escrita pelo dinamarquês Hans Christian Andersen foi publicada, pela primeira vez, em 1837. Desde então teve milhares de traduções e, sobretudo, versões, muitas delas afastadas do texto original. Mas o que é que isto tem a ver com vinho, perguntarão?

Editorial da edição nrº 70 (Fevereiro 2023)

Na verdade, o próprio título, na versão portuguesa, foi adulterado. A tradução inglesa do dinamarquês “Kejserens nye Klæder” – The Emperor’s new chothes – ou seja, “A roupa nova do Imperador” é bastante mais fiel. Mas não é isso que importa. Certo é que a minha avó me contava esta estória na hora de ir para a cama. Convenhamos, alguns dos seus contos de embalar davam pesadelos e, hoje, seriam considerados impróprios, coisas tenebrosas, com crianças devoradas por bruxas ou a arrancarem a própria carne para pagar à águia em cujo dorso viajavam para encontrar a mãe perdida. Enfim, outros tempos. Acredito que os avós de hoje não estão nem aí para contar estórias aos netos. O canal Disney trata do assunto. Mas, novamente, me desviei do tema.

A estória, muito resumida (Hans Christian Andersen que me perdoe) passa-se assim. Em tempos que já lá vão, existia um rei muito vaidoso, que gastava grande parte do tesouro real em roupas e joias. Sabendo dessa sua fraqueza, dois vigaristas conseguiram uma audiência e, apresentando-se como alfaiates de renome, disseram-lhe ter criado um tecido muitíssimo raro, diferenciador, tão especial que só as pessoas de inteligência superior conseguiam visualizar. Com esse tecido, propunham-se confecionar-lhe uma roupa que mais nenhum monarca teria, uma roupa que exaltaria a superioridade do rei e que, ao mesmo tempo, lhe permitiria, entre os seus cortesãos, distinguir os de intelecto adequado para continuar ao seu serviço. O rei achou a ideia extraordinária e tratou de pagar vultoso adiantamento. Ao mesmo tempo, anunciou à corte e ao povo ter encomendado trajes únicos, absolutamente singulares, que só os verdadeiramente inteligentes seriam capazes de apreciar. Os supostos tecelões foram instalados no palácio, com os seus teares, e fingiram começar a trabalhar. O rei enviou ao local os seus ministros, para lhe darem conta dos trabalhos. Eles nada viam, mas não o queriam confessar, temendo passar por ignorantes. Os aldrabões, vendo-os atrapalhados, descreviam-lhes os esplendorosos tecidos. E recebiam mais dinheiro, seda e fio de ouro para completar o trabalho. Os cortesãos voltavam então ao rei anunciando trajes de cores e padrões maravilhosos. Abreviando, chegou o dia de o monarca desfilar perante o povo. O rei despiu-se e os Cavaleiros Tecelões (entretanto, já condecorados) vestiram-lhe as roupas que, nas suas palavras, eram tão leves quanto uma teia de aranha. Ataviado com as imaginárias vestes, o rei desfilou na principal avenida da cidade, seguido de toda a corte. Nas ruas e janelas, o povo aplaudia e gabava os novos trajes do rei. Até que uma criança que, na versão inglesa do original, “não tinha um cargo importante e só via o que os olhos lhe mostravam” gritou no seu espanto: “o rei está nu!”. O povo, então, caiu em si e desatou a ridicularizar o rei. Daqui para a frente, a estória de embalar diverge do que Hans Christian Andersen escreveu. Na versão infantil, o rei, envergonhado, corre a esconder-se no palácio. No original, o rei não dá parte de fraco e, impávido e sereno, marcha nu enquanto os camareiros seguram um manto invisível.

Lembrei-me desta estória a propósito de uma mensagem que alguém me enviou, pasmado por “um vinho metido em garrafões de plástico que estagiaram ao sol custar o mesmo que o Vale Meão”. Na verdade, muitos vinhos encaixam no modelo. E tal como o autor dinamarquês, também eu não aponto o dedo aos falsos tecelões. Censuro sim a vaidade e credulidade do rei, da corte, do povo que, não querendo passar por ignorantes, calam o que os olhos (e nariz, e boca) lhes mostram. Mas talvez esteja a pedir muito. Provavelmente, tal como no conto original, o rei objecto de ridículo também não se retiraria envergonhado, antes continuaria exibindo suas imaginárias vestes.

João Paulo Martins lança nova edição do guia de vinhos Monção & Melgaço

João Paulo Guia

No final de Janeiro de 2023, João Paulo Martins — jornalista de vinhos, colaborador da revista Grandes Escolhas e de outras publicações, como o jornal Expresso — lançou o livro Monção & Melgaço – Guia de Vinhos 2022. Nesta obra, editada pela Oficina do Livro, João Paulo Martins versa sobre a história da sub-região da […]

No final de Janeiro de 2023, João Paulo Martins — jornalista de vinhos, colaborador da revista Grandes Escolhas e de outras publicações, como o jornal Expresso — lançou o livro Monção & Melgaço – Guia de Vinhos 2022. Nesta obra, editada pela Oficina do Livro, João Paulo Martins versa sobre a história da sub-região da Denominação de Origem Vinho Verde, e apresenta uma grande selecção de vinhos Monção e Melgaço.

O livro Monção & Melgaço – Guia de Vinhos 2022 (€10,90) comporta um capítulo sobre a história da região e dos seus vinhos, um capítulo de vinhos velhos e, como já é habitual, uma selecção dos que o autor considerou como os melhores do ano 2022. Além dos vinhos brancos, que actualmente são os mais representativos da região, João Paulo Martins incluiu rosés, espumantes e aguardentes vínicas. Para facilitar a leitura e o acesso aos temas e vinhos mais pertinentes para o leitor, este inclui um índice remissivo.

João Paulo Martins, jornalista há 32 anos na área dos vinhos, é colaborador permanente da revista Grandes Escolhas e colunista do semanário Expresso. Membro, há 20 anos, do júri do Concurso Mundial de Bruxelas, participou no Portugal Wine Guide.