Vinhos do Alentejo elegeram novo embaixador no Brasil

O concurso decorreu como habitualmente em duas etapas. Previamente seleccionados após um conjunto de exigentes provas teóricas e práticas ainda em solo brasileiro, começaram por ser apurados seis sommeliers finalistas que tinham como prémio uma viagem de estudo e trabalho ao Alentejo e onde decorreria a fase final do concurso. Foram assim apurados Bruno Margulhano […]
O concurso decorreu como habitualmente em duas etapas. Previamente seleccionados após um conjunto de exigentes provas teóricas e práticas ainda em solo brasileiro, começaram por ser apurados seis sommeliers finalistas que tinham como prémio uma viagem de estudo e trabalho ao Alentejo e onde decorreria a fase final do concurso.
Foram assim apurados Bruno Margulhano (SC), representante da Florence Vinhos; Diego Arrebola (SP), consultor, palestrante e embaixador, sócio da Arya Wines; Marcus Vinicius Mezadri (ES), professor de certificações internacionais (IWC e AWC) pela ISG e proprietário da Theu Vinho; Pedro Barcellos (RJ), professor na ABS-RJ; Vinicius Conde (SP), director estadual da sommelier school; Vinicius Santiago (RS), professor de WSET, FWS, formador e director de degustação na ABS-RS.
Na verdade, só cinco deles acabaram por poder aproveitar a viagem, porque Marcus Mezadri ficou retido no Brasil devido a um problema familiar de última hora, mas os cinco sommeliers aproveitaram bem a visita e tiveram oportunidade de mergulhar a fundo no mundo dos vinhos do Alentejo, visitar algumas das mais destacadas herdades da região, provar os seus vinhos e conhecer as vinhas, castas e processos de produção no Alentejo.

Depois de uma semana intensa de experiências e de contacto com os agentes da região, decorreu a prova finalíssima na sede da rota dos Vinhos do Alentejo, em Évora. Esta foi constituída por uma prova escrita para testar conhecimentos e uma prova oral e prática para observação do serviço. O júri constituído por João Geirinhas, representando a Grandes Escolhas, Tiago Caravana, director de marketing da CVR do Alentejo, Domingos Meireles director da Exponor Brasil e dois premiados sommeliers portugueses, Marc Pinto, Wine Director do Fifty Seconds e Ivo Peralta Head Sommelier do JNcQUOI Club, pôde apreciar o alto nível demonstrados por todos os concorrentes e enfrentar a dificuldade de escolher o vencedor perante tão elevados desempenhos.
Apesar disso, foi unânime na consagração de Vinicius Santiago que revelou muita segurança em todos os momentos da prova. É, no entanto, convicção dos responsáveis da CVR do Alentejo que todos os sommeliers concorrentes serão para sempre grandes entusiastas e divulgadores dos vinhos do Alentejo no país irmão.
Uma aguardente “divinal” da Moldova

Nos tempos em que a Moldova fazia parte da União Soviética, qualquer aguardente vínica chamava-se “Cognac”, a ser entendido como um tipo de bebida e não uma denominação de origem. Depois de se tornar num estado independente e à procura de novos mercados, a República da Moldova começou a trabalhar no sentido de respeitar as […]
Nos tempos em que a Moldova fazia parte da União Soviética, qualquer aguardente vínica chamava-se “Cognac”, a ser entendido como um tipo de bebida e não uma denominação de origem. Depois de se tornar num estado independente e à procura de novos mercados, a República da Moldova começou a trabalhar no sentido de respeitar as regras do jogo e juntou-se ao Acordo de Lisboa, que visa assegurar a protecção das denominações de origem, como é o caso do vinho do Porto ou Champagne, por exemplo. Lançou-se, assim, no desafio de arranjar um novo nome para as aguardentes produzidas no país.
A primeira sugestão para substituir o habitual “Cognac” foi “Distvin” juntando as palavras “Distilat de Vin” (destilado de vinho) até que foi proposto um tuning mais sonante, transformando “Distivin” em “Divin”, o que na língua romena/moldava significa “divinal”. E desde 1993, este ficou o termo oficial para aguardente vínica produzida na Moldova. Em 2012 foi assinado o Caderno de Encargos que estabeleceu as regras de elaboração de Divin.
A área geográfica delimitada para a produção de aguardentes vínicas abrange todo o território do país, mas insere-se, praticamente toda, na zona continental localizada nos planaltos dos Cárpatos, no Norte, e inclui a área de Codru, no Centro, e as estepes de Bugeac, no Sul.
Entre as castas autorizadas para a produção de Divin, constam as variedades locais como a Fetească Alba, Alb de Onitcani, Alb de Suruceni, Riton e Luminita; as do Cáucaso como a Rkatsiteli e de países territorialmente próximos da Moldova, como Bianca, Pervenet Magaracea, Suholimanski belii; e castas internacionais, entre elas Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling, grupo Pinot, Ugni Blanc, Silvaner e Aligote. Para os Divin em prova, foram utilizadas as castas Aligote, Chardonnay, Sauvignon, Fetească e Rkatsiteli.
A destilação é permitida em sistemas contínuos ou descontínuos. O tempo mínimo de estágio é de 3 anos para V.S. (Very Special); 5 anos para V.S.O.P. (Very Super Old Pale); 7 anos para X.O. (Extra Old) e 20 anos para X.X.O. (Extra Extra Old). O teor alcoólico mínimo do produto final deve ser 40%.
A Molddavshii Standart é um dos maiores produtores de aguardentes na Moldova, que iniciou a sua actividade em 1998. A gama de produtos destilados é vasta, entre os quais se destaca “Legenda Moldovei” que significa “Lenda da Moldova”, baseado numa lenda relacionada com a criação do Principado da Moldova no século XIV. Reza a história que o príncipe Dragoș andava à caça nas montanhas. Ao perseguir um bisonte, o seu cão, Molda, caiu nas águas de um rio e não sobreviveu, enquanto a presa foi morta pelas flechas dos caçadores. Em homenagem ao seu cão, o príncipe nomeou o rio de Moldova e o nome extendeu-se ao principado.
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)
Organizado todos os anos pela ViniPortugal, o Fórum Vinhos de Portugal teve mais uma edição no dia 22 de Novembro, em Leiria. No evento, no qual marcaram presença várias entidades do sector, esteve em destaque a apresentação das novas regras de rotulagem dos produtos vitivinícolas; foram comunicados, como habitualmente, os números e o balanço de […]Declaração nutricional obrigatória nos rótulos. Fórum Vinhos de Portugal discutiu novas regras
Organizado todos os anos pela ViniPortugal, o Fórum Vinhos de Portugal teve mais uma edição no dia 22 de Novembro, em Leiria. No evento, no qual marcaram presença várias entidades do sector, esteve em destaque a apresentação das novas regras de rotulagem dos produtos vitivinícolas; foram comunicados, como habitualmente, os números e o balanço de performance do vinho português no mercado nacional e internacional entre os meses de Janeiro e Setembro de 2023; e foi, ainda, divulgado o Plano de Marketing e Promoção para 2024 da ViniPortugal — entidade responsável pelo desenvolvimento e execução de estratégias e planos de promoção dos Vinhos de Portugal em mercados internacionais — com a marca Wines of Portugal.
Nesta edição do Fórum Anual Vinhos de Portugal, o destaque foi para as novas regras de rotulagem de produtos vitivinícolas. A partir de 8 de Dezembro de 2023, será obrigatória a indicação na rotulagem da declaração nutricional, dos ingredientes e data de durabilidade mínima. Os vinhos e produtos vínicos que tenham sido produzidos antes dessa data podem continuar a ser colocados no mercado até ao seu esgotamento. O objectivo do legislador europeu é que esta informação sirva, sobretudo, a necessidade de os consumidores estarem mais bem informados para fazerem as suas escolhas. Através da proposta apresentada por Portugal, legislou-se no sentido de se disponibilizar a informação sobre a lista de ingredientes e a declaração nutricional, através de meios eletrónicos, por exemplo o Código QR.
Segundo Frederico Falcão, Presidente da ViniPortugal, “as novas regras de rotulagem são muito importantes para o consumidor estar na posse de todas as informações, para tomar melhores decisões em relação ao consumo de produtos vitivinícolas, na medida em que a informação presente contará com a declaração nutricional, como o valor energético, as quantidades de lípidos, ácidos gordos saturados, hidratos de carbono, açucares, proteínas, entre outros. Esta regra, já aplicada aos outros géneros alimentícios, vai-nos trazer mais informação sobre aquilo que consumimos e, assim, fazermos escolhas mais informadas”.
De acordo com os dados apresentados pelo IVV (Instituto da Vinha e do Vinho), em 2022, Portugal encontrava-se entre os 10 principais exportadores mundiais, ocupando o 8º lugar em volume e o 9º lugar em valor, sendo que os principais mercados foram Estados Unidos da América, Reino Unido e Alemanha. De Janeiro a Setembro de 2023, Portugal exportou 241 milhões de litros de vinho português, registando um valor de 682 milhões de euros, a um preço médio por litro de 2,83 euros. Quanto aos 5 maiores mercados de destino do vinho português, até Setembro deste ano, estes foram os EUA (77 milhões de euros), França (75 milhões), Reino Unido (68 milhões), Brasil (58 milhões) e Canadá (38 milhões).
Especificamente, o vinho tranquilo com DO/IG representou 110 milhões de litros exportados, um acréscimo de 1,6% face a 2022, e 327 milhões de euros, um aumento de 11 milhões de euros face a 2022, ou seja, 3,2%. O preço médio por litro também teve um ligeiro aumento, situando-se em 2,97 euros.
“Temos assistido a um crescimento significativo nas exportações dos vinhos portugueses de forma continua, ano após ano. Este aumento deve-se à excelente qualidade dos nossos vinhos e ao trabalho de promoção internacional que tem sido desenvolvido em conjunto com o sector, no sentido de dar a conhecer os nossos produtos. Para 2024, a ViniPortugal tem definido um programa de promoção com o objectivo de trabalhar a notoriedade de marca Wines of Portugal, desenvolver o posicionamento distintivo dos vinhos portugueses com vista a credibilizar a nossa oferta e afirmar Portugal como um ‘hot spot’ internacional do sector do vinho. Para o alcance destas metas teremos um investimento de 8,32 milhões de euros para trabalhar 22 mercados, sendo que 66% será fora da Europa”, adiantou Frederico Falcão.
Destaques do Fórum Vinhos de Portugal 2023:
-
Novas regras de rotulagem dos produtos vitivinícolas obrigam à indicação obrigatória no rótulo da declaração nutricional, dos ingredientes e data de durabilidade mínima (para alguns produtos)
-
De Janeiro a Setembro de 2023, Portugal exportou 241 milhões de litros de vinho português, registando um valor de 682 milhões de euros
-
De 2010 a 2022 houve um crescimento de 88% das exportações mundiais de vinho português
-
Os principais mercados das exportações de vinhos portugueses mantêm-se França, EUA, Brasil, Reino Unido e Canada
-
Em 2022 Portugal encontrava-se entre os 10 principais exportadores mundiais ocupando o 8º lugar em volume e o 9º lugar em valor
-
ViniPortugal mantém investimento acima dos 8,3 milhões de euros
Sogrape lança fundo destinado à inovação na indústria do vinho e bebidas

Sogrape Ventures é o primeiro fundo de capital de risco do grupo Sogrape, gerido em parceria com a Beta Capital, destinado a startups com soluções inovadoras, enquadradas na cadeia de valor da indústria do vinho em particular, e das bebidas em geral. Com um capital inicial de 5 milhões de euros, o fundo Sogrape Ventures […]
Sogrape Ventures é o primeiro fundo de capital de risco do grupo Sogrape, gerido em parceria com a Beta Capital, destinado a startups com soluções inovadoras, enquadradas na cadeia de valor da indústria do vinho em particular, e das bebidas em geral.
Com um capital inicial de 5 milhões de euros, o fundo Sogrape Ventures pretende “investir em startups disruptivas e projectos early-stage, com abordagem positiva nas vertentes ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) e com produtos ou modelos de negócio inovadores com potencial de escalabilidade”, explica a Sogrape, que adianta, ainda, que “o Comité de Investimento do Fundo é composto por quadros da Sogrape e membros independentes com experiência ao nível de capital de risco e agro & foodtech”. O âmbito é internacional, mas com especial foco nas start-ups portuguesas.
“Estamos muito optimistas com o lançamento do fundo Sogrape Ventures e com a oportunidade de darmos a inovadores, empreendedores e startups o apoio necessário para testar, desenvolver e expandir soluções inovadoras capazes de criar um verdadeiro impacto na indústria do vinho. Este projecto vem dar continuidade ao legado que nasceu do sonho do meu Avô e que tem sido construído ao longo de 80 anos através de várias gerações. Para a nossa família, o vinho, mais do que um negócio, foi sempre uma forma de ser e de estar na vida e este Fundo é mais um passo natural neste sentido”, comenta Fernando da Cunha Guedes, Presidente do grupo.
A Sogrape já se encontra em processo de identificação e análise de startups, em Portugal e noutros países.
Vesúvio: 200 anos de erupção

A Quinta do Vesúvio tem uma situação geográfica única no Douro. Fica na margem Sul, perto de Numão, em frente a Carrazeda de Ansiães, na zona onde desagua a Ribeira da Teja. Tem uma enorme frente de rio, e foi uma quinta decisiva no avanço da Região Demarcada do Douro para o Douro Superior, área […]
A Quinta do Vesúvio tem uma situação geográfica única no Douro. Fica na margem Sul, perto de Numão, em frente a Carrazeda de Ansiães, na zona onde desagua a Ribeira da Teja. Tem uma enorme frente de rio, e foi uma quinta decisiva no avanço da Região Demarcada do Douro para o Douro Superior, área que anteriormente não era zona de vinho.
Rupert Symington, CEO da Symington Family Estates, explicou a história da quinta. Logo a abrir disse “2023 porquê? Porque nós queremos.” Realmente, a quinta já tinha registos desde 1565, e era conhecida pela produção de citrinos, amêndoas e figos. No Douro Superior praticamente não havia produção de vinho. Enormes maciços de granito dificultavam a construção dos terraços. Só no século XVIII começou a produção de vinho, graças à utilização de dinamite. Também a navegabilidade do rio foi construída a pulso, e os acessos ao Douro Superior transformaram-se decisivamente. Todos nos lembramos das imagens de barcos rabelos puxados em zonas rasas por carros de bois a partir da margem.
António Bernardo Ferreira, tio e sogro de D. Antónia “a Ferreirinha” comprou a quinta em 1823 e já com a visão e decisão de plantar vinha. Isto foi mesmo depois das invasões francesas e num período de grande instabilidade política. A revolução liberal ocorreu em 1820 e culminou em 1822 com a ratificação e implementação da primeira Constituição Portuguesa. Foi também em 1822 que foram retiradas algumas das limitações da Região Demarcada do Douro. António Bernardo Ferreira plantou em 1823 nada menos que 150ha de vinha, o que implicou a construção de milhares de muros. Em 1827 foi construída a casa, e em 1830 mudou o nome para Quinta do Vesúvio. A obra demorou 13 anos, e chegou a ter diariamente 500 trabalhadores envolvidos. Ainda não se chamavam “colaboradores.” Esta adega de 1827 permanece operacional e na essência igual à que foi construída. Mais tarde, D. Antónia construiu a escola expandiu a capela e a casa. O marido e primo de D. Antónia, António Bernardo Ferreira Filho, morreu em 1844 e ela assumiu a liderança. Durante a filoxera, para não ter de despedir os trabalhadores, ordenou a construção de um muro a toda a volta da propriedade, e plantou amendoais, laranjais e olivais. O Vesúvio foi das primeiras quintas a engarrafar Vinho do Porto com marca própria, em 1863. A estação de comboios foi inaugurada em 1887, facilitando a viagem, que era difícil e demorada.

Mais ou menos na mesma altura, 1890, a família Symington comprou uma quinta mesmo em frente ao Vesúvio, a Quinta da Senhora da Ribeira. A razão envolve o Vesúvio: havia a estação dos comboios a facilitar imenso a viagem desde o Porto, depois bastava atravessar o rio. Rupert Symington riu-se: “estivemos 100 anos a olhar o Vesúvio desde o outro lado do rio.” Os Symington têm a sua história bem documentada no seu website, que convido a visitar. Conta como Andrew James Symington chegou a Portugal em 1882, o que faz com que a actual administração seja a quarta geração à frente do grupo, com a quinta já a apontar-se para a sucessão. Mas através da herança da esposa de AJ, Beatrice Atkinson, são já 14 gerações que atravessam toda a história do Vinho do Porto, desde 1652. Os Symingtons acarinham este passado e também a sua ligação ao Douro e à terra. Os vários membros da família foram comprando quintas e casas no Douro. Quando, na sequência da II Guerra Mundial tiveram de vender a Quinta da Senhora da Ribeira, foi uma dor de alma, ferida que só foi curada em 1998, quando a recompraram para a Dow’s, uma das marcas do grupo. Entretanto, já tinham adquirido a Quinta do Vesúvio, em 1989. A venda do Vintage 1985 correu muito bem nos USA e no UK, e pela primeira vez em 30 anos havia alguma folga financeira.
Após séculos de lotes de diferentes sítios, o vinho do Porto explora agora o conceito de terroir. O do Vesúvio é único.
Os Symingtons tinham relativamente poucos terrenos próprios. Quando soube que o Vesúvio estava à venda, Ian disse à família “não podemos perder esta oportunidade, é a quinta com mais história do Douro.” Era a ocasião para garantir fornecimento de uvas de grande qualidade. O Vesúvio foi das primeiras quintas a ter plantação por castas e tinha uma adega de boa qualidade. Mas na época tinha 56 accionistas, foi preciso ganhar um leilão por carta fechada, na segunda ronda, e a assinatura dos documentos demorou mais de um longo dia. A adega ficou como estava, na vinha foram replantadas grandes parcelas. A vinha assegurou logo vinhos de nível superior para as marcas do grupo, Graham’s, Dow’s, etc. Logo em 1989 engarrafaram um Vintage de quinta, sendo assim um dos primeiros Single Quintas, em particular, um dos primeiros a serem lançados todos os anos, em vez de apenas nos anos “não-clássicos.”
UM ASSOMBRO DURIENSE
O Vesúvio produzia anualmente já na altura 20 a 30 mil caixas (de 12 garrafas, 9 litros) de vinho, mas só engarrafava 2 a 3 mil. Era assim possível todos os anos engarrafar um vinho da melhor qualidade, permitindo focar a produção no conceito de terroir, fortíssimo em outras grandes regiões vinícolas do mundo, mas não a primeira prioridade na DOP Porto, que preferia enfatizar a virtude dos lotes (várias localizações, por vezes vários anos). O terroir foi assim espreitando devagar nas motivações dos enólogos do vinho do Porto, e as duas frentes vão ainda hoje avançando lado a lado. Até 2007 foi sempre assim. Charles Symington, o actual enólogo, fez ali o seu primeiro vintage em 1995. Mais tarde introduziu a refrigeração nos lagares, depois o desengaçador, mas a pisa a pé foi mantida até hoje. Em 1989 havia 60 hectares de vinha, hoje são 128ha. A quinta tem no total 326ha. No fim dos anos 1990, o novo Douro apareceu em força, com as mesmas vinhas a produzir Porto e DOC Douro. As novas plantações procuraram lugares mais frescos, com maior altitude, para possibilitar a produção de DOC Douro. Depois de anos de experiência, em 2007 foram lançados o primeiro tinto Quinta do Vesúvio e o seu irmão Pombal do Vesúvio, há dois anos foi lançado o primeiro Comboio do Vesúvio, um tinto sem madeira, para beber mais jovem. O Vintage continuou sempre a ser produzido a não ser em anos mesmo trágicos em qualidade (1993 e 2002). Os primeiros vintages, dos anos 1990, mostram ainda hoje muita envolvência e encanto, tal como os primeiros tintos se mostram jovens e voluptuosos, filhos do seu sítio, maduros e poderosos, mas cheios de juventude e frescura. São vinhos para envelhecer e apreciar com calma.

O lançamento do Quinta do Vesúvio Douro tinto de 2021 foi pontuado por esta efeméride, 200 anos de produção de vinho na quinta. Aqui faz-se uma viticultura heróica, há muito pouca água, apesar do rio logo ali ao lado. O ano de 2021 ajudou do ponto de vista climático, os vinhos têm frescura, com aroma levantado, e o estágio na madeira foi feito de forma equilibrada, subtil, de forma a mostrar a propriedade, as castas, o Douro. As barricas foram de 400 litros, 80% madeira nova, incorporação cuidadosa. São vinhos ainda na sua infância, precisam de tempo e paciência.
Emblemática propriedade que pertenceu a D. Antónia “Ferreirinha”, a Quinta do Vesúvio foi comprada pela família Symington em 1989 a 56 diferentes accionistas.
200 anos não é brincadeira, e durante dois dias viajei acima-abaixo no rio Douro, apreciando o Vesúvio a partir da água, como em outras ocasiões apreciei a exploração dos seus caminhos em terra. Visitar o Douro é sempre suster a respiração em assombro, e não me canso de apreciar cada detalhe: é um muro, é um mortório, um recanto inóspito do rio que a força humana ao longo de muitos anos conquistou e domou, é um tomate provado acabado de apanhar, em sua época perfeita, como mais tarde será uma laranja que hoje aparece ainda como uma bola de golfe pequena e compacta de verde. E são as pessoas, o brilho nos olhos quando falam da sua herança com um misto de orgulho, responsabilidade e determinação. Não é só terra, é a vinha, são os vinhos, são as quintas, são as marcas, são as pessoas, que passam gerações, preenchem posições, permanecem. Os visitantes, como eu, ganham também carinho por estes sítios, procuram a sombra, provam um canapé do sempre excelente Pedro Lemos, dão uma bicada nos novos vinhos, aparecem agora muitos brancos, pequenas experiências que prevejo desaguem em breve em novas marcas fortes. Tenho a sorte de ter acompanhado este projecto do Vesúvio desde o seu princípio, logo em 1989, e tenho um sereno orgulho alheio no que os bravos Symington conseguiram. Agora, venham mais 200…
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)
Chryseia 2021: A excelência de um ano fresco no Douro

Numa aliança que se iniciou em 1999, unindo o produtor de Bordéus e enólogo Bruno Prats (antigo proprietário do Château Cos d’Estournel) aos maiores proprietários de vinhas no Douro, a família Symington, nasceu a Prats & Symington. Esta parceria única, de conhecimentos e tradições de duas grandes regiões vitivinícolas mundiais, resultou na criação de um […]
Numa aliança que se iniciou em 1999, unindo o produtor de Bordéus e enólogo Bruno Prats (antigo proprietário do Château Cos d’Estournel) aos maiores proprietários de vinhas no Douro, a família Symington, nasceu a Prats & Symington. Esta parceria única, de conhecimentos e tradições de duas grandes regiões vitivinícolas mundiais, resultou na criação de um grande tinto do Douro, que ecoa além-fronteiras: o Chryseia.
A Prats & Symington é, ao dia de hoje, proprietária de duas quintas no Douro: a Quinta de Roriz (na fotografia) e a Quinta da Perdiz, ambas localizadas no Cima Corgo e a operar em modo de Produção Integrada. As uvas do Chryseia provêm das duas quintas, e também da vinha vizinha de Roriz, Quinta da Vila Velha, propriedade particular de Rupert Symington. A Quinta de Roriz foi adquirida pelas duas famílias em 2009 com foco neste vinho, um passo importante para a obtenção da qualidade e da consistência que hoje nele encontramos. Em solos de xisto, a propriedade tem exposição maioritariamente a Norte e totaliza 95 hectares, cerca de 43 de vinha. Aqui, as duas castas que compõem o lote do Chryseia são dominantes — Touriga Nacional e Touriga Franca — mas também estão presentes Tinta Roriz, Sousão, Tinto Cão e outras tradicionais da região.
A apresentação da colheita de 2021 do Chryseia (com estágio de 15 meses em barricas de carvalho francês de 400L), mas também do entrada de gama Prazo de Roriz (6 meses em barrica) e do tinto Post Scriptum (12 meses em barrica), teve lugar no restaurante do chef Pedro Lemos, no Porto, e foi conduzida por Rupert Symington, Bruno Prats e Miguel Bessa, enólogo residente do projecto. “O que fizemos aqui não foi propriamente ir à procura do sucesso do vinho, foi acreditar que os vinhos apresentados hoje podem ser pedidos todos os dias aqui e colocados no pairing sem limitações, e isso é conseguido pela elegância e grandiosidade dos vinhos”, comentou Pedro Lemos, sobre a harmonização com pratos da sua autoria.
Bruno Prats — que actualmente residente em Genebra e se mantém ligado a duas empresas, Klein Constantia, na África do Sul, e Prats & Symington — destacou a capacidade de envelhecimento destes vinhos do Douro, referindo que até mesmo um Prazo de Roriz 2012, recentemente provado, estava delicioso. “O Post Scriptum é o segundo vinho do Chryseia. Ao fazer o lote final deste, seleccionamos o melhor dos melhores. O que resta, e que é feito com igual cuidado e qualidade, e das mesmas vinhas, origina o Post Scriptum”, referiu o enólogo. “Lembro que, em geral na Europa, 2021 foi um ano muito quente, com ondas de calor horríveis, mesmo no Reino Unido. Mas não no Douro, onde tivemos um ano fresco. Isso foi bom para nós, que procuramos elegância e finesse. Pudemos aproveitar um longo período de noites frescas que mantiveram a acidez e frescura, e boas condições durante a vindima, com pouca chuva. Foi um ano de colheita muito semelhante às minhas memórias de Bordéus. Uma colheita que elevou, sem dúvida, as características do Chryseia, que são a elegância, finesse, ‘drinkability’ e frescura. Queremos continuar a fazer o Chryseia assim, no seu espírito muito próprio. A magia do Douro é que permite fazer vinhos com enorme potencial de guarda, mas muito acessíveis, em perfil, enquanto jovens”, comentou Bruno Prats.
Já Miguel Bessa, enólogo residente da Prats & Symington, confessou que, para si, “o dia de lançamento destes vinhos é como o dia em que levamos pela primeira vez os filhos à escola, pela mão. O ano 2021, no meio de dois anos muito quentes, foi para nós um ano fácil, que veio ao nosso encontro: fresco, com maturações muito lentas, transportando-nos no vinho para os bosques da quinta, num lado mentolado e de frescura. Estou muito satisfeito…”, rematou.
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)
Fraga do Calvo: O retomar de um sonho adiado

Em 1951, José Marinho era apenas um jovem quando iniciou a aventura da emigração, longe das suas origens, do outro lado do Atlântico. As razões foram as mesmas de muitos conterrâneos e compatriotas: a busca de uma vida melhor. As longas horas de trabalho muito duro no Brasil não obstaculizaram alguns períodos de ócio que […]
Em 1951, José Marinho era apenas um jovem quando iniciou a aventura da emigração, longe das suas origens, do outro lado do Atlântico. As razões foram as mesmas de muitos conterrâneos e compatriotas: a busca de uma vida melhor. As longas horas de trabalho muito duro no Brasil não obstaculizaram alguns períodos de ócio que permitiram desenvolver ligações sociais. Num desses momentos de descontracção, conheceu Etelvina Alves, a mulher que o encantou e com a qual regressou a Portugal, na década de 60, para casar e constituir família.
Com o dinheiro amealhado resolveu retomar um velho sonho e comprou a Fraguita, uma propriedade no Douro com três hectares, situada em Cabeda, no concelho de Alijó, na qual desenvolveu com grande entusiasmo a produção de vinho, que depois vendia na movimentada taberna do centro da povoação, por onde passava a Estrada Nacional 15, sendo na altura a única ligação entre a cidade do Porto e os territórios situados para lá da Serra do Marão. Contudo, a finitude da vida colocaria um ponto final na sua paixão.
Em 2014, um dos netos quis dar continuidade ao legado do seu avô. “Foi preciso tempo e algumas pessoas para que o meu desejo de colocar as mãos na terra ganhasse a força necessária para eu recomeçar uma história e dar continuidade a um sonho antigo, o sonho adiado de José Marinho”. Refere Gil Taveira, o actual mentor e enólogo do projecto.
Uma nova fase de expansão
Como seria de esperar, os novos empreendimentos vínicos não estão isentos de numerosos desafios e dificuldades. “O meu projecto de vida é pautado por muitos episódios de luta e persistência, que desaguam em singulares momentos de felicidade”, diz Gil Taveira.
Um dos maiores constrangimentos que teve de ultrapassar foi o arrendamento de novos vinhedos, com características semelhantes aos originais, que oferecessem garantias de qualidade. Actualmente, o projecto apresenta um total de cinco hectares de vinha, compostos pelas castas brancas Códega do Larinho, Gouveio e Viosinho. Relativamente às castas tintas, o encepamento passa por Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz.
Ano após ano, tudo foi crescendo, e o que começou com uma pequena vinha no Douro transformou-se num projecto vínico viável, que inclui uma parceria com viticultores na região da Beira Interior, iniciada em 2018, dando início a uma nova marca e a vários vinhos.
O sonho não acaba aqui porque, ao que parece, haverá novos desenvolvimentos. Diz o enólogo, “hoje sei que a emoção e o amor são duas das mais valiosas ferramentas que utilizarei para que este sonho não mais seja adiado. O futuro não está planeado, mas… é inevitável”.
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)
Herdade do Rocim juntou 58 produtores no Amphora Wine Day 2023

Na edição de 2023 do maior evento português dedicado aos vinhos de ânfora, Amphora Wine Day, rumaram à Herdade do Rocim, na Vidigueira, no dia 11 de Novembro, 1700 visitantes e 58 produtores de vinho. Com 22 produtores estrangeiros — 12 da Geórgia e os restantes de Itália, França, Espanha e África do Sul — […]
Na edição de 2023 do maior evento português dedicado aos vinhos de ânfora, Amphora Wine Day, rumaram à Herdade do Rocim, na Vidigueira, no dia 11 de Novembro, 1700 visitantes e 58 produtores de vinho.
Com 22 produtores estrangeiros — 12 da Geórgia e os restantes de Itália, França, Espanha e África do Sul — e 36 nacionais, foram superados, segundo a organização, os números da edição anterior, também com mais apostas ao nível da gastronomia tradicional, entre restaurantes e queijarias. O evento proporcionou, ainda, várias provas comentadas por especialistas internacionais, como Mark Squires, Marcelo Copello, Paul White, Sarah Ahmed ou Suzana Barelli.
“Quando criámos esta iniciativa esperávamos, no máximo, umas três centenas de pessoas… já nesse ano, o número de visitantes foi muito superior, mas nunca esperávamos que este momento anual que queríamos fosse a celebração dos vinhos de talha alentejanos e dos vinhos de ânfora nacionais e internacionais, da Herdade do Rocim e de todos os produtores que se quisessem agregar a nós, atingisse este patamar. A equipa já está a pensar na próxima edição!”, afirma Pedro Ribeiro, enólogo e administrador do Rocim, fundador do Amphora Wine Day, que teve a sua primeira edição em 2018.
Às 18h00 abriram-se as talhas, momento que, segundo Catarina Vieira, proprietária e enóloga do Rocim, “representa o culminar de uma fase de muito trabalho, a nossa manifestação de respeito pela tradição, um momento de celebração”.