Estive Lá: O lado selvagem do CCB
O restaurante Sauvage, espaço intimista e acolhedor, é já bem conhecido entre os lisboetas. Ao alargar os horizontes, o projecto expandiu-se para o rooftop do CCB, onde se juntou a vista privilegiada sobre o rio Tejo à experiência gastronómica. O novo restaurante abriu no último trimestre do ano passado, com um espaço amplo, airoso e […]
O restaurante Sauvage, espaço intimista e acolhedor, é já bem conhecido entre os lisboetas. Ao alargar os horizontes, o projecto expandiu-se para o rooftop do CCB, onde se juntou a vista privilegiada sobre o rio Tejo à experiência gastronómica.
O novo restaurante abriu no último trimestre do ano passado, com um espaço amplo, airoso e bem decorado, num estilo sóbrio. Rapidamente ganhou popularidade entre os moradores da zona de Restelo, sendo procurado para almoços em família nos fins de semana e pelo público mais jovem na faixa etária dos 30-40 anos. E há que acrescentar, como é óbvio, a clientela turística devido à sua localização. Por estas duas razões, a oferta gastronómica baseia-se mais nas tradições portuguesas, da responsabilidade do Chef Ricardo Gonçalves (que me lembro bem da Enoteca de Belém).
Experimentámos uns croquetes de pato deliciosos, crocantes por fora e macios por dentro, com compota de marmelo caramelizado e pickles de mostarda (5€); um exótico picadinho de bacalhau com tinta de choco, alface do mar e ovas curadas (12,5€) e um saboroso Brás de leitão com batata palha, tapenade e ovo cozido a baixa temperatura (13€). O prato principal foi bochecha de vaca estufada com cebola confitada e puré de batata aro-matizado com queijo da ilha (18€). Para sobremesa há várias opções. Dentro das provadas posso recomendar mousse de chocolate (70% de cacau) com caramelo salgado e avelãs (5€) como opção menos doce. Para os mais gulosos há uma versão de pudim Abade de Priscos (6€) servido com doce de limão, que corta um pouco a sua doçura. A sobremesa clássica da casa, que tem o nome curioso de Caminho de Salomão (7€), é a mais gulosa, feita de bolacha, natas, doce de ovo, caramelo e suspiro.
Gostei da carta de vinhos, elaborada de forma inteligente. Não é demasiado extensa para não dificultar a escolha, mas é bem composta. Oferece óptimas opções para cada tipo (brancos, tintos, rosés e espumantes) e região (Vinho Verde, Douro, Dão, Bairrada, Lisboa e Alentejo). Não há vinhos banais, e a maior parte dos produtores são clássicos, como a Niepoort, Luís Pato, Quinta das Bágeiras ou Reynolds e alguns projectos mais recentes, bem seleccionados. A escolha é fácil, para quem conhece o panorama vínico português e serve como óptima montra dos vinhos nacionais para os visitantes estrangeiros. Apreciei particularmente a presença do vinho de Carcavelos (Villa Oeiras Superior) como a opção de vinho generoso, que faz todo o sentido. Aliás, acho que todos os restaurantes com alguma ambição na zona de grande Lisboa o deviam ter.
Há também uma excelente oferta de cocktails, criados pela bartender Caroline Freitas. Bebi um Herbal Breeze (gin, flor de sabugueiro e licor de poejo) e gostei muito pelo seu sabor pleno e equilibrado. Para finalizar, menciono os pratos bonitos e estilosos das marcas portuguesas Vista Alegre e Costa Nova. Enfim, a experiência foi extremamente positiva e só me falta passar por lá à noite, numa sexta-feira ou sábado, para beber um copo num ambiente com música e DJs convidados.
Sauvage
Morada: Fundação Centro Cultural de Belém, piso 3, Praça do Império, 1449-003 Lisboa
Telefone: 913 366 585
E-mail: geral@sauvageccb.pt
Horário: Terça a Domingo das 12:00 às 01:00 (vésperas de feriado e feriados encerra também à 01:00); Sextas e sábados das 12:30 às 03:00
Grupo Terras & Terroir entra na Região de Trás-os-Montes
O grupo Terras & Terroir, detido pelos empresários Álvaro Lopes, Maria do Céu Gonçalves e Paulo Pereira, entrou recentemente na região vitivinícola de Trás-os-Montes com a aquisição da marca de vinhos Valle de Paços. A nova referência situa-se em Valpaços, concelho onde o grupo possui o Olive Nature Hotel & Spa, unidade turística inspirada noutro produto […]
O grupo Terras & Terroir, detido pelos empresários Álvaro Lopes, Maria do Céu Gonçalves e Paulo Pereira, entrou recentemente na região vitivinícola de Trás-os-Montes com a aquisição da marca de vinhos Valle de Paços. A nova referência situa-se em Valpaços, concelho onde o grupo possui o Olive Nature Hotel & Spa, unidade turística inspirada noutro produto característico de Trás-os-Montes, o azeite.
Foi com a aquisição da Quinta da Pacheca, no Douro, que o grupo iniciou o projecto de investimento no sector de vinhos e turismo em Portugal. Atualmente também detém, na região duriense, as unidades hoteleiras Vila Marim Country Houses, em Mesão Frio, e Folgosa Douro Hotel, em Armamar.
Depois de comprar a Quinta da Pacheca em 2012, pagando cerca de sete milhões de euros à família Serpa Pimentel, e a Quinta de São José do Barrilário em 2017, ambas na região do Douro, o grupo Terras & Terroir adquiriu a Caminhos Cruzados, no Dão, a Quinta do Ortigão, na Bairrada, e a Herdade da Rocha e a Ribafreixo Wines, no Alentejo, em 2022 e 2023, respetivamente e entra agora na região vitivinícola de Trás-os-Montes. Composta por vinhos tintos, brancos e rosés a marca Valle de Passos tem uma forte vertente de exportação para mercados europeus, Estados Unidos da América, Canadá e Brasil.
Dalva também é nome de aguardente
A C. da Silva é uma empresa de Vinho do Porto que hoje integra o grupo Granvinhos. A fundação remonta a 1933, quando Clemente da Silva regressou do Brasil e fundou a empresa, beneficiando dos stocks de uma outra, velha e entretanto extinta empresa de Porto, a Corrêa Ribeiro & Filhos, com carácter familiar e […]
A C. da Silva é uma empresa de Vinho do Porto que hoje integra o grupo Granvinhos. A fundação remonta a 1933, quando Clemente da Silva regressou do Brasil e fundou a empresa, beneficiando dos stocks de uma outra, velha e entretanto extinta empresa de Porto, a Corrêa Ribeiro & Filhos, com carácter familiar e ligada à sua mulher, cuja origem remontava a 1862. Foi possível, assim, criar os stocks para se arrancar com o negócio.
A marca Dalva, que resulta da contracção de “da Silva”, foi então criada e tornou-se o nome emblemático da casa. A empresa C. da Silva, inicialmente apenas ligada ao Vinho do Porto, expandiu os negócios para os cinco continentes, onde ainda hoje marca presença, com grande foco na distribuição. Tal como outras empresas do Douro, chegou também a ter marcas no Dão, ainda que não fosse lá produtora.
Desde a fundação da casa que o negócio de brandy se estendeu a zonas tão longínquas como Nova Zelândia e Austrália. Marcas como Dalva, C. da Silva, Saint Clair ou The Douro Fathers eram famosas, e o Dalva Brandy Extra Special circulava, via importador americano, entre as tropas daquele país durante a segunda guerra mundial.
Tradição também das empresas de Porto eram as aguardentes que envelheciam em cascos de Vinho do Porto. Tinham acesso fácil à aguardente e os cascos não faltavam. O negócio, no entanto, decresceu muito nas últimas décadas.
Hoje bebem-se menos espirituosos, mas estes renasceram recentemente sob a forma de produtos de grande prestígio, com preço condicente com a vetusta idade que muitos têm. Foi assim que várias casas voltaram a interessar-se pelo negócio, colocando, no mercado, espirituosos com 30 e mais anos – como é o caso deste – com uma enorme qualidade e preço equilibrado, sobretudo se comparado com os das suas congéneres de Cognac com a mesma idade.
Fazer uma boa aguardente velha é uma arte. É feita de paciência e tempo, enquanto se espera que o longo estágio em casco faça a sua parte, harmonizando tudo e conferindo complexidade, aquilo que mais se aprecia. Cascos de diferente capacidade, loteamento de aguardentes de idades diversas e lento desdobramento são tarefas que exigem bom nariz e acompanhamento permanente. Deste lote engarrafaram-se 1000 garrafas em 2021 e o stock existente permitirá novos lançamentos nas próximas décadas. Além do mercado interno, a C. da Silva tem, como principais destinos de espirituosos, a Coreia do Sul, França e Bélgica.
(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2024)
Márcio Lopes: Finos aromas do Norte
Os tempos em que tinha dificuldade em encontrar fornecedores de uva já lá vão. Mais longe ainda está a época em que, vivendo no Porto e estudando na universidade, fugia para o campo, mais propriamente para o Vale do Sousa, para ir ter com familiares próximos nesse território não muito distante, de onde hoje produz […]
Os tempos em que tinha dificuldade em encontrar fornecedores de uva já lá vão. Mais longe ainda está a época em que, vivendo no Porto e estudando na universidade, fugia para o campo, mais propriamente para o Vale do Sousa, para ir ter com familiares próximos nesse território não muito distante, de onde hoje produz alguns brancos.
Actualmente, Márcio Lopes controla e recebe uva de mais de cinco dezenas de viticultores, divididos nas duas regiões em que mais labora, a dos Vinhos Verdes e a do Douro (mantém ainda um pequeno projecto na ribeira Sacra, em Espanha). São 50 viticultores e 200 parcelas diferentes de vinha, muita dela velha, uma das suas paixões, entre brancas e tintas.
No total, falamos de 250 mil garrafas, o que já é obra! Para alguns, Márcio está sobretudo ligado aos brancos e, em especial, ao Vinho Verde, o que se explica por aí ter estagiado inicialmente. Mas o encanto pelos tintos também foi começou cedo, inclusivamente pelo vinho do Porto, dado que se lembra de, bem jovem, ter tido muitas vezes contacto com este néctar em dias de festas familiares.
Depois de um começo com vindimas em Melgaço, e de uma experiência na Austrália, Márcio Lopes instalou-se em nome próprio e apresentou várias marcas suas, precisamente dos Vinhos Verdes e do Douro. Já lá vão quase 15 anos e mais de duas dezenas de referências, entre tintos e brancos (e claretes), de pet nat até Porto Vintage.
Vinhos imperdíveis
A vida passa num instante, como é sabido, e a operação de Márcio entrou, assim, em velocidade de cruzeiro, etapa determinante para qualquer projecto que se quer rentável, mantendo autenticidade e carácter e, pelo meio, fazendo novos lançamentos que mantêm a chama do consumidor bem acesa. Tudo isto mostrou Márcio Lopes em visita recente à capital, onde deu a conhecer vinhos do segmento premium e ultra-premium das colheitas 2021 e 2022 (e um de 2020), todos de muito curta tiragem e, por isso, bastante exclusivos.
Por mais que muita água (ou deveria escrever vinho) já tenha passado pela ponte da vida de Márcio, algumas coisas praticamente não mudaram: a sua modéstia, o tom sério com que fala e evita descrever os seus vinhos, mas sobretudo a dificuldade em largar o Norte, o seu pedaço do nosso País. Até por isso, estar com ele numa das poucas vezes em que vem a Lisboa é uma oportunidade a não perder! Foi o caso, tanto mais que provámos uma novidade absoluta, na forma de um belíssimo exercício de enologia a partir, ora bem, da casta Alvarinho e da sub-região Monção e Melgaço, de nome Viagem ao Princípio do Mundo.
Quanto aos novos lançamentos de marcas que já conhecemos, provámos os Pequenos Rebentos Vinhas Velhas (que já leva sete edições desde o respectivo surgimento) e o Permitido (que tem um irmão, o Proibido, com várias declinações em diferentes vinhas) e ainda a edição de 2021 do incrível Pequenos Rebentos Selvagem, um 100% Azal que, mais uma vez, resulta de uma vinha em sistema “de enforcado” (em que a vinha cresce pelas árvores e junto a muros, atingindo vários metros em altura), com quase 90 anos em Amarante. Vinhos imperdíveis…
(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2024)
GRANDE PROVA TINTOS DE SYRAH
Independentemente dos mitos que rodeiam a sua origem, o pedigree da Syrah é francês. Os estudos genéticos apontam para o Norte do Ródano como o berço da casta. É filha de uma variedade tinta Dureza (pai) e de uma branca Mondeuse Blanche (mãe). Na sua melhor expressão, os vinhos de Syrah são densos, ricos, plenos […]
Independentemente dos mitos que rodeiam a sua origem, o pedigree da Syrah é francês. Os estudos genéticos apontam para o Norte do Ródano como o berço da casta. É filha de uma variedade tinta Dureza (pai) e de uma branca Mondeuse Blanche (mãe).
Na sua melhor expressão, os vinhos de Syrah são densos, ricos, plenos na fruta e texturados em boca, com o corte perfeito de acidez, que equilibra a sua força. É uma casta naturalmente complexa. Para além de saber brilhar sozinha, é uma grande parceira nos lotes, onde contribui com estrutura, taninos e complexidade.
Poucas castas podem gabar-se de uma amplitude aromática tão grande. A sua impressão digital inclui especiaria pujante a lembrar pimenta preta, conferida pelo sesquiterpeno rotundona, um intenso composto aromático. A fruta varia de framboesa e cereja para amora e mirtilo. Pode apresentar notas florais, mentol, eucalipto, folha de chá. Nuances como grafite e algum alcatrão trazem uma dimensão extra. Os precursores tiólicos que a casta tem, por vezes traduzem-se nos aromas de carne fumada. O couro surge frequentemente com a evolução em garrafa.
Retrospectiva
A Syrah teve uma vida longa fora das luzes da ribalta. Nos finais do século XVIII e início do século XIX, os vinhos Syrah de Hermitage entravam nos lotes dos châteaux de Bordéus para mitigar a falta de corpo e estrutura. Estes vinhos chamavam-se “Bordeaux Hermitagé” e eram bastante apreciados na altura (até existe um certo revivalismo nos tempos actuais).
A Syrah chegou à Austrália em 1832, levada por James Busby, considerado o pai da viticultura australiana, que trouxe garfos do Vale do Ródano. E o sucesso também não foi imediato. Durante muitas décadas a casta foi usada para produzir vinhos de mesa baratos, fortificados e mais tarde espumantes (Sparkling Shiraz). A Penfolds mudou este paradigma a partir dos meados do século passado, quando criou o Grange, oferecendo, ao mercado, poderosos e encorpados vinhos que trouxeram a fama aos Shiraz australianos. Mas foi preciso chegar aos anos 80 para assistir ao boom da Shiraz, quando Barossa Valley se tornou uma moda, primeiro em Inglaterra e depois na Europa. Ao mesmo tempo, Robert Parker atribuiu 100 pontos a alguns vinhos de Côte-Rotie e Hermitage; e a crítica especializada começou a dar atenção a casta.
Até o final do século XX, a variedade era cultivada principalmente no Vale do Ródano e na Austrália. Hoje, das castas tintas destinadas exclusivamente à produção de vinho, a Syrah é a quarta mais plantada a nível mundial, a seguir a Cabernet Sauvignon, Merlot e Tempranillo, ocupando uma área de 190 000 ha. É também uma grande viajante, uma das três castas mais espalhadas pelos diferentes cantos do mundo a seguir a Chardonnay e Merlot, estando presente em 31 países (OIV 2017).
Os países com maior presença de Syrah são a França com 64 000 ha, Austrália com 40 000 ha (onde é o líder absoluto em termos de plantação, ocupando quase 27%), Espanha com 20 000 ha (na viragem do século nem chegava a 100 ha), Argentina com 13 000 (em 1991 tinha apenas 608 ha) e África do Sul com 11 000 ha (em 1991 tinha 707 ha). Nos Estados Unidos também está bem presente, sobretudo nos estados de Califórnia, Washington e Oregon.
Amplitude estilística
Os dois nomes principais – Syrah e Shiraz – identificam dois polos estilísticos. O nome Syrah, normalmente associa-se à sua origem em Côte-Rotie e Hermitage, à expressão da casta num clima mais moderado e consequentemente ao estilo mais leve e apimentado, com nuances de fruta vermelha. Sob o nome Shiraz entende-se a performance da casta na sua segunda casa, a Austrália, associada a um clima quente que origina vinhos encorpados e musculados, com fruta preta e notas achocolatadas, por vezes com um toque de eucalipto. Mas quando os produtores australianos das zonas mais frescas, como, por exemplo, Victoria e Canberra, querem comunicar os vinhos ao estilo do Ródano, nos rótulos consta Syrah e não Shiraz. E esta lógica é seguida por produtores em muitos países. Em Portugal adaptou-se o nome Syrah, sem qualquer apelo ao estilo do vinho.
Entre estes dois extremos existe toda a diversidade de estilos que a casta é capaz de exprimir em função das condições de cultivo, das práticas culturais na vinha e das abordagens enológicas.
Syrah em Portugal – chegou, viu e… ficou
É a casta estrangeira com a carreira ascendente mais rápida em Portugal. Ainda no final do século passado a sua presença era insignificante e o conhecimento sobre ela por parte dos produtores e consumidores era próximo do zero. Antes de 1980 existiam apenas 10,82 ha de Syrah no encepamento nacional, e na década seguinte 309 ha. Em 2014 a Syrah já aparece no top 10 de castas mais plantadas em Portugal, ultrapassando muitas variedades nacionais. Hoje a prima donna ocupa uma área de 6 441 ha, o que corresponde a 3% de total das plantações. No top 10 das castas tintas em Portugal só há duas castas estrangeiras, mas se o Alicante Bouschet tem uma história secular no nosso país, a Syrah claramente chegou, viu e ficou.
O Alentejo lidera nas plantações de Syrah com 2 307 ha, que actualmente é a 4ª casta mais plantada na região. Já começa a ser difícil encontrar um produtor no Alentejo que não tenha Syrah. A casta entrou na região “incognitamente” pela mão dos proprietários da Cortes de Cima, com a primeira colheita a decorrer em 1998, e tornou-se num grande clássico.
Lisboa é a segunda região no país com maior presença de Syrah, registando 2 126 ha. A Quinta do Monte d’Oiro apostou na Syrah nos anos 90 e praticamente especializou-se nesta casta. O primeiro monovarietal foi o Reserva Syrah de 1997.
A região do Tejo também teve um papel importante na história da Syrah em Portugal e hoje conta com 707 ha. A Quinta da Lagoalva de Cima foi a primeira a plantá-la nos anos 90 do século passado.
O Douro tem uma relação com Syrah mais qualitativa do que quantitativa. Não há grandes plantações desta variedade, mas os poucos vinhos varietais existentes no mercado são de grande qualidade. A Denominação de Origem não permite a utilização da casta. Por isto os vinhos de Syrah são certificados como regionais, o que, na realidade, não tem impacto na apreciação do consumidor.
Na Península de Setúbal, a Syrah é a segunda casta mais plantada (538 ha) depois do Castelão. A marcha gloriosa da casta francesa faz-se sentir noutras regiões, embora numa escala mais pequena.
Curiosidades sobre Syrah
- As vinhas mais antigas de Syrah na Austrália ainda existem, maioritariamente em Barossa Valley. A Langmeil Winery tem uma parcela de 1,4 ha com videiras de Shiraz plantadas em 1843.
- Petite Sirah não é o sinónimo de Syrah, é uma outra casta francesa que também responde pelo nome Durif, que surgiu atravez do cruzamento natural entre Syrah e Peloursin.
- O Dia Internacional de Syrah é 16 de Fevereiro. Estão a tempo de o festejar com um copo de Syrah na mão!
Porque Syrah?
Porque é, sem dúvida, uma grande casta de muitos méritos comprovados. Em muitos casos também há uma razão ou gosto pessoal.
O enólogo e produtor Rui Reguinga inspirou-se nos vinhos de Côtes du Rhône e, em 2001, plantou Syrah, Grenache, Mourvèdre e Viognier em solos com calhau rolado da Charneca de Almeirim. Estas uvas dão origem a um vinho único, tributo ao seu pai que toda a vida foi vitivinicultor.
Na Quinta do Noval, por influência do seu Director Geral, Christian Seely, foram plantadas várias castas francesas em 2003 – Cabernet Sauvignon, Mourvèdre, Petit Verdot e Syrah –, das quais as duas primeiras não passaram no casting. Syrah, ao contrário, adaptou-se facilmente ao clima quente e seco da região. O sucesso levou-o a repetir a experiência, plantando em 2007 Syrah na Quinta da Romaneira, um projecto pessoal de Christian Seely.
O enólogo da Quinta do Crasto, Manuel Lobo, conta que quando começaram o projecto no Douro Superior em 2002, a grande área da Quinta da Cabreira permitiu algumas plantações experimentais para testar várias castas. Nas provas cegas das microvinificações, Syrah dava sempre uma prova boa e consistente. Avançaram para a produção comercial e a primeira colheita, de 2013, já mostrou ser uma aposta ganha.
Amílcar Salgado, da Quinta de Arcossó, em Trás-os-Montes, plantou Syrah por acaso há 21 anos. Estava a fazer a enxertia no local e, por lapso, encomendou menos garfos de Touriga Franca do que tinha porta-enxertos. No momento não havia mais e aceitou os da Syrah, ficando com 2000 videiras. Nunca se arrependeu.
O proprietário da Quinta dos Termos, na Beira Interior, João Carvalho, na década dos 90 passava muito tempo em França por causa dos negócios dos têxteis, onde teve oportunidade de provar muitos vinhos feitos de Syrah. Gostou tanto que, em 2002, plantou a casta na sua quinta. Da colheita de 2006 saiu o primeiro Syrah em extreme, embora sem aparecer no rótulo, disfarçado como “Reserva do Patrão”.
Jorge Rosa Santos, um dos irmãos enólogos, responsável pela produção da família, conta que começaram a plantar Syrah em 2004. Têm duas parcelas. Uma no solo xistoso da Serra D’Ossa, que produz vinhos mais concentrados, musculados e tânicos, com aromas a lembrar carne. Outra em solos argilo-calcários esbranquiçados, que dá vinhos mais químicos, com notas de alcatrão e menos fruta. O lote das duas deu um belíssimo vinho, complexo, fino, extremamente equilibrado e cheio de carácter da casta no seu melhor.
A Syrah prefere clima quente, mas não gosta de calor em demasia. É uma casta vigorosa, produtiva e bastante resistente a doenças. Floresce tarde, evitando, desta forma, possíveis geadas primaveris. Amadurece relativamente cedo, acelerando a maturação depois do pintor, o que deixa uma janela de oportunidade algo reduzida. Todos os enólogos e produtores contactados concordaram que o momento de vindima para Syrah é absolutamente crucial, se não querem apanhá-la “jammy”.
Syrah é uma casta com comportamento anisohídrico, como a Touriga Nacional, ou seja, em condições de falta de água, aguenta algum tempo sem fechar os estomas, continuando a sua actividade fotossintética. Mas se o stress hídrico se prolongar no tempo, podemos ter “uvas em passa e taninos verdes” – refere Manuel Lobo. Entretanto, “excesso de humidade no solo, como por exemplo, na zona de Campo, é uma tragédia” – afirma Rui Reguinga.
Amílcar Salgado partilha a sua experiência de 20 anos com Syrah: “Casta excelente. O porte erecto facilita a condução e todo o trabalho na vinha. Muito homogénea na produção, não precisa de correcções, mesmo em anos quentes. Gradua bastante sem perder o equilíbrio. A Touriga Franca, por exemplo, perde acidez mais rápido.”
Mas não há bela sem senão. A casta é susceptível a uma doença de etiologia complexa e ainda não totalmente explicada – declínio da Syrah, que foi observado pela primeira vez no sul de França. Basicamente é uma morte prematura da planta. Amílcar Salgado observou este fenómeno nas suas vinhas, onde as videiras com 13-15 anos, vigorosas e aparentemente boas, de repente começam a enfraquecer, as folhas entram em senescência prematuramente, as varas não atempam devidamente. Mas tarde as plantas acabam por morrer e têm de ser substituídas. Rui Reguinga referiu o mesmo problema, devido ao qual já perdeu cerca de 15-20% das cepas.
A impressão digital da Syrah inclui especiaria a lembrar pimenta preta, conferida pelo sesquiterpeno rotundona.
Comportamento na adega
A Syrah não é só amiga do viticultor, é também uma grande aliada do enólogo, adaptando-se a diversas abordagens na adega. Até vinificada em talha se porta lindamente, como tivemos oportunidade de confirmar numa prova da Sovibor, no Alentejo.
Carlos Agrellos, da Quinta do Noval e da Romaneira, prefere não fazer grande maceração a frio e extrair só o necessário. Jorge Rosa Santos gosta de fermentações longas, a 24-25˚C – porque assim tem mais tempo para tomar boas decisões e todas as fracções da prensagem entram no lote – e do tanino mais “grippy”. Rui Reguinga e Graça Gonçalves, enóloga na Quinta do Monte d’Oiro, fazem macerações prolongadas. Na opinião de Amílcar Salgado, a Syrah permite uma boa extração de cor sem muito trabalho e não tem taninos agrestes.
A Syrah responde muito bem ao estágio em madeira, mas “é preciso ter alguma contenção de tosta nas barricas – a casta sozinha tem aromas bem definidos e apimentados” – explica Manuel Lobo. Por isto utiliza apenas 30-35% de barricas novas, sendo maioritárias as barricas de segunda e terceira utilização. Carlos Agrellos tem uma abordagem semelhante na Quinta do Noval e na Quinta da Romaneira, utilizando barricas novas, de segunda e terceira utilização.
As percentagens de barrica nova variam no lote final. Por exemplo, o Syrah do Apontador (Romaneira) aguenta mais 10-15% de barrica nova do que o Syrah da Quinta do Noval. Jorge Rosa Santos cada vez gosta mais de madeiras de maior volume e estagia o vinho 24 meses em toneis de 3.000 L com 30 anos.
Como a Syrah é uma casta com tendência para redução, abordámos este assunto com os enólogos. Carlos Agrellos vai arejando o mosto se for necessário. Graça Gonçalves controla por perto a quantidade de azoto assimilável no mosto, cuja falta pode originar redução durante a fermentação. Se for preciso também fazem arejamento ou introduzem oxigénio na cuba. Rui Reguinga e Amílcar Salgado fermentam em lagar, o que permite mais oxigenação e mais superfície de contacto com as massas. Jorge Rosa Santos não tem medo de reduções, mas sim das oxidações, explicando que “há sempre solução para redução”. Nos brancos é mais definitiva do que nos tintos, onde normalmente é resolvida com o estágio em madeira.
Por vezes, a companhia minoritária da casta branca Viognier, em co-fermentação, dá um brilho extra à Syrah. É uma prática usada em Côte Rotie para estabilizar a cor. Assim, o Quinta Monte d’Oiro Reserva tem 4% de Viognier e o Quinta do Crasto Superior tem 3%. Manuel Lobo vê o contributo deste tempero mais na textura e não tanto na fixação da cor ou no aroma.
O Tributo, de Rui Reguinga, para além da Viognier, tem Grenache e Mourvèdre. A Syrah, com 80-85%, dependendo do ano, domina, mas acaba por adquirir uma complexidade adicional.
Por vezes, a companhia minoritária da casta branca Viognier, em co-fermentação, dá um brilho extra à Syrah.
Que será, Syrah!
Será que a casta forasteira faz sentido em Portugal ao lado de tantas variedades nacionais de grande qualidade? Não assume demasiado protagonismo no palco vitivinícola português? Não desvirtua a identidade dos vinhos nacionais?
É óbvio que não é com Syrah que nos afirmamos no mercado internacional. Mas será que isto é impeditivo de produzirmos alguns vinhos marcantes desta casta?
Parece-me que nos últimos 20-30 anos a Syrah deixou de ser uma simples moda, encontrou o seu lugar em terras lusas, encaixou a sua personalidade nos nossos terroirs e cabe-nos a nós, ter um bom senso no seu emprego. Os resultados, esses, não deixam margem para dúvidas…
(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2024)
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Barão de Vilar muda nome e imagem corporativa
Van Zeller Wine Collection é a nova identidade corporativa da empresa fundada, há quase 30 anos, por Fernando Luiz van Zeller. O objetivo é reforçar a sua notoriedade e a da sua coleção de marcas de Vinho do Porto e DOC Douro no mercado nacional. “A mudança só acontece quando é necessária e, no nosso […]
Van Zeller Wine Collection é a nova identidade corporativa da empresa fundada, há quase 30 anos, por Fernando Luiz van Zeller. O objetivo é reforçar a sua notoriedade e a da sua coleção de marcas de Vinho do Porto e DOC Douro no mercado nacional.
“A mudança só acontece quando é necessária e, no nosso caso, foi quase obrigatória”, explica Fernando van Zeller, o seu administrador, a propósito da alteração, acrescentando que a história da sua empresa, que tinha como principal protagonista os vinhos da marca homónima Barão de Vilar, “ganhou novos capítulos com a aquisição e criação de novas marcas, e precisava de um novo título”. Surge, assim, a Van Zeller Wine Collection, empresa que representa “uma coleção de valores, ideias, estilos e vinhos” que terão, a partir de agora, uma visibilidade própria.
Para além da marca Barão de Vilar, a empresa possui também as referências Palmer, Feuerheerd’s, ZOM, Kaputt, Maynard’s e Vilarissa, para as quais está agora a ser desenhada uma nova abordagem comercial para o mercado português.
Campanha de recolha de rolhas planta 5704 árvores na Arrábida
A segunda edição da campanha “Vinhos que vão bem com o ambiente”, organizada, de 5 de junho a 31 de outubro de 2023, pelos produtores da José Maria da Fonseca Distribuição (José Maria da Fonseca, Ravasqueira, Lima & Smith e Quinta da Lagoalva), vai plantar 5.704 árvores autóctones no Parque Natural da Arrábida. Durante os […]
A segunda edição da campanha “Vinhos que vão bem com o ambiente”, organizada, de 5 de junho a 31 de outubro de 2023, pelos produtores da José Maria da Fonseca Distribuição (José Maria da Fonseca, Ravasqueira, Lima & Smith e Quinta da Lagoalva), vai plantar 5.704 árvores autóctones no Parque Natural da Arrábida.
Durante os cinco meses em que decorreu, diversos supermercados disponibilizaram mini rolhões para os clientes levarem para casa, depositarem rolhas de cortiça usadas e devolverem cheios às lojas. A entrega era ilimitada, permitindo, aos participantes, contribuir várias vezes. Para cada conjunto de 10 rolhas de cortiça recolhidas, uma árvore seria plantada.
A iniciativa conseguiu arrecadar um total de 57.004 rolhas de cortiça. Como resultado, serão plantadas 5.704 árvores de diversas espécies, incluindo amieiros, azinheiras, bordos, carvalhos, freixos, lódãos, loureiros, medronheiros, pilriteiros e salgueiros.
“Na José Maria da Fonseca, estamos comprometidos, não apenas com a excelência dos nossos vinhos, mas também com a sustentabilidade e o respeito pelo ambiente”, explica António Maria Soares Franco, co-CEO da José Maria da Fonseca, a propósito da iniciativa, afirmando que acredita “firmemente, ser possível produzir vinhos de alta qualidade de forma responsável e ecológica”. Para este responsável, “a campanha ‘Vinhos que vão bem com o ambiente’ reflete esse compromisso”, destacando os esforços que a sua empresa para reduzir o seu impacto ambiental e promover práticas sustentáveis em toda a cadeia de produção. Pelo segundo ano consecutivo, “os resultados alcançados na recolha de rolhas de cortiça irão contribuir para a reflorestação de uma zona protegida que nos é tão querida e familiar”, diz ainda António Maria Soares Franco.
Lisbon Bar Show 2024 decorre nos dias 14 e 15 de Maio
O Lisbon Bar Show apresentou, em primeira mão, as novidades da 9ª edição do evento, no Turim Boulevard Hotel, em Lisboa. Foram conhecidos os principais nomes dos 35 oradores internacionais confirmados, as sessões paralelas à zona de Exposição e revelados os finalistas dos Prémios Lisbon Bar Show, atribuídos em 11 categorias. Segundo Alberto Pires, organizador […]
O Lisbon Bar Show apresentou, em primeira mão, as novidades da 9ª edição do evento, no Turim Boulevard Hotel, em Lisboa.
Foram conhecidos os principais nomes dos 35 oradores internacionais confirmados, as sessões paralelas à zona de Exposição e revelados os finalistas dos Prémios Lisbon Bar Show, atribuídos em 11 categorias. Segundo Alberto Pires, organizador do evento, a novidade deste ano é a presença do bar de bebidas não alcoólicas multimarcas, com diferentes barmen independentes.
Este ano, este evento de hospitalidade, restauração e hotelaria decorre nos dias 14 e 15 de Maio e conta com o Peru como país convidado. Por isso, vão estar presentes chefes de cozinha do país a partilhar produtos típicos da sua gastronomia e serão servidas bebidas peruanas. O Embaixador do Peru em Portugal, Carlos Gil de Montes, e Tom Dyer, um dos melhores flair bartenders do Mundo, marcaram presença na apresentação da 9ª edição da Feira de Cocktails, que decorre todos os anos na capital.