Preço dos vinhos portugueses para exportação sobe em 2023

Em 2023, o valor das exportações de vinhos portugueses foi de 928 milhões de euros, o que corresponde à venda de 319 milhões em litros de vinho para os mercados externos, de acordo com dados divulgados pela ViniPortugal. No mesmo período, verificou-se um aumento do preço médio por litro para 2,90 euros, o que representa […]

Em 2023, o valor das exportações de vinhos portugueses foi de 928 milhões de euros, o que corresponde à venda de 319 milhões em litros de vinho para os mercados externos, de acordo com dados divulgados pela ViniPortugal. No mesmo período, verificou-se um aumento do preço médio por litro para 2,90 euros, o que representa um crescimento de 0,66% em relação a 2022.
No ano passado as vendas de vinhos portuguesas para a União Europeia foram de quase 407 milhões de euros, um decréscimo de 2,40% em valor e 3,35% em volume em relação a 2022 e, para o resto do mundo, mais de 521 milhões de euros (uma descida de 0,17%% em valor e 0,54% em volume).
França foi o país que mais importou vinhos portugueses, no valor de 103 milhões de euros, seguida dos Estados Unidos, com um valor de 100 milhões de euros. Em terceiro lugar encontra-se o Reino Unido, com 88 milhões de euros.
Em 2023, o mercado brasileiro de vinhos portugueses teve um crescimento exponencial, para 80 milhões de euros, mais nove milhões de euros do que em 2022. No mesmo período, Portugal ultrapassou a Argentina, passando a ocupar o segundo lugar nas importações de vinhos para o Brasil em volume.
“Como já tínhamos previsto e em grande parte devido ao contexto mundial que estamos a viver, as exportações de vinhos portugueses tiveram uma ligeira quebra em 2023, mas menor do que a esperada”, diz Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, a propósito dos dados divulgados. Segundo este responsável, o comércio mundial de vinhos caiu muito em 2023, devido à conjuntura internacional, o que levou ao decréscimo das exportações. Mas como os dados dos concorrentes do sector nacional de vinhos a nível mundial apontam para quedas muito superiores, Portugal aumentou a sua quota no mercado mundial de vinhos no ano passado.

Costinha: Nem só de bola viverá o homem

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“Como bom português, a gastronomia é algo de que não fico à margem”. Após uma vida profissional de conquistas futebolísticas, é esta frase que nos faz respeitar Costinha, nascido em 1974, em Lisboa. “Gosto muito de comer e tenho a felicidade não só de ser português, mas de haver em Portugal uma gastronomia bastante variada […]

“Como bom português, a gastronomia é algo de que não fico à margem”. Após uma vida profissional de conquistas futebolísticas, é esta frase que nos faz respeitar Costinha, nascido em 1974, em Lisboa. “Gosto muito de comer e tenho a felicidade não só de ser português, mas de haver em Portugal uma gastronomia bastante variada e muito boa”, diz-nos, assumindo que também isso facilitou a inclinação para o vinho.
Antes de ir para França — para jogar no AS Monaco, em 1997, com 22 anos — não consumia vinho regularmente, mas quando lá chegou, beber vinho às refeições e provar coisas diferentes passaram a ser hábitos frequentes. Foi aí que bebeu o primeiro vinho francês, que ainda hoje é um dos seus favoritos, Le Petit Cheval, um Saint-Émilion Grand Cru. Até aí, o percurso tinha sido feito pelo lisboeta Oriental e pelos madeirenses Machico e Nacional. Mais tarde, já no FC Porto, onde jogou de 2001 a 2005, Costinha teve também um momento de viragem em relação ao vinho. “Quando a minha esposa, a Carla, conheceu a esposa do Domingos Paciência, fomos jantar a casa deles. Nessa altura, eu ainda não o conhecia muito bem, mas queria levar um vinho e resolvi ir a uma loja comprá-lo. Cheguei à loja e fiz o que muita gente que não tem conhecimentos sobre vinho faz, olhar para a marca e preço. Acabei por pegar num Esporão, e o dono da garrafeira perguntou-me porque é que tinha escolhido aquele vinho. Eu disse-lhe, sem vergonha, que não percebia nada do tema e queria levar uma coisa boa para um jantar de amigos, mas que achava que um Esporão ficava sempre bem”, conta. Pelos vistos, o proprietário do espaço não ficou satisfeito e incentivou o ex-jogador a levar uma garrafa do vinho australiano Rosemount Estate, bem mais barata do que a de Esporão. “Se não gostares, vens cá e eu ofereço-te uma caixa de vinho”, foi a promessa. Costinha regressou, efectivamente, à loja, mas para comprar três caixas do dito Rosemount Estate. “Em vez de me identificar como ‘fulano x’ e tentar vender-me as coisas mais caras, como acontece na maior parte das vezes, o dono desta loja sugeria-me sempre o que era mais adequado para a situação e dava-me a provar muitos vinhos diferentes, independentemente do preço. Começou também a convidar-me para provas ou jantares vínicos de vários países, e foi aí que eu ganhei um grande gosto por vinho e entrei nesse meio”, revela. E fê-lo assim, com pensamento crítico, que mantém até hoje.

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Em jeito de desabafo, Francisco Costa confessa-nos: “Bebo vinhos nacionais muito bons, há bastante tempo, com um preço ridículo de baixo. É sempre uma coisa em que penso. Faz-me imensa confusão, sobretudo comparando com os preços e qualidade dos vinhos estrangeiros. E também me incomoda outra coisa. Vivi muitas vezes no estrangeiro; por exemplo, quatro anos no Mónaco, quatro em Itália, dois em Espanha, um na Rússia, e um ano na Suíça [quando foi director desportivo do Servette]; e viajo muito, e chateia-me abrir a carta de vinhos num restaurante e não haver uma referência portuguesa. Em Portugal, nos restaurantes, há, quase sempre, pelo menos três ou quatro referências de vinhos estrangeiros. Quer-me parecer que, enquanto produtores de vinho, não somos tão unidos na defesa dos nossos interesses e produtos, como eles são lá fora. Se calhar, devia haver também mais ajuda do Estado nesta área, sobretudo para os que criam valor. Mesmo ao nível da produção, é muito difícil arranjar mão-de-obra”, sublinha, antes de lembrar uma história mais positiva: “No ano passado fui a Roma e, num restaurante que me foi recomendado, havia uma garrafa de Soalheiro. Fiquei espantado. Chamei um funcionário e questionei-o sobre isso. Ele disse-me que um engenheiro romano, frequentador assíduo daquele espaço, tinha pedido o especial favor de haver sempre Soalheiro na carta…”.

Vinhos na garagem

Quando começou a acumular muitas garrafas de vinho, compradas e oferecidas, Costinha decidiu que tinha de lhes proporcionar um bom “alojamento”. Assim, em 2015, a empresa portuguesa Cave do Vinho construiu-lhe uma garrafeira de luxo, na garagem do seu prédio em Lisboa. A obra durou uma semana. “Vi a garrafeira da Niepoort na Quinta de Nápoles, em caracol, e gostei muito. Fui logo procurar a autoria”, descortina. Com um lado envidraçado e devidamente climatizado, o espaço ronda os 15m2 e apresenta as paredes em preto, que conferem elegância, estantes com as garrafas expostas na horizontal e em profundidade, e iluminação led integrada. Pelo chão, em pilhas, espalham-se as caixas cujos vinhos já não cabem nas prateleiras. Afinal, já passaram oito anos desde a construção da garrafeira, e os vinhos não param de chegar. Um olhar rápido basta-nos para perceber que há ali referências de praticamente todas as regiões vitivinícolas portuguesas, e de várias estrangeiras, rótulos de vários segmentos de preço, tudo coisas boas. Segundo Costinha, são mais de mil as garrafas que tem na sua cave, tintos em maioria. “Talvez por, à mesa, gostar de comidas pesadas, como feijoadas e assados, me incline mais para os tintos. Mas quando o branco é muito bom, adoro”, declara.

No que toca a perfis de tinto, prefere também os encorpados, e ao dizer isto, lembra-se de mais um episódio, no qual entra António Boal, produtor e amigo com quem partilha o projecto de vinhos 2 CC: “O António tem um vinho da casta Bastardo, e eu, pelo nome da casta, que me soava agressivo, pensei que fosse uma casta robusta. Fiz um assado. Pus o vinho no copo e parecia-me que estava diluído, tipo um Pinot. Achei que podia estar estragado e abri outra garrafa, que estava igual. Liguei ao António e ele explicou-me que o Bastardo ficaria melhor com uma pasta ou um risotto, e que não deveria beber aquele vinho com comidas muito fortes. Realmente, uma pessoa vai atrás de um estereotipo de palavras, e depois não tem nada que ver”, recorda. “Gosto muito dos tintos do Douro mas os de que eu gosto mais, talvez sejam os do Dão. Sempre achei que eram os mais parecidos com os vinhos franceses. Mas depois também bebo vinhos espectaculares do Alentejo, sobretudo Alicante Bouschet. A nível nacional temos, de facto, coisas divinais. Já lá de fora, gosto de um bocadinho de tudo”, afirma Costinha. Na sua garrafeira, tem marcas da Austrália, Nova Zelândia, Espanha, França, Itália, Argentina (a sua última descoberta, quando esteve em Buenos Aires), Estados Unidos (sobretudo Napa Valley), Chile e Uruguai. Curiosamente, a sua companheira não bebia vinho, mas hoje gosta bastante e tem, inclusive, uma garrafeira própria, com predominância de brancos, que são os de que mais gosta.

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O motivo desta “separação de bens” é, no mínimo, cómico: “Certo dia, quando vivíamos em Madrid [Costinha jogou no Atlético entre 2006 e 2007], a Carla abriu um Le Petit Cheval. Cheguei às duas da manhã de um jogo, cansado, vi a garrafa ao pé do lava-louça com a rolha de fora, e pensei, chocado, que ela o tinha usado para cozinhar. Bebi o resto da garrafa nessa noite, para não dar mais hipótese, e depois ela explicou-me que recebeu umas amigas lá em casa, que eram namoradas ou mulheres de alguns colegas meus. Disse-me, ‘elas queriam vinho, então eu fui buscar uma garrafa e escolhi a que tinha o rótulo mais bonito’. A partir daí, comecei a comprar garrafas para ela, que são guardadas na sua garrafeira”, assume Francisco Costa.

De enófilo a produtor

Costinha conheceu António Boal, da Costa Boal Family Estates, num almoço de amigos regular, para o qual os participantes levam vinho. António tinha sido convidado nesse dia, e levou um vinho seu. “Achei que era um vinho baratíssimo, mas a verdade é que ‘deu um bigode’ aos outros todos, mais caros. Ficámos amigos a partir daí”, revela o futebolista. Entretanto, em 2018, António Boal convenceu-o a ir ver uma propriedade em Mirandela (na região de Trás-os-Montes, onde a Costa Boal nasceu) e convidou-o a entrar em negócio com ele. “Comprámos a vinha a meias e, a partir daí, fomos tratando do vinho em segredo, daí o nome do vinho Segredo 6 [o número da camisola que ostentou no FCP e na Selecção Nacional]. Ninguém soube de nada até sair, em 2022”. A vinha é velha, tem cerca de 83 anos e 3,5 hectares. “Fico sempre impressionado com a profundidade que a vinha tem, como guarda a água, o facto de ter xisto e quartzo no solo e as diferenças que isso confere aos vinhos… Estes pormenores fascinam-me, são tudo coisas novas que vou aprendendo. A minha cabeça está formatada para o futebol, mas a partir do momento em que entras neste mundo, tens sempre um espacinho no teu cérebro para ires colocando algumas informações, para que, quando vais falar sobre o tema, não sejas um total estranho na conversa. Gosto muito de saber. Sobretudo porque é uma coisa minha. E por ter este interesse é que não optei por ter simplesmente um rótulo com a minha assinatura numa prateleira de supermercado. Não digo que isso seja errado, mas eu estou investido nisto enquanto pessoa”, realça Costinha, que participa activamente no processo de produção dos seus vinhos. “Não há nada que não seja falado entre mim, o António e o Paulo Nunes [enólogo], e sou mesmo consultado, o que até acho piada. Eu pergunto-lhes ‘o que é que eu posso dizer que vocês já não saibam?’, e eles dizem-me que a minha opinião é importante e pode acrescentar ao que eles estão a pensar. Há uma relação de confiança entre os três. Uma das perguntas que fiz ao António e cuja resposta me agradou muito, foi ‘e se isto não der em nada?’, ele retorquiu ‘se não der, bebemo-lo nós’. Ou seja, não há neste projecto pressa de fazer as coisas para ontem”, adianta.

Não obstante o convite de António Boal, a ideia de produzir vinho já estava implantada na sua cabeça de Francisco Costa há muito tempo, embora a região fosse diferente. “Sou filho de um taxista, e a minha mãe, que era cozinheira, sempre trabalhou na casa de famílias que tinham propriedades com vinha no Alentejo, e eu tive a felicidade de os patrões convidarem sempre o filho dos seus funcionários para passar férias com eles e com os filhos, a caçar, andar a cavalo, etc… Por isso, sempre tive o desejo de, quando acabasse a minha carreira desportiva, ter um monte no Alentejo, com um ou dois cavalos e uma vinha pequena para me entreter, cuidar, fazer o meu vinho. O Alentejo é perto de Lisboa, e eu imaginava-me a escapar para um sítio desses ao fim-de-semana. A vontade ainda não me passou… Talvez quando os meus filhos ‘baterem as asas’. Não ponho metas nisso, mas não está esquecido. Por enquanto, vou muitas vezes a Estremoz ou Montemor-o-Novo, por exemplo. Sempre fui muito espontâneo, muitas vezes acordava e, se estava um bom dia, ia ao ginásio, como vou sempre, e depois pegava no meu pai, no meu sogro e noutro amigo que eles quisessem levar, e íamos a Portalegre comer um pitéu. Quem diz Portalegre, diz Redondo, Viseu e muitos outros sítios”, desabafa.
Quando lhe perguntamos quais os planos que a 2 CC tem a curto prazo, a resposta está na ponta da língua: “Queremos fazer um branco que marque a diferença, se aparecer uma vinha que achemos ter potencial… E também temos ideia de abrir uma loja, para ter os nossos produtos expostos ‘em casa’”.

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O influenciador original

Entre as várias histórias e momentos insólitos que Costinha nos contou, há uma particularmente engraçada, depois da sua chegada ao FC Porto. “Como é hábito em qualquer clube, fazíamos almoços de equipa. Num desse almoços, no restaurante Romando, em Vila do Conde, o prato principal ia ser arroz de cabidela, e apetecia-me beber um Batuta. Eis que o Jorge Costa diz, indignado, ‘vais beber Batuta?! Com pica no chão?!’, e eu respondi “eu bebo aquilo que me apetecer. Pago a garrafa e bebo-a sozinho se for preciso, não se preocupem’. Aí, o Vítor Baía perguntou se podia beber também e pagar o vinho a meias comigo. Lá veio a garrafa de Batuta para a mesa, que eu e o Vítor bebemos, sem deixar que mais alguém bebesse dela, apesar das queixas dos outros jogadores. Uns tempos depois, alguns deles — como o Jorge Costa, o Hélder Postiga, o Pedro Emanuel ou o Hugo Leal — acabaram por começar a vir comigo para os almoços e jantares vínicos, e por apreciar bons vinhos”, retratou, entre risos. “O Jorge Costa, inclusive, passou a ir muitas vezes comigo ao Douro, numa carrinha Chrysler vazia, que trazíamos de lá repleta de vinho: Gaivosa, Pacheca, Quinta do Côtto, sei lá… muita coisa, mesmo”.
Para terminar, questionámos sobre o vinho que bebeu para celebrar o mítico golo que marcou na baliza do Manchester United e que gelou Old Trafford, no minuto 90 de um dos jogos mais importantes do FC Porto na Liga dos Campeões, competição que o clube venceu, pela segunda vez, nessa época de 2003/2004. “Não me recordo exactamente de qual, mas ou foi um Almaviva, um L’Aventure Estate Cuvée ou um Opus One”. Costinha pode não se lembrar do vinho, mas os adeptos portistas nunca esquecerão aquele golo.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2024)

Bomfim 1896 with Pedro Lemos com novidades de Inverno

O restaurante reabre no carnaval após um breve período de férias. Localizado na Quinta do Bomfim, na vila do Pinhão, com uma das mais distintas vistas sobre o rio Douro, o espaço, que é uma parceria entre a família Symington e o chef Pedro Lemos, apresenta novidades para este Inverno, que incluem novas opções na […]

O restaurante reabre no carnaval após um breve período de férias. Localizado na Quinta do Bomfim, na vila do Pinhão, com uma das mais distintas vistas sobre o rio Douro, o espaço, que é uma parceria entre a família Symington e o chef Pedro Lemos, apresenta novidades para este Inverno, que incluem novas opções na carta e um menu de degustação.
Com inspiração nos sabores e ingredientes típicos da região, e aproveitando todo o potencial de uma cozinha a forno e fogão a lenha, a nova carta inclui pratos de conforto concebidos para acolher os visitantes na temporada de inverno. Javali no pote, raízes, cogumelos ou Cabrito de leite assado em forno de lenha são algumas das novidades da oferta do restaurante. Entre outras, o Crème brûlée de fava tonka, cenoura e gengibre é a mais recente proposta de sobremesa. O menu degustação é outra das novidades. Dá a possibilidade de experimentar algumas das opções mais emblemáticas da carta, e pode ser harmonizado com uma selecção de alguns dos melhores vinhos do portefólio da família Symington.
A par dos novos pratos, a carta continuará a incluir alguns dos ex-líbris do Bomfim 1896 with Pedro Lemos, como a Caldeirada com peixe do dia, bivalves e lula, a Vaca com cebolas, rábano picante e alfaces grelhadas, ou o Mil-folhas com creme fumado e caramelo salgado. O restaurante passa a estar aberto sete dias por semana.

Prova de conservas nacionais em Lisboa

A Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP) organizou, recentemente, em Lisboa, uma prova comentada de conservas no restaurante Taberna Albricoque. Durante o evento foram servidos vários tipos de conservas, desde as mais tradicionais, como a Barriga de atum, às criadas mais recentemente em Portugal, como a Bicuda fumada dos Açores, para mostrar […]

A Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP) organizou, recentemente, em Lisboa, uma prova comentada de conservas no restaurante Taberna Albricoque.

Durante o evento foram servidos vários tipos de conservas, desde as mais tradicionais, como a Barriga de atum, às criadas mais recentemente em Portugal, como a Bicuda fumada dos Açores, para mostrar o potencial da oferta nacional nesta área, que inclui quase 800 referências de 34 espécies de peixes e moluscos.

Entre outros, foi servido um patê de ovas de pescada picante, que fez boa companhia ao Marquês de Marialva Bical, da Adega de Cantanhede, um dos vinhos selecionados para acompanhar a prova, tal como com as conservas selecionadas para entrada durante este almoço, onde se salientaram o Taco de polvo com salicórnia e o Chicharro fumado dos Açores em ceviche de aipo. Outro dos vinhos seleccionados para o repasto, o Serra Mãe Reserva Branco, um Arinto da Sociedade Vinícola de Palmela, fez grande companhia com o resto do repasto, onde se salientou a Bicuda fumada dos Açores com mexilhões de caldeirada e xarém.

As conservas apresentadas são produzidas por 10 empresas do sector de Portugal Continental e Açores. Foram seleccionadas na loja da ANICP, em Lisboa, e trabalhadas na cozinha pelo chef Bertílio Gomes, proprietário do restaurante e apreciador convicto das conservas portuguesas, com o objectivo de mostrar a sua qualidade e salientar os seus aromas e sabores diferenciados, na companhia de uma selecção de vinhos portugueses. J.M.D.

António Braga: O início da aventura

António Braga

Há muitos anos que conheço o António Braga como enólogo da Sogrape. Fui ficando com a ideia de que a carreira estava traçada e que por lá ficaria muitos e bons anos. Por isso, quando nos comunicou que iria sair da empresa, fiquei muito admirado e ao mesmo tempo expectante. A conversa veio depois e […]

Há muitos anos que conheço o António Braga como enólogo da Sogrape. Fui ficando com a ideia de que a carreira estava traçada e que por lá ficaria muitos e bons anos. Por isso, quando nos comunicou que iria sair da empresa, fiquei muito admirado e ao mesmo tempo expectante. A conversa veio depois e as explicações também: “se queria ter um projecto meu, tinha mesmo de sair da Sogrape, andava há muito a magicar vinhos que gostava de fazer e por isso achei que era agora ou nunca”. Foi agora. Braga acrescenta: “não tendo eu vinhas ou adegas, não estou preso a uma região específica ou a uma vinha, isso permite-me, de uma forma bastante flexível, fazer vinhos onde quero, nos terroirs que mais me impressionam, com as castas que mais gosto”. E tratou logo de se colocar em campo para poder organizar um projecto coerente que lhe permitisse gerir melhor o tempo e fazer o que gostava: criar vinhos seus e apoiar outros projectos, como consultor. Nasceu assim a Terra Vinea, uma empresa com cinco sócios onde juntou mais quatro amigos, reservando para si a maioria do capital. A ideia é fazer vinhos originais, buscar parcelas esquecidas ou castas menos badaladas, mas conseguir que sejam vinhos expressivos e com alma. A ideia é boa e até se pode ter quem forneça uvas para o projecto mas… onde é que se põe um plano destes em prática?

A resposta a esta pergunta representou um grande passo dado por António Braga: no Douro existe uma adega da família de Mafalda Machado (enóloga) onde, juntamente com o seu marido americano – Eric Nurmi – se criou a empresa Grape to Bottle – com prestação de serviços em todas as etapas da produção de vinho. Assim, na mesma adega temos vários produtores, cada um a fazer o seu vinho, com especificações diferentes. O estágio em barrica faz-se também aqui e só o engarrafamento se efectua com recurso a aquisição externa de serviços. Eric é quem, a tempo inteiro, coordena os vários trabalhos. Foi lá que o encontrámos, em plena vindima, com muita gente na adega. Uma festa! São neste momento mais de uma dúzia os produtores que recorrem a esta adega para poderem fazer os seus vinhos. A localização (muito perto da Régua) é também uma vantagem por estar no centro da região. E com o crescimento de novas consultorias (mesmo no Douro e Verdes), António Braga já tem um jovem enólogo – João Alvares Ribeiro – a trabalhar com ele a tempo inteiro. Adquiriram-se cubas e barricas sobretudo usadas, algumas que chegaram da Borgonha com 4 anos de uso. O projecto aponta muito mais para madeira usada do que para barricas novas.

Resolvido o primeiro problema foi preciso diversificar a aquisição de uvas e partir para a descoberta de vinhas e parcelas que pudessem corresponder ao objectivo. Nasceram assim os primeiros vinhos, para já um branco feito com Alvarinho em Monção, e um tinto do Douro elaborado com uvas de Mourisco, a tal casta que há alguns (poucos) anos ninguém queria ouvir falar. Os produtores que forneceram as uvas para a primeira vindima, de que saíram agora os primeiros vinhos, voltaram a fornecer em 2023 e assim se espera que continuem, criando uma relação forte entre produtor e enólogo. Para António Braga, a sua nova aventura desenrola-se em planos bem distintos: os seus vinhos que saem com diferentes rótulos mas sempre com a sua assinatura, e o trabalho de consultoria que se estende por várias zonas do país, desde os Verdes (quinta da Minhoteira), passando pelo Douro (quinta da Ervedosa, quinta da Eiró, quinta D. Mafalda e Solar de Cambres). Em alguns casos trata-se de pequenas quintas ainda desconhecidas do grande público e de onde sairão vinhos com o acompanhamento técnico (quer na viticultura, quer na enologia) da Terra Vinea. No Alentejo está a desenvolver novos projectos com a empresa Abegoaria – criação de uma linha de Fine Wines – a partir da Herdade do Gamito mas não só, e também com a Casa Relvas.

O portefólio tem assim duas linhas: uma assente em terroirs mais tradicionais e, como nos disse, “Com uma estética mais convencional”. Essa é a gama Ipiranga. Saiu em Novembro o Ipiranga Alvarinho 2022, feito em Monção e fermentado em barricas usadas com estágio sobre borras totais durante 10 meses. Em Março, acontecerá o lançamento de 3.600 Garrafas do Ipiranga Douro tinto 2022, este feito com Touriga Francesa, Touriga Nacional, Tinto Cão e Sousão. Existirá uma segunda linha que é composta de vinhos mais originais, castas menos conhecidas, processos menos comuns. O primeiro vinho dessa gama é o Cão que Ladra Mourisco Douro tinto 2022, de que se fizeram apenas 891 garrafas. As uvas vêm de uma vinha com cerca de 40 anos, plantada a 550 metros de altitude, na freguesia da Lousa no Douro Superior; fermentou em lagar com 50% de cacho inteiro, estagiou em barrica usada

Tal como acontece com todos os novos projectos do sector do vinho, António Braga vai sentir as dores do crescimento: as garrafas chegarão a tempo? Os rótulos foram aprovados? As rolhas estão certas para a garrafa que temos? E as caixas de cartão quando é que são entregues? E como é que vou distribuir os vinhos? Entrego tudo a um ou prefiro vários distribuidores? E onde é que quero chegar? Fico-me pela paróquia ou vou tentar os mercados externos? Estas são o tipo de questões que nunca se colocaram a António Braga enquanto foi enólogo de uma grande casa de vinhos. Feito o balanço, confessou-nos que continua a acreditar que foi a melhor decisão que podia ter tomado. Como diz o ditado (nem sei bem se é ditado…), a sorte só sorri aos ousados!

 

Para António Braga, a sua nova aventura desenrola-se em planos bem distintos: os seus vinhos que saem com diferentes rótulos mas sempre com a sua assinatura, e o trabalho de consultoria.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2024)

Paulo Prior é o novo líder da equipa de enologia da Global Wines

A Global Wines contratou Paulo Prior para dirigir a sua equipa de enologia. Com uma experiência de mais de 23 anos no sector, este profissional esteve, até agora, na Sogrape Vinhos, onde fez grande parte da sua carreira profissional. Paulo Prior diz que aceitou o desafio, com o compromisso de respeitar, em cada vinho, as […]

A Global Wines contratou Paulo Prior para dirigir a sua equipa de enologia. Com uma experiência de mais de 23 anos no sector, este profissional esteve, até agora, na Sogrape Vinhos, onde fez grande parte da sua carreira profissional.

Paulo Prior diz que aceitou o desafio, com o compromisso de respeitar, em cada vinho, as diferentes características das três regiões onde o grupo actua, adequando as melhores práticas enológicas aos vinhos que produzem no Dão, Bairrada e Alentejo, para proporcionar, ao consumidor, a possibilidade de sentir cada terroir.

A entrada deste profissional encerra um ciclo de renovação da Global Wines, que se iniciou, em 2022, com a contratação de Manuel Pinheiro, antigo presidente da CVR dos Vinhos Verdes e actual CEO do grupo, e, mais recentemente, de Nuno Abreu, director comercial e marketing, que transitou de uma das principais casas de vinhos do Porto. “Durante o primeiro semestre de 2024 será apresentado o plano estratégico deste grupo multi-região, que passa, essencialmente, pelo reforço das marcas Casa de Santar e Paço dos Cunhas, no Dão, Quinta do Encontro, na Bairrada, e Herdade Monte da Cal, no Alentejo, procurando afirmar sempre as características únicas de cada região e de cada vinha.”, explica Manuel Pinheiro.

Lourenço Charters reforça equipa de enologia da Herdade do Esporão

Lourenço Charters

O Esporão reforçou recentemente a sua equipa de enologia do Alentejo, com a transferência interna de Lourenço Charters, até agora responsável pela enologia e viticultura da Quinta dos Murças, no Douro, e Quinta do Ameal, no Vinho Verde. Junta-se, assim, a José Luís Moreira da Silva, diretor de enologia e administrador de produção do Esporão. […]

O Esporão reforçou recentemente a sua equipa de enologia do Alentejo, com a transferência interna de Lourenço Charters, até agora responsável pela enologia e viticultura da Quinta dos Murças, no Douro, e Quinta do Ameal, no Vinho Verde. Junta-se, assim, a José Luís Moreira da Silva, diretor de enologia e administrador de produção do Esporão.

O lugar de Lourenço Charters foi ocupado por Mafalda Magalhães, a responsável atual de enologia e viticultura da Quinta dos Murças e Quinta do Ameal. “Com uma sólida experiência no mundo do vinho, Mafalda Magalhães traz consigo uma visão inovadora, aliada a um profundo respeito pelas tradições enológicas”, diz José Luís Moreira da Silva, acrescentando que “a sua experiência irá complementar a herança enológica do Esporão nas duas regiões”.

Estive lá: Café de São Bento – O charme discreto de um clássico

Café são bento

Percebe-se, quando se transpõe a cortina, que a ideia é preservar uma certa intimidade num espaço que se pretende reservado e cuja decoração baseada nos vermelhos, madeira velha e latão, faze lembrar um vetusto clube inglês. Foi objecto de renovação recente quando mudou de mãos na viragem dos 40 anos de existência e passou a […]

Percebe-se, quando se transpõe a cortina, que a ideia é preservar uma certa intimidade num espaço que se pretende reservado e cuja decoração baseada nos vermelhos, madeira velha e latão, faze lembrar um vetusto clube inglês. Foi objecto de renovação recente quando mudou de mãos na viragem dos 40 anos de existência e passou a ter como proprietário Miguel Garcia, um velho cliente da casa com vasta experiência anterior no ramo da hotelaria e que nos recebe em pessoa nesta primeira visita.

Já com um flute de espumante na mão, dou comigo a pensar que é sempre bom sinal quando um cliente fiel toma conta de uma casa que se foi tornando sua com o tempo. E por isso tudo ali respeita a tradição e a memória. A começar pelos funcionários, fardados com o seu colete axadrezado e lacinho, alguns deles com dezenas de anos de casa e que são retratados como vedetas em fotos individualizadas expostas na escada de acesso ao 1º piso também ele remodelado. São eles a alma deste espaço e garantem a perenidade de um serviço profissional, atento, mas também discreto, que os clientes são muitas vezes figuras publicas e políticos vindos do parlamento ali em frente, e as suas conversas pedem recato.

Se a decoração respeita a tradição, que dizer então da ementa? Estão lá os clássicos todos que deram fama à casa, a começar pelo famoso Bife à Café de São Bento, amplamente publicitado como “o melhor de Lisboa”. Se o é ou não, teria de provar todos os outros antes de confirmar a sentença. Mas o que posso assegurar de experiência vivida que o lombo de corte alto se deixa cortar como manteiga derretida, imerso no sápido molho de natas inspirado na receita de Marrare, guloso quanto baste, com os palitos de batatas fritas crocantes. É o emblema da casa e consta que permanece inalterado há 40 anos.

Mas há outras opções, tanto nas carnes, como no bacalhau gratinado (outro clássico) e mesmo uma alternativa vegetariana que os novos tempos e tendências aconselharam a introduzir recentemente. A nós foi-nos servido como entrada uns belíssimos camarões “al ajillo” e não poderíamos ter começado melhor. O vinho da casa foi feito em parceria com a Ravasqueira e é suficientemente polivalente para casar bem com a maioria das propostas. Para fechar, os mais gulosos podem ainda tentar-se pela doçaria com propostas também elas clássicas, não sem antes limpar o palato com o sorvete de limão com vodka. Tenho para mim, no entanto, que não é só pela comida que a numerosa clientela é atraída diariamente ao Café de São Bento. A nostalgia pelo classicismo e a envolvência num ambiente que desperta memórias e saudades por um tempo que já se perdeu fazem valer os seus encantos.

café são bento

 

 

 

Café de São Bento
Rua de São Bento 212, 1200-821 Lisboa
Telefone: 913 658 343
Horário: segunda a sexta-feira – 12h30 às 14h30 e 19h00 às 2h00; sábado e domingo – só jantar