OUTROS PRAZERES: OSTRAS E VINHO

Ostras e vinho

A harmonização entre ostras e vinhos é uma das mais antigas e, talvez, uma das mais bem conseguidas à mesa. Praticada em todo o mundo, dá origem a momentos inequívocos de prazer, sobretudo para quem tiver, como eu, amigos com casa de praia virada para um dos lugares para onde gosto de olhar, a ria […]

A harmonização entre ostras e vinhos é uma das mais antigas e, talvez, uma das mais bem conseguidas à mesa. Praticada em todo o mundo, dá origem a momentos inequívocos de prazer, sobretudo para quem tiver, como eu, amigos com casa de praia virada para um dos lugares para onde gosto de olhar, a ria Formosa. Afinal, é daqui que saem algumas das melhores ostras que se produzem em Portugal. Acabadinhas de abrir por alguém que o saiba para fazer, na companhia do vinho certo e de amigos de longa data, que partilhem o apreço por estes moluscos, que gosto de usufruir com todo o tempo do mundo.

Mas nem todos os vinhos servem para acompanhar ostras na mesa. A escolha natural vai, como parece óbvio, para os brancos. A parceria com tintos iria proporcionar, aos aventureiros que a quisessem fazer, uma sensação de gosto a ferrugem, devida ao elevado teor de iodo contido nestes moluscos, em conjugação com os taninos do vinho, algo que, para mim, não é nada agradável e seria um desperdício de tempo. Por motivo semelhante, evitam-se os brancos estagiados em madeira de carvalho.

Estimular o sonho

Os aromas discretos das ostras impedem a sua associação com brancos pujantes, excessivamente aromáticos e muito estruturados na boca. Elas querem-nos leves, com aromas delicados, boa acidez e equilíbrio, para complementar os seus sabores e a salinidade.

Já sentiu o prazer de estar numa esplanada de beira praia, a saborear umas ostras abertas ao natural, com um pingo de limão, na companhia de um vinho Alvarinho? É uma sensação inolvidável e digna de muitas repetições. Vinhos como o Deu la Deu, Soalheiro ou Dona Paterna, de personalidades distintas, são três exemplos de boas companhias para as ostras, no final de tarde a olhar o mar. Pelo menos para mim. O vigor suave do aroma floral da casta Alvarinho, marcado também pelo odor leve a frutos frescos, o equilíbrio na boca e o prolongar da sensação de frescura complementam e completam os sabores a mar deste produto, para proporcionar momentos de prazer.

Há muitos bons exemplos de relações entre brancos e ostras, mas não há nada que pareça melhor que um copo de champagne ou espumante com uma ostra aberta no momento. Esta imagem elegante estimula, ilumina o espírito e provoca o sonho.

É provável que, há centenas de anos, ostras e champagnes sejam apreciados em conjunto, pois as primeiras grandes casas produtoras da região francesa que se desenvolvem em redor de Reims datam dos primórdios do século XVIII.

Inicialmente, a conjugação não seria, de certo, acessível a todos. Porém, agora, com a produção de espumantes de qualidade em Portugal, como os portugueses Côto de Mamoelas, dos Vinhos Verdes, Montanha Cá, da Bairrada, ou Quinta do Rol Blanc, de Blancs, de Lisboa (uma pequena amostra só para demonstrar que já há opções em quase todas as regiões), a união tornou-se mais acessível um pouco por todo o lado.

 

Os aromas discretos das ostras impedem a sua associação a brancos pujantes, excessivamente aromáticos e muito estruturados na boca

Ostras e champagne constituem um dos melhores exemplos de harmonizações entre comida e vinhos

 

Conjugação incoerente

No entanto, esta harmonização parece incoerente. As sensações predominantes de uma ostra fresca na boca são a suculência, salinidade intensa, falta de untuosidade, amargor, gosto a iodo e aroma medianamente intenso.

Por um lado, champagnes e espumantes são frescos e ácidos, porque são feitos com uvas colhidas pouco maduras e à presença de gás carbónico natural, que faz salientar o sabor e a sensação de acidez e atenua a macieza. Por isso, quando se aprecia ostras com champagne ou espumante há um conflito, na cavidade bucal, pelo realce da suculência e da dureza causada pela salinidade do molusco. O sabor forte das ostras é potenciado pelo impacto ácido do espumante e incrementado pelo picar do dióxido de carbono.

Por outro lado, não há macieza a opor-se, proporcionada por gorduras sólidas e alguma doçura. Parece não haver equilíbrio, o que é um contra-senso. Portanto, ostras e champagne constituem um dos melhores exemplos de harmonizações entre comida e vinhos. O seu sucesso é um facto demonstrado e irá certamente durar muitos mais anos.

 

O segredo da harmonização

De acordo com um estudo recente realizado na Universidade de Copenhaga (UCPH), na Dinamarca, o segredo que explica o prazer proporcionado pela combinação de espumante com ostras pode estar no sabor umami existente em certos tipos deste molusco e alguns espumantes. “Muitas pessoas associam umami ao sabor da carne, mas descobrimos que também é encontrado em ostras e champanhe”, esclarece o professor Ole G. Mouritsen, do Departamento de Ciência dos Alimentos da UCPH. “A resposta pode ser encontrada no chamado sabor umami que, junto com o doce e salgado, é um dos cinco sabores básicos detectáveis pelas papilas gustativas humanas”, acrescenta.

Os níveis no champanhe podem não ser perceptíveis por si só. Todavia, quando consumidos com ostras, desenvolve-se uma “sinergia umami”, que torna o emparelhamento particularmente atraente, revela o estudo publicado nos “Scientific Reports da Nature”. As células de levedura mortas, as borras, contribuem com o sabor umami no champanhe via glutamato, enquanto o carácter umami pode ser encontrado nos músculos das ostras, via nucleotídeos, de acordo com os investigadores.

Ostras e vinho

Muitas pessoas associam umami ao sabor da carne, mas também é encontrado em ostras e champanhe

 

As ostras portuguesas

Há quem diga que são de cá, contudo parece que as ostras portuguesas, conhecidas em França como Les Portugaises, são originárias da Índia ou do Japão. Descendem da ostra japonesa e viajaram até Portugal no fim do século XVI, nas quilhas dos barcos e como alimento rico em proteínas para as tripulações. Lançadas nos estuários do Tejo e do Sado, desenvolveram-se e evoluíram devido às boas condições daqueles que seriam mais tarde considerados os maiores bancos naturais de ostras da Europa. A apanha das ostras chegava a empregar mais de quatro mil pessoas na zona de Setúbal, mas a instalação de indústrias pesadas e de estaleiros no estuário do Sado causou o quase desaparecimento deste molusco.

Hoje, já há várias empresas a produzir ostras. “O Tejo tem um estuário muito amplo, com acesso a muita água fresca todos os dias e tem águas límpidas, ao contrário do que as pessoas pensam, por haver muitas cidades em volta, com zonas muito boas para captação de ostras”, expõe Hugo Castillo, 51 anos, proprietário da Bluetaste – Mariscos Sazonais, empresa que comercializa, para além de ostras, outros bivalves e perceves. Segundo este responsável, que produz ostras na ria Formosa e as comercializa em Portugal, França e na Holanda, a produção destes moluscos é sustentável a 100%. “Aquilo que fazemos é colocá-las dentro de sacos, que ficam sujeitos ao sabor do efeito das marés, que trazem o fitoplâncton essencial à sua alimentação, com o objectivo de produzir ostras de qualidade, calibradas e muito gordas quando são colocadas na mesa, sempre com foco na segurança alimentar”, informa.

As ostras são adquiridas em maternidades francesas, a vários fornecedores da região de La Rochelle. “Compramos aquilo que chamamos semente, no nosso caso com seis milímetros, que são colocadas num berçário até terem as condições certas, para serem colocadas em sacos com uma malha específica, que impede que as ostras se escapem enquanto crescem”. À medida que isso acontece, são colocadas em sacos com malha maior e em número reduzido de unidades por saco, como é evidente. Isso permite que entre mais água e comida, para se poderem alimentar. No final, as ostras têm de ser afinadas, processo “que as habitua a estarem mais tempo fora de água e ajuda-as a enrijecer, e a desenvolver o músculo”, conta Hugo Castilho. O empresário afirma, ainda, que a costa portuguesa tem condições muito especiais para a produção de ostras, bem como de outros bivalves e crustáceos, não só devido à existência copiosa de alimento nas águas, mas também à temperatura. “Isso permite que se produza uma ostra comercial, com qualidade, ao fim de 14 meses, em Portugal, enquanto, em França, o processo demora 36”, elucida Hugo Castilho.

 

A arte de bem saborear

Escolha

Na compra de ostras, há que verificar a origem e reparar se reagem à pressão dos dedos. Estão vivas se fechadas com firmeza. A carne interior deve ser consistente, não apresentando aspecto leitoso, fino ou demasiado aguado, e deve cheirar a maresia.

Abertura

Devem ser abertas com uma faca própria, inserida entre as duas conchas, no lado plano. Deve começar-se na zona mais estreita, cortando, primeiro, o músculo e, só depois, ir para a mais larga. O vértice delas deve estar virado para o manuseador e a parte côncava para baixo. Tem de se ter algum cuidado no seu manuseamento, devido às arestas cortantes das conchas.

Degustação

Para os apreciadores, a ostra consome-se crua ou, no máximo dos máximos, com uma gota de limão. Mas há também quem goste delas com molho vinagrento. Quando cozinhadas ao vapor, como é tradição no Algarve, devem ser colocadas num tacho de fundo largo, com um dedo travesso de água e a parte côncava para baixo. São levadas a lume forte até a fervura chegar à tampa, que se levanta e coloca novamente. Na segunda fervura, estão prontas para serem apreciadas quentes.

Por vezes, são cozinhadas na chapa. O resto das versões depende da imaginação dos cozinheiros, mas perderão quase sempre o aroma e gosto a mar, principal motivo da sua capacidade de sedução. Os que gostam de encontros inolvidáveis, podem apreciar as ostras cruas com Alvarinho de Melgaço, espumante ou champagne, de preferência com algum tempo de estágio.

(Artigo publicado na edição de Outubro de 2025)

BACALHÔA: O Bical de que se fala

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A Caves Aliança, fundada em 1927 e localizada em Sangalhos, no território vitivinícola da Bairrada, iniciou, na segunda metade da década de 1990, a linha de monovarietais Galeria. Naquela época, Francisco Antunes, diretor de enologia da casa desde 1993, elegeu as castas Chardonnay e Bical, para fazer os respetivos monovarietais, “mas, na realidade, a Bical […]

A Caves Aliança, fundada em 1927 e localizada em Sangalhos, no território vitivinícola da Bairrada, iniciou, na segunda metade da década de 1990, a linha de monovarietais Galeria. Naquela época, Francisco Antunes, diretor de enologia da casa desde 1993, elegeu as castas Chardonnay e Bical, para fazer os respetivos monovarietais, “mas, na realidade, a Bical nunca me satisfez muito”, revela, e a referência Galeria acabou por desaparecer.

À semelhança das demais histórias de produtores de vinho, a ainda Caves Aliança continuou a reforçar o aumento da área de vinha, com o foco no enaltecimento da viticultura e da enologia. Em 2003, procedeu à aquisição da Quinta da Rigodeira. Nesta propriedade situada entre a Fogueira e Ancas, no concelho da Anadia, há uma parcela de vinha registada em 1931, ano associado a um extenso cadastro feito nesta e noutras regiões portuguesas, razão pela qual poderá haver fortes probabilidades de remontar a muito antes no tempo. As cinco mil plantas, exclusivamente de castas brancas, plantadas em 4,5 hectares, com solos predominantemente arenosos, têm matéria-prima para produzir “bons vinhos brancos”, de acordo com o histórico deixado por antigos proprietários.

Com a passagem do tempo e, por conseguinte, já na era da Aliança Vinhos de Portugal – pertencente à Bacalhôa Vinhos de Portugal desde 2007 –, este registo determinou Francisco Antunes, agora diretor de enologia do Grupo Bacalhôa, e a sua equipa a proceder ao levantamento e à classificação das castas ali plantadas. A cada uma foi atribuída uma cor. No alinhamento dos trabalhos, as cepas foram reerguidas, no sentido de otimizar a saúde das plantas e facilitar a apanha da uva. “Tem uma variedade interessante de castas: Bical, Maria Gomes, Sercialinho, Cercial, Arinto, Rabo de Ovelha, Alicante e Chardonnay”, afirma Francisco Antunes, que decidiu arriscar novamente na produção de um vinho a partir da variedade de uva Bical. Feitas as contas, “era a casta mais plantada, a única que poderia dar à volta de 4000, 5000 litros, sem problema”, justifica.

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Um Vinhas Velhas “marcante”

 Desta vontade de enaltecer a casta típica da Região Demarcada da Bairrada resultou a estreia do Bacalhôa Bical 1931 Vinhas Velhas na colheita de 2021. “É uma vindima sui generis, porque metemos um rancho de mais de 20 pessoas a apanhar só a Bical”, devido à dispersão das cepas desta variedade de uva na parcela plantada há quase 95 anos, na Quinta da Rigodeira. Ao final de cada dia de vindima, e face à inexistência de câmara frigorífica, “as uvas eram espremidas e o mosto guardado no frio”.

Terminada a colheita da uva, que decorreu durante uma semana, juntaram os mostos, decantaram e fermentaram 40% em seis barricas novas e usadas e 60% em inox. Ali ficaram por cerca de um ano. Em setembro de 2022, chegou a vez de avançar para o lote e o vinho foi engarrafado. O lançamento para o mercado aconteceu em novembro do ano seguinte, ou seja, ao fim de aproximadamente 13 meses de estágio em garrafa. E foi logo um enorme sucesso, junto do mercado e da crítica especializada.

Além da “qualidade intrínseca”, o diretor de enologia considera este Bairrada Clássico um vinho muito especial. “Ao fim de 30 e poucos anos de carreira na Aliança, faltava-me ter um vinho marcante”, confessa Francisco Antunes, referindo-se igualmente ao novo Bacalhôa Bical 1931 Vinhas Velhas branco 2022, “mais fresco e com uma acidez mais equilibrada, quando comparado com a colheita de 2021”, segundo o enólogo. Sobre o processo de vinificação, fica o registo de que 50% fermentou e estagiou 12 meses em barricas de carvalho francês, novas e usadas, e 50% em inox. “Para nós, as barricas novas são importantes, até porque usamos barricas que não marcam muito o vinho. Na Aliança, somos muito cuidadosos, no sentido de nunca haver excesso de madeira e há uma parte do mosto que fermenta em inox. Sempre! Preferimos ter mais opções de lote, para podermos construir o vinho no final”, garante Francisco Antunes, secundado pela enóloga residente da Aliança, Magda Costa. O tempo destinado ao descanso do vinho em barricas é passado numa pequena sala especialmente preparada para “o nosso 1931”. Depois, passa ainda mais um ano em garrafa antes de chegar ao mercado.

Em relação a esta referência, o diretor de enologia explica que todos os vinhos monovarietais estão sob a umbrella Bacalhôa e, desta parcela de vinha de 1931, localizada na Quinta da Rigodeira, a Bical é, para já, a única casta a dar corpo a um vinho do grupo. Pode ser que, no futuro, a variedade de uva branca Sercialinho também venha a “dar frutos” em garrafa… e no copo. Entretanto, confirma que vai haver Bacalhôa Bical 1931 Vinhas Velhas branco de 2023 e 2024. “O de 2024 está nas barricas e também promete muito!”, assegura Francisco Antunes.

(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)

Califórnia: Stag’s Leap, um ‘First Growth’ de Napa Valley

Califórnia

Tudo tem um princípio. Podíamos afirmar, com algum critério, que o princípio da história de Stag´s Leap Wine Cellars foi em 1970, com a aquisição da Stag’s Leap Vineyard, mas, na minha opinião, o verdadeiro princípio desta narrativa, assim como para a região de Napa Valley foi, provavelmente, o julgamento de Paris de 1976. O […]

Tudo tem um princípio. Podíamos afirmar, com algum critério, que o princípio da história de Stag´s Leap Wine Cellars foi em 1970, com a aquisição da Stag’s Leap Vineyard, mas, na minha opinião, o verdadeiro princípio desta narrativa, assim como para a região de Napa Valley foi, provavelmente, o julgamento de Paris de 1976.

O julgamento de Paris de 1976 foi uma prova cega de elite, com um júri composto pelos organizadores do evento, os wine merchants Steven Spurrier e Patricia Gallagher, e membros da aristocracia vínica francesa, alguns Chateaux, sommeliers e jornalistas especializados, colocando, lado a lado, Cabernet Sauvignons da Califórnia e First Growth de Bordéus, Chardonnay da Califórnia e Premier e Grand Cru Chardonnay da Borgonha. Tudo às cegas. E o resultado chocou o mundo naquela época!

O The Wall Street Journal escreveu “The 1976 Judgment of Paris had a revolutionary effect, like a vinous shot heard round the world.” E não foi caso para menos. O 1973 Chateau Montelena Chardonnay, de Napa Valley, recebeu a maior honra entre os brancos, enquanto que, nos tintos, o resultado foi o seguinte:

 

Palavras para quê? Impressionante, certo?

E ainda mais impressionante se torna se tivermos em mente que o vinho vencedor saiu de uma vinha, a S.L.V. Vineyard, plantada em 1970, com apenas três anos, portanto, ao passo que a classificação de Bordéus, e os First Growth, foram estabelecidos em 1855.

Foi, pois, com elevadas expectativas, que fomos ao mais recente espaço de provas da cidade de Lisboa, ainda em soft opening, o 1933 by Garrafeira Nacional, localizado no Hotel Tivoli Avenida, onde provamos cinco vinhos de Stag’s Leap Wine Cellars, importados para o nosso país pela Garrafeira Nacional.

O 1933 by Garrafeira Nacional denota requinte e bom gosto. Além de sala de prova, também funciona como uma pequena loja de vinhos nacionais e internacionais, com uma curadoria altamente especializada, e tem o propósito de se tornar uma referência como espaço dedicado a provas de pequena dimensão, em ambiente exclusivo, para produtores de vinho, bem como para pequenos eventos de iniciativa particular relacionados com vinho. É dada ainda a possibilidade aos clientes do Seen by Olivier, na porta ao lado, de adquirirem a garrafa de vinho da sua preferência e consumirem-na no decurso da refeição no restaurante, mediante o pagamento de uma taxa de rolha. Mas vamos ao que interessa.

Califórnia

Os solos são um misto de sedimentos de xisto, areia, barro, gravilha, rocha e material vulcânico. Quanto ao clima, as encostas rochosas de Palisades reflectem o calor que se faz sentir durante o dia

 

Dias quentes, noites frescas

Napa Valley é uma AVA (American Viticultural Area), em si mesmo, e tem-no sido desde que recebeu a designação em 1981. Foi a primeira AVA reconhecida na Califórnia e a segunda nos Estados Unidos. Dentro da Napa Valley AVA existem dezasseis outras AVAs aninhadas, mais pequenas, uma espécie de sub-regiões. São elas: Atlas Peak, Calistoga, Chiles Valley, Coombsville, Diamond Mountain District, Howell Mountain, Los Carneros, Mt. Veeder, Oak Knoll District of Napa Valley, Oakville, Rutherford, St. Helena, Spring Mountain District, Stags Leap District, Yountville e Wild Horse Valley.

Os vinhos de Stags Leap District são conhecidos por serem “um punho de ferro, dento de uma luva de veludo”, em virtude da combinação entre a composição dos solos e o clima.

Os solos são um misto de sedimentos de xisto, areia, barro, gravilha, rocha e material vulcânico. Quanto ao clima, as encostas rochosas de Palisades reflectem o calor que se faz sentir durante o dia, aquecendo a vinha, mais do que em outros locais de Napa Valley, beneficiando, no entanto, das frescas brisas marítimas provenientes da Baía de San Pablo, que, juntamente com o vento característico da zona, arrefecem as plantas durante a noite, contribuindo para o equilíbrio dos níveis de açúcar e acidez. Dias quentes e noites frescas ajudam a prolongar o período de vindima sendo estas as condições ideais para variedades de maturação tardia, como a Cabernet Sauvignon.

 

O objectivo que Warren Winiarski anteviu e definiu como possível consistiu em produzir um vinho no estilo clássico de Bordéus, mas com um sentido de terroir e de identidade 100% Napa Valley

 

O salto para o mundo

“Stag” significa veado, e “Leap” significa salto. A origem do nome Stag’s Leap não está bem documentada, mas reza a lenda do povo nativo-americano Wappo, que o nome do local se ficou a dever a um veado que, em tempos, perseguido e acossado por caçadores, no limite de um penhasco, preferiu dar o seu “Leap of  Faith” (literalmente, salto de fé), em direcção à morte certa, do que ser morto por eles; outra lenda conta a história de um veado que conseguiu iludir toda uma geração de caçadores, desaparecendo sempre, no último instante, através do tal Leap of Faith.

Foi exactamente ao lado da Stag’s Leap Vineyard (S.L.V.) que Nathan Fay plantou a Fay Vineyard, com Cabernet Sauvignon, em 1961. Quando, em 1970, Warren Winiarski teve o seu momento eureka ao provar um dos Cabernets daí provenientes, de imediato comprou a S.L.V.

e fundou a Stag’s Leap Wine Cellars. O objectivo que Warren Winiarski anteviu e definiu como possível consistiu em produzir um vinho no estilo clássico de Bordéus, mas com um sentido de terroir e de identidade 100% Napa Valley. O Cabernet de Nathan Fay conseguia isso, e, como tal, a vinha ao lado também haveria de tornar isso possível. Anos mais tarde, em 1986, Nathan Fay vendeu a Fay Vineyard a Warren Winiarski.

Existem vinhos no mundo, cuja reputação está tão bem estabelecida, que praticamente vivem no reino do icónico. Stag’s Leap, é um desses vinhos.

(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)

Herdade dos Grous com estatuto Gold Member da IWCA

Herdade dos Grous

Com o Inventário de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) para 2024 aprovado por parte da Comissão de Revisão do Inventário da International Wineries for Climate Action (IWCA), a Herdade dos Grous obteve estatuto de Gold Member da referida entidade. O reconhecimento advém do compromisso desta propriedade vitivinícola localizada em Albernoa, no distrito […]

Com o Inventário de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) para 2024 aprovado por parte da Comissão de Revisão do Inventário da International Wineries for Climate Action (IWCA), a Herdade dos Grous obteve estatuto de Gold Member da referida entidade. O reconhecimento advém do compromisso desta propriedade vitivinícola localizada em Albernoa, no distrito de Beja, Alentejo, em contribuir para o abrandamento das alterações climáticas através da redução das emissões de CO2 e reduzir o impacto ambiental. Neste contexto, são de salientar as práticas de agricultura regenerativa, que fomentam a comunhão entre a agricultura e a natureza, e favorecem a saúde do solo, bem como a produção de energia renovável, que representou mais de 20% do consumo total, atingiu os 60% em 2024.

Todo este trabalho realizado em torno da medição e da gestão das emissões, tanto na vinha, como na adega, decorre desde 2018, com o auxílio de uma calculadora de GEE desenvolvida pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em colaboração com o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA).

Segundo Luís Duarte, Gerente e Director de Enologia da Herdade dos Grous, “estamos comprometidos em moldar um futuro onde a sustentabilidade está na vanguarda de cada garrafa. O nosso manifesto é uma declaração dos nossos valores comuns, da nossa missão e da nossa dedicação inabalável em fazer a diferença e impactar positivamente as pessoas e as regiões, através dos nossos vinhos.”

Herdade dos Grous

Mano a mano: O loureiro e o alvarinho

Tiago e Gonçalo Mendes

Aos 31 anos e com formação em gestão, Tiago Mendes já viu muita vindima, ainda que só a partir de 2019 tenha encarado o vinho como actividade profissional, assumindo, hoje, a liderança da área comercial e de marketing na empresa familiar. O seu irmão Gonçalo Mendes, dois anos mais velho, é médico urologista e aproveitou […]

Aos 31 anos e com formação em gestão, Tiago Mendes já viu muita vindima, ainda que só a partir de 2019 tenha encarado o vinho como actividade profissional, assumindo, hoje, a liderança da área comercial e de marketing na empresa familiar. O seu irmão Gonçalo Mendes, dois anos mais velho, é médico urologista e aproveitou a formação científica, para desenvolver o gosto pelas técnicas de produção. Ou seja, um está mais focado na estratégia e no mercado, enquanto o outro está vocacionado para a vinificação e o produto, mas ambos são conhecedores de todas as facetas de uma empresa vitivinícola e devotos admiradores dos grandes vinhos de Portugal e do Mundo.

“Fiz a minha primeira vindima a sério com o meu pai em 2017”, conta Tiago Mendes, “e fiquei deslumbrado com a variedade Loureiro. Achava que produzia vinhos muito perfumados e elegantes, e não percebia porque é que a casta não tinha tanto reconhecimento quanto a Alvarinho, que acabava por viver na sua sombra.” Com 70 hectares de Loureiro no vale do Lima, divididos por seis quintas diferentes, Tiago Mendes entendia que a família devia aproveitar estes recursos para fazer um Loureiro “de parcela”, um vinho de grande ambição, posicionado ao nível dos melhores Alvarinhos. Tanto “apertou” com o pai que, nessa vindima, surgiu o primeiro Anselmo Mendes Private Loureiro. “Inicialmente foi complicado”, confessa Tiago Mendes. “O feedback dos consumidores era positivo e as críticas de imprensa muito boas, mas as vendas, talvez pelo preço pouco habitual num Loureiro, ficavam um pouco aquém. Com o tempo, porém, este Loureiro acabou por se afirmar e, hoje, é uma referência da casta.”

Em 2020, Gonçalo Mendes concluiu os estudos em Medicina. Nos tempos livres dedicou-se a aprofundar os seus conhecimentos teóricos e práticos sobre enologia, acabando por passar muito tempo com o irmão na empresa, em Melgaço, onde Tiago Mendes já estava a trabalhar, fazendo um pouco de tudo.

Foi assim, dessa cumplicidade entre irmãos, que surgiu a vontade de fazer algo deles, com uma identidade própria, que fugisse ao portefólio Anselmo Mendes. Nesse ano, Tiago Mendes voltou a questionar o pai: “por que é que grande parte dos nossos vinhos da casta Alvarinho passam por barrica e o Loureiro não?” Anselmo Mendes tinha algum cepticismo quanto ao comportamento do Loureiro em barrica, temia que prejudicasse a delicadeza e elegância da casta. Mas Tiago Mendes não desistiu e lançou o desafio: “vamos fazer um Loureiro com fermentação e estágio em barrica!” Como pai e como enólogo, não dava para dizer não.  E assim se fez, logo nessa vindima um Loureiro estagiado em barrica.

Tiago e Gonçalo Mendes

Depois do Loureiro, o Alvarinho

Durante os meses seguintes o vinho foi sendo provado regularmente, sempre se mostrando à altura das expectativas iniciais de Tiago Mendes e acima das do pai, Anselmo Mendes. O resultado levou Tiago Mendes a incentivar o irmão: “porque não fazeres também tu um vinho?”

Há muito que Gonçalo Mendes perguntava o pai a razão de não realizarem a fermentação maloláctica em alguns Alvarinho da casa: “se há grandes vinhos da Borgonha que são feitos com maloláctica, porque é que nós nunca o fazemos?” Anselmo Mendes, que, ao longo da carreira, já o havia experimentado diversas vezes, nunca ficando convencido – “achava que os vinhos iam ficar ‘aborrecidos’ e perder alguma da tensão que os caracteriza”, conta Gonçalo Mendes – não estava pelos ajustes. Mais uma razão para Gonçalo querer o contrário: “se o Tiago pode fazer um Loureiro com barrica, eu vou fazer um Alvarinho com maloláctica”. E, de novo, assim se fez, na vindima de 2021. E outra vez com sucesso.

Quatro anos depois, os desafios lançados por Tiago e Gonçalo Mendes chegam finalmente ao mercado, trazendo consigo uma história de envolvimento e partilha geracional numa empresa familiar. “Estes vinhos espelham um pouco do que é a segunda geração: queremos dar continuidade e aprender com os nossos pais, mas gostamos de os questionar”, explica Gonçalo Mendes. “No fundo, a base para fazer estes vinhos foi, acima de tudo, fazer aquilo que o nosso pai fez a vida toda: questionar os dogmas que existem no vinho. Quisemos, assim, criar vinhos que tenham a nossa identidade, vinhos ainda não ‘assinados’ pelo nosso pai.”

O Loureiro do Tiago e o Alvarinho do Gonçalo (os vinhos assumiram no rótulo os nomes pelos quais ficaram conhecidos na adega desde que nasceram) são, naturalmente, bastante distintos entre si. E não apenas nas variedades que lhes deram origem.

“Tal como as castas se expressam de forma diferente e cada uma tem uma personalidade própria, também os irmãos assim são”, refere Tiago Mendes.  E detalha o que os une e os diferencia: “embora tenhamos nascido e vivido sempre na cidade do Porto, passávamos fins-de-semana e férias em Monção e Melgaço, e crescemos rodeados de adegas e vinhas. Quando éramos mais novos, eu sempre tive muita curiosidade nas marcas, nos rótulos, e achava fascinante que os nossos vinhos estivessem em tantos países. Fui, aos 13 anos, à primeira Prowein com o meu pai! Já o meu irmão, tendo uma formação na área das ciências, sempre teve mais curiosidade pela técnica: em entender para que servia uma cuba, porque é que uns vinhos iam para barrica e outros não, e por aí fora. Quando desenvolvemos a imagem para estes vinhos, explorámos também essas diferenças entre nós.”

A rotulagem dos vinhos foi inspirada no conceito Mar-Montanha. O que caracteriza o Loureiro é o vale do Lima e a proximidade ao mar, enquanto o Alvarinho é o vale do Minho e as montanhas de Monção e Melgaço, daí as diferenças nos rótulos de cada referência: o do Loureiro de Tiago Mendes tem linhas azuis horizontais e o do Alvarinho do Gonçalo Mendes linhas verdes verticais. “Por enquanto, é uma edição limitada, mas é um primeiro passo da segunda geração nos vinhos do projecto familiar. No futuro, mais experiências virão.” Fica a promessa dos manos. Anselmo Mendes tem todas as razões para estar feliz.

(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)

Nunes Real Marisqueira: O prazer de bem mariscar

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Situada entre o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, a escassos quilómetros do centro de Lisboa, a Nunes Real Marisqueira tem, como trave-mestra do seu prestígio, os produtos do mar. A entrada de ar discreto dificilmente desperta a imaginação para o que se vai encontrar naquele espaço amplo, cheio de cores fortes, a […]

Situada entre o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, a escassos quilómetros do centro de Lisboa, a Nunes Real Marisqueira tem, como trave-mestra do seu prestígio, os produtos do mar. A entrada de ar discreto dificilmente desperta a imaginação para o que se vai encontrar naquele espaço amplo, cheio de cores fortes, a fazer lembrar um lugar de festa.

A primeira coisa que se vê, pois é impossível não reparar nela, é a banca de mariscos e a cozinha, onde vários profissionais se afadigam, de mãos na massa, a cozinhar para os comensais do dia. Mais à frente, há vários ambientes à escolha, desde o bar e das mesas altas, que sugerem um convívio mais descontraído, ao conforto das mesas redondas envolvidas por sofás altos de veludo, a realçar um ambiente mais íntimo, para refeições entre amigos, por exemplo.

Escolhemos uma mesa para dois, porque era para isso que lá estávamos, para estar e conversar um com o outro em dia de aniversário de casamento. Pelo meio fomos apreciando algo que gosto muito, Anchovas do Mar Cantábrico com pão de cristal, saboreadas bem devagar, ou não tivesse todo o tempo do mundo, para além de um viciante Casco de sapateira recheado e de algumas ostras, às quais nunca resistimos; Amêijoas à Bolhão Pato, um par de Gambas reais grelhadas, por sugestão do chefe de sala e que estavam deliciosas, e Gamba branca do Algarve, porque estou viciado nelas desde jovem. Compro-as sempre que vou a Olhão, mas nem ali nem noutros sítios da costa algarvia ou andaluza as encontro tão grandes, como as que a Nunes Real Marisqueira dispõe, sempre no ponto certo de cozedura, para seduzirem e “obrigarem”, quem lá vai, a voltar.  Para companhia, foi escolhido o Alvarinho Ipiranga de 2023, do enólogo António Braga, um grande parceiro de quase tudo o que veio para a mesa, com a excepção das ostras. Uma noite boa e feliz.

nunes

 

 

Serviço refinado

O que diferencia esta casa de outras marisqueiras, para além da frescura do marisco, que Miguel Nunes selecciona com cuidado junto dos fornecedores, é o serviço “refinado, eficaz e atencioso” e a oferta variada de pratos de peixe, incluindo, por exemplo, os Filetes de peixe-galo com açorda de ovas ou o Robalo ao sal. Para quem gosta de petiscar, como eu, sugiro as Puntilhitas (lulinhas fritas), os Chocos à algarvia e,  para terminar, o Pica-pau de lombo.

 

 

 

Nunes Real Marisqueira

Rua Bartolomeu Dias, nº 172 E 1400-031 Lisboa

Aberto todos os dias, das 12h30 às 00h00

Tel.: 213 019 899

hello@nunesmarisqueira.pt

www.nunesmarisqueira.pt

 

 

Um brinde aos vencedores do Concurso dos Vinhos de Lisboa

lisboa

Dois vinhos generosos, com a chancela Villa Oeiras, e duas aguardentes vínicas da Adega da Lourinhã recebem a Grande Medalha de Ouro da edição de 2025 do Concurso dos Vinhos de Lisboa. No âmbito dos vencedores da Medalha de Ouro, há 10 categorias a conhecer: Melhor Branco, Melhor Tinto, Melhor Rosé, Melhor Arinto, Melhor Vital, […]

Dois vinhos generosos, com a chancela Villa Oeiras, e duas aguardentes vínicas da Adega da Lourinhã recebem a Grande Medalha de Ouro da edição de 2025 do Concurso dos Vinhos de Lisboa. No âmbito dos vencedores da Medalha de Ouro, há 10 categorias a conhecer: Melhor Branco, Melhor Tinto, Melhor Rosé, Melhor Arinto, Melhor Vital, Melhor Leve Lisboa, Melhor Espumante, Melhor Vinho Generoso, Melhor Colheita Tardia e Melhor Aguardente Vínica. Destaque ainda para os quatro Top-5 divididos em brancos, tintos, Arinto e Leve Lisboa. Ao todo, foram distinguidas 45 referências vínicas entre as 150 provadas por um painel de críticos, especialistas e enólogos.

“Este é um concurso que mais uma vez posiciona e valoriza a qualidade, a consistência, a diversidade e a identidade dos Vinhos de Lisboa, uma das grandes regiões portuguesas, expressão de um carácter atlântico único, cada vez mais reconhecido em Portugal e nos principais mercados de exportação”, afirma Carlos Fonseca, Vogal da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, entidade promotora e organizadora deste desafio vínico.

A lista dos vencedores do concurso:

Grande Medalha de Ouro

Vinhos Generosos

Villa Oeiras Superior branco DOC Carcavelos (Melhor Vinho Generoso)

Villa Oeiras 12 Anos DOC Carcavelos 2010

Aguardentes Vínicas

Clássica 32ª Série Aguardente DOC Lourinhã XO (Melhor Aguardente Vínica)

Matriz Aguardente DOC Lourinhã XO

Top-5

Brancos

Adega da Vermelha Grande Reserva 2021 | Adega da Vermelha

Coragem Chardonnay 2024 | Vidigal Wines

Carlota A Imperatriz Sauvignon Blanc 2024 | QVBFG, Sociedade de Vinhos da Estremadura

Quinta das Cerejeiras Grande Reserva 2022 |Companhia Agrícola do Sanguinhal

Corrieira Juntos Arinto Chardonnay 2023 | Quinta da Corrieira Grande

Tintos

AdegaMãe Terroir 2016 | AdegaMãe

Vinhas do Lasso Garrafeira 2013 | Quinta do Pinto

Peripécia Merlot 2020 | Cerrado da Porta

Troviscal Grande Reserva 2018 | Cerrado da Porta

Adega da Vermelha Grande Reserva 2019 | Adega da Vermelha

Arintos

Quinta do Lagar Novo 2019 | TAG Wine

Carlota A Imperatriz 2021 | QVBFG, Sociedade de Vinhos da Estremadura

CH by Chocapalha 2021 | Casa Agrícola das Mimosas

Casa Santos Lima Oak Aged 6 Months 2023 | Casa Santos Lima

Casa Santos Lima 2023 | Casa Santos Lima

Leve Lisboa

Azulejo branco 2024 | Casa Santos Lima

Mirante branco | Adega Cooperativa da Carvoeira

Azulejo rosé 2024 | Casa Santos Lima

Solar da Marquesa branco 2024 | Casa Agrícola Horácio Nicolau

Félix Rocha branco 2023 | Félix Rocha

Medalha de Ouro

Brancos

Adega da Vermelha Grande Reserva 2021 (Melhor Branco) | Adega da Vermelha

Coragem Chardonnay 2024 | Vidigal Wines

Carlota A Imperatriz Sauvignon Blanc 2024 | QVBFG – Sociedade Vinhos da Estremadura

Quinta das Cerejeiras Grande Reserva 2022 | Companhia Agrícola do Sanguinhal

Corrieira Juntos Arinto Chardonnay 2023 | Quinta da Corrieira Grande

Adega D’Arrocha Reserva Fernão Pires 2023 | Adega D’Arrocha

Quinta do Gradil Reserva 2018 | Quinta do Gradil

Carlota a Imperatriz Fernão Pires 2024 | QVBFG – Sociedade Vinhos da Estremadura

Quinta do Lagar Novo 2019 (Melhor Arinto) | Quinta do Lagar Novo

Carlota A Imperatriz Arinto 2021 | QVBFG – Sociedade Vinhos da Estremadura

CH by Chocapalha Arinto 2021 | Quinta de Chocapalha

Casa Santos Lima Arinto Oak Aged 6 Months 2023 | Casa Santos Lima

Empatia Superior Vital 2023 (Melhor Vital) | Adega da Labrugeira

Adega D’Arrocha Grande Escolha Vital 2023 | Adega D’Arrocha

Tintos

AdegaMãe Terroir 2016 (Melhor Tinto) | AdegaMãe

Vinhas do Lasso Garrafeira 2013 | Quinta do Pinto

Peripécia Merlot 2020 | Cerrado da Porta

Troviscal Grande Reserva 2018 | Cerrado da Porta

Adega da Vermelha Grande Reserva 2019 | Adega da Vermelha

Quinta do Pinto Reserva Touriga Nacional 2019 | Quinta do Pinto

Quinta de Chocapalha tinto 2020 | Quinta de Chocapalha

AdegaMãe Castelão 2021 | AdegaMãe

Reserva das Cortes Reserva tinto 2021 | Paço das Côrtes

Brutalis tinto 2020 | Vidigal Wines

Marquês de Lisboa Alicante Bouschet 2023 |

Chocapalha Vinha Mãe Tinto 2019 | Quinta de Chocapalha

Coragem Touriga Nacional 2021 | Vidigal Wines

Espumantes

Quinta Cerrado da Porta Grande Reserva Arinto 2015 (Melhor Espumante) | Cerrado da Porta

Quinta Cerrado da Porta Grande Reserva Chardonnay 2019 | Cerrado da Porta

Adega de São Mamede Reserva Branco 2022 | Adega de São Mamede

Colheitas Tardias

Quinta das Marés by Santa Bárbara 2021 (Melhor Colheita Tardia) | Lés a Lés

Generosos

Villa Oeiras 7 anos DOC Carcavelos | Município de Oeiras

 Aguardentes

Quinta do Rol VSOP Aguardente DOC Lourinhã | Quinta do Rol

Medalha de Prata

Romeira 2024 (Melhor Rosé) | Quinta da Romeira

Rua da Betesga Reserva Tinto 2020 | Adega Moor

Talismã Reserva Branco 2024 | Adega Cooperativa da Labrugeira

Casa Santos Lima Oak Aged 6 Months Chardonnay 2024 | Casa Santos Lima

Colossal Chardonnay 2024 | Casa Santos Lima

Casa Santos Lima Arinto 2023 | Adega Moor

Félix Rocha Arinto Reserva 2021 | Félix Rocha

A Região Demarcada dos Vinhos de Lisboa engloba os Vinhos IGP Lisboa e as DOC de Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Óbidos, Encostas D’ Aire, Lourinhã, Carcavelos, Colares e Bucelas. Este território vitivinícola agrega 10 mil hectares de vinha certificada, o que se traduz em vendas anuais de 69 milhões de garrafas, com a exportação a registar os 80% para cerca de 100 países.

E se o vinho fosse menos caro nos restaurantes?

vinho

Esta é uma realidade comum, que tanto afeta o consumidor, como prejudica o consumo consciente e sustentado de vinho nos espaços de restauração. Mas, afinal, por que motivo o vinho é mais caro nos restaurantes? E mais importante ainda: poderá esta realidade ser diferente, sem comprometer a rentabilidade do negócio? Vamos explorar esta questão com […]

Esta é uma realidade comum, que tanto afeta o consumidor, como prejudica o consumo consciente e sustentado de vinho nos espaços de restauração. Mas, afinal, por que motivo o vinho é mais caro nos restaurantes? E mais importante ainda: poderá esta realidade ser diferente, sem comprometer a rentabilidade do negócio? Vamos explorar esta questão com uma análise clara, justa e através de propostas construtivas.

 Porque é que o vinho é mais caro nos restaurantes?

A valorização do vinho na restauração é uma prática comum em todo o mundo e, muitas vezes, assume proporções que afastam o consumidor. Vamos analisar alguns dos vários fatores que influenciam os preços:

  1. a) Margem comercial: a margem praticada pode variar entre 200% a 400%. Um vinho comprado por 5€ pode surgir facilmente na carta por 15€ a 25€. Esta margem cobre custos operacionais, desperdícios, impostos e, em muitos casos, ajuda a compensar as baixas margens dos pratos.
  2. b) Custo de armazenamento e stock: o vinho ocupa espaço, exige condições específicas (temperatura, humidade, luz), e nem sempre roda com rapidez. O capital investido em stock parado também é um risco que o restaurante tenta compensar com o preço final.
  3. c) Perdas e desperdício: uma garrafa aberta que não é vendida até ao fim pode representar perda total. É o maior risco quando temos vinhos a copo. A margem tem de cobrir este possível desperdício.
  4. d) Custo do serviço: bons copos, sommelier, formação da equipa e serviço de qualidade são diferenciadores. Este conjunto de factores tem um custo real que precisa de ser refletido.
  5. e) IVA elevado: em Portugal, o vinho é tributado com IVA de 23% na restauração. No retalho, é tributado com IVA de 13%. Esta diferença impacta diretamente no preço final ao consumidor, no restaurante.
  6. f) Necessidade de margem nos restaurantes pequenos: muitos restaurantes vivem com margens reduzidas na comida e usam o vinho e as bebidas como forma de equilibrar a rentabilidade global do serviço.

Por conseguinte, a valorização do vinho não surge de forma arbitrária. Resulta, isso sim, de uma série de condicionantes económicas, logísticas e fiscais.

 O Impacto da margem elevada no consumo

Apesar de compreensíveis, estas práticas têm efeitos colaterais claros:

Menor consumo por parte do cliente: muitos evitam pedir vinho à refeição ou limitam-se ao jarro ou à garrafa mais barata.

Desinteresse em vinhos mais valiosos: vinhos de gama média e alta ficam esquecidos na carta por terem preços pouco atrativos ou, até mesmo, proibitivos.

Perda de oportunidade de valor: um cliente que gasta menos em vinho não representa apenas menos receita; representa menos prazer, menos partilha e menor experiência.

O vinho não deve ser encarado como um extra; pode, isso sim, ser o fio condutor de uma refeição memorável. Contudo, quando o preço se impõe como barreira, perde-se a oportunidade de criar fidelização e valor.

 Boas práticas e alternativas sustentáveis

O caminho não passa por eliminar a margem, mas por ajustá-la com estratégia. Aqui ficam algumas sugestões:

  1. a) Margens mais realistas: em vez de aplicar uma margem linear a toda a carta, importa considerar escalas variáveis. Vinhos mais baratos podem ter margens mais altas, enquanto os de gama média podem ter margens menores, tornando-se mais acessíveis e com maior rotação.
  2. b) Cartas inteligentes e curadas: menos referências, maior conhecimento sobre os produtos, melhor formação da equipa. Uma carta bem pensada pode rodar melhor e exigir menos margem, ganhando valor no volume.
  3. c) Parceria com distribuidores competentes: em Portugal, o contacto direto com o produtor ainda é limitado, mas um distribuidor com boa curadoria e apoio ao restaurante pode criar valor.
  4. d) Opções por copo com sistema de preservação: investir em sistemas, como o Coravin ou semelhantes permite servir vinhos mais caros a copo sem risco de desperdício.
  5. e) Educação do cliente: cartas com informação clara, storytelling sobre o vinho, origem, produtor e harmonização. Uma carta que educa gera confiança e valor percebido.

Com boas práticas, é possível reduzir as margens e, paradoxalmente, aumentar o consumo e o lucro final. É a diferença entre vender duas garrafas com muita margem ou 10 com margem mais moderada.

Benefícios de um modelo mais acessível

Fidelização do cliente: preços justos aumentam a perceção de valor e a satisfação.

Aumento de ticket médio: se o vinho se torna mais acessível, o cliente pede mais vezes.

Mais rotação de stock: reduz o capital imobilizado e melhora a gestão.

Criar cultura de vinho: torna-se um hábito, valorizando toda a cadeia sem se tornar um luxo ocasional.

Conclusão: um convite ao equilíbrio

O vinho é cultura, prazer, partilha. Mas também é negócio e, como em todo o negócio, o segredo está no equilíbrio: margens justas, experiência positiva, relação de confiança entre restaurante e cliente. Não se trata de abdicar do lucro, mas de pensar a longo prazo. De transformar cada refeição com vinho num momento que fideliza. Num país produtor, onde o vinho faz parte da identidade, não faz sentido continuar a tratá-lo como um produto de luxo inalcançável. O convite fica feito aos restauradores: vamos refletir sobre a forma como tratamos o vinho nas cartas. E se, em vez de pensar em quanto mais podemos ganhar com cada garrafa, pensássemos em quantas mais podemos vender?

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Por: Helder Cunha* Enólogo e produtor de vinho

(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)