Adega do Cartaxo entra em 2025 com sustentabilidade certificada
A Adega do Cartaxo vai poder envergar o selo de Sustainable Winegrowing Portugal, após o seu plano de sustentabilidade ter sido reconhecido e certificado pelo Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal. O plano de sustentabilidade da Adega do Cartaxo, […]
A Adega do Cartaxo vai poder envergar o selo de Sustainable Winegrowing Portugal, após o seu plano de sustentabilidade ter sido reconhecido e certificado pelo Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal.
O plano de sustentabilidade da Adega do Cartaxo, com mais de duas décadas, iniciou-se, em 2004, com a construção de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais Industriais (ETAR). Entre as práticas mais recentes, destaque para a aquisição de iluminação LED para toda a adega, de equipamentos modernos com variadores de velocidade de gestão eletrónica, monotorização do consumo de água, bombas de calor e painéis para a produção de águas quentes para a higienização de linhas de engarrafamento e painéis fotovoltaicos para autoconsumo.
“Estamos conscientes de que o futuro do sector passa pela sustentabilidade ambiental, social e económica, diz Pedro Gil, diretor de enologia e produção da Adega do Cartaxo. Para este responsável, como a sustentabilidade tem de ser encarada como um processo contínuo, está já previsto o desenvolvimento de soluções de melhoria a três anos.
Como um dos aspetos sensíveis deste sector é a redução do vidro, porque há mercados que ainda valorizam muito as garrafas de porte pesado, alguns deles importantes para o negócio da Adega do Cartaxo, “cabe-nos, obviamente a nós e de forma paulatina, sensibilizá-los para isso”, explica Pedro Gil. O consumo de energia e água e o tratamento das águas residuais têm grande impacto na atividade vitivinícola. Mas “aí, estamos na linha da frente.”, salienta o enólogo, acrescentando que “foi importante a mudança de mentalidade e definir uma política de sustentabilidade, assumindo que é fundamental ter práticas com isso em mente para poder estar neste sector de forma competitiva e consciente”.
Prémios Grandes Escolhas «Os Melhores do Ano» dia 7 de Março no Estoril
Será no próximo dia 7 de Março, a partir do Centro de Congressos do Estoril e com transmissão em streaming nas plataformas digitais, que se realiza a sempre tão aguardada cerimónia do anúncio dos prémios da Grandes Escolhas. Como habitualmente, prevê-se que centenas de convidados possam assistir ao vivo o anuncio das escolhas da redacção […]
Já no que se refere aos Troféus Grandes Escolhas, serão anunciados no final do jantar os 20 Prémios Especiais, cobrindo as áreas da viticultura, da enologia, da performance dos produtores e das empresas, com assim como sommeliers e restaurantes. Em qualquer destes domínios a equipa da Grandes Escolhas escolhe por consenso os premiados que mais se distinguiram no ano transacto nas seguintes categorias:
Produtor Revelação
Produtor
Cooperativa
Empresa
Empresa de Vinhos Generosos
Produtor Singularidade
Enólogo
Enólogo de Vinhos Generosos
Viticultura
Organização
Enoturismo
Garrafeira
Loja Gourmet
Wine Bar
Restaurante
Restaurante Cozinha Tradicional
Restaurante Cozinha do Mundo
Sommelier
Premio Gastronomia David Lopes Ramos
Senhor/a do Vinho
Toda a cerimonia vai poder ser seguida por transmissão em directo através das plataformas digitais.
Enoturismo do Centro de Portugal presente na Fitur 2025
Enoturismo do Centro de Portugal vai estar presente na Fitur 2025, uma das maiores feiras mundiais de turismo, que decorre entre os dias 22 e 26 de Janeiro em Madrid, para promover a oferta de mais de 1000 experiências a quem visitar o seu território. O evento marca o início de uma campanha internacional para […]
Enoturismo do Centro de Portugal vai estar presente na Fitur 2025, uma das maiores feiras mundiais de turismo, que decorre entre os dias 22 e 26 de Janeiro em Madrid, para promover a oferta de mais de 1000 experiências a quem visitar o seu território. O evento marca o início de uma campanha internacional para atrair enoturistas e promover os produtos das rotas do vinho das cinco regiões, criando pontes entre produtores e mercados globais.
O Enoturismo do Centro de Portugal é um iniciativa conjunta das Regiões Vitivinícolas que a compõem – Bairrada, Beira Interior, Dão, Lisboa e Tejo – para promover, de forma integrada os seus territórios, vinhos, cultura e gastronomia.
A presença em força do Turismo da Região Centro na maior feira ibérica de turismo pretende reforçar o posicionamento da região enquanto destino premium para experiências de Gastronomia e Enoturismo. Destaque, no dia 25, sábado, para a apresentação do projecto “Sabores ao Centro”, em que vai dar a conhecer a riqueza e diversidade gastronómica da região, no stand Visit Portugal, do Turismo de Portugal (Pavilhão 4). Será seguida de um “Momento de Degustação de Produtos Gastronómicos e Vinhos do Centro de Portugal”, conduzido pela chef Inês Beja, do Restaurante DeRaiz (Viseu).
Outro momento de relevo terá lugar no dia 23, quinta-feira, quando for apresentada a estratégia conjunta de promoção entre as regiões Centro de Portugal, Alentejo e Extremadura espanhola, que terá lugar no stand do Turismo da Extremadura (Pavilhão 7) e contará com intervenções de figuras de destaque do turismo ibérico, incluindo Pedro Machado, secretário de Estado do Turismo de Portugal. Após esta apresentação, decorrerá no mesmo local o “Encontro Gastronómico – Alentejo e Centro de Portugal com Extremadura”.
Este ano, a FITUR espera receber o mesmo número de visitantes de 2024, cerca de 250 mil pessoas, entre profissionais e público em geral, gerando um impacto económico na cidade de Madrid de 450 milhões de euros. Estarão presentes 9.500 empresas (mais 500 do que em 2024) de 156 países e 884 expositores, o que se traduz num crescimento de 10% em relação ao ano passado.
Espumantes Rosé: Bolhas em tons rosa
Novidade, notícia, atenção: este é o primeiro texto com uma seleção exclusivamente dedicada a espumantes rosés portugueses na nossa revista! E os resultados são, no mínimo, excelentes! De tal forma se deram tão bem em prova, que cabe interrogar-nos porque razão não fizemos antes este tipo de seleção? Em primeiro lugar há que dizer que […]
Novidade, notícia, atenção: este é o primeiro texto com uma seleção exclusivamente dedicada a espumantes rosés portugueses na nossa revista! E os resultados são, no mínimo, excelentes! De tal forma se deram tão bem em prova, que cabe interrogar-nos porque razão não fizemos antes este tipo de seleção? Em primeiro lugar há que dizer que provamos muitos espumantes rosés ao longo do ano. Simplesmente não sintetizamos essa prova num único texto. O mesmo se poderá dizer, claro está, quanto a outro tipo muito específico de vinho, do Vinho de Talha ao Porto LBV, que podem merecer tantas vezes uma seleção à parte, mas, por regra, saem mais dispersamente ao longo de várias edições.
Depois, talvez seja melhor colocar já o dedo na ferida, e apesar dos excelentes exemplares nacionais, todos nós – consumidores, vendedores, críticos e produtores – não andamos a prestar a atenção devida à categoria dos rosés espumantes. Salve-nos, a esse respeito, não ser uma falha exclusivamente nossa, uma vez que em Champagne – pináculo da produção de vinhos espumantes – só muito tempo depois do monge Dom Pérignon aprender a controlar a segunda fermentação, é que se passou a valorizar a respetiva versão rosada. Hoje, ao invés, e dependendo das marcas, a versão rosé dos Champagnes (e em alguns Franciacorta italianos) pode ser mesmo mais exclusiva do que os brancos, em parte devido à sua muito menor produção, em parte por alguns exemplares serem absolutamente magníficos (com distribuição em Portugal recomendamos o mítico Cristal rosé, o gastronómico Gosset Grand Rosé e o sensual Billecart-Salmon rosé).
Uma questão de estilo
Como é evidente, um bom espumante rosé em nada fica atrás de um bom espumante branco (não nos referimos aqui aos tintos que deixamos para outra altura). É uma questão de estilo. Aliás, quando um dos melhores produtores de rosé em Portugal, a empresa bairradina Kompassus, quis iniciar-se em espumantes topos de gama, fê-lo em versão rosés, quer com Baga e Pinot Noir juntas, quer com cada uma das castas em estreme. E assim o é, desde logo, porque a partir de uma casta tinta se pode fazer espumante branco ou rosé. Com efeito, quanto à cor e perfil, e não querendo entrar em muitos detalhes, trata-se de uma opção de vinificação do produtor, sendo que uma uva tinta, dependendo da variedade, naturalmente, pode conduzir a um mosto mais claro do que uma uva branca. De resto, a carga fenólica de grande parte das uvas tintas com que se faz espumante é menor do que a das castas brancas (simplificando, esmagando uvas de Pinot Noir e de Chardonnay lado a lado, o mais provável é que o sumo desta última tenha mais cor do que o da primeira). Por isso, e como escrevíamos, a versão rosé depende da escolha na adega, nomeadamente no que respeita ao tempo de contacto do mosto com as películas da uva. Para os vinhos mais delicados utiliza-se apenas o mosto lágrima (tête de cuvée) utilizando-se o método de bica aberta sem contacto com as películas. Em Champagne pode-se utilizar este mesmo método para os rosés, com maior ou menor contacto com as películas, ou produzir espumantes brancos e tintos que são depois misturados. Não sendo este um método maioritário, contribui para alguns dos champanhes rosés com mais carácter.
Rosés de eleição
Mas voltemos à nossa premissa inicial. Não existe nenhum motivo para não eleger um espumante rosé quando nos apetece bolhas, seja a solo, de aperitivo, ou a acompanhar uma refeição. É verdade que a sua produção continua a ser residual face aos brancos, e é verdade que quem pretende um espumante centrado em notas de panificação, ou até com perfil mais cítrico ou floral, não pensa imediatamente numa bebida com tons rosados. E pode ser até que os espumantes rosés tenham herdado, por parte do público, algum do preconceito que existe em relação à generalidade dos vinhos rosés (preconceito que nos afigura estar a desvanecer). Em todo o caso, provando os vinhos, nas suas melhores versões (vários dos recomendados são topos de gama), é impossível ficar indiferente a uma sedução ligeiramente frutada que equilibra as notas fermentativas típicas de uma segunda fermentação e atenua os matizes mais barrocos provocados pela “reação de Maillard”.
Pois bem, quanto à nossa recomendação, não vale a pena guardar segredo e avancemos para a conclusão que já temos vindo a desvendar nos parágrafos anteriores: temos mais espumantes rosés de excelência em Portugal do que pensamos e, definitivamente, do que andamos a beber. Produto ainda valorizado para momentos festivos, acaba muitas vezes esquecido dentro do coffret (palavra francesa para a caixa decorativa em que os champagnes de edição limitada são comercializados) na dispensa. Todavia, e depois de provarmos muitos vinhos e de selecionarmos mais de uma dúzia, não temos dúvida em classificá-los como o melhor acompanhamento à mesa com uma piza (melhor ainda se for levemente picante), com almondegas ou outros pratos à base de carne picada, mas também, e noutro polo, com peixes secos e para maridagens com pratos exóticos (caril em especial). De preferência quando o espumante rosé é bruto natural como grande parte dos que aqui selecionámos, com uma mousse cremosa, cordão vivo e pressão média.
Há, pois, que valorizar os espumantes nacionais, incluindo os rosés, o que passa por compreender que produzir um espumante é muito mais difícil do que produzir um vinho tinto, por exemplo. Outra coisa que por vezes se esquece é que uma premissa base para um bom espumante é a qualidade das uvas que estão na sua génese. Devem ser uvas destinadas exclusivamente a espumante tendo em consideração o álcool provável, pH e acidez total. Uvas demasiado maduras contribuirão para espumantes com demasiado carácter varietal (o que não se pretende) pelo que se deve privilegiar regiões frias para a sua produção ou, nas menos frias, optar por uma vindima precoce. O vinho base para um espumante deve ter entre 10,5% e 11,5% de álcool, uma acidez total entre os 9 a 10 g/l e um pH preferencialmente abaixo dos três. Não espanta, assim, que a produção de espumante, espalhada por todo o território, se concentre em duas regiões onde não falta frescura: a atlântica Bairrada e a montanhosa Távora-Varosa. Na nossa seleção, os vinhos destas regiões puxaram dos pergaminhos (muito bem o Baga-Bairrada da Aliança, que já produz 65.000 garrafas a um preço imbatível), seguidos por regiões de clima também temperado e húmido como Lisboa (sobretudo nos solos calcários) e os Vinhos Verdes. Mas terminamos como começámos, concluindo que em todo o nosso território se produzem grandes espumantes e também na versão rosé que em nada fica atrás da versão branca. Em alguns casos, bem pelo contrário!
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)
Ravasqueira conquista certificação de sustentabilidade
A Ravasqueira, produtor de vinhos do Alentejo, foi reconhecida recentemente pelo Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola (RNCSSV), que autentica as práticas ambientais, sociais e de gestão responsáveis implementadas, pela empresa, ao longo de toda a sua cadeia de produção. O Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola foi desenvolvido […]
A Ravasqueira, produtor de vinhos do Alentejo, foi reconhecida recentemente pelo Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola (RNCSSV), que autentica as práticas ambientais, sociais e de gestão responsáveis implementadas, pela empresa, ao longo de toda a sua cadeia de produção.
O Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola foi desenvolvido pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e pela ViniPortugal com o objectivo de promover práticas sustentáveis e garantir o alinhamento e o compromisso das empresas do sector vitivinícola em relação aos princípios de sustentabilidade ambiental, social e económica, tendo, como matriz ,as metas internacionais do Pacto Ecológico Europeu e da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
“O cuidado com o futuro por parte WineStone é demonstrado através da sua forma sustentável de gerir e operar, que procura promover um futuro melhor para todos os seus stakeholders em termos sociais, económicos e ambientais”, disse Pedro Pereira Gonçalves, CEO da WineStone, a holding do Grupo José de Mello para o setor do vinho, a propósito da certificação da empresa. Acrescentou, também, que o seu grupo é muito claro na forma como se posiciona como operador do sector, ao assumir, como propósito, “produzir valorizando o património vitivinícola, natural e humano, e procurando projectá-lo para as gerações futuras através da produção de vinhos de forma consistente e sustentável”.
O processo de certificação da Ravasqueira culminou numa auditoria feita por uma entidade independente que assegura o cumprimento dos padrões ambientais, sociais e de gestão. O reconhecimento pelo RNCSSV mostra o empenho do grupo WineStone em executar o seu Roteiro de Sustentabilidade, composto por 22 compromissos estabelecidos em torno dos três eixos estratégicos – as Pessoas, o Capital Natural e o Governo –, em todos os ativos, territórios e comunidades onde está presente: Ravasqueira, no Alentejo, Quinta de Pancas, em Lisboa, Quinta do Retiro Novo e Quinta do Côtto, no Douro, e Paço de Teixeiró, na região dos vinhos verdes.
Algarve produziu quase dois milhões de litros de vinho em 2024
Segundo a sua Comissão Vitivinícola Regional (CVR), o Algarve produziu, no ano passado, mais de 1982 milhões de litros de vinho, o que representa um crescimento de cerca de 20% em relação a 2023 e uma das melhores produções dos últimos 15 anos. A maior parte são vinhos certificados com Denominação de Origem ou Indicação […]
Segundo a sua Comissão Vitivinícola Regional (CVR), o Algarve produziu, no ano passado, mais de 1982 milhões de litros de vinho, o que representa um crescimento de cerca de 20% em relação a 2023 e uma das melhores produções dos últimos 15 anos.
A maior parte são vinhos certificados com Denominação de Origem ou Indicação Geográfica e apenas 100 a 200 mil são de Vinho de Mesa, segundo valores adiantados por Sara Silva, a Presidente da CVR do Algarve. A responsável revela também que o crescimento se poderá dever ao aumento do número de produtores, que são actualmente 61, da área de vinha, que aumentou 180 hectares nos últimos três anos, e à reconversão de zonas já plantadas.
“Na região vende-se vinho sobretudo no verão, na época alta”, conta Sara Silva acrescentando que, “por isso, há uma grande procura de vinhos mais frescos, como os brancos, rosés e espumantes”, apesar de as produções e consumo de tintos também estarem a crescer de forma sustentável.
A maior parte do vinho produzido no Algarve é consumido durante o tempo quente, sobretudo pelos turistas que visitam a região, com a exportação a oscilar entre os 10 e 15% revela Sara Silva, acrescentando, ainda, que a maioria dos vinhos colocados lá fora destinam-se aos mercados da Europa.
Grande Prova: Tintos do Alentejo
Se há região presente nos corações dos apreciadores de vinho em Portugal é o Alentejo. E não é só no nosso país, pois há mercados importantes como Brasil e Angola a elegerem a região do sul como a sua favorita. E mesmo aqui ao lado, na vizinha Espanha, já não é raro algum consumo de […]
Se há região presente nos corações dos apreciadores de vinho em Portugal é o Alentejo. E não é só no nosso país, pois há mercados importantes como Brasil e Angola a elegerem a região do sul como a sua favorita. E mesmo aqui ao lado, na vizinha Espanha, já não é raro algum consumo de vinhos alentejanos, sobretudo nos territórios mais próximos da fronteira. O Alentejo é, sem dúvida, uma região firme e regular no que respeita a escolhas dos consumidores.
Nas últimas três décadas, o Alentejo impôs-se graças a um estilo atrativo com produtos de grande qualidade e preços competitivos, tendo sido uma das primeiras regiões a modernizar-se, seja na replantação de vinha apta a produzir quantidade com qualidade, seja na apresentação acessível e excitante das garrafas ao consumidor. Com efeito, na década de 90 do século passado, enquanto outras regiões lusitanas faziam ensaios ou apresentavam os seus primeiros vinhos considerados modernos, já o Alentejo fidelizava clientes com vinhos e marcas irrepreensíveis como Esporão e Monte Velho, Alabastro e Quinta da Terrugem, Tapada de Coelheiros, Marquês de Borba, Cartuxa, Couteiro-Mor, Herdade Grande, ou Quinta do Carmo, sem esquecer o trabalho muito profissional que já se fazia na maioria das cooperativas. Longe da rusticidade, e de vinhos com fenóis típicos de décadas anteriores, os anos 90 colocaram o Alentejo no topo das escolhas dos enófilos que buscavam um perfil mais contemporâneo, em alguns casos até com inspiração internacional. A este respeito, a introdução de castas de fora da região teve a sua quota-parte de importância nesta ascensão, tanto mais que esse movimento teve, no Alentejo, mais sucesso que em qualquer outra região, com a chegada das Tourigas durienses, e das francesas Syrah e Cabernet Sauvignon (e, pouco depois, mas com menos expressão, de Petit Verdot e, mais residual ainda, de Petite Sirah), não por acaso chamadas de “castas melhoradoras”.
A igualmente “francesa adotada” Alicante Bouschet passou de exclusiva a meia dúzia de produtores (com destaque para Mouchão, Quinta do Carmo e Reynolds), para ser quase a segunda casta mais plantada na região, praticamente omnipresente nos encepamentos da planície, de tal forma que, ainda hoje, é difícil (muito difícil mesmo, com exceção do Pêra-Manca) encontrar um topo de gama alentejano sem a presença desta variedade. E tanto assim o é, que já todos consideramos o Alicante Bouschet como uma casta do Alentejo, e a prová-lo temos o impressionante número de 4.352 hectares ali plantados. A comandar esta tendência de vinhos modernos, com fruta límpida e madura, encontrávamos nomes de profissionais incontornáveis na região, produtores e enólogos, como João Portugal Ramos, Júlio Bastos, Paulo Laureano, Pedro Baptista, Luís Duarte e Rui Reguinga, entre outros. Com a entrada no novo milénio, marcas e empresas de sucesso como Malhadinha, Monte da Ravasqueira, Herdade dos Grous, Tiago Cabaço, Ervideira, Rocim, Fita Preta, Casa Relvas, entre muitas e muitas outras, solidificaram o pedestal alentejano junto dos consumidores.
MODERNO E CLÁSSICO
E, assim, chegámos à atualidade. Grande na dimensão territorial e nos seus quase 2000 viticultores e 250 produtores com produção declarada, o Alentejo produz hoje mais de 85 milhões de litros com certificação DO Alentejo e IG Alentejano, e ultrapassa os 120 milhões no total. Com uma produção média por hectare de 5200 litros, o Alentejo afirmou-se como um dos principais motores vitivinícolas no país, sem dúvida o mais aberto a tendências vindas de fora, sem esquecer a atenção à sustentabilidade graças a um eficaz sistema de gestão ambiental. Perante o cenário já descrito, constatamos que os últimos anos confirmam uma estabilidade notável, sentindo-se uma ligeira consolidação perante o aumento do número de grandes produtores (acima de um milhão de litros), o mesmo se sentindo no número de produtores com uma dimensão entre 100 e 200 hectares, que aumentou ligeiramente. Mas este Alentejo atual não é só números. É cada vez mais uma região cosmopolita, que tanto tem certificação de Vinho de Talha e produz vinhos das suas castas autóctones, como dispõe de produtores junto à costa com vinhos de Sauvignon Blanc, Riesling e Pinot Noir marcadamente atlânticos. É uma região que viu renascer o interesse pelo território e património vitícola da Serra de São Mamede e a valorização das vinhas de sequeiro, uma região que tem castas como Trincadeira e Moreto, mas onde também se produz vinho com Carignan e Grand Noir de cepas velhas. Tudo isto!
Quanto à prova verdadeiramente dita, comecemos pelos aspetos mais positivos que dela ressaltaram. Em primeiro lugar, a boa forma de todos os vinhos provados, daqueles com três anos em garrafa até aos com sete ou oito anos. Todos, sem exceção, encontram-se num bom momento de consumo. Aliás, cabe mesmo elogiar a longevidade dos vinhos provados, vários deles ainda jovens no copo, mesmo aqueles com 10 anos (caso do Segredo de Saturno) ou mais (Gloria Reynolds).
Se alguém ainda duvida da longevidade dos vinhos do Alentejo é porque não anda a provar seriamente os vinhos da região. A este respeito ainda, quero deixar um elogio aos produtores alentejanos que conseguem reter uma ou duas colheitas em casa, colocando os seus vinhos no mercado apenas quando o consideram próximo do seu melhor momento. Na nossa prova, encontrámos vinhos, lançados este ano de 2024, das colheitas de 2021 e 2020, alguns casos até de anos mais antigos. Ora, esta capacidade de retenção, quando se trata de uma decisão e não de uma consequência de stocks volumosos, é de aplaudir e deve servir de exemplo para outras regiões. Outra nota muito positiva para a boa qualidade geral das rolhas, com apenas um residual despiste de TCA.
ÁLCOOL A MODERAR
Quanto aos desafios para a região, a prova demonstrou um padrão maioritário de perfil muito bem definido, com várias semelhanças entre si. Vinhos intensos, exuberantes e capitosos, fantásticos na sedução, mas, em vários casos, parecidos uns com os outros. Numa região com sub-regiões tão diversas, e terroirs diversificados quanto à composição do solo e à altitude, e à proximidade do oceano, seria positivo encontrar mais registos e registos mais diversificados. É verdade que, tal como aconteceu com a prova dos topos de Lisboa na edição de outubro, ou na do Douro, na edição de novembro, os topos de gama tendem a uma uniformização no que respeita ao ponto de maturação fenólica e ao uso de barrica, mas, mesmo assim, teríamos preferido encontrar perfis mais espontâneos e singulares.
Vários dos vinhos mais bem pontuados foram precisamente aqueles que, dentro da extrema qualidade, conseguiram revelar maior originalidade, por resultarem de vinhas muito particulares (Vinha da Micaela e Chão dos Ermitas) ou por representarem um estilo quase único (Reynolds e Marquês de Borba Reserva). E, por fim, um outro ponto sensível ao qual, todavia, não queremos fugir: o grau alcoólico dos vinhos provados. Que fique bem claro que não temos nenhum problema com um vinho com 15 ou 15,5% de álcool, se isso for fruto de um ano especificamente quente ou de maior concentração. Não é esse o tema… O tema é, sim, que em quase 40 vinhos provados, de muitas colheitas e terroirs, diferentes (do Alto ao Baixo Alentejo, Este e Oeste), mais de 15 (ou seja, quase metade) contêm álcool superior a 15% vol. e, alguns deles, acima de 16%. Uma vez mais, não critico o nível do álcool nos vinhos. Mas é de difícil sustentação que, em parte desses vinhos, a partir de 15,5% esse álcool não se sinta em prova. O facto de o Alentejo ser uma região maioritariamente quente faz, em alguns casos, que o álcool se sinta com maior acutilância (utilizemos Espanha como exemplo: é manifestamente diferente provar um Bierzo ou Sierra de Gredos com 14,5%, do que provar um Priorat ou Penedés com a mesma graduação).
Por outras palavras, sendo o Alentejo um território com temperaturas elevadas, sobretudo no Verão, com vinhos de grande entrega e poderosos, o álcool pode ser tão atrativo como distrativo, e prejudicar até alguns mercados de exportação. A título de provocação (positiva), veja-se que, na prova dos topos de gama do Douro da última edição (novembro), a média de álcool era sensivelmente 1% mais baixa do que a desta prova que realizamos. Há cinco anos essa diferença não existia.
Tudo isto para deixar uma mensagem de grande otimismo. É precisamente nos momentos de sucesso e consolidação que se deve preparar o futuro e enfrentar desafios, grande parte deles não exclusivos de uma ou outra região. No que ao Alentejo diz respeito, tem tudo para continuar a triunfar: terrenos com tradição de vinha, castas únicas, vários produtores bravos e alguns visionários, enólogos talentosos, gastronomia e património ímpares.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.
Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024
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Rui Reguinga: Um pioneiro na Serra de São Mamede
Tudo começou quando Rui Reguinga contactou com as vinhas e os vinhos de Portalegre logo no início da sua carreira, na sua primeira vindima como assistente de João Portugal Ramos, o consultor da Tapada do Chaves e da Adega Cooperativa de Portalegre na altura. Decorria o ano de 1991 quando recebeu, pela primeira vez, uvas […]
Tudo começou quando Rui Reguinga contactou com as vinhas e os vinhos de Portalegre logo no início da sua carreira, na sua primeira vindima como assistente de João Portugal Ramos, o consultor da Tapada do Chaves e da Adega Cooperativa de Portalegre na altura. Decorria o ano de 1991 quando recebeu, pela primeira vez, uvas das vinhas velhas da primeira, “as únicas que lá existiam na altura” e as do Reguengo, da Adega de Portalegre, “que eram recebidas todas para a mesma cuba, num dia especial seleccionado para isso”, conta Rui Reguinga, acrescentando que foi nessa altura que fez os primeiros contactos com os produtores de uvas locais.
Concretizar um sonho
Anos mais tarde, já no início do segundo milénio, quando decidiu concretizar o sonho, comum a tantos enólogos, de produzir o seu próprio vinho, decidiu iniciar o projecto com base nas vinhas velhas da Serra de São Mamede, que já conhecia tão bem. Não havia, na altura, a informação actual sobre as vantagens de produzir em altitude para atenuar os efeitos das alterações climáticas na vitivinicultura. Mas Rui Reguinga sabia qual era o potencial das vinhas velhas para produzir vinhos de qualidade com menos álcool, mais frescos e grande potencial de envelhecimento. Por isso comprou barricas, pagou “as uvas mais caras do Alentejo na altura” e a uma adega para fazer o vinho, dando os primeiros passos “sem deixar de ter as dúvidas e incertezas de quem é pioneiro”. E foi assim que surgiu o primeiro vinho, um tinto Reserva da colheita de 2004.
Na época, a moda, no Alentejo, era produzir vinhos com muito álcool e maturação. “Por isso, a segunda vinha que adquiri, perto de Marvão, exposta a norte, que tem quatro hectares, não era reconhecida pelo seu potencial”, conta, acrescentando que havia sempre dúvidas sobre o destino a dar às suas uvas quando estava na Adega Cooperativa de Portalegre. “Mas hoje sei que tem grande capacidade para originar vinhos de enorme qualidade, porque produz uvas com acidez e uma boa maturação”, explica.
O tinto de 2004 teve boa aceitação no mercado. Tinha sido feito com base em uvas colhidas o mais maduras possível, para acompanhar a tendência do mercado na altura. “É um vinho com 14% de álcool, mas uma acidez elevada, perto de 7 e um equilíbrio que me incentivou a ficar na Serra de São Mamede até hoje”, revela o enólogo, acrescentando que a aceitação, pelo mercado, de vinhos mais frescos, com o passar dos anos, lhe tirou as dúvidas que tinha em relação à aventura que tinha iniciado uns anos antes. Mas “aquilo que me fez apostar na região foi sobretudo o potencial das vinhas velhas para originarem vinhos com concentração e frescura, aromas com menos fruta, um carácter mais vegetal, com especiarias, e isso foi bem aceite pelo mercado desde o início”, conta Rui Reguinga.
Controlo da viticultura
Depois de verificado o potencial das vinhas velhas da região para originar vinhos distintos, frescos, de altitude, com grande acidez e capacidade de envelhecimento, era preciso investir na marca, e na compra de vinhas para assegurar a manutenção da produção e evitar o efeito da chegada da concorrência à região na potencial escassez da oferta de matéria prima. Rui Reguinga sabia que precisava de fazer isso se quisesse continuar a desenvolver o seu projecto. “Tinha de ser proprietário para controlar a parte da viticultura, porque nem sempre as uvas dos fornecedores estavam em condições para serem transformadas, porque as vinhas não eram acompanhadas e bem tratadas”, explica. Assim, à medida que ia descobrindo vinhas com potencial, alugava-as, fazia o seu maneio cultural, vindimava as suas uvas e avaliava o seu potencial para gerarem vinhos de qualidade. Só depois é que avançava para a proposta de compra. “De preferência irrecusável, mas não superior ao seu valor real”, revela. E foi assim que chegou às suas oito vinhas actuais.
Não sem dificuldades, sem recusas por parte dos vendedores. Mas sempre com paciência da sua parte, sem desânimos, com muitas visitas e o estabelecimento de relações de confiança com os proprietários das vinhas. “Foi num tempo em que isso era, talvez, mais fácil do que hoje, porque há mais competição, mais empresas e pessoas a adquirir vinhas na região, o que tem levado, inclusive, a que alguns dos locais tenham hoje uma ideia errada sobre o valor das suas vinhas”, conta Rui Reguinga, salientando que nem todas têm potencial para gerarem vinhos de qualidade, ou por má localização ou por algumas delas terem também plantadas uvas de mesa. Este foi o caminho feito no campo.
O valor das vinhas velhas
Mas depois de produzido o primeiro vinho, da colheita de 2004, foi preciso abrir garrafas, fazer provas junto de clientes e consumidores, para o apresentar, e também todo o potencial da Serra de São Mamede para gerar vinhos distintos e de qualidade. “Hoje em dia há mais produtores a fazer o mesmo, o que é benéfico para mim e para a região, mas este foi um trabalho que tive de iniciar sozinho, com as vantagens e desvantagens de ser pioneiro”, salienta o enólogo.
Uma das primeiras dificuldades foi demonstrar que os vinhos de vinhas velhas, que produzem pouco, têm de ser valorizados por isso, pela sua raridade, e pela sua qualidade e características distintas. “De outra forma, o projecto não era rentável e não fazia sentido, dado que este é um negócio e não um hobby”, explica Rui Reguinga. Não foi fácil fazer isso no início, numa altura em que a Adega Cooperativa de Portalegre colocava vinhos DOC Portalegre “a preços baixos, o que gerava alguma confusão no mercado e dificuldades para vender o meu produto”. Foi preciso muita perseverança, muito do chamado “trabalho de comunicação e marketing dos pequenos produtores, que não tem dinheiro para mais”, que passa por abrir garrafas e fazer provas com os clientes, para explicar os vinhos, a sua história e estórias, para firmar o seu nome e dos vinhos da serra no mercado.
Hoje Rui Reguinga tem 15 hectares na Serra de São Mamede, cinco dos quais de vinhas muito velhas, a partir das quais produz entre 10 e 12 mil das cerca de 50 mil garrafas de vinho da região que comercializa. A maior parte são vinhos “Terrenus Clássico”, como Rui Reguinga gosta de lhe chamar, enquanto o restante são vinhos de pequenas produções. O Clos dos Muros, propriedade com 0,6 hectares, produz apenas cerca de 1300 garrafas de vinho, por exemplo.
A descoberta dos brancos
No início, o enólogo focou-se na produção de vinhos tintos. Diz que até se esquecia que tinha castas brancas nas suas vinhas, e que oferecia as suas uvas ao responsável pela viticultura, que produzia vinho de talha com elas. Só fez o primeiro ensaio de produção de branco em 2008, porque achava, até aquele momento, que não tinham potencial para a produção de qualidade. “Mas estava completamente enganado”, afirma, acrescentando que uma das desvantagens de ter sido pioneiro na região foi não ter descoberto, desde logo, aquilo que estava mesmo à frente dos seus olhos: “o potencial da serra para a produção de grandes brancos”. O final do primeiro ensaio, feito com base num field blend (lote de uvas de várias castas colhidas em simultâneo no campo) de uvas brancas, mostrou isso, dando origem “a um branco extraordinário, com boa acidez, complexidade, boca e grande potencial de envelhecimento, tal como os tintos”, conta.
Ainda hoje Rui Reguinga está à procura de vinhas. Por isso, quando alguém o contacta para oferecer as suas, não deixa de as ir ver, como aconteceu este ano, em que vinificou uvas de uma vinha “rodeada de árvores, perdida na serra”. Mas sem pressa, porque hoje o seu projecto “está equilibrado financeiramente, para o número de garrafas que produz e preço médio por unidade”, diz o enólogo. Mas se as vinhas valerem a pena, vai continuar a investir nelas.
A gestão do tempo
Tal como ontem, ainda hoje a parte mais difícil do seu trabalho é a gestão do tempo. Mesmo que tenha criado uma equipa em que delega muito trabalho. E embora a sua aprendizagem agronómica e a sua carreira tenham tido a enologia como foco principal, “a viticultura é inevitável”. Por isso, vai acompanhando a vinha o mais de perto possível, aproveitando os conhecimentos sobre a sua protecção e maneio que aprendeu na universidade e foi melhorando com o tempo, até porque as vinhas velhas têm de ser mantidas e recuperadas. Como é evidente, a vindima mantém-no focado na adega. A seguir, viaja. Vai visitar os mercados externos para fazer provas para os seus importadores e mostrar as novas colheitas. “É um trabalho constante, porque eles gostam da nossa presença e os mercados podem ser perdidos se os deixamos um pouco mais abandonados”, explica, salientando a importância da proximidade ao mercado no sector dos vinhos, que “têm de ter uma cara por detrás”. Foi, há bem pouco, que abriu o seu enoturismo, um espaço com aquele ar sedutor de uma tasca de província de outros tempos, ao lado da sua pequena adega e bem perto das ruínas de Ammaia, grande cidade romana, em São Salvador da Aramenha. É apenas mais um dos sítios onde vale a pena ir, de uma região com muito para visitar.
Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024