Concurso Vinhos de Portugal 2025 é já em Maio

A 12ª edição do Concurso Vinhos de Portugal, que vai decorrer em Maio, reúne perto de 1300 vinhos nacionais. Organizado pela ViniPortugal, o evento distingue, todos os anos, a qualidade e diversidade da produção vitivinícola nacional, através de uma avaliação, realizada em prova cega, por um painel de especialistas de renome.

A 12ª edição do Concurso Vinhos de Portugal, que vai decorrer em Maio, reúne perto de 1300 vinhos nacionais. Organizado pela ViniPortugal, o evento distingue, todos os anos, a qualidade e diversidade da produção vitivinícola nacional, através de uma avaliação, realizada em prova cega, por um painel de especialistas de renome. A competição decorre em […]

A 12ª edição do Concurso Vinhos de Portugal, que vai decorrer em Maio, reúne perto de 1300 vinhos nacionais. Organizado pela ViniPortugal, o evento distingue, todos os anos, a qualidade e diversidade da produção vitivinícola nacional, através de uma avaliação, realizada em prova cega, por um painel de especialistas de renome.

A competição decorre em duas fases. A primeira, que terá lugar nos dias 5, 6 e 7 de Maio no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, um painel de 72 especialistas nacionais e internacionais, incluindo enólogos, sommeliers, jornalistas e wine educators, vão avaliar os vinhos candidatos em sessões técnicas de prova, entre as 9h e as 13h.

Na 2ª fase, que decorrerá nos dias 8 e 9 de Maio em Viseu, o Grande Júri irá eleger os Grandes Ouros e os Melhores do Ano, que serão revelados na cerimónia de entrega de prémios, durante o jantar de 9 de Maio na mesma cidade.
Entre os jurados internacionais, destacam-se nomes de referência no mundo do vinho, como Adam Odor, embaixador da School of Port no Reino Unido; Dong Yeon Ko, eleito 8º Sommelier do Ano na Coreia em 2024; Ketil Sauer, sommelier, jornalista e crítico de vinhos na Dinamarca; Luke Flunders, influenciador digital de vinhos no Reino Unido; Jon Berg, sommelier e autor de cinco livros sobre viagens, gastronomia e vinhos, além de escritor residente num dos maiores sites sobre vinho na Noruega; Gabriela Monteleone, Melhor Sommelier de São Paulo em 2024, curadora e colunista na rádio Novabrasil FM e no Spotify; Natalie Richard, reconhecida personalidade da televisão e jornalista canadiana; Michał Drozdowski, Melhor Sommelier da Polónia em 2024; Yoshiko Senju, Sommelier Sénior Certificado pela JSA e formador na Okyo Aoyama; e Ronald Wortel, editor e colunista da principal revista de vinhos dos Países Baixos, Perswijn.

Mais do que um galardão, o Concurso Vinhos de Portugal é um selo de qualidade e uma plataforma de promoção internacional, já que os vinhos distinguidos com as Medalhas Grande Ouro e Ouro garantem presença em prestigiados eventos internacionais, reforçando a visibilidade e credibilidade do vinho português nos mercados externos.

Editorial Março: Tempo de escolher

Editorial

Editorial da edição nrº 94 (Março de 2025) A excelência é fácil de reconhecer. Difícil é apontar, escolher, dizer “este é mais excelente do que aquele”. Confesso que é uma responsabilidade que, pessoalmente, aceito com algum desconforto. Quantas vezes penso: “porquê este e não aquele”? Felizmente, não escolho sozinho, e o meu voto vale tanto […]

Editorial da edição nrº 94 (Março de 2025)

A excelência é fácil de reconhecer. Difícil é apontar, escolher, dizer “este é mais excelente do que aquele”. Confesso que é uma responsabilidade que, pessoalmente, aceito com algum desconforto. Quantas vezes penso: “porquê este e não aquele”? Felizmente, não escolho sozinho, e o meu voto vale tanto quanto o de qualquer outro membro do núcleo de redactores e provadores desta revista. Mas nem essa diluição de responsabilidades ameniza a sensação de que podemos ter cometido injustiças (e certamente que o fizemos). A consciência, porém, está tranquila, assente na certeza de que procurámos ao máximo ser independentes, rigorosos, justos, dentro da subjectividade que qualquer escolha encerra, ainda mais quando é de vinhos que se trata.

Excelência, portanto, é disso que aqui falamos. Qualificativo que se aplica por inteiro aos 30 eleitos como os melhores vinhos provados em 2024 e, dentro destes, aos cinco grandes vencedores, um por cada categoria. Quem pode negar essa qualidade a monumentos vínicos como o espumante Kompassus Grande Reserva Pinot Noir 2016, o branco Morgado de Oliveira NV, o rosé M Mingorra Tinto Cão 2023, o tinto Barca Velha Douro 2015 ou o fortificado Graham’s Tawny 50 anos?

Em Portugal, regra geral, bebemos os vinhos à mesa. E que mesas experienciámos em 2024! Restaurantes como Plano e Kabuki, em Lisboa, ou Cozinha do Manel, no Porto, são referências, cada um na sua categoria e estilo. Os vinhos ganham em ser bem servidos, harmonizados, sugeridos. Por sommeliers como Gonçalo Patraquim, um profissional de mão cheia que está a criar escola em diversos espaços. E adquiridos em locais emblemáticos como a garrafeira Vinho & Eventos, na Mêda, acompanhados pelas imperdíveis iguarias das lojas Apolónia no Algarve ou degustados em bares especializados como a incontornável Sala Ogival da Viniportugal, em Lisboa, que tanto tem feito pelos vinhos nacionais. Tal como Nuno Mendes, vencedor do troféu David Lopes Ramos, tem feito pela cozinha portuguesa no mundo.

No enoturismo, premiámos a revolução que a Taboadella trouxe à região do Dão. Pelo trabalho absolutamente crucial para a preservação e desenvolvimento do riquíssimo património genético das castas portuguesas, mereceu destaque a PORVID. Quanto a produtores, a Ode Winery, do Tejo, foi fantástica revelação, enquanto a Herdade da Mingorra, no Alentejo, confirmou duas décadas de bem fazer, a WineStone reforçou a sua ambição multiregional, a CARMIM, de Reguengos, veio dizer que sabe conjugar dimensão e especialidades, a madeirense Justino’s viu os seus Frasqueira reconhecidos entre os melhores e a bairradina Kompassus comprovou que qualidade e diferença podem (e devem) andar juntas.

Empresas e projectos de sucesso vivem de pessoas, de grandes profissionais. Como o enólogo Jorge Sousa Pinto, que em muitas casas de Vinho Verde cria belos vinhos respeitando sempre a identidade de cada uma; ou, no lado dos fortificados, Carlos Agrellos, que mantém bem alto o nome icónico da Quinta do Noval. E como não há vinho sem uvas, que dizer de José Luís Marmelo, a quem os hoje famosos Portalegre da Serra de São Mamede tanto devem?

Finalizo, como sempre, com o máximo galardão, entregue a quem ao vinho dedicou uma vida de trabalho exemplar e deixou obra para as gerações seguintes. Domingos Alves de Sousa, é o nosso Senhor do Vinho. Esta é uma escolha que, acredito, não suscita dúvidas, só aplausos.

 

Bacalhôa reorganiza Enologia e cria Relações Institucionais

bacalhôa

O Grupo Bacalhôa anunciou uma reorganização estratégica na sua equipa de enologia que visa reforçar a posição no mercado nacional e internacional. Esta mudança é liderada pelo CEO do Grupo Bacalhôa Luís Ferreira, que assumiu funções no passado mês de dezembro. Segundo comunicado da Bacalhôa, promove-se assim a “renovação geracional na sua equipa de enologia, […]

O Grupo Bacalhôa anunciou uma reorganização estratégica na sua equipa de enologia que visa reforçar a posição no mercado nacional e internacional. Esta mudança é liderada pelo CEO do Grupo Bacalhôa Luís Ferreira, que assumiu funções no passado mês de dezembro.

Segundo comunicado da Bacalhôa, promove-se assim a “renovação geracional na sua equipa de enologia, combinando experiência comprovada com novas perspectivas.” Deste modo, Francisco Antunes passa a assumir funções de Director de Enologia do Grupo Bacalhôa, substituindo assim Vasco Penha Garcia que desempenhou o cargo ao longo das últimas décadas. Francisco Antunes, até agora directo responsável pelos vinhos das regiões dos Vinhos Verdes, Douro, Beira Interior, Dão e Bairrada, alcançou, entre outras distinções, o prémio Enólogo do Ano 2023 da Grandes Escolhas.

Bacalhôa
Vasco Penha Garcia

Vasco Penha Garcia, por seu turno, vai liderar o novo departamento de Relações Institucionais, com o propósito de estreitar laços com parceiros estratégicos e instituições.

Quanto às equipas de enologia da Bacalhôa nas diversas regiões do país, a principal mudança prende-se com a aposentação de Filipa Tomaz da Costa, a decana das enólogas portuguesas e uma figura incontornável do vinho e da Bacalhôa, que após 42 vindimas deixa a direcção da Adega de Azeitão, na Península de Setúbal, continuando embora a oferecer o seu conhecimento à equipa como enóloga consultora. Para o seu lugar foi nomeado João Ramos, enólogo com anteriores experiências em empresas como Esporão e Venâncio da Costa Lima. Magda Costa, até agora, enóloga assistente de Francisco Antunes na Aliança Vinhos de Portugal, em Sangalhos, assume agora a liderança dos vinhos, espumantes e aguardentes, nas regiões do Douro, Beira Interior, Dão e Bairrada. E finalmente, Rui Vieira, na Bacalhôa desde 2022, continuará a desenvolver o seu trabalho como responsável pelos vinhos do Alentejo, na Adega da Quinta do Carmo, em Estremoz.

Cachaça 51 quer levar talento português ao Brasil

Cachaça

A Cachaça 51 anunciou o lançamento do Concurso Cachaça Cocktail Masters by Cachaça 51, em parceria com a Viborel, seu distribuidor em Portugal. A competição, que está a decorrer até 28 de Abril de 2025, destina-se a todos os profissionais de bar e bartenders maiores de idade, residentes em Portugal e desafia os participantes a […]

A Cachaça 51 anunciou o lançamento do Concurso Cachaça Cocktail Masters by Cachaça 51, em parceria com a Viborel, seu distribuidor em Portugal.

A competição, que está a decorrer até 28 de Abril de 2025, destina-se a todos os profissionais de bar e bartenders maiores de idade, residentes em Portugal e desafia os participantes a criar cocktails exclusivos com base na Cachaça 51. O objectivo é incentivar a criatividade, a inovação e a valorização dos sabores brasileiros e ingredientes sustentáveis.

Os oito melhores concorrentes serão selecionados para disputar a grande final, que decorre no dia 20 de Maio de 2025, às 12h30, durante o Lisbon Bar Show, que terá lugar no Meo Arena, Sala Tejo, em Lisboa.

O vencedor do Concurso Cachaça Cocktail Masters by Cachaça 51 receberá uma viagem para uma pessoa a Pirassununga, São Paulo, Brasil, no último trimestre deste ano, para visitar a fábrica da Cachaça 51, além de um kit completo com o portefólio da marca.

O segundo e terceiros classificados serão premiados com vouchers para aquisição de material numa loja profissional parceira do concurso e kits completos da Cachaça 51.

As inscrições devem ser realizadas através do site oficial: www.cocktailmasterscachaca51.pt até 28 de Abril de 2025. Os participantes devem enviar um vídeo que demonstre o seu estilo e criatividade na elaboração de um cocktail original que contenha, no mínimo, 30 ml de Cachaça 51.

O painel de jurados é composto por Pedro Rocha, marketing manager da Viborel, Jorge Mimoso, mixologista, formador e brand ambassador spirits & wines e Joaquim Luís, bar manager do Hotel Marriot Lisboa. Avaliará os cocktails com base nos critérios de sabor, equilíbrio, valorização da Cachaça 51, técnica, eficiência e apresentação. Os oito finalistas serão anunciados no dia 9 de Maio de 2025.

Jorge Alves e Ana Mota deixam empresas Amorim

Jorge Alves

Segundo comunicado enviado às redacções no dia 31 de Março e assinado por Luísa Amorim, responsável pelas empresas vitivinícolas pertencentes ao grupo e à família (Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo, Taboadella e Herdade Aldeia de Cima), Jorge Alves e Ana Mota deixaram de colaborar com estes projectos. Terminam, assim, 24 anos de estreita colaboração […]

Segundo comunicado enviado às redacções no dia 31 de Março e assinado por Luísa Amorim, responsável pelas empresas vitivinícolas pertencentes ao grupo e à família (Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo, Taboadella e Herdade Aldeia de Cima), Jorge Alves e Ana Mota deixaram de colaborar com estes projectos.

Terminam, assim, 24 anos de estreita colaboração entre estes reputados profissionais e o universo vitivinícola Amorim, para cada um seguir os seus caminhos, mantendo-se embora, como salienta Luísa Amorim, “uma excelente relação de amizade e boa disposição”.

 

Jorge Alves é, além de produtor de vinhos (Quanta Terra, em sociedade com Celso Pereira), consultor de enologia em algumas quintas durienses. E sua esposa, Ana Mota, conhecida pelo seu trabalho na área da viticultura (premiado pela GE, aliás) mantém igualmente um projecto de consultadoria vitivinícola, sustentabilidade, qualidade e logística de adegas.

“Ao longo do tempo, enfrentaram-se muitos desafios e conquistou-se um enorme reconhecimento das nossas marcas”, diz Luísa Amorim no comunicado, acrescentando que irá “prosseguir, com firmeza e serenidade, com uma equipa de enologia nas três empresas, sempre dedicada e empenhada”. E termina, agradecendo “toda a colaboração, disponibilidade e dedicação demonstradas por Jorge e Ana, desejando as maiores felicidades, sucessos pessoais e profissionais” ao casal.

Haut-Brion, a jóia de uma brilhante coroa

Haut-Brion

A empresa Vinitrust, que representa algumas das grandes marcas de vinho em Portugal, organizou uma masterclasse de vinhos da Domaine Clarence Dillon, com presença de Guillaume-Alexandre Marx, o director comercial dos três châteaux emblemáticos do grupo – Haut-Brion, La Mission Haut-Brion e Quintus. O banqueiro norte-americano Clarence Dillon, apaixonado pela França, não hesitou quando recebeu […]

A empresa Vinitrust, que representa algumas das grandes marcas de vinho em Portugal, organizou uma masterclasse de vinhos da Domaine Clarence Dillon, com presença de Guillaume-Alexandre Marx, o director comercial dos três châteaux emblemáticos do grupo – Haut-Brion, La Mission Haut-Brion e Quintus.

O banqueiro norte-americano Clarence Dillon, apaixonado pela França, não hesitou quando recebeu uma proposta para comprar o lendário Château Haut-Brion, na sub-região de Graves em Bordeaux. Com esta aquisição de uma propriedade icónica, um terroir excepcional e um pedaço da história vínica de França, nasceu, em 1935, o Domaine Clarence Dillon, agora gerido pela quarta geração da família, representada pelo Príncipe Robert de Luxemburgo. Em 1983, a família expandiu a sua presença em Bordeaux ao integrar o Château La Mission Haut-Brion, também em Graves, e, em 2011, ao adicionar ao portefólio o Château Quintus, localizado em Saint-Émilion.

 

Haut-Brion

Embora o Château Haut-Brion e o Château La Mission Haut-Brion partilhem raízes e terroirs semelhantes, cada um tem uma identidade distinta

 

Haut-Brion e La Mission, duas expressões de terroir

Poucos nomes no mundo dos vinhos evocam tanto respeito e admiração quanto o Château Haut-Brion. Provavelmente, não há enófilo que não tenha os vinhos desta propriedade histórica na sua bucket list.

Haut-Brion é um dos château mais antigos e célebres de Bordeaux. A produção regular de vinhos teve início em 1521, embora registos históricos indiquem a presença de vinhas na propriedade desde o início do século XV. Ganhou reconhecimento internacional ainda no século XVII, tendo sido mencionado no livro de adega de 1660 do Rei Carlos II e, em 1663, referenciado no famoso diário de Samuel Pepys, um grande apreciador e coleccionador de vinhos, que o descreveu como possuindo “um gosto bom e muito particular, como nunca antes experimentara”.

O Château Haut-Brion foi pioneiro em práticas enológicas que hoje são amplamente adoptadas. Nos meados do século XVII, ao atestar os cascos para evitar oxidação e realizar transfegas regulares, retirando o vinho das borras durante o estágio, era uma autêntica inovação que resultava num vinho final mais limpo e aromático. O estágio prolongado nestas condições permitiu a criação de vinhos mais refinados, com maior complexidade e potencial de guarda.

Localizado em Pessac-Léognan, é a única propriedade fora do Médoc a figurar na famosa Classificação de 1855 como Premier Grand Cru Classé, um dos cinco châteaux no topo absoluto da hierarquia de Bordeaux. Quase cem anos mais tarde foi também incluído na Classificação de Graves, sendo o único château a figurar em duas classificações.

Curiosamente, o branco do Château Haut-Brion, altamente exclusivo e de produção muito limitada (apenas poucas centenas de caixas de 12 garrafas), não consta na Classificação de Graves. No entanto  supera o tinto a nível de preço, sendo o vinho branco mais caro do mundo.

O Château La Mission Haut-Brion também foi fundado no início do século XVI por Jean de Pontac, o mesmo proprietário do Haut-Brion. Mais tarde foi adquirido pela Ordem dos Lazaristas, que manteve a propriedade durante 130 anos. Daí o nome “La Mission”.

Embora não tenha entrado na classificação de 1855, que incluiu apenas os vinhos do Médoc e o incontornável Haut-Brion, de Graves, La Mission Haut-Brion é reconhecido como Cru Classé de Graves. A partir de 1927 juntou ao seu portefólio vinho branco, que continua a ser um dos grandes brancos de Bordeaux, rivalizando com o do Château Haut-Brion.

Ambas as propriedades estão localizadas em Pessac-Léognan, a menos de 500 metros uma da outra, separadas por uma estrada, e têm um terroir semelhante, com diferenças subtis. O solo de cascalho assenta sobre um subsolo de argila, calcário e areia com fragmentos de conchas.

A presença de Merlot e Cabernet Sauvignon nas vinhas do Haut-Brion é igual, 45% de cada, e o resto é Cabernet Franc, conta o director comercial. Desta forma diminui a dependência de uma casta só e consegue-se a flexibilidade necessária para manter a consistência dos vinhos independentemente do ano. Para além dos 51 hectares com castas tintas, três hectares são dedicados às variedades brancas: Semillon e Sauvignon Blanc. No La Mission Haut-Brion, com 25 hectares, há alguma prevalência do Cabernet Sauvignon. As mesmas castas brancas são plantadas numa área com mais de quatro hectares.

Guillaume-Alexandre Marx confirma que os efeitos do aquecimento global já são perceptíveis, resultando em colheitas com maior maturidade e consistência. Por enquanto, não está previsto alterar as variedades plantadas. A equipa monitoriza de perto o desempenho de cada parcela vinificada, e, quando percebem que alguma não apresenta um bom desempenho ao longo de alguns anos, optam por deixá-la em repouso por três anos antes de replantá-la, geralmente com a mesma variedade. Em alguns casos, contudo, há uma substituição de Cabernet Sauvignon por Merlot, ou vice-versa, de acordo com as condições observadas.

A viticultura nos châteaux não é certificada como orgânica, mas os seus responsáveis procuram actuar de forma mais ecológica possível, reduzindo o número de tratamentos, não usando insecticidas e promovendo a biodiversidade.

Abordagem enológica e consistência

Nas propriedades com uma rica história e tradição é essencial preservar os valores e o legado ao longo das diferentes épocas. No Château Haut-Brion e La Mission Haut-Brion, a continuidade e a consistência são garantidas pela sucessão da responsabilidade enológica, actualmente nas mãos de Jean-Philippe Delmas, a terceira geração da família Delmas.

Embora as técnicas de vinificação sejam semelhantes em ambos os châteaux, a seleção das uvas e o blend final são cuidadosamente ajustados para realçar os estilos únicos e característicos de cada propriedade.

A vindima começa em Setembro e acaba no início de Outubro. O primeiro a vindimar é sempre o Haut-Brion. “Vinificamos separadamente por parcelas”, conta o director comercial. Ao completar a fermentação alcoólica e maloláctica, a cada depósito/parcela é atribuido o nível de qualidade com base na prova sensorial: 1 – primeiro vinho, 2 – segundo vinho, 3 e 4 – para vender. Guillaume-Alexandre Marx explica que, ao contrário de muitos châteaux, a abordagem não se baseia nas parcelas em si, mas na qualidade que entregam em cada ano e na possível combinação. “Simplesmente lotear todas as melhores parcelas nem sempre se traduz num grande vinho. Por vezes uma parcela que, sozinha, não dá grande prova, contribui com algo muito particular ao conjunto final. E estas decisões são tomadas na sala de provas entre as quatro pessoas”, conta Guillaume-Alexandre Marx. As sessões de loteamento decorrem entre meados de novembro e de dezembro, mais cedo do que em muitos outros châteaux.

O estágio em barrica dura entre 16 e 18 meses, sendo ajustado com base em provas regulares. Para o primeiro vinho utilizam normalmente 75% de barricas novas e 30% para o segundo. As barricas são, em grande parte, fabricadas na tanoaria própria, e cerca de 20% são adquiridas, geralmente à Seguin Moreau.

Embora o Château Haut-Brion e o Château La Mission Haut-Brion partilhem raízes e terroirs semelhantes, cada um tem uma identidade distinta. Haut-Brion é a expressão suprema de elegância e finesse, enquanto La Mission Haut-Brion exibe uma força sedutora e uma opulência marcante.

Ambos os châteaux produzem o segundo vinho: tintos Le Clarence de Haut-Brion e La Chapele de La Mission Haut-Brion e um branco La Clarté de Haut Brion, feito com as uvas das duas propriedades.

No Château Haut-Brion e La Mission Haut-Brion, a continuidade e a consistência são garantidas pela sucessão da responsabilidade enológica, actualmente nas mãos de Jean-Philippe Delmas.

 

Château Quintus – o novo nome em Saint-Émilion

Após a aquisição pela Domaine Clarence Dillon, em 2011, a propriedade foi renomeada para Quintus. A área de vinhas foi ampliada de 15 hectares iniciais para os atuais 45 hectares, através da incorporação de duas propriedades próximas do château. A composição das vinhas é predominantemente da casta Merlot (75%), com o restante a ser ocupado por Cabernet Franc. O antigo Cabernet Sauvignon, presente nas vinhas, foi gradualmente substituído por Cabernet Franc. A idade média das videiras ronda os 30 anos, embora algumas parcelas sejam quase centenárias.

A filosofia de vinificação é conduzida pela equipa liderada por Jean-Philippe Delmas. O processo é orientado pelo equilíbrio, evitando extração excessiva ou o uso exagerado de barricas, onde a madeira nova geralmente não ultrapassa 50%.

Em 2022, a Domaine Clarence Dillon organizou uma prova cega com 8 colheitas do Château Quintus, onde estas foram avaliadas lado a lado com os vinhos icónicos de Saint-Émilion, como o Château Angélus, Château Ausone, Château Cheval Blanc, Château Figeac e Château Pavie. Apesar da forte concorrência, o Château Quintus mostrou-se à altura dos grandes nomes.

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)

QUINTA DO INFANTADO: Espírito inconformista com raízes na tradição

Quinta do Infantado

A energia e determinação parecem estar no sangue da família Roseira. Com origem em Covas do Douro, cada geração partilha destas qualidades. Isto sente-se em conversas com João Roseira, que representa a quinta geração e é absolutamente indissociável da Quinta do Infantado, onde fez a sua primeira vindima com apenas 6 anos de idade. Não […]

A energia e determinação parecem estar no sangue da família Roseira. Com origem em Covas do Douro, cada geração partilha destas qualidades. Isto sente-se em conversas com João Roseira, que representa a quinta geração e é absolutamente indissociável da Quinta do Infantado, onde fez a sua primeira vindima com apenas 6 anos de idade.

Não procura o mediatismo, mas não esconde as suas convicções. Impulsivo, irónico e directo, João Roseira por vezes passa, no meio vínico, por uma pessoa demasiado irreverente o que pode levar a pensar que os vinhos também assim sejam. Depois de provar mais de duas dezenas de vinhos Douro e Porto da Quinta do Infantado, incluindo colheitas mais antigas, não me restam dúvidas da seriedade e personalidade dos vinhos. Não apresentam defeitos e não são “freak”. Mais ainda: envelhecem bem. Provavelmente por isto, os DOC Douro, quer tintos quer brancos, não são lançados com pressa comercial, tendo o tempo de estágio necessário para mostrar o seu potencial e proporcionar uma prova consistente.

As duas primeiras gerações da família Roseira, nos séculos XVIII e XIX, eram lavradores e vendiam uvas. Em 1904, a história da família deu um passo significativo com a aquisição da propriedade que, desde 1816, pertencia ao infante D. Pedro e ficou conhecida como Quinta do Infantado. A partir desse momento, iniciou-se a produção de vinhos generosos, que eram vendidos a grandes casas do vinho do Porto. Mas a marca própria foi criada mais tarde e o grande impulsionador desta mudança revolucionária no Douro foi Luís Roseira que tanto lutou pelo direito de pequenos produtores poderem engarrafar e exportar os seus vinhos do Porto. João Roseira lembra-se perfeitamente do primeiro engarrafamento na quinta em 1979, dos três primeiros Porto – Ruby, Tawny e Tawny 20 anos. Isto abriu o caminho a outros pequenos produtores que lhes seguiram o exemplo nas décadas seguintes. Às vezes é necessário desafiar uma tradição para criar uma nova, ainda melhor.

Em 1996 iniciou-se a parceria com o enólogo duriense Luís Soares Duarte, que ainda continua a fazer parte do projecto como consultor. Vários ensaios marcam a viragem do século, sendo o primeiro tinto Douro produzido em 2001. A gama cresceu, mas os vinhos são vinificados da mesma forma: em lagar com pisa a pé, leveduras indígenas e estágio em barricas de carvalho francês, variando o tempo de estágio em função do vinho. Em 2015, à equipa de enologia juntou-se Álvaro Roseira, da 6ª geração da família.

Em torno de Covas do Douro

Os 46 hectares de vinha estão localizados na freguesia de Covas do Douro, dos quais 12 ha são cultivados em viticultura biológica certificada e 34 ha em produção integrada, privilegiando uma viticultura sustentável. Todas as vinhas são classificadas com letra A.

A vinha do Pousado, a mais nova da quinta, tem mais de 25 anos. Foi plantada em 1998 em modo de produção biológica, com castas brancas e tintas. Com exposição norte, em combinação com solos mais profundos, reflecte naturalmente numa maior acidez e, por consequência, frescura. As vinhas mais velhas são praticamente centenárias, como a vinha Serra de Baixo. O facto de as vinhas estarem plantadas em todas as exposições e altitudes que variam entre 150m e 350m permite uma maior precisão na construção de perfis dos vinhos. Os vinhos do Porto da Quinta do Infantado têm uma particularidade – parecem mais “secos” por conter menos açúcar residual – característica que ganha bastantes adeptos últimamente.

Em 2024 foi lançado um Porto muito especial, o tawny de 50 anos. É uma homenagem a Luís Roseira, um incansável defensor de causas que vivia o Douro profundamente. Neste contexto, o número 50 diz muito à família: Luís Roseira tinha 50 Anos no 25 de Abril de 1974 e teria 100 anos na comemoração de 50 anos de liberdade. Na realidade o vinho é muito mais velho, o que se percebe nitidamente na prova. Já na altura do primeiro tawny 20 anos, engarrafado em 1979, havia vinhos dos anos 50, 60 e anteriores, guardados em pipas. Não manipulado, não refrescado, nem retocado de alguma forma, o Quinta do Infantado Luís Roseira 50 anos tem o carácter intenso e avassalador, de uma concentração espantosa, com imensa personalidade. São apenas 200 garrafas numeradas, engarrafadas em outubro de 2024. Vendido exclusivamente em caixa de madeira integralmente produzida em Covas do Douro por Tiago Barros e Gustavo Roseira, sob design do arquitecto Miguel Figueira.

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)

KRUG: A materialização líquida de uma ideia sólida

KRUG

Em 1834, Joseph Krug recebeu e aceitou uma proposta de trabalho endereçada pelo representante alemão de uma das mais prestigiadas casas de champanhe da altura, a Jacquesson & Fils. A oportunidade de integrar o borbulhante setor era demasiado atraente e aliciante para declinar. Ao longo dos nove anos seguintes, Joseph Krug ficou a conhecer bem […]

Em 1834, Joseph Krug recebeu e aceitou uma proposta de trabalho endereçada pelo representante alemão de uma das mais prestigiadas casas de champanhe da altura, a Jacquesson & Fils. A oportunidade de integrar o borbulhante setor era demasiado atraente e aliciante para declinar.

Ao longo dos nove anos seguintes, Joseph Krug ficou a conhecer bem de perto os interstícios do negócio que, na altura, se desenvolveu muito rapidamente, dentro e fora das fronteiras francesas. Aparentemente, desempenhou tão diligentemente as suas funções que acabou por integrar a sociedade da empresa. No entanto, na cabeça de Krug fermentava uma ideia que viria a mudar radicalmente a sua vida profissional.

KRUG

 

 

A Krug et Cie foi criada em 1843 com o objectivo de lançar anualmente no mercado os melhores champanhes que pudesse produzir, independentemente das variações climáticas.

 

Minúcia apurada

Em 1843, ele e um associado criaram a empresa Krug et Cie, tendo por base uma ideia forte destinada ao sucesso: lançar anualmente no mercado os melhores champanhes que pudessem produzir, independentemente das variações climáticas. No entanto, para consubstanciar esta ideia, teve de implementar uma organização relativamente diferente do habitual.

As empresas que operam em Champanhe obtêm a maior parte de suas uvas de produtores externos. Normalmente, as casas contratam um fornecedor para uma determinada quantidade de uvas, especificando a casta e o local de origem. No entanto, a Krug opera de uma forma um pouco diferente das restantes. Com base na experiência acumulada, percebeu que a especificidade parcelar de proveniência das uvas aportava uma melhoria significativa de qualidade. Assim, para garantir que recebia as uvas das parcelas que pretendia, celebrou contratos isolados com os proprietários de cada parcela individual, especificando a superfície exata e a quantidade de uvas fornecidas, o que obrigou a um trabalho infinitamente superior e de minúcia apurada. Para além deste lavor de extremo pormenor na compra da matéria prima, Joseph Krug implementou um curioso sistema de duplo cuvée, com o mesmo nível de importância e qualidade, um leve cuvée légère e outro encorpado cuvée corsée, com a composição de ambos a ajustar-se ao ano agrícola, e o licor de expedição a ser adaptado às preferências do cliente.

O primeiro dos dois cuvées recebeu o nome de Private Cuvée, em 1861, que foi alterado para Grande Cuvée em 1978. A casa Krug fez seu primeiro Champagne Vintage em 1904.  Este duplo sistema, idealizado por Joseph Krug, foi transmitido de geração em geração e continua a ser, até aos dias de hoje, a impressão digital da empresa.

Mais tarde, em 1983, foi adicionado ao portefólio um Champagne rosé. Só depois foram lançados os famosíssimos e muito ambicionados néctares provenientes de um único vinhedo, o Clos du Mesnil, em 1986 e o Clos d’Ambonnay, em 2007.

 

 

A Krug no Gaveto

Nos últimos anos, a Krug iniciou uma nova tradição mundial que consiste  em convidar a comunidade global de chefes de cozinha a interpretar um único ingrediente, elaborando receitas inesperadas para acompanhar o Krug Grande Cuvée ou o Krug Rosé. Em 2024, a empresa celebrou a elegância delicada, a diversidade requintada e o potencial incomparável da flor.

Curiosamente, o evento no nosso país ocorreu no restaurante o Gaveto, de Matosinhos, que este ano comemorou o quadragésimo aniversário e se apresentou como o maior vendedor nacional deste produto. Para João Silva, membro da família proprietária do restaurante, “este é o ponto alto das comemorações dos nossos quarenta anos de existência”.

O jantar comemorativo deu o mote para a apresentação de duas novas referências da Krug, a 172ª edição do Grande Cuvée e a 28ª edição do Rosé. No final da refeição, os participantes ainda foram brindados com uma surpresa, um Krug Vintage do ano 2000.

Para André Alves, o embaixador da marca no nosso país, “estes são os vinhos que representam a visão do nosso fundador, de olhar para cada uma das parcelas da região individualmente e escolher apenas as melhores”.

Curiosamente, também o restaurante Gaveto aplica a mesma filosofia, não nas vinhas, mas na escolha da matéria prima com que elabora os diversos pratos. Assim, apenas adquirem os produtos aos fornecedores que apresentam as melhores e mais exclusivas mercadorias, o que leva a uma aturada procura e longa escolha.

Foi uma noite que ficará na memória, como confirmação da qualidade dos produtos e da força das ideias.

 

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)