Real Companhia Velha: Real de inspiração asiática

A apresentação destes vinhos esteve a cargo de Pedro Silva Reis (filho) e do enólogo Jorge Moreira. A ideia era provar especialidades, algumas delas com castas estrangeiras. O tema, hoje mais pacífico do que já foi, foi abordado por Silva Reis, que relembrou alguns factos históricos. Até 1960, a Real Companhia Velha não tinha um […]
A apresentação destes vinhos esteve a cargo de Pedro Silva Reis (filho) e do enólogo Jorge Moreira. A ideia era provar especialidades, algumas delas com castas estrangeiras. O tema, hoje mais pacífico do que já foi, foi abordado por Silva Reis, que relembrou alguns factos históricos. Até 1960, a Real Companhia Velha não tinha um pé de vinha e as melhores uvas iram sempre para Vinho do Porto. Foi com a chegada de Jerry Luper, enólogo americano com quem Jorge Moreira começou a trabalhar, que se fizeram as primeiras plantações de castas francesas, sempre naquele balanço de dúvida entre porquê? e porque não? Luper defendia que também seria possível fazer grandes vinhos tranquilos, além do Vinho do Porto, e Silva Reis sente-se à vontade no assunto porque, recordou, “ninguém tem feito mais do que a Real Companhia Velha para a recuperação e valorização das antigas castas do Douro e ignorar estas castas de fora também poderia ser um absurdo”.
Com 30 anos de experiência no Douro, hoje já se sabe onde estão as melhores vinhas em função da exposição e altitude, onde cada casta dá melhores resultados, onde se podem fazer vinhos mais leves e que vão ao encontro das tendências da moda, e onde estão as melhores parcelas para Porto. Agora é não estragar e não inventar onde não é preciso.
Tensão e austeridade
Os espumantes apresentados incluíram uma estreia, o Blanc de Blancs de 2019, um vinho que teve três anos de estágio antes do dégorgement. O facto de ser Chardonnay, dizem-nos, permite fazer um vinho com oito gramas de acidez e um pH de 3.1, “algo muito difícil, se estivéssemos a falar de Gouveio”, referiu o enólogo. O Grande Reserva, sendo de 2014, incluiu, na cuvée, vinhos de reserva, de 2011 e 2012. A base são vinhas velhas e faz-se uma vindima precoce para espumante, conseguindo-se, assim, mostos de menor graduação e acidez mais elevada, mas com boa tensão e austeridade (de inspiração Krug, confessaram…), algo que a madeira também ajudou.
O Marquis branco é feito com Sauvignon Blanc, variedade plantada em 1993 que, segundo Jorge Moreira, requer solos azotados. Isso obriga a um mapeamento da vinha, linha a linha, e só as melhores são vindimadas para este vinho. Ano após ano têm sido sempre as mesmas as usadas. O vinho estagiou por oito meses em barricas usadas e teve anteriores edições em 2014 e 2018. O Cabernet Sauvignon que entra no tinto foi plantado pela primeira vez em 1993. Esta marca é a sucessora da Grantom, essa sim uma marca muito antiga na casa. Esta nova versão, em ligação com a Touriga Nacional, teve a primeira edição em 2001. Anteriormente existia um Marquis de Soveral tinto, que fazia parte do portefólio da Real Vinícola.
O Grandjó Late Harvest é um vinho branco cuja produção, apesar da boa vontade e investimento da empresa, está sempre totalmente dependente das condições climáticas, as que permitem que se forme uma podridão que não seja acética. Fala-se em investimento, porque se deixam cerca de 2 ha de vinhedos por vindimar à espera de que o tal “milagre” se opere. Como se pode ver pelas edições que teve, houve muitos anos em que os tais 2 ha produziram uvas para deitar fora. A nova era do Grandjó Late Harvest, nascido na quinta da Granja, iniciou-se com a colheita de 2002 e, de lá para cá, foi editado em 2004, 05, 06, 07, 08, 12, 13 e, agora, com a colheita de 2021. É feito a partir da casta Boal, por coincidência a mesma casta que em Sauternes (França) se chama Sémillon, e daí este poder ser um DOC Douro.
Balanço perfeito
À mesa pudemos provar Quinta do Cidrô Marquis branco 2014, a mostrar-se ainda em boa forma. Por curiosidade, provámos também um Marquis de Soveral (era então o nome que ostentava no rótulo) de 1964, que se revelou uma boa surpresa apesar de ter sido preciso abrir várias garrafas até encontrar algumas ainda com saúde. Nos tintos provámos ainda um Marquis de 2001, que se bateu muito bem com a carne Wagyu.
De salientar o excelente trabalho de sommelerie feito com estes vinhos em relação ao menu, com o perfeito balanço que foi encontrado entre texturas e aromas. Pode parecer fácil mas dá trabalho. Muito trabalho.
(Artigo publicado na edição de Março de 2025)
Estive Lá: No Rossio Gastrobar

Já não me lembro do número de vezes que calcorreei a Avenida da Liberdade acima e abaixo, 1,5 km de prédios antigos que foram sendo paulatinamente substituídos por edifícios modernos, de grande dimensão e, muitas vezes, de gosto duvidoso, onde ficam hoje algumas lojas das marcas mais mediáticas e caras de Portugal, essas geralmente de […]
Já não me lembro do número de vezes que calcorreei a Avenida da Liberdade acima e abaixo, 1,5 km de prédios antigos que foram sendo paulatinamente substituídos por edifícios modernos, de grande dimensão e, muitas vezes, de gosto duvidoso, onde ficam hoje algumas lojas das marcas mais mediáticas e caras de Portugal, essas geralmente de montras ornamentadas com melhor gosto que alguns prédios que as albergam. Nesse final, de uma sexta-feira recente, o destino foi o hotel Altis Avenida, que fica entre os Restauradores e o Rossio, para um cocktail e um repasto no restaurante/bar do seu topo.
O Rossio Gastrobar, que tem uma varanda com vista para a Baixa de Lisboa e o Castelo de S. Jorge, mais ao longe, é agradável. Nesse final de dia fresco ficámos no exterior, confortados pelas chamas dos aquecedores a gás a usufruir de um espaço que esteve sempre cheio de gente, sobretudo turistas que iam ali para estar um pouco numa das poucas esplanadas com vista sobre Lisboa e talvez também para saborear um dos cocktails de Flavi Andrade, chefe de Bar do hotel que alberga este espaço, que foi eleita a melhor barmaid do ano na edição de 2024 do Lisbon Bar Show. Foi também o que fizemos e valeu a pena.
Depois de uma pequena conversa com a autora, para perceber melhor o que a inspira a criar os seus cocktails, optei pelo seu Cacilheiro, já que estávamos tão perto do Tejo, e fiz bem. O repasto que se seguiu foi criado pelo chefe João Correia, com a entrada a ser composta por Mini tarteletes de cogumelos e pickle de limão, Crocantes de gamba da costa e maionese de coentros e Pastéis de massa tenra, vitelão e cebolinho, o primeiro e o último a fazerem muito boa companhia ao Caves S. João Pulo do Lobo Arinto de 2020. Para além de um Arroz Saboroso, regado com o suco da cabeça de camarão tigre, e feito ao estilo da paelha valenciana, em parceria de um tinto Porta de Cavaleiros Reserva 2019, muito equilibrado e elegante, também saboreámos, para terminar, uma Tarte de Noz Pecan e gelado de aguardente. Tudo isto servido, de forma eficiente, por pessoas simpáticas e agradáveis. Soube bem.
Rossio Gastrobar
Rua 1º Dezembro, 118, Lisboa
Tel.: + 351 210 440 018
Email: rossio@altishotels.com
28 anos do Marquês de Borba Reserva

João Portugal Ramos, a filha Filipa e o filho João Maria, ambos a trabalhar na empresa, estiveram em Lisboa para reviver algumas das colheitas emblemáticas daquele tinto que se tornou a mais importante marca da empresa. E se era para reviver, nada melhor que o Alcântara Café, como local escolhido para o evento. De facto, […]
João Portugal Ramos, a filha Filipa e o filho João Maria, ambos a trabalhar na empresa, estiveram em Lisboa para reviver algumas das colheitas emblemáticas daquele tinto que se tornou a mais importante marca da empresa. E se era para reviver, nada melhor que o Alcântara Café, como local escolhido para o evento. De facto, hoje usado sobretudo para eventos, o Alcântara Café foi restaurante emblemático e super fashion na euforia dos anos 80 na capital. O momento foi de convívio e foram muitos os amigos que se juntaram a este evento. A marca Marquês de Borba Reserva já leva 28 anos e sempre se apresentou como um lote das uvas que estavam na vinha junto à casa da família, em Estremoz. Nessa vinha, entretanto arrancada, pontificavam a Trincadeira, Aragonez, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon. João (pai) confessou que “um toque de Cabernet dá um carácter especial aos vinhos.”
Actualmente as uvas, vinificadas em co-fermentação, têm origem numa parcela com todas aquelas castas, a que se juntam as uvas de uma vinha muito velha, alugada. Passados tantos anos, João não tem dúvidas quando afirma “a diferença entre o vinho de 1997 e o 2021 é abissal; hoje estamos a fazer muito melhor, nem dá para comparar”. Com o apoio de Donzília Copeto como enóloga desde 1996 e do filho João Maria desde 2015, os projectos estenderam-se a outras regiões como as Beiras (Foz de Arouce) e o Douro (Duorum), aqui com o apoio de João Perry Vidal.
O momento foi aproveitado para se provar este tinto emblemático, em grandes formatos, como Magnum e double-magnum (3 litros) que nunca teve exemplares dignos de nota, e hoje são raríssimas as garrafas desta capacidade. Foram então dados à prova o vinho de 1999, a segunda colheita desta marca; seguindo uma moda da época, este tinto teve duas passagens por barrica nova. Continua a mostrar-se em grande forma, com finura de fruta, taninos presentes mas finos e a dizer-nos que está aqui para durar. Foi uma boa surpresa. A edição de 2009 foi provada em double magnum, a revelar um perfil mais aberto e menos denso, destacando-se as notas verdes do Cabernet, com uma prova de boca onde o Alicante Bouschet, com as suas notas de musgo e azeitona, se mostra mais em evidência.
Com inesperada potência mostrou-se o 2012 (em magnum), cheio de força e carácter, com frutos negros e notas terrosas, a que acrescem depois algumas notas de grafite e leve pimento verde, tudo a conferir aqui um lado mais internacional. A edição de 2021 corresponde ao novo perfil do vinho, muito equilibrado no aroma, fino na fruta e com uma prova de boca com camadas de sabor, algo que permite ir descobrindo o vinho ao longo da prova. Esta edição, com um PVP de €60, revela-se uma excelente opção no Alentejo. JPM
Dois portugueses na direcção da Federação Europeia das Empresas de Vinho

Pedro Pereira Gonçalves, membro da Direcção da Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal (ACIBEV) e presidente-executivo da WineStone, plataforma de negócios do Grupo José de Mello para o Sector do Vinho, foi eleito vice-presidente do Conselho de Administração (Board of Administrators) da Federação Europeia das Empresas de Vinho (CEEV), organização que funciona como “a […]
Pedro Pereira Gonçalves, membro da Direcção da Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal (ACIBEV) e presidente-executivo da WineStone, plataforma de negócios do Grupo José de Mello para o Sector do Vinho, foi eleito vice-presidente do Conselho de Administração (Board of Administrators) da Federação Europeia das Empresas de Vinho (CEEV), organização que funciona como “a voz das empresas europeias do Setor do Vinho”. Ana Isabel Alves, diretora executiva da ACIBEV, foi eleita Coordenadora do Grupo de Trabalho Fiscalidade.
Com a missão de liderar e de coordenar o diálogo do Setor do Vinho na Europa e entre a Europa e os mercados extracomunitários, e de defender os interesses comuns das empresas vitivinícolas ao nível europeu junto de um conjunto alargado de interlocutores, o novo Conselho de Administração será presidido pela italiana Marzia Varvaglione e integra personalidades de referência no mundo do vinho como o francês Michel Chapoutier e o espanhol Pedro Ferrer.
Para Pedro Pereira Gonçalves, “a eleição é uma oportunidade para continuarmos a afirmar o setor do vinho português no coração da Europa, como vinha fazendo o meu antecessor, George Sandeman, a quem deixo uma palavra de admiração e agradecimento pela dedicação que teve no desempenho destas funções e prestígio que emprestou ao cargo”. Segundo o responsável o sector vitivinícola enfrenta “momentos muito desafiantes e complexos no contexto da produção e do comércio internacionais e esta posição, que agora assumo, em representação do sector, permite levar as nossas preocupações, mas também as nossas soluções e visão à Federação Europeia que dialoga e interage com os decisores europeus e as instituições que definem políticas públicas”.
Pedro Pereira Gonçalves salienta também que “é com muito orgulho do sector que represento e com um grande sentido de responsabilidade e de missão que assumo este mandato, através do qual procurarei sempre, e em todas as circunstâncias, defender e promover o vinho português e as nossas empresas ao nível europeu e internacional”.
Os órgãos sociais daquela Federação Europeia para o próximo triénio foram escolhidos no decorrer da Assembleia-Geral do CEEV – Comité Européen des Entreprises Vins (www.ceev.eu), que decorreu em Bruxelas.
De acordo com Jorge Monteiro, presidente da Direcção da ACIBEV, “a eleição de Pedro Pereira Gonçalves como vice presidente do CEEV reforça a importância do associativismo e assegura também a posição do setor do vinho português no contexto da União Europeia”.
Chocolate: Um ingrediente sedutor e romântico

Vou na sexta década de existência, e aquilo que conheço como chocolate mudou várias vezes. A primeira configuração de que fui sempre fã foi, até que desapareceu, a de uma tablete chamada “Comacompão”, que vinha numa embalagem alaranjada com uma diagramação apetecível de sanduíche de chocolate. O modo de usar era, para mim, simples e […]
Vou na sexta década de existência, e aquilo que conheço como chocolate mudou várias vezes. A primeira configuração de que fui sempre fã foi, até que desapareceu, a de uma tablete chamada “Comacompão”, que vinha numa embalagem alaranjada com uma diagramação apetecível de sanduíche de chocolate. O modo de usar era, para mim, simples e cómodo, pois bastava abrir um papo-seco a meio e colocar dentro a tablete inteira. Não tinha muito açúcar – nunca gostei de coisas muito doces – e tinha minúsculas passas de uva que tornavam a exploração mais saborosa.
Entretanto, muita água passou por debaixo da ponte e o mundo do chocolate revelou-se descoberta empolgante. Apareceram marcas e estilos diferentes, em resultado sobretudo da abertura de Portugal ao mundo, com a consequente invasão de produtos importados.
O chocolate em pó tinha um sabor amargo pronunciado. Vim a saber que resultava da extrusão por pressão da parte escura da fava de cacau. Nunca, contudo, me habituei a colocá-lo no leite e o termo de comparação que tinha era o do fabuloso chocolate quente, que bebia nas vezes em que lanchava com as minhas tias na pastelaria Suíça ou na Mexicana. Curiosamente, ambas as casas continuam a existir e a servir chocolate quente e continua delicioso. Nada a ver, contudo, com a fabulosa combinação de chocolate com churros que, nas frequentes deslocações a Madrid, me era dado provar. Espessura quase de pudim, muito sabor e a ligação com os pequenos fritos frisados sempre me fascinou.
Cada casa, em Portugal ou Espanha, tinha o seu próprio chocolate mas, no fundo, existia o denominador comum de se tratar de chocolate de leite. Foi também em Espanha que provei pela primeira vez chocolate branco, aquilo que rodeia a semente da fava e se consegue separar facilmente. Em rigor, não se devia chamar chocolate. Mas, na prática, passava por tal por conter partes derivadas da dita fava, a que se acrescentava açúcar. Exactamente nos antípodas daquilo que me atraía no chocolate e, por isso, passei a desprezar. A maioria dos trabalhos de moldagem de chocolate são contudo conseguidos graças ao chocolate branco ou manteiga de cacau, depois tingidos a gosto. Os chips de cacau, obtidos a partir da camada intermédia da fava por manipulação com pressão ou calor, cobrem um espectro vasto de aplicações em proporções variadas. É a partir de produto dessa zona que se faz o que conhecemos como chocolate de leite. Normalmente parte-se de chocolate em pó e depois tempera-se até atingir a doçura e a consistência desejadas. Até 60% de cacau, considera-se chocolate de leite na maioria das aplicações e marcas. Acima disso, começamos a atingir o chamado chocolate negro, rico em antioxidantes. Acima de 70%, podemos considerar que estamos perante chocolate negro, a que muitos erradamente chamam chocolate amargo.
Os frutos do cacaueiro reconhecem-se facilmente, pois são pendentes coloridos com o formato oblongo de bolas de râguebi. O interior contém um material esbranquiçado e sementes, das quais se obtém o cacau.
Vinho e chocolate
A bondade da ligação de vinho com chocolate tem origem nas muitas pontes de sabor que facilmente se estabelecem entre ambos. No vinho temos álcool, acidez, polifenóis e açúcar como base de degustação e diferenciação. No chocolate temos açúcar, acidez e amargos. Nas inúmeras provas que tive o privilégio de orientar, criei uma espécie de regra de três simples, estritamente extraída da experiência. Com chocolate branco, moscatel de Setúbal; com chocolate de leite, vinho Madeira Malvasia; com chocolate negro, vinho do Porto ruby. Nos tempos idos do evento Chocolate em Lisboa, assisti a autênticas epifanias no lado do consumidor, quando as pessoas passaram a ter o comando sobre o racional da prova. Perceberam sobretudo que os flavonóides do chocolate têm correspondência directa com os taninos do vinho. Uns e outros correspondem aos elementos antioxidantes, e podem ser, além disso e a propósito, os elementos saudáveis de que precisamos para uma alimentação equilibrada. Como em tudo, os excessos são de evitar. Mas se soubermos seleccionar o que nos faz bem, as nossas vidas correm melhor.
Um pouco de história
A chamada árvore de cacau existe sobretudo na América Central e o fruto reconhece-se facilmente, pois trata-se de pendentes coloridos que têm o formato oblongo de bolas de râguebi. O interior contém um material abundante e esbranquiçado e sementes, das quais se obtém o cacau. As ditas sementes só se obtêm nos territórios de que falamos, numa história notável que nos faz recuar até dois mil anos antes de Cristo. As civilizações maia e asteca criaram um filão que encantou o descobridor espanhol Hernan Cortés no séc. XVI, a ponto de chegar a ver nele uma riqueza infindável.
Do que nos foi até hoje revelado, o chocolate era essencialmente consumido na forma líquida. As quantidades diárias ingeridas eram estratosféricas e apenas sacerdotes e governantes tinham acesso à bebida, talvez por isso mesmo. O célebre líder asteca Montezuma II consumia, segundo relatos do próprio Cortés, 50 chávenas de chocolate quente por dia. Terá sido por isso que a bebida foi rapidamente levada para Espanha, passando a ter honras até então reservadas ao chá e ao café. A Europa do final do séc. XVII, início do séc. XVIII. estava totalmente rendida ao grande novo valor do chocolate. As pessoas lotavam todas as salas disponíveis para beber uma chávena de chocolate quente. No final do séc. XVIII, o chocolate não podia estar mais na moda e a tablete ou barra impuseram-se enquanto forma individualizada de o consumir.
A grande revolução acontecia a olhos vistos, e o truque, da autoria do suíço Rodolphe Lindt, foi adicionar manteiga de cacau ao chocolate líquido. O procedimento industrial foi baptizado de conchagem (conching) e, no dealbar do séc. XIX, estabelecia-se toda uma nova ordem, coroando de glória a grande invenção. Nascia o chocolate da era moderna. Além de mais sólido, era também mais durável. Podia conservar-se facilmente num armário doméstico ou na despensa. O fascínio, esse, permanece vivo na mente e no coração dos actuais criadores. A marca Lindt é a que ainda hoje conhecemos e deve-se ao grande inventor e chocolateiro suíço. Muitos outros se lhe seguiram, diluindo bastante o seu protagonismo.
O célebre líder asteca Montezuma II consumia, segundo relatos do próprio Cortés, 50 chávenas de chocolate quente por dia.
Compliquemos um pouco
O assunto chocolate cobre bastante mais do que a simples enumeração de ingredientes e técnicas de produção. O estado actual das coisas aponta para a proveniência da fava como factor determinante para conseguir chegar ao pináculo do conhecimento. Percorremos o catálogo da Michel Cluizel, um dos melhores fabricantes de chocolate do mundo, e abismamos perante o triunfo da diversidade que este grande produtor oferece. Vahlrona, Callebaut – provavelmente a maior de todas as marcas -, Neuhaus e muitas outras marcas povoam densamente o universo superior da arte do chocolate. Todas têm o seu manifesto próprio quanto a origens das suas plantas de cacau e, por isso mesmo, todas também fazem marcação cerrada à concorrência. Por cá temos grandes intérpretes do chocolate, chefs que se distinguiram pela originalidade das suas criações. Rui Costa, da pastelaria Marbela, em Esposende, é um grande exemplo. Francisco Siopa, do Hotel Penha Longa, em Sintra, apresenta sistematicamente novas criações que nos fazem vibrar e enternecer. Francisco Melgão e seu irmão Serafim desenvolveram marca própria e dominam todas as técnicas industriais. No seu reduto, em Montemor-o-Novo, vão-nos brindando com as suas inovações. Pode visitar-se e comprar no local, ou encomendar e receber em casa. Cito apenas três, dos vários que poderia citar, com um critério de elencagem estritamente geográfico. Portugal está cheio de talentos por descobrir, que fazem trabalho notável. Eventos aqui e ali vão-nos dando pistas para novas descobertas, mas o país tem massa crítica para ir mais longe na ambição. Fica o modesto repto.
Fama com (muito) proveito
Todo o português leva ao peito os produtos da sua preferência mas, na doçaria, somos ainda tímidos. O bolo de chocolate cobre o planeta inteiro e cabe-nos a nós epicuristas provar e aprovar alguns. Aquele que me prendeu mais a alma até hoje provei-o na Suécia e é muito popular por lá. É baseado em chocolate negro, parco no açúcar e muito denso. É desafiante do ponto de vista da harmonização, mas resulta bem com um Pinot Noir novo e sem madeira. É fantástica a torta caprese, que me ficou na memória quando, em 1993, visitei a ilha italiana de Capri. Não leva qualquer tipo de farinha mas leva amêndoa, que lhe dá uma tonalidade com algum corpo, mas pede leveza no vinho. Um Porto branco com mais de vinte anos faz-lhe bem as honras.
O truque mais famoso do mundo pasteleiro é cozer pouco o bolo de chocolate e quando isso é feito intencionalmente o impacte é sempre grande. Os americanos chamam-lhe lava cake, pelo efeito do chocolate a escorrer, evocativo da lava de um vulcão em erupção. Nós chamamos-lhe coração de chocolate quente, ou fondant de chocolate. Um vinhão sem madeira da região dos vinhos verdes, desde que servido a temperatura inferior a 16ºC faz-lhe bem as loas. Pode parecer demasiado arriscado mas o sucesso é garantido, até pelo contraste de temperaturas.
Só fui duas vezes a Viena, e a primeira incursão tinha de ser coroada com a visita ao célebre café Sacher. Mas confesso desde já a minha desilusão. Foi criada na primeira metade do séc. XIX por Franz Sacher, que na altura tinha apenas 16 anos, para o então príncipe chanceler da Áustria. Leva doce de alperce e tem uma espessa camada de chocolate. Até hoje ainda não consegui acertar na maridagem certa. A que funcionou melhor foi com licor de tangerina. A Sacher-Tarte foi, desde aquele dia de 2002, um projecto aberto que vou tentando fechar em beleza. Para contrabalançar a experiência menos feliz, entrego-me facilmente e sem hesitações a um bolo brigadeiro. É um autêntico festival de chocolate e a sua estrutura húmida ajuda a gula a cumprir o seu desígnio. Apesar da estrutura baseada em chocolate negro, a minha opção vínica vai invariavelmente para Porto Tawny 40 anos. A cremosidade é preservada e o vinho sustenta com frescura e eficácia o brigadeiro gigante.
O bolo de chocolate cobre o planeta inteiro e cabe-nos a nós epicuristas provar e aprovar alguns.
As pequenas coisas
O gengibre revestido com chocolate é grande amigo do vinho, especialmente se for servido em pequenas tiras, ou fingers. Nesta harmonização, contudo, o ingrediente mais importante é o gengibre e não o chocolate que o reveste. A melhor experiência nesta abordagem aconteceu, sem surpresa, com um Arinto de Lisboa com mais de dez anos. Se o revestimento exterior for feito com chocolate de leite, opte por um aragonês alentejano novo e sem madeira. A reacção da casta ao gengibre é inesquecível. O celebrado bombom After Eight cabe nesta categoria e pede assessoria vínica certeira, e irá bem com um Alicante Bouschet de talha, também de terroir alentejano. Estamos no domínio da guloseima e o caso da laranja e chocolate é namoro antigo. Faz crescer água na boca a lasca de casca de laranja passada por chocolate negro. Se for acompanhada de um Gewurztraminer, é o céu. Aconselho esta mesma configuração, com pimento vermelho passado por chocolate negro. A explosão de sensações é fantástica, neste caso.
Passando ao domínio dos frutos secos, o simples revestimento de um pistáchio torrado com chocolate branco é toda uma emoção. E se lhe acrescentar piripiri ainda melhor. Maridagem mais delicada, mas proveitosa, é a que se consegue com um moscatel de Setúbal com mais de vinte anos. Um fruto seco que há que expor ao chocolate é a noz. Faça a experiência com chocolate de leite e depois harmonize com um bom malvasia da Madeira. Também gosto muito de maridar tâmaras passadas por chocolate negro e com vinho do Porto branco seco, sem madeira. Se tem experiência e confiança para entrar nos bombons, não deixe de experimentar foie gras ligado com chocolate negro. Abra um bom Porto Vintage e regozije com a experiência. Faça vários, porque vai ter muita audiência na família ou no grupo de amigos. Boas provas!
(Artigo publicado na edição de Março de 2025)
Tintos de 2015: Notável demonstração de classe

Numa prova em que todos os vinhos são de uma só colheita, no caso de 2015, é fundamental começar por recordar como foi esse ano. Ora, como tantas vezes sucede, o ano meteorológico esteve em linha com o ano vitivinícola, ainda que não inteiramente coincidentes, como veremos. Ou seja, enquanto os registos revelam que o […]
Numa prova em que todos os vinhos são de uma só colheita, no caso de 2015, é fundamental começar por recordar como foi esse ano. Ora, como tantas vezes sucede, o ano meteorológico esteve em linha com o ano vitivinícola, ainda que não inteiramente coincidentes, como veremos. Ou seja, enquanto os registos revelam que o ano 2015 em Portugal Continental foi extremamente seco e muito quente, sendo, até então, o sétimo ano mais quente desde 1931, e o segundo desde 2000, já os relatórios de vindima e os vinhos provados revelam esse ano cálido, mas ainda assim com muito equilíbrio nas maturações e menos stress hídrico do que outros anos.
Chuva nos momentos certos
Comecemos, então, pelo calor… Em 2015, o valor médio da temperatura máxima do ar foi o mais alto dos 18 anos anteriores, sendo que em cada mês o registo foi sempre superior ao normal, exceto nos meses de janeiro, fevereiro e setembro. Olhando para estes números, imaginar-se-ia que o ano vitivinícola seria de pouca produção, com ciclo vegetativo curto, e/ou marcado por uvas num perfil de grande maturação. Mas não foi bem assim… A grande pluviosidade sentida de setembro a novembro em 2014, e chuvas ocasionais nos ‘momentos certos’ de 2015 ajudaram, desde o início, ao favorável desenvolvimento da videira e ao bom vingamento do fruto.
Por outro lado, o tempo seco ao longo do ciclo evitou o desenvolvimento de doenças, mesmo nas áreas costeiras e chuvosas com maior pressão, e permitiu que os trabalhos de viticultura decorressem adequadamente em todas as regiões, contribuindo para que as uvas terminassem o seu ciclo vegetativo em muito boas condições. Houve, é certo, alguns picos de calor, mas a sorte esteve com os produtores, pois nas épocas mais determinantes para a colheita o calor não foi extremo e existiam reservas de água no solo decorrentes das chuvas de setembro e outubro do ano anterior. No Alentejo, por exemplo, as temperaturas veraneantes foram altas como é habitual, mas longe de terem sido extremas. A circunstância da vindima ter sido feita num período seco e temperado também ajudou e muito. Não espanta assim que, de norte a sul do país, a produção tenha aumentado e qualidade foi evidente.
Foi unânime, entre os provadores, que esta prova dos tintos de 2015 foi a melhor das já realizadas com este objetivo de provar topos de gama com 10 anos de evolução.
Muita qualidade e equilíbrio
Sim, foi um ano quente, com vinhos de grande expressão de fruta, mas, ao lado de outros anos, revelam-se muito equilibrados, o que se comprova pelos níveis de álcool que, na nossa prova, não excederam os 14,5%. 2015, mais quente que 2014 ou 2010, revelar-se-ia menos intenso que 2016 e 2017 que lhe sucederam, no que a vinhos tintos diz respeito. No que a Porto Vintage concerne, sempre, um bom indicador para anos quentes, os vinhos de 2015 revelaram-se excelentes desde o início, e logo com boa evolução, com alguns produtores a pretenderem mesmo que fosse declarado ano clássico. Porém, já com a certeza de que os vinhos de 2016 (e 2017) eram mais maduros e tensos, a declaração não vingou. Nos Vinhos Verdes, 2015 foi uma das melhores colheitas até à altura, muito boa também na Bairrada e Dão, e as regiões a sul beneficiaram de um verão menos escaldante que o habitual.
A expetativa era, assim, enorme. E a prova não defraudou, pelo contrário. Com efeito, fazemos esta prova de topos de gama tintos com 10 anos há muito tempo, e temos os registos, pelo menos, desde a colheita de 2003. Pois bem, foi unânime entre os provadores que esta prova dos tintos de 2015 foi a melhor das já realizadas com este objetivo de provar topos de gama com 10 anos de evolução. Naturalmente, para tal não contribuiu apenas o ano vitícola quase perfeito, mas também a experiência e o acerto das equipas de viticultura e enologia. Contatámos enólogos que trabalharam nesse ano em várias regiões do país e todos recordaram uma colheita com poucos problemas (para tintos, mas também para brancos), boa produção geral, e um perfil de fruta limpo e definido.
Trabalho feito, tudo na prova correu muito bem, com os vinhos a darem excelente prestação, muito limpos e com fruta definida, acidezes ainda presentes, e quase todos num perfil jovem e com muitos anos pela frente. Mais, todos vinhos mostraram-se com ótima integração de barrica, revelando, também neste campo, uma evolução significativa face a provas de outros anos. Olhando para o grau alcoólico, houve também surpresa positiva, com vários vinhos a declararem 13,5%, e um com 12,5%, valores muito sensatos num ano quente, comprovando que é possível combinar, com harmonia, maturação com comedimento no grau. Registou-se, por fim, um único caso de TCA e só por três vezes houve necessidade de provar nova garrafa para confirmar algum aspeto mais discutido entre os provadores. Nos primeiros lugares, com as classificações de 19 e 18,5, tivemos vinhos de praticamente todas as regiões em prova o que é bem demonstrativo da qualidade geral da colheita de 2015 pelo país inteiro. Que venham mais colheitas assim, é o nosso desejo!
Todos vinhos mostraram-se com ótima integração de barrica, revelando, também neste campo, uma evolução significativa face a provas de outros anos.
19 M.O.B. Gauvé
Dão tinto 2015
Moreira, Olazabal & Borges
Cor e aroma denotando juventude. Fruto puro, negro e azul, leve grafite, bosque, percepção de vibração e tensão, presumindo-se terroir frio. Mais fino em boca do que o aroma faria prever, cremoso e saboroso, tanino fino mas acutilante, especiado, e focado em frescura com notas de floresta. Fabuloso. (14%)
19 Quinta da Manoella VV
Douro tinto 2015
Wine & Soul
Aroma espantoso, com muito fruto, quase exuberante, azul e negro, perfil fino e elegante, notas a chocolate e pêssego, leves apontamentos da barrica. Amplo e saboroso em boca, médio-encorpado, cremoso, novamente fruto azul, agora com apontamentos de pimenta, acidez média, taninos perfeitos e final longo. (14%)
19 Quinta de Foz Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria
Reg. Beira Atlântico tinto 2015
Conde Foz de Arouce Vinhos
Baga. Aroma muito jovem, com a casta a sentir-se numa versão mais madura, mas envolta em frescura. Fruto negro, mentol, chocolate, evidente perfil bordalês. Prova de boca encorpada, ágil e saboroso, nota a café, fruto negro, muito especiado, belíssima textura polida, termina fresco e longo. (14%)
19 Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa
Douro tinto 2015
Quinta do Crasto
Aroma típico da referência, que entrega fruto azul e preto em camadas, muita especiaria, fruta cristalizada, cachimbo, tudo rico e num perfil barroco. Taninos polidos em boca, muito sabor, fruto encarnada e perfil mais fresco que no aroma faria prever, termina amplo, macio e longo, pontuado por doçura frutada. (14,5%)
18,5 Júlio B. Bastos
Alentejo Alicante Bouschet Grande Reserva tinto 2015
Júlio Bastos
Aroma jovem que abre para um perfil marcadamente vegetal, alcaçuz, louro fresco, nota de eucalipto e perfil balsâmico, tudo com sensação frescura. Meio corpo em boca, novamente jovem com taninos sérios, fruto negro não macerado, com a madeira mais descoberta do que no aroma. Termina com leve secura gastronómica. (13,5%)
18,5 (1500ml) Marquês de Borba
Alentejo Reserva tinto 2015
J.Portugal Ramos
Aroma complexo a revelar óptima evolução, com fruto encarnado maduro, notas a café, grafite, musgo, especiados da barrica, floral fresco no fundo, leve pimento, tudo com ótima intensidade e muito limpo. Muito bem também em boca, tenso e frutado, tanino presente sem ferir, saboroso e longo. (14,5%)
18,5 Mouchão
Alentejo tinto 2015
Vinhos da Cavaca Dourada
Cor muito concentrada e o aroma a revelar boa evolução. Nota a terra molhada, chão de tijoleira, fruto encarnado, flores maduras, rosa e figo, especiaria fina. Mais jovem na prova de boca, com muito tanino, maduro e sério, boa acidez geral, revela grande equilíbrio entre maturação e uma percepção surpreendente de frescura. (14,5%)
18,5 O.Leucura
Douro tinto 2015
Duorum Vinhos
Muito jovem na cor e no aroma. Fechado, pede arejamento e abre com notas latentes de fruto negro e azul, caruma, fruto seco, chocolate negro, tudo muito bonito num perfil clássico do Douro Superior. Concentrado na boca, mas muito polido, saboroso, ervas secas e fruto azul, tanino sério e maduro, mais fresco do que o aroma dá a entender e grande qualidade geral. (14%)
18,5 Poeira
Douro tinto 2015
Jorge M. Nobre Moreira
36 barricas. Aroma fino e latente, a pedir arejamento, abre para notas de fruto azul, ervas do monte, leve violeta, e chá. Muito bem em boca, com bom volume, todo proporcionado, bela textura, envolvente e saboroso nos taninos, revela-se num perfil de finesse com final longo. (14%)
18,5 Quinta do Vale Meão
Douro tinto 2015
F. Olazabal & Filhos
Muito aromático desde o início, muito fruto à frente, toque mineral, matizes da barrica perfeita, chocolate, num conjunto que denota classe. Especiado em boca, ervas do monte, alcaçuz, textura cremosa e com alguma potência, termina com muito sabor. Conjunto impressionante. (14%)
18,5 Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo Referência
Douro Grande Reserva tinto 2015
Quinta Nova de Nossa Sr.ª do Carmo
Tinta Roriz e vinha velha em field blend. Muito jovem no aroma, abre com barrica de qualidade, seguida de fruto negro puro e de grande intensidade, amora, pimenta, leve balsâmico. Prova de boca mais vegetal, intenso e saboroso, novamente chocolate, bastante mais fresco na boca do que o aroma faria prever. Excelente! (14%)
18,5 Villa Oliveira
Dão Serra da Estrela Touriga Nacional tinto 2015
O Abrigo da Passarela
Aroma cativante com notas complexas de fruto encarnado e azul, amparadas por presença significativa de barrica, num perfil complexo e sedutor, com a casta a não se evidenciar. Jovem em boca, complexo e de nuances várias, boa acidez, envolvente e saboroso, termina amplo mantendo um registo de elegância. Belíssimo! (14%)
18,5 Luis Pato Vinha Barrosa
Bairrada tinto 2015
Luis Pato
Um pouco aberto na cor, de cor encarnada escura e muito brilho. No aroma abre com notas a eucalipto, fruto encarnado aberto, bagas frescas, vegetal seco, denotando frescura. Mantém o registo em boca, leve e ginasticado, com óptima acidez, fruto vermelho, floral fresco também, termina vibrante e gastronómico. Para durar! (12,5%)
18 Chryseia
Douro tinto 2015
Prats & Symignton
Tourigas Nacional e Franca. Aroma muito polido, com nota de fruto negro e encarnado (cereja), especiados da barrica, chocolate, tudo num perfil limado e apurado. Meio corpo em boca, tanino granulado e maduro, muito sabor e alguma frescura, mantém o perfil de grande equilíbrio e sedução. (14%)
18 Esporão
Alentejo Alicante Bouschet tinto 2015
Esporão
Aroma exuberante com notas balsâmicas, vegetais, casca de árvore e azeitona, fruto maduro, leve couro também. Mantém o perfil em boca, mas com maior frescura e nitidez, saboroso, novamente vegetal seco, boa acidez, com boa saúde para viver mais anos em garrafa. (14,5%)
18 Dolium by Paulo Laureano
Alentejo Vidigueira tinto 2015
PL Wines
Field Blend. Aroma exuberante e jovem, com notas sedutoras de ameixa, pimentas, terra húmida, groselha preta, orégãos e manjericão. Na boca revela-se lácteo e arredondado, com tanino firme e saboroso, acidez média, nota a especiaria doce e muito fruto negro. Óptima evolução! (14,%)
18 J de José de Sousa
Reg. Alentejo tinto 2015
José Maria da Fonseca Vinhos
Grand Noir, Tourigas Francesa e Nacional. Aromaticamente segue o perfil desta referência com notas vegetais atractivas, louro, azeitona, leve couro, cacau preto. Esta silhueta mais rústica continua em boca com terra húmida, pimentas, fruto maduro e notas terciárias. Está muito bem no perfil que proporciona imenso prazer, sobretudo à mesa. (13,5%)
18 Kompassus Private Collection
Bairrada Baga tinto 2015
Kompassus Vinhos
Vinhas velhas, 18 meses de barrica. Aroma austero, com notas de barro molhado, terra húmida, tomilho, barrica muito discreta, e boa percepção de frescura. A prova de boca confirma um perfil sólido e firme, meio corpo, óptima acidez, fruto encarnado maduro, leve fruto seco, termina austero. (14%)
18 Quinta da Leda
Douro tinto 2015
Sogrape Vinhos
Aroma com muito fruto, encarnado e azul, nota floral evidente também, café, bagas silvestres, e barrica ao fundo. Mantém o perfil em boca, ágil e com meio corpo, fruto encarnado, resina de esteva, chocolate e cacau, tanino saboroso de média intensidade e final elegante. (13,5%)
18 Quinta das Bágeiras
Bairrada Garrafeira tinto 2015
Mário Sérgio Nuno
Revela bem o perfil da marca, com fruto encarnado, aroma a tonel avinhado, tijoleira, vegetal seco, verniz. Tanino firme em boca, fruto mais maduro do que o nariz faria prever, muito saboroso e jovem, meio corpo, tenso e com óptima acidez num final longo e bem apimentado. (13,5%)
18 Quinta do Monte d’ Oiro Parcela ‘24
Reg. Lisboa tinto 2015
José Bento dos Santos
Syrah. Aroma muito sedutor e complexo, com fruta encarnado e negro, bagas silvestres, muita especiaria (cominhos), nota a carne e chocolate. Mais ligeiro e ginasticado no corpo, muito fruto novamente, chocolate, acidez média, belíssimos taninos, termina longo com leve secura final. Cheio de classe! (14%)
18 Quinta dos Roques
Dão Reserva tinto 2015
Quinta dos Roques
Jovem no perfil, com fruto encarnado, floral evidente, alguma nota a barrica no fundo. Muito sabor em boca, envolvente, taninos finos, mas com boa estrutura geral, fruto negro e ervas do campo, acidez no ponto, leve doçura frutada que surpreende mas fica bem. Notável harmonia de conjunto. (13,5%)
18 Scala Coeli
Reg. Alentejano Touriga Nacional tinto 2015
FEA
Aroma exuberante e jovem, abre com notas de grafite, fruto negro, muitas nuances da barrica, cereja e violetas também, canela ao fundo, com a casta pouco evidente. Na boca revela-se encorpado e intenso, saboroso na vertente frutada, chocolate, café, bom equilibro apesar de muita intensidade, termina com amargos finais. (14,5%)
18 Terrenus
Alentejo-Portalegre Reserva tinto 2015
Rui Reguinga
Aroma bonito e elegante, com ataque a fruta madura, ameixa, ervas do monte, pimentas, percepção de barrica de qualidade e muita sedução. Saboroso em boca, meio corpo com boa frescura, leve couro, tanino fino mas vivo, perfil seco e gastronómico apesar da vertente frutada em evidência. (14,5%)
18 Tributo
Reg. Tejo tinto 2015
Rui Reguinga
Syrah, Grenache e um pouco de Viognier. Aroma com notas a pimenta preta, fruto maduro bonito e sedutor, nota a carne, leve grafite. Perfil mais barroco em boca, com notas de barrica e muito fruto, largo e amplo, saboroso e cremoso, revela muita especiaria doce e fruto confitado no largo final. (14%)
18 Quinta dos Carvalhais Único
Dão tinto 2015
Quinta dos Carvalhais
Aroma jovem e de perfil floral, bergamota, chá earl grey, musgo e mentol, pinheiro, aroma muito limpo e directo, com a barrica bem integrada. Prova de boca com sabor, leve, mas com intensidade, fruta cristalizada, fruto negro, boa acidez geral, termina longo com doçura frutada. (14,5%)
18 Vallado Vinha da Granja
Douro tinto 2015
Quinta do Vallado
Muito aromático, fruto encarnado complexo, perfil de fruta fresca, muitas ervas, especiado também e com barrica no ponto. Em boca revela tanino vivo e firme, granulado com meio corpo, boa acidez geral, também vegetal bonito e muito especiado, com final longo marcado por fruta encarnada. (14,5%)
17,5 Falcoaria
Reg. Tejo Grande Reserva tinto 2015
Casal Branco
Jovem no aroma, fechado, abre com nota terrosa e levemente química, fruto negro de qualidade e barrica impecável, chocolate e after-eight. Mais vegetal em boca do que o aroma fazia prever, mantém-se, todavia, austero, com tanino muito firme, fruto negro e frescura balsâmica. (14%)
17,5 Quinta da Bacalhôa
Reg. Península de Setúbal Cabernet Sauvignon tinto 2015
Bacalhôa Vinhos de Portugal
Aroma a revelar boa evolução, tudo de pendor vegetal, pimentão doce, casca de árvore, fruto maduro também com nota a ameixa desidratada. Meio corpo em boca, boa leveza de conjunto ágil, tanino fino e maduro, acidez bem presente, termina com leve doçura frutada envolvente. (14%)
17,5 Teixuga
Dão tinto 2015
Caminhos Cruzados
Touriga Nacional. Abre exuberante com nota a fruta encarnada, bergamota, chá earl-grey, cítrico (toranja), barrica muito bem integrada, violeta e café. Fruto maduro em boca, sedutor, denso e cremoso, muita concentração, canela e chocolate, termina amplo e capitoso. (14%)
17,5 Xisto
Douro tinto 2015
Roquete & Cazes
Tourigas Nacional e Franca e Tinta Roriz. Aroma exuberante, nota a violeta, chocolate, mentol, caixa de charutos, marcado ainda por uma nota a verniz. Mais vegetal em boca, envolvente e com óptima barrica, meio corpo, acidez no ponto, termina amplo e com bom comprimento, novamente marcado pelo perfil químico. (14,5%)
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
(A Grandes Escolhas agradece o apoio da Churrasqueira Dom Pedro, casa onde foram realizadas as fotos.)
Artigo publicado na edição de Março de 2025
Herdade do Freixo: Elegância e longevidade

A Herdade do Freixo nasceu da paixão dos irmãos Pedro e José Luís Vasconcelos e Sousa, de desenvolver um projecto de vinhos diferente na região. Hoje já não estão ligados à empresa, mas foi isso que comunicaram, num jantar de amigos, alguns deles potenciais investidores, proposta que originou o interesse dos comensais. “Acreditava-se que existia, […]
A Herdade do Freixo nasceu da paixão dos irmãos Pedro e José Luís Vasconcelos e Sousa, de desenvolver um projecto de vinhos diferente na região. Hoje já não estão ligados à empresa, mas foi isso que comunicaram, num jantar de amigos, alguns deles potenciais investidores, proposta que originou o interesse dos comensais. “Acreditava-se que existia, ali, um terroir diferenciador”, conta Carolina Tomé, 50 anos, directora de Marketing e Comercial da Herdade do Freixo.
Um toque inovador
O posicionamento da herdade em relação à Serra de Ossa, a localização do vale onde hoje se desenvolvem as vinhas das castas brancas e fica a adega, o monte que fica em frente, com os seus 450 metros de altitude no topo, onde estão plantadas castas tintas “com exposições diferentes que permitem equilibrar a frescura com a concentração, são alguns dos contributos para a existência deste terroir distinto. O mesmo acontece com o seu microclima, que contribui para a ocorrência de maturações mais lentas e vinhos mais frescos, e os seus solos de origem xistosa e granítica. Na sua plantação foram selecionadas, para além de castas tradicionais da região, outras que podiam contribuir, com a tecnologia certa usada na adega, para originar vinhos mais frescos e elegantes, com maior capacidade de evolução positiva em garrafa com o tempo. No fundo, o melhor de dois mundos: a concentração e a alma típica do Alentejo com mais frescura, elegância, longevidade em garrafa e maior apetência gastronómica, algo que o enólogo consultor desta casa, Diogo Lopes, procura fazer reflectir nos vinhos de cada colheita.
Depois de ter sido estudado o local, as vinhas começaram a ser plantadas, a partir de 2010, com esse objectivo, e também com o potencial de dar um toque inovador aos vinhos produzidos pela herdade, alguma diferença em relação ao habitual do Alentejo. Foi, por isso, que foi introduzido o Alvarinho, “que se dá muito bem no Freixo”, mas também Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling, “que só foi lançado há dois anos”. A casta branca Arinto foi plantada para potenciar longevidade nos brancos. Nas tintas, a base é a Touriga Nacional. Mas também há Cabernet Sauvignon de clones seleccionados para o tipo de solos da propriedade, Alicante Bouschet e Petit Verdot, “para trazer frescura e capacidade evolutiva aos vinhos” e Petite Syrah, da qual foi lançado o primeiro vinho há pouco tempo. “Também plantámos Syrah, que está a ser conduzida no modo biológico, a pensar no lançamento de um futuro vinho biológico da herdade”, diz Carolina, revelando, depois, que toda a vinha está a ser conduzida no modo de protecção integrada. “É evidente que o modo de produção biológico pode ser interessante, mas é essencial garantir a produção de vinhos com um perfil de frescura, concentração e longevidade, estrutura e elegância”, defende. Todos os anos há uvas, e é preciso produzir e vender vinhos que sejam apreciados pelo mercado, ou seja, nenhum negócio persiste sem sustentabilidade económica. Para garantir a sua qualidade e consistência ao longo dos anos, “a vindima é feita no ponto óptimo de maturação”, de forma manual, quando há mão de obra disponível, ou à máquina, quando não há.

Paisagem intocada
A propriedade tem 300 hectares, que estavam intocados, sem terem sido sujeitos a agricultura intensiva, na altura em que o projecto começou a ser desenvolvido “Era e é um eden paisagístico, onde passam e poisam aves migratórias e se podem ver lebres ou raposas, cuja natureza era preciso preservar”, conta Carolina Tomé. Por isso, a adega integra-se quase na perfeição nesta paisagem. Para além de ter condições para potenciar a produção de vinhos com longevidade em garrafa, mais frescos e elegantes, é conceptualmente interessante de visitar, o que incentiva a procura do seu enoturismo e ajuda a promover o seu vinho. “O objetivo é que as pessoas percorram as vinhas, sintam a paisagem e entrem na adega, numa outra realidade que seja uma novidade para os sentidos, para conhecer um pouco do processo de produção, se quiserem, e terminarem a experiência com a prova de vinhos coerentes com as sensações tidas durante a visita”, explica a gestora.
Para a sua construção foi feito um concurso, ganho pelo atelier do arquitecto Frederico Valsassina com a proposta de uma adega totalmente enterrada, qua alberga escritórios, zona de fermentação, estágio em barricas e em inox, armazenamento e laboratórios. Todo o seu interior, que é iluminado com luz natural, pode ser visitado 365 dias por ano sem haver interferências entre os visitantes e a produção.
A adega demorou dois anos e meio a ser construída e o projecto terminou em Outubro de 2015. Assim nasceu um edifício que foi premiado pela publicação especializada ArqDaily, de Nova Iorque, em 2018, um par de anos após ter aberto. Em Maio/Junho foram lançados os primeiros vinhos.
Além de preservar a paisagem rural e permitir o contacto dos visitantes com o vinho, numa experiência sensorial completa, a adega da Herdade do Freixo possibilita o controlo do efeito das amplitudes térmicas do interior do Alentejo, sobretudo as extremas do verão, quando as máximas podem chegar aos 50 ºC, e as mínimas aos 20 ºC. Isso é essencial durante o processo de produção, estágio em barrica ou inox, engarrafamento e repouso das garrafas até irem para os clientes, para a manutenção da frescura e evitar a evolução antecipada dos vinhos.
O desafio do mercado
Desde o início que a Herdade do Freixo privilegia as vendas para a restauração e lojas da especialidade, “porque os nossos produtos têm de se ser apresentados, explicados, e beneficiam quando são provados com comida”, diz Carolina Tomé. Conta também que foi um desafio lançar, no início do trajecto da empresa, vinhos distintos, de nicho, com origem no Alentejo, região conhecida, na altura em que começou a trabalhar, pelas suas marcas de volume. Foi necessário abrir muitas garrafas, fazer a formação das equipas de vendas, muitas masterclasses e muitas conversas pessoais com os clientes para mudar a perspectiva do mercado em relação à sua casa. “Nas primeiras apresentações ouvíamos dizer que os vinhos eram interessantes, frescos, mas não pareciam do Alentejo”, conta, salientando que hoje isso já não acontece, não só porque os vinhos do Freixo já são conhecidos em Portugal e nos mercados para onde a casa exporta, mas também porque surgiram mais produtores com vinhos semelhantes aos seus, mais frescos, longevos e elegantes, com origem no Alentejo. Hoje a Herdade do Freixo exporta 20% dos seus vinhos para a Suíça, “mas também um pouco para a Holanda, Bélgica e Suécia, e Brasil, China e Angola, mais recentemente”, revela ainda a responsável. Em Portugal, para além dos restaurantes e lojas da especialidade, estão disponíveis nos supermercados Apolónia e no El Corte Inglés.
(Artigo publicado na edição de Março de 2025)
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Freixo Family Collection
Tinto - 2019 -

Freixo Special Edition
Tinto - 2020 -

Freixo Reserva
Tinto - 2021 -

Freixo Elementar
Tinto - 2022 -

Freixo Terroir
Tinto - 2020 -

Freixo Special Edition
Rosé - 2023 -

Freixo Reserva
Branco - 2022 -

Freixo Special Edition
Branco - 2021 -

Freixo Terroir
Branco - 2023 -

Freixo
Branco - 2022 -

Freixo
Branco - 2023 -

Freixo
Branco - 2023
Rolhas da Corticeira Amorim com pegada de carbono negativa

Corticeira Amorim anunciou, em comunicado para a imprensa, que a pegada de carbono das suas rolhas de cortiça é negativa, em conformidade com a norma ISO 14067, validada pela Associação Portuguesa de Certificação (APCER). A empresa tem monitorizado a pegada de carbono das suas rolhas de cortiça de acordo com a norma ISO 14067 Gases […]
Corticeira Amorim anunciou, em comunicado para a imprensa, que a pegada de carbono das suas rolhas de cortiça é negativa, em conformidade com a norma ISO 14067, validada pela Associação Portuguesa de Certificação (APCER).
A empresa tem monitorizado a pegada de carbono das suas rolhas de cortiça de acordo com a norma ISO 14067 Gases com efeito estufa – Pegada de carbono de produtos. Os estudos realizados nesse sentido, que cobrem cerca de 60% do portefólio de produtos da Amorim Cork, atestam uma pegada de carbono negativa para os produtos estudados.
Todas as rolhas de cortiça analisadas, incluindo naturais e técnicas para vinhos tranquilos, e a rolha Spark® Top II para o segmento de espumantes, apresentam, de modo consistente, pegadas de carbono negativas de -28,72 gCO2eq/rolha até -56,4 gCO2eq/rolha, segundo um documento que salienta que os “resultados que realçam o papel das rolhas de cortiça na mitigação das alterações climáticas e o seu contributo para a descarbonização do sector vinícola”.
Segundo António Rios de Amorim, CEO da Corticeira Amorim, os estudos, que procuram antecipar as alterações introduzidas no quadro legal comunitário relativo às alegações ambientais, aplicáveis a partir de setembro 2026, “atestam que a rolha de cortiça continua a ser um forte aliado dos produtores de vinhos tranquilos, espumantes e fortificados, pelas suas caraterísticas naturais e técnicas e também por contribuir, de forma relevante, para reduzir a pegada de carbono global das embalagens de vinho, em comparação com os vedantes alternativos”.
“Na Corticeira Amorim trabalhamos diariamente no desenvolvimento de soluções mais sustentáveis, em alinhamento com uma estratégia contínua de redução do impacto ambiental dos nossos processos, a par da preservação do ecossistema único que é o montado”, diz ainda o responsável.




















