Adega Mayor: Pai Chão, agora em branco

Adega Mayor

A Adega Mayor foi criada no Alentejo, em 2007, por Rui Nabeiro, nas terras de Campo Maior, onde também existem instalações da Delta, marca de café famosa há décadas e presente em todo o país. O legado deixado pelo “Sr. Rui”, como aparece na documentação da empresa, está a ser continuado pelo filho e a […]

A Adega Mayor foi criada no Alentejo, em 2007, por Rui Nabeiro, nas terras de Campo Maior, onde também existem instalações da Delta, marca de café famosa há décadas e presente em todo o país. O legado deixado pelo “Sr. Rui”, como aparece na documentação da empresa, está a ser continuado pelo filho e a neta Rita. Ainda que o sector dos vinhos represente apenas uma pequena fracção da facturação da empresa, isso não diminuiu em nada o empenho e o profissionalismo que aqui se verifica. O edifício da adega, desenhado pelo arquitecto Siza Vieira, os cuidados na viticultura, o estudo e a escolha das castas a usar e o minucioso trabalho de adega, tudo por aqui é muito profissional, procurando, em terras que antigamente sempre foram de cereais, fazer vinhos de muita qualidade. Depois da criação do Pai Chão tinto surge agora no mercado o Pai Chão na versão em branco. A aventura vínica começou há 17 anos e Paulo Laureano e Rui Reguinga são enólogos que já foram responsáveis pelos vinhos. Hoje é Carlos Rodrigues que está encarregue de gerir o puzzle das castas e os ensaios com variedades não características do Alentejo, como a Galego Dourado e o entender de diferentes terroirs, com as parcelas da serra de São Mamede – vinhas em altitude – a contribuírem também para o desenho dos vinhos.

O momento de apresentação do novo Pai Chão não foi um simples lançamento de uma marca nova. Foi a ocasião para reunir cerca de 100 pessoas que, por uma razão ou outra, fazem parte do percurso da Adega Mayor. Foi também o momento escolhido para apresentar uma brochura do escritor José Luis Peixoto, em modo de folheto que acompanha o vinho quando comprado em caixa de madeira. O texto é, naturalmente, alusivo à videira, ao vinho e ao ciclo da planta, à passagem do tempo, ao repouso e vida que nos envolve e entusiasma. O escritor esteve presente e, por momentos, esteve em palco para falar sobre o tema. Não só Rita Nabeiro falou e apresentou o vinho, também o pai esteve presente e deixou palavras para o fundador da empresa.

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)

10º Lisbon Bar Show aposta na origem nacional

Lisbon Bar Show

O Lisbon Bar Show apresentou, no Hotel Locke de Santa Joana, em Lisboa, as primeiras novidades da sua 10ª edição. Com mais de 120 expositores confirmados, o evento deste ano vai decorrer na Meo Arena nos dias 20 e 21 de Maio, e destaca a produção nacional. Outra das grandes apostas do evento, este ano, […]

O Lisbon Bar Show apresentou, no Hotel Locke de Santa Joana, em Lisboa, as primeiras novidades da sua 10ª edição. Com mais de 120 expositores confirmados, o evento deste ano vai decorrer na Meo Arena nos dias 20 e 21 de Maio, e destaca a produção nacional.

Outra das grandes apostas do evento, este ano, é a evolução do conceito de bar sem álcool, que ganha um novo protagonismo após ter sido testado na edição anterior. Haverá, assim, um conjunto alargado de expositores dedicados a destilados não alcoólicos, tendência em forte crescimento, com alternativas a gins, tequilas e outras bebidas espirituosas.

O Lisbon Bar Show volta a acolher também o Congresso Ibérico de Bartenders, que celebra a sua 3ª edição no dia 20 de Maio, entre as 13h e as 20h. Esta plataforma de debate e networking é dedicada à Península Ibérica e promove a partilha de experiências entre profissionais do sector. Entre os oradores convidados estão Danil Nevsky (Indie Bartender), Antonio Naranjo (Especiarium), Bruno Santos (International Bartenders Association), Carlos Santiago (The Royal Cocktail Club), Wilson Pires e Tiago Oliveira (In’Verso) e Javier Caballero (Brand Ambassador Perrier).

Ao longo dos dois dias do evento, o público poderá assistir a palestras e apresentações conduzidas por 30 oradores nacionais e internacionais, entre os quais se destacam Sebastian Atienza e Lucila Calichio (Tres Monos), Sorrel Moseley-Williams (Sorol Wines), Matteo Mosetii (Giffard), Mário Cruz (Restaurante Marlene), Pablo Straubel (Bar Badassery), Damià Mulà (100% Barman), Domingos Soares Franco (José Maria da Fonseca), Georgi Radev (Laki Kane), Tom Dyer (Flair Camp), Martha May Markham (Swift), Bertílio Gomes (Taberna Albricoque), Camille Vidal (La Maison Wellness), Iván Saldaña (Casa Lumbre), Flavi Andrade (Rossio Gastrobar), Pedro Duarte (Curioso Cocktail Bar), Daniel Marques (Adamus Gin), António Cuco (Sharish Gin), Flávio Próspero (Maré), Jared Brown e Anistatia Miller (historiadores de cocktails), Júlio Bermejo (Tommy’s Mexican Restaurant), Esteban Morales (Casa Endémica), Iain McPherson (Panda & Sons), Marcio Silva (Eximia), Liam Scandrett (Wine & Spirit Education Trust), Norberto Carvalho (Bebericando), Penelope Vaglini (Coqtail), Rui Mota (Ciências Gastronómicas), Nikos Theodorakopoulos e Alex Tselepis (The Bar in Front of the Bar).

O evento volta a acolher, este ano, concursos como o Vintage Cocktail Competition e o Concurso de Cachaça 51, que trazem criatividade, técnica e inspiração ao centro da acção.

No evento decorrerá também a cerimónia dos Prémios Lisbon Bar Show, que distingue os melhores do sector em 11 categorias. Os vencedores serão revelados na cerimónia de encerramento do evento, no dia 21 de Maio, pelas 19h15.

Segundo Alberto Pires, fundador do Lisbon Bar Show, “esta é uma edição muito especial, em que queremos dar um forte destaque ao que é português, incluindo produtos, profissionais e inovação, sem deixar de manter a diversidade e a qualidade internacional que sempre marcaram este evento”. O Lisbon Bar Show realiza-se nos dias 20 e 21 de Maio de 2024, na Sala Tejo, no Meo Arena, em Lisboa, das 12h às 20h. Os bilhetes estão disponíveis em pré-venda por 33€ até 16 de maio, passando para 43€ nos dias do evento.

Os vinhos para a história de Domingos Soares Franco

Domingos Soares Franco

O evento decorreu nas caves da José Maria da Fonseca em Azeitão, espaço ladeado de azulejos da colecção da casa, onde se inicia uma das caves de barricas da empresa e uma das suas garrafeiras. Foi nessa noite que Domingos Soares Franco, enólogo da família detentora da casa e membro da sua sexta geração, apresentou […]

O evento decorreu nas caves da José Maria da Fonseca em Azeitão, espaço ladeado de azulejos da colecção da casa, onde se inicia uma das caves de barricas da empresa e uma das suas garrafeiras. Foi nessa noite que Domingos Soares Franco, enólogo da família detentora da casa e membro da sua sexta geração, apresentou recentemente os seus três derradeiros vinhos, ou seja, os últimos vinhos da sua casa feitos sob a sua supervisão.

Representativos dos 40 anos de profissão do enólogo, integram a Quadraginta, gama exclusiva composta por três vinhos distintos, um tinto, um branco e um Moscatel de Setúbal, cada um deles uma homenagem e uma interpretação singular da riqueza e complexidade da Península de Setúbal. Criados a partir de castas selecionadas e estagiados em barricas de carvalho, traduzem a visão e saber fazer de Domingos Soares Franco, e mostram uma expressão distinta e sofisticada. Integram uma edição limitada, com a assinatura exclusiva daquele que celebra quatro décadas de dedicação à arte de fazer vinho, e reflectem a sua mestria e vontade e capacidade de inovar.

Para além da família, incluindo a maior parte dos membros da sétima geração, da actual equipa de viticultura e enologia da empresa, e de outros convidados de Domingos Soares Franco, estiveram presentes, na festa de lançamento dos seus três últimos vinhos, os enólogos mais próximos, aqueles com que mais se relacionou e mais marcaram a sua vida de trabalho: Anselmo Mendes, José Maria Soares Franco, João Portugal Ramos, João Nicolau de Almeida, Nuno Cancella de Abreu e Paulo Hortas, este o seu braço direito durante 38 anos.

3ª edição do Millèsime na Curia é já este fim-de-semana

MILLESIME

Esta iniciativa reúne os melhores produtores nacionais de espumantes com denominação de origem, e conta com um conjunto de actividades, nomeadamente provas comentadas e de harmonização com iguarias. Será um evento sofisticado e muito inspirado no universo da época dourada dos primeiros anos do século XX, no cenário místico, clássico e grandioso que caracteriza o […]

Esta iniciativa reúne os melhores produtores nacionais de espumantes com denominação de origem, e conta com um conjunto de actividades, nomeadamente provas comentadas e de harmonização com iguarias. Será um evento sofisticado e muito inspirado no universo da época dourada dos primeiros anos do século XX, no cenário místico, clássico e grandioso que caracteriza o Curia Palace Hotel.

Cada produtor terá um espaço próprio para mostra e degustação dos seus espumantes. Além do universo dos espumantes, o visitante poderá ainda usufruir da mostra e venda de iguarias, típicas da Região da Bairrada, que harmonizam com espumante, bem como os doces típicos. Estão ainda previstos alguns momentos de animação no decorrer do evento.

Com o objectivo de incentivar e promover o consumo no comércio e serviços locais de todo o concelho de Anadia, o Município de Anadia promove este ano a acção “Participe no Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes e ganhe Vales de Compra no Comércio Local”.

Esta campanha consiste na atribuição de vales de compras no valor de 5€ para o comércio local, a cada participante que adquira um bilhete para o evento “Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes”. O Vale só pode ser descontado em compras iguais ou superiores a 20€ nos estabelecimentos aderentes.

A entrada no evento tem um valor de 10 euros por dia ou 15 euros para os dois dias de visita. No dia 29, o horário de funcionamento é das 15h00 às 20h00, e no dia 30, das 15h00 às 19h00.

Lista de Expositores presentes no evento:

ADEGA DE CANTANHEDE

ADEGA DE FAVAIOS

ADEGA RAMA

ALIANÇA

ALIEIXO WINES – REAL CAVE DO CEDRO

APLAUSO & REGATEIRO & PEDRA CANCELA

ATAÍDE SEMEDO

BIRTUDES

BORLIDO

CAMPOLARGO

CASA DO CANTO

CASA DOS AMADOS

CAVE CENTRAL DA BAIRRADA

CAVES ARCOS DO REI

CAVES DA MONTANHA

CAVES PRIMAVERA

CAVES SÃO DOMINGOS

CAVES SÃO JOÃO

COOPERATIVA AGRÍCOLA DO TÁVORA – ESPUMANTES TERRAS DEMO

ENCONTRO / CABRIZ / CASA DE SANTAR VINHOS

FUNDAÇÃO EUGÉNIO DE ALMEIDA

GALLIUS – BRUTO NATURAL

GIZ

KOMPASSUS BOUTIQUE WINERY

LENDA E MORGADO DO BUSSACO

LUÍS PATO

MARIA CARVALHEIRA – CARVALHEIRA WINECREATORS

MESSIAS FAMILY WINES & ESTATES

MURGANHEIRA

PEDRA SÓ

PGA – TRABUCA

PRIOR LUCAS VINHOS

QUATRO CRAVOS

QUINTA DA ATELA

QUINTA DA LABOEIRA

QUINTA DA LAGOA VELHA

QUINTA DA MATA FIDALGA

QUINTA DAS BÁGEIRAS

QUINTA DE SANTA CRISTINA

QUINTA DO ORTIGÃO

QUINTA DO PERDIGÃO

QUINTA DOS ABIBES

RAPOSEIRA

RIBEIRO SANTO

SOALHEIRO

VÉRTICE

VINHA DAS PENICAS

VINHOS ANTÓNIO MARINHA

VINHOS SIDÓNIO DE SOUSA

 

Enoturismo: Madeira – Uma pérola cheia de surpresas

Enoturismo Madeira

A ilha da Madeira oferece, aos seus visitantes, uma experiência única e bastante diversificada no que se refere ao turismo vitinícola. Para além de permitir mergulhar a vista em paisagens de sonho e absorver uma cultura vínica ancestral, o seu principal encanto é precisamente a possibilidade de uma vivência de experiências contrastantes, todas elas ricas […]

A ilha da Madeira oferece, aos seus visitantes, uma experiência única e bastante diversificada no que se refere ao turismo vitinícola. Para além de permitir mergulhar a vista em paisagens de sonho e absorver uma cultura vínica ancestral, o seu principal encanto é precisamente a possibilidade de uma vivência de experiências contrastantes, todas elas ricas de histórias e autenticidade.

Estamos em presença de uma nova forma de conhecer a ilha, desfrutando de espaços que oferecem serviços e funcionalidades que podem ir de uma simples visita com prova de vinhos, a actividades recreativas, passando por experiências eno-gastronómicas e alojamentos em sítios idílicos. Há de tudo, para todos os gostos e (quase) todas as bolsas e não faltam bons exemplos de novas abordagens e descobertas inovadoras. Nesta edição trazemos ao leitor a primeira parte de uma visita memorável.

Boneca de Canudo

Foi no meio de uma disputa familiar sobre o destino a dar a uma pequena  parcela de vinha em Santo da Serra, pitoresco vilarejo dividido entre os concelhos de Santa Cruz e Machico, que Elsa Franco, engenheira civil de formação, impôs a sua vontade de se dedicar à produção de vinhos tranquilos e, depois, de vinhos da Madeira. A expressão zombeteira com que foi, na altura, mimoseada – “Lá vem esta boneca de canudo” – serviu de mote e inspiração ao projecto, que hoje lidera com visível orgulho.

Como acontece quase sempre na Madeira, estamos a falar de pequenas áreas de vinha que totalizam 13 hectares, divididas por Santo da Serra, Machico e Ponta do Sol. Tudo começou em 2006, quando Elsa Franco começa a conversão das vinhas para produzir vinhos secos: Touriga Nacional, Merlot e Syrah são as tintas escolhidas. Nas brancas mantém o tradicional Verdelho, mas arrisca a inovação de introduzir o Chenin Blanc. Em 2013 faz a sua primeira vindima e, no ano seguinte, começa a comercialização dos primeiros vinhos produzidos, apenas 500 garrafas. No processo de produção Elsa teve o apoio da Justino’s, mas está em projecto a edificação de um nova adega em Machico, daqui a três anos. Entretanto uma nova experiência, com uvas da casta Caracol vindas da ilha de Porto Santo, permitiu fazer, em 2022, um vinho branco singular que, parafraseando o poeta, “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. O próximo passo é a produção de um vinho Madeira nas versões de meio doce e meio seco que tivemos oportunidade de provar. A intenção de crescer é evidente e a distribuição, que até agora tem estado confinada a alguns restaurantes na Madeira, arrisca agora na exportação e no mercado do continente, de que a sua presença na última edição da feira Grandes Escolhas Vinhos & Sabores foi um exemplo de vontade.

Na Boneca de Canudo, o Enoturismo ainda está a dar os primeiros passos. Disponível para já estão as instalações de Santo da Serra, onde estivemos, em que o visitante pode ter uma experiência com visita às vinhas e ao pomar, uma prova de vinhos acompanhada por pão caseiro, queijos, enchidos e frutos secos, para além de chocolates próprios, azeite e mel.

Boneca de Canudo

Morada: Santo da Serra, Machico

E-mail: geral@bonecadecanudo.com

Tel.: + 351 969 237 520

Prova de Essência – Inclui vinhos, queijos, enchidos regionais, pão e frutos secos: 25€

Enoturismo Madeira

A oferta inclui visita às vinhas e ao pomar e prova de vinhos acompanhada por pão caseiro, queijos, enchidos e frutos secos, para além de chocolates próprios, azeite e mel

Quinta de Santa Luzia

Nos arredores do Funchal, dispondo de uma vista soberba sobre a cidade e a baía, a Quinta de Santa Luzia é uma propriedade agrícola na posse da família Blandy há quase 200 anos (adquirida em 1826). Possui uma pequena área de vinha arrendada, de apenas um hectare, num patamar ligeiramente inclinado de rara beleza. As vinhas são destinadas à produção de vinho da Madeira, pelo que as castas plantadas são as tradicionais: Terrantez, Sercial, Boal e Verdelho, sendo que estas duas últimas são as mais adaptadas ao local. Integrada nesta propriedade está a unidade de Agro Turismo denominada Quinta das Malvas, que possui alojamento com seis quartos com nomes de ervas aromáticas e mais uma villa independente com oito quartos. No dia da nossa visita fomos recebidos e guiados, num curto mas interessente passeio, por Emily Blandy, responsável pelo Enoturismo da Madeira Wine Company, de que a Blandy’s faz parte.

A propriedade, vocacionada para o turismo de qualidade, revela uma natureza acolhedora, onde o verde da paisagem e o azul do Atlântico, a majestade das frondosas arvores centenárias, os pitorescos recantos dos seus jardins e a arquitectura inglesa colonial dos vetustos edifícios compõem uma atmosfera singular de charme, convidativa à contemplação e ao lazer.

O empreendimento disponibiliza um conjunto alargado de serviços, que começa na prova clássica de quatro vinhos Madeira Blandy’s 10 anos, Sercial, Verdelho, Boal e Malvasia, com o custo por pessoa de 37,50€, Estão ainda disponíveis outras provas de vinho Madeira, como verticais de Verdelho e Boal com 5, 10 e 15 anos, para além do Colheita de 2011, ao preço de 60€. Pode ainda o turista usufruir de refeições privadas para pequenos grupos, confecionadas pelo chefe Filipe Janeiro, com seis momentos, harmonizadas com os vinhos tranquilos Atlantis, depois de visita guiada à quinta, pelo custo unitário de 195€. Na época própria há ainda possibilidade de programas de vindimas com a duração de quatro horas, almoço incluído. Na mansão Quinta das Malvas, renovada em 2004,  vigora o sistema de bed and breakfast, com utilização opcional de cozinha e outros equipamentos e a possibilidade de marcação de sessões de massagens e yoga.

Quinta de Santa Luzia

Morada: Rua de Santa Luzia, 113, Funchal

Site: www.quintadesantaluzia.com/pt

Tel. : + 351 291 281 663

Programas de provas de vinhos, visitas, refeições, a partir de 37,50€ por pessoa. Estadia na Quinta das Malvas em regime de bed and breakfast a partir de 90€ (época baixa)

 

Nos arredores do Funchal, dispondo de uma vista soberba sobre a cidade e a baía, a Quinta de Santa Luzia é uma propriedade agrícola na posse da família Blandy há quase 200 anos

Quinta das Vinhas

No Estreito da Calheta, encosta sul da ilha, a Quinta das Vinhas é uma propriedade com cerca de quatro hectares, pertença da família Welsh desde o século XVII. Existe documentação que situa o ano de 1675 como aquele em que esta família de ascendência inglesa tomou posse da propriedade. Esteve, desde sempre, ligada à actividade agrícola, primeiro com o cultivo da cana de açúcar e mais tarde com vinha. Nas primeiras décadas do século XX, a quinta esteve alugada ao Instituto do Vinho da Madeira, que ali implantou um campo ampelográfico experimental com a finalidade de estudar adaptação das diversas castas ao terroir da Madeira. Foi este projecto que permitiu a plantação de cerca de 70 castas vínicas e de sobremesa espalhadas por diversas parcelas e pequenos patamares,  que deu justificação ao nome que hoje ostenta. Este contrato durou até 2017, findo o qual as vinhas passaram para o controlo dos donos, que lhe imprimiram uma orientação diferente convertendo-as em biológicas seguindo os princípios da biodinâmica. Na fase actual, segundo explicou Isabel Freitas, responsável pela gestão da propriedade, procura-se um compromisso entre a preservação da herança recebida e a sua exploração, com fortes preocupações ambientais. Isto significa uma avaliação cuidada e permanente da viabilidade das diversas castas, perante condições particulares de humidade entre 60 e 70%, privilegiando, naturalmente, aquelas que demonstram mais aptidão para a produção de vinhos de qualidade.

Em 2021 foi lançado o primeiro vinho fruto da agricultura biológica, um branco Verdelho da marca Fanal, um projecto experimental feito em colaboração com a Justino’s, a que se seguiu, em 2023, um blend de Verdelho e Boal. Em sentido inverso, as castas Terrantez e a Tinta Negra têm sido abandonadas por inaptidão, enquanto aposta recente aponta para o Bastardo e Malvasia Cândida. Comum a estes desenvolvimentos é a preocupação permanente de respeitar o ecossistema e introduzir a biodiversidade, ao mesmo tempo que se adicionam, através de aquisição, novas parcelas de vinhas à propriedade.

Mas a Quinta das Vinhas está hoje longe de se esgotar na sua vertente agrícola. Em 1997, os proprietários procederam à recuperação da Casa Mãe e a receber, a partir daí, os seus primeiros hóspedes. Depois da restauração do edifício principal e de um outro anexo, foram recuperadas ou construídas de raiz novas habitações, chamadas Casinhas Mezanines, com quarto e kitchenette e Apartamentos mais amplos para famílias numerosas, espalhadas pelos socalcos, proporcionando alojamentos familiares independentes que garantem comodidade, mesmo para estadias mais longas, e a privacidade que o perfil dos turistas reclama. Todos os quartos estão virados a sul e têm vista para o jardim e/ou vinha, e os dos pisos superiores têm também vista para o mar. Os quartos do andar térreo da casa principal oferecem, aos hóspedes, acesso direto ao terraço e à área da piscina. No total a quinta pode alojar até 70 hóspedes. Os quartos do anexo têm vistas sobre a vinha e o mar e uma área de estar privada no exterior. Pormenor curioso revelador da filosofia do projecto é a ausência de televisão em todos os quartos. O Restaurante Bago, localizado no topo da quinta, completa a oferta turística da propriedade, oferecendo uma esplanada com vista sobre a vinha até ao mar. Aberto aos jantares, pratica uma cozinha de fusão com toque local. O visitante, além das refeições, pode fazer provas de vinhos produzidos exclusivamente a partir das uvas da quinta.

Quinta das Vinhas

Morada: Estrada Regional 223, 136, Calheta

Tel.: +351 291 824 086

E-mail: infoqdvmadeira.com

Provas de três vinhos a partir de 25€.

Restaurante aberto diariamente a partir das 17:00 horas para chá e bebidas e. a partir das 18:00. para jantares. Alojamentos a partir de 120€

Enoturismo Madeira

No Estreito da Calheta, encosta sul da ilha, a Quinta das Vinhas é uma propriedade com cerca de quatro hectares, pertença da família Welsh desde o século XVII

 HM Borges

Em pleno centro do Funchal situa-se uma das mais conhecidas empresas de produção de vinho da Madeira, a H. M. Borges. Fundada em 1877 por Henrique Meneses Borges, mantém-se, desde essa data, na posse da mesma família. Hoje, na direcção da casa encontram-se duas primas, Helena e Isabel Borges, representantes da quarta geração. O edifício contempla, no mesmo espaço físico, a sede social, o centro de visitas, caves de envelhecimento e uma loja. Está em funcionamento numa das ruas mais movimentadas da cidade desde 1924.

É um local cheio de história e tradição, onde o visitante pode mergulhar no mundo fantástico do vinho da Madeira. A casa não dispõe de vinhas próprias e compra, a mais de 100 viticultores, as uvas necessárias à produção do vinho fortificado. O centro de visitas está preparado para receber, em simultâneo, dezenas de turistas, proporcionando, a todos, um programa que começa com a apresentação da história da casa e do vinho da Madeira, e continua com a visita às caves e uma prova de vinhos no final. É ali que o visitante fica a conhecer os detalhes que fazem, do Madeira, um dos grandes vinhos fortificados do mundo. São pormenores como a condução das vinhas em latadas ou pérgolas, o sistema de condução das videiras típico da ilha, que permite a utilização dos solos por outras culturas, o trabalho dos borracheiros, assim chamados aos homens que transportavam o vinho às costas dentro de um recipiente em pele e, sobretudo, o processo de estufagem indispensável ao seu amadurecimento e envelhecimento.

É impossível esquecer a história do vinho de roda que,  depois de uma longa viagem marítima, cruzando os trópicos, voltava à casa de partida com qualidades em aromas e sabor que não tinha quando embarcava. A estufagem do vinho, em grandes tanques, elevando a sua temperatura a 35ºC durante 90 dias, tenta reproduzir, nas condições das caves, os maus tratos dessa infeliz/feliz viagem, Este processo, utilizado para vinhos de entrada de gama, feitos a partir da casta Tinta Negra até três anos de idade, é substituído, para os vinhos das castas nobres,  com objectivo de maior tempo de envelhecimento, pelo método de canteiro, em que o vinho envelhece natural e lentamente nas barricas colocadas em locais com  exposição ao calor.

A visita à cave, com os seus grande tonéis e pilhas de barricas amontoadas em altura, não deixa de impressionar o visitante que percebe, assim, o trabalho e esforço por detrás do famoso vinho. As provas de estão disponíveis na modalidade Silver (15€) para vinhos de três e 10 anos, Gold (17,50€) para vinhos de cinco e 15 anos e Diamond (34€) para seis vinhos da Madeira desde os cinco anos, chamados Frasqueiras, vinhos com mais de 20 anos de envelhecimento.

H.M. Borges

Rua 31 de Janeiro, 83, Funchal

Site: www.hmborges.com

Tel. : + 351 291 223 247

Visita e provas de vinhos desde 15€

O centro de visitas proporciona um programa que começa com a apresentação da história da casa e do vinho da Madeira, e continua com a visita às caves e uma prova de vinhos no final

 

 

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)

Quinta das Bágeiras: De pai para filho…

Quinta das Bágeiras

Mário Sérgio é um homem instintivo e sonhador. A família, desde sempre, foi a argamassa que o moldou e transformou naquilo que o define hoje, um agricultor criador de vinhos enormes. A notoriedade jamais lhe toldou o raciocínio. É na família que encontra a segurança e daí nunca ter adquirido uma propriedade sem antes ter […]

Mário Sérgio é um homem instintivo e sonhador. A família, desde sempre, foi a argamassa que o moldou e transformou naquilo que o define hoje, um agricultor criador de vinhos enormes. A notoriedade jamais lhe toldou o raciocínio. É na família que encontra a segurança e daí nunca ter adquirido uma propriedade sem antes ter a bênção de Abel, seu pai.
Bernardo, dandie errante que passou pela Bairrada, tinha uma estima profunda pela Quinta das Bágeiras. Encontrado por Mário Sérgio a trabalhar no Mugasa, na aldeia da Fogueira, em boa hora o leva para junto de si, assumindo quase uma função de seu cuidador. Versado no inglês falado e escrito, foi um importante impulso aos primeiros tempos, permanecendo nas Bágeiras até ao seu fim terreno.

Nos últimos tempos de vida, Bernardo insistia com veemência para que Mário Sérgio comprasse uma determinada vinha em Mogofores. Uma insistência que, no entanto, não lhe aguçou a curiosidade. O assunto foi esmorecendo e acabou esquecido. Num frio dia de Dezembro, Bernardo entrega-se ao Criador e vai a enterrar, com a família das Bágeiras a acompanhá-lo até à sua derradeira casa. Nesse mesmo dia, alguém se aproxima de Mário e diz-lhe: “Sr. Mário, tenho uma vinha para vender, mas a minha família só aceita vendê-la se for a si”. Mário estranhou a abordagem, hesitou, mas disse que, no dia seguinte iria vê-la com o seu pai. Dito e feito, logo pela manhã puseram-se a caminho e, lá, encontraram a vinha que Bernardo lhe havia confidenciado desejar que adquirisse, situada num local mágico que tantas vezes Mário via de longe e dizia para o seu pai, “ainda vamos ali comprar uma vinha!”. E o que a torna ainda mais especial? As suas características de composição de solos, exposição solar e orientação são absolutamente siamesas à sua vinha de Ancas, donde nasce… o Pai Abel tinto.

Transição geracional

A apresentação comemorativa dos 35 anos da Quinta das Bágeiras, ocorrida por estes dias, marca o início de uma transição geracional. Desde 1989 e até ao seu falecimento, Rui Moura Alves foi o enólogo assumido das Bágeiras. O “Sr. Rui”, não sendo enólogo de formação, praticou-a, desde os anos 60 nas mais prestigiadas casas da Bairrada, algumas entretanto desaparecidas. Com ele nasciam vinhos austeros, fermentados com engaço, duros e bem protegidos da oxidação. Se, nos primeiros anos, eram difíceis e exigentes, volvidos muitos e muitos anos, como que renasciam para mostrar todo o encanto longevo da Bairrada. E, nas últimas três décadas, foi esse o perfil intransigente que transmitiu aos vinhos e espumantes. Somente nos últimos anos se tornou mais permissivo, passando a ouvir Mário Sérgio e a interpretar nos vinhos os seus desejos. Provavelmente, sentia-o, somente agora, preparado para seguir o seu caminho.

Entretanto, Frederico Nuno, o filho de Mário, licencia-se em enologia e passa a acompanhar mais de perto, não apenas a feitura dos vinhos, mas todos os trabalhos de vinha, ainda monitorizados de perto pelo seu avô Abel. Pouco a pouco, é a sua formação e conhecimento técnico que vão deixando marca e, nos vinhos ora apresentados – Quinta das Bágeiras Grande Reserva 2019, Pai Abel branco 2022 e Pai Abel tinto 2017 – ela já é notória.
A transição ainda não é plena, mas a verdade é que já se sente uma outra mão que ajuda a embalar cada um deles. Não será uma mudança de estilo de uma casa que ostenta orgulhosamente a virtude de apenas produzir vinhos de uvas próprias, mas há um refinamento absoluto, transformando aquilo que anteriormente revelava algumas arestas, austeridade e cariz rústico, em vinhos quase imaculados e tocados pelo Divino.

Quinta das Bágeiras
o edifício e adega da Quinta das Bágeiras em Sangalhos.

Pai Abel 2017, na sua versão tinto, é uma edição limitada (1600 garrafas) de um vinho de apenas uma parcela. Num futuro próximo, este número reduzido de garrafas irá crescer, se a vinha siamesa da original de Ancas conferir à uva a qualidade que se lhe exige para aumentar a produção deste vinho de topo da casa. 2017 permitiu acuidade plena na escolha do dia perfeito para vindima. As chuvas chegaram tardiamente, já a tocar Novembro, fator que, na Baga se mostra fundamental para ajuizar um grande ano. Já a Touriga Nacional, que tempera levemente o vinho, não é dada a tais humores. Maior rigor, estágio longo em barricas avinhadas de 225 litros e um descanso de alguns anos em garrafa trouxeram-lhe a fineza e elegância que só o tempo e a região ajudam a transformar em vinhos de culto.

É no Pai Abel branco 2022 que se revela, de modo mais notório, a transição na enologia. Para Frederico Nuno, é no controlo de temperatura que se definem os pequenos detalhes daquilo que faltava fazer na Quinta das Bágeiras. Um refinamento que atinge o seu ponto alto num sublimado Quinta das Bágeiras Grande Reserva, um Bruto Natural da colheita de 2019, elaborado com as locais Maria Gomes e Bical, resultando naquele que, muito provavelmente, será o mais perfeito espumante alguma vez criado naquela aldeia da Fogueira.
De pai para filho, a Quinta das Bágeiras recria-se, refina-se, mantendo inamovível toda a solidez e princípios que definem a casa familiar que, nunca descurando as origens, vai definindo com segurança o futuro.

Nota: O autor deste texto escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)

Luís Sequeira é o novo presidente da Comissão Vitivinícola do Alentejo

Luís Sequeira

Luís Sequeira é o novo presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), sucedendo, no cargo, a Francisco Mateus, que liderava aquela estrutura desde 2015. A nomeação de Luís Sequeira, licenciado, mestre e doutorado em gestão, foi aprovada, durante este mês, por unanimidade, após “um processo de seleção e recrutamento iniciado no último trimestre do ano […]

Luís Sequeira é o novo presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), sucedendo, no cargo, a Francisco Mateus, que liderava aquela estrutura desde 2015.

A nomeação de Luís Sequeira, licenciado, mestre e doutorado em gestão, foi aprovada, durante este mês, por unanimidade, após “um processo de seleção e recrutamento iniciado no último trimestre do ano passado”, revela um comunicado da CVRA. O documento explica, também, que o novo responsável tem “uma carreira sólida e reconhecida no sector vitivinícola”, que começou em 1993 na Adega Cooperativa da Covilhã. Mais tarde foi director comercial e de marketing da empresa de vinho do Porto A. A. Cálem, que agora integra o Grupo Sogevinus, antes de passar, em 2001, para outro grupo do mesmo sector, o The Fladgate Partnership, que detém as marcas de vinho Porto Taylor’s, Fonseca e Croft, onde fez parte do Conselho de Administração desde 2009, assumindo a direção-geral da divisão de vinhos.

Desde 2012, é também professor no Instituto Superior de Gestão (ISG), em Lisboa, e, em 2016, tornou-se membro da direcção da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP).

Criada em 1989, a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana é responsável pela proteção e defesa da Denominação de Origem Controlada (DOC) Alentejo e da Indicação Geográfica Alentejano, certificação e controlo da origem e qualidade, promoção e fomento da sustentabilidade.

FOZ TUA: Costurar vinhos no Douro

FOZ TUA

O percurso entre Alijó e a foz do Tua faz-se estrada abaixo, percorrendo a serpenteante EN 212. Deixando para trás São Mamede de Ribatua, olhamos sobre o ombro esquerdo e somos engolidos pela impressionante beleza dos socalcos do Douro, esculpido a golpes de picareta e teimosia dos homens que transformaram uma região inóspita numa paisagem […]

O percurso entre Alijó e a foz do Tua faz-se estrada abaixo, percorrendo a serpenteante EN 212. Deixando para trás São Mamede de Ribatua, olhamos sobre o ombro esquerdo e somos engolidos pela impressionante beleza dos socalcos do Douro, esculpido a golpes de picareta e teimosia dos homens que transformaram uma região inóspita numa paisagem única no Mundo. Há muitos anos, João Fernandes percorria quase todos os fins de semana estas mesmas estradas em busca de um segundo “Shangri-La”. O primeiro, havia-o descoberto José António Ramos Pinto Rosas, na sua Quinta da Ervamoira muitos anos antes.

FOZ TUA

A paixão de apreciador foi algo conquistada há cerca de uma vintena de anos, quando, finalmente, começou a ter tempo para dedicar aos seus.

CRESCIMENTO EMPRESARIAL

De origens humildes, João Fernandes nasce numa família onde à mesa não havia fartura. Eram onze os irmãos que partilhavam uma casa e a infância era fidalguia que não lhes estava destinada. Olhando para trás, João sabia que só com ligeireza e muito trabalho havia de singrar na vida. Na sua Barcelos natal terminavam-se os poucos anos de estudo e só havia duas alternativas, arranjava-se trabalho na indústria têxtil ou emigrava-se para França, como alguns dos seus irmãos fizeram. A escola da vida ensinou-o bem, moldando-lhe a têmpera para percorrer todos os setores da indústria de confeção, onde, quando chegou a cargos de chefia, já dominava todo o processo de fio a pavio. A emancipação chega há 40 anos, quando, à semelhança de outros, cria a sua primeira empresa de confeção numa pequena garagem. O resto é uma história de crescimento empresarial, com alguns dissabores pelo meio, fruto das cíclicas crises do setor. Já chegou a empregar quase 200 pessoas nas suas empresas, mas hoje centra-se somente no setor têxtil de luxo, criando peças de vestuário para algumas das mais renomadas marcas mundiais.

A chegada ao mundo da produção de vinhos vem por estrada. A paixão de apreciador foi conquistada há cerca de uma vintena de anos quando, finalmente, começou a ter tempo para se dedicar aos seus. Os fins de semana faziam-se pelas curvas do Douro, iniciando uma busca de algo que apenas o seu interior compreendia. Ao longo dos anos, percorreu todas as pequenas aldeias do Baixo Corgo ao Douro Superior. Ganhou a confiança dos locais, que lhe abriam as suas portas e, tantas vezes, lhe davam a provar verdadeiros tesouros guardados em cascos centenários no escuro de adegas sem história. Será este vivenciar de perto o Douro profundo que faz crescer em si uma indómita vontade de ali ter um pedacinho de terra a que pudesse chamar sua, cultivando vinha, plantando laranjeiras e oliveiras, mas, sobretudo, e ainda timidamente, fazendo nascer um grande vinho duriense.

O achamento dá-se em 2014, quando um telefonema o alerta para umas parcelas de vinha que estariam para venda na zona do Tua. A inquietude e uma certa aura mística levaram-no a pensar, ainda sem conhecer o local, que podia estar perante a oportunidade de uma vida. Foi o sexto sentido que tantas vezes o impulsionou nos negócios que o levou a não adiar a viagem de Barcelos ao Douro. A mesma EN 212 levou-o ao local onde era aguardado. Uma vista de sonho de vinhedos, plantados ainda durante os anos 80, que vão encontrar o Tua a abraçar o Douro. Pelo meio, ladeado por muros de xisto, um mar de laranjais e olival. Nesse dia descobriu que há beleza que vale todo o dinheiro do Mundo e, não olhando a tostões, apalavra o negócio concretizando-o rapidamente.

 

Com o encepamento distribuído pela trilogia mágica duriense – Touriga Nacional, Touriga Francesa e Tinta Roriz – a principal preocupação nestas parcelas é a concentração e a preservação do poderio da fruta.

 

A adega, edificada no século XIX, teve um passado ilustre. Nos primórdios, foi uma das muitas unidades de vinificação de vinho do Porto de D. Antónia Adelaide Ferreira.

 

A ADEGA DURIENSE
“E agora, o que fazemos com estas vinhas?”

A pergunta de reação ao impulso do industrial João Fernandes, surge do filho César, arquiteto de formação que, inicialmente, terá ficado com um ligeiro temor daquela compra. Nunca tinham feito um litro de vinho na vida e, agora, eram proprietários de mais de 3 hectares de vinhedos num local de exceção que, desde o século XVIII, produzia uvas para o vinho do Porto. A sorte e a fortuna bateram-lhes à porta quase de imediato. Se, no ano da aquisição, em 2014, a vinificação e estágio dos vinhos foram uma verdadeira aventura, com as uvas a serem transportadas para Valdigem (Baixo Corgo), sob coordenação da equipa de enologia de então, logo em 2015, é-lhes servida a possibilidade de adquirir à Sogrape uma adega a poucas centenas de metros das vinhas. Desativada desde os anos 90 e parcialmente em ruínas, a adega da Rua dos Ferroviários, paredes meias com a linha do Tua e vista sobre o Douro, parecia feita à medida das necessidades de vinificação da empresa Foz do Tua. Edificado no século XIX, o edifício teve um passado ilustre. Nos primórdios, foi uma das muitas unidades de vinificação de vinho do Porto de D. Antónia Adelaide Ferreira. De lá para cá, esteve nas mãos da Cockburn`s, Sandeman e terminou a sua vida ativa na posse da Sogrape, que a aliena à família Fernandes.

Com lagares de pedra no piso superior e grandes toneis no piso térreo, parcialmente em ruínas, a adega era agora uma tela em branco, ávida por ser delineada com arte e criatividade. Para César, ainda totalmente dedicado ao design e arquitetura de recuperação, o edifício era um daqueles desafios em que o ouro reluz sobre o azul.
Desenhar uma adega devidamente apetrechada e perfeitamente funcional foi conciliado com a preservação do edificado, ao qual se mantiveram todas as características da traça original, nomeadamente o travejamento das coberturas. O espaço foi maximizado com a demolição de cinco das sete cubas de cimento ali existentes, cada uma delas com capacidade de vinificação superior à produção atual do produtor. As cubas que se mantiveram foram transformadas em laboratório, cozinha e cafetaria. No piso superior permaneceram intactos os três lagares de pedra, um deles adaptado com aço inox e sistema de refrigeração das massas.

Por ora, a capacidade de vinificação não ultrapassa os 30 mil litros. Os tintos reinam, ou não fosse este o território por excelência para a produção de vinhos do Porto. Com o encepamento distribuído pela trilogia mágica duriense – Touriga Nacional, Touriga Francesa e Tinta Roriz – a principal preocupação nestas parcelas onde os verões fazem jus ao ditado “Nove meses de inverno, três de inferno”, é a concentração e a preservação do poderio da fruta. Convenhamos, criar vinhos de baixo teor alcoólico no Douro Superior é uma bizarria sem sentido!
DouTua, Foz Tua e o topo de gama Costureiro, são as marcas comercializadas pela empresa. O Costureiro tinto, cuja primeira edição nasce em 2016, surge de uma justa homenagem à tradição têxtil de Barcelos. É um vinho de memórias que apenas é lançado nos anos verdadeiramente excecionais, em que a conjugação dos elementos naturais e humanos (sim, aqui vive-se a escassez séria de mão de obra para trabalhar a vinha e a uva tem humores muito próprios, carecendo de ser vindimada no seu ponto perfeito, na hora ideal) proporcionam a criação de vinhos marcantes. Com a edição de 2018 a terminar o seu tempo de vida nos mercados, surge agora o 2019 que, como todos os vinhos respeitadores da sua origem, traduz todo o encanto do ano vitícola.

Não existindo castas brancas no encepamento da Foz do Tua, optou-se por trazê-las dos Altos. Ali, ao redor de Alijó, onde as vinhas se encontram nas cotas mais elevadas do Douro, entre os 600 e os 700 metros de atitude, celebraram-se acordos de cavalheiros com um número reduzido e muito confiável de viticultores, que fornecem Viosinho, Gouveio e também um pouco de Arinto, que compõem os lotes a partir dos quais se elaboram os DouTua e Foz Tua Reserva branco. Na forja, ou como quem diz, na barrica (carvalho francês com capacidade de 500 litros), encontra-se o futuro Costureiro branco, naquela que será a sua primeira edição, ainda sem data de comercialização.

FOZ TUA

 

FUTURO COM ENOTURISMO

A empatia de César Fernandes com a reabilitação e construção urbana fazem-no sonhar acordado com uma vertente mais ambiciosa de enoturismo, incluindo a construção de uma pequena unidade de alojamento, complementar à sua adega “boutique”. A linha do Tua traz ali o tão desejado turismo, cabendo uma fatia muito relevante aos viajantes internacionais. Com loja aberta e provas temáticas no programa de visitas, as boas intenções de expansão resvalam sempre nas dificuldades inerentes à escassez de mão de obra para trabalhos mais qualificados, seja para construção, seja para assessorar o enoturismo.

O Douro, ainda assim, é um verdadeiro diamante por lapidar, um gigante adormecido com potencial para ser um dos mais significativos e exclusivos destinos de Portugal. A família Fernandes e a Foz do Tua estão a fazer a sua parte para o acordar, criando vinhos que nos perpetuam a sua memória.

Nota: o autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)