Promovida pelo Município de Torres Vedras, em colaboração com a Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, decorreu, no dia 18 de Fevereiro, uma acção de formação subordinada à temática: “Elaboração de carta de vinhos: princípios base”. Organizada no âmbito do programa Formação +Próxima, a iniciativa, que contou com a presença de 17 formandos, foi […]
Promovida pelo Município de Torres Vedras, em colaboração com a Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, decorreu, no dia 18 de Fevereiro, uma acção de formação subordinada à temática: “Elaboração de carta de vinhos: princípios base”.
Organizada no âmbito do programa Formação +Próxima, a iniciativa, que contou com a presença de 17 formandos, foi dedicada a empresários, empreendedores, gestores e profissionais da área da Hotelaria e Restauração.
Nela foi abordada a temática da elaboração de carta de vinhos, com o objectivo de capacitar para compreender e aplicar conhecimentos essenciais sobre os vinhos.
Para além da identificação dos mitos mais comuns sobre os vinhos, do entendimento do vocabulário essencial e da capacitação dos profissionais para realizar degustações e apreciações de vinhos, temas como o terroir e o carácter do vinho fizeram parte do conteúdo desta formação, feita para promover um olhar mais profundo sobre os vinhos e as suas características únicas.
O programa Formação +Próxima é uma iniciativa do Turismo de Portugal, desenvolvido pelas escolas do turismo em parceria com as autarquias locais.
A Adega do Cartaxo lançou recentemente dois vinhos monocasta com a marca Tejo. Inspirada no grande rio da Península Ibérica que atravessa a região onde foram produzidos, a nova referência irá incluir os vinhos mais experimentais desta adega do Tejo, criados sob a batuta de Pedro Gil, o seu enólogo. “Sempre fui adepto da inovação […]
A Adega do Cartaxo lançou recentemente dois vinhos monocasta com a marca Tejo. Inspirada no grande rio da Península Ibérica que atravessa a região onde foram produzidos, a nova referência irá incluir os vinhos mais experimentais desta adega do Tejo, criados sob a batuta de Pedro Gil, o seu enólogo. “Sempre fui adepto da inovação e da procura de produtos diferenciados, algo que é agora possível devido à tecnologia que possuímos”, disse, durante o evento de lançamento, que decorreu no Centro Cultural de Belém.
A nova marca, que procura salientar a importância que o rio Tejo teve, e ainda tem, para a região, inclui, desde já, dois vinhos de nicho. Trata-se de um branco da casta Fernão Pires, produzido com bastante extracção, e um tinto de Castelão, outra das castas mais representativas da região, com pouca extracção. Segundo Pedro Gil, foram produzidos a partir de uvas colhidas na zona do Bairro, da região do Tejo. As que deram origem ao primeiro foram vindimadas à máquina e ficaram a macerar durante três dias, antes de serem fermentadas em barricas de carvalho francês e de o vinho estagiar durante quatro meses sobre borras finas com battonnâge. “É um branco que vai de encontro às tendências do mercado, que os quer mais intensos e com mais extracção”, explicou, o enólogo, durante o evento de apresentação da marca. “A fim de se obter um tinto frutado e fresco, para beber com prazer e sem preocupação, o Castelão foi colhido mais cedo. Seguiu-se uma vinificação menos extrativa, após maceração a frio também durante três dias”, acrescentou.
Pedro Gil, enólogo da Adega do cartaxo
Vinhos de nicho
Com a nova marca, passará a ser possível ter um Tejo (região e marca) à mesa, referência que inclui vinhos de nicho que resultam do trabalho experimental que está a ser realizado, na Adega do Cartaxo, por Pedro Gil. “É mais um passo do compromisso com a região e uma homenagem ao seu terroir e ao rio que a atravessa”, disse, por seu turno, Fausto Silva, o director comercial da Adega, acrescentando que “o design dos rótulos mostra uma imagem limpa mas marcante, desprovida de elementos gráficos, que destaca o Tejo e o gradientes de cores com que nos brinda ao longo do dia.”.
Tal como aconteceu no Douro, o Tejo teve um papel importante para os vinhos da região que atravessa, e para os da adega do Cartaxo em particular, que eram encaminhados, depois de produzidos, para o grande curso de água para serem transportados, em barcos varinos, até Lisboa e de lá para as ex-colónias. Durante muito tempo, a capital foi alimentada, deste forma com vinhos e outros produtos ribatejanos. É isso que a Adega do Cartaxo procura continuar a fazer, com vinhos mais experimentais e inovadores.
A mostra, que reúne, este ano, 28 produtores com vinhos certificados com selos de garantia de qualidade DOC do Tejo e IG Tejo, é promovida pela Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo) desde 2019. O Tejo a Copo 2025 mantém a lógica introduzida no ano passado, com horário alargado e a manhã a ser […]
A mostra, que reúne, este ano, 28 produtores com vinhos certificados com selos de garantia de qualidade DOC do Tejo e IG Tejo, é promovida pela Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo) desde 2019.
O Tejo a Copo 2025 mantém a lógica introduzida no ano passado, com horário alargado e a manhã a ser de acesso exclusivo a profissionais do sector. Entre as 11h00 e as 13h00, o Convento de São Francisco vai estar reservado a produtores de vinho da região, representantes de restaurantes, garrafeiras, lojas de vinhos e media.
As portas abrem-se ao público entre as 15h00 e as 20h30, num evento de entrada livre. Mas o acesso à degustação dos vinhos implica a compra do copo.
A edição deste ano volta a ter uma loja de vinhos dedicada aos produtores presentes no Tejo a Copo. Assegurada pela Rota dos Vinhos do Tejo, vai ter dois vinhos de cada produtor, à venda por preços especiais e com portes de envio gratuitos para Portugal Continental e na compra de seis ou mais garrafas.
Os petiscos vão estar a cargo do chefe Rui Lima Santos, proprietário do Deselegante, restaurante que abriu em 2024 em Santarém e a animação musical está garantida com a atuação da banda The Singles e do DJ Fernandinho ao vivo.
Para além da prova livre, feita em exclusivo com copo do evento, vão decorrer as habituais provas comentadas pelo sommelier e embaixador dos Vinhos do Tejo, Rodolfo Tristão. Irão dar a conhecer e provar o que há de novo em relação às castas rainhas da região, Fernão Pires e Castelão, e mostrar vinhos com vinificações mais disruptivas, como pet nat, orange wine, curtimenta e ânfora com certificação e selos de garantia de qualidade DOC do Tejo e IG Tejo.
Para além do evento que decorre em Santarém, o Tejo a Copo irá decorrer este ano também em Tomar, no dia 11 de Outubro, evento que terá as portas abertas das 15h00 às 20h30.
TEJO A COPO 2025
Data: Sábado, dia 08 março de 2025
Horário: 11h00 às 13h00 (exclusivo para profissionais); 15h00 às 20h30 (aberto ao público)
Local: Convento de São Francisco, em Santarém
Entrada: Livre // Preço do copo de prova: €7,5
A presença humana nestes territórios perde-se na memória dos tempos, remontando ao neolítico o cultivo agrícola e a pastorícia. A terra convidava a “assentar”, a criar laços comunitários. Afinal, são os solos mais produtivos da Beira, dotados de condições excecionais para o plantio da vinha, dada a qualidade dos solos e abundância de água. Hoje, […]
A presença humana nestes territórios perde-se na memória dos tempos, remontando ao neolítico o cultivo agrícola e a pastorícia. A terra convidava a “assentar”, a criar laços comunitários. Afinal, são os solos mais produtivos da Beira, dotados de condições excecionais para o plantio da vinha, dada a qualidade dos solos e abundância de água.
Hoje, é a maior mancha contínua de vinha da região do Dão que nos surge defronte dos olhos na nobre e histórica Vila de Santar. São mais de 110 hectares de vinhedos que se estendem por um vale encimado pela Vinha dos Amores e Alto dos Amores. É nesta parcela da Vinha dos Amores que nascem os mais exclusivos vinhos da Global Wines, proprietária também da Quinta de Cabriz e Paço dos Cunhas de Santar, no Dão, da Quinta do Encontro, na Bairrada, e da Herdade do Monte da Cal, no Alentejo.
Com recentes mudanças na direção de enologia, agora liderada por Paulo Prior, bairradino oriundo do Centro de Vinificação da Sogrape, em São Mateus, Anadia, e, na direção comercial, com Nuno Abreu, que deixou a Sogevinus para se juntar ao grupo sedeado em Carregal do Sal, sopram novos ventos em Santar, ainda que refreados pelo cariz clássico a que a marca se impõe, tendo, nessa conceção, a principal forma de afirmação no mercado nos últimos anos.
Paulo Prior, director de enologia da Global Wines, empresa proprietária da Casa de Santar.
A VINHA DOS AMORES COMO CHANCELA
A Vinha dos Amores surge no promontório Norte de uma propriedade que se estende por mais de 100 hectares. Do alto, a uma cota de 400 metros, a vinha estende-se por 13,5 hectares, num ligeiro declive com exposição a Norte, o que a torna a mais valiosa parcela da Casa de Santar.
O seu crescimento foi progressivo, como foi progressivo o seu plantio, iniciado em 1997 e apenas terminando em 2017. Ali, as parcelas vão sendo divididas por setores, priorizando as características dos solos à escolha das castas com maior potencial para cada um dos talhões. Estamos no coração do Dão e, vai daí, o encepamento destaca as duas grandes castas atuais da região: a Touriga Nacional, nas tintas, e a Encruzado, nas brancas, sendo estas as mais relevantes nos vinhos de exceção de Santar.
A Alfrocheiro começa a surgir timidamente nas contas da Casa de Santar. É nas cotas mais elevadas, sobretudo no Alto dos Amores, que ela melhor se expressa, beneficiando da altitude e da maior exposição à influência da Serra da Estrela, que se ergue frondosa a Sul de Santar.
Apesar de se ter expandido para Sul, estendendo-se às regiões do Alentejo, Tejo e Palmela, é no Dão que encontra o seu território natural. Não obstante ser uma uva vigorosa e muito produtiva, carece de cuidados frequentes e atentos, dada a sua propensão natural ao oídio e podridão cinzenta. Nesta região, é-lhe reconhecida a elegância, cor bastante acentuada e um notável equilíbrio entre álcool, taninos e acidez, conferindo, aos vinhos, uma frescura que tantas vezes está ausente nos vinhos mais estruturados e densos do Dão. Aromaticamente, funde-se no território e na envolvência, fazendo sobressair os aromas a bagas silvestres e nuances de mato rasteiro.
São essas características que Paulo Prior pretende que se tornem mais evidentes nos vinhos nascidos no Alto dos Amores, encontrando-se em curso um trabalho de estudo dos stocks de vinhos da casta existentes na Casa, de modo a encontrar algo que se diferencie e possa vir a aumentar, com uma dotação qualitativa, a família das referências especiais Vinha dos Amores, podendo mesmo ir além de mais que uma vertente. Aguardemos pelo que o futuro nos reserva…
Afinal, não tem sido despicienda a influência da casta nos vinhos das terras de granito nos últimos mais de 150 anos, crendo-se que a sua disseminação com êxito tenha ocorrido nas replantações pós-filoxera. Nos anos 90 do século passado, a casta ganha um evidente estrelato, e inicia um caminho ascendente de popularidade junto de um conjunto de produtores regionais, entre os quais a Casa de Santar.
“…a Alfrocheiro pode aportar maior complexidade cosmopolita aos vinhos, em detrimento da concentração clássica.”
O novel enólogo de Santar está consciente de que não haverá nenhum movimento disruptivo no classicismo dos vinhos, hoje reconhecidos e com uma marca forte nos mercados nacional e internacional. Contudo, o mundo continua a girar e os movimentos que buscam perfis de maior leveza, elegância, profunda frescura e menor presença de álcool não podem ser descurados. E, aí, há uma forte crença que, a par da Touriga Nacional, a Alfrocheiro pode aportar maior complexidade cosmopolita aos vinhos, em detrimento da concentração que se impôs nas últimas décadas.
“Hoje, é a maior mancha contínua de vinha da região do Dão que nos surge defronte dos olhos na nobre e histórica Vila de Santar.”
O TERRITÓRIO E A SUSTENTABILIDADE
O dito terroir da Vinha dos Amores, crê Paulo Prior, é, por si próprio, um fator de diferenciação que, por isso mesmo, deve ser potenciado de modo diferente dos restantes vinhos da chancela Casa de Santar.
A exposição, a barreira elevada e o declive protegem a Vinha dos Amores das geadas de inverno sob forte influência da Serra, do mesmo modo que também a preservam da inclemência das elevadas temperaturas do Verão, uma vez que beneficia de menos horas de exposição direta ao sol. São condições que lhe beneficiam o equilíbrio da maturação, dando origem a mostos mais ricos, profundos e complexos.
As cotas mais elevadas são definitivamente relevantes, do mesmo modo que o é toda a envolvência e proteção das três serras que circundam Santar: Estrela, Caramulo e Bussaco. A composição de solos – arenosos com pouca retenção de água, algum xisto e maioritariamente granito – não valida a retenção de água, forçando as raízes a penetrarem os solos a maior profundidade, buscando a matéria orgânica e nutrientes que escasseiam. A mecanização e a rega monitorizada colmatam a pobreza dos solos.
A sustentabilidade, aqui, é muito mais que um chavão de retórica. Hoje, uma exigente auditoria, realizada de modo independente por cinco empresas, confere à Global Wines, Sociedade Agrícola de Santar, que detém a Casa de Santar e Paço de Santar, sediadas no Dão, Quinta do Encontro, na Bairrada, e Herdade Monte da Cal, no Alentejo, o referencial nacional de sustentabilidade. Esta certificação nacional vem demonstrar que todas cumprem os requisitos legais relacionados com os domínios da sustentabilidade, designadamente, gestão e melhoria contínua, e contribuem ativamente para o bem-estar social, económico e ambiental das comunidades envolventes e das diferentes regiões onde atuam.
“…o encepamento destaca as duas grandes castas atuais da região: a Touriga Nacional,nas tintas, e a Encruzado, nas brancas,…”
Este Referencial Nacional, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal, abrange, neste caso, a produção total de 235 hectares (165ha no Dão, 67ha no Alentejo e 3ha na Bairrada). Um novo selo de sustentabilidade irá ser brevemente adotado nas rotulagens das marcas Casa de Santar, Paço dos Cunhas de Santar, Cabriz, Quinta do Encontro e Herdade Monte da Cal, o que, para o consumidor, representa uma garantia de que estão implementadas práticas sustentáveis em todas estas organizações e marcas do universo Global Wines.
Hoje já é comum observarem-se, pelos vinhedos de Santar, enormes rebanhos de ovelhas que, no âmbito da produção integrada, fazem o corte da erva das entrelinhas de um modo rudimentar, nivelam as leguminosas ali semeadas, com a vantagem de ainda contribuírem para a nutrição dos solos.
Com o encepamento das tintas a representar 65% das vinhas e as brancas 35%, a realidade da Casa de Santar estende-se hoje muito para além da Touriga Nacional e Encruzado. O passado está bem presente nas 20 castas existentes, em produção ou ensaios que visando reabilitar variedades quase extintas e recuperar aquelas que já tiveram grande preponderância na região, como é o caso da Baga. Santar vinca a altitude e atitude de continuar, na mudança, a criar os vinhos mais nobres do Dão.
Nota: o autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.
A Região Vitivinícola dos Vinhos do Tejo fica no coração de Portugal e é um dos territórios vitivinícolas mais tradicionais e férteis do país. Desenvolve-se ao longo de um rio que atravessa a região de leste a oeste, tem uma paisagem variada e uma riqueza geoclimática que contribui para a singularidade dos seus vinhos. Com […]
A Região Vitivinícola dos Vinhos do Tejo fica no coração de Portugal e é um dos territórios vitivinícolas mais tradicionais e férteis do país. Desenvolve-se ao longo de um rio que atravessa a região de leste a oeste, tem uma paisagem variada e uma riqueza geoclimática que contribui para a singularidade dos seus vinhos.
Com cerca de 18 mil hectares de vinhas, o Tejo é uma região que alia história, diversidade e qualidade. A experiência sensorial que se tem dos seus vinhos mistura-se com uma profunda reflexão sobre o tempo, a terra e a tradição, porque a região é famosa tanto pela excelência dos seus vinhos quanto pela riqueza histórica e cultural que a envolve. Mais do que uma geografia produtiva, o Tejo é uma fonte inesgotável de narrativas e significados, que evocam um entendimento filosófico da terra e do viver.
Identidade regional
Desde a antiguidade, as margens férteis do Tejo foram cultivadas por romanos, mouros e, mais tarde, por portugueses que reconheceram o potencial de suas terras. Sob os auspícios da monarquia, especialmente de reis como D. João II, a produção vinícola floresceu, transformando-se num símbolo do poder e do requinte da corte. Os reis e rainhas de Portugal não bebiam apenas o vinho do Tejo. Também compreendiam que representava a união entre a terra e a cultura, algo digno de apreciação e respeito. Ao beberem o vinho, os monarcas não estavam apenas a saborear uma bebida, mas a integrar-se num ciclo mais amplo, em que a terra, o tempo e a tradição se entrelaçam.
Neste deleite do corpo e da alma, as paisagens do Tejo são uma ode à simbiose entre o natural e o humano. Colinas suaves, vinhedos a perder de vista, campos banhados pela luz suave e espelhada pelo rio e os seus lugares históricos são testemunhas silenciosas da forma cuidada como as suas pessoas têm feito as coisas ao longo de séculos.
Cada estação oferece uma nova interpretação dessas paisagens: no inverno, a tranquilidade; na primavera, o renascimento; no verão, o labor e o crescimento e, no outono, a colheita e a celebração. Esse ciclo natural, que influencia a própria vida dos vinhedos, é um lembrete de que o vinho, como nós, é um produto do tempo.
Produzir vinho, nesta região, é um ato quase filosófico, que requer paciência e compreensão do caráter das uvas e do solo. Não se pode apressar a maturação de uma videira, e o cultivo não se rende às urgências do mercado. Segue um ritmo próprio. Aqui, o vinho torna-se numa metáfora para a vida. É necessário esperar, cuidar, observar, e aceitar que cada colheita traz o seu próprio sabor. Esta é uma sabedoria intrínseca ao ofício dos viticultores, para quem o vinho do Tejo é tanto um produto quanto uma expressão da identidade regional. Essa identidade reflete-se também na gastronomia, que se harmoniza com os vinhos da região e exalta os sabores tradicionais. Os pratos são robustos, autênticos, celebrando o que a terra e o rio oferecem. Em cada refeição, a gastronomia une-se ao vinho num convite para uma experiência sensorial completa e autêntica. Por aqui pode-se encontrar uma culinária com produto, história e identidade. A sua teia de histórias e significados vai muito além do copo.
Ao degustarmos um vinho do Tejo, saboreamos a paciência das vinhas, o trabalho dos que cultivam a terra, o poder unificador do rio e a história dos reis que um dia brindaram com vinhos desta terra. A cada gole, há uma viagem ao passado e uma celebração do presente, um momento de reflexão e um convite para entender que, tal como o vinho, a vida tem suas camadas, o seu amadurecimento e o seu sabor único e irrepetível.
O Tejo é mais do que uma região de vinhos: é uma filosofia de ligação entre o homem, a terra e o tempo. É uma celebração da simplicidade e da profundidade, da tradição e da autenticidade, elementos que fazem de cada vinho não apenas uma bebida, mas uma experiência de vida.
As terras da Quinta do Casal Branco fizeram parte da coutada real de Almeirim, zona de caça da família real portuguesa até finais do século XVIII.
O Tejo e a sua magia
A Região dos Vinhos do Tejo integra-se o distrito de Santarém e divide-se em três sub-regiões distintas. O Bairro, localizado a norte do rio Tejo, caracteriza-se por terrenos de encostas e colinas com solos argilosos e calcário. A Charneca, a sul do rio, com solos arenosos, é uma região que sofre maior influência do clima quente e seco. O Campo, uma área plana e aluvial situada ao longo do próprio rio Tejo, tem solos férteis que beneficiam da humidade e do clima mais moderado trazido pelo rio. A região abrange municípios como Santarém, Almeirim, Cartaxo, Coruche, Alpiarça, Benavente, Golegã, Tomar e Salvaterra de Magos, cada um a contribuir para a diversidade e tipicidade dos vinhos produzidos.
O rio Tejo é mais do que um simples elemento geográfico na paisagem. Representa uma artéria vital para a história e cultura lusitana, simbolizando continuidade e renovação. As suas margens férteis e clima ameno tornaram-se, desde tempos remotos, propícios para o cultivo da vinha.
A presença do rio cria um microclima específico. Aliado à diversidade de solos, que vão desde os terrenos argilosos das planícies até os solos calcários das áreas mais elevadas, contribui para a variedade e características únicas dos vinhos da região, que encantam e desafiam paladares em todo o mundo.
Solos aluviais e arenosos nas margens do rio, favorecendo vinhos leves e frescos. Solos argilosos e calcários nas áreas de Bairro, conferindo estrutura e complexidade aos vinhos.
O clima é mediterrânico, marcado por verões quentes e secos, com temperaturas médias que variam entre 26°C e 30°C no verão, e invernos relativamente suaves, com mínimas entre 5°C e 10°C. A pluviosidade anual média é moderada, situando-se entre 600 e 800 mm, com chuvas concentradas principalmente no inverno e na primavera, o que permite um desenvolvimento equilibrado das videiras ao longo do ano.
A diversidade de castas é uma marca distintiva dos Vinhos do Tejo. Entre as mais utilizadas destacam-se as tintas Castelão, Aragonez, Touriga Nacional, Trincadeira e Alicante Bouschet, as mais tradicionais, sendo também comum o uso de Syrah e Cabernet Sauvignon, que adicionam complexidade e estrutura aos vinhos de lote. Entre as brancas destacam-se as Fernão Pires, Arinto e Trincadeira das Pratas, as mais comuns, para além do Sauvignon Blanc e da Chardonnay, que se adaptaram bem ao terroir da região. Os vinhos tintos do Tejo são conhecidos pela sua estrutura e intensidade aromática, enquanto os brancos destacam-se pela frescura e versatilidade.
A combinação da tradição com práticas modernas de viticultura tem contribuído para que a Região Vitivinícola dos Vinhos do Tejo seja cada vez mais reconhecida, tanto em Portugal como nos mercados internacionais, reforçando o seu papel de destaque no cenário vinícola português.
Terra de reis e princesas
A ligação entre o Tejo e a realeza vai além das uvas e vinhos. Historicamente, a região foi favorecida pela corte portuguesa, que incentivou o desenvolvimento das vinhas e se deliciava com os vinhos locais. Reis e rainhas portugueses reconheciam seu potencial de excelência, incentivando práticas de cultivo e produção que garantissem a qualidade e longevidade das vinhas. D. João II, em particular, foi um dos monarcas que mais valorizou a região do Tejo, criando estímulos para a produção local alcançar um nível que sustentasse o orgulho nacional e as exigências da corte.
O vinho sempre foi mais do que uma bebida. Conta uma história, salienta os usos costumes e tradições, realça a sabedoria humana e marca a autenticidade de um povo, de uma região. Nesta em particular, o vinho assume uma conotação ainda mais especial, pois é parte do tecido identitário das pessoas e do lugar. Aqui, é um elo entre gerações, uma ponte que liga o presente ao passado e o futuro. O cultivo da vinha e a produção de vinho exigem paciência, uma virtude filosófica apreciada por grandes pensadores, que, na prática, se reflete no tempo necessário para que uma videira amadureça, para que as uvas atinjam seu ponto ótimo e para que o vinho, finalmente, envelheça e possa ser apreciado.
A tradição vitivinícola no Tejo persiste, sustentada pelas mãos hábeis de viticultores que continuam a cultivar a terra como seus antepassados. Hoje, a região moderniza-se e atrai novos olhares, mas sem perder a conexão com sua essência histórica. Cada garrafa que sai das adegas da Região do Tejo carrega uma parte da história de Portugal, uma memória da época em que reis brindavam com seus vinhos numa lógica de preservação e apreciação do tempo.
Vesti a minha “armadura”, e em cima dos mais de 110 cavalos do meu veículo “cavalguei” até esta região impregnada de histórias de reis, que há muito me atraía para a visitar. Possuidor de alguma informação escolhi a Quinta do Casal Branco para me deliciar com esta nobre aventura.
Além da experiência sensorial, o enoturismo da Quinta do Casal Branco oferece uma imersão cultural, apresentando um património arquitetónico e histórico que remonta ao século XVIII, período em que a quinta foi fundada.
Uma quinta familiar…
A Quinta do Casal Branco é, desde a sua fundação em 1775, uma casa agrícola alicerçada pelas famílias Braamcamp e da Cruz Sobral. As suas terras fizeram parte da coutada real de Almeirim, zona de caça da família real portuguesa até finais do século XVIII.
Atualmente, é administrada pelo Dr. José Lobo de Vasconcelos, que assumiu a gestão do negócio em 1997, a pedido de sua mãe. A tradição vitivinícola, que chegou até os dias de hoje, resulta do saber partilhado por várias gerações das famílias Braamcamp Sobral e Lobo de Vasconcelos. A propriedade é hoje um testemunho vivo da evolução da viticultura no país, aliando práticas ancestrais com inovações tecnológicas modernas.
A quinta destaca-se pela produção de vinhos que refletem a essência da região, com vinhas plantadas em solos de excelente qualidade e beneficiadas pelo clima temperado do Ribatejo. No entanto, a produção vinícola é apenas uma parte do que define o Casal Branco.
A propriedade é também conhecida pela criação de cavalos lusitanos, tradição que, tal como a produção de vinho, se mantém como parte do seu legado. A paixão pelos cavalos é um dos traços mais marcantes da família. Na quinta, a sua criação é uma arte e uma tradição, acompanhada de rigor e de um profundo conhecimento. Conhecidos pela sua elegância, força e inteligência, os cavalos lusitanos criados na Quinta do Casal Branco são admirados e competem em eventos equestres de renome. Os seus estábulos, com séculos de história, abrigam linhagens cuidadas com amor e respeito, demonstrando a simbiose entre a família e a natureza ao seu redor.
O compromisso com a sustentabilidade e as práticas agrícolas ecológicas tornou-se central à filosofia da propriedade, refere José Lobo de Vasconcelos. Recentemente foi também aberto o seu enoturismo, que convida os visitantes de todo o mundo a conhecerem de perto o ciclo de produção dos vinhos e a história fascinante da quinta.
Com uma combinação singular de tradição e modernidade, a Quinta do Casal Branco é muito mais que uma adega. É uma entidade familiar e cultural que preserva o espírito ribatejano e as raízes de Portugal, ao mesmo tempo que olha para o futuro com o mesmo espírito empreendedor que marcou a sua fundação, salienta, orgulhosamente, o CEO da empresa.
Conhecidos pela sua elegância, força e inteligência, os cavalos lusitanos criados na Quinta do Casal Branco são admirados e competem em eventos equestres de renome.
Encanto e tradição
A Quinta do Casal Branco é um tesouro vitivinícola que carrega, nas suas vinhas, histórias de gerações que, com devoção, cultivaram e transformaram uvas em néctares que traduzem o caráter fértil da região. Cada colheita é um reflexo fiel do Tejo, rio que dá o nome à região e empresta a sua essência às vinhas do território.
Na exploração desta propriedade do concelho de Almeirim, uma verdadeira joia da região dos Vinhos do Tejo, vê-se as vinhas a surgirem como um tapete verdejante, desenhado com precisão e encanto, onde o passado e o presente se entrelaçam em cada detalhe. Aqui, o tempo parece seguir outro ritmo, compassado pela brisa do rio e pelas estações que pintam as paisagens com tons de verde, dourado e bordô, conforme a época do ciclo das vinhas. Na adega, o aroma do vinho que repousa em barris de carvalho é quase poético, e cada garrafa produzida é como uma carta de amor ao terroir do Tejo, com a sabedoria da enóloga residente, Joana Silva Lopes, e a mestria do Enólogo consultor, Manuel Lobo de Vasconcelos, sobrinho de José Lobo de Vasconcelos.
Os vinhos da Quinta do Casal Branco refletem um romance com a terra, nascendo de castas autóctones que expressam o frescor e a autenticidade da região. Degustá-los é embarcar numa viagem sensorial pelo Tejo, do bouquet floral de um branco leve e perfumado ao caráter profundo e envolvente de um tinto encorpado. A cada gole, um segredo antigo parece ser revelado, um testemunho da paixão que faz desta quinta um lugar onde o vinho é, mais que bebida, uma obra de arte, uma ode ao espírito do Tejo e à natureza que o cerca.
As visitas ao Casal Branco proporcionam uma imersão no terroir único do Tejo, com degustações que celebram as castas locais e o cuidado artesanal no processo de vinificação. Cada copo é um brinde à simplicidade e ao charme rural, trazendo consigo o sabor autêntico da terra e o coração dos que a trabalham. Aqui, as vinhas parecem cantar um fado antigo, ecoando a beleza da vida no campo e o encanto de um Portugal intocado, realça Filomena Justo, responsável pela gestão e operacionalização da atividade de enoturismo na Quinta.
A Quinta do Casal Branco não é apenas um destino, mas um convite à contemplação. Entre vinhas, jardins e vinhos de exceção, sente-se o romantismo de um lugar onde o tempo parece desacelerar, e cada visitante pode viver o privilégio de um momento eterno no coração dos Vinhos do Tejo. Cultura, Tradições, Cavalos (equitação), História de Reis e Princesas, Caça e os Falcões, fazem desta quinta um almanaque de experiências inesquecíveis.
O ponto alto da experiência é a degustação, realizada numa sala especialmente preparada, onde os vinhos da quinta são apresentados em combinações pensadas para valorizar os sabores e aromas característicos de cada colheita.
A visita…
Ao chegar à Quinta do Casal Branco, o visitante é recebido por um ambiente de campo onde se destacam as vinhas que se estendem até perder de vista, numa paisagem que as harmoniza com os olivais. O percurso começa na loja, onde é feita uma explicação sobre a história da Quinta do Casal Branco e a importância desta casa agrícola ao longo de 200 anos. A visita continua pelas instalações de vinificação, onde é possível acompanhar cada etapa da produção dos vinhos. Nos tanques de inox e nas barricas de carvalho os guias dão explicações detalhadas sobre os métodos de fermentação, maturação e envelhecimento que conferem aos vinhos da Quinta do Casal Branco um perfil sofisticado. Esse contato direto com o processo produtivo permite, ao visitante, compreender o rigor e a dedicação envolvidos na criação de cada garrafa.
As visitas às vinhas, algumas delas com cerca de 120 anos, realizam-se a pé ou de carro. Nelas são explicadas as características dos solos, o clima da região e os processos de cultivo das castas tintas Castelão, Merlot, Sousão, Cabernet Sauvignon, Syrah, Touriga Nacional, Aragonês, Touriga Franca, Alicante Bouschet e Petit Verdot, e brancas Fernão Pires, Alvarinho, Sauvignon Blanc, Gouveio, Viognier, Moscatel e Arinto, que ocupam um total de 130 hectares.
O ponto alto da experiência é a degustação, realizada numa sala especialmente preparada, onde os vinhos da quinta são apresentados em combinações pensadas para valorizar os sabores e aromas característicos de cada safra. O visitante pode experimentar desde brancos frescos e leves até tintos encorpados e complexos, sempre acompanhados de explicações que enaltecem a qualidade do terroir. A experiência é complementada pela oportunidade de adquirir os vinhos, com rótulos exclusivos que, muitas vezes, só estão disponíveis para os visitantes.
Por fim, além da experiência sensorial, o enoturismo da Quinta do Casal Branco oferece uma imersão cultural, apresentando um património arquitetónico e histórico que remonta ao século XVIII, período em que a quinta foi fundada. O passeio inclui uma visita à casa principal e aos jardins, que mantêm a elegância e a imponência dos séculos passados. Para os amantes de vinhos e de experiências culturais, a visita à Quinta do Casal Branco é uma experiência rica, onde história, tradição e inovação se unem para proporcionar uma viagem sensorial e cultural única.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.
CADERNO DE VISITA
COMODIDADES
– Línguas faladas: inglês, francês
– Loja de vinhos
– Bar de provas com capacidade de duas a 18 pessoas (provas e refeições sob consulta)
– Esplanada com capacidade para 50 pessoas
– Sala da Caldeira com capacidade de 10 a 60 pessoas
– Diferentes atividades e refeições (sob consulta)
– Parque para automóveis ligeiros e 10 autocarros
– Provas comentadas (ver programas);
– Refeições (ver programas)
– Wifi gratuito disponível
– Visita às vinhas
EVENTOS
Eventos corporativos sob consulta
Atividades teambuilding sob consulta
PROGRAMAS DE ENOTURISMO
GRANDE ESCOLHA
35€ P/ PESSOA
Visita à adega, coudelaria e jardins históricos da casa da família Lobo de Vasconcelos, prova comentada de cinco vinhos (Quinta do Casal Branco Alvarinho, Falcoaria Vinhas Velhas branco, Falcoaria Clássico branco, Falcoaria Grande Reserva tinto, Falcoaria Colheita Tardia branco) e tábua de queijos & enchidos da região Compotas caseiras com tostas & pão regional
De segunda a sexta. N.º mínimo de participantes: dois
Fins-de-semana e feriados. Nº mínimo de participantes: 25
Sempre sob marcação prévia.
PREMIUM
25€ P/ PESSOA
Visita à adega, coudelaria e jardins históricos da casa da família Lobo de Vasconcelos, prova comentada de três vinhos e tábua de queijos & enchidos da região Compotas caseiras com tostas & pão regional
De segunda a sexta. N.º mínimo de participantes: dois
Fins-de-semana e feriados. Nº mínimo de participantes: 25
Sempre sob marcação prévia.
VINDIMA
98,50€ P/ PESSOA
Aperitivo de boas-vindas com Espumante Monge, visita à coudelaria com batismo equestre ou manhã de vindima e prova de mais quatro vinhos harmonizada com produtos regionais. Almoço na esplanada ou Sala da Caldeira
N.º mínimo de participantes: 35
Sempre sob marcação prévia.
BEBERETE
14,00€ P/ PESSOA
Aperitivo de boas-vindas, visita guiada à adega e prova de dois vinhos harmonizada com produtos regionais
Johnny Symington, Presidente do Conselho de Administração da Symington, reforma-se, no final de Fevereiro, após 40 anos na empresa. Os Symington, de ascendência escocesa, inglesa e portuguesa, são produtores de vinho do Porto no norte de Portugal desde 1882. Há cinco gerações que produzem vinhos do Porto e, mais recentemente, vinhos tranquilos, com um forte […]
Johnny Symington, Presidente do Conselho de Administração da Symington, reforma-se, no final de Fevereiro, após 40 anos na empresa.
Os Symington, de ascendência escocesa, inglesa e portuguesa, são produtores de vinho do Porto no norte de Portugal desde 1882. Há cinco gerações que produzem vinhos do Porto e, mais recentemente, vinhos tranquilos, com um forte compromisso com a região e as suas pessoas.
Hoje, nove membros da família trabalham nas casas de vinho do Porto desta empresa familiar – Graham’s, Cockburn’s, Dow’s e Warre’s –, que também produz vinhos do Douro Quinta do Vesúvio, Quinta do Ataíde, Altano e na parceria Prats & Symington (Chryseia). Para além destes, integra os projectos mais recentes da Quinta da Fonte Souto, no Alto Alentejo, e da Casa de Rodas, em Monção e Melgaço (Vinhos Verdes) e está presente na produção dos vinhos espumantes Vértice, das Caves Transmontanas, e Hambledon, no Reino Unido, detendo 50% do capital de cada um destes produtores.
Após a retirada de Johnny Symington, Rupert, da 4.ª geração da família, que ocupava o cargo de CEO, assumiu o lugar de Presidente do Conselho de Administração da Symington Family Estates. O seu primo Charles foi nomeado CEO conjunto e continuará a ser o responsável por toda a área de produção de vinhos da família. Rob Symington, da 5.ª geração, foi nomeado CEO conjunto e terá, a seu cargo, a orientação da área comercial, enoturismo, people and culture e sustentabilidade. Juntam-se-lhes seis outros elementos da 5.ª geração: Charlotte, Harry, Anthony, Vicky, Teresa e Hugh, com responsabilidades nas áreas de marketing, vendas e enoturismo.
“Tenho enorme confiança naqueles que me sucedem e no futuro”, diz Johnny Symington, acrescentando que está convicto que “o legado e reputação de qualidade e confiabilidade” da empresa “irão perdurar” e que esta manterá a sua “capacidade de adaptação a um mundo que muito provavelmente mudará nos próximos 40 anos tanto ou mais que nos últimos 40.”
A Região dos Vinhos de Lisboa terminou o ano passado com um crescimento de 5% nas vendas, para um máximo histórico de 69 milhões garrafas. “É a confirmação de que os vinhos da Região de Lisboa estão a impor-se cada vez mais no mercado, indo ao encontro de um perfil de consumo que procura sobretudo […]
A Região dos Vinhos de Lisboa terminou o ano passado com um crescimento de 5% nas vendas, para um máximo histórico de 69 milhões garrafas.
“É a confirmação de que os vinhos da Região de Lisboa estão a impor-se cada vez mais no mercado, indo ao encontro de um perfil de consumo que procura sobretudo elegância, frescura, potencial gastronómico e também álcool mais discreto”, explica Francisco Toscano Rico, presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, a propósito dos números revelados pela sua CVR. “A afirmação da Região de Lisboa é resultado do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelos diversos produtores, em articulação com a promoção nacional e internacional coordenada entre todos os agentes, com o apoio da CVR Lisboa, por exemplo através do investimento promocional realizado, que ascendeu a cerca de um milhão de euros”, acrescenta.
A dinâmica da Região dos Vinhos de Lisboa é fortemente alavancada pelo desempenho no mercado internacional, que representa 80% das vendas repartidas por cerca de 100 países, liderados pelos Estados Unidos da América, Reino Unido, Brasil, Canadá, países escandinavos, Alemanha e Polónia. O mercado nacional representa a restante fatia de 20% nas vendas. Nas diversas categorias de produto, o vinho branco cresceu 12%, o vinho rosé 22% e o vinho Leve Lisboa apresentou uma evolução exponencial de 88%.
Desde há pouco mais de dois anos assume na região dos Vinhos Verdes funções semelhantes às que desempenhou no Alentejo. Existindo certamente, desafios comuns às duas regiões, o que é que, no seu entender, principalmente as distingue em termos de mercado, estrutura produtiva ou organização institucional, por exemplo? Em termos de organização e tradição de […]
Desde há pouco mais de dois anos assume na região dos Vinhos Verdes funções semelhantes às que desempenhou no Alentejo. Existindo certamente, desafios comuns às duas regiões, o que é que, no seu entender, principalmente as distingue em termos de mercado, estrutura produtiva ou organização institucional, por exemplo?
Em termos de organização e tradição de uma região, faz diferença ter 116 anos ou ter 25 anos de região demarcada, marco que eu ainda celebrei no Alentejo. Embora a idade não altere a produção de vinho em si, altera a história de uma região e introduz condicionantes na forma de a gerir. Mas, de uma forma geral, enquanto entidade certificadora, as coisas estão tão harmonizadas que, embora podendo existir “afinações” diferentes, os procedimentos são hoje muito idênticos de região para região. Haverá sempre coisas a melhorar, mas os standards estão muito bem definidos.
O mercado dos Vinhos Verdes e do Alentejo é muito distinto?
O mercado onde se opera é igual, a comunicação e a narrativa é que são muito diferentes. O apelo ao consumo é distinto. Passámos uma época em que o vinho tinto cobria a grande maioria das preferências do mercado, e hoje isso está a mudar. Não existem dados muito evidentes sobre quanto é que mudou, mas existe uma percepção clara de mudança. A sazonalidade de consumo que outrora existiu nos brancos e que condicionou os Vinhos Verdes esbateu-se muito.
O que mais a surpreendeu nos Vinhos Verdes quando começou a aprofundar o seu conhecimento sobre a CVRVV, a região, os produtores, o mercado?
Em primeiro lugar, a Comissão é uma casa muito bem montada e foi muito bem orientada durante muito tempo. Tornou-se assim fácil o envolvimento e o trabalho com a generalidade dos departamentos. É uma entidade bastante orientada para a promoção, com um departamento de marketing bem estruturado e com conhecimento do mercado. No que diz respeito à fiscalização e controlo da região, está hoje a um nível que quase nenhuma região em Portugal tem. A região e os seus produtores têm igualmente uma larga experiência de mercados internacionais. Os produtores são profissionais, viajam muito, vão às feiras, conhecem as especificidades de cada mercado. E isto é algo que mudou imenso nas últimas décadas.
Quando eu estava na ViniPortugal, em 2004, lembro-me do que era o Vinho Verde e sei aquilo que é hoje. Claro que a mudança é transversal às várias regiões, mas esta tremenda evolução “comercial” é muito evidente nos Vinhos Verdes. Há muito a fazer, sempre, mas o nível de profissionalização da região dos Vinhos Verdes, quando comparado com outras, é muito elevado.
O perfil dos produtores é muito variado…
O tecido empresarial é muito pulverizado. É salutar que esta seja uma região com operadores relativamente grandes. Mas existe, entre os muito grandes e os muitos pequenos, uma faixa de operadores médios tremendamente dinâmicos. Acho que o mercado nacional tem uma fraca percepção dessa dinâmica, porque muitos produtores de Vinho Verde trabalham, sobretudo, para exportação. E muitos, exportam largas centenas de milhar de garrafas. E, depois, temos os mais pequenos, que produzem frequentemente menos de 50 mil garrafas.
“Os dois perfis de Verde são bastante distintos. E é fundamental que o consumidor saiba o que está dentro da garrafa antes de fazer a compra”
A área de vinha (pouco menos de 17.300 hectares) caiu bastante na década de 2010. A produtividade, porém, aumentou significativamente, devido as reestruturações e ganhos de eficiência. Ainda assim, tirando a sub-região de Monção e Melgaço, onde o preço da uva é bem mais elevado do que a média da região, pode uma família de lavradores viver de vender uvas?
Depende muito da dimensão da propriedade. Infelizmente temos poucos ou nenhuns estudos sobre isso. Não sabemos que dimensão é necessária para poder dar condições de vida a uma família de viticultores. Lembro-me que quando do estudo Porter se falava em entre cinco a sete hectares, para originar um rendimento um pouco acima do salário mínimo. Passaram 20 anos e hoje a área necessária será certamente acima disto.
Quanto ao decréscimo da área de vinha, é importante termos em conta duas coisas. Primeiro, é verdade que há muita gente a abandonar, mas também há um grande processo de consolidação, ou seja, há muitos produtores profissionais a adquirir vinhas a outros viticultores. Por outro lado, o decréscimo do número oficial de vinha plantada tem igualmente a ver com a crescente eficiência da fiscalização. Há muita vinha abandonada há muito, de que só em anos recentes tem sido dado baixa.
No entanto, não deixa de ser evidente, para quem conhece a região, que o preço médio praticado na compra da uva não é o mais adequado. Deveria ser mais elevado para acomodar os gastos de uma viticultura que não é fácil. Ainda que, sendo baixo, o preço está longe de ser dos mais baixos comparado com outras regiões de Portugal. Até é bastante acima da média.
Por tudo isso, e respondendo em concreto à sua questão, com a dimensão média da propriedade na região não é fácil ser-se viticultor e viver de produzir e vender uva. Acredito que seja preciso bem mais de uma dezena de hectares. Mas também acontece que muitos são viticultores a tempo inteiro depois de uma carreira bem sucedida noutras áreas de actividade. E não é apenas por saudosismo ou paixão pela terra. Depois de terem feito a reconversão da vinha, com o claro aumento de produtividade, esta passou a, pelo menos, compensar os gastos que com ela têm. O Alvarinho de Monção e Melgaço é, claro, um caso raro. Aí não é preciso ter uma área de vinha muito grande para o retorno ser compensador.
A produção de Verde tinto parece estar em contínuo decréscimo. Na vindima de 2023, em conjunto com os rosés, valeu cerca de 11,5 milhões de litros versus 72 milhões de vinho branco. Sabendo-se que os rosés estão em crescendo, isso significa que a queda dos tintos, outrora líderes na região, é maior ainda. Está o Verde tinto condenado?
Espero que não. Mas sem dúvida que está em risco de extinção. E temos de inverter esta curva decrescente, que é perigosíssima. Se na região nunca tivesse existido tradição de uva tinta, até se podia entender. Mas não é o caso, antes pelo contrário. O risco de perder a uva tinta significa também o risco de se perder diversidade genética, de se perder o conhecimento das castas, da sua aptidão e do seu contributo para o futuro da região. Os rosés estão, e ainda bem, a crescer, mas sem as uvas tintas não conseguimos fazer rosé. E com os tintos assentes quase exclusivamente numa casta, o Vinhão, também não se consegue fazer grande diversidade de rosé e, muito menos, no estilo que hoje conquista os mercados. Os brancos e rosés estão na moda e os tintos em baixo. Mas isso é hoje. Como sabemos, estas vagas mudam e, por vezes, de forma rápida. E se nós estamos com uma produção residual de uva tinta podemos vir a ter dificuldades no futuro.
Na CVRVV procuramos sensibilizar os produtores para este problema e sentimos a responsabilidade de ajudar a inverter esta situação. Temos dado passos para se perceber melhor as diversas uvas tintas da região, avaliando o seu potencial para a produção de rosés e de tintos mais leves e elegantes. Não precisamos de castas de fora para isso. Acreditamos que temos uma grande variedade de castas tintas autóctones, que temos de estudar e perceber até onde podem ir. Temos uma agenda de investigação e desenvolvimento na EVAG (Estação Vitivinícola Amândio Galhano) e estamos particularmente focados nas castas tintas. Aí realizamos investigação aplicada, realizando microvinificações com algumas castas minoritárias no sentido de perceber quais as mais indicadas para tintos e rosés, em distintos perfis. E todos os anos os vinhos produzidos são provados por um pequeno grupo de especialistas. Com as conclusões desse trabalho, vamos na EVAG criar material vegetativo, para poder disponibilizar varas ou enxertos-prontos. A ideia é gerar informação técnica (vinha, adega e prova) credível e consistente, e colocá-la à disposição dos produtores, para que possam olhar para essas castas minoritárias como opções válidas para desenvolver o seu negócio.
A exportação representa cerca de 60% do negócio dos Vinhos Verdes. Mas também o mercado nacional tem tido um bom desempenho. O preço médio, no entanto, continua abaixo da média nacional, alinhado com Lisboa, acima de Setúbal e Tejo, mas abaixo das restantes regiões. O Vinho Verde está ainda demasiado barato?
Sim, é um facto. Infelizmente, há tradições negativas que demoram a quebrar e este é um caso, existe a convicção generalizada de que “aquele vinho” tem aquele preço. Mas isso parte também do produtor. Conhecemos vários produtores que trabalham em diferentes regiões e eles próprios posicionam os seus Vinhos Verdes a um preço mais baixo. Podem argumentar que as pessoas não estão dispostas a pagar mais por um Vinho Verde. Mas é precisamente isso que nós temos de combater. Claro que isso só se consegue tendo produtos equiparáveis. E é aí que esta questão do assumir de dois estilos de Vinho Verde, um mais “tradicional” e popular, outro mais ambicioso e longevo, se torna fundamental. E, mesmo assim, mesmo fazendo grandes Vinhos Verdes brancos, temos de ter a noção de que, no mundo inteiro, e com raras excepções, o preço médio do vinho branco é inferior ao do tinto. Ou seja, há dois degraus difíceis que é preciso subir, e esse é um trabalho colectivo que é necessário fazer.
A CVRVV tem procurado comunicar esse conceito dos dois estilos de Vinho Verde. Mas essa distinção não está plasmada na lei. Não existe um designativo na rotulagem, um nome que os diferencie aos olhos do consumidor. Como se pode passar a mensagem sem esse suporte?
Não tem sido um assunto fácil, e quando da passagem de “pasta” por parte da anterior direcção da CVRVV, este foi-me indicado como tema de urgente resolução. Fundamentalmente, não tem havido acordo entre os produtores para o nome desta “nova” categoria de Vinho Verde. Vamos lançar um inquérito aos agentes económicos, para perceber a sua opinião. Mas, Direcção e Conselho Geral, entendemos que é fundamental existir essa designação. Até porque os dois produtos, o Verde mais “clássico”, leve, com “borbulha” e alguma edulcoração, e o Verde mais moderno, seco, intenso e longevo, são bastante distintos. E é fundamental que o consumidor saiba o perfil que está dentro da garrafa antes de fazer a sua compra. Porque, caso contrário, poderá haver um risco de desilusão, que vai jogar contra um ou outro produto.
Uma coisa tão simples e básica quanto ter ou não ter gás adicionado é algo que o consumidor só percebe depois de abrir a garrafa…
Claro, e isso não pode continuar. Há que assumir estes dois perfis como características intrínsecas dos produtos, ter orgulho neles, mas evidenciar essa diferença com um designativo, uma palavra, na rotulagem. Claro que encontrar o nome certo exige consenso e os consensos são difíceis de alcançar. Mas é preciso urgentemente fazê-lo. E mesmo que o nome não seja perfeito, é preferível ajustar mais tarde do que não actuar agora, continuando a limitar a ambição do Vinho Verde, em termos dos mercados e preços que pode atingir. Isto é absolutamente prioritário.
Durante muitas e muitas décadas o Vinho Verde “vendeu-se” como um produto “único no mundo”, diferente de todos os outros, o que lhe permitiu correr numa pista à parte, sem concorrência. O dano colateral, no entanto, foi colá-lo à imagem de um produto simples, popular, pouco “exigente”, se quisermos. Neste início de 2025, como é que o Vinho Verde quer ser visto pelos consumidores?
Temos de saber jogar com tudo isso. O facto de o Vinho Verde mais “tradicional” ter alguma simplicidade, ser leve, poder ser bebido de forma descontraída, é-nos muito útil para cativar uma faixa jovem de mercado que está a “fugir” do vinho mais “complicado”. Mas precisamos também da outra categoria mais ambiciosa, para nos batermos de igual para igual com aqueles que são considerados grandes vinhos do mundo. Precisamos de ganhar valor. E temos a forma ideal de o fazer, através nas nossas castas, Alvarinho, Loureiro, Avesso, etc. Comunicar através da casta é mais facilmente compreensível, mais facilmente exportável. Em resumo, precisamos de fazer passar a mensagem, internamente, entre os produtores, e para o exterior, para os consumidores.
“A sazonalidade de consumo que outrora existiu nos brancos e que condicionou os Vinhos Verdes esbateu-se muito”
Foi no seu consulado à frente da CVR Alentejo que foi desenvolvido e implementado o Plano de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), que se tornou uma referência nacional e internacional. Como está a região dos Vinhos Verdes em termos de sustentabilidade ambiental?
Quando esta direcção tomou posse, havia já um plano de sustentabilidade em marcha, ainda não implementado. Coincidindo com o início deste mandato, surgiu igualmente o Referencial Nacional de Sustentabilidade do Instituto da Vinha e do Vinho, um conjunto de orientações transversais não adaptado especificamente a cada região. No que ao Vinho Verde respeita, acreditamos que fazer um plano novo, de raiz, tal como se fez no Alentejo, será estar a trabalhar sobre algo que já existe. Assim, o que foi decidido foi adoptar o Referencial Nacional como base para quem quiser medir a sua evolução nesta área, podendo depois certificar-se neste Referencial ou noutro que possa ser mais interessante para o seu negócio. Paralelamente, contratámos um especialista em sustentabilidade que tem, como primeira tarefa, acompanhar os produtores na utilização do Referencial Nacional e na preparação para o cumprir.
Depois, o segundo passo vai ser definir e implementar uma parte específica para o Vinho Verde. Dou-lhe um exemplo: os recursos hídricos. Aqui estamos tão habituados a ver água que parece que não existem carências hídricas. Mas elas existem e são imensas. E falta-nos o conhecimento – que porventura existe noutras regiões há muito habituadas a ter pouca água – para tirar o melhor partido da água. Precisamos, hoje, de aprender a gerir a escassez. Outro exemplo: pelas suas condições climáticas, nos Vinhos Verdes fazemos mais tratamentos do que noutras regiões. Ao mesmo tempo começam a aparecer doenças a que não estávamos acostumados. A região precisa de criar um programa de tratamentos sustentáveis muito mais específico do que o existente no Referencial Nacional.
Adicionalmente, a certificação no Referencial Nacional precisa de ser mais promovida a nível nacional e mundial. Os produtores necessitam de ver vantagens económicas e comerciais concretas em aderir ao Referencial Nacional. É que existem diversas certificações mundiais, com grande promoção associada. E uma empresa vai aderir às que lhes parecerem mais vantajosas para o seu negócio, por exemplo, em função dos mercados onde mais vende.
Que méritos vê no modelo orgânico e na sua aplicação a uma região de clima atlântico, como a dos Vinhos Verdes?
Daquilo que vemos na região, temos pouquíssimas empresas a adoptar o modelo de produção biológica. E temos até uma ou outra que já o tiveram e abandonaram. Nesta região, é difícil, ainda que não impossível, cumprir um modelo orgânico. E torna-se muito complicado cumprir tudo durante três anos e, depois, vem um mau ano climático que obriga a falhar as regras e cumprir de novo todo o ciclo. Por outro lado, temos uma situação muito gravosa que tem a ver com a flavescência dourada. Não há região onde a flavescência esteja instalada que consiga cumprir facilmente com os standards do biológico: vai ter de fazer tratamentos. Quem não o fizer pode estar a colocar em risco não apenas a sua própria produção – porque as vinhas vão morrer – mas também as vinhas dos vizinhos. Daí que seja muito importante a questão da Sustentabilidade, porque é um modelo que permite fazer melhor e de forma mais equilibrada, com benefícios para a vinha e para o próprio negócio. Claro que um modelo bio ou biodinâmico não é de todo impossível: mas apenas em áreas muito pequenas e facilmente geríveis.
Um dos maiores sucessos do seu antecessor foi levar de vencida aquela que ficou conhecida como “Guerra do Alvarinho”. Em seu entender, os ganhos para ambas as partes (produtores de Monção e Melgaço e restantes produtores da região) foram suficientes para pacificar esta questão? Ou a relativa autonomia conquistada por Monção e Melgaço ainda é de menos para uns e de mais para outros?
Se olharmos para os números que nos são fornecidos pelos selos de certificação, o segmento que mais aumenta é precisamente o do Alvarinho, produzido em Monção e Melgaço, sobretudo, mas também fora da sub-região. E até com o crescimento de vinhos de nicho, bem valorizados, como é o caso do espumante de Alvarinho. Com o acordo que foi feito no passado, foi também alocada uma verba para a promoção da sub-região de Monção e Melgaço, verba essa que, com a colaboração da CVRVV, tem sido utilizada de forma muito positiva, com inúmeras ações e visitas por parte de jornalistas e compradores. Os resultados positivos são evidentes.
“O Verde tinto está em risco de extinção. E temos de inverter esta curva decrescente, que é perigosíssima”
Esse caminho de progressiva autonomia desenvolvido por Monção e Melgaço pode e deve ser estendido às restantes sub-regiões?
Para isso, os produtores dessas regiões têm de o querer. Quando olhamos para os números de certificação com sub-região (identificada na rotulagem), Monção e Melgaço está à frente, a enorme distância do Lima, que vem a seguir. Mas depois não há muito mais. E são nove sub-regiões nos Vinhos Verdes! Portanto, a vontade dos produtores não parece ser evidenciar a sub-região onde produzem, preferindo ficar apenas com a denominação Vinho Verde.
A Dora Simões já correu o mundo do vinho em funções muito distintas, O que é mais difícil? Convencer o comprador de um supermercado inglês a referenciar o seu produto ou gerir um Conselho Geral de uma CVR?
Nunca me tinham feito essa pergunta… Apesar de tudo, penso que é mais difícil ser produtor. Exige uma resiliência enorme: implica ouvir muitas recusas, não conseguir atingir objectivos, ter de gerir um negócio a céu aberto com imensos imponderáveis. Produzir vinho é um risco. Muitas destas novas categorias de bebidas (a kombucha, por exemplo) são fáceis de fazer, implicam muito menos investimento e não dependem da natureza. Mas chegam à prateleira e custam o mesmo que o vinho.
É certo que fazer parte da direcção de uma CVR pode ter aspectos ingratos e não tem muitas das recompensas de ser produtor. Aqui ninguém está à espera de levar uma palmadinha das costas por ter conseguido isto ou aquilo. Mas isso faz parte da função. Ser produtor de vinho é bem mais exigente.
Sei que não vai mencionar marcas, mas qual a casta ou perfil de Vinho Verde que mais aprecia no copo?
Na verdade, sou muito eclética quanto a perfis de vinho. Aprecio estilos muito diversos, por vezes dependendo do momento. Mas estou mais acostumada, até pelo tempo que passei na Alemanha, a beber vinhos brancos com fruta, frescura e potencial de longevidade. Aqui, Alvarinho e Loureiro, por exemplo, enquadram-se muito bem.