Altas Quintas: Um regresso em grande

Altas Quintas

A Altas Quintas é uma marca alentejana bem conhecida e apreciada, estabelecida em 2004. Pertencia à família de João Lourenço que, em 2017, vendeu a propriedade (vinhas e adega) à Symington Family Estates, ficando com a marca e os stocks de vinho. Assim, manteve a actividade de viticultor e produtor de vinhos, embora numa escala […]

A Altas Quintas é uma marca alentejana bem conhecida e apreciada, estabelecida em 2004. Pertencia à família de João Lourenço que, em 2017, vendeu a propriedade (vinhas e adega) à Symington Family Estates, ficando com a marca e os stocks de vinho. Assim, manteve a actividade de viticultor e produtor de vinhos, embora numa escala menor, adquirindo a Herdade do Porto da Boga, localizada igualmente nas encostas da Serra de São Mamede. No entanto, por motivos de saúde, teve de abandonar esta actividade. Como António Ventura acompanhava a família neste projecto vitivinícola desde 2009, foi a ele que recorreram para lhes ajudar na venda da propriedade. E o enólogo sabia quem seria a pessoa ideal para dar continuidade ao projecto.

Vontade de investir

Recuando alguns anos (António Ventura já conta com mais de quatro décadas de carreira), houve um rapazinho que fez três vindimas com ele na Adega da Vermelha, na região de Lisboa. Este jovem chamava-se Ricardo Machado que, após a experiência dura da vindima, ficou “com o bichinho” do vinho. O facto de ter viticultores na família, desde o seu bisavô, também contribuiu para esta paixão e António Ventura tornou-se no seu mentor em tudo relacionado com vinhos. Ricardo formou-se em Engenharia de Gestão do Território e o seu rumo profissional levou-o para fora do país. Regressou há poucos anos como empresário de sucesso, viajado, com experiência internacional e contactos no mundo inteiro, mas sobretudo com vontade de investir em projectos no seu país natal.

Aconteceu como nos filmes, com duas linhas do enredo a desenvolverem-se de forma independente até se cruzarem num determinado momento, a partir do qual a história toma um novo rumo. António Ventura falou ao Ricardo Machado na possibilidade de adquirir o projecto Altas Quintas. Visitaram a propriedade e o empresário decidiu avançar com a sua aquisição, o que aconteceu no outono do ano passado.

Para além de António Ventura na qualidade de consultor, juntou-se, ao projecto, o enólogo Tiago Correia como responsável de produção, a contar com o apoio do enólogo-residente, Diogo Vieira. Todo o acompanhamento da vinha está à responsabilidade do viticólogo José Luís Marmelo, profundo conhecedor das vinhas e terroir de Portalegre.

A herdade compreende 156 hectares de área, dos quais 27 hectares de vinha (e mais cinco hectares em breve) na encosta da Serra de São Mamede. Ali, a Altas Quintas pratica uma viticultura regenerativa e de protecção integrada, deixando de mobilizar o solo, fazendo coberturas melhoradoras. Tudo isto para levar o melhor do terroir, preservando-o para o futuro. Ao mesmo tempo, a empresa faz parcerias com produtores que têm boas parcelas em locais especiais e acompanham-nos continuadamente, desde a poda até à vindima. Desta forma, a Altas Quintas tem acesso a uvas em todos os distintos terroirs da Serra de São Mamede (orgulhando-se de ser a única empresa a consegui-lo), em altitudes e exposições diferentes. Na adega, bem equipada, tiveram de expandir a área de vinificação de brancos e planeiam aumentar o espaço de estágio em barricas e talhas. Tudo isto para conseguir vinificar, em separado, todas as diferentes parcelas e assim avaliar o potencial de cada terroir.

A mente irrequieta de Ricardo Machado e a sua grande capacidade de identificar oportunidades de negócio, bem como a abertura para estabelecer parcerias e unir esforços para o bem comum, prometem muitas novidades, algumas tradicionais, outras mais arrojadas, nos próximos anos. Já começaram a produzir os vinhos kosher (quatro referências, cerca de 30 mil garrafas), porque claramente há mercado para isto, sobretudo nos EUA. Nos seus planos está igualmente fazer uma espécie de “vinho romano” adoçado com mel, outrora chamado mulsum.

Muitos projectos em marcha

E há mais ideias em carteira. Ricardo Machado tem outra propriedade, de grande dimensão, na região da Beira Alta, a Herdade de Vale Feitoso, com 7300 hectares, onde está a apostar na exploração florestal, pecuária e cinegética, neste último caso desenvolvendo uma indústria de tratamento e comercialização da carne de caça (veados, gamos e javalis, sobretudo) para lojas e restaurantes mais sofisticados. Nesta propriedade também irão plantar vinha, que poderá ir até 100 hectares. E dois hotéis em Monfortinho complementam a oferta e abrem uma vertente turística. Outro projecto em desenvolvimento fica nos Açores, mais precisamente na Ilha de São Jorge, em dois hectares de vinha na Fajã do Cavalete. E, obviamente, haverá algo na região de Lisboa, junto às origens de Ricardo Machado, local onde, com o seu pai, possui já 100 hectares de vinha. “Estou a divertir-me imenso com estes projectos”, confessa, com um sorriso, Ricardo. “Muita gente pergunta porque fui investir no interior. Mas em Altas Quintas e em Vale Feitoso eu não me sinto no interior, afastado de tudo. Estou próximo de Lisboa e de Madrid, no centro da Ibéria”, remata.

Para promover a visibilidade da marca, a Altas Quintas patrocinou já a Porsche Cup C6 Bank, que teve lugar em Portugal, no autódromo do Estoril, em Junho deste ano. E, em Setembro passado, três vinhos Altas Quintas acompanharam o jantar anual de uma das mais antigas e prestigiadas sociedades gastronómicas do Reino Unido, fundada em 1899, a Réunion des Gastronomes. É a primeira vez, desde a fundação da sociedade, que os vinhos tranquilos portugueses acompanham este jantar.

Voltando aos vinhos agora apresentados à imprensa. O espumante Viúva Le Cocq Reserva 2020 é feito de Verdelho, com estágio 18 meses antes de dégorgement. O Altas Quintas branco de 2023 é composto por Verdelho e Arinto em partes iguais, provenientes de vinha plantada a 600 metros de altitude. O estágio decorreu em barricas de carvalho francês durante seis meses. O lote do Altas Quintas Reserva branco de 2022 é composto pelas mesmas castas, mas o Verdelho entra com 60%. A fermentação teve lugar em barricas de carvalho francês, onde permaneceu por mais quatro meses, continuando depois nas cubas de inox. Já o Altas Quintas tinto 2022 resulta de um lote de Touriga Nacional (60%), Syrah (20%) e Alicante Bouschet (20%). Após maceração pré-fermentativa a frio durante 24 horas, a fermentação decorreu em pequenos lagares de 5 Ton, com pisa e delestage. O estágio posterior durou 12 meses em barricas de carvalho francês e depois em garrafa, antes de sair para o mercado. Para o Altas Quintas Reserva 2020 entrou Alicante Bouschet, com 50%, Touriga Nacional, com 30% e Syrah, com 20%. A maceração pré-fermentativa foi mais longa, durante 48 horas. A fermentação também decorreu em pequenos lagares de inox com delestage diária e depois ainda uma maceração pós-fermentativa durante três meses. O estágio em barrica contou com 16 meses e mais em garrafa. Para mais tarde ficou a apresentação dos topos de gama da casa, o Reserva-Do e o Obsessão.

A influência da altitude e do carácter da Serra de São Mamede sente-se claramente nestes vinhos, assegurando a sua frescura e o potencial de guarda. Altas Quintas, agora na versão 3.0, está de volta, e em grande.

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)

Messias dá a conhecer os novos LBV e Vintage

A data marcava o Dia Internacional do Vinho do Porto e, para a Messias, cuja notoriedade como produtora de vinho do Porto se notabiliza sobretudo nos Indicação de Idade e Colheitas, era um dia diferente: a apresentação cabia aos novos Messias LBV 2019 Unfiltered e Messias Vintage 2022.

A data marcava o Dia Internacional do Vinho do Porto e, para a Messias, cuja notoriedade como produtora de vinho do Porto se notabiliza sobretudo nos Indicação de Idade e Colheitas, era um dia diferente: a apresentação cabia aos novos Messias LBV 2019 Unfiltered e Messias Vintage 2022. A cidade Invicta foi o palco escolhido, […]

A data marcava o Dia Internacional do Vinho do Porto e, para a Messias, cuja notoriedade como produtora de vinho do Porto se notabiliza sobretudo nos Indicação de Idade e Colheitas, era um dia diferente: a apresentação cabia aos novos Messias LBV 2019 Unfiltered e Messias Vintage 2022.

A cidade Invicta foi o palco escolhido, cabendo à anfitriã Pousada do Porto, do Grupo Pestana, acolher os convidados, maioritariamente turistas estrangeiros hóspedes daquela unidade hoteleira.

A apresentação coube a Ana Urbano, a enóloga residente, responsável por todos os vinhos generosos da empresa familiar que completa o seu primeiro centenário já em 2026. A tónica destes dois rubys coloca-se na afirmação do território de onde são provenientes, a Quinta do Cachão, em Ferradosa, nas portas de entrada para o Douro Superior. Os solos xistosos, as vinhas com boa exposição solar e as condições climatéricas definem o comportamento da trilogia de castas mais usada nos vinhos do Porto da Messias: Touriga Francesa, Touriga Nacional e Tinta Roriz. São estas as características que definem um estilo clássico, que marca uma identidade quase secular dessa casa.

No Messias LBV 2019, a enóloga quis destacar as características de um ano em que, do início da Primavera e até meados de Agosto, houve temperaturas moderadas, permitindo uma maturação das uvas equilibrada, completando-se o verão, até à vindima, com temperaturas elevadas que trouxeram o álcool provável tão necessário à manufatura de Portos de qualidade. Já o Messias Vintage 2022 é o retrato de um ano de intensa concentração, fruto de um Verão tórrido, precedido de uma primavera com paragens na maturação que, na vindima, deram origem a bagos mais pequenos e maior concentração de açucares. Com 20 meses em pipas antes do seu engarrafamento, que ocorreu em Julho de 2024, este vintage mostra todas as virtudes, complexidade e juventude, que fazem dele um puro objeto de prazer.Ambos estão no mercado, encontrando-se o Messias LBV Unfiltered 2019 com um P.V.P. de 18€ e o Messias Vintage 2022 com um P.V.P. de 60€.

Valle de Passos: O renascer de uma marca

Valle de Passos

O concelho de Valpaços localiza-se no distrito de Vila Real, em Trás-os-Montes, a leste da serra da Padrela, entre os rios Torto e Caldo. Com 31 freguesias e aproximadamente 15.000 habitantes, possui uma altitude média de 600 metros, o que contribui para a produção de vinhos com elevada frescura e mineralidade, fruto também dos seus […]

O concelho de Valpaços localiza-se no distrito de Vila Real, em Trás-os-Montes, a leste da serra da Padrela, entre os rios Torto e Caldo. Com 31 freguesias e aproximadamente 15.000 habitantes, possui uma altitude média de 600 metros, o que contribui para a produção de vinhos com elevada frescura e mineralidade, fruto também dos seus solos graníticos.
A agricultura é uma das principais atividades económicas do concelho. O azeite, a batata, a castanha, o trigo, a fruta e claro, o vinho, são as principais produções agrícolas, sendo também importante a criação de gado. A cultura da vinha e do vinho, para além da importância histórica, assume também uma excecional importância social e económica, pela variedade e relevo das atividades que lhe estão ligadas. O nome de Valpaços, segundo alguns historiadores, é um derivado precisamente do vinho produzido neste vale durante o período Romano, denominado “vinho passum”, que seria um dos grandes vinhos do Império Romano. Daí o nome de vale passum, depois vale passos, hoje Valpaços. Curiosidades históricas que reforçam a aposta do grupo na região, “com o objetivo de fazê-la crescer de uma forma profissional e sustentada, associando o vinho aos enchidos e gastronomia”, reforça o administrador Álvaro Lopes.

A identidade da região

Tudo se iniciou em 2017 com a aquisição da Quinta Dona Adelaide, sala de eventos, ainda hoje palco para esse efeito, que será rebatizada Quinta Valle de Passos, concluindo assim o rebranding. Em paralelo é construído o hotel, cuja abertura coincide com a pandemia, em 2020. A compra da marca Valle de Passos e o lançamento dos primeiros vinhos culmina com a tão aguardada afirmação da presença do grupo Terras & Terroir na região de Trás-os-Montes. “Não conseguimos comprar a quinta e as uvas, mas ficámos com a marca Valle de Passos, identitária da região”, realça Álvaro Lopes. Na calha está previsto, junto ao Olive Nature, a construção de uma adega (neste momento as uvas são vinificadas em Montalegre) e a plantação de vinha própria. Para a criação dos vinhos Valle de Passos foi escolhido o enólogo Francisco Gonçalves, um dos técnicos que melhor conhece os terroirs e as castas de Trás-os-Montes, cuja vasta experiência na região é por demais reconhecida. “Queremos pegar no que é nosso e transportá-lo para a garrafa. Mostrar a identidade da região, pautando pela diferenciação através da utilização das castas que fazem parte dessa mesma identidade”, salienta o enólogo.

Valle de Passos

A Tinta Amarela e a responsabilidade social

Os vinhos são produzidos a partir de uvas adquiridas a viticultores selecionados. São cerca de 10 hectares de vinha, com predominância de Tinta Amarela, alguma Touriga Nacional e Tinta Roriz, enquanto a uva branca provém da freguesia de Carrazedo de Montenegro. A preocupação social é latente, pois trata-se de uma região com baixo rendimento económico, que vive da agricultura e tem muita dificuldade em escoar as uvas. “Pagamos melhor as uvas e ajudamos a alimentar famílias, comprando-as a quem não tem quem as compre”, conta-nos Hugo Fonseca, diretor de produção do grupo. Os primeiros quatro vinhos produzidos têm, por isso, matéria-prima de qualidade, tratada com carinho por quem é da região, com a casta Tinta Amarela como porta-estandarte. É a base de dois tintos e um rosé. O branco é feito de Gouveio, Arinto e Viosinho. “A Tinta, plantada em altitude e nestes solos, permite criar vinhos concentrados, mas simultaneamente leves, com enorme frescura”, destaca o enólogo Francisco Gonçalves. São quatro vinhos de uma boa estreia, que mostram o terroir. “Queremos que sejam vinhos daqui. Tal como os outros que produzimos noutros locais do país, é muito importante que falem o lugar. Esta região está pouco explorada, tem um elevado potencial e somos o primeiro grande grupo a apostar a sério em Trás-os-Montes”, refere Daniel Campos, diretor comercial do grupo. São vinhos gastronómicos, muito frescos, que acompanharam de forma brilhante o almoço preparado com mestria pelo chefe Adão Costa, harmonizando-os com uma seleção de iguarias transmontanas. “É muito importante apresentar qualidade nos vinhos entrada de gama. A base é fundamental para o cliente ficar agradado e querer experimentar novas referências”, remata Álvaro Lopes. E nós concordamos.

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)

António Boal compra vinha velha para reforçar gama premium

Costa Boal

A Costa Boal Family Estates adquiriu mais 10 hectares em Mirandela, com mais de 65 anos, reforçando o posicionamento da empresa no território transmontano e alargando a sua área de produção para 22 hectares de vinha velha. A propriedade tem também um hectare de olival, o que permite, ao produtor, entrar no mercado do azeite […]

A Costa Boal Family Estates adquiriu mais 10 hectares em Mirandela, com mais de 65 anos, reforçando o posicionamento da empresa no território transmontano e alargando a sua área de produção para 22 hectares de vinha velha. A propriedade tem também um hectare de olival, o que permite, ao produtor, entrar no mercado do azeite gourmet.

Esta aquisição, que aumenta a capacidade de produção de vinhos com origem transmontana de António Boal para cerca de 25 a 30 mil garrafas, integra a estratégia da Costa Boal Family Estates de acompanhar o crescimento da procura de vinhos premium.

“Sempre sublinhei o quanto acredito no potencial das vinhas velhas, pelos vinhos extraordinários que nos permitem criar”, conta António Boal, acrescentando que “o objetivo desta compra é aumentar a qualidade dos vinhos em portefólio”.

Com raízes no Douro desde 1857, em Cabêda, Alijó, António Boal reforçou os laços com o Douro, revitalizando a adega e vinhas de família. Mais tarde a sua empresa foi alargando o projeto a Trás-os-Montes e Alentejo.

Actualmente a Costa Boal Family Estates está a investir meio milhão de euros num espaço de armazenamento e engarrafamento de vinhos DOC Douro, na zona industrial de Vila Real, para dar resposta à crescente procura por vinhos premium. Em breve prevê o arranque da obra do projeto de enoturismo de Favaios, que inclui a construção de um hotel quatros estrelas, com adega e restaurante, numa quinta com vinha de cinco hectares. O investimento deverá ultrapassar os três milhões de euros.

Bernardo Gouvêa deixa o IVV

O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) está em revolução. Segundo apurámos, no passado dia 23 de janeiro, em reunião presencial, o Secretário de Estado da Agricultura demitiu verbalmente o Conselho Directivo do Instituto, composto pelo seu presidente, Bernardo Gouvêa, e vice-presidente, Sandra Vicente. Ao que tudo indica, a exoneração terá efeitos a partir […]

O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) está em revolução. Segundo apurámos, no passado dia 23 de janeiro, em reunião presencial, o Secretário de Estado da Agricultura demitiu verbalmente o Conselho Directivo do Instituto, composto pelo seu presidente, Bernardo Gouvêa, e vice-presidente, Sandra Vicente.

Ao que tudo indica, a exoneração terá efeitos a partir do dia 31 de Janeiro. Contudo, até à data, ainda não foi publicado o respectivo despacho de exoneração, nem são conhecidos os nomes dos próximos membros do Conselho Directivo, do Instituto que regula e supervisiona toda a fileira vitivinícola nacional.

Bernardo Gouvêa e Sandra Vicente estiveram à frente do IVV ao longo dos últimos seis anos, atravessando assim vários ciclos de desenvolvimento e crise de um sector que, neste momento, é particularmente afectado, a nível mundial, pelo continuado decréscimo do consumo de vinho.

Distribuidora brasileira Clarets alarga o seu negócio a Portugal

A distribuidora de vinhos Clarets, que representa algumas das grandes marcas internacionais no Brasil, chegou recentemente a Portugal, com o objetivo de estabelecer uma ponte entre alguns dos melhores produtores do mundo e o mercado nacional. Quando foi fundada, em 2010, a empresa trabalhava apenas com vinhos da região francesa de Bordéus. Com o tempo […]

A distribuidora de vinhos Clarets, que representa algumas das grandes marcas internacionais no Brasil, chegou recentemente a Portugal, com o objetivo de estabelecer uma ponte entre alguns dos melhores produtores do mundo e o mercado nacional.

Quando foi fundada, em 2010, a empresa trabalhava apenas com vinhos da região francesa de Bordéus. Com o tempo foi expandindo o seu portefólio a outras regiões do país, como Alsácia, Borgonha, Champagne, Provence e Vale do Loire, alargando, mais tarde, a sua oferta de vinhos no Brasil a países como Itália, Espanha, Portugal, Chile e Argentina. “A Clarets nasceu do meu desejo de partilhar a minha paixão pelos vinhos com quem também a sente e quer ter acesso a referências e produtores especiais”, conta Guilherme Lemes, enófilo e CEO da empresa, em comunicado à imprensa, defendendo que a missão da Clarets “é facilitar o encontro de quem produz o melhor com quem procura o melhor”.

A distribuidora, que tem escritórios em S. Paulo e no Rio de Janeiro, chegou a Portugal no final de 2024 com um portefólio dominado sobretudo por referências francesas, que tem como base três pilares: “produtores de excelência, máxima qualidade e preços competitivos”. “Os nossos produtores são, maioritariamente, dos mais disputados do mundo”, salienta o CEO.

“Na Clarets Portugal, a qualidade e exclusividade dos produtores do nosso portefólio é o eixo do nosso trabalho”, afirma, acrescentando que a Clarets Portugal espera diferenciar-se pela abordagem exclusiva e personalizada ao cliente, seja ele um restaurante ou um cliente privado. A visão de Guilherme Lemes passa pela certeza que a partilha de conhecimento, experiência e referências de vinho exclusivas será um caminho decisivo para a evolução numa área de negócio relevante para Portugal.

Monte Xisto: Nicolau de Almeida, tudo em família

Nicolau de Almeida

O nome Nicolau de Almeida carrega uma grande história, como sabemos. A associação com o criador do Barca Velha é óbvia, mas o nome é bem mais antigo e remonta ao séc. XIX, quando havia uma empresa de Vinho do Porto, criada em 1870 e inscrita como exportadora em 1907, com o nome de A. […]

O nome Nicolau de Almeida carrega uma grande história, como sabemos. A associação com o criador do Barca Velha é óbvia, mas o nome é bem mais antigo e remonta ao séc. XIX, quando havia uma empresa de Vinho do Porto, criada em 1870 e inscrita como exportadora em 1907, com o nome de A. Nicolau de Almeida e Co.. A empresa foi posteriormente vendida à Real Companhia Velha e oficialmente extinta em 1973.
Na sede actual da empresa familiar que João criou com os filhos – Mafalda, Mateus e João -, em Gaia, estão expostos alguns rótulos dessa empresa de Porto, imagens deliciosas de uma estética que fez época no sector e teve, nos materiais de promoção da Ramos Pinto, um excelente exemplo.

Peso da história

Mas a família não carrega só o peso da história. Também carrega o peso das jóias, só que estas não estavam em exposição nas instalações que visitámos. Expliquemo-nos.
Duas famílias de vinho cruzaram-se quando Maria José Ramos Pinto Rosas casou com Fernando Moreira Pais Nicolau de Almeida, pais de João Nicolau de Almeida. O ramo Rosas vinha de uma tradição de ourives e sobressai o nome de José Rosas (pai de Maria José, avô de João) que, após estudos em Londres, regressou a Portugal em 1903 e interessou-se pela tradição da filigrana portuguesa aplicadas em esmaltes. Foi-lhe confiada a recuperação das jóias da Coroa em 1942. Em 1919 comprou e recuperou a Casa de Ronfe, em Lousada, onde nasceu o Verde que hoje provámos. A quinta de Ronfe está no ramo Rosas, primos, mas são os Nicolau de Almeida que fazem e comercializam o vinho.

Estamos então perante uma família desprendida, pouco apegada às pedras preciosas, mais preocupada com as preciosidades que da quinta do Monte Xisto, em Foz Côa, poderiam fazer nascer. O projecto começou do zero. A quinta era “virgem”, sem vinha e sem prévia utilização. Ali se decidiu plantar vinha e o projecto começou, e bem, tacteando, com quantidades moderadas que era preciso mostrar e o crescimento só foi ditado pela aceitação da marca no mercado. Deveria ser sempre assim, mas sabemos todos que há quem tenha outra visão, chamar-lhe-íamos a “mania das grandezas”, e se abalance num voo sem rede que, por norma, acaba mal. Aqui começaram com 3000 garrafas de Monte Xisto, depois subiram para as 5000 e estabilizaram a produção, dependendo da colheita, entre as 8 e 10 000 garrafas. No plantio não se procurou fazer diferente, antes mostrar que, também aqui, algumas castas clássicas poderiam dar bons resultados, como a Touriga Nacional e a Touriga Francesa, acrescidas de Sousão. A espinha dorsal do vinho assenta, desde o início na Touriga Nacional, sempre com uma percentagem entre os 50 e 60% do lote.

Qualidade consistente

O facto de a vinha estar no Douro Superior tem vantagens. Desde logo o ambiente seco é inibidor das doenças da vinhas, como oídio e também o míldio, e o clima tende a gerar uvas de qualidade praticamente todos os anos. Cicadela sempre houve, e vão-na tratando preventivamente com infusões e, para já, estão a ter bons resultados. É, assim, em virtude das condições climáticas, que a marca não teve qualquer interrupção desde que nasceu, em 2011. A prova mostrou que há, de facto, uma constância de qualidade, o perfil tende a ser muito semelhante, ainda que se possa notar aqui dois momentos importantes. Por um lado, a primeira colheita (2011) revelou um estilo mais evoluído, com os licorados a começarem a marcar terreno. Nada que impeça uma boa prova agora, mas a dizer-nos que a guarda prolongada em cave pode ser desaconselhada. Por outro, a mudança do estágio, das barricas para os foudres, marca claramente uma pequena nuance no estilo, com a madeira a perceber-se mais bem integrada no vinho desde que os depósitos maiores começaram a ser usados, a partir da colheita de 2019. O vinho ganhou um ar mais sério e misterioso, mas com um perfeito equilíbrio na boca.

Mais recentemente plantaram cepas de branco, com a aposta na Rabigato, de há muito uma casta apadrinhada por Mateus desde os tempos em que esteve ligado ao projecto Xistos Altos. As uvas destinam-se ao futuro Órbita branco. Plantaram também mais Tinta Francisca e Tinto Cão para a marca Oriente. A Tinto Cão era muito acarinhada pelo pai João quando, ainda na Ramos Pinto, se aventurou a fazer um Douro tinto apenas com a Tinto Cão, corria o ano de 1981. Nunca foi comercializado mas, como se vê, o “bichinho” ficou lá.

Nicolau de Almeida

Grande harmonia

A grande conclusão da vertical que fizemos não deixa dúvidas: enorme consistência de estilo e qualidade, um modelo encontrado que agora urge preservar. Diria que, à parte o 2011, todos os vinhos estão a dar excelente prova, com uma grande harmonia de aromas e sabores. Um prazer que não depende da idade.
Aproveitámos o momento para provar um Verde que tem origem numa quinta do ramo Rosas da família, em Lousada, e que tem como objectivo chegar um dia às 20.000 garrafas. Tem a originalidade de ser um varietal de Trajadura, casta pouco vista a solo, mas João sempre lhe apreciou o equilíbrio e a acidez mais moderada, até porque, como nos disse, “nunca gostei daquela acidez cortante dos Vinhos Verdes”. Por isso este branco faz maloláctica, uma prática muito pouco habitual na região. O rótulo reproduz o de 1935, em exposição nas instalações de Gaia.

Para completar a prova, ainda tivemos direito a um Porto branco seco que a empresa produz, com baixa graduação. Estava bem mais interessante do que da primeira vez que o tínhamos provado.
Um projecto de família, com os pés assentes no Douro e sala de visitas em Gaia porque, como se sabe, produzir bem é preciso, mas ainda mais necessário é vender e tornar a qualidade percebida pelo consumidor. Parece simples, mas é bem complicado.

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)

Estive Lá: Voraz – Cozinha com identidade

Voraz

Ē, desde há largos anos, que venho acompanhando o trajecto do Chefe Tiago Emanuel Santos, ex-professor de geografia que se apaixonou um dia pela cozinha e nunca a mais a largou. Os seus antecedentes académicos pesam bastante naquilo que nos chega à mesa quando provamos a sua comida fortemente identitária, com respeito absoluto pelo produto […]

Ē, desde há largos anos, que venho acompanhando o trajecto do Chefe Tiago Emanuel Santos, ex-professor de geografia que se apaixonou um dia pela cozinha e nunca a mais a largou. Os seus antecedentes académicos pesam bastante naquilo que nos chega à mesa quando provamos a sua comida fortemente identitária, com respeito absoluto pelo produto e pela relação com os seus fornecedores. E sente-se na forma como privilegia o local em detrimento do exótico e permanece fiel às suas raízes e às tradições em que cresceu.
A boa notícia, para os seus muitos admiradores, entre os quais me incluo, é que o Tiago, que já andou um pouco pelas sete partidas do mundo, se estabeleceu, há cerca de um ano, de armas e bagagens no Barreiro, e faz uma cozinha acessível, convivial, plena de sabores, cores e perfumes que nos remetem para recantos esquecidos da nossa memória, mas com um toque que nos baralha e desafia.
No mercado municipal do Barreiro, renovado e arejado, o Voraz ocupa quatro bonitos “corners”, estendidos em outros tantos balcões por entre as frutas legumes, os talhantes e as peixeiras do 1.º de Maio. Um dos espaços é dedicado ao sushi e à cozinha asiática, com Chefe próprio, onde se privilegia o peixe português sempre que possível, mas estava fechado no dia da nossa visita.
Sobrou-nos, afinal, aquilo que nos motivou a nossa ida: provar a “cozinha de território” do Tiago e do seu jovem Chefe, Bruno Xavier, que nos fez a honras da casa. A ementa está dividida em duas partes: uma dita “para partilhar” e outra “para devorar”. Mas isso é um eufemismo, porque afinal todas se podem partilhar (e nós fizémos isso) e todas são para devorar (oh se são!).

Começámos logo bem, com um couvert de primeira, com pão de centeio, manteiga dos Açores (uma das paixões não dissimuladas do Tiago) e azeitonas marinadas. Aqui o desafio é conter-nos, para não perdermos o apetite para o que vem a seguir. Aconselhados pelo Xavier, fomos para o talharim de choco com creme de castanha e barriga de porco crocante, uma das novidades recentemente introduzidas na carta. Como o nome indica, o choco vem cortado em fatias finas e o creme de castanha, cozido em caldo de frango, envolve, de forma harmoniosa, o conjunto a que os apontamentos da barriga de porco dão a graça ao conjunto. Brilhante foi prato seguinte, as vieiras com cogumelos shitake e molho wafu. Foi uma explosão de sabores na boca que nos deixou rendidos. A seguir veio a chora de bacalhau em arroz carolino cremoso de caras do dito, pleno de untuosidade e delicadeza. Quisemos provar ainda a língua de vaca corada em caril com tomate seco e maçã verde, outro prato que nos surpreende e desafia. Já cheios com tanta voracidade, a vontade era saltar as sobremesas. Mas o Tiago insistiu que provasse o pudim Abade de Priscos e confirmasse que também, nos doces, o Voraz pede meças aos melhores.

Não seria justo terminar sem falar dos vinhos, outra das paixões do Tiago Emanuel Santos, que já se aventurou a fazer um vinho nos Açores em parceria com um produtor local. Aqui a lista assenta sobretudo nos vinhos da Península de Setúbal (pensar local, mais uma vez), com propostas que fogem ao óbvio e ao dejá vu, mas fazem sentido em matéria de harmonização com esta cozinha, ao mesmo tempo simples no conceito e complexa em sabores e texturas. E tudo isto por preços que já não se usam.

Voraz
Mercado Municipal 1.º de Maio, Barreiro
Tel.: 961 838 235
Encerrado ao Domingo e Segunda- feira
Horários: 12:30 – 15:00; 19:30 – 23:00