Descoberta: O Dão de João Cabral de Almeida

joão cabral almeida

Apesar de ser, sobretudo, conhecido pelas suas marcas da região dos Vinhos Verdes, o enólogo e produtor João Cabral de Almeida faz igualmente vinho na região do Dão, onde tem raízes familiares. Os seus Musgo e Líquen acabam por constituir uma muito agradável surpresa. Texto: Luis Lopes Fotos: Luis Lopes e DR O Dão chegou […]

Apesar de ser, sobretudo, conhecido pelas suas marcas da região dos Vinhos Verdes, o enólogo e produtor João Cabral de Almeida faz igualmente vinho na região do Dão, onde tem raízes familiares. Os seus Musgo e Líquen acabam por constituir uma muito agradável surpresa.

Texto: Luis Lopes

Fotos: Luis Lopes e DR

O Dão chegou relativamente tarde na carreira profissional de João Cabral de Almeida. O Vinho Verde foi a aposta primeira e mais forte, seguida pelo Douro, e apenas em 2018 conseguiu o primeiro espaço de vinificação no Dão. Mas esta foi uma evolução natural, ou não tivessem seus avós maternos e paternos sido produtores nestas três regiões. A ligação de João à vitivinicultura também era quase inevitável: dos outros sete irmãos, quatro estão profissionalmente ligados ao vinho.

Foi assim, “empurrado” pela vocação familiar, e sobretudo pelo irmão mais velho, Luis Cabral de Almeida, que se formou em agronomia no ISA, fez vindimas no Esporão, Taylors, Sogrape, Symington, viajou até à Argentina para experimentar as uvas e vinhos do hemisfério sul, e voltou para trabalhar com enólogos que assume como mentores no seu início profissional, João Brito e Cunha e Anselmo Mendes. Depois, lançou-se a solo enquanto enólogo consultor e criou a empresa João Cabral de Almeida, através da qual produz Vinhos Verdes, Douro e Dão, baseando-se na selecção de vinhas e aquisição de uvas em locais que considera especiais. Nasceram assim as marcas Camaleão (Verdes), Omnia (Douro) e, mais recentemente, Musgo e Líquen, no Dão. No total, a empresa já enche 180 mil garrafas, com os Vinhos Verdes a representarem 80% do volume de negócio, mas João tem grandes esperanças de que as mais valias geradas pelos brancos e tintos do Douro e do Dão venham, a breve prazo, equilibrar esta balança.

Para João Cabral de Almeida, o Dão acaba, por ser um regresso às origens. Na casa familiar, em Viseu, viveu até aos 17 anos. De volta ao “ninho”, é naquela cidade que hoje dá aulas de viticultura na Escola Superior Agrária, e é ali que, com sua mulher, também enóloga, Beatriz Cabral de Almeida, criam os quatro filhos do casal.

A abordagem de João ao mundo do vinho é, ao mesmo tempo, simples e complexa. “Como enólogo”, diz, “procuro entender os diferentes locais e colaboro na estratégia a seguir para atingir os objetivos traçados em equipa. Como produtor, tenho a ambição de traduzir o local de origem num vinho de perfil fresco e elegante, com carácter e sentido de lugar.” A região do Dão acaba por oferecer-lhe as condições ideais para cumprir o seu desígnio.

“Acredito que esta é umas das regiões de Portugal com mais apetência para fazer os vinhos que procuro”, refere João Cabral de Almeida, para quem os brancos de Borgonha e os tintos de Saint-Émilion (Bordéus), constituem referências. A adega, pequena, mas com tudo o que é essencial, fica em Silgueiros, mais concretamente em Oliveira de Barreiros, e João trabalha com diversas parcelas de vinha situadas em diferentes sub-regiões do Dão: Silgueiros, Terras de Azurara, Alva, Serra da Estrela e Besteiros. Estas parcelas pertencem a lavradores com quem estabelece uma parceria próxima, e que procura acompanhar durante todo o ano. A idade das vinhas varia bastante, mas a maioria terá entre 25 e 40 anos. Trabalha igualmente duas parcelas mais antigas: uma com cerca de 60 anos em que faz a vindima de branco primeiro e posteriormente a de tinto; e outra com mais de 90 anos em que as uvas são todas vindimadas ao mesmo tempo.

Na sua abordagem de adega, João privilegia barricas usadas, de diferentes origens, tanoarias e volumes, sempre com o propósito de que os vinhos não evidenciem a madeira nos seus aromas e sabores. Os Dão Musgo e Líquen variam entre vinhos de lote, sempre de field blend, e varietais, estes últimos focados nas castas identitárias da região, Encruzado, Alfrocheiro e Touriga Nacional.

Para o enólogo, a principal dificuldade está em encontrar e trabalhar “a vinha certa”. “Estamos o ano inteiro focados em criar as melhores uvas; depois, na adega, procuramos intervir o mínimo para que a natureza se consiga exprimir ao máximo”, remata.

No total, o projecto Dão de João Cabral de Almeida vale cerca de 25.000 garrafas. Mas espera crescer, acompanhando o crescimento da própria região. “Acredito que com os novos produtores de quinta que têm surgido, a região poderá viver uma revolução; e nós esperamos contribuir para o merecido ressurgimento do Dão”, refere. Afinal, como diz, em que outro lugar se pode encontrar “tamanha conjugação de frescura, elegância e subtileza”?

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2022)

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Grande Prova: O fresco perfume do Verde Loureiro

prova loureiro

É certamente uma das mais originais e frescas variedades de uva que temos em Portugal. Na região dos Vinhos Verdes, de onde é oriunda, apresenta-se em diferentes perfis. Encontramos o lado mais “tradicional”, com algum gás carbónico, acidez elevada e leve doçura frutada; e a vertente mais ambiciosa, com vinhos secos, austeros, minerais e longevos. […]

É certamente uma das mais originais e frescas variedades de uva que temos em Portugal. Na região dos Vinhos Verdes, de onde é oriunda, apresenta-se em diferentes perfis. Encontramos o lado mais “tradicional”, com algum gás carbónico, acidez elevada e leve doçura frutada; e a vertente mais ambiciosa, com vinhos secos, austeros, minerais e longevos. Certo é que o Verde Loureiro não passa indiferente e após 36 vinhos provados fica-nos a certeza de que o nível qualitativo nunca foi tão elevado.

Texto: Nuno de Oliveira Garcia

Fotos: Ricardo Palma Veiga

Na região dos Vinhos Verdes temos três castas brancas que reinam em termos de notoriedade: Alvarinho, Loureiro e Avesso. Implementadas em todas as sub-regiões, poucas dúvidas existem que, salvo uma ou outra excepção, cada uma destas variedades tem um terroir de eleição, associado a um rio nortenho. A “casa” do Alvarinho é o vale do Minho (em especial na sub-região de Monção-Melgaço), o Loureiro assume-se no vale do Lima e o Avesso prefere o vale do Douro.

Sucede, que as três variedades não se encontram no mesmo patamar de conhecimento enológico e de reconhecimento do mercado. Se o Alvarinho é já um sucesso com algumas décadas e marcas de grande notoriedade, e o Avesso uma redescoberta relativamente recente, pode-se dizer que o Loureiro está numa fase intermédia. Trata-se de uma etapa em que, mesmo com várias marcas disponíveis, e apesar de um público fiel que aprecia a sua frescura e exuberância, há ainda muito a fazer, mas, simultaneamente, já existem no mercado vários vinhos excelentes, como se verificou na presente prova. Em abono da verdade, depois do Alvarinho, o Loureiro é, certamente, a casta branca de Vinho Verde mais conceituada junto dos consumidores, sendo que, em alguns casos, o preço dos vinhos supera os €10€ ou €15, algo também perceptível neste painel de prova. É certo que a maioria dos Loureiros provados se cinge ao intervalo entre os €4,50 e os €7, mas mesmo essa circunstância tem de ser contextualizada; com efeito, não só a cada ano que passa surgem vinhos mais valorizados como, rigorosamente, o referido patamar de preço está bem acima da média dos demais Vinhos Verdes.

Apesar de a fama da casta vir de longe, é inquestionável o contributo que algumas marcas fomentaram ao Loureiro, sendo disso bom exemplo, no final do século XX, os vinhos da Casa dos Cunhas, Paço d’Anha, Solar das Bouças, Casa de Sezim, Casa da Senra ou Quinta do Convento da Franqueira. Com efeito, e apesar de há 30 ou 40 anos não ser comum a casta aparecer totalmente sozinha, todos os referidos vinhos tinham Loureiro como base. Mais recentemente, esse contributo foi aumentado com vinhos, desta feita, 100% Loureiro, da marca Muros Antigos (Anselmo Mendes) e das várias declinações da casta produzidas pela Quinta do Ameal (hoje, parte do grupo Esporão), porventura a propriedade mais intrinsecamente ligada à casta no imaginário do consumidor. Exemplos recentes de projectos que têm levado longe o Loureiro são, entre outros, os vinhos de Márcio Lopes, de João Cabral de Almeida, de Vasco Croft e, ainda, os novos vinhos dos produtores Aveleda e Soalheiro, todos provados neste trabalho.

Conforme referido acima, a casta está muito associada ao Vale do rio Lima, e também ao Cávado, mas tivemos em prova vinhos das demais sub-regiões. É certo que vários dos vinhos mais pontuados provieram do eixo Ponte de Lima – Viana do Castelo, mas provámos óptimos exemplares de outras sub-regiões como no já mencionado vale do Cávado. Até em Monção e Melgaço se começa a apostar no Loureiro para emparelhar com Alvarinho. Efectivamente, as melhores prestações do Loureiro face à uva Trajadura (outra uva da região, por regra com mais álcool e de menor acidez), tem feito com que aquela esteja a substituir esta na hora de contribuir com frescura e acidez a um típico lote baseado em Alvarinho. Percebe-se esta tendência, na medida em que a acidez do Loureiro acaba por equilibrar um perfil mais guloso e cheio do Alvarinho.

Com efeito, o equilíbrio ácido do Loureiro é muito valorizado pelos enólogos que o descrevem como puro e vibrante, a meio caminho entre a acidez por vezes “dura” do Avesso e a acidez quase doce de alguns Alvarinhos.

DIFERENTES ESTILOS E PERFIS

Falando de terroirs, há quem sustente que a casta funciona particularmente bem em solos franco-argilosos (até com um pouco de xisto), mas o consenso sobre a textura dos solos não é total, antes dependendo a qualidade, como quase sempre sucede, de outros factores como a respectiva porosidade e matéria orgânica. Casta de maturação precoce, que prefere solos profundos e de média fertilidade, ganha percepção de mineralidade em solos de base granítica com altitude acima dos 150 metros e com porosidade, com os melhores vinhos a não ultrapassarem 12,5% de álcool. Com cacho comprido e apertado, ou seja, com pouco arejamento, certo é a sua preferência por anos pouco chuvosos por altura da vindima (por isso as colheitas de 2005, 2009 e 2015 deram alguns dos melhores Loureiros), ainda que aprecie a brisa atlântica e as noites mais frescas de verão. No copo, começa por apresentar uma tonalidade citrina pálida, mas, com o passar dos anos ganha rapidamente mais cor em garrafa, ainda que menos intensa do que o Alvarinho. Com diferentes clones disponíveis, é possível um produtor escolher entre perfis aromáticos mais terpénicos e florais (a lembrar, por vezes, algum Moscatel) ou um carácter mais austero e até salino. O mesmo sucede com a produtividade (tipicamente alta) da casta, com os melhores vinhos a resultarem de produções até às 6,5 toneladas/hectare, mas existindo resultados bem positivos próximo das 10 toneladas. A sua presença no encepamento da região dos Vinhos Verdes é dominante: segundo as informações estatísticas disponibilizadas no site oficial da região, ocupa quase 4200 hectares, contra 2300 de Alvarinho (embora esta esteja a crescer mais rapidamente) e outro tanto de Arinto.

A prova que fizemos de 36 marcas, oriundas de toda a região, permitiu-nos encontrar vinhos com diferentes interpretações da casta. Um desses modelos é a utilização do Loureiro para fazer vinhos que se inserem no imaginário do Vinho Verde que se quer beber no ano a seguir à colheita, geralmente acompanhando peixe grelhado ou marisco. Exuberantes na vertente aromática, com gás carbónico, e acidez elevada compensada com alguma doçura frutada, a casta entrega bons exemplares vínicos neste registo. Aqui, agrada-nos o álcool de baixo teor, os preços muito cordatos, apesar de, genericamente, os vinhos serem lançados no mercado precocemente, uma vez que beneficiariam muito com mais alguns meses em garrafa. Nas antípodas, encontramos a tradução da casta assente em fermentação e/ou estágio em barrica, e sem qualquer gás. Por vezes com mais de um ano em estágio de garrafa, são vinhos que revelam ambição. Na sua grande maioria, a barrica aporta um ambiente mais barroco e generoso, com a casta a manter a sua presença, privilegiando uma harmonia entre as notas varietais e utilização da madeira. São vinhos perfeitos para assados, de peixe ou carne, e podem ser bebidos no verão, mas também em meia-estação. Por fim, tivemos vinhos que, sem utilização de barrica, se mantiveram no perfil da região, mas procurando modernizá-lo. Aproveitando o carácter único e muito original da casta (é uma uva que “viaja” pouco a nível nacional ou internacional), são vinhos que expressam a região com muita identidade, vinhos austeros e com notas vegetais deliciosas, vinhos que crescem claramente com alguns anos em garrafa. Descartando-se da exuberância aromática excessiva, do gás carbónico desarranjado e da afinidade entre acidez elevada e doçura frutada, essa terceira vertente mostrou alguns dos melhores vinhos em prova. O certo é que, em todas estas variações, encontrámos denominadores comuns, alguns dos quais já identificados neste texto: originalidade, acidez vibrante, álcool, preços ajustados à qualidade e ambição e, não menos importante, nos melhores exemplares, grande potencial de longevidade. Belíssimas razões para o consumidor eleger os Verdes Loureiro como um dos seus parceiros. À mesa, e não só.

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2022)

 

Editorial: Água

Editorial LUÍS LOPES

Adaptar a produção industrial e a utilização individual à crescente escassez de água é uma necessidade premente, mas que a maior parte do mundo ainda não reconhece como tal. Enquanto país do sul europeu, Portugal será sempre dos mais afectados em cenários de seca como o que agora atravessamos. A indústria (e o consumidor) estão […]

Adaptar a produção industrial e a utilização individual à crescente escassez de água é uma necessidade premente, mas que a maior parte do mundo ainda não reconhece como tal. Enquanto país do sul europeu, Portugal será sempre dos mais afectados em cenários de seca como o que agora atravessamos. A indústria (e o consumidor) estão obrigados a agir. E o sector do vinho não é excepção.

Editorial da edição nº 65 (Setembro 2022)

De tempos a tempos, a seca e as suas consequências entram-nos pela sala dentro, nas imagens televisivas, nas páginas dos jornais. Este ano, mais do que nunca. No entanto, a esmagadora maioria dos portugueses olha para a seca como algo conjuntural, passageiro, não equacionando sequer o cenário de abrir a torneira e, durante dias (meses?), não sair água. Mas essa é uma possibilidade que pode não estar tão longe assim e que áreas do mundo dito “desenvolvido”, como a California, já experimentam. A este respeito, recomendo a leitura da novela “Seca”, de Jarrod e Neal Shusterman, uma ficção assustadora e perigosamente plausível.

Segundo a União Europeia, atravessamos um período de seca como não há memória e que, à data em que escrevo (finais de agosto), não tem fim à vista. Entretanto, arrancaram as vindimas em diversas regiões de Portugal. Em traços gerais, a coisa não está brilhante. Bagos pequenos, mirrados pela falta de água, maturações muito heterogéneas, devido ao “adormecimento” da videira pelo calor e stress hídrico, pH desequilibrado, acidez em baixa. Vinhas regadas e vinhas de sequeiro foram igualmente afectadas, variando o grau do impacto em função da localização, orientação solar, tipologia de solos, opções vitícolas. E se nada pode substituir (na vinha, na uva, no copo) a água que a Natureza entrega sob a forma de chuva, a verdade é que, a nível global, a indústria do vinho está absolutamente dependente da rega. A grande dúvida é se, num futuro próximo, vamos continuar a ter água para regar.

Porém, vejo ainda um número demasiado curto de produtores nacionais seriamente preocupados com isto. Talvez devido, precisamente, à sua dimensão, os maiores parecem estar bem mais despertos para o problema e, sobretudo, mais disponíveis para agir na busca e aplicação de soluções. Confesso que me custa muito ver, por exemplo, pequenos produtores, claramente comprometidos com o ambiente a outros níveis, de mangueiras abertas na adega como se a água fosse um recurso inesgotável. E convictos de que práticas como optimização científica da rega ou reutilização de água na adega, não são para si. Um pouco naquela de que “como produzo pouco vinho, gasto pouca água”. Só que isso não funciona assim. É o mesmo que dizer que uma casa com duas pessoas faz menos lixo do que uma com oito e que, portanto, pode fazer lixo à vontade. Na verdade, a questão não está no volume total de água gasto pelo produtor; está no que gasta por cada litro de vinho produzido.

Os cálculos relativos à pegada de água na produção de vinho estão, naturalmente, condicionados à enorme diversidade existente no sector. Ainda assim, estima-se que, a nível mundial e em média, são necessários 870 litros de água para produzir um litro de vinho (ver water footprint network). Muito menos, ainda assim, que o café (1056 l/l), sumo de maçã (1140 l/l), leite (1020 l/l), pão de trigo (1608 l/kg), arroz (2497 l/l), manteiga (5550 l/kg), carne de vaca (15500 l/kg) ou chocolate (17000 l/kg). Mas bem mais do que a cerveja (298 l/l)…

Sabe-se que, através processos de optimização na vinha e adega, é perfeitamente possível reduzir a pegada de água vitivinícola para um terço da actual. Só que é obrigatório que os produtores interiorizem essa necessidade e resolvam agir. A água é um bem limitado, e vai sê-lo cada vez mais no futuro. Utilizá-lo com a máxima eficácia, racionalidade e parcimónia na produção de vinho é um imperativo. Certamente mais impactante, em termos de cuidado ambiental e sustentabilidade, do que fazer uma vinha biológica.

Esta obrigação aplica-se a quem faz vinho mas também, é claro, a quem o bebe. Os produtores que façam a sua parte. Nós, consumidores, tratemos de ir fechando as torneiras.

Vinhos e Sabores – Está a chegar o grande evento do ano

Evento Vinhos e Sabores

Está quase tudo a postos para dar início ao maior evento do sector dos vinhos em Portugal. São esperados milhares de visitantes portugueses e estrangeiros, centenas de produtores, imprensa nacional e internacional, profissionais da área e entusiastas. Consulte todas as actualizações do evento aqui.   Toda a informação sobre as Provas Especiais e como fazer […]

Está quase tudo a postos para dar início ao maior evento do sector dos vinhos em Portugal. São esperados milhares de visitantes portugueses e estrangeiros, centenas de produtores, imprensa nacional e internacional, profissionais da área e entusiastas.

Consulte todas as actualizações do evento aqui.

 

Toda a informação sobre as Provas Especiais e como fazer a inscrição (vagas limitadas).

 

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Alentejo: De Santa Vitória, com Beja à vista

Santa Vitória

Em visita à Santa Vitória, o produtor alentejano apresentou cinco novidades vínicas e dois azeites, estes últimos de qualidade virgem extra, sendo um de agricultura biológica. O conjunto de vinhos compôs-se dum espumante e quatro tranquilos: dois brancos, um rosé e um tinto, com destaque para o Verdelho, uma novidade absoluta.  Texto: João Barbosa    […]

Em visita à Santa Vitória, o produtor alentejano apresentou cinco novidades vínicas e dois azeites, estes últimos de qualidade virgem extra, sendo um de agricultura biológica. O conjunto de vinhos compôs-se dum espumante e quatro tranquilos: dois brancos, um rosé e um tinto, com destaque para o Verdelho, uma novidade absoluta.

 Texto: João Barbosa     Notas de Prova: Mariana Lopes    Fotos: Santa Vitória

A ondulação suave do Baixo Alentejo engana a vista da distância. Olhando, das vinhas de Santa Vitória, Beja figura-se estar já ali, com o seu castelo que ainda domina o campo. Por vezes, nos dias nítidos e em que o céu e a terra ficam mais contrastados, parece bastar esticar o braço para alcançar a torre do século XIV.

Só que o “já ali” é relativo, especialmente quando se percebe que a distância é a mesma de Lisboa a Cascais ou do Porto a Santa Maria da Feira, rondando os 30 quilómetros. De algum modo, ainda com exagero, poder-se-á dizer que há uma ilusão de óptica. É bonito de se ver.

Os barros de Beja são famosos, reconhecidos quando o trigo dominava a paisagem. A água do sistema de Alqueva trouxe o regadio e novas culturas à região. Todavia, para tantas pessoas, as searas, ora verdes, ora amarelas, são ainda os verdadeiros bilhetes-postais.

A água é importante no Baixo Alentejo e não é diferente em Santa Vitória – nome tirado de freguesia do concelho de Beja – que é a última propriedade do perímetro de rega de Alqueva. Uma sorte nos anos de chuva escassa, como aconteceu no ano agrícola de 2021/2022.

O enchimento do lago começou sensivelmente quando o Grupo Vila Galé investiu na concretização da Casa de Santa Vitória, designação que seria abreviada nos rótulos em 2019, ficando somente a referência à virgem católica que foi martirizada no ano de 249. Nos 1.260 hectares espalhados por cinco herdades, compradas em 2001, convivem o empreendimento hoteleiro, instalações industriais, vinhas, olivais, pomares e floresta – o montado ocupa a maior parte do espaço, abrangendo cerca de mil hectares.

A composição do domínio – constituído com a soma das herdades de Faleira, Faleira Grande, Figueirinha, Malhada e Vilar – será mexida. No espaço de um ano, vai haver alterações, tanto em construção quanto ao cultivo da vinha. O pomar tem pera-rocha, ameixa, nectarina e pêssego – daí não vai passar, nem na variedade das árvores nem em área. A fruta desses 95 hectares vai alguma para os hotéis do grupo, mas a maioria é vendida, através de empresas fruteiras, noutros países. Entre o que existia e o que anteriores proprietários projectavam, o Grupo Vila Galé mudou muita coisa. O campo de golfe não avançou, desistiu-se do couto e acabou a ganadaria brava, que tinha uma pequena praça de touros. Porém, o semental não se foi embora, vive com “meia dúzia de namoradas”, diz Tomás Pires, director do hotel. De antigamente, ficaram também gamos e veados. A vedação tem competência relativa, pois os animais selvagens saltam-na com frequência.

Santa Vitória
Patrícia Peixoto, enóloga de Santa Vitória.

A TERRA E O VINHEDO

 Em produção, estão plantados 127 hectares de vinha, com dez castas tintas e seis brancas. As vinhas estão divididas em três parcelas, com as castas em talhões. Nos 52,45 hectares da Vinha da Mina há variedades das duas cores. Os 23,37 hectares da Vinha da Encosta e os 51,77 hectares da Vinha de Albernoa têm plantadas apenas cultivares escuras. “O terroir é muito homogéneo”, informa Patrícia Peixoto, responsável pela enologia. O chão é xisto-argiloso – ondulado a cerca de 280 metros de altitude. O clima, bem quente, do Baixo Alentejo tem de ser vigiado de perto para que seja domado. “Quem prova os nossos vinhos não se engana. Diz que são alentejanos, mas com elegância. Evitamos o excesso de álcool, o excesso de suavidade e a falta de acidez”, refere.

As primeiras vinhas foram plantadas no final da década de 90, mas a área era pequena. Assim, logo em 2002 começou a ampliação. “A primeira produção foi em 2003. Não foi feita aqui, não havia adega. A primeira vez que a adega laborou foi em 2004. Começámos, muito humildemente, com um crescimento orgânico, à medida das nossas necessidades”, salienta Patrícia Peixoto. No início foram 200 toneladas de uva; hoje, serão 1.200, estabilizando por aqui.

Presentemente, a produção assenta nas castas tintas Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonez, Baga, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Tinta Caiada, Touriga Nacional e Trincadeira. E nas brancas Antão Vaz, Arinto, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Verdelho e Viosinho. Nesta fase, chegou o momento de reestruturar. Há plantas com pouca produção e áreas com falhas. A intervenção vai desde a renovação até ao plantio de novas castas, envolvendo um total de 20 hectares. Agora, entram a branca Cerceal e as tintas Castelão, Touriga Franca e Tinta Miúda. No entanto, a intervenção envolve também as Alicante Bouschet e Syrah, que serão reforçadas. Este ano foi plantada uma área de 5,5 hectares, em sequeiro e modo de produção biológico, com Alvarinho, Petit Verdot e Touriga Franca. No redesenho, as vítimas serão a Tinta Caiada e a Alfrocheiro, “que não acrescentam grande coisa para os nossos vinhos”. Patrícia Peixoto realça a escolha da Castelão, variedade que não é estranha ao Alentejo. “Achamos que se vai adaptar muito bem, pode trazer mais alguma frescura”.

A vindima de 2021 vai ficar na memória. “É um ano difícil de igualar. Como este ano que passou, registo o de 2019. Tivemos grande homogeneidade e equilíbrio em termos de maturação, não tivemos de corrigir mostos. As análises eram perfeitas, pareciam vinhos acabados. É muito difícil conseguir isto. A natureza foi a nossa maior aliada”, sublinha a enóloga.

A vindima é sobretudo mecânica, mas para os vinhos premium a apanha é feita à mão, com as uvas levadas para a adega em caixas para 25 quilogramas. Reduzida é igualmente a pisa a pé. As uvas, quando chegam à adega, vão para a mesa de escolha. A partir daí começam a construir-se mais opções de destino.

14 VINHOS NO PORTEFÓLIO

  gPatrícia Peixoto sublinha a preocupação de conseguir um perfil de elegância e frescura, cumprindo a individualidade das castas e o carácter do terroir. “São vinhos que respeitam o Alentejo e a fruta. Pouca intervenção, porque a uva sendo boa não tem grandes segredos. Claro que alguns vinhos vão à barrica, mas não queremos que a madeira seja a vencedora. Queremos gama de vinhos muito elegantes, muito a puxar à fruta e às castas”. A enóloga realça que querem estabelecer, em cada gama, “preços muitos justos, com uma qualidade sempre a surpreender as expectativas do consumidor, mas tentando manter sempre perfil da casa”.

A gama não é tão pequena quanto isso, mas também não é muito vasta. O portefólio é composto por 14 vinhos. Na base estão os Versátil, disponíveis em branco, rosé e tinto. Seguem-se os Seleção, também com as três cores. Os rosados não estão nos Reserva e Grande Reserva. Ao monovarietal de Touriga Nacional juntou-se o de Verdelho e o espumante é aposta para reforçar.

Como certamente acontece na maioria das famílias, nos vinhos também há alguns com características de personalidade mais incomuns. Em Santa Vitória é o Inevitável, o topo da gama. “Aqui não temos respeito por nada, não há perfil a imitar ou procurar. Basicamente, são sempre as melhores uvas, das melhores castas daquele ano”, diz Patrícia.

O Inevitável é sempre tinto, sem castas fixas e só vem ao mundo em anos de excelência. A edição de Inevitável de 2019 fez-se com Alicante Bouschet e Trincadeira, um casamento inédito na casa. Na calha está o 2020, já engarrafado, e cuja formulação está, por agora, em segredo. A enóloga não descarta a hipótese de novos monovarietais. “É possível. Há duas castas em que acredito muito, que têm muito potencial e que já tivemos como monocasta. Foram edições limitadas, que não voltámos a fazer. Mas poderá haver, de novo, Syrah e Alicante Bouschet”.

BRACARENSE ALENTEJANA

 Patrícia Peixoto nasceu e cresceu em Braga – ainda é apanhada pelo sotaque, mas às vezes as palavras saem-lhe com alguma tonalidade alentejana. Isso é natural, pois quase toda a sua vida profissional tem sido passada no Alentejo. Licenciou-se em Enologia, em 2002, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. O primeiro emprego foi na Adega Cooperativa da Covilhã, onde esteve cerca de dois anos. Passou pela Solouro e pela Enoport antes de entrar para a equipa de Santa Vitória.

Chegou a Beja há 16 anos, quando Bernardo Cabral era o responsável pela enologia, para a vindima de 2006. “Eu era assistente dele. Fazia tudo o que era controlo de qualidade, analítico, microbiológico e apoiava na produção. Entretanto, ele passou para um regime de consultor e fiquei como directora técnica, em 2012. Há mais de um ano saiu definitivamente e fiquei sozinha”.

Em 16 anos muita coisa pode mudar, e mudou. No início, a empresa produzia praticamente só para os hotéis Vila Galé. Hoje, o Grupo Vila Galé absorve entre 25% e 30% da produção, mas Santa Vitória também trabalha o canal Horeca, tem distribuidores, supermercados e clientes individuais, que adquirem quer nos empreendimentos, quer através da loja online. Patrícia Peixoto realça que, pela ligação ao turismo, há uma importante comunicação com os clientes. “Os consumidores de Lisboa e do Algarve têm perfis muito diferenciados. A parte boa é que temos vinhos para todos os gostos e tipos de consumidor”. Patrícia Peixoto destaca a importância, para o reconhecimento da marca Santa Vitória, dos vinhos mais ambiciosos, com estágio em barrica e que exigem “outro tempo, outro momento à mesa, para serem apreciados”. A enóloga exemplifica: “o Reserva Branco é uma novidade, nunca tinha sido feito. O vinho teve uma aceitação fantástica”.

Santa Vitória não trabalha apenas com madeira nova. O uso é optimizado, passando pelas várias referências a partir do Seleção. As barricas novas estão reservadas aos vinhos de topo, “No Grande Reserva posso pôr um bocadinho de barrica de segundo ano”, refere Patrícia Peixoto, “mas o Inevitável estagia a 100% em barricas novas”.

AZEITES, DOCE E PICANTE

 O olival ocupa 195 hectares, estabelecido em modos super-intensivo, intensivo e tradicional. O olival tradicional, em sequeiro, tem apenas 7,19 hectares. É formado por árvores centenárias da variedade Galega e daí saiu o primeiro azeite biológico da casa, agora colocado no mercado.

Antes de 2019, o azeite era produzido noutro lagar. Desde então, é tudo trabalhado na propriedade. Santa Vitória faz actualmente dois azeites; um virgem extra e outro virgem extra biológico. O Premium tem um sabor a verde, picante e amargo. Já o Biológico tem doçura da fruta mais madura, embora se sinta algum picante.

No conjunto de olival existem sete cultivares, sobretudo Cobrançosa, mas também Arbequina, Arbosana, Cordovil, Galega, Koroneiki e Picoal. A colheita das árvores em sebe é 100% feita mecanicamente. Já as oliveiras de copa, mais pesadas, são trabalhadas com vibrador, sendo que a fruta cai para panos, evitando o contacto directo com o solo.

A apanha da azeitona começa na segunda quinzena de Outubro, “quando ainda é dia”, refere Tomás Jónatas. O oleólogo informa que a colheita vai até Dezembro, o que obriga a trabalho mais exigente. “Em Dezembro já chove; há lama e a azeitona vem mais suja. É lavada, passa por uma ventilação para retirar essa água, é encaminhada para uma balança. Fica armazenada temporariamente, no máximo de oito ou 12 horas”, diz. As azeitonas são processadas quase sempre por ordem de chegada, com atenção ao estado de maturação e à variedade, refere Tomás Jónatas. São trituradas em moinhos de martelo, a massa de azeitona é encaminhada para a sala de extracção. A extracção a frio faz-se entre 25 a 26ºC por um período de até 45 minutos, ao ritmo de 400 Kg por hora. Contudo, a empresa aproveita tudo, sublinha Tomás Jónatas: “minimizar o desperdício de gordura é um ganho para o lagar”. O bagaço ainda contém 3% de gordura, mas a qualidade é menor, situa-se nos virgens ou até lampantes. Para estes azeites – vendidos a granel – o tempo e o modo de laboração são bem diferentes face aos virgem extra. A massa é batida até mais de duas horas, a cerca de 40ºC. O caroço serve para aquecer a caldeira industrial. “Precisamos de muitos graus celsius para aquecer 4000 quilos de massa. Tem de se ter capacidade de aquecer a água a 90 graus”, informa o oleólogo. Depois, tudo o que sobra é vendido como biomassa ou para alimentação animal.

TURISMO E VINHO

Santa Vitória realiza visitas guiadas de manhã e tarde, durante a semana, e só de manhã, ao fim-de-semana. Há percursos focados no azeite, com visitas ao olival e ao lagar. A experiência culmina com uma demostração culinária, orientada pelo chef Romão Reis, com refeição. A componente hoteleira (Vila Galé Clube de Campo) foi renovada em 2014 e disponibiliza 81 quartos. As actividades vão do enoturismo ao ecoturismo. Uma das atracções é a equitação: um garanhão e quatro éguas, de raça puro-sangue lusitano, vivem no campo. Em estábulo estão duas fêmeas frísias, que são de fácil montada, e um casal de burros mirandeses para passeios.

Afastadas, entre si e do actual hotel, vão surgir duas unidades, com abertura prevista para 2023, com conceitos diferenciados. Um só para crianças, com 80 quartos, e outro só para adultos, de apenas seis alojamentos. Os miúdos não vão estar, propriamente sozinhos, mas é-lhes dada a primazia de serem os responsáveis em várias vertentes, nomeadamente o check-in e a saída, indica o responsável da hotelaria.

E é hora de voltar aos vinhos. Em visita a Santa Vitória, o produtor apresentou cinco novidades vínicas e dois azeites. O conjunto de vinhos compôs-se de um espumante e quatro tranquilos, brancos, rosé e tinto: Santa Vitória Seleção branco 2021, rosé 2021 e tinto 2020; Santa Vitória Verdelho 2021; e Santa Vitória Espumante 2018 (cuja nota de prova sairá em edição futura).

O Seleção branco é feito de Arinto e Verdelho, enquanto o rosé usa Alfrocheiro e Baga. Já o tinto fez-se com Aragonez e Touriga Nacional e estagiou nove meses em barrica. Barrica essa que não entra no Verdelho para preservar a pureza aromática da casta. Finalmente, o espumante Blanc de Noirs fez-se com uvas Arinto e Baga, colhidas em 2018, e foi elaborado pelo método clássico, com dois anos de estágio “em cave”.

Com vinhos, azeites, fruta, floresta, turismo, hotel, restaurante, Santa Vitória é uma propriedade diversa e polivalente, com imensos polos de interesse. Ali, no coração do Baixo Alentejo, com Beja à vista.

(Artigo publicado na edição de Julho de 2022)

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Vinhos de Lisboa e do Tejo unem duas garrafeiras num evento conjunto

garrafeiras de lisboa

Duas garrafeiras de Lisboa, Wines 9297 de Helena Muelle e a Garrafeira Néctar das Avenidas de João Quintela, esquecem a concorrência e organizam em conjunto um evento dedicado aos vinhos de Lisboa e do Tejo. No Sábado, 17 de Setembro, no Hotel Real Palácio, em Picoas, produtores das duas regiões apresentam os seus vinhos para […]

Duas garrafeiras de Lisboa, Wines 9297 de Helena Muelle e a Garrafeira Néctar das Avenidas de João Quintela, esquecem a concorrência e organizam em conjunto um evento dedicado aos vinhos de Lisboa e do Tejo.

No Sábado, 17 de Setembro, no Hotel Real Palácio, em Picoas, produtores das duas regiões apresentam os seus vinhos para degustação numa prova que decorre entre as 14:30 e as 20:00 horas. O acesso tem um custo de 10€ com oferta de copo incluído.

Integrado no programa do evento, uma prova especial dos produtores do grupo Lisbon Family Vineyards (Quinta do Monte d’Oiro, Quinta de Santana e Quinta de Chocapalha) às 16:00 horas permite o acesso mediante inscrição prévia e um custo de 25€.

Nobre Gosto: Os Fortificados já mereciam uma festa assim!

Cerca de 2000 pessoas visitaram o 1º Festival de vinhos fortificados e doces de Portugal que decorreu no Palácio e jardins do Marquês de Pombal em Oeiras no passado fim de semana, num evento organizado pela Grandes Escolhas e o Município de Oeiras. Vinhos do Porto, Madeira, Moscatel do Douro e de Setúbal, vinhos licorosos […]

Cerca de 2000 pessoas visitaram o 1º Festival de vinhos fortificados e doces de Portugal que decorreu no Palácio e jardins do Marquês de Pombal em Oeiras no passado fim de semana, num evento organizado pela Grandes Escolhas e o Município de Oeiras.

Vinhos do Porto, Madeira, Moscatel do Douro e de Setúbal, vinhos licorosos e de colheita tardia estiveram em prova no magnifico cenário do Palácio, apresentados por 27 produtores, representando o melhor da produção nacional. Um publico ávido, com grande percentagem de jovens e com uma razoável representação de estrangeiros puderam fazer uma aproximação a estes vinhos e deixarem-se encantar por eles.

Veja as fotos e vídeo do evento aqui.

Para além dos entusiastas pelos vinhos generosos, o Nobre Gosto procurou também tocar e atrair outros tipos de publico. Um sunset bar servia cocktails, provando que há muitas formas e outras ocasiões de consumir este vinhos, decorreram diversas masterclasses ao longo do evento, chefes prestigiados ensaiaram demonstrações culinárias e uma ampla oferta de iguarias doces e salgadas tornaram os jardins do Palácio um local de lazer e convívio especialmente aprazível.

 

Quanta Terra: Vinhos com arte, em Favaios

Quanta Terra

O projecto de Celso Pereira e Jorge Alves já tem mais de duas décadas, mas só agora encontrou uma casa à altura dos grandes vinhos que saem das mãos desta dupla. A antiga “Destilaria Nº7” é hoje um espaço multifunções, onde as artes vínicas e as artes plásticas dão as mãos e abraçam os visitantes. […]

O projecto de Celso Pereira e Jorge Alves já tem mais de duas décadas, mas só agora encontrou uma casa à altura dos grandes vinhos que saem das mãos desta dupla. A antiga “Destilaria Nº7” é hoje um espaço multifunções, onde as artes vínicas e as artes plásticas dão as mãos e abraçam os visitantes. Foi ali, dentro de uma cuba de aguardente, que provámos as novidades Quanta Terra.

Texto: Luís Lopes

Fotos: Luís Lopes e Quanta Terra

Na base do Quanta Terra há muita paixão (como é natural em quem se mete com estas coisas do vinho) mas também muita ciência. Ou não fossem Celso Pereira e Jorge Alves dois dos mais conceituados enólogos do Douro. O seu percurso individual confluiu em 1995, quando Jorge, terminada a universidade, foi fazer um estágio de enologia nas Caves Transmontanas, onde Celso já liderava a produção de espumantes Vértice desde a fundação da empresa, em 1988. A diferença geracional (Jorge tem menos 17 anos) não obstou a que se criasse logo ali uma sólida amizade que, pouco tempo depois, em 1999, se estenderia a uma sociedade empresarial, chamada Quanta Terra. Paralelamente, Celso e Jorge foram desenvolvendo a sua actividade enológica em casas de referência, o primeiro nas Caves Transmontanas e na Adega de Favaios, o segundo na Quinta do Têdo e nos projectos directa ou indirectamente ligados ao grupo Amorim: Quinta Nova, Taboadella e Aldeia de Cima.

Antes de avançarem para a sociedade Quanta Terra, os dois enólogos definiram muito bem o perfil de vinhos que queriam fazer e estudaram exaustivamente as condições (castas, solos, altitudes, exposição solar) de que necessitavam para o conseguir. Em termos de terroir, ficou claro para eles que os vinhos tintos viriam do vale do rio Tua e os vinhos brancos e rosados do planalto de Alijó. Claro ficou também que um projecto com este perfil e dimensão (começou com pouco mais de 5.000 garrafas e hoje faz cerca de 65.000) deveria apostar em sólidas parcerias com viticultores de excelência, a quem se comprariam as uvas, e dispensaria investimento em adegas e armazéns, arrendando esses serviços (brancos e espumantes são actualmente vinificados nas Caves Transmontanas e tintos na Quinta do Têdo).

Firme nestas bases, a sociedade decidiu começar logo pelos vinhos de topo e o primeiro Quanta Terra Grande Reserva tinto nasceu na colheita de 1999, uma vindima auspiciosa, em que várias grandes marcas do Douro se estrearam também. Em 2005 surgiria o Terra a Terra Reserva tinto, que vinha colmatar a necessidade de ter uma referência no segmento dos €10-€12. O profundo conhecimento do Douro dos altos, e em particular de Alijó e Favaios, onde Celso Pereira trabalha há mais de 30 anos levou ao nascimento dos primeiros vinhos brancos, o Quanta Terra Grande Reserva em 2007 e o Terra a Terra Reserva em 2010. Em 2018, do mesmo local, veio um rosé de Pinot Noir que rapidamente se tornou uma estrela neste segmento, o Phenomena.

Nesta fase mais recente do projecto, começaram a surgir “especialidades”, vinhos raros, brancos e tintos com estágios muito prolongados em barrica ou elaborados a partir de vinificações especiais, como é o caso dos brancos Golden Editions ou dos tintos Manifesto e Inteiro. O enorme sucesso destes vinhos icónicos fez com que, a partir de 2017, a dupla de enólogos iniciasse um programa de estágios prolongados, em barrica e garrafa, para diversos brancos e tintos.

Em 2021 surgiu o primeiro espumante Quanta Terra, Pinot Noir de 2018, e também um novo tinto, de 2017, ambos fruto de uma parceria com a famosa artista plástica Joana Vasconcelos, que desenhou os rótulos. Artista essa que estendeu essa parceria à “decoração” da nova casa Quanta Terra, em Favaios, onde estão expostas muitas das suas obras.

Ainda que a exposição temporária (até final de julho, pelo menos) das peças de Joana Vasconcelos seja motivo suficiente para uma visita à Quanta Terra, o espaço de enoturismo, só por si, mais do que justifica a deslocação expressa a Favaios. Trata-se de uma antiga destilaria da casa do Douro, a destilaria Nº7, construída em 1934 e agora recuperada com base num projecto do arquitecto Carlos Santelmo. Na época em que foi concebida, tinha como missão destilar e armazenar as aguardentes utilizadas na fortificação do vinho do Porto. Para tal, para além do alambique, possuía diversas cubas de armazenamento revestidas a ladrilhos vidrados, para aguentar a força alcoólica da aguardente. Essas mesmas cubas, onde a infiltração do álcool nas paredes vidradas desenhou verdadeiras obras de arte abstracta, são hoje salas de prova e um dos maiores polos de atracção do espaço Quanta Terra, ao lado da loja e dos documentos e fotografias que traçam a história do local. Manifestações artísticas podem igualmente ser considerados os vinhos de Celso Pereira e Jorge Alves. No copo, revelam-se estimulantes, complexos, frescos, desafiantes fontes de prazer. Não é também isso arte?

(Artigo publicado na edição de Julho 2022)

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Eruptio, vinhos vulcânicos

Eruptio Vinhos Vulcânicos

Embora a última erupção do vulcão do Pico tenha acontecido nos finais do século XVIII, ultimamente tem sido registada uma autêntica erupção de vinhos brancos fabulosos, vindos desta ilha. O novo projecto Eruptio do enólogo Bernardo Cabral, apaixonado pela Ilha do Pico, em parceria com o grupo Abegoaria, trazem à nossa mesa uma expressão líquida […]

Embora a última erupção do vulcão do Pico tenha acontecido nos finais do século XVIII, ultimamente tem sido registada uma autêntica erupção de vinhos brancos fabulosos, vindos desta ilha. O novo projecto Eruptio do enólogo Bernardo Cabral, apaixonado pela Ilha do Pico, em parceria com o grupo Abegoaria, trazem à nossa mesa uma expressão líquida da sua origem, com carácter marítimo e uma frescura inimitável.

Texto: Valéria Zeferino

Fotos: Eruptio

Eruptio Vinhos Vulcânicos
o enólogo Bernardo Cabral com Manuel Bio, CEO da Abegoaria.

A montanha, um vulcão, o mar e o vento moldam as condições extremas do cultivo das vinhas na ilha do Pico, que deram origem aos vinhos Eruptio. Para comunicar este terroir não é preciso inventar nada, já está tudo “inventado” pela natureza, basta olhar para a geografia e geologia da ilha.

Situada em pleno oceano Atlântico, a 1500 km de Portugal continental, a ilha do Pico é dominada pelo clima marítimo, caracterizado por temperaturas amenas e baixa amplitude térmica (diurna e anual), pluviosidade elevada e humidade relativa acentuada, taxas de insolação pouco elevadas (ou seja, a luz solar está frequentemente obstruída por nuvens). As chuvas são abundantes e caem praticamente durante o ano todo. Os rigorosos ventos atlânticos pulverizam as vinhas com a água do mar.

O imponente símbolo da ilha é a montanha do Pico com 2 351 m de altitude (a mais alta em Portugal) – um estratovulcão que se formou pelo magma extravasado, depositando material  das erupções numa forma de cone.

Geologicamente, a ilha do Pico é a mais recente de todo o arquipélago, com apenas cerca de 300 mil anos da existência, comparativamente com a ilha de Santa Maria com mais de 8 milhões de anos ou de  São Miguel com mais de 4 milhões de anos. Nesta ordem de grandeza, é uma “ilha bebé”, como lhe chama Bernardo Cabral. O chão é coberto de basalto, formado pelas correntes de lava. Como a pedra ainda não foi transformada em terra arável, as vinhas são plantadas nas fendas da rocha-mãe, com um pouco de terra para preencher estas fendas.

Ficam no sopé do vulcão, a uma altitude de 100 metros aproximadamente, numa faixa junto ao mar na zona das aldeias Madalena, Candelária, Criação Velha e Bandeiras, a oeste da ilha, e Santa Luzia a norte. Por um lado, a precipitação é menor nas zonas costeiras, comparativamente com as cotas mais altas; por outro, os ventos, fortes e salgados, não poupam a vinha. Para proteger as videiras, os picoenses ao longo dos 5 séculos foram construindo muros de pedra solta à volta das vinhas. Chamam-se currais e para além da protecção, criam um microclima mais quente à volta das videiras, ajudando na maturação. Esta paisagem labiríntica, austera, quase monocrómática é tão surreal como fascinante.

“Os Açores apaixonam qualquer pessoa ligada ao campo e agricultura, porque aqui a natureza toma conta de nós, sobretudo na ilha do Pico” – afirma com convicção Bernardo Cabral. “As tempestades são bem fortes, o sal inunda as vinhas. Geralmente, depois chove e o sal é lavado. Quando isto não acontece, o sol queima tudo. Chove sempre muito mas a drenagem também é rápida.” – descreve o enólogo e acrescenta: “o que é certo noutros lados, no Pico nem sempre funciona, como por exemplo, a exposição norte, não necessariamente produz mais frescura nas uvas. De ano para ano as coisas mudam bastante.”

Esta paixão e, de certa forma, a sede pelos desafios são a base do projecto. Bernardo tem família nos Açores, costuma lá ir desde pequeno e até já comprou uma casa. Manuel  Bio, CEO  do  Grupo  Abegoaria, cresceu nas vinhas alentejanas, na terra, tornando-se num empresário que sente paixão pelo que faz. Para ele “os vinhos Eruptio representam a continuada aposta na categoria de fine wines.”

Sendo responsável de enologia na Adega Cooperativa do Pico, Bernardo conhece bem as particularidades das castas autóctones, as condições locais e os pequenos viticultores que viabilizaram o projecto. Como dá para perceber, a área da vinha na ilha é muito limitada pela sua dimensão e orografia. O enólogo conta que lá existe uma medida antiga para terrenos agrícolas – “alqueire”. É preciso 10 alqueires para fazer 1 ha. Quem tiver 10 ha de terra é latifundiário. A produção é muito reduzida, colhem apenas 2500-3000 kg/ha. É nestes moldes que o projecto foi desenvolvido.

A gama Eruptio é composta por 4 vinhos de castas autóctones da Ilha do Pico – três monovarietais – Arinto dos Açores, Verdelho e Terrantez do Pico e um blend das três castas. O denominador comum de todos os vinhos é a frescura e a tensão que não compromete a leveza.

O Arinto dos Açores é uma casta exlusiva do arquipélago. Com a casta Arinto cultivada em Portugal continental partilha apenas o nome, não tendo grau de parentesco. O Verdelho nos Açores é a mesma casta que existe na Madeira, de onde o material vegetativo inicial terá sido originário. A Terrantez do Pico é também uma casta exclusiva dos Açores, e distingue-se da Terrantez cultivada no continente e da casta conhecida pelo mesmo nome na ilha da Madeira.

A abordagem enológica foi feita em função da casta. O Arinto dos Açores fermentou em balseiro de madeira; o Terrantez do Pico fermentou em barricas de carvalho americano muito velhas, utilizadas para produção dos vinhos licorosos; e o Verdelho fermentou em tanques de inox (80%) e barricas (20%); tudo com estágio de 6 meses com as borras finas. No caso do blend, as diferentes castas estagiam individualmente em cubas de aço inoxidável e com as borras finas durante 6 meses, mantendo a temperatura baixa para preservar o carácter fresco do vinho. Os rótulos foram desenvolvidos por Bianca Levy e explicam visualmente o terroir com o vulcão, o mar, as núvens e todo o meio envolvente da ilha.

Foram produzidas 20.000 garrafas de Eruptio blend, 6.100 de Arinto dos Açores, 6.919 de Verdelho e 3.210 de Terrantes do Pico. A comercialização dos vinhos está a cargo do grupo Abegoaria e do distribuidor Garcias.

(Artigo publicado na edição de Julho 2022)

Não foram encontrados produtos correspondentes à sua pesquisa.

Concurso Escolha da Imprensa: Abertas as inscrições a produtores

Concurso Escolha Imprensa

Organizado pela Grandes Escolhas, o concurso Escolha da Imprensa é um evento sui generis no qual uma publicação especializada convida colegas de outros órgãos de comunicação social — da imprensa escrita, à rádio, televisão, plataformas electrónicas e redes sociais — a provarem uma amostra significativa do melhor que se faz na produção de vinhos em […]

Organizado pela Grandes Escolhas, o concurso Escolha da Imprensa é um evento sui generis no qual uma publicação especializada convida colegas de outros órgãos de comunicação social — da imprensa escrita, à rádio, televisão, plataformas electrónicas e redes sociais — a provarem uma amostra significativa do melhor que se faz na produção de vinhos em Portugal. Não fechar a apreciação dos vinhos aos circuitos da crítica especializada e alargar o âmbito da sua divulgação a todas as plataformas disponíveis, são os objectivos deste concurso.

A Grandes Escolhas vai organizar mais uma edição do “ESCOLHA DA IMPRENSA” a 27 de Outubro de 2022 aberto a todos os produtores nacionais e com as seguintes características:

– Um júri constituído por críticos e jornalistas, em particular os que habitualmente cobrem os temas ligados aos vinhos e gastronomia, sommeliers, compradores profissionais e bloggers especializados.

– Divulgação pública dos resultados no site, na revista Grandes Escolhas e nas redes sociais com atribuição dos respectivos diplomas aos vencedores.

Toda a informação para inscrições aqui.