Ao ritmo do Alvarinho

No canto mais a Norte de Portugal, Monção e Melgaço afirmam-se como terroir de eleição da casta Alvarinho. E o vinho é o complemento perfeito para uma gastronomia carismática, tornada ainda mais apetecível pelo encantador cenário natural e pela simpatia de quem recebe. Imperdível. TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga A GEOGRAFIA tem […]
No canto mais a Norte de Portugal, Monção e Melgaço afirmam-se como terroir de eleição da casta Alvarinho. E o vinho é o complemento perfeito para uma gastronomia carismática, tornada ainda mais apetecível pelo encantador cenário natural e pela simpatia de quem recebe. Imperdível.
TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga
A GEOGRAFIA tem destas coisas. Mesmo num país tão multifacetado como Portugal, com uma enorme riqueza de gentes, hábitos, culturas e ambientes, é preciso fazer um esforço para abarcar toda a diferença entre a pequena sub-região de Monção e Melgaço e tudo, ou quase tudo o que a rodeia. Os traços de um clima mais continental na mais atlântica das regiões portuguesas são, claro, explicados pela geografia, nomeadamente pelo anfiteatro formado pelas cadeias montanhosas que isolam esta região das influências marítimas. É aqui, entre encostas graníticas e terraços de aluvião (onde encontramos calhaus rolados do que em tempos foi o leito do rio Minho) que a casta Alvarinho tem o seu território de eleição. A fama destes vinhos já tem séculos, mas num passado recente o Alvarinho parecia caído em desgraça: sendo uma planta muito pujante, requeria trabalho cuidado na vinha para controlar a folhagem, mas as suas uvas são pequenas e contêm grainhas de dimensões generosas. Ou seja, não está para grandes produções.
Só que o que lhe falta em quantidade é compensado pela qualidade e o trabalho de alguns “novos” pioneiros da região conseguiu valorizar esta casta de características nobres, susceptível de envelhecer com grande classe e moldável a diversos estilos de vinificação.
O resultado foi um rejuvenescido olhar sobre os vinhos e as uvas de Alvarinho, que hoje se contam entre as mais caras do país. E nesta vaga de reconhecimento, interno e além-fronteiras, ganhou também força a especificidade da zona de Monção e Melgaço. Numa zona do país onde as cadeias montanhosas se perfilam quase perpendicularmente ao mar, orientando os rios e criando corredores para a entrada da humidade marítima, estas duas vilas centenárias (ambas com castelos, igrejas, solares e núcleos urbanos que merecem bem a visita) estão, caprichosamente, isoladas por um circo de picos que determinam um microclima muito especial.
Esta é ponta mais a Norte de Portugal (assinalada por um marco de pedra na localidade de Cevide, Melgaço) e se fica desde já um sinal do que se segue daqui para baixo é a generosidade das gentes e a riqueza de uma mesa que só terá paralelo, em termos de variedade e identidade, com a do Alentejo. É uma terra de serras e vales, de verde e cinzento, de água e abundância. De fábulas e tradições. Fica longe, para a maior parte dos portugueses, mas é imperdível. Aqui, sentimo-nos sempre em casa. E o Alvarinho está cada vez melhor.
Quinta de Soalheiro
A marca Soalheiro está a cumprir o seu 35º aniversário e desde 1982, quando foi criada, até hoje o trajecto tem sido sempre ascensional. Novos vinhos, novas pistas, estratégias de marketing ambiciosas, enologia de pormenor, atenção aos detalhes. Hoje, é difícil falar de Alvarinho sem pensarmos em Soalheiro e há sempre uma (boa) surpresa ao virar da esquina. Ou isso ou uma promessa de novidades. E, desta vez, essa promessa está bem à vista: obras para aumentar a adega e criar um espaço mais generoso para as actividades de enoturismo.
A vista daqui é grandiosa. Sim, abaixo dos nossos pés há uma escavadora e um camião que parecem brinquedos arrebanhando terra e pedras, mas tudo o resto é bucólico e sereno. Situado num pequeno cabeço a meio do anfiteatro formado pelas montanhas que isolam esta zona, a meio caminho entre Melgaço e Monção, a Quinta de Soalheiro está rodeada de vinhas, com vista para terras de Espanha, do outro lado do rio que corre ali em baixo, camuflado pelo arvoredo. Um pouco mais ao longe, uma faixa prateada em constante movimento confirma que o rio Minho segue o seu curso por entre a névoa. Do outro lado, as serranias de Castro Laboreiro impõem a sua presença maciça.
A visita à adega e zonas de trabalho adjacentes faz-se de copo na mão. A ideia é ir percebendo os processos de vinificação à medida que avançamos e ir provando das cubas os vinhos que constituem as quatro famílias da casa, cujas especificidades ficam, assim, bem ao alcance dos sentidos. Encontramos os três tipos de depósito usados na fermentação – inox, cimento e madeira – e ficamos a conhecer mais sobre a história da empresa e da família. E, por isso, tem sempre um sabor especial perceber que o que é agora a zona dos espumantes já foi uma garagem e que foi nessa garagem que tudo começou.
Subimos para a sala de provas, decorada com fotografias do concurso organizado pelo produtor em 2017 (este ano a arte será protagonista e em breve uma das fachadas do edifício será abrilhantada com uma peça ambiciosa, cujos detalhes estão, por agora, no segredo dos deuses). Daqui é um passo até ao terraço, onde o silêncio, a névoa e o fumo das queimadas tingem a paisagem numa atmosfera de mistério. Soalheiro é vinho, mas também fumeiro. Porque logo ali em baixo fica a Quinta de Folga, a meia encosta do cabeço encimado pela adega. Em linha recta, serão menos de 300 metros, marcados em declive por terraços e vinhas (uma delas com Alvarinho em pé franco, sem enxerto). Cá em baixo, reinam os porcos de raça bísara e as instalações da quinta são usadas para eventos e refeições de grupos. Come-se o que vem da terra. E come-se muito bem. O sol já desaparece por trás das montanhas quando deixamos estas terras de excelência.
QUINTA DE SOALHEIRO
Morada: 4960-010 Alvaredo, Melgaço
Tel: 251 416 769
Fax: 251 416 771
Mail: quinta@soalheiro.com
Web: www.soalheiro.com
GPS: 42.097446, -8.309966
A quinta está aberta a visitas todos os dias excepto domingos, aos dias de semana entre as 9 e as 17h30 e aos sábados entre as 9 e as 18h30. Os programas (são seis) de visita com prova de vinho começam nos 6 euros por pessoa (8,5 com prova de vinhos na Quinta de Folga) e vão até aos 67,5 euros (70 com Quinta de Folga) da Prova Premium, em que são apresentados sete vinhos da casa. As visitas que incluam a Quinta de Folga estão sujeitas a reserva, com antecedência mínima de cinco dias e mediante disponibilidade.
Solar de Serrade
O dia amanheceu bem menos gelado do que o anterior. Hoje, sem vento, apetece caminhar um pouco antes do pequeno-almoço, o olhar perdido entre as névoas que se soltam da terra e os fiapos de nuvens ainda agarrados às encostas das montanhas que nos rodeiam praticamente por todos os lados. Ao fundo, o relógio de uma igreja faz soar as notas do seu cântico (“A 13 de Maio; na Cova da Iria…”) e a passarada parece fazer coro do cimo das árvores. O murmúrio da água a correr de uma bica completa a envolvência sonora, à medida que percorremos o jardim romântico e encaramos a fachada do belo solar do século XVII, agora em contra-luz por acção do sol nascente. Serrade é uma experiência singular.
Tínhamos chegado na véspera, já a noite descera sobre a paisagem e o frio voltava a apertar. Lá dentro, escadarias em pedra, esculturas, tapeçarias, móveis antigos, reposteiros, pinturas, lustres, tectos e piso em madeira. No quarto, simples e de mobiliário a tender para o rústico, sentimos o ambiente acolhedor do aquecimento central e surpreendemo-nos com dois pormenores: as janelas em pedra, com os chamados “bancos dos namorados”; e, na casa de banho, a enorme banheira com pés em ferro forjado.
O Solar de Serrade já teve várias vidas e já viu muita coisa. Após o 25 de Abril de 1974, a proprietária juntou alguns pertences em quatro malas e desapareceu. Anos de abandono e vandalismo transformaram o belo edifício numa ruína, onde os miúdos brincavam (fazendo fogueiras com os livros antigos…) e a pilhagem se tornou regra (até lareiras em pedra foram levadas…). Até que os actuais proprietários, que tinham adquirido a propriedade em 1981, iniciaram as obras de recuperação – decorreram entre 1991 e 1997, ano em que foi inaugurado o hotel.
São dez quartos, num cenário simultaneamente aristocrático e campestre. Para lá do jardim romântico com sebes aparadas e fontes, estendem-se linhas de arvoredo e vinhas extraordinárias amparadas em pilares de granito maciço. São 12 hectares em volta do solar (e outros 18 em propriedades nas redondezas). A menos de 100 metros do solar, a adega foi construída de raiz no final do século XX, mas a utilização de pedra da região e a traça do edifício faz empensar que se trata de mais uma recuperação.
A uma curta distância de Monção, e mesmo após o aparecimento de várias unidades hoteleiras na vila, o Solar de Serrade continua a atrair visitantes e a fidelizar clientes. Ou, melhor, amigos. Porque cada um que chega é recebido e encorajado a sentir-se em casa. E abrir uma garrafa de Alvarinho é o primeiro passo para que isso aconteça.
SOLAR DE SERRADE
Morada: Apt. 85 – Mazedo, 4950-280 Monção
Tel: 251 654 008
Fax: 251 654 041
Mail: info@solardeserrade.pt
Web: www.solardeserrade.pt
GPS: N 42.05774º , W 8.47913º
O solar dispõe de 10 quartos, entre duplos e twin, mais suítes (2). Na época alta (de 1 de Abril a 30 de Setembro, mais Carnaval, Páscoa e passagem de ano), os preços variam entre os 70 euros por noite nos quartos e os 95 da suíte principal (90 da suíte traseira); na época baixa são, respectivamente, €60, €90 e €80. Visitas à adega sem marcação entre as 8h e as 12h e entre as 13h e as 17h, são gratuitas para grupos de menos de 15 pessoas. Fora deste horário, ou para grupos maiores, solicita-se marcação antecipada.
Quinta de Santiago
Ali bem perto, a Quinta de Santiago aparece-nos como uma ilha. De um lado, a estrada e um parque industrial; do outro, mais alcatrão; abaixo, na direcção do núcleo da vila, uma urbanização recente; para Oeste, enfim, algum protagonismo da natureza, com linhas de arvoredo. Não custa imaginar que os 6,5 hectares de vinha, em solos de terraço de aluvião, sejam fortemente cobiçados pelo sector imobiliário, mas aqui mora uma família que tem um sonho e uma causa. E ambas passam pela ligação à terra.
Para além da vinha, encontramos um pomar com dezenas de árvores, uma pequena horta, a casa em pedra, uma capela, um espigueiro, outras construções de apoio. Um pouco mais abaixo, caminhando pelos carreiros pavimentados com seixos do rio, encontramos os lagos (onde há peixes e crescem nenúfares) e a nova adega, desenhada em estilo moderno mas com claras alusões ao cenário envolvente e às edificações tradicionais. Tudo isto é património – e, quase dentro da vila, pode mesmo considerar-se património colectivo desta região. Por isso, Santiago é cada vez mais sinónimo de divulgação cultural e vínica. Sente-se aqui que há uma missão a cumprir.
O projecto foi iniciado em 2009, as experiências iniciais de vinificação aconteceram em 2011 e no ano seguinte saiu o primeiro vinho para o mercado. Trabalhava-se no piso inferior da casa de habitação, onde agora se arma mesa para almoço, num cenário de verdadeiro museu (mobiliário, pipas, alfaias agrícolas e utensílios ligados à nobre arte de fazer vinho rodeiam-nos e fornecem motivos de conversa). Mas antes demos uma volta pelas vinhas (maioritariamente de Alvarinho) e passámos pelo edifício da nova adega.
Começamos pela loja, um espaço pequeno mas luminoso, onde – para além dos vinhos da casa, claro, com os rótulos ostentando o coração minhoto bordado, uma homenagem à avó – encontramos produtos criados por parceiros seleccionados: conservas, compotas, chocolates, livros… Surpresa dar de caras com o Rascunho, a novidade da quinta para 2018 e de que só se fizeram 600 garrafas. À atenção dos colecionadores. Passamos à sala de provas, aberta em grandes portas de vidro para o terraço panorâmico que paira sobre as vinhas. De um dos lados, uma abertura oval foca-nos o olhar no espigueiro tradicional, cujo visual é replicado pelo ripado vertical de uma das paredes da adega.
Rodeados de futuro por todos os lados, regressamos ao passado e à velha adega-museu. Comida sobre a mesa, copos que se enchem, espíritos à solta. E então dá-se o milagre e o tempo pára lá fora. Na Quinta de Santiago, as viagens no tempo são coisa rotineira.
QUINTA DE SANTIAGO
Morada: Rua D. Fernando, 128, Cortes, 4950-542 Mazedo
Tel: 917 557 883
Mail: wine@quintadesantiago.pt
Web: quintadesantiagoalvarinho.blogspot.pt
A quinta está aberta entre as 10 e as 18h. A prova simples (1 vinho + bolachas) custa cinco euros por pessoa e a escala de experiências na quinta progride mais três degraus até aos 15 euros por pessoa, com prova de dois vinhos + bolachas + queijo + enchidos. Os almoços ficam entre 25 e 35 euros e a opção por um piquenique nas vinhas tem o preço de 15 euros por pessoa. Na época das vindimas, as opções são meio dia ou um dia inteiro de trabalhos e rituais, com petiscos e provas, por 45 euros.
As caves do tempo

Quando, em breve, os portugueses abrirem uma garrafa de espumante para celebrar o Natal ou o Ano Novo, é muito provável que se estejam a preparar para beber Raposeira ou Murganheira, as duas marcas de topo do mercado nacional. Em jeito de preparação para estes momentos, fomos visitar as caves onde estes vinhos repousaram, abraçando […]
Quando, em breve, os portugueses abrirem uma garrafa de espumante para celebrar o Natal ou o Ano Novo, é muito provável que se estejam a preparar para beber Raposeira ou Murganheira, as duas marcas de topo do mercado nacional. Em jeito de preparação para estes momentos, fomos visitar as caves onde estes vinhos repousaram, abraçando a lenta alquimia do tempo.
TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga
ESTAMOS no mês das grandes festas do Natal e Ano Novo, alturas em que será bem provável ouvir um pouco por todo o lado o “pop” mais ou menos discreto das rolhas de espumante a saltarem das garrafas. Estando em Portugal, um país com grande tradição vinícola mas escassa cultura das bolhinhas, é muito provável que esta seja, para muitos (principalmente se não viverem na região da Bairrada), a única ocasião do ano em que saboreiam este tipo de vinho, sempre especial mas ainda com tanto por descobrir.
E é uma pena, porque os espumantes reúnem um conjunto de virtudes que parece feito à medida para os ritmos e as vivências da moderna sociedade cosmopolita. São, por norma, menos alcoólicos do que os vinhos tranquilos; podem beber-se nos vários momentos da refeição (como aperitivo, com a comida, no final) e acompanham um vasto leque de pratos, incluindo sabores mais exóticos; e têm uma imagem de juventude e sofisticação. Acontece que, apesar de tudo isso, muita gente ainda não os descobriu. E isso explica o seu consumo residual: segundo dados da ViniPortugal referentes à época 2014/15, o espumante representava apenas 0,6 por cento do vinho produzido em Portugal e o consumo anual era de 0,34 litros por pessoa, contra os 41 litros por pessoa dos vinhos tranquilos. E este é ainda o único sector vinícola em que as importações superam as exportações.
A região por excelência dos vinhos espumantes nacionais é a Bairrada, terra onde nascem cerca de dois terços dos néctares nacionais com bolhinhas, mas há outra que se destaca neste campo. A pequena região de Távora-Varosa, encaixada entre o Dão e o Douro, desenvolve-se em solos predominantemente graníticos e a altitudes que oscilam entre os 500 e os 800 metros. Argumentos de peso para garantir a frescura dos vinhos-base para espumante, que aqui têm dois dos seus maiores paladinos em Portugal: a Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa (com a marca Murganheira) e as Caves da Raposeira. Ambas fazem parte do mesmo grupo e, juntas, representam à volta de 60 por cento do mercado nacional.
É por estas terras de vales cavados e extensas cristas montanhosas que traçamos o nosso roteiro enoturístico. Para conhecermos melhor as instalações da Murganheira e da Raposeira, assim em jeito de estágio para os grandes desafios da quadra festiva que se avizinha. Tracemos então rumo para Lamego, sede dos mais populares espumantes portugueses.
Caves Murganheira
Dois números marcam desde logo as primeiras impressões à chegada. Primeiro, o de visitantes: cerca de 25.000 por ano, um total muito respeitável e que nos dá a imagem exacta do profissionalismo de quem aqui trabalha e da qualidade da experiência que nos aguarda. O segundo é ainda mais impressionante: o enorme painel de parede que representa um conjunto de flutes foi feito com 20.000 muselets, o nome das armações de arame que seguram as rolhas das garrafas… A obra de Acácio de Carvalho, professor da Faculdade de Artes do Porto, demorou quatro anos a ficar completa. E o tempo é tema central desta visita.
Estamos na sala de provas e loja, uma vasta divisão que ocupa o andar superior da adega e que se abre numa parede envidraçada para uma paisagem esmagadora, dominada pela silhueta ondulada da serra das Meadas e, mais ao longe, pela pirâmide negra e imponente do Marão. O vale que se estende à nossa frente, verdejante e salpicado de casinhas, não podia ter um nome mais sugestivo: Vale Encantado.
E, por baixo dos nossos pés, outras maravilhas nos aguardam. As caves da Murganheira foram, literalmente, arrancadas à montanha. Estamos em terras de granito azul, conhecido por ser o mais duro de todos, mas isso não demoveu os homens de aqui escavarem túneis, muitas vezes à força de explosivos – em alguns locais, são ainda visíveis nas paredes as perfurações onde foram colocadas as cargas que exploraram as falhas nesta fortaleza natural e permitiram abrir os espaços subterrâneos onde agora estagiam os espumantes que um dia teremos no copo.
O espumante faz-se com uvas, muito conhecimento técnico e… tempo. Muito tempo. E na Murganheira não se poupa em nenhum destes “ingredientes”. Dispondo de 30 hectares de vinhas próprias, distribuídas por três parcelas, a empresa faz cerca de 1,2 milhões de garrafas por ano, o que, naturalmente, implica comprar uvas a produtores da região. E são cerca de uma centena. Os vinhos não se limitam a cumprir os estágios em garrafa definidos para cada categoria; duplicam ou triplicam esses tiveperíodos, que podem ultrapassar os seis anos nalguns casos. Não espanta, por isso, que a quantidade de garrafas aqui armazenadas seja impressionante: um milhão nesta adega, seis milhões no total.
Percorremos as galerias de pedra onde a temperatura ronda os 12/13 graus todo o ano, tectos pingando água aqui e ali das “estalactites” de fungos, paredes irregulares quase invisíveis por trás das pilhas de garrafas. Antes recebemos uma lição rápida, mas recheada de pormenores deliciosos, sobre o processo de vinificação e depois acabaremos a ronda nas linhas de engarrafamento (a manual e a automática). Mas é este silêncio, esta magia da obscuridade, onde o tempo parece ter parado, que nos fica na memória.
Cá fora, de novo deixando escorrer o olhar pelo vale Encantado e pelas montanhas que o emolduram, damos uma vista de olhos pelo restaurante e acabamos a provar um espumante na sala de entrada. A conversa leva-nos até à história do rótulo do novo espumante Chardonnay, chamado Único por ser, na altura em que foi lançado, inédita a utilização desta casta para espumantização. O rótulo traz-nos de imediato à ideia o genérico dos filmes de James Bond… E é isso mesmo: este foi o vinho servido em Nova Iorque e Lisboa na ante-estreia de uma das mais recentes aventuras do espião ao serviço de Sua Majestade.
CAVES MURGANHEIRA
Morada: Abadia Velha, 3610-175 Ucanha
Tel: 254 670 185/6
Fax: 254 670 187
Mail: geral@murganheira.com
Web: www.murganheira.com
Há quatro visitas diárias (preço com prova de um espumante: 2,5 euros) que não carecem de marcação antecipada – às 10h, 11h, 15h e 16h. A marcação antecipada recomenda-se para grupos com mais de 10 pessoas e é indispensável no caso de visitas mais técnicas, que exijam a presença do enólogo, ou no caso de se pretender degustar um petisco (bola regional) juntamente com o vinho. Por marcação, e com preço sob consulta, organizam-se refeições, a cargo da equipa do chefe Rui Paula (DOP e DOC).
Caves Raposeira
Se a Murganheira fica perto de Lamego, as Caves Raposeira ficam mesmo dentro do perímetro urbano da cidade. Se na Murganheira a quantidade de vinho em estágio impressiona, na Raposeira ele esmaga- nos: aqui repousam entre 10 e 11 milhões de garrafas! Uma realidade que só muito recentemente passou a ser possível conhecer, porque o enoturismo na maior cave portuguesa de espumantes só tem três meses.
Passamos pela zona de vinificação antes de entrarmos nas caves, aqui de paredes construídas pelo homem. A cave velha existe desde o início do século XX e estende-se por baixo das vinhas, que ocupam a encosta sobranceira à adega – às uvas vindas daqui juntam-se as compradas a mais 300 produtores da região. Os anos explicarão alguma coisa, os materiais outro tanto, mas o que salta à vista é a profusão de bolores que se agarram às paredes e pendem do tecto. Numa das salas, há mais do que isso: pequenos cachos de uvas, agora completamente camuflados, lembram o tempo em que era aqui que se secavam as uvas para fazer passas – eram usadas para acompanhar as garrafas e compor um kit de Ano Novo. Foi-se a moda, ficaram os cachos mumificados em vida suspensa.
Milhões de garrafas e muitos metros de túneis depois, desembocamos num salão mais vasto, onde apreciamos maquinaria antiga antes de sairmos para o exterior e rumarmos à loja, situada num edifício exterior decorado com mesas altas e estantes de madeira com garrafas antigas, instrumentos de laboratório que já tiveram a sua época, rótulos, cartazes e outros suportes de memória de uma casa fundada em 1818.
Já de copo na mão, saímos para o terraço panorâmico, ainda e sempre a serra das Meadas e o Marão que se adivinha para lá dos prédios de Lamego. Ali à frente fica o vale do Douro, mas daqui nem se adivinha. O sol começa a baixar e o frio vai descendo sobre o vale; melhor voltar para dentro e apreciar a paisagem (e o vinho) sentados à janela, decoradas com aqueles banquinhos a que chamavam “dos namorados”. Abaixo do edifício, ouve-se correr água e um relvado promete frescura e sossego para dias mais quentes.
As vinhas, como já se disse, ficam logo ali, atrás da imponente fachada da adega, coroada com um anúncio luminoso de proporções gigantescas. E é para lá que seguimos, começando por perceber porque é que a Raposeira é das poucas casas em Portugal autorizada a usar uvas de duas regiões distintas: é que a primeira parcela de vinha, uma pequena faixa mesmo junto ao edifício, ainda fica na região demarcada do Douro. Távora-Varosa começa logo a seguir, do outro lado da estrada de terra batida.
As vinhas trepam por esta encosta de solos graníticos até à linha de cedros que marca a crista da montanha. Para lá deste bosque ficam, de um lado, os terrenos de um convento integrado no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios (cujos pináculos se descortinam mais abaixo); e, do outro, o campo de treino dos Rangers. Em Lamego, o espumante é uma religião bem guardada.
CAVES RAPOSEIRA
Morada: Lugar da Raposeira, Apartado 9, 5101-909 Lamego
Tel: 254 655 003
Fax: 254 655 928
Mail: geral@cavesdaraposeira.com
Web: www.cavesdaraposeira.com
Há quatro visitas diárias (preço com prova de um espumante: 2,5 euros) que não carecem de marcação antecipada – às 10h, 11h, 15h e 16h. A marcação antecipada recomenda-se para grupos com mais de 10 pessoas e é indispensável no caso de visitas mais técnicas, que exijam a presença do enólogo, ou no caso de se pretender degustar um petisco (bola regional) juntamente com o vinho.
Caves Cálem: rumo ao futuro

Maiores, modernas e funcionais, interactivas. As Caves Cálem já reivindicavam o título de mais visitadas do país. Agora, após um investimento de três milhões de euros, querem ser as mais populares do mundo. O “boom” turístico no Porto alimenta as expectativas. TEXTO Luís Francisco FOTOS Anabela Trindade O turismo no Grande Porto continua a […]
Maiores, modernas e funcionais, interactivas. As Caves Cálem já reivindicavam o título de mais visitadas do país. Agora, após um investimento de três milhões de euros, querem ser as mais populares do mundo. O “boom” turístico no Porto alimenta as expectativas.
TEXTO Luís Francisco FOTOS Anabela Trindade
O turismo no Grande Porto continua a crescer a ritmos anuais de dois dígitos e a Sogevinus, proprietária das marcas Barros, Burmester, Cálem e Kopke, sabe que tem uma quota-parte nessa equação. Com 235 mil visitantes em 2016, as Caves Cálem, em Vila Nova de Gaia, são um dos grandes destinos turísticos da região e os investimentos feitos este ano prometem reforçar esse estatuto. Sem beliscar a tradição, a visita foi enriquecida com experiências interactivas, que fazem a ponte entre o passado e o futuro. Setembro marca o início de uma nova era na mais visitada das caves de Vinho do Porto.
Mesmo sem inauguração oficial (estava agendada para o dia 13 de Setembro, mas a celebração foi adiada, devido à morte do bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos), o agora chamado Museu Interactivo das Caves Cálem já está a funcionar em pleno, oferecendo aos visitantes todo um novo leque de possibilidades lúdicas, que aliam o entretenimento a uma assumida vocação didáctica. As instalações foram remodeladas, criando um circuito para grupos com marcação prévia e outro para os visitantes individuais, que podem agora “entreter-se” na área interactiva do museu até chegar a hora de seguirem na visita guiada pelas caves.
E visitantes é coisa que não falta por aqui. O corrupio de gente é constante, ali mesmo a um passinho da ponte Luís I, junto ao Douro pontilhado por barcos rabelo e embarcações turísticas, o cais da Ribeira e as suas esplanadas do outro lado do rio. A fachada branca debruada a pedra, a vetusta escadaria que nos leva ao interior e o brasão sobre a entrada garantem a atmosfera de autenticidade e tradição que compõe o apelo do Vinho do Porto. Mas lá dentro a modernidade irrompe nas linhas estilizadas da recepção e em alguns pormenores de decoração.
Caso existam dúvidas, somos convidados a espreitar por duas aberturas na parede (ao nível dos olhos dos adultos e das crianças), para confirmarmos que lá dentro nos aguarda a atmosfera solene e serena das caves onde envelhecem os vinhos vindos da zona demarcada do Douro. E então somos novamente surpreendidos.
Porque o primeiro espaço onde entramos até tem as paredes e a luz “certas”, mas o resto é completamente diferente do que esperávamos. Em vez de balseiros e barricas, mapas e ecrãs interactivos, painéis e vídeos informativos, um jogo de identificação de aromas que prende a atenção de toda a gente. Passamos por um mapa tridimensional do Douro, onde podemos consultar informação sobre a orografia e alguns indicadores meteorológicos; percebemos como se estendem as raízes das videiras num painel com um corte vertical do solo de xisto; identificamos as castas tradicionais do Douro que são usadas pela Cálem nos seus vinhos; são-nos explicadas as categorias de Porto e mostradas as cores que nelas podemos encontrar. No final, quem quiser pode responder a um questionário (são três questões) e receberá por mail a imagem de uma garrafa cujo rótulo tem o nome do inquirido.
Provas, compras e… fado
Por razões logísticas, este espaço não está integrado no circuito dos grupos organizados, a quem são proporcionadas experiências e informações similares mas num registo diferente. A partir daqui, a visita é semelhante, com as caves, a sala de provas e a loja no itinerário. E se é verdade que a grande novidade é mesmo a zona interactiva, também há muito para descobrir no resto do trajecto.
Começamos pelo enorme balseiro onde podemos projectar um conjunto de dados que seleccionamos num ecrã. Conhece os níveis da água no historial das cheias do Douro? Qual é a capacidade deste depósito em madeira? Quanto tempo demora a ser feito? E sabia que lá dentro cabe… bom, o melhor é mesmo cada um descobrir por si. Mais à frente encontramos um ecrã onde podemos aprofundar o nosso conhecimento sobre as famílias e tipos de Porto.
Uma elegante escadaria conduz-nos a um andar superior, criado especialmente para albergar a nova sala de provas, multifuncional graças às divisórias que podem ser corridas entre as filas de mesas, criando espaços maiores ou mais pequenos conforme as necessidades. A lotação total é de 210 pessoas, mais 100 do que no espaço anteriormente existente, junto à loja.
E é mesmo para a loja que descemos. Cresceu, claro, aproveitando o espaço deixado vago pela construção da nova sala de provas – com 283 metros quadrados, passou a ter o dobro da área. Mas, essencialmente, modernizou-se e adoptou uma filosofia extremamente “user friendly”, dividindo os vinhos por expositores temáticos. Os vinhos provados na visita, os mais premiados, os mais vendidos, os Tawnies Velhos, os Vintage, os Porto Branco… Enfim, aqui ninguém se perde nem deixa de comprar por não encontrar o que procurava. Gadgets, T-shirts e pequenas ofertas completam o lote de artigos expostos.
Os circuitos normais terminam aqui e somos devolvidos às margens do Douro com a sensação de termos feito uma verdadeira viagem no tempo. Mas há programas que prolongam a visita, levando-nos a conhecer ainda um outro espaço inédito: a sala de provas especiais, onde podemos apreciar harmonizações de Porto com diversos tipos de comida e, até, vibrar com uma sessão diária de fado. As reacções do público – que diferem conforme as origens e nacionalidades – dariam um verdadeiro tratado sociológico e não se espante se por lá encontrar japoneses a cantar “em português”…
O Porto continua a crescer como destino turístico e as caves de Vinho do Porto são uma das experiências mais marcantes da oferta local. Projectos como a anunciada Cidade do Vinho, da Fladgate, propõem-se capitalizar e reforçar essa identificação entre a cidade e o vinho, uma aposta que também explica o investimento feito agora pela Sogevinus nas caves Cálem. O objectivo assumido é passar dos 235 mil visitantes anuais que lhe dão o título de “campeã nacional” (o Bacalhôa Budha Éden, na Quinta dos Loridos, recebe mais turistas, mas o foco principal não é o vinho), para mais de 300.000, o que permitiria destronar a chilena Concha y Toro e tornar-se a adega mais visitada do mundo. O céu é o limite.
MUSEU CALÉM
Morada: Av. de Diogo Leite, 344, 4400-111 Vila Nova de Gaia
Tel: 223 746 660 / 916 113 451
Fax: 223 746 699
(Taberna da Adega: 919 001 166)
Mail: turismo@sogevinus.com
Web: www.sogevinus.com
GPS: Latitude: 41º; 8’17.51”N; Longitude: 8°36’39.32”O
As caves estão abertas todos os dias excepto 25 de Dezembro e 1 de Janeiro, das 10h às 19h (fecho às 18h de Novembro a Abril). O bilhete standard custa 10 euros (crianças: grátis; dos 11 aos 17 anos: 5 euros), incluindo museu interactivo, visita guiada às caves e prova de dois vinhos; com upgrade para três vinhos passa a 15 euros. O bilhete que inclui a sessão de fado (ao final da tarde) fica por 21 euros. Informações em tour.calem.pt e reservas on-line em byblueticket.calem.pt.
Tapada de Coelheiros: A paixão pela planície

Foi de repente. Como todas as paixões à primeira vista. Entre ver e comprar pouco tempo mediou. Depois de muito viajar, este casal de brasileiros decidiu que não precisava de procurar mais. E ficou. Há assim vida nova nos Coelheiros. Com Luís Patrão no comando técnico, a Tapada vai renovar-se sem perder a identidade. […]
Foi de repente. Como todas as paixões à primeira vista. Entre ver e comprar pouco tempo mediou. Depois de muito viajar, este casal de brasileiros decidiu que não precisava de procurar mais. E ficou. Há assim vida nova nos Coelheiros. Com Luís Patrão no comando técnico, a Tapada vai renovar-se sem perder a identidade.
TEXTO João Paulo Martins FOTOS Ricardo Palma Veiga
NUMA extensa área de 800 hectares cabe quase tudo, mas nos Coelheiros há uma atractiva diversidade que cativou os actuais donos logo na primeira visita que fizeram, em 2015. Gabriela Accioli, de ascendência italiana, e Alberto Weisser, com antepassados suíços e alemães, queriam mudar-se para a Europa e Portugal sempre tinha sido uma hipótese. Mas foi quando começaram a viajar pelo interior que perceberam que havia muito mais do que Lisboa e Algarve para conhecer. E foi assim que souberam de um monte que estava à venda na zona de Igrejinha, Arraiolos, e resolveram visitar. Coelheiros era perto e da visita nasceu a atracção.
Viram e gostaram, sobretudo da diversidade e do potencial dos Coelheiros. A maior parte da propriedade está em montado de sobro e por lá se passeiam veados e gamos – cerca de 130 – e 700 ovelhas. Existem também 40ha de nogueiras, um sonho concretizado da anterior proprietária Leonilde e, claro, 50ha de vinhas. Foi esta variedade e dimensão que tornaram a decisão de aquisição mais fácil. Depois de muito viajarem, de terem vivido muitos anos em Nova Iorque, Alberto e Gabriela resolveram que precisavam de um poiso, de um local que fosse ao mesmo tempo tranquilo mas não demasiado longe da grande cidade e do aeroporto, uma vez que Alberto ainda tem de viajar com alguma frequência. “Aqui é o local onde já durmo mais noites, é assim que eu conto. E irá ser cada vez mais no futuro.”
As paixões eram várias, a do vinho é comum, ele tem uma fixação quase obsessiva por queijos e Gabriela confessa mesmo: “Sonho com comida, sou louca por gastronomia.” Melhor se compreende assim a “química” que se estabeleceu entre eles e a herdade. A produção biológica e a apicultura são projectos a curto prazo. E Gabriela, com os conhecimentos que tem no mundo da cozinha, irá animar os Coelheiros com convidados, workshops e o que mais adiante se verá.
Renovação em marcha
O interesse pelo vinho encontrou também aqui razões de sobra para a compra. Sempre são 50 hectares de vinha, o que já é uma dimensão bem interessante. Destes, 30 estão em produção, 10 foram arrancados, sobretudo por razões de doenças de lenho, e outros 10 foram já plantados de novo. Foi feita a zonagem da vinha e identificadas quatro zonas distintas, sempre num solo de base granítica mas com variações que agora são levadas em conta nas novas plantações.
As primeiras vinhas foram aqui plantadas em 1982 (antes disso apenas havia pecuária e cereais) por Joaquim Silveira, então proprietário, e António Saramago, enólogo e responsável pelos vinhos até à entrada de Luís Patrão. Luís veio do Esporão, onde trabalhou com David Baverstock, e comanda agora os destinos técnicos da herdade, com o conselho de António Saramago, que assegura: “O futuro tem de ser assegurado e por isso a contratação do Luís é muito positiva.” Continua amigo da casa e é visita sempre bem recebida. Os coelhos, que deram nome à propriedade, eram criados para depois serem largados na propriedade para caça, mas foram abatidos após uma terrível febre hemorrágica que os dizimou. A criação não foi retomada.
Emblemática na propriedade é a vinha de Cabernet Sauvignon, cujos garfos vieram de Margaux, e que ocupa actualmente 4 dos 8ha daquela casta. Chegarão até aos 10ha de Cabernet. Na vinha existe também Alicante Bouschet, Petit Verdot, Trincadeira, Aragonez, Merlot e, mais recentemente, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Miúda. Já nos brancos vai haver mudanças: o Chardonnay foi arrancado e a última colheita foi o de 2016. “Não creio que seja uma casta interessante para este solo e clima”, diz Luís Patrão. Arinto e Roupeiro são as castas clássicas mas agora têm também Antão Vaz e Verdelho.
O portefólio vai sofrer grandes mudanças. Vão acabar quase todas as marcas, ficando apenas as clássicas, Tapada de Coelheiros (normal e garrafeira), uma segunda marca Coelheiros e vinhos com nome de vinha – o primeiro será o Vinha do Taco. O Garrafeira passará a ter mais estágio em cave e o 2012 só deverá sair em 2019.
Na adega íamos gelando na câmara de fermentação de vinhos brancos em cascos de 500 litros. A filosofia passa pela utilização cada vez maior de barricas usadas, procurando obter vinhos mais frescos e menos marcados pelo carvalho. Falando em quantidade, Coelheiros passará a representar 150.000 a 200.000 garrafas, em vez das 400.000 que tinha antes (com muito vinho adquirido fora). Na cave de estágio de tintos, além das barricas de 500 litros há também tonéis (foudres) austríacos da marca Schneckenleitner. Os vinhos tintos terão assim 6 meses de estágio em barrica e um em tonel. A vindima deste ano foi, como em todo o lado, muito precoce: começaram a 16 de Agosto e terminaram a 28; no ano passado começaram a 28 de Agosto e terminaram a 22 de Setembro. Coisas do clima.
Ao balcão do Botequim
Conheci os actuais donos dos Coelheiros por acaso. Eu estava em Évora em 2015 a fazer as provas para o meu guia de vinhos de 2016 e fui almoçar a um dos meus locais preferidos, o Botequim da Mouraria. Muito difícil de arranjar lugar já que apenas tem balcão e são uns 8 lugares disponíveis. O facto é que naquele dia consegui. Na ponta do balcão estava um casal de brasileiros. Como é muito fácil haver conversas cruzadas entre todos os convivas, logo o senhor da casa informou quem eu era e a conversa pegou. “Oi cara, que te parecem as vinícolas por aqui? Nós gostamos de visitar, tem alguma sugestão?” Não lembro já o que referi, mas foram eles que avançaram: os Coelheiros valerá a pena a visita? Sim, claro, terei respondido, disse que conhecia bem, que já tinha visitado, que era uma propriedade já com uma história para contar. Gostaram do que ouviram mas, em boa verdade, não teria sido necessário o meu conselho porque, soube no dia seguinte, tinham fechado a compra de Coelheiros no dia do nosso encontro. É claro que o segredo é a alma do negócio mas esta história estava bem viva na memória dos dois que, logo que me viram, lembraram que já nos conhecíamos do Botequim. Só em Évora.
Vinhos degustados
A prova que fizemos durante a visita não foi muito extensa em virtude do encurtamento do portefólio. A marca Coelheiros em branco tem agora 3.000 garrafas mas no futuro próximo passarão a ser entre 8.000 e 10.000. Cerca de 70% do mosto fermenta em inox e o restante em barrica nova. No futuro aponta-se para o uso da barrica usada de 500 litros e apenas 10 a 20% de barrica nova. Fermenta em câmara frigorífica. No Tapada de Coelheiros branco há a pretensão de o ter 8 meses em barrica e um ano em garrafa. Assim, o da colheita de 2017 apenas irá para o mercado em 2019. O de 2016 foi totalmente fermentado em barrica nova de 500 litros. O Chardonnay 2016 é editado pela última vez, também ele totalmente fermentado em barrica nova.
Nos tintos temos um Coelheiros com 12 meses de estágio em barrica usada. A produção é de 10.000 garrafas mas a pretensão é chegar às 50.000. Os tintos provêm todos de vinhas de sequeiro mas no futuro haverá uma Touriga Nacional regada (já plantada). No tinto Tapada de Coelheiros temos Cabernet Sauvignon e 40% de Alicante Bouschet, com uma produção de 35.000 garrafas. Do Vinha do Taco estão em estágio os 2012, 14 e 16. Produção limitada a 3.600 garrafas. Esta chegada tardia ao mercado é intencional. O Garrafeira será lançado apenas em 2019. A distribuição em Portugal está entregue à Heritage Wines e no Brasil é assegurada pela Mistral.
Ir à Terceira e voltar

Fomos aos Açores “mergulhar” na colecção de um terceirense amante dos vinhos. Não “limpámos” a garrafeira (são demasiadas garrafas), mas provámos algumas dezenas que já ninguém sabia exactamente em que condição poderiam estar. E tivemos boas surpresas. TEXTO João Paulo Martins FOTOS DR CONHECI António Maio há alguns anos num evento de vinho e […]
Fomos aos Açores “mergulhar” na colecção de um terceirense amante dos vinhos. Não “limpámos” a garrafeira (são demasiadas garrafas), mas provámos algumas dezenas que já ninguém sabia exactamente em que condição poderiam estar. E tivemos boas surpresas.
TEXTO João Paulo Martins FOTOS DR
CONHECI António Maio há alguns anos num evento de vinho e desde logo se criou um clima de cumplicidade vínica que tem durado até hoje. Desde então já orientei várias provas na ilha Terceira para consumidores locais e descobri mesmo que alguns deles eram meus velhos conhecidos cujo paradeiro desconhecia. À sua volta António foi juntando um conjunto de amigos que, de simples apreciadores, ganharam coragem para ir mais longe, saber mais e ter um prazer extra na prova dos vinhos. O gosto de António, esse, não é tão antigo assim, já que durante anos e anos a enofilia não lhe dizia muito, apesar de vir de uma tradição familiar onde o vinho estava presente. O pai tinha uma pequena vinha onde cultivava vinho de cheiro (o chamado “americano”), que depois vendia para o Pico, mas aquele vinho não lhe agradava e por isso não bebia. O facto de o vinho avinagrar ao fim de poucos meses também não ajudava. As caixas das prendas natalícias iam-se acumulando e nada, até aos 35 anos pode dizer-se que era abstémio.
Foi com a viragem do século e o surgimento das grandes marcas que hoje povoam o nosso imaginário que António começou a beber e a gostar. Nasceu então o gosto do coleccionismo, a vontade de ter todas as edições dos grandes vinhos, do Barca Velha ao Vale Meão, do Vinha Maria Teresa ao Chryseia. O gosto pelas colecções e a cave foram aumentando, bem mais do que o consumo aconselhava. Mas esse tempo já passou e hoje já não é por aí que António quer seguir; parou de comprar em quantidades, embora mantenha o gosto de ter as colecções completas. A disponibilidade de espaço que tinha ajudou ao vício e as caixas de vinho multiplicam-se em todos os cantos da casa.
E agora? Que fazer?
António não nasceu para negociante de vinhos e por isso não compra com o intuito de vender. Mas não esconde o desejo de um dia poder abrir com os filhos um wine bar em Angra onde possa escoar muito do vinho que tem em cave, que estima poder rondar as 9.000 garrafas. Mas como isso é ideia associada à reforma, o assunto vai ter de esperar mais uns anos. O vinho, esse, pelo que vimos, vai aguentar bem a prova do tempo porque está quase todo guardado em ambiente frio e o próprio clima ameno da ilha ajuda a que a evolução seja lenta mesmo para as caixas que não estão na cave fria. Foi aqui que andámos, por sugestão do próprio, a juntar um conjunto de vinhos para a prova que decorreu no mês de Agosto em sua casa. Todos de férias, tempo agradável e clima a pedir a reunião de amigos para a prova.
Sabia que…
Se não tiver boas condições de guarda, não vale a pena armazenar os seus vinhos durante muito tempo
António começou por apreciar sobretudo tintos, mas considera-se agora cada vez mais brancófilo e é com orgulho que diz que foi grande contribuinte pelo gosto do Vinho do Porto que agora existe por aquelas paragens insulares. Ele próprio não perde uma grande prova aqui em Lisboa, tirando partido das muitas viagens que por razões profissionais tem de fazer ao continente. O gosto também foi mudando e agora é o equilíbrio que mais o seduz num vinho; ganhou, entretanto, o apreço pelos vinhos velhos e alguns deles foram também provados nesta ocasião. Quanto aos vinhos pelos quais tem mais carinho e que considera mais valiosos não hesita em referir a colecção completa dos Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa (também em jeito de homenagem à sua mulher, Teresa). Nos vinhos do Porto ficaram-lhe dois na memória: o Constantino Colheita 1910 e o Ramos Pinto 1924. Madeiras? Aqui António não hesita: o Blandy’s Bual 1920. De caras! Responde de imediato.
E quanto aos néctares da Terceira não tem dúvidas: a vinda de Anselmo Mendes para os Biscoitos orientar a produção é uma oportunidade para que os vinhos ganhem outra dimensão.
Uma prova e tanto
De Lisboa fomos três: Luís Lopes, Nuno Oliveira Garcia e eu próprio. Da lista inicial proposta acabámos por seleccionar alguns que mais raramente temos provado no âmbito das nossas provas temáticas. Não fomos felizardos com alguns vinhos por apresentarem problemas de rolha, uma percentagem muito mais elevada do que o habitual, atribuível, creio, a um mero acaso. Ainda assim, foram 36 vinhos que se mostraram bem, ainda que em patamares de qualidade muito diversa. Dos anos 70 sobrou apenas um Colares Viúva Gomes 1974, mas já muito débil. Outros que tinham sido re-rolhados estavam cheios de problemas de gosto a rolha (TCA). Nos anos 80 tivemos um pouco mais de sorte com um Quinta do Carmo Garrafeira 87 em grande, grande forma, um Aliança Garrafeira 1985 ainda vivo e um Reserva 85 João de Santarém da Adega Cooperativa de Torres Vedras, magro e muito débil, uma mera curiosidade. Bem melhor a prestação dos anos 90 com três vinhos do Douro com classificação idêntica (16): Torna Grande 1999, Cabeça de Burro 1997 e Lello Garrafeira 1995; com 16,5 o Cartuxa 1998. Ainda desta década, mas em patamar bem mais acima, o Duas Quintas Reserva 1991, Tapada do Chaves 1992, D’Avillez Garrafeira 1998 e Fojo 1996 (todos com 17,5); excepcionais o Crasto Reserva 1999 e o Ferreirinha Reserva Especial 1997 (com 18 pontos).
Da primeira década deste século chegaram à prova muitos e bons vinhos. Destacamos dois pela excepcional prova que deram, o VT 2004 e o Batuta 2001 (ambos 18,5). Depois seguiu-se daí para baixo um conjunto alargado de vinhos: Anselmo Mendes Alvarinho branco 2007, Filipa Pato Cercial branco 2005, Quinta de Pancas Premium 2000, Quinta da Leda 2000, ME e JBC Selections 2001 (todos com 17,5); Esmero 2003, Muros Antigos Alvarinho branco 2007, Conde Vimioso Reserva 2000 (com 17); PL/LR branco 2008, Esporão branco 2006, Esporão Alicante Bouschet 2002, Quinta do Zambujeiro 2002 e Campo Ardosa RRR 2000 mereceram 16,5. E com 16, os Redoma branco 2006, Quinta dos Carvalhais Encruzado 2007, Campolargo 2002 e Quanta Terra 2001.
Para terminar, e em jeito de alerta para quem tem vinhos mais antigos em casa, refiro que nos deparámos com 10 vinhos contaminados por problemas de rolha e mais 4 já passados ou com defeito de prova grave. Em resumo, guardar vinhos tem muitas vezes a sua recompensa, e um branco ou tinto velhos podem originar momentos de excepção. Mas é preciso estar atento.
Um coleccionador recomenda
Nos anos que leva de coleccionador de vinhos, António Maio percebeu que há erros que se podem pagar caro e por isso deixa aqui algumas recomendações. Em primeiro lugar qualquer coleccionador nos Açores tem de estar preparado para a eventualidade dos tremores de terra. Assim, se os vinhos estiverem em prateleiras e já fora das caixas originais, é bom ter uma rede metálica à frente da prateleira que evite que as garrafas caiam para o chão quando a terra tremer. Em segundo lugar a temperatura da cave: se não tem possibilidade de ter uma cave fria não guarde vinhos por muitos anos; procure ter de vários segmentos — vinhos do quotidiano, de gama média e alta, sempre num equilíbrio entre a compra e o consumo. Ter em atenção onde se compram os vinhos, para termos a certeza que não há fraudes (elas são mais frequentes do que imaginamos nas grandes marcas). Por fim, o complemento de uma boa colecção são os bons acessórios: decantadores, bons copos e boa companhia. E para que não se deite tudo a perder, muito cuidado com a temperatura de serviço.
O Sado de copo na mão

Num país com muito vinho, alma de marinheiro, belos rios e largas centenas de quilómetros de costa, seria de esperar que os cruzeiros vínicos fossem coisa comum. Estranhamente, não são. Mas no Sado eles fazem parte da paisagem já há quatro anos. Crónica de um final de tarde de copo na mão, entre vinhos, paisagem […]
Num país com muito vinho, alma de marinheiro, belos rios e largas centenas de quilómetros de costa, seria de esperar que os cruzeiros vínicos fossem coisa comum. Estranhamente, não são. Mas no Sado eles fazem parte da paisagem já há quatro anos. Crónica de um final de tarde de copo na mão, entre vinhos, paisagem e golfinhos. Viva o Verão.
TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga
O sol ainda vai alto nesta tarde de Agosto, reforçando o apelo da brisa fresca e do brilho das águas no estuário do Sado. No cais, em Setúbal, junta-se um grupo relativamente heterogéneo de pessoas – portugueses e estrangeiros, novos e mais velhos, casais e grupos alargados – que aguarda o sinal verde para embarcar no “Mil Andanças”, a embarcação onde se renovará hoje uma tradição cada vez mais forte do Verão setubalense: o cruzeiro vínico de sábado. Desta vez, abrilhantado pelos vinhos da Adega Fernão Pó.
A ideia, fomentada pela Rota dos Vinhos da Península de Setúbal, surgiu há quatro anos e o número de produtores aderentes tem crescido todos os anos, até ao ponto de, em 2017, as 18 datas disponíveis no Verão (de 3 de Junho a 30 de Setembro) estarem todas ocupadas. E com muita procura. Pudera: a experiência é fantástica, mesmo para quem não seja fanático do vinho. A visão da Arrábida no enquadramento do pôr-do-sol, a península de Tróia e o casario de Setúbal, o plano de água e o movimento dos navios, as praias e os golfinhos. Sim, os golfinhos. Lá iremos.
O trajecto entre Setúbal e o cais de Tróia, segundo ponto de entrada de participantes no cruzeiro, serve praticamente de aperitivo. O sol ainda vai alto, as águas animam-se com carneirinhos de espuma, as pessoas arrumam-se nas cadeiras do deck superior ou nos bancos almofadados cá em baixo – a sala interior ainda está encerrada, enquanto se prepara a prova de vinhos.
A saída de Tróia marca o início das hostilidades. Toda a gente é convocada ao deck superior para se fazer a apresentação do produtor da semana, neste caso a Adega Fernão Pó. João Palhoça, enólogo, resume em duas ou três frases a origem familiar da empresa e lança uma primeira luz sobre os vinhos que iremos provar de seguida. Palavras não eram ditas e eis que toda a gente volta a descer, desta vez com o vinho em linha de mira. E a primeira rodada é sempre a mais difícil…
Seja porque a sede aperta, seja porque os balanços da barra pregam partidas a quem não está habituado, gera-se um ajuntamento na zona de serviço, onde também está disponível uma mesa com petiscos (pão, tostas, queijo, chouriço, presunto, entre outras iguarias)… Mas depressa o ritmo serena e podemos provar o branco de entrada de gama, a que se seguirão um rosé, outro branco (este um varietal de Viosinho) e uma série de tintos (quatro, no total) que culmina no Reserva da casa.
O passeio e o vinho
Aos poucos, as conversas distendem-se, os sorrisos alargam-se e os grupos misturam-se. Um pouco à parte, Kaeszar, um dentista londrino, e a sua mulher, Alia, estão mais confinados pela barreira da língua, mas todas as explicações sobre os vinhos e o passeio são também dadas em inglês. Estão de férias em Tróia – “No Reino Unido ninguém sabe que isto existe!”, espanta-se Kaezar – e um amigo alentejano sugeriu-lhes o cruzeiro. “Adoramos barcos e sunsets”, explica Alia; o vinho é uma espécie de bónus. E, por falar em extras, é por esta altura que soa o aviso: “Golfinhos à esquerda!” E por momentos tudo passa para segundo plano, enquanto os dorsos cinzentos dos roazes dançam na espuma mesmo debaixo dos nossos olhos.
A seguir o vento prega-nos uma partida e fustiga o navio durante alguns minutos, levando consigo algumas almofadas e obrigando toda a gente a abrigar-se no interior, face à ameaça dos salpicos. O “Mil Andanças”, que já há-de ter visto bem pior do que isto, apressa-se a rumar à linha de costa da Arrábida, onde ficará mais resguardado deste súbito mau humor da meteorologia. Curiosamente, mais do que susto ou enjoos, o que se vê a bordo são sorrisos rasgados pelo pitoresco da situação. E, claro, há quem nunca tenha pousado o copo e prossiga, impavidamente, com a prova dos vinhos Fernão Pó.
Giovani e Neia, marido e mulher, brasileiros, vivem em Setúbal há 16 anos e esta é a segunda vez que embarcam num destes cruzeiros vínicos. “Aproveitamos o passeio de barco – é uma cidade bonita, mas vista daqui é um espectáculo – e o vinho. Ela é mais de vinho do que eu, mas no Inverno também ponho de parte a cervejinha e troco por um tinto”, elucida ele, enquanto Neia garante que ambos são fãs dos vinhos da Península de Setúbal, mas que há uns de que gostam “mesmo muito”: “Os do Alentejo!”
O sol já se pôs lá fora e agora navegamos placidamente ao longo da costa, bordejando línguas de areia que em breve desaparecerão na maré cheia. Numa delas, um audaz (ou distraído) pescador continua a fazer lançamentos com ar compenetrado e água pelos joelhos, aparentemente alheio ao facto de em breve poder ficar sem luz e com o caminho de regresso a terra cortado pelas águas. Ele lá sabe…
Um pedido de casamento
Numa mesa, Joana, Tito, Teresa e Carolina, mais “o pai João e a mãe Paula”, uma família de seis que mora do Seixal, estão a confirmar as boas coisas que foram ditas à última por pessoas conhecidas e que os levaram a inscrever-se no cruzeiro. Mas há membros que estão “fora-da-lei” e bebem sumo… “Acho que as pessoas vêm pela experiência geral, os mais novos provavelmente mais pelo barco e pelo passeio do que pelo vinho.” Mas os argumentos vínicos têm em Tito um veemente tribuno: “Provas de vinhos há muitas; num barco é que não!”
E esta será, provavelmente, a frase a reter neste animado anoitecer setubalense. O apelo conjunto do passeio de barco, das paisagens, dos golfinhos e do vinho ajuda a compor um cocktail sedutor. Para os produtores, é uma excelente oportunidade de mostrarem os seus vinhos e recolherem reacções em primeira mão. “Este é o quarto ano em que aderimos aos cruzeiros. Mudámos a imagem há cinco anos, sentimos necessidade de nos darmos a conhecer”, explica Isabel Palhoça, da Adega Fernão Pó.
Nos últimos três anos, a organização dos cruzeiros vínicos passou a ser responsabilidade da SadoArrábida, com apoio da Rota dos Vinhos da Península de Setúbal. Joaquim Ferreira, director da empresa, não tem dúvidas: “É um sucesso. Muito público, quase sempre lotação esgotada, sempre boa disposição a bordo.” Os portugueses são os principais clientes e foi mesmo lusitano o momento mais inesquecível, quando, recorda Isabel Palhoça, num dos cruzeiros da Adega Fernão Pó aconteceu um pedido de casamento… “Era um grupo grande, toda a gente aplaudiu, foi muito bonito!”
Desta vez não houve joelho no chão nem anel no dedo, mas o ambiente foi sempre descontraído. À medida que a noite caía e o vento amainava, cada vez mais gente se foi dirigindo ao deck superior, a música dos Abba marcando o percurso final do passeio, o vinho lubrificando as conversas. Quando chegamos ao cais, agora com os Heróis do Mar a cantarem “Paixão”, é preciso fazer um apelo pela instalação sonora, explicando que a embarcação tem ainda de rumar a Tróia, para que os passageiros comecem a sair. Não há bem que sempre dure, mas a vantagem aqui é que podemos sempre repetir no sábado seguinte. E com vinhos diferentes para descobrir.
CRUZEIROS ENOTURÍSTICOS NO SADO
SadoArrábida
Tel: 915 560 342
Mail: geral@sadoarrabida.pt
Web: www.sadoarrabida.pt
O cruzeiro pelo estuário do Sado, baía de Setúbal, costa da Arrábida e Tróia inclui observação de golfinhos, música, provas de vinhos comentadas por enólogos das adegas convidadas e degustação de queijos, enchidos e doçaria tradicional. Tem uma duração de 2h30 e embarque às 18h30 (Setúbal, doca das Fontaínhas) ou 18h50 (marina de Tróia). Os bilhetes custam 30 euros para adultos e 17,5 euros para crianças dos 6 aos 12 anos. Sempre com marcação prévia. Em Setembro as datas incluem A Serenada (no dia 2), Quinta da Serralheira (9), Herdade da Comporta (16), Península de Setúbal (23) e o cruzeiro de encerramento (30).
Quinta Nova premiada pelo guia “Luxury Travel Guide”

O serviço premium e a elegância dos vinhos apresentados na proposta de enoturismo da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo foram reconhecidos pelo guia de luxo inglês “Luxury Travel Guide” através da atribuição do prémio Luxury Hotel & Winery Of The Year 2018. Esta distinção surge depois de a prestigiada “Conde Nast Traveller”, revista […]
O serviço premium e a elegância dos vinhos apresentados na proposta de enoturismo da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo foram reconhecidos pelo guia de luxo inglês “Luxury Travel Guide” através da atribuição do prémio Luxury Hotel & Winery Of The Year 2018. Esta distinção surge depois de a prestigiada “Conde Nast Traveller”, revista também britânica, ter descrito a Quinta Nova como a “jóia escondida” do Douro, na edição especial do seu 20º aniversário.
O guia inglês Luxury Travel Guide reconhece os melhores em cada uma das categorias no segmento de luxo, com um alcance de mais de meio milhão de pessoas em todo o mundo, e representa o auge das conquistas do setor das viagens e turismo. A atribuição destes prémios está sujeita a uma rigorosa avaliação realizada por profissionais internos, subscritores e parceiros.
“É um enorme reconhecimento para a Quinta Nova ser distinguida pelo terceiro ano consecutivo por um guia com esta relevância no setor”, assume Luísa Amorim, administradora da Quinta Nova. “Esta última atribuição é particularmente especial, uma vez que valoriza a essência da proposta da Quinta Nova, exaltando o projeto no seu âmago, ou seja, o casamento perfeito entre o mundo do vinho e do enoturismo.”
A oferta enoturística da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, na margem direita do Douro, em Covas do Douro, inclui alojamento (11 quartos), restaurante (Conceitus), loja e sala de provas, jardim e piscina panorâmicos e museu (Wine Museum Centre).
Mapa Enogastronómico do Porto e Norte já está disponível

Que ninguém se perca quando a fome e a sede apertam! Já está disponível o Mapa Enogastronómico do Porto e Norte de Portugal, que enumera de forma simples e intuitiva todos os espaços enoturísticos da região. O mapa, lançado pelo Turismo da região, acaba de lançar o contém informações sobre locais a visitar, aconselha provas […]
Que ninguém se perca quando a fome e a sede apertam! Já está disponível o Mapa Enogastronómico do Porto e Norte de Portugal, que enumera de forma simples e intuitiva todos os espaços enoturísticos da região. O mapa, lançado pelo Turismo da região, acaba de lançar o contém informações sobre locais a visitar, aconselha provas gastronómicas e dá orientações sobre regiões demarcadas de vinhos.
O documento possui 23 produtos com Denominação de Origem Protegida (DOP), tem 11 pontos de visitação e 255 quintas de enoturismo. Esta ferramenta turística está disponível em duas línguas – português e espanhol. O mapa, em formato de bolso, está disponível nas lojas de turismo em toda a região Porto e Norte.
“Em 2016 a gastronomia representou 23% do fator de motivação para quem nos visita, logo a seguir ao City Breaks e Touring Cultural, o que nos mostra que é realmente um produto estratégico de extrema importância para a promoção da vinda ao território e por isso mesmo a exigir que haja respostas para quem nos procura”, adianta Melchior Moreira, presidente do Turismo Porto e Norte de Portugal.
Os mercados com mais apetência para este produto são os espanhóis e franceses, os mesmos que mais procuram a região. Em 2017, no acumulado entre Janeiro e Setembro e em comparação com 2016, regista-se um aumento de 11,2% nos visitantes cuja motivação é a gastronomia e vinhos. Os mercados mantêm-se os mesmos, ou seja, Espanha e França registam o maior número de turistas, sendo de salientar o aumento de cerca de 17% da procura por parte dos espanhóis.