VINEVINU: Cerdeira com muita Alma

O que distingue um vinho da bebida que resulta da fermentação do mosto é a sua alma. A alma de um vinho faz-se, não só das suas características organoléticas, da harmonia dos seus sabores, da interação com os aromas, da forma e momento como é consumido, mas também dos princípios que o norteiam, que estão […]
O que distingue um vinho da bebida que resulta da fermentação do mosto é a sua alma. A alma de um vinho faz-se, não só das suas características organoléticas, da harmonia dos seus sabores, da interação com os aromas, da forma e momento como é consumido, mas também dos princípios que o norteiam, que estão na sua Génese. Vinho que tem alma, que tem uma alma cheia, também tem, por detrás, uma missão, uma visão, e um conjunto de valores.
A Vinevinu assenta sobre dualidades e conjuntos de dualidades. É vinha e vinho. É filho e pai Cerdeira. É Terroir Marítimo e de Montanha. É Alvarinho, é Loureiro, é Arinto e é Maria Gomes
Os atores
Uma equação com o Manuel e o Luís como numeradores e o apelido Cerdeira como denominador. Luís Cerdeira dispensa grandes apresentações. Uma referência incontornável da região dos Vinhos Verdes, com uma experiência consolidada em mais de 30 vindimas, tendo trabalhado na Comissão Vitivinícola da região e sido uma das figuras de proa da marca Soalheiro. O Luís é, indiscutivelmente, um dos expoentes máximos do Alvarinho.
Manuel é o filho primogénito do Luís. Não alheio ao percurso do pai e ao êxito da empresa da família, Manuel decidiu procurar conhecimento académico numa paragem “pouco clássica”. Foi no Reino Unido que se licenciou em Viticultura e Enologia e consolidou o que foi aprendendo ao longo das muitas vindimas efetuadas em Melgaço e noutras regiões aquém e além-fronteiras. Durante o seu percurso académico, foi cofundador de uma iniciativa fora da caixa, “Not Yet Named Wine Co”, que envolvia os amantes de vinhos aos processos de vinificação. Escutando-o é fácil depreender “Not Yet”, mas muito possivelmente num horizonte não muito distante que, de simples numerador, passará também a potência na região.
A Vinevinu surge no seio deste elenco com o propósito de idealizar e produzir vinhos que expressem a vinha de onde nascem e potenciem, ao máximo, os diferentes terroirs, adequando, para isso, o devido trabalho enológico que reforce essa diferenciação e mais-valia. Para o Luís, certamente que esta experiência o fará reviver o que sentiu, quando saído da universidade, foi acolhido pelo pai no projeto Soalheiro que, então, ainda estava distante do que é hoje. É pois uma partilha de testemunho, mas agora no lugar oposto.
Os palcos
A história desenrola-se na vasta região dos Vinhos Verdes, onde é possível encontrar e potenciar uma imensidão de terroirs. A Vinevinu pretende explorar dois distintos: por um lado, a proximidade do mar, a influência atlântica e, por outro, as vinhas de montanha, abrigadas da influência atlântica pelo relevo e a altitude.
A Vinevinu assentou praça em Requião, perto de Famalicão, o seu Terroir Marítimo. Aí encontrou, simultaneamente, as condições ideais para produzir de imediato e poder crescer. Mais concretamente, procedeu a um arrendamento a 20 anos das vinhas, de terra e da adega da Casa de Compostela para produzir com base numa boa adega e nos 17 ha de vinha existente, com o objetivo de potenciar, conservar e renovar. E crescer com base em 21ha de vinha que serão plantados já em 2025. Requião está somente a cerca de 20 km do mar e tem um relevo suave que não corta a influência atlântica. Os solos são de origem granítica, com alguma argila, contando ainda com nível bastante considerável de matéria orgânica. Destas premissas resultam solos de fertilidade relativamente elevada.
Monção e Melgaço ficam mais no interior da região dos Vinhos Verdes. Fisicamente, o relevo corta a influência atlântica. O Terroir de Montanha da Vinevinu tem solos graníticos, sem argila e mais pobres. As vinhas eleitas foram cultivadas em altitude e de proprietários com quem a família Cerdeira nunca teve parceria de produção de uvas. Em 2025, Luís e Manuel pretendem iniciar o projeto de construção da adega em Melgaço.
Do pouco que vimos, não tardará muito para que a Vinevinu seja reconhecida pela excelência, empenho e inovação na produção de vinhos com Alvarinho.
A meta
Da conversa que tive com o Manuel e o Luís depreende-se, com facilidade, que a Vinevinu sabe onde quer chegar e o caminho que quer trilhar. Conhecendo bem a versatilidade da casta Alvarinho, tanto vitícola, como enológica, pretendem produzir vinhos que se distingam na região dos Vinhos Verdes. Do pouco que vimos na adega e da visão partilhada da viticultura da região, não tardará muito para que a Vinevinu seja reconhecida pela excelência, empenho e inovação na produção de vinhos com Alvarinho.
Como referido, o propósito inicial da visita foi conhecer o projeto. Não tinha a ideia de escrever um artigo. Na realidade, integrei-me num grupo que foi com o mesmo objetivo: saber o que Luís Cerdeira andava a fazer. Visitámos a adega, conversámos com vista e sobre a vinha, atual e futura. E conhecemo-nos uns aos outros.
Tudo o que via e ouvia dava a sensação de que alguma lógica, algum fio condutor unia os conceitos, os detalhes do projeto. E não tardou a ficar evidente que a Vinevinu assenta sobre uma dualidade ou conjuntos de dualidades.
Vinevinu é vinha e vinho. É filho e é pai. É Terroir Marítimo e Terroir de Montanha. É Alvarinho, é Loureiro, é Arinto e é Maria Gomes. Perspetiva-se que venha a ser também Espadeiro e Padeiro. Fermenta em inox e em foudres de madeira. Estagia em Ovos de Cimento e em Barricas Mixtus. Mixtus é o nome dado a barricas exclusivas da Vinevinu, especialmente projetadas para incorporar um conceito único de mistura de madeiras. Cada barrica é construída combinando aduelas (as tábuas de madeira que formam o corpo da barrica) de diferentes tipos de madeira e origens. Por exemplo, pode-se alternar entre aduelas de carvalho português e carvalho francês, ou combinar carvalho português com castanheiro português, entre outras possibilidades. Essa abordagem permite criar barricas personalizadas que conferem características únicas e complexas aos vinhos.
Depois de me ver neste emaranhado de dualidades, lembrei-me de Agatha Christie e de Arthur Conan Doyle. Mas vou quebrar este ciclo. Prometo escrever um e um só artigo.
O autor deste artigo escreve segundo o novo acordo ortográfico
(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)
Casa da Tapada: Novidades de um lugar com história

A apresentação dos novos vinhos da Quinta Casa da Tapada decorreu no restaurante Santa Joana, que ocupa o espaço de uma antiga igreja da rua de Santa Marta, em Lisboa. Para além dos quatro vinhos brancos, um deles um espumante da vindima de 2019 com 48 meses de estágio sobre borras, foi apresentada a nova […]
A apresentação dos novos vinhos da Quinta Casa da Tapada decorreu no restaurante Santa Joana, que ocupa o espaço de uma antiga igreja da rua de Santa Marta, em Lisboa. Para além dos quatro vinhos brancos, um deles um espumante da vindima de 2019 com 48 meses de estágio sobre borras, foi apresentada a nova imagem da marca, mais adaptada aos objectivos da empresa e ao mercado.
Propriedade de charme
Há muito que Luís Serrano Mira, proprietário da Serrano Mira, grupo que detém a Herdade das Servas, no Alentejo, e a Casa da Tapada, nos Vinhos Verdes, ambicionava fazer vinho fora do Alentejo. O objectivo concretizou-se em 2018, com a aquisição da última, uma propriedade de charme no concelho de Amares, Região dos Vinhos Verdes, compra feita em parte com base emocional, já que um dos grandes amigos do seu avô produzia lá vinhos. “Esta amizade especial da família com um produtor de Vinho Verde contribuía para que houvesse sempre vinho da região à mesa, que eu aprendi a gostar desde cedo”, explica Luís Mira.
Situada em Fiscal, Amares, a Casa da Tapada inclui um solar imponente, uma mata centenária com 10 hectares e um património botânico diversificado. A propriedade tem 24 hectares, dos quais 12 são de vinha.
O edifício foi mandado erguer pelo poeta e conhecido humanista Francisco de Sá de Miranda, responsável pela introdução do movimento literário renascentista no nosso país, que ali se instalou, com quase 50 anos, em 1530 e começou a produzir vinho depois de alguns anos de vida em Lisboa. Com onze quartos, o solar da Casa da Tapada foi erguido em 1540 e ampliado por duas vezes, a primeira no século 17 e a segunda no século 19.
Lugar com história
Luis Mira contou, durante a apresentação, que a maior parte da obra do poeta foi escrita na Casa da Tapada e que ainda hoje existem os lagares usados no século 16. Essa foi outra das razões que o levou a aproveitar a oportunidade de compra da quinta, “porque é ainda melhor produzir vinho num lugar com história”. O solar, classificado como Imóvel de Interesse Público em 1977, tem um valor histórico-cultural que pesou no investimento feito pela família Serrano Mira. Ali existem, ainda, as Casas da Eira e da Confraria, a Capela de Nossa Senhora da Guia, para além da adega e da loja de vinhos.
Quando a propriedade foi adquirida, a vinha estava praticamente abandonada e as suas plantas estavam espalhadas em pequenos patamares, difíceis de reconverter e de trabalhar. Por isso foi feita a sua reconversão, e alargados os patamares para dimensões exequíveis para o maneio adequado da vinha, tendo em conta a sua rentabilidade. Também foi adicionada a casta Alvarinho, que na região de Amares se chama Pedernã, às que já existiam ali, o Alvarinho e o Loureiro. Dão origem a duas marcas de vinho: Capela da Tapada, produzida também com uvas de parceiros, e Quinta Casa da Tapada.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)
Ode Phosphorus: de Pessac-Leognan ao Vale de Franschhoek, a Hunter Valley e à região Tejo…

Acredito sinceramente que a casta Sémillon é merecedora de uma audiência maior no mundo vínico e enófilo, pois consegue originar vinhos deliciosos e extremamente acessíveis na sua juventude e desenvolve múltiplas nuances e grande complexidade ao longo da sua vida em garrafa. De origem francesa, é conhecida por estrelar os reverenciados vinhos brancos doces de […]
Acredito sinceramente que a casta Sémillon é merecedora de uma audiência maior no mundo vínico e enófilo, pois consegue originar vinhos deliciosos e extremamente acessíveis na sua juventude e desenvolve múltiplas nuances e grande complexidade ao longo da sua vida em garrafa. De origem francesa, é conhecida por estrelar os reverenciados vinhos brancos doces de Sauternes e os secos de Pessac-Leognan, da região de Bordeaux, de que é exemplo o icónico Chateau Haut-Brion, cujo lote é composto por Sémillon e Sauvignon Blanc, com ligeira predominância da primeira.
Mas diz-se ter sido na Austrália, no Hunter Valley, estado da Nova Gales do Sul, a norte de Sydney, que a Sémillon encontrou o seu terroir de eleição, onde, aliás, se encontra plantada desde o século XIX (1830) até aos dias de hoje. Na verdade, tal como a Chenin Blanc, no Vale do Loire, a Pinot Noir, na Borgonha ou a Nebbiolo, na região do Piedmonte, não existem muitos outros sítios no mundo onde a Sémillon produza resultados tão excepcionais como no Hunter Valley.
A versatilidade da casta manifesta-se na facilidade com que se adapta tanto a climas quentes como frios. No calor, ela apresenta aromas e sabores suculentos de frutas amarelas e tropicais como pêssego, manga e papaia, e produz vinhos com maior teor alcoólico e bom potencial de envelhecimento. No frio, os vinhos são mais frescos, com aromas e sabores de frutas cítricas, maçã, pêra e melão. São exemplares com mais acidez e menos álcool.
Em Portugal é uma das castas autóctones do Douro, por exemplo, tendo sido, inclusivamente, uma das mais utilizadas pelos viticultores da região, que a conheciam pelo nome de Boal. Só quando foi “importada” para o nosso País se descobriu que Sémillon e Boal são a mesma casta.
Produzido a partir de algumas das melhores uvas Sémillon, fermentadas e envelhecidas durante 12 meses em barricas de carvalho francês de 500 l, apresentou-se-nos um vinho elegante, texturado e extremamente gastronómico
A casta Sémillon no Tejo
A ODE Winery, Farm & Living é uma adega com história, localizada em Vila Chã de Ourique, freguesia do Município do Cartaxo, distrito de Santarém, a apenas 50 minutos de Lisboa.
Totalizando 96 hectares, começa a operar em 2022 pelo grupo Immerso Collective, criado com foco no luxo e sustentabilidade por David Clarkin e Andrew Homan, que têm mais de trinta anos de experiência em investimento e desenvolvimento imobiliário de futuro nos mercados asiático e australiano, bem como em gestão de fundos de investimento imobiliário. O objectivo foi criar um projecto que trouxesse a merecida visibilidade à região Tejo e à sua extensa cultura do vinho.
A Ode Winery integra a adega e vinhos ODE, produzidos numa unidade de vinificação de última geração, que manteve a sua beleza e origem históricas, que remontam ao ano de 1902.
Jim Cawood, australiano de nascença e com uma vasta experiência em todas as vertentes do negócio do vinho, tendo sido sommelier, importador, distribuidor e retalhista, e também produtor em Espanha, é o “director of Wines and Good Times” da ODE. Anfitrião por excelência, apaixonado pelo projecto e pelo terroir ODE, desde logo identificou várias semelhanças entre o terroir calcário onde está inserida a empresa e o clima e ph dos solos de Hunter Valley. Mas foi um feliz acaso que levou a Sémillon até à ODE Winery. Ou talvez não tenha sido totalmente um acaso. Em conjunto com a enóloga Maria Vicente, com mais de 20 colheitas no seu percurso profissional quando assumiu o projecto ODE, nas inspecções iniciais às vinhas, Jim constatou algo de esquisito na parcela onde estava registada e plantada a casta Viognier.
De um lado era Viognier, sem qualquer dúvida, mas, do outro, de certeza absoluta que Viognier não era. Eram simplesmente duas plantas diferentes. A outra era Sémillon!
Os motivos que levaram os antigos proprietários (Vale d’Algares) a registar tudo como Viognier não sabemos. Podemos apenas especular que fosse por a Sémillon não ser uma casta autorizada na região Tejo, na altura em que foi plantada, ou simplesmente por engano do viveirista. A verdade é que não sabemos. O que sabemos é que Maria e Jim, perante a realidade das coisas, decidiram apostar na casta, e em boa hora o fizeram, já que os resultados se têm revelado excelentes.
Potencial para envelhecer
Para adicionar textura e definição, cerca de 15% desse vinho envelheceu em barricas novas de 500 l de carvalho francês durante cinco meses. Seco e cítrico, com notas de limão, lima, maçã verde, e um final de boca mineral, na sua juventude será um vinho que harmoniza com facilidade com marisco, por exemplo, mas tendo potencial para envelhecer em garrafa até 10 ou mais anos. Envelhecido, será um vinho perfeito para acompanhar um assado de porco ou aves, como o faisão por exemplo.
Produzido a partir de algumas das melhores uvas Sémillon, fermentadas e envelhecidas durante 12 meses em barricas de carvalho francês de 500 l, apresentou-se-nos um vinho elegante, texturado e extremamente gastronómico. O Ode Phosphorus junta-se, assim, às 12 referências Ode já disponíveis no mercado. Pois seja bem vindo!
(Artigo publicado na edição de Abril de 2025)
Vinilourenço: Pai Horácio 1945, De filho para pai… a celebração do legado

Foi sem dúvida um dia de emoções fortes, uma cerimónia preparada pela família, com a presença dos amigos de sempre e todos os colaboradores da empresa que o “Pai Horácio” criou, impulsionou e que o filho Jorge fez crescer. E não faltaram à mesa os pratos preferidos do Sr. Horácio, seja a “torradinha com azeite”, […]
Foi sem dúvida um dia de emoções fortes, uma cerimónia preparada pela família, com a presença dos amigos de sempre e todos os colaboradores da empresa que o “Pai Horácio” criou, impulsionou e que o filho Jorge fez crescer. E não faltaram à mesa os pratos preferidos do Sr. Horácio, seja a “torradinha com azeite”, o bacalhau “que ele tanto apreciava de qualquer forma” ou o fabuloso “cabritinho assado no forno com um não menos delicioso arroz de miúdos”, “tudo pratos que o meu pai gostava” disse, com emoção, Jorge Lourenço. Almoço excecional, acompanhado por alguns dos grandes vinhos da casa e, claro está, pela estrela maior, o Pai Horácio 1945, lançado no dia em que faria 80 anos – um tinto de contemplação.
Regresso às origens
O lançamento ocorreu na sede da Vinilourenço, em Poço do Canto, Meda, onde se localiza também a adega, a loja e casa da família. Atualmente, a Vinilourenço possui uma área própria de 50 hectares de vinha, repartidos pelos concelhos da Meda e Vila Nova de Foz Côa, cujas altitudes variam entre os 130m e os 700m. Ficam sobre solos de xisto e granito, têm orientações solares e declives muito variáveis e uma diversidade de micro terroirs que permite explorar o melhor de cada casta e apresentar vinhos de perfis diversos. O portfolio é bastante extenso, onde talvez as marcas D. Graça e Fraga da Galhofa sejam as de maior notoriedade no mercado.
Destaque igualmente para a coleção castas, onde os monovarietais Samarrinho, Donzelinho, Casculho, Gouveio, diferentes abordagens ao Viosinho, entre outras, representam o regresso às origens, resultando em vinhos com perfil singular, evidenciando o carácter da casta versus terroir. Toda a produção é acompanhada e gerida pelo produtor, Jorge Lourenço, de 43 anos, que desempenha a função de enólogo principal. Embora o forte contributo do professor Virgílio Loureiro, sobretudo nos primeiros anos da Vinilourenço tenha sido evidente, hoje é Jorge que se encarrega da enologia.

A Dona Graça e o apego à Terra
Horácio Lourenço, desde muito jovem mudou-se para Cascais, em busca de melhores condições e, com apenas 15 anos, já trabalhava na Câmara Municipal. Outros tempos, é claro… Aos 18 anos e finda a recruta militar foi para Angola, onde conheceu a algarvia Dona Graça, que viria a ser sua esposa e empresta o nome à talvez mais emblemática marca do extenso portfolio da Vinilourenço. Com a vida totalmente estabelecida em África, tal como muitos outros portugueses, foi forçado a regressar a Poço de Canto com muito pouco na bagagem, mas o suficiente para se iniciar na construção civil. Contudo, a sua grande paixão sempre foi a terra e, não tardou muito, começou a plantar vinhas.
Foi no final dos anos 70, princípio dos anos 80. “Estou aqui hoje para homenagear o grande patrono deste projeto, um homem fascinante, com uma enorme paixão pela terra. Eu também tinha essa paixão, mas a começar na adega. Com o Sr. Horácio era o contrário, ele queria estar nas vinhas e a adega era para os outros. Aprendi muito com ele”, refere o professor Virgílio Loureiro. No início as uvas eram vendidas para a adega cooperativa. Mas na viragem para o século XXI, Jorge Lourenço, que herdou a paixão pelas terras e pelas vinhas do seu Pai, tornou-se num trabalhador ávido por aprender e começou a demonstrar um grande espírito de liderança. Não surpreende, pois, que após concluir o ensino secundário tenha pretendido aperfeiçoar as suas características, fazendo um curso de jovem agricultor e, mais tarde, uma pós-graduação em Enoturismo.
Foi assim que Jorge Lourenço deu continuidade ao sonho do pai, criando a empresa ViniLourenço, à qual se dedica integralmente há mais de duas décadas. “Felizmente, hoje temos já uma equipa de 18 pessoas, a quem eu também muito agradeço, e o lançamento deste vinho muito especial é também para dignificar aquilo que é o nosso trabalho conjunto, honrando a memória e o legado do meu pai”, remata Jorge. O legado está assim perpetuado no vinho de homenagem Pai Horácio 2021 tinto Grande Reserva Edição Especial. Trata-se de uma produção limitada de 1945 (ano de nascimento de Horácio Lourenço) garrafas, em caixa individual. Resultou de um blend da seleção de parcelas, plantadas pelo próprio Horácio Lourenço, com base no estudo dos terroirs, ao longo das últimas décadas e da interpretação dos mesmos por Jorge Lourenço.
Cada detalhe foi pensado meticulosamente, com destaque para o rótulo duplo com dedicatória do filho para o pai, ou a tira de couro que envolve a garrafa, simbolizando o compromisso entre pai e filho, a família e a amizade. Um package realmente bonito e singular! Como Jorge Lourenço referiu, um vinho à imagem de seu pai, “forte, com muita estrutura e muita alma”.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
Enoturismo: Madeira – Uma oferta com qualidade e diversidade

Concluímos aqui o relato do nosso périplo pelo enoturismo da Madeira, começado na edição de Fevereiro. Se pudéssemos resumir a impressão geral que esta visita de quatro dias nos deixou em três palavras chave, não tenho dúvidas que “surpresa” seria a primeira que me viria à mente, tão inesperado foi o impacto causado pela realidade […]
Concluímos aqui o relato do nosso périplo pelo enoturismo da Madeira, começado na edição de Fevereiro. Se pudéssemos resumir a impressão geral que esta visita de quatro dias nos deixou em três palavras chave, não tenho dúvidas que “surpresa” seria a primeira que me viria à mente, tão inesperado foi o impacto causado pela realidade que observei na ilha, logo seguida pela “diversidade” e “qualidade”. O breve registo, necessariamente telegráfico, das visitas aos restantes cinco empreendimentos visitados, ajuda a perceber esta avaliação.
Socalco Nature Calheta
Visto de cima, do miradouro do Museu de Arte Contemporânea no Estreito da Calheta, a paisagem é deslumbrante. Em baixo a praia artificial, feita a partir de areias trazidas de longe, surpreende pelo inusitado. Um pouco mais acima, avistam-se socalcos primorosamente compostos, em que as vinhas alinhadas e as casas de traço moderno se abraçam num cenário que deixa antever existir ali algo de muito especial.
Não nos enganámos. E quando demos de frente com o portão do Socalco Nature após uma agradável descida a pé pela encosta, percebemos que nada ali foi deixado ao acaso. Estamos em presença de um Agroturismo inaugurado em plena pandemia, no final de 2020. São apenas 10 quartos mais 10 casinhas, suites premium com kitchenette encaixadas nos socalcos, entre fileiras de vinhas postas como se de um jardim se tratasse, mais um restaurante e uma piscina, com o mar azul brilhante em pano de fundo.
É um projecto de Octávio Freitas, chefe de cozinha com uma estrela Michelin no celebrado Desarma, no Funchal, que aqui ergueu um refúgio onde a sofisticação consegue parecer simples e casual. Dirigida pela sua irmã, Nélia Freitas, o empreendimento aproveitou umas velhas ruínas do século XVI, já inseridas nos socalcos, que a mão competente de um arquitecto transformou numa unidade exemplar. O restaurante Razão tem vida própria e está aberto a não hóspedes, funcionando também para eventos e outras actividades, como ateliers de cozinhas e masterclasses. Com uma cozinha aprimorada, com práticas sustentáveis e adepto da política “zero desperdício” e ingredientes “Km 0”, ganhou, em 2023, o Prémio Nacional de Turismo na categoria de Turismo Gastronómico. Como nos disse Nélia, o conceito é o de um restaurante com quartos. Foi no Razão que tivemos a oportunidade de provar os vinhos da casa, que são o visível orgulho do chef Octávio Freitas, para além de um inspirado almoço preparado pelo chef residente, André Gonçalves. Feitos a partir das uvas das vinhas alinhadas à nossa volta, regadas por uma levada, e de outra vinha, provámos diversas variações em torno das castas Verdelho, Boal, Malvasia Fina e Terrantez.
Foi em 2021 que apareceu o primeiro vinho, Galatrixa, a que se seguiu uma segunda marca em 2022, Cagarra, e mais recentemente, a Massaroco, em 2023, todos vinificados na Adega de São Vicente. O portefólio de Octávio Freitas contempla ainda um rosé e um clarete, feitos a partir de tinta Negra e Merlot. São belos vinhos, com uma personalidade muito própria, plenos de frescura marítima, salinidade e com excelente aptidão gastronómica.
Socalco Nature Calheta
Morada: Caminho do Lombo do Salão, 13, Calheta
Email: info@socalconature.com
Tel.: + 351 291 146 910/925 975 844
Aberto todo o ano. Preço/noite a partir de 125€
Quinta do Barbusano
Não é fácil chegar à Quinta do Barbusano, situada no município de São Vicente, na encosta norte da Madeira, estando a propriedade entalada entre montes e vales, como dizia o poeta, e sendo servida por uma estrada sinuosa. Mas para o enófilo ou gastrónomo é um percurso que vale a pena fazer e um pretexto para ter uma experiência gratificante e usufruir de prazeres simples que nos reconciliam com o melhor da vida. O nome Barbusano vem de uma espécie vegetal endémica inserida na Floresta Laurissilva, Património Mundial Natural, reconhecida pela UNESCO. António Oliveira, o proprietário, é hoje, e de longe, o maior possuidor de área de vinha, tendo 25 hectares na ilha da Madeira, 12 dos quais na quinta que visitamos, mais umas parcelas em Ponta Delgada, em São Vicente, na Ribeira da Janela, em Porto Moniz e ainda no conselho de Santana. Não satisfeito, ainda adquiriu três hectares na Ilha de Porto Santo, onde a casta branca Caracol tem a sua maior expressão. Na Barbusano, as vinhas estão espalhadas pela encosta em socalcos, conduzidas em latada, como é tradicional.
Tudo começou em 2006, com a plantação da primeira vinha, mas António já tinha bastante experiência acumulada em lidar com viticultores, vinhas e uvas mercê da sua actividade anterior, de venda de produtos fitofármacos. Foi aí que nasceu o bichinho que hoje ocupa grande parte do seu tempo e o faz verdadeiramente feliz: produzir os seus próprios vinhos onde, com a ajuda e orientação do enólogo Paulo Laureano, consegue já ter uma mão cheia de referências no mercado.
As castas que trabalha dividem-se entre o Verdelho, que é base dos seus belos brancos, e a Tinta Negra, com que faz um rosé muito interessante. Mas também tem uns poucos hectares de uva Arnsburger, de origem alemã, que usa para temperar os seus lotes. Os seus vinhos tintos são feitos sobretudo a partir da Touriga Nacional e Aragonez. No total, António Oliveira produz hoje mais de 100 mil garrafas por ano de vinho não fortificado, o que é absolutamente notável e inédito na ilha.
O que o visitante pode encontrar na Quinta do Barbusano é a paz e tranquilidade de um passeio pelos socalcos das vinhas, a prova de vinhos que revelam um forte carácter e grande singularidade, para além de uma refeição servida no restaurante com capacidade para 100 comensais. Mas desengane-se quem esperar uma ementa sofisticada. Ali a especialidade que todos querem provar é a espetada madeirense em pau de louro, salpicada com sal grosso e grelhada sobre as brasas que o próprio António maneja como ninguém. O acompanhamento são batatas e salada. O tradicional bolo do caco, barrado a manteiga e alho, previamente servido, já nos tinham acalmado o estômago. Nada mais simples, nada tão autêntico e gratificante.
Quinta do Barbusano
Morada: Caminho Agrícola, 26, São Vicente
Email: geral@barbusano.pt
Tel.: + 351 926 637 730
Visita guiada às vinhas e prova de seis referências: 20€. Visita, prova e almoço: 65€
Terrabona Nature & Vineyards
Paz, tranquilidade, silêncio e natureza e respeito absoluto pela sua privacidade, são a garantia que os hóspedes alojados no Terrabona têm como adquirido. O projecto, fundado pelo casal Marco Noronha e Maria João Velosa em 2014, em Boaventura, no concelho de São Vicente, é singular e exclusivo, dirigindo-se a um perfil de clientes particularmente exigentes na sofisticação dos serviços prestados e com alto poder de compra. Não espanta, por isso, que sejam visitantes estrangeiros os quase exclusivos clientes do empreendimento.
O trabalho no sector da banca, no Funchal, permitiu ao casal ter um conhecimento privilegiado de terrenos e propriedades rurais disponíveis nos cantos mais escondidos da ilha. Assim, em 2014 surgiu a oportunidade de adquirir uma propriedade inserida em plena Floresta Laurissilva, na pequena localidade de Boaventura. Inicialmente a ideia era fazer um agroturismo de luxo com sete casas encaixadas nos socalcos. Hoje estão construídas apenas quatro vilas, para além da recepção, mas a produção de vinho próprio passou também a constituir uma prioridade do projecto. As vinhas espalham-se pelos socalcos, rodeando as habitações, cuidadas como um jardim. As variedades passam pela já falada casta branca alemã Arnsburger, obtida do cruzamento de clones de Riesling, trabalho feito nos anos 30 pelas autoridades locais quando se estudava o potencial de castas para a produção do vinho fortificado.
Estava abandonada há mais de 20 anos. Mas foi de Marco e Maria João a ideia peregrina de plantar Loureiro, caso único em toda a ilha, como forma de homenagem à Laurissilva. Em 2016 fazem a primeira experiência de vinificação na adega comunitária de São Vicente. Agradavelmente surpreendidos com o resultado, decidem expandir as vinhas. Introduzem o Terrantez e o Verdelho e começam a produzir em modo biológico, sendo o primeiro produtor com vinhas licenciadas em produção integrada.
Outras experiências incluem o estágio dos vinhos em barrica e em ânforas de terracota, uma originalidade de aromas e sabores que surpreendeu os proprietários e os hóspedes. A boa recepção que os primeiros vinhos tiveram levou a que Marco e Maria João se aventurassem a enviar amostras para concursos como o IWC, e a revistas como a Decanter e Robert Parker, com resultados que superaram as suas expectativas. A integração da cultura do vinho num turismo rural de luxo é hoje uma marca do Terrabona Nature & Vineyards.
Terrabona Nature & Vineyards
Morada: Estrada do Cardo 117, Boaventura
Email: comercial@terrabonawine.com
Tel.: + 315 925 864 904
Alojamento numa das quatro suites a partir de 370€
Vinhos Barbeito
Não é hoje possível falar do vinho da Madeira e ignorar o trabalho desenvolvido nos últimos anos nos Vinhos Barbeito, tal como falar em Barbeito sem referir o nome de Ricardo Diogo. Criatividade e inovação são a marca que o neto do fundador, Mário Barbeito, imprimiu aos vinhos produzidos com a sua chancela, desde que tomou conta da enologia da casa em 1991. Com quase 80 anos de actividade, a empresa localizada em Câmara de Lobos conta hoje com cerca de 70 viticultores a quem compra uvas.
O que permite fazer, não só os prestigiados vinhos fortificados, como, desde 2017, vinhos tranquilos. Para a produção dos vinhos da Madeira, as castas nobres tradicionais como o Sercial, Verdelho, Boal e Malvasia constituem a base dos seus Colheitas, a que se juntam a Tinta Negra, aqui submetida ao envelhecimento em canteiro, que dá origem ao Single Harvest, para além do Bastardo. Nos últimos tempos a casa tem lançado novos vinhos, que vão dos Colheitas antigos aos Frasqueiras (com estágio em cascos com um mínimo de 20 anos) e vários monovarietais. Só os vinhos entrada de gama, feitos a partir de Tinta Negra, são submetidos à técnica de estufagem, em que os vinhos são aquecidos em grandes tanques por um período de três meses a temperaturas entre 47 e 50 graus centígrados. Este método de envelhecimento forçado, que permite lançar, no mercado, vinhos a preços muito mais acessíveis que os envelhecidos lentamente pelo método clássico, é comum a todos os produtores de Madeira.
Mas o que lançou verdadeiramente o nome de Barbeito para a atenção dos mercados, das revistas da especialidade e dos consumidores mais exigentes foram os seus notáveis vinhos velhos, de lote, com 40 e 50 anos, vinhos especiais, alguns deles estagiados em garrafões de vidro, lançados em quantidades reduzidas e com preços naturalmente elevados, que aguçam o apetite daqueles para quem o vinho da Madeira é algo de único e inigualável. Todas as vicissitudes deste processo de produção são convenientemente explicadas ao visitante que percorre as recentes instalações da Adega Barbeito, numa visita guiada disponível em várias línguas.
No dia em que estivemos no Barbeito tivemos oportunidade de presenciar alguns passos de uma numerosa excursão de visitantes da Bulgária, onde, num inglês fluente, o guia conseguiu passar a sua mensagem com um entusiasmo contagiante. que se traduziu depois em bastantes compras na loja da Adega. O visitante tem, assim ao seu dispor, visitas guiadas agendadas a diferentes horários conforme as línguas, que terminam na sala de provas com a possibilidade de experimentar vários vinhos. Um prova Gold com um vinho branco tranquilo e três vinhos Madeira tem o preço de 15€, enquanto uma prova Platinum, composta por um branco e seis vinhos Madeira de diferentes idades, custa 28€.
Vinhos Barbeito
Morada: Estrada da Ribeira Garcia, Parque Empresarial da Câmara de Lobos, Lote 8, Câmara de Lobos
Email: info@vinhosbarbeito.com.pt
Tel.: + 351 291 761 829
Visita e provas de vinhos desde 15€ por pessoa. Encerra ao Sábado e Domingo
Blandy’s Wine Lodge
A Blandy’s é uma das marcas mais conhecidas entre os vinhos Madeira e integra hoje o universo da Madeira Wine Company, o maior produtor de vinho Madeira. O seu centro de visitas está localizado na baixa do Funchal e é um autêntico museu vivo da história deste fortificado. Os vetustos edifícios que compõem o Lodge são datados dos séculos XVII e XVIII e foram adquiridos pela família Blandy, de origem inglesa, em meados do século XIX.
Em instalações modelares, repletas de história, memórias e objectos que vão desde instrumentos de trabalho, testemunhos de todas as fases do processo produtivo, até documentos raros, onde se pode descobrir, por exemplo, cartas de Winston Churchill, o visitante tem oportunidade de mergulhar a fundo no conhecimento sobre o vinho da Madeira, suas características e diferentes variedades, por entre pipas e cascos que albergam mais de 700.000 litros de vinho. Não pense, contudo, que é apenas esta a quantidade de vinho da Madeira armazenado ou a envelhecer pela Blandy’s. Um novo armazém, construído na zona do Caniçal, perto do aeroporto dispões de quase cinco milhões de litros e permitiu tirar, do centro da cidade, o tráfego pesado e a actividade laboral, libertando as velhas instalações para o seu destino nobre: serem a verdadeira sala de visitas do vinho da Madeira.
Amparados por uma visita guiada, orientada por pessoal muito competente e conhecedor, o visitante facilmente se deslumbra perante a nobreza do que lhe é revelado. No final, na bonita e espaçosa sala de provas, decorada por centenas de estantes com garrafas de todos os anos, o conhecimento sobre os vinhos da Madeira, e também sobre os vinhos tranquilos de que a Blandy’s foi pioneira, é aprofundado com uma prova didática e esclarecedora. Com preços a partir de 10,50€, variando conforme a quantidade e qualidade dos vinhos servidos, todo um universo de aromas inebriantes se desenrola diante dos nossos sentidos. História e cultura viva em movimento!
Blandy’s Wine Lodge
Morada: Avenida Arriaga, 28,Funchal
Email: seclodges@madeirawinecompany.com
Tel.: + 351 291 228 978
Visitas de Segunda a Sábado, disponíveis em cinco línguas
Comer na Madeira
Durante a nossa visita de quatro dias, a convite do Turismo da Madeira, tivemos oportunidade de comer em vários restaurantes, o que permitiu perceber que a ilha tem hoje uma farta oferta, com opções de qualidade de vários estilos e tipos de cozinha e para diferentes orçamentos.
Eis aqueles que achámos mais significativos:
Adega do Pomar
Rua Maria Ascensão, Camacha. Tel.: +351 938 799 379
Restaurante de cozinha tradicional, com decoração rústica, onde se pode provar pratos típicos como Sopa de Trigo à Antiga, Açorda Madeirense, Sopa de Tomate e Ovo, Espetada Madeirense, Atum, etc. O restaurante está ligado à produção da Sidra Quinta da Moscadinha, cujas diversas variedades também se posem provar e comprar no local.
Akua by chef Júlio Pereira
Rua das Murças, 6, Funchal; Tel.: + 351 938 034 758
Situado na baixa funchalense, é um restaurante de cozinha de autor em que a oferta predominante se baseia nos peixes e mariscos. Ambiente cosmopolita, desde as entradas aos pratos principais, o sabor e apresentação são cuidados ao pormenor.
Kampo
Rua da Alfândega, 74, Funchal; Tel.: +351 924 438 080
Também na baixa da cidade e do mesmo proprietário e chefe do anterior, este espaço de linhas modernas e atraentes, onde se privilegia o conforto à mesa e a apresentação tentadora das iguarias, é dedicado sobretudo ao universo das carnes e outros sabores campestres.
Audax
Rua Imperatriz Dona Amélia 104, Funchal. Tel.: +351 291 147 850
Define-se a si próprio como “progressive madeiran cuisine” e isso ajuda a perceber que estamos em presença de um restaurante de fine dinning, com interpretações modernas e por vezes ousadas de sabores tradicionais. Tem uma boa carta de vinhos, com possibilidade de provar a copo velhas raridades de vinhos da Madeira, com um serviço apropriado.
Barbusano
Quinta do Barbusano, Caminho Agrícola, 26, São Vicente. Tel.: +351 926 637 730
Aqui não há que enganar. A entrada é bolo do caco e o prato é espetada madeirense grelhada em pau de louro, acompanhada por batatas. Acrescente-se que a carne vem dos Açores, é de excelente qualidade e é grelhada nas brasas pelo proprietário. O espaço é amplo, ruidoso e informal, num ambiente campestre com as vinhas e a montanha em frente a compor o cenário.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2025)
Foz Côa celebrou o Douro Superior e distinguiu os melhores vinhos

O Festival de Vinho do Douro Superior regressou a Foz Côa e comprovou a importância deste evento na afirmação desta sub-região como um dos terroirs de referência para a produção de vinhos de grande nível não só no Douro mas de todo o país. Isso mesmo foi testemunhado pelas mais de cinco mil pessoas que […]
O Festival de Vinho do Douro Superior regressou a Foz Côa e comprovou a importância deste evento na afirmação desta sub-região como um dos terroirs de referência para a produção de vinhos de grande nível não só no Douro mas de todo o país. Isso mesmo foi testemunhado pelas mais de cinco mil pessoas que nos 3 dias do evento passaram pelo pavilhão da Expocôa.
De igual modo, o Concurso de Vinhos do Douro Superior que habitualmente se realiza no âmbito do Festival confirmou esta notável pujança e consagrou os melhores vinhos ali expostos à prova. O painel de 22 jurados, constituído por 22 especialistas nacionais e internacionais, incluindo compradores, sommeliers, críticos, jornalistas e representantes de garrafeiras e wine bares, avaliou as 178 amostras em prova nas categorias de vinhos brancos, tintos e vinhos do Porto e proclamou os vencedores, divididos entre medalhas de ouro e prata, para além do anúncio dos melhores vinhos em cada uma daquelas categorias.

Foram assim anunciados os vinhos Duas Quintas Reserva 2023 (Adriano Ramos Pinto Vinhos), nos brancos, o Avô Escrivão Grande Reserva 2021 (Vinilourenço), nos tintos, e o Barão de Vilar Colheita 1976 (Van Zeller Wine Collection SA), nos vinhos do Porto. Para além destes três grandes vencedores, foram ainda atribuídas 18 medalhas de ouro (6 para brancos, 10 para tintos e 2 para vinhos do Porto) e 37 medalhas de prata, num leque abrangente de produtores e estilos que evidenciam a diversidade e inovação da região. (ver lista completa no final).
“Orgulhamo-nos de poder constatar, mais uma vez, que a região continua a produzir vinhos de excelente qualidade, que nos continuam a surpreender, ano após ano. À semelhança da edição anterior, o painel do júri contou com a avaliação de compradores internacionais, reforçando a aposta na internacionalização do evento e nas oportunidades de exportação dando visibilidade global aos vinhos do Douro Superior”, mesmo aqueles de pequenas produções, oriundos de empresas familiares”, refere Luís Lopes, diretor da revista Grandes Escolhas que presidiu ao Júri do concurso.
O Festival contou com 90 expositores, entre vinhos e sabores regionais, como azeites da região, amêndoas, mel, queijos, charcutaria, pão e doçaria diversa e tasquinhas. O conjunto de actividades paralelas como provas comentadas de brancos, tintos, vinhos do Porto e de azeites, um colóquio sobre a oportunidade que o aumento do consumo dos vinhos brancos oferece à região, visitas a quintas, reuniões entre importadores e produtores, para além da habitual animação musical com concertos muito participados nas noites de sexta e sábado, completaram a oferta diversificada de um evento que “fala” com diversos tipos de público.
Nas palavras do presidente do Município de Vila Nova de Foz Côa, João Paulo Sousa, era evidente a satisfação com os objectivos atingidos. “Este é seguramente um dos melhores festivais de vinho do país”, disse, orgulhoso. E não deixou de vincar durante a cerimónia de inauguração, perante uma plateia recheada de convidados institucionais, que o Douro Superior reclama maior atenção por parte dos poderes públicos para poder desenvolver plenamente as suas imensas potencialidades. A qualidade dos vinhos do Douro Superior aí estão para o provar.
Concurso dos vinhos do Douro Superior
Três grandes vencedores entre mais de 178 referências. De todos os vinhos avaliados, três conquistaram o júri pela sua elegância, estrutura e autenticidade,
representando o que de melhor se faz no Douro Superior. No final, o colectivo elegeu como Melhores Vinhos do Douro Superior 2025:
Duas Quintas Reserva 2023 (Adriano Ramos Pinto Vinhos) – BRANCO
Avô Escrivão Grande Reserva 2021 (Vinilourenço) – TINTO
Barão de Vilar Colheita 1976 (Van Zeller Wine Collection SA) – PORTO
Além dos prémios principais, foram ainda atribuídas 18 medalhas de ouro (6 para brancos, 10 para tintos e 2 para vinhos do Porto) e 37 medalhas de prata, num leque abrangente de produtores e estilos que evidenciam a diversidade e inovação da região.
VINHOS BRANCOS
Medalhas de Ouro
Duorum Vinha dos Muros 2024
Duvalley Reserva 2023
Fonte Videira 2024
Soulmate Grande Reserva 2019
Vale da Veiga Reserva 2019
Vineadouro Vinhas Antigas 2021
Medalhas de Prata
Alto do Pocinho 2023
Arribas do Côa Rabigato Reserva 2023
Cadão Reserva 2024
Crasto Superior 2019
EspadaCinta Códega do Larinho Grande Reserva 2023
Pai Horácio Grande Reserva 2021
Vinha da Migalha by Palato do Côa 2017
Quinta das Mós Grande Reserva 2022
Soulmate Alvarinho Grande Reserva 2021
Terras do Grifo Grande Reserva 2019
Vale da Teja Reserva 2020
Vale Marianes Reserva 2020
VINHOS TINTOS
Medalhas de Ouro
Quinta da Leda 2021
Cortes do Reguengo Reserva 2020
Crasto Superior Syrah 2022
Duvalley Grande Reserva 2016
Moinhos do Côa Reserva 2020
Palato do Côa Grande Reserva 2017
Quinta de Ervamoira 2021
Quinta do Gravançal Grande Reserva 2021
Quinta do Monte Xisto 2022
Xisto 2019
Medalhas de Prata
40 Castas Reserva 2023
All Ways 2021
Arribas do Côa Reserva 2020
Cadão Grande Reserva 2018
Casa Agrícola Rebelo Afonso Reserva 2022
Duorum 2023
EspadaCinta Grande Reserva 2021
Fonte Videira 2021
Montes Ermos Garrafeira dos Sócios 2020
Quinta da Bulfata Reserva 2021
Quinta da Ribeira Teja Reserva 2022
Quinta das Mós Grande Reserva 2020
Quinta de Canivães 2020
Remisi’us Grande Reserva 2021
Segredos do Côa Grande Reserva 2019
Senhor Abel Reserva 2020
Sétimo Bago Grande Reserva 2018
Soulmate Touriga Franca Grande Reserva 2021
Vale da Veiga Reserva 2017
ZOM Garrafeira 2015
VINHOS DO PORTO
Medalhas de Ouro
Cortes do Reguengo Tawny 20 anos
Quinta de Ervamoira Vintage 2005
Medalhas de Prata
Barão de Vilar Vintage 2015
Burmester Tawny 20 Anos
Dona Antónia Tawny 10 Anos
Quinta da Silveira Tawny 20 anos
Quinta do Grifo Vintage 2015
Quinta da Boavista: Expressões de um terroir duriense

O local onde decorreu o evento não poderia ser mais aprazível, o 1638 Restaurant & Wine Bar By Nacho Manzano, o bar de vinhos e restaurante de cozinha de autor do novo hotel Tivoli Kopke, em Gaia, que abre oficialmente em Maio. A vista sobre o rio Douro e a zona velha do Porto, enquadrada […]
O local onde decorreu o evento não poderia ser mais aprazível, o 1638 Restaurant & Wine Bar By Nacho Manzano, o bar de vinhos e restaurante de cozinha de autor do novo hotel Tivoli Kopke, em Gaia, que abre oficialmente em Maio. A vista sobre o rio Douro e a zona velha do Porto, enquadrada pelas paredes dos antigos armazéns de vinhos do Porto agora transformados para albergar os quartos deste cinco estrelas, é imperdível, e acrescentou um pouco de sedução ao evento de apresentação das novas colheitas da Quinta da Boavista, da Sogevinus. Decorreu na companhia de uma refeição criada por Nacho Manzano, consultor gastronómico do hotel e chefe de cozinha asturiano que recebeu, no ano passado, a sua terceira estrela Michelin na Casa Marcial, o restaurante que fundou na casa da sua família em 1993.
Texturas, aromas e sabores
Durante o repasto, feito de pratos compostos por dois a quatro elementos cozinhados na perfeição, sentiu-se que tudo o que o que criou, e apresentou na mesa, foi certamente desenhado para a companhia dos vinhos da Quinta da Boavista servidos, pela forma como as suas texturas, aromas e sabores se foram equilibrando ao longo do repasto, o que nem sempre tem acontecido em apresentações similares onde vou.
Gostei sobretudo da aparente simplicidade e da qualidade dos ingredientes e temperos dos pratos, tudo muito bem conjugado para potenciar os seus aromas e sabores e a ligação aos vinhos. Evidência, em particular, para o Lagostim com beurre blanc e pinhões, a que o suco das cabeças acrescentou uma ligação praticamente perfeita com o Quinta da Boavista Vinho do Levante 2022, o branco lançado nesse dia. Também para o Polvo braseado com puré de abóbora e molho de amêijoas, na só pela textura e sabor do polvo, que estava inexcedível, mas também pela forma como o conjunto de um prato aparentemente simples, se harmonizou com o vinho selecionado, o Boavista Reserva 2021, um tinto com estrutura, fruta e um toque de madeira. A estes juntaram-se um monovarietal de Alicante Bouschet, um vinho cheio de personalidade acrescentado à linha de monovarietais desta casa, para além dos dois ícones, o Vinha do Oratório e o Vinha do Ujo, todos da colheita de 2021, ou seja, de um ano de verão seco. Segundo Ricardo Macedo, o enólogo dos vinhos Douro da casa, a vindima da primeira, uma vinha velha cujas castas principais, entre 56 variedades, são a Touriga Franca, a Tinta Pinheira e o Rufete, é feita patamar a patamar, o que implica que sejam “feitas 14 fermentações desta vinha, para se identificar os melhores vinhos que ela produz” em cada ano.
Plantada em patamares horizontais pré-filoxéricos, suportados por pequenos muros de xisto, a Vinha do Ujo fica entre os 180-210 metros de altitude, um pouco mais longe do rio que a do Oratório, e inclui 26 castas. A sua vindima é manual, e a fermentação das uvas decorre em barricas de madeira francesa de 500 e 600 litros. Após um período de maceração, o vinho resultante continua o seu estágio durante pelo menos 16 meses em barricas de 225 litros de carvalho francês antes de ser engarrafado.
Vinha muito velha
Jean-Claude Berrouet, um grande defensor da expressão dos terroirs e enólogo do Château Pétrus durante mais de 40 anos, é o consultor da Quinta da Boavista desde 2013, e está sempre presente nas principais decisões enológicas. A propriedade tem actualmente 80 hectares, dos quais 36 ha de vinha, uma parte significativa da qual de vinha velha dos períodos de antes e do pós-filoxera. Reconhecida desde a primeira demarcação da região vinícola do Douro, datada de 1756, a propriedade está também assinalada nas plantas de Joseph James Forrester, o Barão de Forrester, do século XIX. Depois da sua morte foi comprada pelo Barão de Viamonte, seu herdeiro. No século seguinte, esteve nas mãos de vários proprietários, até ser adquirida, em 2020, pelo Grupo Sogevinus.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2025)
Companhia Agrícola do Sanguinhal: Vinhos com história e terroir

A loja da Quinta das Cerejeiras, da Companhia Agrícola do Sanguinhal, fica nos antigos escritórios da empresa e proporciona, pela forma como está decorada, uma viagem para outro tempo, o da fundação da empresa, quando naquele local trabalhavam as suas primeiras pessoas. É o início de uma visita pela sua história, da família e de […]
A loja da Quinta das Cerejeiras, da Companhia Agrícola do Sanguinhal, fica nos antigos escritórios da empresa e proporciona, pela forma como está decorada, uma viagem para outro tempo, o da fundação da empresa, quando naquele local trabalhavam as suas primeiras pessoas. É o início de uma visita pela sua história, da família e de fazer o vinho, a um pequeno museu que nos leva a apetecer saber um pouco mais sobre esta casa.
Diogo Reis é o representante da 4ª geração da família à frente da Companhia Agrícola do Sanguinhal, fundada pelo seu bisavô, Abel Pereira da Fonseca, em 1928, para gerir três quintas no Bombarral, Quinta das Cerejeiras, Quinta do Sanguinhal e Quinta de S. Francisco. Todas estão integradas na DOC Óbidos e ficam a apenas alguns quilómetros umas das outras no concelho do Cadaval.
Abel Pereira da Fonseca tinha montado um negócio de distribuição de vinho e outros produtos no início do século 20, que fundou em 1906 com sede na zona de Marvila, em Lisboa. Criou depois as lojas Vale do Rio, para venda de vinho e, mais tarde, começou a comprar as propriedades, para assegurar a produção para abastecimento da empresa em Lisboa. Foi assim criada a Companhia Agrícola do Sanguinhal, que explora hoje 200 hectares de terra, dos quais 100 hectares de vinha. O resto é floresta, árvores de fruto e instalações.
Influência atlântica
Segundo Diogo Reis, a vinha da casa privilegia as castas autóctones da Região de Lisboa. “Com base nelas, o que tentamos exprimir, nos nossos vinhos, é o terroir da DOC Óbidos, que fica num anfiteatro bem exposto à influência Atlântica”, salienta o responsável.
Miguel Móteo, 59 anos, enólogo da Companhia Agrícola do Sanguinhal com responsabilidade também na viticultura há mais de 30 anos, conta, por seu turno, que o primeiro desafio que teve, quando chegou à empresa, foi identificar as castas de menor valor enológico das suas vinhas, com o objectivo de as reestruturar e modernizar. Foi o início de um processo que levou à reconversão de mais de 70 hectares de vinha das três quintas nos últimos 30 anos. Para além da empresa ter apostado em castas regionais e nacionais, como as brancas Arinto, Vital e Fernão Pires, foram plantadas algumas internacionais “que poderiam contribuir para a valorização dos nossos vinhos não só no mercado nacional, mas também no internacional”, explica o enólogo. É o caso da casta Chardonnay “que se adaptou muito bem aos solos e clima da região e propriedade”, para além do Sauvignon Blanc e de uma pequena parcela de Viognier.
Nas tintas foi dada a primazia a castas específicas para a região, “que valorizam os nossos vinhos”, como o Castelão, a Tinta Roriz e a Touriga Nacional. Além delas foram plantadas variedades francesas, “como a Syrah, que se adaptou muito bem ao nosso terroir e, segundo a minha opinião, a toda a região dos vinhos de Lisboa”, salienta Miguel Móteo. Quando começou a trabalhar, as castas brancas já originavam vinhos com bastante acidez, ou seja, “com as características específicas para o que se pretende num vinho branco”. Mas percebeu, na altura, que nem todas as tintas seriam as melhores para as exigências do mercado e as consequências das alterações climáticas. “Por isso foi necessário fazer uma aposta forte na reconversão da vinha”, conta.
Os solos das três quintas são bastante diferentes e houve necessidade de se escolher correctamente os porta-enxertos e, a partir daí, fazer um trabalho quase de precisão ao nível da viticultura, “tendo em conta a condução da vinha, o controlo de vigor e as operações em verde e em seco”. Foi essencial, acima de tudo, escolher, no início das plantações, as castas e os porta-enxertos melhor adaptadas para os solos e sistemas de drenagem, tendo em conta as características desejadas para os vinhos produzidos. Com esse objectivo, as castas brancas estão plantadas nas zonas mais frescas, de várzea, e as tintas em encostas. “As nossas produções são relativamente baixas em relação à média da região, porque procuramos potenciar a valorização da matéria-prima”, explica Miguel Móteo.
Cinco semanas de vindima
A reconversão não teve apenas, como objectivo, a mudança de castas, mas também a modernização e mecanização de uma vinha com uma área já significativa, alteração essencial numa altura em que os custos de produção tem crescido cada vez mais e a mão-de-obra é cada vez mais escassa. São factores que têm levado “a constantes adaptações nas vinhas, quer ao nível dos sistemas de condução, que nas operações em verde e seco”, revela o enólogo. Diz, também, que a Região de Lisboa tem tudo para crescer e que tem sido surpreendente ver a evolução da qualidade da matéria-prima, essencialmente nos tintos.
Como as quintas da Companhia Agrícola do Sanguinhal distam a cerca de 10 km umas das outras, a produção foi centralizada na adega da Quinta de S. Francisco. As castas da empresa estão plantadas nas três, que têm características de solos diferentes, o que origina comportamentos diferentes das plantas, incluindo períodos de maturação diversos.
Segundo Miguel Móteo, as vindimas começam habitualmente na Quinta do Sanguinhal e na Quinta das Cerejeiras, e pelas castas mais precoces, como o Chardonnay, o Sauvignon Blanc e o Fernão Pires. “Nos primeiros anos vindimávamos a partir de meados de setembro e, agora, a partir de meio de agosto, também para conseguirmos apanhar as uvas com mais frescura e menor teor de açúcar”, conta, acrescentando que a principal dificuldade da vindima, que decorre durante cinco semanas, é conjugar os trabalhos em propriedades diferentes no mesmo dia, principalmente quando a colheita é feita à mão, o que acontece sobretudo para as castas brancas mais nobres.
Depois de os procedimentos feitos na adega para todas as uvas da empresa, que são colhidas casta a casta em cada quinta, é feita uma análise rigorosa a todas as 40 a 50 referências resultantes do processo para se poder definir, em função das suas características físico-químicas e organolépticas, “quais são os vinhos que vão para barrica, para as gamas quinta, Regional Lisboa no segmento médio e médio mais, num trabalho de precisão para cada perfil definido”, conta Miguel Móteo.
A Companhia Agrícola do Sanguinhal explora hoje 200 hectares de terra, dos quais 100 hectares de vinha
Referências centenárias
Mais de 30% do vinhos produzidos pela empresa são vendidos para exportação, tanto para o canal ontrade como no offtrade, tanto com marcas diferenciados como com coincidentes. “A nossa preocupação é mantermos uma presença nacional e regional forte, com as marcas que também exportamos”, explica Diogo Reis, acrescentando que “é esse equilíbrio que nos permite ter o reconhecimento do mercado, após muitos anos a trabalhar o sector, com marcas e rótulos históricos”, numa casa que tem algumas referências centenárias. “É algo que também nos diferencia, até porque há, no país, poucos casos em que isso acontece”.
Segundo Diogo Reis, essa manutenção, ao longo de tantos anos, tem sido um caminho desafiante, com alguns choques entre gerações, como acontece por vezes nas famílias e nas empresas, “mas, aquilo que sentimos, é que é pelo classicismo que temos tido os nossos resultados”, afirma. Defende, também, que a sua empresa não precisa de se empenhar agora no aumento das produções em volume, mas sim na valorização daquilo que já tem. “Essa é a estratégia que temos vindo a seguir, e com excelentes resultados, porque temos muitos vinhos com indicação de data de colheita recorrentemente em ruptura, o que acontece um bocado em contraciclo com o que se está a passar no sector a nível nacional e mundial.” Diz também que é uma aposta na fidelização, que já está a acontecer e tem proporcionado a conquista de mais clientes. “Se estivermos sempre a mudar a imagem, mais dificilmente as marcas serão reconhecidas. Não é isso que nos interessa”, explica.
A qualidade e o perfil dos vinhos são mantidos com o trabalho do Miguel Móteo. “É essencial, para nós, que o perfil de cada um dos nossos vinhos se mantenha, mesmo que as suas características variem com os anos de colheita, com excepção dos licorosos, dos quais fazemos blends de média de anos, como um 20 anos, por exemplo”, salienta Diogo Reis, acrescentando que de vez em quando surge uma inovação, como um novo colheita tardia, que deverá surgir para breve.
Para além dos vinhos da Quinta das Cerejeiras, do Sanguinhal e de S. Francisco, que são colocados todos com data de colheita, de licorosos e de aguardentes, a empresa produz e comercializa a marca Casa Abel, trabalhada sobretudo para o canal ontrade, a Sotal, um branco leve da Quinta do Sanguinhal, cujo Moscatel Graúdo é de vinhas com quatro décadas da Quinta do Sanguinhal, apesar de ter Arinto das outras quintas.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2025)