Granvinhos adquire Quinta de S. Salvador da Torre nos Vinhos Verdes

Granvinhos Vinhos Verdes

A Granvinhos anunciou a ampliação da sua presença noutras regiões vitivinícolas do país, com a aquisição de uma propriedade de 37 hectares na região dos Vinhos Verdes, a Quinta de S. Salvador da Torre. Este investimento foi, segundo a empresa, resultado de meses de negociações com o Grupo Soja de Portugal, ao qual a Granvinhos […]

A Granvinhos anunciou a ampliação da sua presença noutras regiões vitivinícolas do país, com a aquisição de uma propriedade de 37 hectares na região dos Vinhos Verdes, a Quinta de S. Salvador da Torre. Este investimento foi, segundo a empresa, resultado de meses de negociações com o Grupo Soja de Portugal, ao qual a Granvinhos comprou a Agromar S.A., que detém a Quinta de S. Salvador da Torre, no Vale do Lima, concelho de Viana do Castelo.

A Quinta de S. Salvador da Torre, também conhecida como Quinta de Santo Isidoro, localiza-se na margem direita do rio Lima e tem mais de 400 anos de existência. “Uma propriedade agrícola impressionante, com uma casa senhorial datada de 1685”, revela a Granvinhos. Com 30 hectares de vinha, das castas Loureiro e Alvarinho, a quinta beneficia, segundo a Granvinhos, da brisa marítima característica do Vale do Lima, apresentando condições edafo-climáticas excepcionais.

Granvinhos Vinhos Verdes

A Granvinhos manterá o modelo de exploração desta propriedade dos Vinhos Verdes, em parceria com o enólogo Anselmo Mendes, que já era adoptado pela Agromar. Concretiza-se, assim, o primeiro projecto conjunto entre o enólogo e o director-geral da Granvinhos, Jorge Dias, alavancado por uma amizade de mais de 30 anos. Juntos pretendem explorar o potencial da casta Loureiro e a localização privilegiada da quinta, trabalhar na requalificação patrimonial da propriedade e, previsivelmente em 2024, lançar um novo vinho Loureiro.

“Acredito no futuro do Vinho Verde, em particular das castas Alvarinho e Loureiro, produtos bem-adaptados aos novos tempos e hábitos de consumo. No entanto, é necessário valorizar a ligação desses vinhos às respectivas zonas de produção, bem como à dieta atlântica, na qual Portugal tem uma oferta única”, afirma Jorge Dias.

Quinta d’Amares Alvarinho é o grande vencedor dos “Melhores Verdes 2023”

Melhores Verdes

O concurso “Os Melhores Verdes 2023”, organizado pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), voltou à Alfândega do Porto para entregar os seus prémios, desta vez a 88 vinhos, em 14 categorias diferentes. O Quinta d’Amares Alvarinho branco 2022 foi o grande vencedor desta edição, com Grande Medalha de Ouro. Segundo a […]

O concurso “Os Melhores Verdes 2023”, organizado pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), voltou à Alfândega do Porto para entregar os seus prémios, desta vez a 88 vinhos, em 14 categorias diferentes. O Quinta d’Amares Alvarinho branco 2022 foi o grande vencedor desta edição, com Grande Medalha de Ouro.

Segundo a CVRVV, houve um aumento de 35% nas inscrições face ao ano anterior, totalizando 294 amostras provadas por um júri especializado, composto por profissionais de vária áreas do sector. Destaca-se, ainda, “a tendência crescente de inscrições de colheitas antigas e um acréscimo na categoria Alvarinho”, revela a CVRVV.

“Os vinhos com estágio têm cada vez mais expressão, em resultado da valorização crescente em que trabalhamos, confirmando perfis de vinhos que evoluem com o tempo e que se revelam com um enorme potencial de oferta e de procura. Ao mesmo tempo, é muito gratificante registarmos um recorde de participações que legitima, ano após ano, a importância deste concurso para a região dos Vinhos Verdes, que trabalha conjuntamente para afirmar a qualidade”, destaca Dora Simões, Presidente da CVRVV.

O júri destacou 15 vinhos com medalha de Ouro e 17 de Prata, com 55 referências a receber medalha de Honra. Os premiados foram agrupados nas categorias Vinhos Verdes Brancos, Rosados, Tintos, de Casta, Vinho Verde Branco com estágio, Vinho Verde Alvarinho com estágio, Vinho Verde de Varietal com estágio, Vinho Regional Minho com estágio, Vinhos Verdes Alvarinho, Vinhos Verdes Avesso, Vinhos Vedes Arinto, Vinhos Verdes Loureiro, Espumantes de Vinho Verde e Aguardentes de Vinho Verde.

“Os Melhores Verdes 2023” | Grande Medalha de Ouro:

“Os Melhores Verdes 2023” | Categoria Ouro:

“Os Melhores Verdes 2023” | Categoria Prata:

The Macallan: As novidades chegam de Spey

The Macallan

Falar de The Macallan é entrar num mundo à parte no que toca a whisky escocês. A marca foi criada em 1824 e a destilaria localiza-se em Spey, uma das seis zonas “demarcadas” do whisky escocês. Localiza-se no nordeste da Escócia, a zona que concentra um maior número de destilarias. Actualmente, ainda existem mais de […]

Falar de The Macallan é entrar num mundo à parte no que toca a whisky escocês. A marca foi criada em 1824 e a destilaria localiza-se em Spey, uma das seis zonas “demarcadas” do whisky escocês. Localiza-se no nordeste da Escócia, a zona que concentra um maior número de destilarias. Actualmente, ainda existem mais de 120 destilarias, desde as mais pequenas e familiares até gigantes como Glenfiddich e The Glenlivet, provavelmente as duas únicas empresas que estarão à frente da The Macallan (que estará a caminho do 15 milhões de litros/ano) em termos do whisky produzido. O nome “The Macallan” está há muitos anos associado quer a produtos de larga divulgação, como os 12 (entre 70 e 90 euros), 15, 18 e 30 anos, até produções limitadas e datadas que fazem enlouquecer os coleccionadores e tornam os preços verdadeiramente estratosféricos, com garrafas a custar mais de 20 mil euros, à venda em várias garrafeiras de Londres. The Macallan inaugurou em 2018 uma nova destilaria, verdadeira obra de arte, de dimensão gigante e que contempla também uma enorme área de enoturismo, num investimento de perto de 155 milhões de euros.

Os apreciadores de single malt gostam também da forma como é envelhecido, em double cask, com a segunda passagem a ser feita em cascos, ora de Jerez, de Porto ou, mais recentemente, de cascos adquiridos em regiões como Sauternes ou Borgonha. Existe um acordo de cavalheiros para que não seja indicado a origem específica do casco, apenas a região. Este apuramento final dá ao whisky o seu toque particular que vai depois distinguir este de um outro, de outra destilaria, e com outro acabamento. Crê-se que o tipo de vinho que o casco teve (Porto, por exemplo) é mais determinante para o aroma final do que a origem da madeira propriamente dita.

A Empor (distribuidora em Portugal) promoveu a apresentação do The Macallan Harmony Collection. Depois de em 2021 ter apresentado o Rich Cacao, a The Macallan trouxe agora o Intense Arabica, um whisky pensado para ser consumido com café. Para se chegar ao produto final, equilibrado nas notas de whisky e café, estiveram envolvidos produtores, torrefactores, distribuidores, baristas e vendedores. Por curiosidade, é sugerido que se trinquem grãos de café (um a um) e se acompanhe com o whisky. Uma outra ligação clássica é o The Macallan Sherry Oak 12 anos com Roquefort. Uma tentação.

(Artigo publicado na edição de Março de 2023)

Symington avança com engarrafamento de Porto Vintage 2021

Symington Porto Vintage 2021

A Symington Family Estates anunciou que vai lançar seis Porto Vintage 2021, com destaque para o Graham’s The Stone Terraces, um vinho com origem na Quinta dos Malvedos e de quantidades muito limitadas, proveniente de duas parcelas com menos de três hectares e de baixas produções. Segundo a família Symington, “este Porto Vintage é apenas […]

A Symington Family Estates anunciou que vai lançar seis Porto Vintage 2021, com destaque para o Graham’s The Stone Terraces, um vinho com origem na Quinta dos Malvedos e de quantidades muito limitadas, proveniente de duas parcelas com menos de três hectares e de baixas produções. Segundo a família Symington, “este Porto Vintage é apenas produzido nos anos em que as vinhas proporcionam vinhos de elegância e complexidade incomparáveis”, sendo apenas a quinta vez que a empresa produz Graham’s The Stone Terraces.

Para comercialização, serão engarrafadas 4800 unidades de 750ml e 280 garrafas “tappit Hen” (2250ml), o que corresponde a apenas 2% da produção total da Quinta dos Malvedos em 2021. O Graham’s The Stone Terraces Vintage 2021 será, ainda, lançado “‘en primeur’, durante a Primavera deste ano”, avança a Symington Family Estates.

Symington Porto Vintage 2021
A Parcela dos Cardanhos, na Quinta dos Malvedos, Douro.

Charles Symington, director de produção, comenta a importância deste vinho para a empresa: “Há muito que a minha família valoriza os muros de pedra, construídos à mão, da Quinta dos Malvedos, por produzirem vinhos com um perfil incrível e único, que se distinguem claramente dos restantes vinhos ali produzidos. Após o abandono que se seguiu à Filoxera, estes socalcos foram meticulosamente reconstruídos à mão em finais do século XIX, pensados para produzir vinhos do Porto de excepcional concentração e poder, com recurso a técnicas de viticultura seculares”.

Adicionalmente, a Symington Family Estates decidiu engarrafar 5 Porto Vintage “single quinta” de 2021: Cockburn’s Quinta dos Canais, Dow’s Quinta do Bomfim, Dow’s Quinta da Senhora da Ribeira, Graham’s Quinta dos Malvedos e Warre’s Quinta da Cavadinha. Para já, será lançada “en primeur” uma pequena quantidade de Dow’s Quinta do Bomfim Porto Vintage 2021. Os restantes, de acordo com a Symington, ficarão a envelhecer “nas garrafeiras da família para lançamento futuro”.

Quinta dos Termos: “O vinho e o campo sempre me aqueceram o coração”

Quinta dos Termos Beira Interior

João Carvalho nasceu na Quinta dos Termos, em Belmonte, e aí cresceu. Mas foi bem antes disso, quando da divisão administrativa do país, que a propriedade recebeu este nome, por se encontrar precisamente na divisão entre (nos termos de) dois distritos — Guarda e Castelo Branco — dois concelhos e três freguesias. Todo o vale […]

João Carvalho nasceu na Quinta dos Termos, em Belmonte, e aí cresceu. Mas foi bem antes disso, quando da divisão administrativa do país, que a propriedade recebeu este nome, por se encontrar precisamente na divisão entre (nos termos de) dois distritos — Guarda e Castelo Branco — dois concelhos e três freguesias. Todo o vale onde está inserida a quinta, com cerca de 200 hectares, pertenceu sempre à família de João Carvalho. No entanto, em 1910, a Quinta dos Termos foi vendida a um espanhol, tendo regressado ao seio familiar apenas em 1945, quando Alexandre Carvalho, pai de João, a comprou, mudando-se para lá.

Na década de cinquenta, Alexandre Carvalho reestruturou grande parte da área vitícola, preservando algumas parcelas de vinhas velhas. Na altura, toda a produção era vinificada e vendida nas tabernas da região. “Quem nasce e vive numa quinta, começa a trabalhar quase desde o nascimento”, confessa-nos João Carvalho. “Por isso, quando fui para a universidade, disse, ingenuamente, ‘adeus quinta, nunca mais cá me apanhas’.”. Engenharia Têxtil foi o curso que escolheu, e começou a trabalhar ainda durante o mesmo. Quando terminou, iniciou a carreira como director técnico e director geral de algumas empresas têxteis. Entretanto, com o falecimento do seu pai, foi feita a partilha familiar, e o empresário acabou por ficar com a Quinta dos Termos. “Lá tive de dizer, em 1993, ‘bom dia quinta, cá estou eu outra vez!’, brinca João Carvalho. “Mas na verdade, o vinho e o campo sempre me aqueceram o coração…”. Coincidentemente, fundou a sua actual empresa têxtil, a Fitecom, no mesmo ano. “Passei a ter três trabalhos: o agrícola, o industrial, e o de docente no ensino superior, na área do Design Têxtil”, revela.

Quinta dos Termos Beira Interior

O início do projecto de vinhos

Quando João Carvalho pegou na quinta, as vinhas estavam em muito mau estado. Recuperou logo cerca de 6 hectares, dos 16 que já havia e que tinham sido plantados em 1931. O resto reconverteu totalmente a partir de 1996. Acompanhado pela sua esposa, Lurdes Carvalho, estudou e recuperou muitas das castas históricas da Beira Interior, naturalmente adaptadas aos solos graníticos pobres e ao clima agreste da região. Desde o início do projecto esteve, também, o enólogo Virgílio Loureiro, ainda hoje consultor técnico da Quinta dos Termos, orientador da enóloga residente Ángela Marín. Assim, a primeira casta que seleccionaram para recuperação, identificada nas vinhas velhas, foi a branca Fonte Cal. João Carvalho lembra: “Andávamos a provar as uvas das vinhas velhas, e havia uma casta muito diferente, com uma particularidade tostada… era a Fonte Cal”. Desta forma, foi plantada separadamente em 1997, tendo sido vinificada como monovarietal pela primeira vez em 2003. Era o início da definição do conceito da casa, declarado pelo produtor como “produção sustentável, com foco nas castas tradicionais”.

Nos anos seguintes, a Quinta dos Termos entregou as suas uvas à Cooperativa da Covilhã, mas em 2000 a equipa decidiu começar a fazer vinho com marca própria. O primeiro que lançou foi de 2001, um Quinta dos Termos Reserva tinto que, como se “saiu muito bem nas publicações da especialidade, na altura”, conta o produtor, foi o primeiro indicador (engarrafado) do potencial do projecto. “A partir de 2003, foi uma bola de neve, arrancámos em velocidade de cruzeiro. Fomos comprando direitos de plantação, e atingimos os mais de 60 hectares de vinha que a quinta tem. Decidir o que plantar foi, no entanto, um desafio…”.

Em solos graníticos, a uma altitude de cerca de 500 metros, a Quinta dos Termos alberga hoje as castas tintas Touriga Nacional, Trincadeira, Rufete, Jaen, Tinta Roriz, Marufo, Tinto Cão, Alfrocheiro, Baga, Syrah, Petit Verdot e Sangiovese; e as brancas Fonte Cal, Síria, Arinto, Verdelho e Riesling. “Regamos por aspersão, quando está mais calor, porque o clima aqui é muito seco e para homogeneizar a rega, numa tentativa de não desvirtuar o terroir”, explica João Carvalho. A adega — de momento a sofrer intervenções, sobretudo de expansão — tem certificação de Produção Integrada, e combina a modernização tecnológica com técnicas tradicionais de vinificação. As uvas utilizadas são, na maior parte, de produção própria, com recurso adicional a parcerias estreitas com pequenos viticultores. Na Quinta dos Termos, e nas outras propriedades da empresa, a vindima é manual e feita casta a casta (com excepção das vinhas velhas). A vinificação é também ela individual, “recorrendo a uma forma de enologia pouco interventiva, para que que se exprima o sentido de lugar e o carácter varietal”, indica o produtor.

A expansão

Em 2012 e 2013, com direitos de plantação que ainda não tinha utilizado, a família foi à procura de outra propriedade na Beira Interior, acabando por adquirir os 150 hectares da Herdade do Lousial, na Lousa, em 2015, após estudar a zona ao nível do solo e clima, e dessa propriedade se mostrar ideal. Aqui estão, agora, 32 hectares de vinha em produção, plantados em 2016 e 2017, após terem sido arrancados os que já lá estavam — com planos para plantação de mais 20 — em solos graníticos, com pouca matéria orgânica, e arenosos, mais profundos do que os de Belmonte, embora semelhantes. Nesta herdade existe, também, aquela que é, segundo João Carvalho, a primeira vinha de clones seleccionados de Fonte Cal. São mais de vinte, vindos da Quinta dos Termos, do campo de recuperação da casta que tem 212 clones. Hoje, este modelo já foi replicado na casa, e adaptado para a tinta Rufete e a branca Callum. Será a vindima de 2023 a originar o Fonte Cal de estreia da Herdade do Lousial, cuja marca com o mesmo nome já existe, a par dos entrada de gama Alto da Lousa. Adicionalmente, crescem neste lugar entre Lardosa e Penamacor, na transição das montanhas para a planície, tintas Touriga Nacional, Tinta Roriz, Syrah, Sangiovese e Nebbiolo; e as brancas Síria, Arinto, Riesling, entre outras. Os primeiros vinhos, por sua vez, foram da colheita de 2019.

Quinta dos Termos Beira Interior
Mas a vontade de expansão não se ficou pela região original, sobretudo depois da entrada de Pedro Carvalho na empresa, filho mais novo de João e Lurdes. Pedro decidiu, em 2016, abandonar a carreira que tinha e mergulhar no negócio de vinho da família. “Licenciei-me em Economia, com mestrado em Gestão, e apesar do negócio principal da família ser o têxtil, eu sempre naveguei mais para os vinhos. Quando vivia em Lisboa ia, inclusive, servir vinhos nos cursos dados pelo Prof. Virgílio Loureiro, e assistir a apresentações de outros produtores… gostava realmente deste mundo e de tudo o que ele envolvia, que a meu ver são três áreas diferentes: ciência, história e, de certa forma, arte”, confessa Pedro, que acabou por concluir a pós-graduação em Wine Business, e receber, pela sua prestação, um prémio da ViniPortugal. “Acabada a pós-graduação, quis ir trabalhar para os Termos, mas o meu pai queria que eu fosse para outra empresa antes disso, durante pelo menos 3 anos, e eu fui. Trabalhei na área de gestão e finanças em Lisboa, mas passado 36 meses despedi-me e vim para a quinta”, conta o jovem. João Carvalho não esconde o seu ponto de vista: “Fiz tudo o que estava ao meu alcance para ele não vir. Ambos os meus filhos, o Pedro e o Miguel, trabalham hoje comigo, mas apenas por vontade deles. Tiveram de me convencer. Sinceramente, nunca acreditei em empresas familiares. Tanto no têxtil como no vinho, sempre achei que ia criar uma administração extra-familiar. Acabei por ter de ceder!”. Pedro Carvalho, agora responsável de Marketing e Estratégia da Quinta dos Termos, agitou as águas na empresa. “Uma das minhas prioridades foi trazer boas rotinas e mais organização, o que levou até a algumas saídas de pessoal. Diziam que não estavam para aquilo. A equipa acabou por rejuvenescer, com profissionais qualificados. Criei, no início, um plano de integração: quem entrava na empresa, tinha um calendário para passar por todas as áreas, pelo menos uma hora em cada sector, para ganhar sensibilidade geral do negócio. E só as novas rotinas trouxeram excelentes resultados comerciais. Facilitaram, também, o trabalho das pessoas, mantendo a quantidade de horas laborais. Passámos a apostar na formação externa, além da interna que já existia, e impulsionámos a componente do enoturismo”, avança. E acabou por convencer o pai noutras coisas, como a investir no Douro Superior em 2019, concretamente nos 32 hectares da Quinta do Pocinho. Esta propriedade, na aldeia homónima, já tinha vinha, mas a família plantou mais, chegando a 22 hectares de vinhedos — em patamares e ao alto, entre os 200 e os 350 metros de altitude — com predominância das variedades tintas Touriga Francesa, Touriga Nacional, Tinto Cão e Tinta Roriz; e das brancas Rabigato e Viosinho; havendo ainda algumas vinhas velhas com mistura de dezenas de outras castas. Na senda de um projecto de enoturismo ambicioso, a equipa está aqui a construir um edifício multifacetado e luxuoso, com arquitectura de autor, junto à adega original. O ex-libris será uma sala de provas e eventos com uma generosa varanda e vista privilegiada para o rio. João Carvalho descortina: “Acreditamos que, dentro de dois ou três anos, o que estamos a construir na Quinta do Pocinho será capaz de seduzir os corações mais gélidos…”.

(Artigo publicado na edição de Março de 2023)

Tintos de 2013: 10 anos depois

tintos 2013

Começo o texto com uma declaração (pessoal) de interesse: adoro os vinhos de 2013, brancos e tintos, de todo o país. Em ano de Inverno frio, e Primavera muito chuvosa ― já lá iremos ver melhor o ano climatérico ―, produziram-se alguns dos nossos vinhos favoritos, sobretudo nas regiões mais quentes. Posso dizê-lo, com a […]

Começo o texto com uma declaração (pessoal) de interesse: adoro os vinhos de 2013, brancos e tintos, de todo o país. Em ano de Inverno frio, e Primavera muito chuvosa ― já lá iremos ver melhor o ano climatérico ―, produziram-se alguns dos nossos vinhos favoritos, sobretudo nas regiões mais quentes. Posso dizê-lo, com a segurança de quem tem sido afortunado em estar presente em várias verticais de topos de gama, que a colheita de 2013 nunca desilude, apresentando-se tão jovem quanto fresca. Foi assim, por exemplo, com as verticais recentes dos tintos ícones Pêra Manca, Legado, Abandonado e Procura (estes dois últimos em prova no neste painel), nos quais a colheita de 2013 foi, precisamente, uma das minhas favoritas, senão mesmo a mais-querida. Mesmo considerando as várias excelentes colheitas que tivemos ao longo da segunda década do novo milénio, a de 2013 — sobretudo num vector de frescura e longevidade — está no meu top 3. Certo que 2011 poderá ficar na história pela concentração, 2012 e 2017 pelo aprumo e exuberância, e 2015 pela generosidade de aromas. Mas 2013…, um pouco à semelhança de 2016 (este, todavia, um ano bem mais quente no geral), apresenta uma estrutura tânica única por ser vigorosa e fresca, mas sem qualquer agressividade. E, em rigor, foi um pouco assim em todo o país, ou seja, foi também uma colheita homogénea, de boa qualidade (se bem que, ao tempo, não considerada excelente pelos produtores) por todo o território. Basta atender aos vinhos provados neste painel para compreender que, em todas as regiões, o registo de longevidade é por demais evidente. Não temos dúvidas que essa característica resulta de uma viticultura e enologia cada vez mais profissionais e cuidadas, mas ― e com base em centenas de provas de vinhos de diferentes colheitas ― também não temos que parte importante resulta das próprias tipicidades do ano em causa.

Chuva na Primavera e maturação tardia

E como foi, então, o 2013 climatérico, sempre com a produção de uva e de vinho em mente? Comecemos pelo básico e mais generalizado: terminada a vindima de 2012, chegou a chuva, e logo de forma intensa, que se manteve por muito tempo. De tal forma assim foi que, em apenas 3 meses, choveu mais de metade do total da chuva caída durante todo o ano. Depois, surgiu um Inverno bastante frio (mais frio que a média noutros anos), e em meados de Março a chuva forte voltou um pouco por todo o país, tendo sido registadas cheias do norte ao sul durante parte da Primavera. A chuva foi tanta que chegou mesmo a condicionar a realização dos trabalhos na vinha, que tiveram de ser adiados. Em muitos locais do país, o mês de Março de 2013 foi mesmo o segundo mais chuvoso dos últimos 50 anos… A análise comparativa revela que, durante o Inverno e mesmo na Primavera de 2013, os valores médios da temperatura foram inferiores aos dos anos anteriores. Apesar dos estragos da imensa chuva (no Douro, por exemplo, vários patamares foram afectados e houve registos de deslizamentos de terra), a água foi quase sempre vista como uma bênção, após 2 anos (2011 e 2012) com menos 40% da média anual de precipitação. Mais a mais considerando que parte das videiras em território nacional não é irrigada, dependendo, por isso, da chuva e das reservas no solo. Talvez por isso, e apesar da instabilidade provocada no ciclo das videiras, o abrolhamento decorreu na época normal e o vingamento não foi afectado. Até junho, o clima continuou frio e chuvoso, não espantando, por isso, que os relatórios de vindima por todo o país coincidam no atraso significativo do ciclo vegetativo, entre uma a duas semanas, com o pintor a surgir algo tardio. Com a entrada do Verão tudo mudou, radicalmente, com um período quente e seco (um dos verões mais quentes desde 1931). Entre Junho e Agosto, os registos de chuva nas regiões mais secas foi de cerca de 4,5mm, o que, na prática, significa que, em 12 semanas, não houve praticamente água alguma. Em várias regiões, contudo, as altas temperaturas de dia (houve mesmo uma onda de calor no início de Julho) foram compensadas com noites surpreendentemente frescas, contribuindo para um clima mais continental do que propriamente mediterrânico. A maturação manteve-se tardia, sendo que o Verão quente não causou prejuízos significativos dado o equilíbrio vegetativo e hídrico alcançado com as chuvas de Inverno, o que significou um ano com boas produções. Alguns enólogos confirmaram-nos que as baixas temperaturas primaveris e o súbito calor no Verão causaram alguma variação na maturação das diferentes parcelas, enquanto outros destacaram o tamanho dos bagos que, em 2013, foi genericamente pequeno, tendo isso um impacto na concentração dos vinhos. O ano agrícola, mais uma vez no que a vinhos diz respeito, não terminaria sem um Setembro e um Outubro com bastante precipitação o que, porém, não se revelou nefasto na medida em que, por um lado, a chuva só chegou quando a melhor uva já estava na adega e, por outro lado, alguma dessa chuva até ajudou na dificuldade de maturação de algumas castas e parcelas.

tintos 2013

 

Elegância e equilíbrio

Uma década volvida da colheita, falámos com produtores e enólogos de todo o país e a reacção generalizada não foi muito diversa. Francisco Ferreira (Vallado) e Jorge Moreira (Poeira), ambos centrados na região do Douro, destacam o perfil fresco dos vinhos que os tornam muito agradáveis de beber (muito bons tintos e excelentes brancos), não deixando de referir que faltou, num ou outro vinho, um pouco mais maturação que contribuísse com profundidade. Jorge Moreira, ainda sobre este aspecto, realça que os vinhos têm evoluído muito bem, e que só por falta dessa maior maturação é que não têm ainda mais personalidade. Mário Sergio Nuno (Quinta das Bágeiras) destaca também o ano frio na Bairrada, onde não se sentiu qualquer tipo de escaldão no Verão, o que contribuiu com vinhos mais finos e menos estruturados (comparados com 2011 e 2012 ou até 2015), com taninos em todo o caso sérios e austeros que garantem longevidade. Ao sul, no Alentejo, Pedro Baptista (Fundação Eugénio de Almeida) só tem boas palavras para a colheita, elogiando-a ao ponto de a equiparar à mítica de 2011, salientando que as temperaturas foram “doces durante o ano” garantindo, genericamente, maturações lentas e equilibradas. Para o enólogo e administrador, 2013 é responsável por alguns dos vinhos alentejanos mais elegantes e equilibrados dos últimos anos. Também Susana Esteban lembra com candura a colheita de 2013, mais a mais por ter sido a primeira no seu projecto pessoal, destacando a fantástica longevidade dos brancos e a elegância e frescura dos tintos.
Quanto à prova verdadeiramente dita, a primeira nota positiva vai, como já referimos atrás, para a prestação dos vinhos ao nível da sua juventude. 2/3 dos tintos provados aguentarão, estamos certos, outros 10 anos ao mesmo nível (ou até melhorarão), e muitos desses seguramente muito mais anos. A cor retinta e o tom brilhante no copo, os aromas jovens e por vezes até reservados, e uma prova de boca com estrutura ácida e tânica, foram características transversais a uma parte maior dos vinhos provados. Falando ainda de transversalidade, realçamos o facto de todas as regiões em prova apresentarem vinhos de altíssima qualidade. Pela análise climática acima descrita, pode-se dizer que foi um ano que favoreceu as regiões mais quentes, com Douro e Alentejo à cabeça (com vários vinhos entre os mais pontuados), mas entre os que deram melhor prova constam também vinhos da Bairrada (com destaque para Outrora e Kompassus) e do Dão (belíssimos os Quinta da Pellada e Quinta da Vegia). No estilo e mecânica de prova, é impossível não realçar os alentejanos Mouchão, Procura e Esporão Private Selection como alguns dos mais gastronómicos, da mesma forma que os durienses Pintas, Poeira e Carvalhas se elevaram pela juventude e perfil compacto, prontos para mais duas décadas de vida em garrada. Destaque ainda para os bairradinos Outrora e Kompassus Private Selection (magníficos exemplares da casta Baga) e para o perfil leve e perfumado do Quinta da Pelada Casa e do Robustus. Não falta, portanto, por onde escolher!

(As notas de prova foram realizadas pelo painel de provadores da Grandes Escolhas)

19 B
Mouchão
Alentejo tinto 2013
Vinhos da Cavaca Dourada
Aroma fantástico, todo com fruto encarnado, morango, ameixa meio madura, especiaria branca, azeitona e levíssima nota de couro. Rugoso e concentrado em boca, sem peso, todavia e retendo óptima acidez. Final com ligeiras notas licoradas, sentindo-se ainda tanino. Super gastronómico! (14%)

19 B
Outrora
Bairrada Clássico Baga tinto 2013
V Puro
Vinhas velhas entre 80 a 120 anos. 24 meses em barrica, metade novas. Aroma apaixonante, com o melhor da casta, fruto encarnado limpo e definido, bagas esmagadas, tijolo, ervas frescas. Muito bem na boca, novamente limpo e focado, ameixa e cereja madura, final longo, com travo a café e minerais quebrados. Belíssimo! (13%)

19 C
Pintas
Douro tinto 2013
Wine & Soul
Muito jovem, desde logo na cor e no aroma que começa fechado. Abre com nota a tinta-da-china, denotando profundidade, logo surge bergamota e fruto azul, barrica no ponto. Mantém o nível em boca, cremoso e saboroso, acidez impecável, nota a ginga fresca, mirtilo, noz-moscada e chocolate negro. Imperdível! (14,5%)

19 C
Poeira
Douro tinto 2013
Jorge Nobre Moreira
Aroma clássico da marca, com muito fruto azul, urze, mato, minerais quebrados e barrica discreta. Prova de boca macia e plena de sabor, acidez fantástica, mantem-se jovem, mas com uma finura desafiante, revelando magnifica construção e desenho de taninos. (14%)

18,5 B
Carvalhas
Douro
Real Companhia Velha
18 meses em barrica, metade nova. Aroma impressionante, multi-dimensionado, com fruto silvestre, esteva, notas a barrica, leve floral, balsâmico, e ainda alcaçuz. Prova de boca em linha, com tanino poderoso, mas sem perder cremosidade, impressiona com notas a mirtilo e cacau fresco e algum chão de bosque. (14%)

18,5 B
Esporão Private Selection
Alentejo Garrafeira tinto 2013
Esporão
Alicante Bouschet, Aragonez e Syrah de diferentes vinhas. Parte estagia com barrica nova e parte usada, de diferentes dimensões. Óptima cor, ainda com juventude. Aroma com muito fruto negro, ainda profundo, ameixa, couro e chocolate. Fresco, mas aveludado em boca, muito sabor, complexo e intrigante, um tinto muito sedutor. (14,5%)

18,5 C
Kompassus Private Collection
Bairrada Baga tinto 2013
Kompassus Vinhos
18 meses barrica. Aroma com bagas encarnadas, ervas frescas, barrica a comandar com sensações a madeira avinhada, tudo denotando força e intensidade, mas sem perder equilíbrio. Prova de boca jovem, tanino bem presente, mantem o registo de potência, com sabor que se mastiga, e final potenciado pelas notas especiadas a barrica e cacau. (14,5%)

18,5 B
Procura
Reg. Alentejano tinto 2013
Susana Esteban
Alicante Bouschet, mais vinha velha. 16 meses barrica. Fantástico bouquet, com fruto encarnado delicado (framboesa), ervas frescas, tudo muito limpo e puro, denotando juventude e aprumo. Prova de boca em linha, com tanino vivo, óptima frescura, alguma leveza no perfil e nota balsâmica. Um tinto de filigrana, solto e a melhorar ainda nos próximos anos. (14,5%)

18,5 B
Quinta da Pellada Casa
Dão tinto 2013
Quinta da Pellada
Aroma habitual no produtor, com notas bonitas e perfumadas a fruto encarnado fresco, bergamota, laranja, anis, floral também. Prova de boca muito elegante, ainda jovem e retendo bela frescura, fino, directo e expressivo, e com perfil muito prazeroso. (13%)

18,5 B
Quinta da Touriga Chã
Douro tinto 2013
Jorge Rosas Vinhos
Aroma com o perfil da marca, muito fruto (negro e azul), em camadas, barrica luxuosa também a comandar, e um toque de caramelo salgado ao fundo. Prova de boca de grande nível, amplo, lácteo e saboroso, na qual sobressaem as referências a ameixa madura, café e chocolate. Final longo e pujante! (14,5%)

18,5 B
Quinta da Vegia
Dão Superior tinto 2013
Casa de Cello
Aroma jovem, com notas de fruto azul, caruma de pinheiro, vegetal seco, muito vivo e de recorte clássico, barrica ao fundo com classe. Prova de boca mais redonda do que o nariz faria prever, saboroso, fruto azul e leve nota a frutos secos. Termina fresco e longo, sempre com cremosidade. (13,5%)

18,5 B
Quinta do Castro Vinha Maria Teresa
Douro tinto 2013
Quinta do Crasto
20 meses em barrica nova. Muito jovem ainda, na cor e aroma. Todo num perfil austero e fechado, com nota a fruto azul, especiaria exótica, urze, alcaçuz e chá. Boca que começa ampla e macia, no meio revela apimentados, sempre num perfil amplo, sem perder frescura. Muito sedutor e com longa vida pela frente. (14,5%)

18,5 B
Quinta do Vallado
Douro Reserva tinto 2013
Quinta do Vallado
Muito jovem na cor e aroma, revela referências a erva fresca, fruto encarnado e negro, notas da barrica, tudo muito bem integrado. Prova de boca elegante e fina, minerais quebrados, fruto bonito, novamente ervas frescas, tudo a dar grande prova. (14%)

18,5 B
Quinta do Vale Meão
Douro tinto 2013
Quinta do Vale Meão
Aroma sedutor com nota a cacau fresco, fruto azul profundo, boa complexidade, mineral e chocolate negro, barrica muito delicada nesta fase. Saboroso e amplo em boca, acidez média, tanino ainda muito vivo, concentrado e cheio de matéria, termina vigoroso e afirmativo. (14%)

18,5 B
Robustus
Douro tinto 2013
Niepoort Vinhos
Aberto na cor. Aroma muito focado e definido, framboesa, funcho, todo de perfil silvestre e delicado, até mesmo no trabalho de barrica. Prova de boca em linha, leve e fresca, saboroso e muito limpo, amplo sem qualquer peso, acidez presente e sensação fresca. Muito personalizado e de grande prazer. (13%)

18,5 C
Xisto
Douro tinto 2013
Roquette & Cazes
A base é Touriga Nacional e Franca, e Tinta Roriz. 20 meses em barrica. Aroma surpreendentemente jovem. Nota a cacau fresco, ameixa, fruto muito bonito, alcatrão e leve alcaçuz, tudo muito atractivo. Redondo e macio em boca, tanino saboroso, mas ainda austero, acidez média e final ainda em construção. Afinado, muito jovem ainda, e de grande impacto. (14%)

18 B
Abandonado
Douro tinto 2013
Domingos Alves de Sousa
18 meses em barrica de carvalho francês e português. Aroma complexo e intrigante, fruto encarnado e negro, chão de bosque, ervas frescas, mas também algum doce de leite ao fundo. Na boca sente-se mais a barrica, com tanino muito presente, balsâmico, acidez média, muito sabor, puro e definido. Ainda pujante! (14,5%)

18 B
Dona Maria
Alentejo Grande Reserva tinto 2013
Júlio Bastos
50% Alicante Bouschet, sendo o restante Petit Verdot, Syrah e Touriga Nacional. Um ano em barrica. Muito afinado no nariz, com leve pendor vegetal, café também, depois surge fruto de qualidade, mas sem perder um lado terroso e de raiz. Prova de boca em linha, complexo e saboroso, jovem e intenso mas, curiosamente, com tanino fino e elegante. (14,5%)

18 B
Duas Quintas
Douro Reserva tinto 2013
Adriano Ramos Pinto
Maioria de Touriga Nacional. 16 meses em barrica. Aroma sedutor e intenso, com referências maduras a ameixa, urze, café cubano, doce de leite, bolo de mel. Lácteo em boca, tem boa acidez, com o meio de boca cheio e notas a chocolate amargo. Taninos macios e cooperantes, tudo com sabor e definição, e final com belo comprimento. (14,5%)

18 A
Luis Pato Vinha Barrosa
Bairrada tinto 2013
Luis Pato
Cor mais aberta do que o esperado. Aroma com notas à casta Baga com evolução, fruto encarnado, folhas secas, fruto seco, barro molhado, café, cevada e eucalipto. Prova de boca em linha, tanino fino e elegante, nota a cereal e ginja, molho de ostra. Tudo pronto a beber e agradar, num perfil complexo e clássico. (13%)

18 B
Syrah 24
Reg. Lisboa tinto 2013
José Bento dos Santos
18 meses em barrica, metade nova. Bonita cor aberta. Grande atracção no aroma, ameixa madura, especiaria da barrica e nota a carne, vegetal seco (arbusto), e café. Muito bem em boca, sempre cremoso sem perder definição de tanino, acidez média, mas com boa frescura. Novamente fruto encarnado e alguma grafite. (14,5%)

18 B
Quinta dos Murças
Douro Reserva tinto 2013
Murças
Vinha velha com várias castas, e 12 meses em barricas usadas. Aroma e cor muito jovens, todo a cheirar a Douro, fruto negro e azul, urze e esteva, com boa definição e pureza e percepção de frescura. A prova de boca confirma o perfil fresco, acidez bem presente, novamente fruto azul e sensação a mato. (14,5%)

17,5 B
Chocapalha Vinha Mãe
Reg. Lisboa tinto 2013
Casa Agr. das Mimosas
Tinta Roriz, Touriga Nacional e Syrah. Aroma jovem e potente, como é habitual nesta marca, com especiaria doce, nota a papel, sementes, fruto encarnado, e chocolate ao fundo. Intenso em boca, camadas de tanino, muito boa frescura geral, termina fino, apesar da juventude. (14,5%)

17,5 B
Grande Rocim
Alentejo Reserva tinto 2013
Rocim
Alicante Bouschet, com estágio longo em barrica. Aroma jovem e com perceção de potência, perfil balsâmico, toque canforado e a tijoleira molhada, leve vegetal e barrica ao fundo. Prova mentolada em boca, referência a chocolate preto, directo e eficaz, confirma a vertente da potência. Final amplo e granulado, com acidez vincada. (15%)

17,5 A
Incógnito
Reg. Alentejano tinto 2013
Cortes de Cima
Syrah. Aroma com boa evolução e muito composto. Nota de fruto negro, já com leves licorados, nota a azeitona, pimenta preta, boa complexidade geral. Prova de boca macia, e pronto a beber, saboroso e suculento, longo e retendo boa acidez, temos um tinto exemplarmente desenhado que proporciona muito prazer. (14%)

17,5 B
Palácio da Bacalhoa
Reg. Península Setúbal tinto 2013
Bacalhoa Vinhos de Portugal
Maioria de Cabernet Sauvignon, mais Merlot e Petit Verdot. 19 meses em barrica nova. Aroma de perfil bordalês em ano quente, ataque balsâmico, moca e café, ameixa madura, terra húmida, turfa, barrica ao fundo. Muito tanino em boca, denotando boa juventude, acidez bem presente a equilibrar um vinho generoso na entrega e gastronómico. (14,5%)

17,5 A
Quinta da Leda
Douro tinto 2013
Sogrape Vinhos
18 meses em barrica, metade nova. Notas a fruta encarnada marcam o nariz, ervas frescas também, boa evolução geral, com alguma percepção de frescura, apesar da barrica evidente. Prova de boca que começa por revelar tanino vivo, confirmando-se o perfil fresco, nota a chocolate preto, e referência a bosque e arbusto típico da marca. Termina macio e longo. (13,5%)

17,5 C
Quinta das Bágeiras
Bairrada Garrafeira tinto 2013
Mário Sérgio Alves Nuno
Aroma a denotar juventude, mas também um perfil levemente rústico, com notas a fruto encarnado, leve couro, e tijoleira. Prova de boca com frescura, acidez impecável, tanino firme e quase rugoso, muito sabor a bagas esmagadas. Caracteriza-se pela vibração e frescura, directo e muito gastronómico. (13,5%)

17,5 B
Quinta de S. José
Douro Reserva tinto 2013
João Brito e Cunha
Aroma aprumado e com boa exuberância, bastante tosta da barrica, fruto encarnado, esteva, chocolate e doce de leite, tudo em camadas. Amplo e lácteo em boca, saboroso, com tanino fresco e de filigrana, apresenta muita saúde, e revela-se atractivo, consistente e versátil. (14%)

17,5 A
Tapada do Chaves
Alentejo Reserva tinto 2013
Tapada do Chaves
Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet. 12 meses em barrica de carvalho português e francês. Nota clássica com referências licoradas evidentes, morango maduro, café, vegetal seco, e fumados. Pronto a beber em boca, com taninos cooperantes e saborosos, perfil morno e balsâmico, sem perder o lado clássico e a apetência gastronómica. (15%)

17 A
Marias da Malhadinha
Reg. Alentejano tinto 2013
Herdade da Malhadinha Nova
Alicante Bouschet e Tinta Miúda maioritariamente. 28 meses em barrica nova. Começa austero no nariz, abrindo para fruto muito maduro, em camadas, nota a café com leite, moka, caramelo, tomate seco, e figo. Prova de boca com muito fruto, tanino apertado, acidez vincada, final granulado e levemente seco. (15%)

17 B
MOB
Dão tinto 2013
Moreira, Olazabal e Borges
Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Baga. Aroma com boa evolução, fruto encarnado evidente, caruma, bosque e floral fresco ao fundo. Mais fino em boca do que o nariz fazia prever, taninos macios e saborosos, meio corpo, muito fluído, termina ágil e leve, todo em elegância. Perfeito para a mesa. (12,5%)

17 A
Scala Coeli
Reg. Alentejano Reserva Alicante Bouschet tinto 2013
Fundação Eugénio de Almeida
15 meses em barrica nova. Aroma potente e latente, com nota a ameixa madura, tomate seco, ervas secas (orégãos), figo, e azeite balsâmico. Redondo em boca, saboroso, sente-se a barrica luxuosa, apesar do tanino algo seco e acutilante. Final de boca novamente em sabor, com referências a café, azeitona e baunilha. (14%)

16,5 B
Casa de Santar Vinha dos Amores
Dão Touriga Nacional tinto 2013
Casa Agr. de Santar
Aroma por ora ainda marcado pela barrica, floral maduro (violeta) e tinta-da-china ao fundo. Prova de boca em linha, com nota a floral fresco e chocolate amargo, tanino acutilante, termina com citrino maduro e referência especiaria exótica. Pode crescer em garrafa, sendo melhor à mesa nesta fase. (14%)

16,5 A
Ribeiro Santo Excellence
Dão Grande Escolha tinto 2013
Magnum Carlos Lucas Vinhos
Aroma intenso, com notas a fruto azul, couro, e alguma especiaria doce da barrica, floral ao fundo e fruto seco. Prova de boca lácteo e com sabor, conjunto macio, com acidez presente, perfil mais cítrico do que o nariz faria prever, termina amplo, mas com leve secura. (14%)

(Artigo publicado na edição de Março de 2023)

Adega de Ponte de Lima: Em terras de Loureiro e Vinhão

Adega Ponte Lima

O domingo é dia de missa. Talvez nas grandes cidades o apelo religioso não seja tão forte mas sabemos que na chamada “província” ainda é grande a fatia da população que cumpre as suas obrigações cristãs. Na região de Ponte de Lima não será, cremos, diferente. No entanto aqui, se é agricultor, é necessário ir […]

O domingo é dia de missa. Talvez nas grandes cidades o apelo religioso não seja tão forte mas sabemos que na chamada “província” ainda é grande a fatia da população que cumpre as suas obrigações cristãs. Na região de Ponte de Lima não será, cremos, diferente. No entanto aqui, se é agricultor, é necessário ir à missa, mesmo que não haja qualquer convicção religiosa. É que ir ouvir a prédica do pároco é a maneira mais certa de, atempadamente, se saber quais os tratamentos da vinha que são obrigatórios e que não estão dependentes dos caprichos do lavrador. Doenças como a flavescência dourada implicam tratamentos obrigatórios e que têm datas certas; e é na missa que se fica a saber quando se tem de cumprir a obrigação. Há assim um “interlúdio”, uma espécie de “antes da ordem do dia” em que todos os paroquianos ficam a saber o que há a fazer. E numa comunidade em que a Adega Cooperativa funciona como motor da região, foi esta a melhor solução que se encontrou para que ninguém fique sem informação. É ateu? Não é praticante? Vá na mesma à missa que dessa forma fica por dentro dos assuntos que importam.

A Adega Cooperativa de Ponte de Lima nasceu em 1959 e tem um peso enorme na região. Por um lado, está inserida numa zona agrícola e o vinho é uma das actividades principais mas, por outro, ao alimentar muitas famílias o vinho está também a proporcionar o desenvolvimento do comércio e serviços. Fundada com apenas 15 sócios tem hoje 2000 “ainda que só cerca de mil entreguem uvas”, como nos disseram. Estamos então a falar de mais de 4 milhões de quilos de uvas que são “pagos acima do que se pratica no mercado”. Pagar o preço justo, percebemos, é um objectivo sempre presente na acção da direcção porque “é preciso cativar novos produtores que queiram continuar a actividade dos antepassados e temos alguns jovens que estão a tomar conta das vinhas dos pais. Para pagar melhor as uvas têm se aumentar os preços dos vinhos para que o rendimento seja compensador.”

Celeste Patrocínio, a presidente, tem muito orgulho nos sócios, “alguns são descendentes de gente que estava ligada ao vinho no séc. XIX, pessoas citadas por Cincinnato da Costa na obra O Portugal Vinícola (1900) e que contribuíram com uvas para a ilustração do livro”. E há de tudo, desde os que têm apenas 0,3ha até aos que gerem 60ha, esses já altamente profissionalizados.

Loureiro primeiro que tudo

O grande orgulho da Adega é a casta Loureiro, a bandeira do vale do Lima. Aqui estamos em terrenos graníticos mas também com muitas manchas de xisto e há claramente uma influência marítima – temos o mar a 20 e 30 km – e a temperatura amena gera vinhos com grande frescura que são a marca d’água dos Loureiro. Com vinhas antigas é sabido que a variabilidade genética é maior e não se estranha por isso que os vinhos daqui sejam diferentes dos de Ponte da Barca, por exemplo. A casta Loureiro quer terrenos com boa fertilidade para que possa produzir bem e com qualidade. Estamos então a falar de mais de 10 mil quilos por hectare mas há condições para se poder chegar às 14 toneladas.

A zona corresponde, de resto, a uma das nove sub-regiões do Vinho Verde e, tal como acontece em Monção e Melgaço com a casta Alvarinho, também aqui é a casta Loureiro aquela que mais diferencia estes vinhos dos outros que se fazem na região. Na adega contam-nos que foi também a cooperativa a primeira casa a colocar no mercado um vinho varietal com a indicação de Loureiro no rótulo. Corria então o ano de 1982 e, de então para cá, a casta tornou-se emblemática e diferenciadora. É com base nela que a adega organiza o seu portefólio – a produção de branco ocupa 70% e, dentro dos brancos 95% é Loureiro mas a verdade é que a Loureiro não está sozinha. Há outras castas brancas que também servem de tempero, como Fernão Pires, Arinto, Trajadura e Alvarinho (aqui conhecida por Galeguinho) e várias castas tintas.

Pressente-se que o orgulho na Loureiro é idêntico ao da casta Vinhão, a variedade que molda os tintos da região. Ainda que a circulação dos vinhos de Vinhão seja muito regional, na adega há actualmente razões para que a variedade conheça um novo desenvolvimento. Sobre o tema, o experiente enólogo Fernando Moura, responsável pelos vinhos da Cooperativa, explica: “o Vinhão de hoje nada tem a ver com o de há 30 anos; antigamente a casta estava confinada às ramadas que, como sabemos, origina uvas com baixo teor de açúcar. Dessa forma as uvas chegavam à adega com 8 ou 9% de álcool provável e acidez de 10 e 11 gramas. Actualmente com a reconversão das latadas para cordão, temos Vinhão com 12,5% de álcool e 5 gr de acidez. Isso faz toda a diferença”, concluiu. Celeste Patrocínio acrescenta que no último evento Vinhos & Sabores da Grandes Escolhas, “foi com satisfação que vimos jovens chegarem ao nosso stand e quererem provar Vinhão”. À casta Vinhão há que acrescentar outras como a Borraçal, Espadeiro e Padeiro, todas elas castas pouco corantes e que são usadas sobretudo para fazer rosé; são variedades que existem em quantidades já muito residuais, sobretudo nas latadas. Sempre que há reconversões, estas variedades são preteridas e, em tintas, só se planta Vinhão, o “nosso vinho que esgota todos os anos”, diz Celeste.

Adega Ponte Lima

Reconversão e viticultura

Por falar em reconversão das latadas, a direcção da adega apercebeu-se que para os pequenos agricultores era muito difícil chegar aos programas europeus (Vitis) por não terem a área de vinha mínima para se candidatarem, que é de 20ha. Foi então que nasceu a ideia de se fazerem grupadas, ou seja, um conjunto de sócios que têm isoladamente pouca área de vinha mas que em conjunto conseguem perfazer as condições exigíveis. Foi assim “que já conseguimos quase 8 milhões de euros em fundos para reconversão da vinha e estamos sobretudo a falar da passagem da latada à vinha em cordão”, refere Celeste Patrocínio com justificado orgulho. O assunto dos fundos estruturais tem outras dificuldades: a papelada é complicada, a organização das candidaturas também, tudo se assemelha a uma tarefa hercúlea sobretudo quando a idade dos viticultores é já avançada. A adega, dizem-nos, está aqui para ajudar e criou o GAS – Gabinete de Apoio aos Sócios – onde organiza toda a parte burocrática das candidaturas. Também é a própria adega que vende os produtos vitícolas, aconselha e dá formação aos lavradores. O assunto “missa” que atrás falámos prende-se com os tratamentos da vinha. A zona minhota é a mais pluviosa do país e isso, sabe-se, potencia o sugimento de doenças da vinha com míldio e oídio. Actualmente o normal é terem de se fazer 8 a 9 tratamentos por ano, mas como nos diz Ricardo Siva, o técnico de viticultura, “temos problemas de doenças da vinha mas com as alterações climáticas ganhámos muito porque agora há menos tratamentos a fazer. O aumento médio da temperatura ajudou-nos, há mais calor e menos humidade”. Fernando Moura junta outro dado: ”Agora, mesmo nos anos mais difíceis, continuamos a ter vinhos bons. Problema sério é a Esca (doença do lenho), idêntico ao que se passa no resto do país. E solução séria ainda não há…”.

Mas afinal quanto se paga ao lavrador pelas uvas que entrega? Celeste Patrocínio explica: “pagamos acima do preço do mercado e fazemos uma revalorização das uvas que após as contas finais, dá entre 58 e 60 cêntimos. Na região o preço anda entre 50 e 55 cêntimos/quilo. Temos de apoiar o minifúndio senão ficam só as empresas grandes e, depois, o que será feito das terras? Ficam abandonadas? Há quem faça turismo rural, mas entra tudo em descalabro se não houver vinhas. Os novos para ficarem têm de ter rendimento. Ninguém liga nenhuma à valorização da terra, os políticos vêm cá todos na altura das eleições, mas mais nada. Temos essa função de valorizar, levar as pessoas a conservarem casas, caminhos e equipamentos. O vinho tem esse lado social”.

Com as uvas de que dispõe, a adega construiu um portefólio diversificado sempre com um perfil próprio, muito ao gosto do consumidor: brancos e tintos com muito leve doçura residual (estamos a falar de 3 gr/litro) e uma leve presença de gás. O único branco que tem mais açúcar indica-o no rótulo, onde se lê: Adamado. Mudar este perfil não está nos planos porque “fizemos um vinho com zero de açúcar mas não conseguimos vender porque diziam que era seco de mais”, diz Fernando Moura que acrescenta que isso não impede que vá adiante um novo projecto que é um branco fermentado em barrica nova – 3 barricas de 500 litros e de 3 tanoarias diferentes – e esse, claramente será comercializado como topo de gama e completamente seco. Para completar a oferta, ainda há espumante mas, em virtude da pequena quantidade (10 000 garrafas entre branco e rosé), a espumantização é feita em prestação de serviços. Acresce ainda o vinho em barril para vender a copo com pressão, para a restauração já representa cerca de 200 000 litros/ano. Na exportação há que notar que Angola importa sobretudo o tinto e há países importadores (como os EUA) em que não se destina apenas ao chamado mercado da saudade. Ultrapassar o estigma do vinho barato, que é uma imagem colada a muitos Vinhos Verdes, vai obrigar a “exportar mais e colocar o preço num patamar mais elevado e por via disso gerar mais valor”, diz Celeste Patrocínio. Desafios para o futuro.

(Artigo publicado na edição de Março de 2023)

Concurso Escolha do Mercado: Estão abertas as inscrições

A revista Grandes Escolhas organiza no próximo mês de MAIO (dia 15) a 4ª edição de um concurso exclusivamente dedicado aos vinhos brancos de Portugal. De características inéditas, este é um concurso totalmente focado no mercado e para o mercado. E por isso os jurados desta prova são seleccionados entre os compradores profissionais: restaurantes, sommeliers, […]

A revista Grandes Escolhas organiza no próximo mês de MAIO (dia 15) a 4ª edição de um concurso exclusivamente dedicado aos vinhos brancos de Portugal.

De características inéditas, este é um concurso totalmente focado no mercado e para o mercado. E por isso os jurados desta prova são seleccionados entre os compradores profissionais: restaurantes, sommeliers, lojas de vinhos, wine bars, compradores de grandes e médias superfícies e outros responsáveis de compras.

Um concurso com as regras do mercado.

Saiba todas as informações e inscreva-se AQUI.