Dos Santos: Um novo player no Vinho do Porto

Criar uma empresa de Vinho do Porto é uma aventura difícil de concretizar, face às exigências legais, em termos de stock obrigatório de 75 000 litros. Se juntarmos a isso a necessidade de criação de entreposto alfandegário e os efeitos da lei do terço que só autoriza que se comercialize por ano um terço do que se tem em stock, percebe-se que o investimento inicial é tremendo e isso tem sido um factor impeditivo do surgimento de novas empresas no sector. Por tudo isto, é sempre uma boa notícia o anúncio de um novo operador. Alexandre Botelho é então o rosto desta nova empresa e o negócio faz-se, como referiu, “pelos contactos com produtores da região e com o recurso a uma adega em Alijó onde, em prestação de serviços, conseguimos vinificar, estagiar, lotar e engarrafar os vinhos.” Neste momento o stock contempla cerca de 60% vinho tinto e o resto, branco. Como ainda não dispõe de entreposto, Alexandre usou as instalações e o entreposto da Quinta do Portal para poder começar a comercializar. A situação é provisória e de horizonte curto já que, refere, “sei que dentro de, no máximo, um ano, tenho de ter tudo regularizado”. A procura de armazém continua, entretanto, mas se vai ser em Gaia ou no Douro ainda não está definido. E as chamadas “dores de crescimento” já por aqui deram sinais, porque na vindima de 2022, confessa, “vou ter 15000 litros e vou precisar desesperadamente de local onde possa ter tudo. Já é muita coisa!”

 

O foco da nova empresa são os vinhos das gamas de entrada, Tawny e Ruby, Tawny com indicação de idade e Late Bottled Vintage. O Vintage surgirá a seu tempo.

Dos Santos
O foco da nova empresa são os vinhos das gamas de entrada, Tawny e Ruby, tawnies com indicação de idade e Late Bottled Vintage; como nos disse, o Vintage surgirá a seu tempo e neste momento apenas o LBV foi apresentado.
A marca teve origem no séc. XIX, quando Joaquim Ferreira Pinto decidiu criar uma empresa de Vinho do Porto tendo em vista o abastecimento do mercado brasileiro. O nome Dos Santos era o apelido de sua mulher. O negócio foi depois continuado pelos descendentes, não da melhor forma e chegados a 1920 coube a uma descendente, Margarida dos Santos, pôr ordem no caos, liquidar as contas e vender a empresa. No Dicionário Ilustrado do Vinho do Porto a empresa é omissa, tal como a marca emblemática que se vendia no Brasil – Dona Othilia – que ilustra este texto.
Foi em 2022 que Alexandre Antas Botelho, bisneto de Margarida dos Santos, recriou a marca Porto dos Santos. Sem vinhas e sem stock de família, só com muita vontade de continuar uma tradição familiar. Alexandre não esconde que “sou filho da região, o Douro é a minha prioridade e esta empresa é tudo o que tenho, não é um assunto acessório”, como que a sublinhar o empenho total neste projecto. Alexandre assume-se como enólogo e blender e tem a apoiá-lo um amigo de longa data e com créditos firmados no sector do vinho do Porto, Jaime Costa que, actualmente é técnico na Vasques de Carvalho e foi durante anos o enólogo da Burmester. Por ora, não está no negócio dos DOC Douro e na apresentação do projecto, para além dos vinhos agora lançados, provaram-se três lotes de Porto com origem em três zonas diferentes – Valdigem, Tedo (ambos margem esquerda e letra A) e Roncão, também letra A mas margem direita. A ideia era ensaiar um lote, partindo-se das diferenças de estilo de cada um dos vinhos. No fundo, uma brincadeira que procura reproduzir a tarefa do master blender que, tentativa após tentativa, tem de, em primeiro lugar, encontrar o equilíbrio do lote final e, em segundo, fazer com que esse lote corresponda depois ao “estilo da casa”, algo que no caso da Porto dos Santos é ainda um work in progress.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2023)

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