Verallia e Grandes Escolhas estabelecem parceria na feira Vinhos & Sabores

A Verallia Portugal S.A. e a revista Grandes Escolhas estabeleceram uma parceria de colaboração no âmbito da feira Grandes Escolhas Vinhos & Sabores, que irá decorrer de 14 a 16 de outubro na Feira Internacional de Lisboa (FIL), localizada no Parque das Nações, em Lisboa. A feira Vinhos & Sabores é o maior evento de […]
A Verallia Portugal S.A. e a revista Grandes Escolhas estabeleceram uma parceria de colaboração no âmbito da feira Grandes Escolhas Vinhos & Sabores, que irá decorrer de 14 a 16 de outubro na Feira Internacional de Lisboa (FIL), localizada no Parque das Nações, em Lisboa.
A feira Vinhos & Sabores é o maior evento de vinhos de Portugal, eleita para proporcionar uma experiência única a milhares de visitantes, tendo oportunidade de interagirem com os mais de 400 produtores portugueses presentes, provando em primeira mão vinhos e sabores únicos.
Durante a feira serão abertas para degustação e prova cerca de 10 mil garrafas de vidro que, através da parceria, serão recolhidas pela Verallia Portugal S.A. e encaminhadas para reciclagem, garantindo o seu correto destino.
Com a recolha destas garrafas, as duas entidades têm como objetivo sensibilizar os consumidores em geral e a restauração em particular para a importância do processo de reciclagem. Assim, garantimos a produção de novas garrafas de vidro através da utilização do vidro reciclado.
Tanto a Verallia como a Grandes Escolhas partilham dos mesmos valores de responsabilidade social, da promoção da sustentabilidade e defesa do ambiente e dos recursos naturais, aliando-se em ações como estas, que permitirão um mundo melhor.
SOVIBOR: A Talha, como deve ser

A Sociedade de Vinhos de Borba foi fundada em 1968 e chegou a ser uma das maiores empresas da região ao longo das décadas seguintes. Como tempo, porém, foi perdendo relevância, entrando lentamente em decadência na viragem do século. Foi preciso um homem de Vale de Cambra vir ao Alentejo para dar uma nova vida […]
A Sociedade de Vinhos de Borba foi fundada em 1968 e chegou a ser uma das maiores empresas da região ao longo das décadas seguintes. Como tempo, porém, foi perdendo relevância, entrando lentamente em decadência na viragem do século. Foi preciso um homem de Vale de Cambra vir ao Alentejo para dar uma nova vida à Sovibor. O empresário Fernando Tavares tem as suas raízes no norte do país, onde gere o seu negócio na área de distribuição de vinhos – a Sotavinhos. Teve uma grande ligação a Borba desde há muito e o momento de viragem aconteceu em 2014 com a aquisição da Sovibor. Desde então, com o apoio incondicional de sua mulher, faz semanalmente o trajecto até Borba, para onde se mudou a filha Rita, enquanto gestora enóloga residente. A consultoria enológica é confiada ao experiente António Ventura; e Luís Sequeira é responsável pela gestão administrativa e comercial.
Desde o início Fernando sonhou seguir a tradição alentejana de produzir vinhos em talha. Dedicou-se a investigar localmente as práticas ancestrais e eliminou desde logo a possibilidade de usar talhas revestidas de epoxy, porque são completamente estanques, “é como fazer o vinho em inox”, refere. Prefere talhas revestidas com pez louro (uma mistura de resina de pinheiro, cera de abelha e azeite), que permite uma troca gasosa muito doseada.

Quando o projecto se iniciou, não havia talhas na Sovibor. Hoje tem uma das maiores adegas de talhas no Alentejo, contando com 85 ânforas de vários tamanhos, muitas delas centenárias, fabricadas, sobretudo, em S. Pedro de Corval.
Na região de Borba, a Sovibor trabalha cerca de 200 hectares de vinha própria ou em parceria com viticultores locais. Os vinhos da gama Mamoré da Talha têm origem, exclusivamente, nas vinhas de sequeiro com idade superior a 50 anos, localizadas sobretudo na zona de Orada. Dão 1-1,5 kg por cepa. As uvas são vindimadas e vinificadas por parcela, pisadas a pé em pequenas tinas de inox de 200-300 kg e a fermentação na talha é feita com 40% a 60% do engaço. Quando a fermentação (com leveduras indígenas) se inicia, fazem-se calcamentos diários para homogeneizar as massas e impedir a sua compactação na boca da talha. Embora o regulamento do DOC Alentejo Vinho de Talha permita “abrir” as talhas a partir do dia de S. Martinho (11 de Novembro), a Sovibor mantém o vinho nas talhas até Março, deixando o Inverno passar por ele. As massas assentam no fundo da talha e servem de filtro natural, quando o vinho é retirado por uma torneira na base da ânfora. Volta para a mesma talha e o processo é repetido até que o vinho, saia completamente limpo. Este ano, a Sovibor adicionou uma novidade absoluta na região – a primeira aguardente bagaceira elaborada a partir de bagaços frescos de uvas tintas vinificadas em talha. Depois de uma dupla destilação, feita num majestoso alambique pacientemente reconstruído por Fernando Tavares, demorou dois anos a desdobrar o álcool até aos 46% de teor alcoólico final. Foram produzidas apenas 1800 garrafas.
A arte da pesgagem
A pesgagem é um processo de revestimento de talhas com uma mistura de pez louro (resina de pinheiro), cera de abelha e azeite que permite a sua impermeabilização. A receita pode variar em percentagem dos ingredientes, influenciando mais ou menos o perfil organoléptico do vinho; e normalmente as talhas para vinho branco não são usadas para fazer vinho tinto. Nesta operação extremamente artesanal e pesada estão envolvidas várias pessoas. Primeiro uma talha vira-se de boca para baixo em cima de uma estrutura com fogo aberto. Quando é aquecida, coloca-se de lado e depois de bem limpa por dentro, unta-se o interior com a tal mistura impermeabilizante natural. Finalmente, rola-se a talha para uniformizar tudo.
Uma prova inédita
Tradicionalmente, os vinhos feitos em talhas, quer brancos quer tintos, bebiam-se novos, a partir do momento em que eram “abertas” as talhas, na altura de S. Martinho. Não eram considerados vinhos de guarda. Por isso, uma prova de vários tipos de vinhos de talha, de diversas castas, brancos e tintos, produzidos desde 2016, é extremamente curiosa e didáctica. O resultado das muitas experiências efectuadas por Fernando Tavares mostrou que os vinhos de talha podem evoluir perfeitamente em garrafa quando são bem-feitos; e também que nem todas as castas se adaptam bem à vinificação em talha.
Nos brancos começámos com o Mamoré da Talha branco 2016, um blend de castas típicas da região – Antão Vaz, Rabo de Ovelha e Tamarez. Com uma cor dourada/âmbar no nariz lembra laranja e casca de laranja, tangerina, notas florais e de pólen, maçã, marmelo e ervas aromáticas. Um vinho muito seco, com frescura e salinidade, um leve amargo que refresca e fica bem neste contexto. (17). O 2018 da mesma vinha apresentou uma acidez mais pronunciada, notas de nêspera e marmelo, muita tangerina e laranja, alperce e pêssego. Muito fresco, vinho com grande textura e amplitude. (17,5). O Talha da Rita 2018 feito maioritariamente de Antão Vaz da vinha velha de sequeiro com 10% de Arinto de uma vinha com 25 anos. É mais resinoso com mais barro no nariz. Dourado na cor, revela notas de marmelo e ananás salgado. Com teor de álcool de 15% e incríveis 7 g/l de acidez tem corpo, equilíbrio, textura e frescura, com tanino e força. (18)
Passando para os tintos, primeiro avançámos com o Petroleiro, um palhete da talha. Às castas tintas da tal vinha velha com Trincadeira, Moreto, Carignan e Castelão juntam-se 30% de castas brancas de Antão Vaz e Rabo de Ovelha. O 2016 apresentou cor granada atijolado. Delicado e delicioso com morango e flores no primeiro impacto aromático, evoluindo muito bem no copo, doce de morango e framboesa, figos frescos e goiaba. (17). O 2018 das mesmas parcelas surge ainda com mais frescura. Aroma mais intenso e balsâmico, notas de carne e ervas aromáticas. Cresceu imenso no copo, deixando transparecer notas florais e fruta mais delicada como a framboesa. Textura macia com bom corpo e muito sabor. (17,5).
Seguiram os blend de castas tintas e monovarietais também feitos em talha, que foram parte de uma experiência inicial para aprender como as diferentes castas se comportam neste processo de vinificação. Para além da tradicional Moreto, aparecem Syrah, Touriga Nacional e também Carignan, casta que, não tendo muito protagonismo, se encontra presente no Alentejo já há cerca de um século, sobretudo nos encepamentos antigos.
O 2016 é um blend de Moreto, Carignan, Trincadeira e Aragonez. Fruta vermelha, nota vegetal a lembrar pasta de tomate e certa evolução. (16,5). O 2018 estava mais fechado no nariz e com mais cor. Mentolado e floral, com fruta vermelha e tomate seco. Tanino mais presente, boa frescura a disfarçar o álcool de 15%. (17,5). O Mamoré da Talha Moreto 2018 revelou a extraordinária afinidade da casta com talha. Muito aberto na cor, mentolado, com ervas aromáticas, caruma e compota de framboesa, finesse e sedosidade, reunindo todo o carácter da tradição. (18,5). O Syrah 2018 feito em talha é algo inédito. Faz parte de uma vinha com mais de 30 anos, também de sequeiro. Cor granada bastante intensa, bem vivo e fresco com notas de chá preto, cereja, amora e mirtilo, pimenta preta, carne, eucaliptos. Tanino intenso, textura sedosa e com muito sabor. A casta afirma-se para além da talha, mantendo-se como um belíssimo Syrah cheio de carácter. (18)
Do ano 2019, o blend de Moreto, Carignan, Trincadeira e Aragonez apresentou-se com fruta vermelha e preta, mentol, bem vivo, belíssimo, vibrante e cheio de força e presença. (18,5). O monovarietal de Moreto 2019 funciona invariavelmente bem e confirma que a casta parece que nasceu para ser trabalhada em talha. Rubi de média intensidade, nariz expressivo com manjericão, geleia de framboesa, fruta intensa entrelaçada com leves notas resinosas. Envolvente, com enorme personalidade. (18,5). O Touriga Nacional 2019 evidenciou uma história diferente. A casta marca mas, ao contrário de Syrah, não alinha com talha. Sobressai com muita pimenta, especiaria, mirtilo, bergamota, deixando uma secura no final de boca. Não deixa de ser um bom vinho, mas não é um exemplo de excelência de Touriga, nem de um vinho de talha. (17). O Syrah 2019 destaca-se pela óptima acidez, estrutura e força, firmeza de tanino. (18). O Carignan 2019 veio com fruta vermelha, alguma ferrugem, ervas aromáticas a lembrar tomilho e estragão, caruma. Cheio de tanino, corpo e força, mas menos longo do que os vinhos anteriores. (17,5).
Provamos também amostras de cuba de 2022, retiradas das talhas em março. O branco blend surgiu com aroma mais delicado, salino e doce ao mesmo tempo. Marmelo, nêspera, fisális. Muita secura de tanino presente e frescura graças à acidez pronunciada, quase bone dry na percepção. O tinto de blend explodiu com fruta extremamente fresca, uma nuance de banana e de rebuçado de morango, mentolado. Tanino apertado, tudo com equilíbrio. O Moreto, fiel a si próprio, com aquela típica rusticidade intelectual. Morango selvagem, framboesa, mentolado, fresco, fino de tanino com óptima acidez. E depois, com mais calma, e no meio da vinha, provámos os agora lançados Mamoré da Talha de 2021.
No conjunto, o dia “Talha com Tradição”, proporcionado pela Sovibor, foi uma fascinante janela aberta para um mundo singular de aromas e sabores. E tornou-se também uma dupla lição: aprendemos que os vinhos de talha, quando nascem bem, envelhecem com nobreza; e que uma família do Norte pode ser excelente guardiã da mais antiga tradição vinícola alentejana.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2023)
Os Velhotes estão cada vez mais novos

Desde 1934 que três homens se sentam à mesa para beber um cálice de vinho do Porto: um Boticário, um Advogado e um Juiz. O retrato faz parte do ADN da icónica marca Velhotes e, agora, a imagem destes vinhos do Porto da casa Cálem é renovada. A nova imagem procura, segundo a empresa, “preservar […]
Desde 1934 que três homens se sentam à mesa para beber um cálice de vinho do Porto: um Boticário, um Advogado e um Juiz. O retrato faz parte do ADN da icónica marca Velhotes e, agora, a imagem destes vinhos do Porto da casa Cálem é renovada.
A nova imagem procura, segundo a empresa, “preservar o estilo clássico e tradicional de Velhotes, sem descurar uma roupagem mais contemporânea, que confere à marca o estatuto de um autêntico ‘Vintage moderno'”.
Além do rótulo, que ganha nova vida, destacam-se ainda as barras coloridas na parte inferior das garrafas, usadas para especificar o tipo de vinho: o vermelho cereja está para o Ruby, como o verde está para o Porto Branco. Ao todo, são sete as referências: Tawny, Ruby, White Lágrima, White, LBV, Tawny Special Reserve e Tawny 10 Anos, sendo que os três últimos pertencem ao segmento mais premium, cuja cor de fundo do rótulo foi alterada para negro, de modo a diferenciar o mesmo.
Adega do Cartaxo: A aposta está nos “detalhes”

Com uma produção anual na ordem dos 7 milhões de litros, provenientes de uma área de vinha que no conjunto dos seus associados totaliza cerca de 700 hectares, a Adega do Cartaxo, tem feito um esforço consistente na sua modernização tecnológica, na melhoria das instalações e um forte investimento tanto no acompanhamento da viticultura como […]
Com uma produção anual na ordem dos 7 milhões de litros, provenientes de uma área de vinha que no conjunto dos seus associados totaliza cerca de 700 hectares, a Adega do Cartaxo, tem feito um esforço consistente na sua modernização tecnológica, na melhoria das instalações e um forte investimento tanto no acompanhamento da viticultura como nos processos enológicos. Sem descurar os seus valores tradicionais assentes em marcas históricas com forte implantação como o Bridão e Coudel Mor, às quais com o tempo foram adicionando upgrades como as categorias Reservas e Special Selection, os responsáveis da adega sentiram a necessidade de captar novos mercados e um outro perfil de consumidor, mais urbano e sofisticado, com vinhos que respondessem melhor a esses requisitos. É dentro desta estratégia que se insere o lançamento da nova marca Detalhe, nas suas versões branco e tinto. E a aposta não foi deixada ao acaso, o que se torna evidente nos cuidados especiais que rodearam a sua apresentação, onde a imagem global e a rotulagem dos Detalhes entregues à designer Rita Rivotti, alinha nesse desiderato.
O Detalhe branco 2021, feito a partir de uvas Verdelho e Sauvignon Blanc, fermentadas em barricas de 500 litros de carvalho francês e com um curto estágio de 4 meses com bâtonnage conjuga a intensidade aromática de notas tropicais do Sauvignon com a frescura e o nervo do Verdelho, resultando um conjunto bem afinado e de aceitação generalizada. Já o Detalhe tinto 2019, resulta de um lote de Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Syrah, Merlot e Cabernet Sauvignon. Beneficiou de 10 meses de estágio em barricas, completado com mais 9 meses em garrafa. Também aqui estamos muito longe da rusticidade com que alguns consumidores persistem em associar aos vinhos do Cartaxo. Pelo contrário, é também um vinho polido, equilibrado, com boa fruta, taninos domesticados em que o elevado grau alcoólico (15%) é contrabalançado pela sua frescura.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2023)
Quinta S. João Batista: Por terras do “Bairro”

Estamos em terras cheias de história, com vinhas de boa dimensão e no centro de um “condomínio aberto” de cegonhas que sobrevoam os vinhedos a todo o momento. Poderíamos ter tido a sorte de ver lebres (parece que há muitas, mas não se dignaram aparecer) mas as perdizes mostraram que a guarda do ninho é […]
Estamos em terras cheias de história, com vinhas de boa dimensão e no centro de um “condomínio aberto” de cegonhas que sobrevoam os vinhedos a todo o momento. Poderíamos ter tido a sorte de ver lebres (parece que há muitas, mas não se dignaram aparecer) mas as perdizes mostraram que a guarda do ninho é levada muito sério, apesar do ruído do comboio, cuja linha do Norte atravessa a quinta. Estamos então nas cercanias de Torres Novas, onde fica a quinta de S. João Batista. As primeiras referências remontam ao séc. XV, mas a história mais recente, para o tema que nos interessa, começa no séc. XIX quando aqui se criavam cavalos, burros e bois para exportação, na então chamada Quinta de Caniços. Em 1898 João Batista de Macedo comprou a Quinta dos Caniços e rebaptizou-a com o nome que mantém até hoje. Com negócios em S. Tomé, construiu aqui casa de traça colonial (já usada para gravações de novelas) e jardim de palmeiras que lhe lembravam a África longínqua. Na divisão do património, após a morte de viúva, em 1939, uma das três filhas ficou com esta quinta, tendo outra propriedade adoptado o nome original de Quinta de Caniços.
NA ZONA DO “BAIRRO”
A quinta tem 145ha de área e 125 de vinha. A casa, de bonita traça, mas em avançado estado de degradação, vai requerer renovação profunda. Seja para futuras novelas seja para projectos mais completos de enoturismo. A propriedade fica localizada perto da Reserva Natural do Paúl do Boquilobo e do rio Almonda, o que condiciona o clima da zona. A quinta está inserida na sub-região do Bairro, ou seja, terras a norte do rio Tejo, onde dominam solos argilo-calcários. Nesta quinta existem também parcelas de solos arenosos e de calhau rolado. A diversidade permite, assim, a localização específica de cada variedade de uva.
Com solos ricos e clima ameno, estão criadas as condições que facilitam a produção de vinhos de qualidade. Dispõe também de uma impressionante nave de barricas para estágio de vinhos — construída a partir de 1902 — ainda que os que ali estagiam não sejam desta quinta. A propriedade foi adquirida pelas Caves Dom Teodósio (integrada no grupo Enoport) em 1989.
A vinha já existia, mas, como nos diz João Vicêncio, o responsável da viticultura que nos conduz na visita à vinha, “o Castelão que cá havia era de clones excessivamente produtivos que facilmente geravam 16 a 18 toneladas de uva por hectare. As reconversões iniciaram-se em 2000 e agora dispomos de Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet, Syrah, Castelão.” Nos brancos há Fernão Pires, Chardonnay, Antão Vaz e Sauvignon Blanc e mantiveram-se algumas parcelas de vinhas velhas de Castelão, Trincadeira e Fernão Pires. O tiro na mouche, segundo João Vicêncio, “foi mesmo o Syrah, uma casta que se adaptou perfeitamente a estes solos e clima; o Fernão Pires, por exemplo, é aqui muito menos produtiva do que em Almeirim, é uva de bago pequeno e baixa produção, originando um branco diferente do habitual na região”.
Outra variedade que aqui mostrou boa adaptação foi a Alicante Bouschet que facilmente chega às 12 toneladas por hectare. Ao contrário do que é comum em quase todo o país, a casta Arinto parece menos bem-adaptada, é demasiado tardia. Já quanto ao Antão Vaz “ainda não temos opinião”, refere o viticólogo, “só agora vai começar a produzir; o Cabernet Sauvignon é muito bom mas curiosamente é o mais tardio em tudo (abrolhamento, pintor) mas o primeiro a ser vindimado. Até decisão em contrário, estas são as castas com que por aqui se vai continuar a trabalhar.” Quando, e se houver, alargamento da área de vinha, logo se verá, até porque a quinta ainda dispõe de uma pequena parcela de Marselan, casta introduzida em tempos pelo enólogo Osvaldo Amado.
AMIGA DO AMBIENTE
As práticas agrícolas são cada vez mais amigas do ambiente. Abandonaram os herbicidas, usam rega na vinha, só utilizam os produtos aconselhados numa reconversão para bio que vai agora no 2º ano. A zona é mais fustigada pelo míldio do que oídio e estão a usar também novas soluções (como óleo de laranja incorporado nos produtos para pulverizar a vinha) para combater afídios. A “intenção bio” choca, no entanto, com a legislação, uma vez que esta impede que uma empresa tenha parte em bio e parte em convencional, mesmo que em regiões diferentes. No caso da Enoport, e estando estas quintas muito longe entre si, não se pode ser bio em S. João Batista e convencional em Bucelas, por exemplo. Segundo a lei, num mesmo número de contribuinte ou é tudo bio ou não há certificação, não pode ser apenas parte. Vários produtores têm assim optado pela criação de novas empresas onde figurem apenas as parcelas bio.
A vindima é mecânica e o facto de a adega estar ao lado da vinha permite um ganho em termos de tempo de chegada das uvas à vinificação, além da possível vindima nocturna. Os terrenos planos desta zona do Tejo também ajudam.
Ainda que dispondo de algumas parcelas de vinhas velhas, não há uma comercialização de vinhos com aquela indicação, como nos diz Nuno Faria, o enólogo. Usam-se estes vinhos das vinhas mais antigas para completar os lotes. O futuro está em aberto, não só porque existem intenção de alargar a área da quinta com aquisições de parcelas contíguas, como o facto de terem castas que só agora se estão a começar a mostrar, haverá muito por escolher e decidir.
Dos vinhos que provámos há a salientar que o Grande Reserva branco está já esgotado na empresa e que a próxima edição será de 2020, a sair a todo o momento para o mercado. Também a nova edição do vinho de lote de Touriga Nacional/Cabernet Sauvignon espera pacientemente a decisão sobre o momento em que estará disponível para o público. O tinto Cabeça de Toiro, que já está engarrafado e até já foi premiado em concurso, irá para o mercado no final do Verão.
Um produto de grande tradição herdado do portefólio das Caves Dom Teodósio é a aguardente Fim de Século que continua a ser um destilado de sucesso que ainda corresponde a 70 000 garrafas/ano. As outras marcas que faziam parte do portefólio Dom Teodósio deixaram de ser usadas.
No Outono sairá uma edição especial que inclui um licoroso e uma aguardente velha de superior qualidade, da qual têm em stock 1900 litros certificados. A pensar no futuro deste produto de luxo foram enviados este ano 62 mil litros para destilar. Esperam receber cerca de 10 mil litros que depois envelhecerão longamente nas caves. Quando chegarem ao mercado, falaremos então com mais detalhe sobre estes dois novos produtos, mas a prova feita agora revelou-se bastante impressionante. Aguardemos pois.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2023)
Mirabilis: Nascidos no Douro, feitos com Mundo

Dez anos antes destes vinhos serem feitos, em 2011, nasciam os primeiros Mirabilis, fruto do “sonho de criar um branco fora de série e um tinto disruptivo para o Mundo”, relembra Luísa Amorim, “um Douro que não se prendesse aos muros da Quinta Nova ou exclusivamente à tradição da região, num perfil mais internacional”. Em […]
Dez anos antes destes vinhos serem feitos, em 2011, nasciam os primeiros Mirabilis, fruto do “sonho de criar um branco fora de série e um tinto disruptivo para o Mundo”, relembra Luísa Amorim, “um Douro que não se prendesse aos muros da Quinta Nova ou exclusivamente à tradição da região, num perfil mais internacional”.
Em Maio, no Depozito, espaço de artesanato tradicional e contemporâneo em Lisboa, foram lançadas as edições de 2021, que surgem hoje com mais maturidade do que as antecessoras, por várias razões: o branco sai com mais tempo de estágio, e o tinto com um perfil aprimorado na elegância e selecção ainda mais minuciosa das barricas. Luísa Amorim dá-nos uma perspectiva bastante humana do processo de criação: “Quando somos muito novos, achamos que o mundo vai acabar amanhã, que temos de pôr as coisas cá fora rapidamente para provar o que valemos. Hoje, estamos noutra fase da vida, com mais maturidade e sabedoria, com ainda mais certeza do que queremos. Ao mesmo tempo, temos de ser muito conscientes e certeiros, fazer os vinhos com cuidado, porque hoje as exigências do mercado são outras, e Portugal cresceu em qualidade”.
Para Ana Mota, responsável de viticultura da Quinta Nova, 2021 foi um ano difícil para a vinha, mas, por outro lado, tendo perícia para ultrapassar as dificuldades, acabou por ser, como diz a própria, “uma dádiva”. “Foi um ano vitícola bastante chuvoso, com temperaturas amenas, e por causa disto os fungos deram-nos muito trabalho, mas conseguimos, com cuidado, trazer boas uvas para adega. Foi preciso estarmos muito atentos à vinha. Na vindima, tivemos de ter muita paciência, por causa da chuva”, descortina Ana Mota. Quanto ao Mirabilis branco, Ana Mota revela, contente, “cada vez mais, temos os nossos viticultores parceiros, das uvas brancas, a querer continuar com o nosso projecto, o que nos dá estabilidade. Além disso, da colheita de 2022 teremos mais algumas garrafinhas do branco, porque conseguimos mais 1,3 hectares de uma vinha muito velha, com características para Mirabilis”.
A complementar a perspectiva da viticultura, Jorge Alves, director de enologia, também considera que 2021 foi um ano de excelência: “Foi magnífico por vários motivos, trouxe-nos vinhos brancos mais minerais, intensos e com uma acidez bastante cintilante. A vindima foi um pouco mais tardia, o que não tem mal nenhum, excepto a parte das borboletas no estômago com medo dos apodrecimentos, até porque as uvas tiveram tempo extra de maturação, o que é importante para a combinação final. Foi também um ano em que os equipamentos deram um jeito enorme, mesas de triagem e tapetes de escolha ajudaram-nos a criar estes vinhos de enorme pureza aromática e gustativa”, afirma o enólogo.
O Mirabilis branco 2021 tem origem em vinhas velhas de altitude, muito ricas em Gouveio e com algum Viosinho, entre outras castas. Fermenta e estagia em barricas de carvalho francês e húngaro de 300 litros, 80% das quais, novas, com bâtonnage quinzenal. “O estágio de um ano em garrafa adiciona-lhe textura”, acrescenta Jorge Alves. Já o Mirabilis tinto 2021 tem a sua génese numa vinha a 10 metros da adega da propriedade da família Amorim, e traduz-se num lote de Tinta Amarela, em grande percentagem, com vinha centenária. Vinificado sem engaço, estagia 12 meses em barrica nova de carvalho francês e 5 meses em garrafa. “Este é o vinho mais ‘afrancesado’ da Quinta Nova, muito vegetal, mentolado, texturado. Provavelmente, é o nosso tinto com mais tensão e nervo, que fica mais no final de boca e envelhece de forma muito subtil. É um projecto lindíssimo”, confessa o enólogo.
A equipa da Quinta Nova aproveitou, ainda, o momento de lançamento destes vinhos para anunciar algumas novidades ao nível da vinha e da adega. Além de novas plantações com castas mais adaptadas às alterações climáticas, e de ajustes na geometria da vinha para maior adaptação a máquinas, uma experiência inovadora com o objectivo de combater a seca que se tem verificado no Douro: “Não fossemos nós produtores de cortiça… fizemos, nas vinhas centenárias, uma descava profunda e estamos a colocar aí uma quantidade muito significativa de granulado de cortiça. A cortiça é isolante térmica, e consegue reter água e humidade no solo durante mais tempo. Com a água da chuva, incha e faz um efeito tampão, retendo a humidade”, avança Ana Mota. Luísa Amorim, por sua vez, levantou o pano ao projecto da nova adega, que se encontra já numa fase bastante avançada. “Apenas ficaram as paredes, não restou uma peça interior nem um pavimento. Tudo isto para virmos a ter ainda melhores vinhos”, garante a administradora. A vindima de 2023 já será feita nesta nova adega.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2023)
Cinco Moscatéis de Setúbal no top 10 do concurso Muscats du Monde

Os produtores de Moscatel de Setúbal Venâncio da Costa Lima, Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões e Bacalhôa Vinhos de Portugal voltaram a figurar no Top 10 do Concurso Internacional Muscats du Monde. A 23ª edição desta competição decorreu nos dias 20 e 21 de Junho, na localidade de Entre-Vignes, na região francesa de Occitânia. […]
Os produtores de Moscatel de Setúbal Venâncio da Costa Lima, Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões e Bacalhôa Vinhos de Portugal voltaram a figurar no Top 10 do Concurso Internacional Muscats du Monde. A 23ª edição desta competição decorreu nos dias 20 e 21 de Junho, na localidade de Entre-Vignes, na região francesa de Occitânia.
Durante os dois dias do concurso, foram provados 167 moscatéis oriundos de 17 países, por mais de 55 jurados internacionais, que atribuíram 55 medalhas, 29 de Ouro e 26 de Prata.
Destacam-se, ainda, as medalhas de Ouro da Casa Ermelinda Freitas, com o seu Moscatel Roxo de Setúbal 2010, e da Venâncio da Costa Lima, com o Rubrica Reserva Moscatel de Setúbal 10 Anos; e as medalhas de Prata da Venâncio da Costa Lima, com o Moscatel de Setúbal Reserva da Família 5 Anos, e da Adega Camolas, com o Moscatel de Setúbal Reserva Barrel Aged 2019.
Para o presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal, Henrique Soares, as distinções obtidas no Concurso Muscats du Monde são o reconhecimento das características naturais da região para a produção deste generoso: “O reconhecimento obtido no Concurso Internacional Muscats du Monde, a consistência e o número de medalhas obtidas ao longo dos últimos 15 anos, num concurso com esta dimensão e prestígio, têm tido grande importância para a Península de Setúbal e para a sua histórica Denominação de Origem (no ano em que se contam 116 anos da sua criação), afirmando de forma inequívoca a qualidade dos vinhos generosos que aqui se produzem há séculos e que estiveram na origem da demarcação da região em 1907”.
Muscats du Monde 2023 – Resultados Vinhos Península de Setúbal:
TOP 10 | Ouro – VENÂNCIO DA COSTA LIMA Moscatel de Setúbal Venâncio Costa Lima 2019
TOP 10 | Ouro – COOPERATIVA AGRÍCOLA SANTO ISIDRO DE PEGÕES Moscatel Roxo de Setúbal Contemporal 2013
TOP 10 | Ouro – BACALHÔA VINHOS DE PORTUGAL Moscatel de Setúbal Superior 20 anos 2000
TOP 10 | Ouro – COOPERATIVA AGRÍCOLA SANTO ISIDRO DE PEGÕES Moscatel Roxo de Setúbal Pingo Doce
Top 10 | Ouro – COOPERATIVA AGRÍCOLA SANTO ISIDRO DE PEGÕES Moscatel de Setúbal Pingo Doce
Ouro – CASA ERMELINDA FREITAS Moscatel Roxo de Setúbal Superior 2010
Ouro – VENÂNCIO DA COSTA LIMA Moscatel de Setúbal Rubrica 10 anos Reserva
Prata – VENÂNCIO DA COSTA LIMA Moscatel de Setúbal Reserva da Família 5 anos
Prata – CAMOLAS & MATOS Moscatel de Setúbal Adega Camolas Reserva Barrel Aged 2019
Grande Prova: Trás-os-Montes – A última fronteira

Trás-os-Montes é um território vitivinícola bem determinado no nordeste do nosso país, delimitado pelas cadeias montanhosas do Gerês, Cabreira, Alvão e Marão. Com Espanha a fazer fronteira a este e a norte, a região estende-se a noroeste até Montalegre e a sul até às cercanias de Alijó e Vila Real, ou seja, mesmo junto à […]
Trás-os-Montes é um território vitivinícola bem determinado no nordeste do nosso país, delimitado pelas cadeias montanhosas do Gerês, Cabreira, Alvão e Marão. Com Espanha a fazer fronteira a este e a norte, a região estende-se a noroeste até Montalegre e a sul até às cercanias de Alijó e Vila Real, ou seja, mesmo junto à Região Demarcada do Douro. Para lá de Miranda do Douro, ou seja, já do outro lado da fronteira, a região de Arribas (del Duero) está muito próxima, e a mais badalada Toro também não se dista muito.
Ainda em Espanha, mas agora a norte, encontramos as regiões de Monterrei, Valdeorras e a crescentemente cobiçada Bierzo. Não se estranha, portanto, que a tradição ibérica da viticultura e vinificação esteja bem implementada em Trás-os-Montes, lugar remoto e apaixonante, onde a natureza felizmente ainda impera. Prova disso são os magníficos lagares rupestres espalhados pela região, testemunhas dos tempos romanos e pré-romanos. Aliás, a este respeito, cumpre elogiar a recente certificação da produção de vinhos em Lagares Rupestres, sendo esta designação exclusiva para a região, existindo actualmente no mercado 5 vinhos produzidos por esta metodologia, devidamente certificados como tal. Contudo, apesar deste legado, a demarcação de Trás-os-Montes como DO de vinhos é recente.
Primeiro, em 1989, Valpaços, Planalto Mirandês e Chaves, foram reconhecidos como indicação de proveniência regulamentada. Depois, em 1997, foi criada a Comissão Vitivinícola Regional. Já no novo milénio, mais propriamente em 2006, surgiu o reconhecimento como DO, precisamente com os referidos 3 territórios como sub-regiões DOC (ou seja, Valpaços, Planalto Mirandês e Chaves) com ligeiros ajustes de áreas e circunscrições. Actualmente, são 10.000 hectares de vinha, num espaço onde, como nos confirmou Rui Cunha — enólogo na região há 25 anos, sempre no produtor Valle Pradinhos — o minifúndio ainda impera e as tradições na vinificação, com maior ou menor conservadorismo e até amadorismo, são a regra. Com efeito, falamos de apenas 1.100 hectares de vinha cadastrada e certificada para a produção da DO (inclui IG Transmontano), representando a actividade de nada menos que 3.000 viticultores e 4 adegas cooperativas, o que dá, naturalmente, uma média de vinha muito pequena por produtor.
A região produz maioritariamente vinhos tintos, sendo os brancos apenas 1/3 de todo o vinho produzido, e os rosés, tal como os espumantes e licorosos, practicamente residuais. As principais castas usadas para a sua produção, são, no caso das tintas que nos interessam mais para este texto, Tinta-Amarela, Bastardo, Touriga-Nacional, Tinta-Roriz e, com menor expressão, Tinta-Barroca e Tinta-Carvalha. Ainda para Rui Cunha, que conhece bem as sub-regiões de Valpaços e Planalto Mirandês, o desafio da região de Trás-os-Montes é esse mesmo: conseguir aproveitar o fantástico património vitícola de que dispõe, o que implica maior formação de todos os intervenientes e maior divulgação das suas particularidades. “O resto, ou seja, a excelência da matéria-prima, está lá” diz-nos orgulhosamente. Outro enólogo há muitos anos na região é Francisco Gonçalves, técnico que começou no Douro, mas que assessora agora diversos produtores em Trás-os-Montes, tendo inclusivamente escolhido a região, e Montalegre em particular, para fundar o seu projecto pessoal. Tal como Rui Cunha, concorda que a região tem um potencial impressionante, e que bastaria alguma modernização, na viticultura e enologia, para que rapidamente fosse mais reconhecida. Diz-nos mesmo que os vinhos brancos dos terroirs graníticos transmontanos mais frescos podem vir a ser dos melhores do país, mas isso ficará para outro texto, pois aqui falamos de tintos.
Comecemos, então, pela distinção mais tradicional da região de Trás-os-Montes, que é entre a ‘Terra Fria’ e a ‘Terra Quente’. Da primeira, em maior altitude (a vinha mais alta está plantada a uma cota de 1070m em Montalegre) e com verões mais temperados e frescos, fazem parte os concelhos situados ao longo da fronteira nordeste com Espanha (de Vinhais, Bragança, Vimioso, Miranda e Mogadouro), sendo Vidago um dos principais centros vinhateiros, excelente para vinhos frescos e com bastante acidez natural. A fama dos vinhos da sub-região de Chaves (inserida na ‘Terra Fria’), capazes de corrigir naturalmente (entenda-se: contribuir com acidez) vinhos de outras regiões é antiga, sobretudo em brancos e bases para espumantes. Na transição para a ‘Terra Quente’ encontramos Macedo de Cavaleiros, outro polo vinícola, que alberga o produtor Valle Pradinhos já referido. Com solos de natureza mais xistosa, altitudes que raramente ultrapassam os 500m, e com maior influência do vale do rio Douro, a ‘Terra Quente’ é caracterizada pelos verões escaldantes. Alguns dos mais relevantes concelhos que englobam a sub-região são Mirandela, Murça (parte), Vinhais, e o próprio Valpaços.
Mas outra distinção da região, diríamos menos tradicional, mas mais formal, é, precisamente, a divisão oficial em 3 sub-regiões: Valpaços, Planalto Mirandês e Chaves. Comecemos pela última. A noroeste, Chaves é a sub-região mais fresca, com um clima mais chuvoso e vinhas (verdadeiramente) em altitude, cujos solos tendencialmente graníticos propiciam perfis com mais acidez e elegância. Por sua vez, a sub-região de Valpaços é, como já referimos, marcada por elevadas temperaturas durante o verão, e um clima seco durante grande parte do ano, sobretudo nas terras com menor altitude, entre os 350-400 metros, terroirs marcadamente favoráveis a tintos com maturação elevada, com solos xistosos e afloramentos graníticos. Valpaços é, claramente, a sub-região que apresenta maior produtividade, reflexo das condições naturais e da área plantada, mas também da constante evolução da vitivinicultura da zona (renovação/restruturação de vinhas à cabeça), em grande parte por efeito das práticas das adegas modernas do Douro ‘ali ao lado’, aspecto ao qual voltaremos ainda neste texto. Por fim, temos o Planalto Mirandês, a sub-região com a continentalidade mais pronunciada, marcada a este pela geografia selvagem típica do rio Douro internacional, com solos maioritariamente xistosos. Com pouca chuva, quase nada nas terras quase desérticas na fronteira, predominam cotas altas entre os 750m e os 800m, sendo Miranda do Douro e Mogadouro os centros vínicos por excelência. O enólogo Paulo Nunes, que para o projecto Costa Boal faz um vinho neste território, confirma o calor diário nos meses estivais, mas salienta a frescura das noites mesmo no Verão, algo que não encontra, por exemplo, no vale do Douro. Por isso, diz-nos, a vindima nessa sub-região é sempre tardia, por vezes em Outubro, e os teores alcoólicos raramente ultrapassam os 13,5%.
Provados mais de 2 dezenas de vinhos, das 3 sub-regiões descritas, conseguimos retirar várias conclusões. Em primeiro lugar, que o modelo de tinto encorpado e com teor alcoólico acima dos 14% ainda predomina na região, sobretudo nos topos de gama. Muito deles provém da sub-região de Valpaços, o que se justifica pelas próprias condições naturais de maior calor e solos xistosos, mas também pela proximidade ao Douro. Essa proximidade trouxe, com efeito, um fenómeno de mimetização, bem presente no próprio encepamento (com as duas Tourigas à cabeça, mais Tinta Roriz e Tinta Barroca) e nas práticas enológicas iniciadas no final dos anos ’90 com os modernos tintos durienses. São vinhos ambiciosos, bem feitos e generosos no perfil intenso, mas que não se distinguem significativamente dos produzidos na região vizinha (e o consumidor que procura Douro vai certamente comprar Douro).
Por outro lado, encontrámos um perfil mais tradicional, com várias matizes rústicas, centradas em castas muito habituadas ao local — exemplo maior para a Tinta Amarela —, ainda que vindimadas, porventura, tardiamente, comprometendo a acidez natural que a região pode proporcionar. Em ambos os perfis, a longevidade dos vinhos é notável, sendo que os néctares mais antigos em prova — um da colheita de 2012, e dois de 2014 — se apresentam em grande forma, dificilmente reconhecidos como vinhos com “idade”… Por fim, provámos alguns vinhos cujo perfil mais facilmente a região pode produzir — assim nos confirmaram vários enólogos e produtores — e garantir sucesso para o futuro. Falamos de vinhos mais frescos, feitos a partir de uvas de vinhas velhas e a partir de castas pouco difundidas no restante país vitícola, mais a mais plantadas a uma altitude pouco comum. No modelo de vinho mais aberto e vivo, Vidago (na sub-região de Chaves) pode mesmo vir a ser, entre outros, um lugar-chave, sendo que dois dos vencedores da prova advém precisamente desse terroir fresco e único. O vinho Lés-a-Lés emerge de uma vinha velha, rodeada de pinheiros, “que cheira a caruma, e lembra o Dão”, diz-nos o enólogo Rui Lopes que assina o vinho juntamente com Jorge Rosa Santos. Não por acaso, parte das uvas do lote são Tinta-Pinheira e Baga… Outro vencedor é o Grande Reserva da Quinta de Arcossó, um vinho que sai da pena de Amílcar Salgado e Francisco Montenegro, e que é originado a partir de uma das vinhas mais bonitas e bem cuidadas da região, para não dizer do país.
À laia de conclusão, com uma dimensão significativa de vinhas velhas, e uma altitude pouco habitual no nosso país, solos de granito e xisto, a região tem tudo para se afirmar e liderar em mais do que um perfil, sem perder a noção de frescura com a qual pode triunfar sobre outras regiões. Acresce, que as suas condições naturais permitem uma expressiva agricultura integrada e até biológica, dado a média anual muito baixa de tratamentos. Com mais enólogos jovens a chegar à região, tudo aponta para um “futuro risonho”, como espera a enóloga Joana Pinhão (na Quinta Valle Madruga desde 2021). Joana não tem dúvidas que a grande heterogeneidade entre as 3 sub-regiões de Trás-os-Montes é uma virtude, dependendo do tipo de vinho que se pretende produzir, sendo que nesse mesmo sentido milita a opinião de Paulo Nunes. Também nós, pelos vinhos provados, não temos dúvidas da qualidade e originalidade da região, dois vectores que, como em todas as regiões, têm de ser permanentemente estimulados e trabalhados. Com condições excepcionais para a produção de vinhos, Trás-os-Montes tem tudo para vir a ser uma estrela entre os vinhos de Portugal.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2023)
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Encostas de Vassal
Tinto - 2019 -

De Sousa
Tinto - 2017 -

Galelo
Tinto - 2020 -

Vinha dos Mortos
Tinto - 2020 -

Villela Seca
Tinto - 2020 -

Terras do Mogadouro
Tinto - 2019 -

Terra Montana
Tinto - 2019 -

Quinta do Sobreiró de Cima Único
Tinto - 2015 -

Quinta do Poldrado
Tinto - 2017 -

Quinta das Corriças
Tinto - 2014 -

Palmeirim D’ Inglaterra
Tinto - 2019 -

Bago de Ouro Edição Limitada
Tinto - 2021 -

Quinta Valle Madruga
Tinto - 2021 -

Secret Spot
Tinto - 2014 -

Persistente
Tinto - 2017 -

Palácio dos Távoras
Tinto - 2019 -

Maria Gins Vinhas Velhas
Tinto - 2019 -

José Preto
Tinto - 2018 -

Head Rock
Tinto - 2015




























