Caves São João adquiridas por novos sócios

No passado mês de Fevereiro de 2022, a Caves São João – Sociedade dos Vinhos Irmãos Unidos, Lda — uma das mais antigas empresas da Bairrada, e a casa de espumantes mais antiga ainda em actividade, da região — foi adquirida por novos sócios: Fernando Sapinho, Nuno Ramos, Mário Mateus, Mário Vigário, Enrique Castiblanco e […]
No passado mês de Fevereiro de 2022, a Caves São João – Sociedade dos Vinhos Irmãos Unidos, Lda — uma das mais antigas empresas da Bairrada, e a casa de espumantes mais antiga ainda em actividade, da região — foi adquirida por novos sócios: Fernando Sapinho, Nuno Ramos, Mário Mateus, Mário Vigário, Enrique Castiblanco e Paulo Morgado. Da família fundadora, mantém-se uma parte representada por Rita Palma e por José Palma.
Segundo o comunicado enviado à imprensa pelas Caves São João, os novos sócios formam “um conjunto de amigos e empresários que partilham uma grande paixão pelo mundo dos vinhos e pela Bairrada”. O comunicado refere, ainda: “Todos nós acreditamos, proprietários novos e históricos, que a Bairrada será cada vez mais uma referência nas regiões vitivinícolas, quer a nível nacional, quer a nível internacional”.
Na estratégia para esta nova fase das Caves São João, serão mantidos os corpos gerentes, com destaque para Célia Aves, e os consultores de enologia e viticultura, José Carvalheira e António Selas, respectivamente. Também a restante equipa se manterá no projecto, integrando a aposta “nos vinhos antigos, nos espumantes, na Quinta do Poço do Lobo e nas marcas de referência Frei João (Bairrada) e Porta dos Cavaleiros (Dão)”, diz a São João.
Torres Vedras será palco do Concurso Mundial de Sauvignon

Nos dias 18 e 19 de Março, a 12ª edição do Concurso Mundial de Sauvignon terá lugar em Torres Vedras, onde um júri de 75 especialistas, de 25 países, avaliará vinhos Sauvignon Blanc de várias partes do Mundo. Na apresentação do concurso, que aconteceu no passado dia 8 de Março na Garrafeira Venceslau, Laura Rodrigues, […]
Nos dias 18 e 19 de Março, a 12ª edição do Concurso Mundial de Sauvignon terá lugar em Torres Vedras, onde um júri de 75 especialistas, de 25 países, avaliará vinhos Sauvignon Blanc de várias partes do Mundo.
Na apresentação do concurso, que aconteceu no passado dia 8 de Março na Garrafeira Venceslau, Laura Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras — entidade que, empenhada na promoção dos seus vinhos e da região, financiou o evento com uma participação de 70 mil euros — sublinhou que o concurso contará com “um painel muito significativo de pessoas e entidades internacionais ligadas àquilo que há de melhor no vinho, a revistas, institutos e empresas internacionais”. Já Quentin Havaux, director do Concurso Mundial de Sauvignon, acrescentou que “o júri será constituído por jornalistas, compradores, sommeliers e enólogos. São todos especialistas e todos trabalham, diariamente, na indústria do vinho”.
Por sua vez, Francisco Toscano Rico, presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa afirmou: “O Concurso Mundial de Sauvignon tem vários significados e importâncias. Por um lado, é o reconhecimento internacional de que há capacidade instalada e pessoas capazes de trazer um concurso desta dimensão e importância para Torres Vedras. O segundo ponto é que um concurso desta importância só vem para uma região que é de vinhos de excelência”.
A apresentação do 12º Concurso Mundial de Sauvignon terminou com uma prova de Sauvignon Blanc produzidos na região de Torres Vedras, conduzida por José Miguel Menezes de Almeida (CVR Lisboa), dos produtores Adega Cooperativa de Dois Portos, AdegaMãe, Quinta da Boa Esperança e Quinta da Folgorosa.
É da Sogevinus a primeira declaração de 2020 como ano Vintage

Para a Sogevinus Fine Wines, 2020 é ano Vintage Clássico para as suas quatro marcas: Kopke, Burmester, Cálem e Barros. Segundo a empresa, este que foi um ano de quebra na produção originou uvas com “uma maturação muito regular, uma excelente relação de película/polpa e um teor de açúcar elevado o que permitiu fermentações mais longas, […]
Para a Sogevinus Fine Wines, 2020 é ano Vintage Clássico para as suas quatro marcas: Kopke, Burmester, Cálem e Barros.
Segundo a empresa, este que foi um ano de quebra na produção originou uvas com “uma maturação muito regular, uma excelente relação de película/polpa e um teor de açúcar elevado o que permitiu fermentações mais longas, onde foi possível uma excelente extracção da matéria corante e dos taninos”, o que “resultou em quatro vinhos de qualidade excepcional”.
Carlos Alves, enólogo da Sogevinus, confessa: “A vindima de 2020 ficou marcada por uma série de adversidades que fizeram deste um dos anos mais desafiantes da minha carreira. Precoce e curta, esta foi uma vindima que superou todas as expectativas e a partir da qual acreditamos foi possível produzir vinhos de excelente qualidade. Diria que estamos perante um dos melhores anos para vinho do Porto Vintage, onde os vinhos apresentam aromas muito frescos e limpos, com uma concentração de cor tremenda e com um tanino muito refinado, o que confere muita elegância. Já na vindima, os aromas a fruta madura eram muito limpos e mantiveram-se assim durante este período de envelhecimento até decidirmos engarrafá-los como Vintage Clássicos”.
Os vinhos Porto Vintage 2020 com as marcas Kopke (PVP €60), Burmester (€55), Cálem (€50) e Barros (€45) estarão à venda a partir de Setembro deste ano, sendo que o Kopke e o Burmester sairão também em versão magnum, 1500ml, por €130 e €120, respectivamente.
Tintocão junta-se à Associação Pigmaleão na ajuda às famílias ucranianas

A loja de vinho Tintocão, em Oeiras, juntou-se à Associação Pigmaleão — Associação de Solidariedade Social sem fins lucrativos — para ajudar as famílias ucranianas, respondendo, por um lado, às suas necessidades mais urgentes nos campos de refugiados da Polónia e, por outro, fornecendo apoio às famílias ucranianas refugiadas em Portugal. No comunicado da Tintocão, pode ler-se: […]
A loja de vinho Tintocão, em Oeiras, juntou-se à Associação Pigmaleão — Associação de Solidariedade Social sem fins lucrativos — para ajudar as famílias ucranianas, respondendo, por um lado, às suas necessidades mais urgentes nos campos de refugiados da Polónia e, por outro, fornecendo apoio às famílias ucranianas refugiadas em Portugal.
No comunicado da Tintocão, pode ler-se:
“As crianças da Ucrânia, que estão ou estiveram expostas a riscos físicos e a problemas emocionais resultantes do conflito bélico vivido e da deslocação em massa, estão agora à mercê da fome e do frio. Face a este cenário extremo de sobrevivência, a Associação Pigmaleão, através da sua iniciativa de responsabilidade social, colocou em marcha o plano de Missão “Ajudar é Mudar”, que pretende enviar roupa de abrigo, calçado, comida e medicamentos.
A Pigmaleão lança assim uma campanha de receção de donativos e de voluntários para a referida ação, que consiste numa caravana de 3 camiões pesados cheios de bens essenciais que no imediato provenham os mais necessitados de saúde, forças e conforto mínimo. O destino é a Polónia.
Estamos a reunir em Oeiras, no Tintocão, os recursos que permitam ajudar as famílias e as crianças que precisam de apoio básico imediato, tanto nos campos de refugiados na Polónia, como as que estão ou venham a estar em Portugal. Iremos utilizar todas as nossas plataformas e meios para ajudar a fornecer recursos vitais às famílias carenciadas, alavancando doações com apoio de voluntários na nossa sede.”
Estes são os bens que podem ser entregues na loja Tintocão, na Praceta de Manica, 5A, 2780-022 Oeiras:
“Prevê-se que a caravana com este apoio rume à Polónia no dia 11, sexta-feira, pelo que os bens essenciais deverão ser entregues até quarta-feira, dia 9 de Março, no Tintocão. É possível acompanhar todo o percurso e a entrega dos bens nas redes sociais. Mais informação sobre a doação às vítimas da guerra na Ucrânia e como aderir ao trabalho voluntário no site da Pigmaleão.”
Manuel Pinheiro torna-se chairman do grupo Global Wines

A Global Wines — grupo vitivinícola português fundado em 1990, no Dão — acaba de anunciar que Manuel Pinheiro, presidente cessante da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, será o novo chairman do grupo e das empresas que este integra. Além de ter sido presidente da CVR dos Vinhos Verdes, Manuel Pinheiro — […]
A Global Wines — grupo vitivinícola português fundado em 1990, no Dão — acaba de anunciar que Manuel Pinheiro, presidente cessante da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, será o novo chairman do grupo e das empresas que este integra.
Além de ter sido presidente da CVR dos Vinhos Verdes, Manuel Pinheiro — de 55 anos, licenciado em Direito e pós-graduado em Administração e Lobbying pelo College of Europe — foi também presidente da ANDOVI (Associação Nacional das Denominações de Origem Vitivinícola Portuguesas) e vice-presidente do Conselho Europeu Interprofissional do Vinho.
Manuel Pinheiro assumirá as suas funções na Global Wines a partir de Abril de 2022.
Adega Mayor cria OR, uma marca de cosméticos à base de grainha de uva

Em parceria com a Âmbar Bio Cosméticos — empresa sediada na vila alentejana de Cabrela — a Adega Mayor acaba de lançar dois cremes hidratantes 100% naturais, um de mãos e outro de corpo, à base de óleo de grainha de uva, da nova marca OR. Com a criação desta linha de cosméticos, a Adega […]
Em parceria com a Âmbar Bio Cosméticos — empresa sediada na vila alentejana de Cabrela — a Adega Mayor acaba de lançar dois cremes hidratantes 100% naturais, um de mãos e outro de corpo, à base de óleo de grainha de uva, da nova marca OR.
Com a criação desta linha de cosméticos, a Adega Mayor — projecto vitivinícola do Grupo Nabeiro, situado em Campo Maior — “leva mais além o compromisso de cuidar da terra, regenerando os desperdícios resultantes da sua actividade”, refere o comunicado de imprensa.
Rita Nabeiro, CEO da Adega Mayor, declara: “Da natureza colhemos os melhores frutos, mas também colhemos ideias frescas que voltamos a plantar em novos hábitos. A criação da marca OR surge de uma forma muito natural, no sentido de nos desafiarmos a levar mais além o nosso compromisso com um futuro mais sustentável. Simbolicamente, as linhas simples da OR resultam da reutilização de parte da nossa marca e da ideia de um quadrado que vira círculo. (…) Então arriscámos, saímos da nossa zona de conforto e começamos hoje a construir uma narrativa diferenciadora, apresentando uma gama de produtos bio-cosméticos, com origem na utilização das grainhas que restam das uvas usadas na produção vinícola”.
Segundo a empresa, o creme de mãos OR é enriquecido com óleo de grainha de uva e manteiga de karité, rico em polifenóis, ácidos gordos e antioxidantes, nutrindo, protegendo e reparando as mãos sem deixar resíduo oleoso. “Ideal para regenerar a pele, protege a barreira cutânea das agressões externas e do aparecimento de radicais livres, responsáveis pelo seu envelhecimento precoce”. Por sua vez, o creme de corpo OR é composto essencialmente por óleo de grainha de uva e manteiga de karité, e é rico em polifenóis e antioxidantes, presentes em grande quantidade no óleo de grainha de uva. “Este creme de cuidado corporal, deixa a pele suave e luminosa ao longo de todo o dia. Com um leve aroma de notas cítricas de litsea cubeba, aroma reconfortante do ylang ylang e resina de benjoim, este cosmético deixa a pele delicadamente perfumada. De rápida absorção, hidrata profundamente, deixando a pele suave e luminosa”.
O creme de mãos (€9) e o de corpo (€15) da OR são produzidos artesanalmente no Alentejo, e encontram-se à venda no site da Adega Mayor.
Porto Tawny: Arte e conhecimento

Os vinhos que hoje aqui abordo são dos que mais tradição têm na região do Douro e na sua extensão, Vila Nova de Gaia. Eram estes Porto Tawny que sempre se reservavam para servir a visitas ilustres, para momentos de celebração. Hoje existem em todas as gamas, perfis e segmentos de preço, desde os mais […]
Os vinhos que hoje aqui abordo são dos que mais tradição têm na região do Douro e na sua extensão, Vila Nova de Gaia. Eram estes Porto Tawny que sempre se reservavam para servir a visitas ilustres, para momentos de celebração. Hoje existem em todas as gamas, perfis e segmentos de preço, desde os mais simples e acessíveis até aos néctares mais selectos, raros e caros. E todos passam por um minucioso processo de selecção, lotação e envelhecimento, até entrarem na garrafa.
Texto: João Paulo Martins
Fotos: DR
Sempre que se fala em Tawny e Ruby – as duas grandes famílias do vinho do Porto – vem à minha memória a frase que ouvi a Rolf, pai de Dirk Niepoort, e que conheci ainda aos comandos da empresa. Dizia ele que o Porto Vintage era o Rei e o Tawny (cuja tradução é aloirado) era o presidente da República. Não lhe sendo conhecidas inclinações monárquicas, esta frase de Rolf expressava as enormes diferenças que existem entre as duas famílias: o Vintage é uma dádiva da Natureza, uma vez que não está nas mãos do Homem comandar o clima, as chuvas, as maturações, o calor. Por isso, quando tudo corre bem temos um vintage, um presente que se aceita (ou não) mas que nos chega “caído do céu”. O tawny, ao contrário, é uma construção humana, é uma escolha, não é nada que se receba já feito, tem de ser criado. Com muitos vinhos em stock, é o enólogo (antigamente o provador) que selecciona, que decide o tempo de estágio, que elabora o lote com este ou aquele perfil.
No tawny juntam-se três artes complementares: a arte do lote, a arte da tanoaria e a arte do envelhecimento. Se recuarmos na história do Vinho do Porto encontramos um mapa muito bem definido da circulação do vinho que começava no Douro e acabava em Gaia. Os vinhos eram produzidos no Douro mas envelhecidos e estagiados em Vila Nova de Gaia onde, pela proximidade do mar, as condições de temperatura e humidade eram mais favoráveis à sua correcta evolução. Era aqui (em Gaia) que estavam os “exportadores”, era aqui que trabalhavam os “narizes” do Vinho do Porto. Lá longe, no Douro profundo, estavam os lavradores, os que faziam o vinho nos lagares e que depois vinham a Gaia no início do ano a seguir à vindima mostrar os seus vinhos e procurar comprador.

Este quadro (quase) nada tem a ver com a actualidade. Hoje há empresas de Gaia com armazéns no Douro onde envelhecem vinhos em perfeitas condições e as relações de produtor/comprador conhecem novas fórmulas. Mas, como escrevi há uns anos, em reportagem sobre os “provadores” enquanto profissão com tendência a desaparecer, havia em Gaia técnicos competentíssimos na arte da prova que nunca tinham ido ao Douro ou feito uma vindima. Eram dois mundos separados.
Hoje vamos falar dos tawnies. Eles existem desde a gama de entrada mais acessível em termos de preço – são os tawny sem outra designação – prolongam-se pelo tawny Reserva, os vinhos com indicação de idade – 10, 20, 30, 40 e 50 anos (esta uma categoria recém-criada), os Colheita e uma outra para os vinhos muito, muito velhos. O consumidor pode dizer que são muitas categorias e que é difícil orientar-se mas, sejamos justos, tem havido uma simplificação das indicações incluídas nos rótulos. Pense-se, só como exemplo, que durante décadas os vinhos com indicação de idade não a ostentavam no rótulo e só quem soubesse percebia exactamente o que estava a beber. Exemplo: um Duque de Bragança era um tawny da Ferreira, ponto. Depois é que ficámos a saber que era um 20 anos!
O ESTILO DA CASA
Com centenas ou mesmo, frequentemente, milhares de barricas à disposição, com toneis cheios, balseiros por todo o lado, cubas de inox e cimento, a tarefa do enólogo não se revela nada fácil. É preciso conhecer o stock, mantê-lo com saúde, fazer periodicamente correcções de aguardente e ter um quadro muito minucioso onde se registam as idades dos vinhos que estão disponíveis. É com este manancial de vinhos que se constrói então o lote final que se pretende. É preciso treino, muito treino de prova, é preciso dar tempo aos vinhos para que amadureçam é preciso depois ter noção de qual é o “estilo da casa”. Não é fácil definir exactamente o que é o perfil de cada marca, mas fique-se apenas com a ideia de que, com o mesmo stock, e para um vinho de determinada idade, o provador pode optar por um estilo mais leve ou mais pesado, mais vermelho ou mais “avelhado”, mais centrado na fruta viva ou nos frutos secos, com mais acidez ou mais açúcar.
Sempre houve um estilo próprio de cada uma das grandes casas do sector do Vinho do Porto e, não deixa de ser curioso que nas fusões onde alguns grupos – Sogevinus, Sogrape, Symington, Taylor’s –congregam várias antigas empresas, há a preocupação de manter o “estilo” que cada casa tinha, que era do agrado dos importadores e que tinha consumidores fiéis. É assim que um 10 anos Kopke é diferente de um Cálem (ambos Sogevinus) ou um 30 anos Offley não é semelhante ao Sandeman (ambos Sogrape).
Para esta prova escolhemos vinhos de quase todas as categorias Tawny, de Reserva até ao 40 anos e Colheita. Neste último grupo, centrei-me em vinhos Colheita já deste século. Sabe-se que várias empresas ainda têm, por exemplo, o Colheita 1937 em casco mas entendo ser mais razoável optar por vinhos mais acessíveis e facilmente disponíveis nas lojas especializadas.
Para a elaboração de tawnies das diferentes categorias, as empresas adquirem frequentemente vinhos no mercado: nas adegas cooperativas para os vinhos de entrada de gama e em produtores particulares que têm stocks de vinhos velhos para os vinhos com mais idade.
A ARTE DO LOTE
Os tawnies correntes não são tão fáceis de fazer como se poderia imaginar. Em primeiro lugar, a cor tawny, sempre um pouco mais aloirada, é difícil de conseguir quando as castas maioritariamente plantadas na região originam vinhos de cor intensa. Vinhos demasiado vermelhos não passarão na Câmara de Provadores. Por isso, como nos lembrou Ana Rosas (Ramos Pinto) é preciso escolher logo na vindima vinhos mais ligeiros, menos macerados, que depois, em casco, oxidam mais rapidamente. São também vinhos que levam muitas correcções para poderem ter o perfil desejado. Naturalmente que na categoria Reserva é mais fácil afinar a cor, pois estamos a falar de vinhos com uma média de 7 anos o que já ajuda também a que as cores se revelem com maior evolução. Vinhos mais ligeiros são mais fáceis de conseguir no Baixo Corgo do que no Douro Superior (que gera vinhos muito carregados de cor), por exemplo, e obriga a conhecer muito bem a região para saber onde ir buscar os vinhos para cada categoria.
Nas grandes casas, estas gamas de tawnies são feitas ao longo do ano conforme os pedidos do mercado. Há um modelo-base que serve para ser replicado sempre que for preciso. Os vinhos para se enquadrarem na categoria obrigam a muitas passagens a limpo e arejamento para se acelerar a oxidação. Para afinar a cor, Carlos Alves (Sogevinus) diz-nos que só com pouca extracção na vindima e com uvas brancas e tintas misturadas é que se conseguem vinhos mais abertos de cor que envelhecem mais rapidamente.
Os tawnies 10 anos são elaborados todos os anos e, frequentemente várias vezes por ano. Dessa forma, consegue-se que estejam sempre no mercado vinhos com mais frescura, o que não aconteceria se as quantidades colocadas fossem enormes e que demorariam depois muito tempo a serem renovadas. Aqui falamos sempre de um lote de vinhos que irá, em média, dos 8 aos 12 anos. As quantidades produzidas variam muito de casa para casa, em função da maior ou menor presença e visibilidade no mercado. A Ramos Pinto produz 60 000 garrafas/ano nesta categoria. No Vallado são cerca de 20 000 litros, comercializados em garrafa de ½ litro, onde entram vinhos entre os 7 e os 13 anos. Fazem um único lote por ano. Os vinhos são parcialmente guardados em madeira mas também em inox para assim se conseguir, no lote final, um bom balanço entre estrutura e frescura. Estes vinhos têm teores variados de doçura mas não se afastam muito dos 100/120 gramas açúcar por litro. Na categoria 10 anos há também muito abastecimento fora de portas, sobretudo em cooperativas.
OS TAWNY VELHOS
Já nos tawnies mais velhos as casas são muito ciosas dos seus stocks. Também adquirem fora, mas, por exemplo, o 20 anos da Ramos Pinto não pode aumentar de volume porque como é um vinho da Quinta do Bom Retiro, a propriedade não dá para mais. Na Sogevinus é também muito clara a distinção dos stocks que se destinam às várias marcas. A Kopke, por exemplo, inclui sempre vinhos mais estruturados que depois se combinam com lotes mais elegantes para fazer o vinho no modelo final, o tal que se quer fiel à marca e ao estilo da casa.
No caso dos vinhos mais velhos, quer o Vallado quer a Ramos Pinto vão muitas vezes ao mercado comprar a lavradores vinhos muito velhos. Mas, como nos diz Francisco Ferreira, do Vallado, “é cada vez mais difícil encontrar vinhos de muita qualidade, guardados e mantidos em boas condições”. Por vezes as quantidades adquiridas são mínimas o que leva a que, na Sogevinus, sejam usados micro barris de 20 ou 30 litros para guardar estas essências. De seguida estes vinhos adquiridos na lavoura têm de ser “educados” e trabalhados para poderem entrar em lotes finais. Quanto mais velhos os tawnies, mais trabalho de “alquimia” se pede/exige ao enólogo. Há vinhos que podem entrar com 1% no lote final e fazem toda a diferença. Ana Rosas conta-nos: para fazer um lote de tawny 30 anos começa-se a trabalhar nele 3 anos antes; parte-se de uma base do vinho anteriormente no mercado, põe-se num balseiro com outros vinhos de 24 a 27 anos de idade e alguns bem mais velhos. No segundo ano passa para cascos (cerca de 10 cascos) e começa-se então a adicionar pequenas quantidades de vinhos muito velhos. No terceiro ano leva então os toques finais a conta-gotas. Numa barrica de 660 litros pode levar, por exemplo, 2,4 litros de um vinho com mais de 100 anos. “Nem se imagina a diferença que fazem essas pequenas quantidades no lote final”, diz-nos.
Os tawny 30 e 40 anos são engarrafados em quantidades muito pequenas. Mesmo empresas grandes, como a Sandeman, só engarrafam uma pipa por ano do seu 40 anos. São vinhos naturalmente caros mas que, pela enorme classe que apresentam e pelos anos de stockagem que exisgem, têm um preço muito ajustado. No caso dos brancos velhos, a palavra tawny não é aplicável por uma mera razão jurídico/burocrática: não está previsto na lei que se apelidem tawnies os brancos velhos, apenas os tintos têm direito ao designativo. Logo que se mude a lei, tudo poderá ser diferente…
Na prova que fizemos foi surpreendente a qualidade em todas as categorias (mais surpreendente nas mais baixas, naturalmente) e os consumidores ficam com um leque de escolhas muito interessante. Não ficam com obra de Deus, têm de se contentar com obra dos Homens. E que obra!
O CARÁCTER DOS COLHEITA
O Porto Colheita, diferentemente do Tawny, é um vinho elaborado a partir de uma só vindima e que passa, no mínimo, 7 anos em casco. Tem por isso um carácter muito próprio, que reflecte integralmente as características do ano em que nasceu. Recentemente, a legislação alterou-se e favoreceu muitos produtores que tinham vinhos em casa mas que não podiam declarar Colheita. Expliquemo-nos: até 2020, os lotes destinados a Colheita, e que só podiam ser comercializados após 7 anos de casco, tinham uma conta corrente própria para Colheita, onde a empresa ia dando baixa à medida que ia engarrafando. Por norma e tradição, cada empresa coloca uma certa quantidade no mercado com engarrafamentos anuais. É por esta razão que é sempre conveniente tomar em atenção a data indicada na garrafa. Se dizemos que há ainda 1937 no casco, podemos imaginar que existirão no mercado 30 ou 40 engarrafamentos diferentes do 37, feitos em anos diferentes e portanto, com diferentes idades de casco e diferentes características. Não restam dúvidas: o que foi engarrafado mais recentemente é incomparavelmente melhor do que o outro que, sendo da mesma Colheita, foi colocado na garrafa há 20 anos.

A modificação que entretanto se operou na lei, permite que, desde que os produtores/empresas tenham vinhos de um determinado ano em conta corrente, possam engarrafar um Colheita. Deixa assim de haver uma conta específica para esta categoria o que, acredita Carlos Alves, vai fazer com que comece a surgir mais Porto Colheita no mercado.
A mais recente proposta de modificação (ainda não aprovada no Instituto do Vinho do Douro e do Porto à data da escrita deste trabalho) assenta na criação de duas novas categorias de Tawny: “50 anos” e “Very, Very Old” para tawnies com mais de 80 anos. Muito provavelmente, isso significará que os tawny 40 anos deixarão de exibir no rótulo “Over 40 years” ou “+ de 40 anos” como até aqui.
Independentemente, da categoria onde se insere, o Porto Tawny é um vinho que espelha, talvez como nenhum outro, o trabalho dos profissionais do sector, no Douro ou em Gaia, e o seu profundo conhecimento e talento. Uma arte, portanto.
Guardar e servir
Todos estes vinhos, independentemente da idade, correspondem a lotes com maior ou menor oxidação. Por essa razão estes vinhos não precisam de ser conservados deitados em nossas casas. O conselho básico é, assim, a conservação das garrafas ao alto. Nunca se deve esperar uma evidente evolução destes vinhos na garrafa. A evolução pode acontecer (nomeadamente o aparecimento daquele misterioso e difícil de definir “cheiro a garrafa”) mas o mais habitual é os vinhos perderem frescura e ficarem cansados com muitos anos de garrafa.
Todos estes vinhos são filtrados antes do engarrafamento, o que facilita o manuseamento da garrafa e não obriga a decantação prévia. No entanto há aqui dois casos a considerar: o gosto pessoal de ver um bom tawny num bonito decanter é razão mais que suficiente para se decantar o vinho; depois, caso a garrafa de tawny tenha já muitos anos (aquelas das heranças ou compradas em leilão) acabará sempre por gerar depósito no fundo da garrafa e por isso é conveniente, com muito cuidado, decantar previamente o vinho.
A indicação da data do engarrafamento que vem na garrafa é uma ajuda; deverá sempre comprar os engarrafamentos mais recentes. Mas atenção: ela só é obrigatória nos Colheita; nos outros tawnies pode, ou não, vir indicada.
A temperatura de serviço aconselhada é “ligeiramente refrescado” uma vez que a doçura e o álcool do vinho tende a torná-lo um pouco mais pesado. O melhor será colocar a garrafa no frio uma hora antes de servir. Se for para ir bebendo ao longo do serão, então um balde de água com algumas pedras de gelo será o suficiente para manter o Porto no seu ponto certo.
(Artigo publicado na edição de Janeiro 2022)
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Casa da Passarella: Novidades da Serra

Na Casa da Passarella já nos habituámos a assistir a uma busca constante de formas de conservação do património, seja pela busca de vinhas velhas, seja pela recuperação de castas antigas. Aqui relatamos mais um episódio. Texto: João Paulo Martins Fotos: O Abrigo da Passarella Paulo Nunes é o porta-voz da quinta e da empresa, […]
Na Casa da Passarella já nos habituámos a assistir a uma busca constante de formas de conservação do património, seja pela busca de vinhas velhas, seja pela recuperação de castas antigas. Aqui relatamos mais um episódio.
Texto: João Paulo Martins
Fotos: O Abrigo da Passarella
Paulo Nunes é o porta-voz da quinta e da empresa, é por ele que vamos sabendo das novidades e dos rumos que se estão a traçar nesta propriedade emblemática e muito antiga da região do Dão. Ali, além das castas que melhor caracterizam o Dão temos também outras de que ouvimos agora falar e que, ou estavam quase enterradas, ou há muito que deixaram de estar em palco, nas luzes da ribalta.
A prova desta vez iniciou-se com um branco que se tornou um caso de sucesso na empresa. Referimo-nos ao O Fugitivo Encruzado, um vinho que desde a primeira edição, em 2010, ainda nunca falhou qualquer ano e, nas palavra de Paulo Nunes, “parece um relógio suíço», uma vez que ainda que tenha comportamentos diferentes nas várias sub-regiões, a casta Encruzado, tem sempre um comportamento regular e consistente em todas as zonas do Dão. A casta precisa de acompanhamento, na gestão da canópia e na carga de cada cepa mas consegue produzir regularmente. Assim, não se estranha que tenham começado em 2010 com 2000 garrafas e agora estejam a produzir 20 000. É um vinho de grande sucesso junto do público, esgotando-se em 6 meses. Este é “um vinho de uvas, não de parcelas”, querendo Paulo dizer que vão à procuras das uvas que precisam, não vão escolher para fazer um “vinho de uma vinha”. Aqui entram uvas de diversas vinhas com idades dos 12 aos 50 anos. A fermentação decorre em barricas de 500 litros, das quais 25% novas. O vinho estagia depois em barricas ou cuba até Maio do ano seguinte. O Encruzado tem também crescido à custa de outras variedades: Paulo Nunes tem feito reenxertias e substituído a casta Bical porque esta se tem mostrado especialmente sensível às alterações climáticas.
O vinho feito com Uva Cão (a uva que guarda a vinha!) corresponde apenas a 1300 garrafas mas a intenção é estender a vinha até aos 6 ha. A uva é especialmente indicada para os novos tempos que se aproximam porque a elevadíssima acidez que apresenta será muito útil em lotes com outras variedades. O mosto é vinificado em cuba de cimento e tem depois estágio sobre borras totais em barricas usadas; esta prática, associada à curtimenta, ajudam, diz o enólogo, a aligeirar a sensação da acidez, o que a prova confirmou.
O vinho de Tinta Pinheira traz consigo uma carga de novidade; por um lado a casta é muito antiga na região mas foi durante muito tempo desprezada por gerar vinhos com pouca cor. Paulo confessa que “é uma casta que expressa muito bem o carácter do Dão” e, também por isso, plantaram mais um hectare no último ano. Foi feito em lagar com engaço parcial e gerou 3300 garrafas.

O branco Vinha do Províncio (3000 garrafas) resulta de um lote de várias castas e a fermentação inicia-se com curtimenta em barrica usada e termina depois em balseiros de 2500 litros. Foi feito em 2012 e as castas são sempre as mesmas. A vinha, com 50 anos, obriga a duas vindimas separadas porque as brancas estão misturadas na vinha com as uvas tintas.
O tinto Vinha Centenária Pai d’Aviz (2600 garrafas) inclui muitas castas tintas, algumas antigas mas raras como a Alvarelhão, Tinta Carvalha, Tinta Pinheira e Tinta Amarela. Tem origem em pequenas parcelas de vários proprietários, algumas entretanto compradas. Feito em lagar com engaço total, termina depois a fermentação em grandes balseiros. A partir desta colheita passará a chamar-se Pai d’Aviz.
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2022)
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