França anuncia criação de quatro novas castas

Chamam-se Floreal, Voltis, Artaban e Vidoc – e são as quatro novas castas criadas em França, ao cabo de 18 anos de investigação. Segundo o Instituto Nacional de Investigação Agrícola (INRA, na sigla francesa), as novas variedades, duas brancas e duas tintas, são resistentes a duas das principais doenças da vinha: o míldio e o […]
Chamam-se Floreal, Voltis, Artaban e Vidoc – e são as quatro novas castas criadas em França, ao cabo de 18 anos de investigação. Segundo o Instituto Nacional de Investigação Agrícola (INRA, na sigla francesa), as novas variedades, duas brancas e duas tintas, são resistentes a duas das principais doenças da vinha: o míldio e o oídio.
Por dispensarem muitos dos actuais tratamentos, estas novas castas “trazem consigo a promessa de uma revolução verde na vinha”, afirmou Christophe Schneider, investigador-chefe do INRA Grand Est-Colmar, citado pelo site French Tribune. A França é o maior utilizador europeu de pesticidas e a vitivinicultura é o sector que mais recorre a estes produtos.
As novas variedades serão plantadas em cerca de seis hectares já este ano e há planos para alargar a mais outros 100 na campanha de 2019. Segundo os investigadores, a Floreal é uma casta branca com “notas a frutos exóticos”, a Voltis pertence à “família dos brancos sedosos”, Vidoc é um tinto “robusto” e Artaban dá origem a vinhos “leves e frutados”.
Comprar vinho no produtor

As visitas a quintas são a melhor forma de ficarmos a conhecer o ambiente e as caras que estão por trás dos vinhos que apreciamos, ajudando-nos a contextualizá-los quando os bebemos. E podem ser igualmente uma boa oportunidade para fazer compras… TEXTO João Gonzalez Casa Nova FOTOS Ricardo Palma Veiga TODOS os meses a […]
As visitas a quintas são a melhor forma de ficarmos a conhecer o ambiente e as caras que estão por trás dos vinhos que apreciamos, ajudando-nos a contextualizá-los quando os bebemos. E podem ser igualmente uma boa oportunidade para fazer compras…
TEXTO João Gonzalez Casa Nova FOTOS Ricardo Palma Veiga
TODOS os meses a Grandes Escolhas leva-nos a conhecer várias quintas numa espécie de enoturismo jornalístico. Mas o enoturismo é muito menos selectivo do que aparenta, especialmente pelo aspecto luxuoso de algumas quintas e herdades. Na verdade, qualquer pessoa pode visitar as quintas e será recebido sempre com a mesma atenção e dedicação, não sendo um pré-requisito reconhecer as castas só de olhar para as folhas, ou saber o nome dos processos de fermentação. Em alguns produtores cobram-se visitas, mas anda quase sempre abaixo dos 10 euros, já com provas incluídas e com um recital de enologia, história e estórias de cada propriedade específica.
A minha primeira visita a um produtor ocorreu no Alentejo, na região de Estremoz. Na verdade, a visita começou 60 km, quando comecei a ver vinhas e mais vinhas, umas atrás das outras, numa imensidão interminável de hectares com vinha que ia alternando com o típico prado e chaparral alentejano. Estremoz vai-se aproximando e as adegas sucedem-se, uma concentração de produtores que me fez invejar os amantes de vinho da região. Toneladas de uvas a começar a ganhar cor, a escassos meses da vindima e várias as oportunidades para parar e entrar num produtor, à portuguesa, sem aviso.
Mas eu tento ser pouco português, aparecendo apenas com marcação e com a certeza que serei recebido num bom momento. Assim, com a devida antecedência combinei com um produtor, explicando que seria o meu batismo. Entramos e a simpatia foi enorme, foi-nos explicado tudo o que questionamos e muito mais. Os diferentes passos, as escolhas tomadas ao longo do processo, a estratégia comercial para o futuro e os vinhos em geral. Falámos da minha garrafeira e fiquei convencido que este seria o local ideal para a “abastecer” com um vinho tinto de topo da vindima de 2011 que já tinha bebido em diferentes contextos. Surpreendeu-me a atenção do produtor, que me ofereceu a garrafa em questão como lembrança desta minha estreia num enoturismo, algo que me comoveu.
Um vinho deve dizer tanto sobre o produtor como sobre nós próprios
Passado uns tempos, visitei um micro-produtor duriense que conheci num evento organizado por um blogue e que me tinha cativado pelo seu conceito. Esta é uma das magias do mundo do vinho. Micro-produtores, com processos altamente artesanais, conseguem ser tão cativantes quanto produtores de média ou grande dimensão, produzindo com grande qualidade e, por vezes, com preços bem dentro da minha carteira.
Depois desta visita ao Douro fiquei mais esclarecido quanto ao que quero fazer relativamente à minha garrafeira particular. Não vou apenas procurar um bom vinho, com bom preço. Vou também procurar projectos que me cativem pela sua energia, pelo seu dinamismo ou pelo conceito. Um vinho guardado deve dizer tanto sobre o produtor como sobre nós próprios. Quando sirvo um vinho com 5, 8, 10 anos a um convidado quero poder contar a estória do vinho, valorizando assim a experiência. Vou, assim, dedicar mais tempo a descobrir pequenos projectos cativantes que façam do vinho da minha garrafeira o centro das atenções e que me permitam sorrir de cada vez que abro uma garrafa. Vou provavelmente ter menos produtores do que esperava inicialmente, ou menos vinhos mainstream, mas mais vinhos do mesmo produtor e potencial para provas verticais, dentro de uns anos.
Cristal by Roederer

Um champanhe que virou mito, um vinho de outra galáxia. E muito por causa de um czar russo com manias. TEXTO João Paulo Martins FOTOS DR TODAS as grandes casas que operam em Champagne têm a sua Cuvée de prestígio. São sempre vinhos de edições ocasionais, muito dependentes da qualidade do ano, ou seja, […]
Um champanhe que virou mito, um vinho de outra galáxia. E muito por causa de um czar russo com manias.
TEXTO João Paulo Martins FOTOS DR
TODAS as grandes casas que operam em Champagne têm a sua Cuvée de prestígio. São sempre vinhos de edições ocasionais, muito dependentes da qualidade do ano, ou seja, das vicissitudes do clima. A região é fria, está sujeita a variações significativas, que podem ir desde geadas até chuva nas vindimas e isso determina a qualidade dos vinhos que se podem obter. Ainda assim, e porque a região se estende por uma área muito grande, é possível encontrar vinhos que podem integrar uma cuvée que se pretende de luxo.
Sem ser norma, podemos dizer que três a quatro vezes por década saem para o mercado estes vinhos, verdadeiros topos de gama, embaixadores do estilo de cada uma das casas, melhor dizendo, de cada uma das 300 casas produtoras que, entre si, representam 72% da produção e 87% da exportação da região. O resto do negócio está a cargo dos produtores/ engarrafadores e cooperativas.
Na casa Louis Roederer ganhou prestígio, ainda no séc. XIX, a cuvée Cristal, um champanhe feio com Pinot Noir e Chardonnay. A fama chegou através da Rússia e ainda estávamos na segunda metade do século. Foi a gosto do czar Alexandre II, amante dos champanhes Roederer, que em 1876 se fez a garrafa, então em cristal, algo que a casa champanhesa encomendou a um artesão flamengo. Por imposição do czar, que gostaria de ter algo de facto original, a garrafa deveria ser transparente para ele se certificar de que nenhum objecto explosivo poderia ser colocado dentro da botelha, o que poderia acontecer caso esta fosse de cor. Medos de ricos…
Como se imagina a festa durou até durarem os Romanov, que foram executados aquando da revolução de Outubro de 1917. A marca ficou então em suspenso, regressou em 1924 mas, de facto, foi só a partir de 1945 que passou a ter uma edição comercializável. Continuou com vidro branco (agora já não em cristal), com fundo plano e passou a ser envolta em papel celofane amarelo para proteger o líquido do efeito dos raios UV. Chegou assim até aos nossos dias e o nome Cristal ficou sempre associado a um champanhe de prestígio. Dele se fazem entre 300.000 e 400.000 garrafas e, desde 1974, também em rosé, algo ainda mais exclusivo e muito mais caro.
O perfil do vinho é que mudou tremendamente, uma vez que os czares gostavam dele doce e a dosagem excedia sempre os 100gr de açúcar por litro. Agora não ultrapassará os 8 gramas/litro.
Superiormente delicado, é sempre um champanhe que brilha nas alturas, onde encontramos tudo o que de bom as frutas brancas, as notas de brioche, os toques calcários e minerais e as flores brancas têm para oferecer. Os 6 a 8 anos de cave antes do dégorgement contribuem para a finura da bolha e para o requinte da prova. Subscrevo aqui o que o jornalista David Lopes Ramos um dia disse: se fosse rico, bebia uma garrafa destas por dia! Sábias palavras. Assino por baixo, sabendo que teria de ter €179 por dia para dar pela cuvée 2009, actualmente no mercado.
Touriga Nacional, um tesouro português

Touriga Nacional é a casta mais conhecida e celebrada de Portugal. Possui um pedigree nobre, é uma uva com carácter e desempenha papel vital nos lotes de alguns dos melhores vinhos portugueses. E, além disso, também é capaz de produzir vinhos varietais excelentes. TEXTO Dirceu Vianna Junior MW FOTOS Ricardo Palma Veiga APESAR de […]
Touriga Nacional é a casta mais conhecida e celebrada de Portugal. Possui um pedigree nobre, é uma uva com carácter e desempenha papel vital nos lotes de alguns dos melhores vinhos portugueses. E, além disso, também é capaz de produzir vinhos varietais excelentes.
TEXTO Dirceu Vianna Junior MW FOTOS Ricardo Palma Veiga
APESAR de ser uma casta portuguesa emblemática, a Touriga Nacional plantou as suas raízes em vários cantos do mundo, incluindo Priorato, Califórnia, Washington State e Virgínia. Na Nova Zelândia, Trinity Hill elabora um bom exemplar. Na África do Sul, pode ser encontrado em Allesverloren, Boplaas e De Krans. Em Barossa Valley, na Austrália, St Hallet estabeleceu os seus primeiros vinhedos de Touriga Nacional em 1976 e conseguiu resultados tão impressionantes que após a vindima um dos enólogos visitantes decidiu levar mudas para sua terra natal em Hunter Valley. Foi uma decisão certa, pois recentemente ganhou um troféu no Sydney Wine Show com um lote de Touriga Nacional e Shiraz.
Do outro lado do mundo, um dos melhores exemplos da Argentina vem da empresa Vinalba, onde o francês Hervé Joyaux Fabre uniu forças com o português Rui Reguinga. Viñalba 2013 ‘Cuvée Couture’, um lote de Malbec e Touriga Nacional, é excepcional. O aroma é convidativo, com notas de amoras, bergamotas e ervas mediterrâneas secas. Na boca conta com frutas negras maduras e sumarentas, taninos finos e um final de boca persistente. Um dos melhores exemplos de Touriga Nacional que eu já provei fora de Portugal. Ao contrário, Familia Zuccardi recentemente decidiu arrancar uma parcela de Touriga Nacional que tinha no sul de Mendoza. Sebastian Zuccardi explicou que as videiras expostas à humidade excessiva sucumbiam a doenças demasiadas vezes para serem comercialmente viáveis.
Há também plantações de Touriga Nacional nos vinhedos de altitude em Santa Catarina, Brasil, na Quinta da Neve. Anselmo Mendes, responsável pela supervisão do projeto, descreve Touriga Nacional de excelente qualidade com elegantes aromas florais que relembram o Dão e um perfil de frutas escuras semelhante ao Douro. Átila Zavarize, o enólogo residente, admira a casta apesar da sua sensibilidade ao míldio, antracnose e botrytis devido ao clima mais húmido. Segundo Átila, que actua sob orientação de Anselmo Mendes, a proposta buscar um estilo de vinho de média guarda, corpo médio, elegante com boa intensidade de fruta e aromas delicados, incluindo um leve floral.
A colheita atípica de 2003 fez com que os produtores na França levassem mais a sério a ameaça das mudanças climáticas. Por esse motivo o Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola (INRA), apoiado pelo Conselho Interprofissional dos Vinhos de Bordéus (CIVB), iniciou uma pesquisa plantando dezenas de castas adaptáveis a um clima mais quente, incluindo Touriga Nacional. Talvez seja cedo demais para especular se a casta poderia ser usada no futuro num lote bordalês, mas isso não é de todo inconcebível. Como exemplo, uma casta já esquecida há tempo chamada Gros Verdot compôs parte do lote de Chateaux Lafite da colheita de 1868; e antes de 1850 não era incomum encontrar castas como Alicante e Bénicarlo em lotes de Bordéus. Isso demonstra que às vezes as coisas precisam de evoluir para sobreviver.
Salva da extinção
De volta a Portugal, onde tudo começou, a Touriga Nacional foi classificada por Lobo e caracterizada por Fonseca já em 1790 em conexão às sub-regiões do Douro e Beiras, embora muitos sustentem que sua origem está no Dão, onde mostra alta diversidade morfológica. Quem defende essa tese cita a aldeia de Tourigo, distrito de Viseu, entre Santa Comba Dão e Tondela, onde alguns acreditam que o nome da casta se originou. Independentemente da sua origem, já era considerada progenitora dos melhores vinhos de Portugal há mais de século, conforme atestado pelo autor Villa Maior em 1870.
Durante o século XIX, a Touriga Nacional era responsável por 100% dos vinhos tintos do Dão e as plantações caíram dramaticamente para apenas 5% nos meados do século 20. O principal motivo dessa queda foi o desafio comercial devido ao baixo rendimento da planta, um fator que foi ampliado pelo uso de porta- enxertos inadequados, usados para replantar vinhedos após o ataque da filoxera. No vale do Douro, as plantações tornaram-se praticamente extintas, atingindo uma figura microscópica de apenas 0,1% dos encepamentos na década de 1970.
Antonio Graça, responsável pela área de Pesquisa e Desenvolvimento da Sogrape e uma autoridade no que diz respeito à diversidade das castas portuguesas, explica que a casta foi salva da extinção por um grupo de profissionais locais, incluindo Luís Carneiro, Nuno Magalhães, José Eduardo Eiras e Antero Martins, actual presidente da PORVID, Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira. O grupo estava muito preocupado com o iminente desaparecimento da Touriga Nacional.
Naquela época, não era incomum videiras produzirem menos de 0,8kg e o principal objetivo era obter volume maior de produção e melhorar a viabilidade comercial. O trabalho começou na década de 1970 e durou até à década de 1990, quando pesquisadores conseguiram determinar material genético capaz de produzir, em alguns casos, cerca de 1,5 kg por planta. Com a missão cumprida, a Touriga Nacional recuperou sua área plantada, inicialmente no Cima Corgo, no Douro Superior e depois migrando para outras partes do país.
Hoje existe uma incrível riqueza de clones de Touriga Nacional. Numa vinha experimental da Quinta da Leda existem 197 clones distintos da casta, embora o interesse comercial seja focado num pequeno grupo com menos de 15 clones. Devido à seleção clonal feita no passado em busca de maior rendimento, acredito que é provável que material de altíssima qualidade tenha sido esquecido. Pelo menos o património genético foi conservado e a oportunidade de realizar uma nova seleção buscando pura e simplesmente qualidade ainda é ainda plausível.
Antonio Graça é a favor de que produtores plantem uma seleção dos melhores clones para terem uma certa diversidade e obterem melhores resultados. José Lourenço, da Quinta dos Roques, revela que o material utilizado para o vinho varietal da quinta provém de uma parcela plantada usando uma combinação de clones e acredita que, além de conferir bom caráter varietal, isso ajuda diminuir a ameaça de doenças. No entanto, existem parcelas antigas plantadas há cerca de 40 anos onde foi usada seleção massal e esse componente é destinado para a gama reserva da Quinta.
A Touriga Nacional origina melhores resultados quando é combinada com porta-enxertos de baixo rendimento e a escolha exacta dependerá das condições locais. Por exemplo, no Douro Superior os porta-enxertos Castel 196-17, Richter 110 e Paulsen 1103 parecem ser mais adequados às condições locais, segundo António Graça.
De acordo com os números mais recentes publicados pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), a Touriga Nacional é a quinta casta mais plantada em Portugal, com 13.168 ha. O Douro lidera as plantações com 4.975ha, seguido de Dão (3.985ha) e Alentejo (1.561ha).
Expressar o terroir
A Touriga Nacional tem cachos moderadamente compactos, pequenos, pesando tipicamente um pouco mais de 100 gramas, embora alguns possam atingir até 250 gramas. Os bagos apresentam uma pele espessa e a casta adapta-se a diversas condições climáticas. Prefere lugares com alta incidência solar e calor, embora o excesso possa levar à seca, resultando em queimaduras e perda prematura de folhas. A casta é vigorosa e o excesso de vigor resulta em porte prostrado que por sua vez pode sofrer com excesso de vento, resultando em danos físicos à planta. Embora na região de Lisboa, de clima fresco e atlântico, de acordo com Sandra Tavares, enóloga responsável na Quinta de Chocapalha, a casta se tenha adaptado muito bem e uma das suas vantagens é não se apresentar muito vigorosa, sendo possível atingir excelente equilíbrio e qualidade.
As questões de baixos rendimentos são exacerbadas devido a tendência para o desavinho e a bagoinha, apesar de os clones actuais ajudarem a reduzir esses fenómenos. A planta também é suscetível ao oídio. A variedade tende a brotar e florar precocemente, o pintor acontece em época média e o amadurecimento ocorre tarde, sendo no Douro uma das últimas a ser vindimada. O longo ciclo pode ser um problema em áreas como o Dão. De acordo com José Lourenço, da Quinta dos Roques, as videiras podem ser expostas à geada no início do ciclo e podem ser expostas ao risco de chuva no final do ciclo.
A variedade adapta-se bem em diferentes tipos de solos. Na opinião de José Lourenço, cuja família tem parcelas em diferentes tipos de solo, o xisto dá vinhos intensos, equilibrados e mais encorpados. Os solos graníticos parecem dar vinhos com frescor e acidez nítida, taninos finos e bem estruturados e perfil aromático mais vibrante. António Graça acredita que o solo calcário é o mais adequado nas condições áridas do Alentejo. Na região de Lisboa, a Quinta de Chocapalha encontra-se em solos argilo-calcários e o vinhedo, que dispõe de boa amplitude térmica, produz fruta com excelente cor, taninos elegantes, muito boa acidez e sem potencial alcoólico excessivo. De acordo com o enólogo Hamilton Reis, de Cortes de Cima, do Alentejo, apesar de a casta ter um carácter forte, é possível identificar sua origem. Uma das vantagens da Touriga Nacional é a capacidade de expressar o terroir. Entretanto, em regiões muito áridas ou vindimas muito quentes, é importante gerenciar o stress hídrico para evitar a desidratação de frutas e que as videiras percam folhas, o que pode fazer cessar a maturação fenólica, resultando em vinhos pouco equilibrados.
Embora traga uma série de desafios no campo, é reverenciada logo que entra na adega. Na década de 70, a Touriga Nacional representava apenas 0,1% das plantações durienses
É interessante perceber que os vinhedos do Douro foram classificados usando um sistema bastante meticuloso e preciso, mas essencialmente estabelecido e orientado para vinhos fortificados e não para os vinhos de mesa. Consequentemente, os melhores vinhedos em áreas mais quentes, classificados no topo da tabela como A e B, consistentemente produzem excelente fruta para vinhos do Porto. Mas o sistema de classificação qualitativa não funciona quando se trata de vinhos de mesa, pois as vinhas posicionadas em áreas mais frias são muitas vezes melhores fontes de uvas para vinhos tranquilos.
A decisão sobre a hora da colheita é vital, pois em regiões quentes pode rapidamente haver um excesso de maturação. Contando que a vinha esteja bem gerida e não houver falta de água à planta, vale a pena esperar que o nível potencial de álcool atinja cerca de 13,5% ou 14% para assegurar a extractibilidade adequada de antocianinas, precursores aromáticos e taninos, e ao mesmo tempo manter o equilíbrio e frescor necessários para um vinho tinto de alta qualidade.
Touriga na adega e no copo
Quando as uvas se destinam ao vinho fortificado, o segredo é encontrar a melhor extrabilidade dos polifenóis possível, mesmo que isso venha à custa de um ligeiro excesso de maturação. António Graça concorda que neste caso é tolerável um pequeno grau de desidratação dos bagos quando as peles perdem elasticidade, os níveis de açúcar aumentam, a acidez diminui. Importante é que os polifenóis estejam bem formados e sejam mais facilmente extraídos, o que é vital para esse estilo de vinhos. Embora a Touriga Nacional seja uma casta que traz uma série de desafios no campo, é reverenciada a partir do momento que entra na adega. Entre muitas qualidades, é uma casta versátil, capaz de fazer vinhos espumantes de alta qualidade e também responsável por alguns dos melhores vinhos rosés de Portugal. É reverenciada pelos produtores de vinhos do Porto e capaz de produzir vinhos tintos de excelência. Tipicamente apresenta cor profunda, aromas intensos de frutas escuras e notas de violetas, bergamota, ervas mediterrâneas secas e outras características, dependendo de sua origem. A sua estrutura é bastante firme e possui acidez equilibrada.
Alguns produtores são de opinião de que, por si só, pode às vezes ser uma casta unidimensional. A componente floral, se em excesso, pode eventualmente tornar os vinhos monocromáticos e com falta de dimensão. Hamilton Reis alerta que precisa haver cuidado pois um vinho facilmente se deixa dominar pela presença da Touriga Nacional. No entanto, encontrado o ponto de equilíbrio entre os demais componentes, a sua participação é marcante, dando profundidade, intensidade e um senso geral de nobreza ao vinho. A Touriga atua bem em lotes com várias castas, especialmente Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinto Cão, Trincadeira, Tinta Barroca, Jaen e Alfrocheiro.
Em termos de vinificação, os seus bagos pequenos permitem uma extração completa e abundante. Mas recomenda-se uma vinificação delicada, para proteger os compostos aromáticos e evitar uma extração excessiva de taninos, um problema frequentemente encontrado em vinhos tintos portugueses.
Hamilton Reis afirma que os depósitos de aço inoxidável ajudam elaborar vinhos mais suaves, de taninos menos vivos, enquanto que a vinificação em lagar parece promover vinhos com maior dimensão e profundidade. Sandra Tavares explica que o facto de haver maior exposição com o oxigénio e maior contacto entre película e mosto confere ao vinho mais amplitude. Hamilton Reis adverte sobre o apetite da Touriga Nacional para desenvolver acidez volátil e a facilidade de a temida Brett (responsável pelos aromas animais, a couro) se poder instalar, exigindo assim uma vigilância constante. José Lourenço opta por fazer a fermentação maloláctica em aço inoxidável para manter a elegância e o frescor. No entanto, para vinhos que exigem uma acidez untuosa ou taninos menos adstringentes, a malolácita pode ser conduzida na barrica, afirma.
Em termos de harmonização, a Touriga Nacional, sendo uma casta que produz vinhos expressivos e firmemente estruturados, requer pratos igualmente ricos e com carácter para ajudar a complementar a sua abundante fruta e taninos opulentos.
Vários tipos de carnes vermelhas, tanto grelhadas como assadas, funcionariam bem. Além disso, cordeiro assado, costelas de porco, pato, a maioria dos tipos de linguiças e feijoada também cai bem com Touriga Nacional. Carne rica em especiarias frequentemente utilizada na cozinha asiática também pode ser uma boa combinação. No entanto, é preciso haver cuidado com alimentos excessivamente apimentados, pois o excesso magnifica a sensação dos taninos e esconde as delicadas nuances de violetas, bergamota e atraentes notas de ervas. No final da refeição, queijos maduros podem ser um excelente acompanhamento para Touriga Nacional.
A Touriga Nacional envelhece muito bem em barricas de carvalho, principalmente francês. Após o seu período de afinamento tem excelente potencial de envelhecimento na garrafa, embora às vezes tenda a “fechar-se” após alguns anos, da mesma forma que acontece com um bom Pinot Noir da Borgonha, apenas para ressurgir anos depois com perfil mais maduro, sofisticado e complexo.
Na lista de castas portuguesas publicada pelo Instituto da Vinha e do Vinho não há sinónimos oficiais para Touriga Nacional, embora em certas regiões se refiram nomes como Preto Mortágua, Tourigo, Touriga, Touriga Fina, Azal Espanhol e Carabuñera na Espanha. Seria sensato unificar a terminologia e seguir o conselho do Instituto da Vinha e do Vinho. Touriga Nacional é um tesouro nacional e deve ser tratado com orgulho e respeito. Já é suficientemente árduo para as pessoas não habituadas a falar português tentar dominar a diversidade de castas que Portugal tem para oferecer. Não é necessário adicionar sinónimos para complicar a vida do consumidor internacional ainda mais. Vamos concordar que a casta mais nobre de Portugal se chama Touriga Nacional?
Vinhos recomendados
• Passadouro (Douro Touriga Nacional tinto 2014)
Quinta do Passadouro
18,5 valores
PVP € 20
• Quinta da Pellada (Dão Touriga Nacional tinto 2011)
Quinta da Pellada
18 valores
PVP € 57
• Villa Oliveira (Dão Touriga Nacional tinto 2011)
O Abrigo da Passarella
18 valores
PVP € 35
• Casa de Santar Vinha dos Amores (Dão Touriga Nacional tinto 2011)
Soc. Agrícola de Santar
17,5 valores
PVP € 24,90
• Cortes de Cima (Reg. Alentejano Touriga Nacional tinto 2014)
Cortes de Cima
17,5 valores
PVP € 27
• CH by Chocapalha (Reg. Lisboa Touriga Nacional tinto 2013)
Casa Agrícola das Mimosas
17 valores
PVP € 28
• Fonte do Ouro (Dão Touriga Nacional Reserva Especial tinto 2015)
Soc. Agrícola Boas Quintas
17 valores
PVP € 18,90
• Quinta dos Carvalhais (Dão Touriga Nacional tinto 2015)
Sogrape
17 valores
PVP € 14
• Quinta dos Roques (Dão Touriga Nacional tinto 2015)
Quinta dos Roques
17 valores
PVP € 25
• Quinta do Noval (Douro Touriga Nacional tinto 2015)
Quinta do Noval
17 valores
PVP € 40
• Touriga Nacional da Peceguina (Reg. Alentejano Touriga Nacional tinto 2015)
Herdade da Malhadinha Nova
17 valores
PVP € 25
• Adega Mayor (Reg. AlentejanoTouriga Nacional tinto 2015)
Adega Mayor
16,5 valores
PVP € 12,80
Será o fim do selo “à cavaleiro” no Vinho do Porto?

A partir de hoje torna-se efectivo o Decreto-Lei publicado ontem no Diário da República, que torna facultativa a colocação do selo de garantia, vulgarmente conhecido por selo “à cavaleiro”, no topo das garrafas de Vinho do Porto. Isto respeita à forma de colocação e não à existência do selo de Denominação de Origem (DO) Porto, sendo […]
A partir de hoje torna-se efectivo o Decreto-Lei publicado ontem no Diário da República, que torna facultativa a colocação do selo de garantia, vulgarmente conhecido por selo “à cavaleiro”, no topo das garrafas de Vinho do Porto. Isto respeita à forma de colocação e não à existência do selo de Denominação de Origem (DO) Porto, sendo este ainda obrigatório para comercialização do produto.
Esta alteração ao Estatuto das denominações de origem e indicação geográfica da Região Demarcada do Douro foi proposta pelo IVDP (Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto) e plasmada no Decreto-Lei, onde consta: “(…)as inovações verificadas no domínio da segurança dos selos de garantia e a evolução dos meios de comunicação e promoção tornam esta exigência particular em relação ao modo de aposição dos selos de garantia na denominação de origem «Porto» injustificada, sendo pois conveniente mantê-lo apenas como forma facultativa de aposição, deixando a decisão ao engarrafador”.
A DO Porto foi a última em Portugal a resistir a esta mudança, aplaudida pelos produtores. A colocação do selo “à cavaleiro” representa custos operacionais elevados e em nada impede a falsificação das garrafas, cuja genuinidade é protegida por outros elementos.
Saiba aqui como identificar produtos fraudulentos e os cuidados a ter no momento da compra.
Cinema francês: onde o vinho é estrela

O grande peso do vinho nos filmes franceses pode parecer óbvio, mas o que impressiona são os números que revelam uma presença quase obrigatória, como revela o site Vitisphere. Foued Cheriet, professor catedrático do Montpellier SupAgro (Instituto Superior de Estudos Agronómicos de Montpellier) viu, em 2015 e 2016, 47 sucessos da bilheteira francesa lançados entre […]
O grande peso do vinho nos filmes franceses pode parecer óbvio, mas o que impressiona são os números que revelam uma presença quase obrigatória, como revela o site Vitisphere. Foued Cheriet, professor catedrático do Montpellier SupAgro (Instituto Superior de Estudos Agronómicos de Montpellier) viu, em 2015 e 2016, 47 sucessos da bilheteira francesa lançados entre 1970 e 2014.
Foram mais de 90 horas de cinema popular francês a tentar identificar onde as garrafas e os copos eram figurantes, e o resultado tem tanto de surpreendente como de espectável: em 92% da amostra, há pelo menos uma cena com vinho presente e, em média, aparece a cada 20 minutos. Isto traduz-se em 5,2 vezes por filme, especificamente 3,5 para vinhos tintos e 1,7 para champagnes. Em dois terços destes casos, o aparecimento representa um investimento comercial, com uma marca visível ou citada. Curiosamente, a lei EVIN, aprovada em França em 1991 e visando a censura de publicidade a bebidas alcoólicas, não se aplicou ao product placement nas longas-metragens.
Mas o estudo foi mais além, analisando os termos dessas comparências. Se já existiam clichês, então nos filmes franceses estão ainda mais exacerbados. Foued Cheriet explicou: “Vinho tinto para refeições comuns, familiares ou profissionais; rosé na praia, nas férias e no Sul; champagne para luxo, sedução e restaurantes; tinto para homens e branco para mulheres”. Estes estereótipos, apesar de maioritariamente obsoletos, são compreensíveis dado o extenso período de pesquisa.
No futuro, outras indústrias cinematográficas, como Hollywood, irão ser alvo do mesmo estudo. Estamos curiosos por saber o resultado…
Chineses vão beber mais espumante

Na maior parte dos mercados ocidentais, o espumante representa cerca de 10% do consumo de vinho. Na China é de apenas 1%! Mas a situação está a mudar, diz um relatório da Wine Intelligence – Sparkling Wine in the Chinese Market – acabado de publicar. A empresa de estudos de mercado indica que uma nova […]
Na maior parte dos mercados ocidentais, o espumante representa cerca de 10% do consumo de vinho. Na China é de apenas 1%! Mas a situação está a mudar, diz um relatório da Wine Intelligence – Sparkling Wine in the Chinese Market – acabado de publicar. A empresa de estudos de mercado indica que uma nova geração de consumidores – especialmente os jovens com formação superior – estão a explorar outros caminhos no consumo de vinho, indo além do tradicional vinho tinto. Ao mesmo tempo, a chegada ao mercado chinês de um conjunto de espumantes de baixo preço permitiu a muitos consumidores provarem este tipo de vinho, o que antes lhes seria economicamente inacessível.
O espumante, recorde-se, não tem na China a conotação de bebida festiva e de brinde como existe no mundo ocidental.
O relatório indica ainda qual o tipo de perfil de espumante que deverá ter o maior potencial no mercado chinês: “doce, mas não demasiado, só o suficiente para equilibrar a acidez do espumante; ligeiramente gasoso (como um frisante) e bastante frutado.
O estudo custa 1.800 euros e pode ser encomendado através do site da Wine Intelligence.
Adega da Herdade do Freixo ganha prémio de arquitectura

Concebida pelo atelier de Frederico Valsassina Arquitectos, a adega da Herdade do Freixo acaba de conquistar o primeiro prémio da ArchDaily, na categoria de Industrial Architecture. O site ArchDaily (www.archdaily.com) considera-se o “mais visitado do mundo da arquitectura”. O prémio está integrado nos prémios “2018 Building of the Year Awards” e resulta da votação dos […]
Concebida pelo atelier de Frederico Valsassina Arquitectos, a adega da Herdade do Freixo acaba de conquistar o primeiro prémio da ArchDaily, na categoria de Industrial Architecture. O site ArchDaily (www.archdaily.com) considera-se o “mais visitado do mundo da arquitectura”. O prémio está integrado nos prémios “2018 Building of the Year Awards” e resulta da votação dos leitores do site, com quase 100.000 votos depositados.
A adega da Herdade do Freixo tem uma arquitectura muito particular, sendo construída em profundidade: só uma pequena parte está visível do exterior. Um gigantesco buraco com mais de 40 metros de fundo foi alojar a parte subterrânea, que é acedida através de uma rampa em espiral. A concepção vertical permite ainda que as uvas cheguem à zona de vinificação por gravidade, preservando melhor a sua integridade. Ao mesmo tempo, a estabilidade térmica é muito melhorada, já que a terra por cima serve de isolamento aos calores, por vezes violentos, do norte alentejano. A adega fica ao pé da vila do Redondo e foi inaugurada em 2016. Os vinhos que daqui saíram já congregaram excelentes críticas por parte dos especialistas.
Se desejar visitar esta obra arquitectónica, a adega pode ser visitada de terça a sábado, às 11:30 e às 15:30. O preço por pessoa é de 6,50 euros. As marcações podem ser feitas pelo tel. 266 094 830.