Bilhete para o Algarve Trade Experience é 100% solidário

O evento Algarve Trade Experience, que este ano acontece nos dias 6 e 7 e Março, na Fábrica do Inglês, representa uma importante mostra do sector de bebidas, a nível nacional. Mas nesta edição representa, também, uma oportunidade de ajudar: o bilhete diário (€25) e o de dois dias (€40) revertem na sua totalidade para […]
O evento Algarve Trade Experience, que este ano acontece nos dias 6 e 7 e Março, na Fábrica do Inglês, representa uma importante mostra do sector de bebidas, a nível nacional. Mas nesta edição representa, também, uma oportunidade de ajudar: o bilhete diário (€25) e o de dois dias (€40) revertem na sua totalidade para a emergência infantil do Algarve, uma das mais importantes instituições desta região, o Refúgio Aboim Ascenção.
No ano que passou, o bilhete de um dos dias já retribuía para esta causa, mas a Garrafeira Soares, organizadora do evento, decidiu abrir os dois dias para este fim, de forma a maximizar o valor solidário.
Entre as 17h00 e as 20h00, o Algarve Trade Experience estará aberto a todos os que quiserem provar alguns dos melhores vinhos e cocktails feitos por profissionais de referência, na actualidade.
Os bilhetes estão à venda aqui, na Ticketline.
No novo Coyo Taco Cais do Sodré, há Margarita Thursday

Todas as quintas-feiras, a partir das 17:00 e até às 20:00, quem pedir uma Coyo Margarita é presenteado com outra. Inspirado pelo timing e exemplo das suas origens americanas (a marca surgiu em Miami), o Coyo Taco Cais do Sodré, sempre em espírito festivo, faz agora a Margarita Thursday. Sinónimo de brindes com amigos e […]
Todas as quintas-feiras, a partir das 17:00 e até às 20:00, quem pedir uma Coyo Margarita é presenteado com outra.
Inspirado pelo timing e exemplo das suas origens americanas (a marca surgiu em Miami), o Coyo Taco Cais do Sodré, sempre em espírito festivo, faz agora a Margarita Thursday. Sinónimo de brindes com amigos e de diversão, o 8º cocktail mais vendido do mundo em 2019, segundo a Drinks International, tem um dia só seu nos EUA: 22 de Fevereiro, o Dia Nacional da Margarita.
Se uma margarita agrada a toda a gente, duas margaritas pelo preço de uma vão agradar a muitas mais. Mais ainda se acompanhadas por um taco, o seu par perfeito. Com cinco ingredientes apenas – Tequila Olmeca Blanco, Triple Sec, lima, agave e sal de tajín – faz-se a fiesta. Segundo o head barman, Fernão Gonçalves, o sal de tajín faz toda a diferença na Coyo Margarita, a par da ligação com a gastronomia mexicana, repleta de sabores vibrantes. A sua frescura ajuda a acalmar o fulgor do picante e a acidez a digerir as especialidades mexicanas do Coyo Taco.
José Maria da Fonseca lança vinhos sem álcool

Com quase dois séculos de história, a José Maria da Fonseca continua a inovar: a empresa acaba de lançar uma nova marca de vinhos sem álcool. Pioneira neste segmento, tendo criado o primeiro vinho sem álcool português em 2009, a produtora sedeada em Azeitão lança agora a gama O%riginal. É uma gama completa disponível em […]
Com quase dois séculos de história, a José Maria da Fonseca continua a inovar: a empresa acaba de lançar uma nova marca de vinhos sem álcool. Pioneira neste segmento, tendo criado o primeiro vinho sem álcool português em 2009, a produtora sedeada em Azeitão lança agora a gama O%riginal. É uma gama completa disponível em tinto, branco e rosé (todos a custar €4,99) que proporciona toda a experiência de degustação de um vinho sem a presença de álcool.
O O%riginal Tinto é produzido a partir da casta Syrah e mantém os aromas e paladar próprios do vinho: suave, com aromas a ameixa, cereja preta e mirtilos. Produzido a partir da casta Moscatel, o O%riginal Branco apresenta os aromas cítricos e florais tão típicos desta casta. Já o O%riginal Rosé, produzido também a partir da casta Syrah, é de tonalidade viva e aroma exuberante a framboesa e morango. Este vinho deve ser bebido bem fresco, à semelhança do tinto e do branco.
Veja o vídeo que explica todo o processo de produção e “desalcoolização” destes três vinhos:
Os Prémios Grandes Escolhas 2020

Todos os anos, Fevereiro é marcado pela gala de prémios da Vinho – Grandes Escolhas. Tal como no ano passado, este ano celebrou-se no magnifico Velódromo de Sangalhos, com a presença de cerca de um milhar de pessoas . Esta é uma das maiores cerimónias de atribuição de prémios deste país. No sector do vinho, […]
Todos os anos, Fevereiro é marcado pela gala de prémios da Vinho – Grandes Escolhas. Tal como no ano passado, este ano celebrou-se no magnifico Velódromo de Sangalhos, com a presença de cerca de um milhar de pessoas . Esta é uma das maiores cerimónias de atribuição de prémios deste país. No sector do vinho, então, mesmo na Europa e resto do mundo, deverão existir muito poucas.
A ocasião serviu para divulgarmos os nossos prémios anuais. De facto, ao longo do ano de 2019, os redactores e provadores da Grandes Escolhas correram o país de ponta da ponta, do Minho ao Algarve, passando pelas ilhas atlânticas. Visitámos inúmeras vinhas, adegas, centros de enoturismo, restaurantes, lojas de vinho, wine bars. Revisitámos casas clássicas, conhecemos novos projectos, recolhemos informação, conversámos com as pessoas que, no dia a dia, fazem as coisas acontecer.
No último mês do ano começou o trabalho de casa. Individualmente, cada membro da equipa, identificou e seleccionou as pessoas, empresas e entidades que mais o impressionaram e que, em seu entender mereciam o nosso destaque. No final de Dezembro, em reunião de redacção, essas escolhas individuais foram apresentadas, defendidas e debatidas. Através de consenso, na grande maioria dos casos, ou, quando tal não foi possível, por intermédio de votação (aqui, respeitamos as regras democráticas!) chegámos ao resultado final, que apresentamos de seguida.
(nota: os textos estão assinados no final com as iniciais dos nomes dos autores. Aqui vai a descodificação: A.F: António Falcão; F.M: Fernando Melo; L.F: Luis Francisco; L.L: Luis Lopes; J.G: João Geirinhas; J.P.M: João Paulo Martins; M.L: Mariana Lopes; N.O.G: Nuno de Oliveira Garcia; R.F: Ricardo Felner; V.Z: Valéria Zeferino)
Produtor Revelação
Giz by Luís Gomes

Dividindo o seu tempo entre as vinhas e a adega, Luís Gomes está na vanguarda da nova geração de produtores na Bairrada. Formado em Bioquímica pela Universidade de Coimbra, trocou o negócio bem-sucedido na área da sua formação pela vida incerta de um produtor de vinhos. Mas antes tirou o mestrado em Viticultura e Enologia, ministrado em parceria pela FCTUP e ISA. Para Luís Gomes, obter conhecimento necessário antes de avançar para qualquer desafio sempre foi uma condição indispensável.
Sendo de Coimbra, naturalmente, sentiu atracção pelas terras Bairradinas. A pouco e pouco chegou a conhecer várias vinhas velhas da Região, muitas delas destinadas ao abandono. Conseguiu dar início ao projecto, arranjando 2 hectares de vinha centenária com predominância de Baga e Maria Gomes, repartida em 7 talhões.
O solo nesta zona da Bairrada, entre Mealhada e Cantanhede, é argilo-calcário, com prevalência evidente de calcário. Em algumas vinhas é só pedra branca que protagonizou o nome da marca – Giz.
Em 2018 lançou as suas primeiras colheitas – um branco de 2016 e dois tintos de 2015, sendo um deles só de uma vinha, alcançando o reconhecimento imediato por parte da comunidade vínica. Os tintos de 2016 foram ainda mais afinados e com carácter mais distinto entre os dois. No final do ano passado surpreendeu com um sofisticado rosé, também de vinha velha, estagiado em barrica usada com bâtonnage e um belíssimo espumante de Baga, com estágio sobre borras de 28 meses.
A singularidade, pureza aromática e uso judicioso de madeira são as principais características dos vinhos Giz, deixando expressar a força e o encanto do terroir Bairradino.
V. Z.
www.gizbyluisgomes.com
Produtor
Quinta do Regueiro

Foi há mais de 30 anos que a primeira pedra foi lançada, ou seja, que a primeira vinha de Alvarinho foi plantada no lugar que viria a ser, mais tarde, a Quinta do Regueiro.
Na altura a vinha tinha apenas 0,3 ha, e foi plantada pelos pais de Paulo Cerdeira Rodrigues, área que se multiplicou nos anos seguintes. Todavia, tudo começou sem pressas no projeto: durante vários anos, o vinho produzido era apenas para consumo próprio, a marca registada Quinta do Regueiro foi lançada em 1999 e empresa foi apenas constituída em 2007 com a ajuda da irmã de Paulo. Mas, a verdade é que, aos poucos, a marca foi-se consolidando, muito em restaurantes seletos e em garrafeiras, mantendo-se sempre como sinónimo de qualidade e consistência. Hoje, Paulo Cerdeira Rodrigues gere 6 ha próprios e detém alguns contratos de longa duração de aquisição de uva à volta da adega. Mas se a qualidade e a consistência dos vinhos mantiveram os consumidores fiéis, foi o lançamento de novos e excitantes produtos que deu grande destaque ao produtor minhoto. Falamos do Primitivo, feito a partir das vinhas mais antigas, e do Barricas que, como o nome indica, estagia em madeira. Em ambos os casos falamos de pequenas quantidades, nunca superior a 2.000 garrafas. Mais recentemente foi ainda lançado o Jurássico, um branco fantástico que resulta de um lote de vinhos de várias colheitas guardados durante anos em inox (a versão no mercado contém vinhos de 2007, 2008, 2009 e 2010). O arrojo no lançamento de um branco com este perfil e qualidade beneficia toda a região e coloca o produtor na linha da frente dos brancos em Portugal. Existe ainda um ‘entrada de gama’ a partir de Alvarinho e Trajadura (num clássico blend da região), o Reserva (o porta-estandarte do produtor) e um espumante 100% Alvarinho. Todos de grande nível, todos grandes escolhas! N.O.G.
www.quintadoregueiro.com
Cooperativa
Adega Cooperativa de Cantanhede

Com quase 66 anos de idade, a Adega de Cantanhede é o maior operador da Bairrada, em termos de selos de certificação, atribuídos pela Comissão Vitivinícola da Bairrada. É também das adegas cooperativas financeiramente mais saudáveis do país. Há pouco mais de uma década, esteve à beira do precipício, tal como as suas congéneres da região, hoje todas ‘falecidas’. Mas não só sobreviveu como passou para uma situação em que, quando começa uma vindima, tem as contas saldadas do ano anterior.
O seu presidente, Victor Damião, dizia-nos que, antes, para pedir dinheiro, “a adega tinha que ir aos bancos; hoje são os bancos que vêm à adega”. A folga financeira permite comprar novos equipamentos e investir em projectos considerados de nicho, realizados com uvas ‘especiais’, algumas oriundas de videiras com um século ou mais. E permite investir na exportação, que representa hoje 35% da produção e tem aumentado sempre.
Ser grande e financeiramente saudável são duas coisas muito boas num produtor de vinhos. Mas a parte que mais nos interessa, a nós enófilos, é a da qualidade dos vinhos. E aqui também Cantanhede se tem exibido a grande altura. Uma grande parte da responsabilidade cabe à equipa de viticultura, que todo o ano aconselha centena de associados e está particularmente activa na sempre crítica altura das vindimas. Isto porque a enologia também assim o exige. À frente está o experiente Osvaldo Amado mas, no dia-a-dia, os trabalhos de adega são assegurados por Ivo Almeida. O resultado tem sido muito bom, proporcionando espumantes e vinhos tranquilos de belíssima qualidade, muito bem classificados ao longo de 2019 pela equipa de provas da Grandes Escolhas. Melhor os vinhos possuem quase sempre excelente relação preço/qualidade. Ser considerada a adega do ano é apenas, por isso, uma consequência deste magnifico trabalho. A. F.
www.cantanhede.com
Empresa
Casa Relvas

O projecto da família arrancou em 1997 mas hoje é Alexandre o rosto da Casa Relvas, tal como Alexandre era o seu pai que no Redondo adquiriu uma quinta. A ideia de fazer vinho resultou numa plantação de 35 ha, cuja primeira produção foi em 2003, já elaborada na adega ali construída. De então para cá, o crescimento tem sido notável e dos 35 estamos agora em 250 hectares de vinhas, espalhados por três herdades. Nasceu pequeno, mas o projecto é hoje responsável por 6 milhões de garrafas, empregando permanentemente 85 pessoas. A par da vinha, a empresa dispõe de 700 ha de floresta e 500 ha de regadio. Nada que tire a Alexandre (filho) o gosto pelos cavalos e o prazer de participar em provas com alguma regularidade, nem lhe retirou também o gosto de residir em Cascais, bem mais perto do mar do que na herdade. O crescimento levou à aquisição da propriedade contígua – Herdade da Pimenta – com adega própria e de uma vinha na Vidigueira. Atentos aos ventos da moda, a Herdade São Miguel iniciou também a produção de especialidades que vão dos vinhos de ânfora até às talhas, tudo cada vez mais localizado na adega “primitiva”, onde nascem os vinhos que alimentam os nichos de mercado e alguns dos vinhos emblemáticos da empresa. O crescimento obrigou ainda à compra de uvas e à compra de vinhos e a luta de Alexandre (filho) é agora o posicionamento dos seus vinhos nos patamares de preço que já dão rentabilidade, fugindo tanto quanto possível ao rolo compressor das grandes superfícies. O portefólio cobre um leque enorme de preços e existem marcas destinadas aos vários mercados. Crescer, crescer sempre, mas sem perder qualidade, tem sido o lema e a Casa Relvas não deixa de ser um grande exemplo do que de bom se está a fazer na região. J.P.M.
www.casarelvas.pt
Empresa Vinhos Generosos
Vasques de Carvalho

O mercado do Vinho do Porto não é propício para o surgimento de novas marcas e projetos. O facto de existirem marcas fortes já consolidadas, clientes fidelizados, enormes custos com stock, nada ajuda… Neste contexto difícil, em 2000 nasce a empresa Vasques de Carvalho assente na vontade férrea de fazer triunfar um projeto familiar português. Os registos confirmam que a família produz Vinho do Porto desde o século XIX, mas, na viragem do milénio, estava essencialmente focada nos DOC Douro com a marca Velhos Bardos. Em 2012, e na sequência de partilhas, António Vasques de Carvalho passa a gerir a empresa e convida Luis Vale para a estrutura acionista. Com a nova gestão, a Vasques de Carvalho centra-se no setor do Vinho do Porto e começa a utilizar os seus stocks mais antigos. Em 2015, surgem os primeiros vinhos, e a opção pela qualidade é inequívoca, o que se comprova pelo entrada de gama que é um Reserva de grande nível. Surgem depois magníficos tawnies, produto pelo qual a empresa é mais reconhecida, com destaque para o incrível 40 anos, mas não se deixe de provar o vintage da casa que, na ótima colheita de 2017, atingiu um nível altíssimo. Com produção própria, e uvas compradas a agricultores selecionados, a Vasques de Carvalho ostenta o estatuto de Produtor Engarrafador, tem loja em Gaia e armazéns na Régua e no Pinhão. Quatro dos maiores tonéis do Douro estão precisamente neste armazém na Régua e podem ser visitados, sendo hoje um símbolo de força e compromisso da marca com a região. N.O.G.
www.vasquesdecarvalho.com
Singularidade
Márcio Lopes

O prémio Singularidade nasceu para evidenciar pessoas e projectos que marcam pela diferença. Não a diferença como valor absoluto, mas a diferença como meio para atingir um fim. E esse fim é um vinho de qualidade, que saia fora do padrão, que dê prazer a beber, e que expresse o local, as uvas e o modo como foi feito.
Nascido no Porto, em 1983, Márcio Lopes cedo tomou contacto com o meio rural através dos seus avós. E esse interesse pela agricultura em geral, e pelo vinho em particular, nunca o abandonou, ao ponto de ter decidido enveredar pela engenharia agronómica. Uma posterior experiência na Austrália havia de determinar, a partir de 2010, o que queria fazer da vida: tornar-se produtor de vinhos diferenciadores, vinhos que exprimissem o “terroir” e o lado criativo do enólogo.
Criatividade (e prazer de experimentar e de arriscar) é coisa que não falta a Márcio Lopes. A isso junta inegável talento e capacidade de trabalho. Sendo um produtor de dimensão relativamente pequena (cerca de 80 mil garrafas) engarrafa já quase vinte referências distintas nos Vinhos Verdes e Douro, às quais se junta uma incursão na galega Ribeira Sacra. Nestas regiões acompanha e compra uvas, sobretudo de vinhas velhas, detidas por 30 viticultores tradicionais, para além dos 5 hectares que possui no Douro Superior, perto de Foz Côa.
Nos Vinhos Verdes, Pequenos Rebentos é a marca de referência. Nas suas múltiplas variantes (de brancos de curtimenta a tintos de macerações curtas, com e sem madeira) cabem vinhos de Alvarinho, Loureiro, Azal, Alvarelhão, Pedral e Cainho entre outras castas clássicas. No Douro, as marcas Anel (branco e tinto) e os brancos Permitido e tintos Proibido apostam sobretudo em vinhas velhas, de castas misturadas. Mas há também lugar a um excelente Rabigato estreme. Tudo isto feito de forma muito cuidada, mas minimalista, onde o carácter do local se exprime em vinhos de enorme pureza, focados e incisivos, austeros, mas leves e frescos. Vinhos de prazer, que crescem com o tempo e de que apetece sempre beber mais um copo. L.L.
vinhosproibido.blogspot.com
Enólogo
Pedro Baptista

De personalidade sóbria e espírito trabalhador, é impossível não admirar Pedro Baptista e o seu trabalho.
Há muito tempo que é um pilar da Fundação Eugénio de Almeida (FEA), e se esta é agora um grande player na região, muito se deve ao viticólogo-enólogo, também administrador. Depois de algum tempo dedicado em investigações sobre a vinha (por exemplo, sobre o impacto da rega), entra em 1997 para a FEA, precisamente para a área de viticultura. Em 2004, Pedro cumula funções com enologia, não parando mais de liderar ambas as áreas. Para se ter uma ideia dos números envolvidos em vinha, atualmente só a FEA detém 550 hectares próprios e controla mais 100 arrendados, ou sob a sua exploração. Falamos, portanto, de mais de 650 ha no total, e mais de 5 milhões de garrafas de vinho! Desde meados de 2017, Pedro exerce as mesmas funções na histórica Tapada do Chaves, empresa adquirida pela FEA, sendo que o branco de 2017 dessa casa já foi produzido sob a sua batuta. Na verdade, o ano de 2019 foi de grande êxito para o enólogo com vários vinhos por si desenhados a destacarem-se nos primeiros lugares dos nossos painéis de prova, caso do Scala Coeli, tanto na versão em branco (Encruzado) como em tinto (Alicante Bouschet), e ainda o Cartuxa Reserva. A cereja no topo do bolo talvez tenha sido, ainda em 2019, o lançamento de mais uma colheita do tinto Pêra Manca que, na versão de 2014, se mostra absolutamente sublime. N.O.G.
www.cartuxa.pt
Enólogo Vinhos Generosos
David Guimaraens

Gerir múltiplas propriedades tentando manter o estilo individualizado, mas retirando de cada uma delas a quantidade necessária para fazer os vinhos emblemáticos, é um grande desafio, sobretudo nos anos considerados “clássicos”, para usar a terminologia de David Guimaraens. Foi isso que aconteceu em 2017, ano notável que levou o grupo a declarar vintage com as principais marcas de cada uma das empresas constituintes – Taylor’s, Fonseca e Croft. O grupo tem-se distinguido dos restantes operadores por uma declaração sempre muito mais avultada em número de garrafas. Assim, em 2017, a Taylor’s fez 138.000 garrafas, a Fonseca 97.200 e a Croft 46.800. São números muito significativos, sobretudo se se prensar que o ano anterior também tinha sido considerado clássico. Além destas marcas principais, o grupo ainda declarou, em menor quantidade, os vintages Vargellas Vinha Velha, Croft Quinta do Roêda Sericos e Krohn. O que ressaltou desta declaração foi a tremenda qualidade dos vinhos, a precisão da fruta e o equilíbrio entre todas as componentes, vinhos que combinam a profundidade com a elegância, o que é um enorme desafio para a enologia. É evidente que tudo fica um pouco mais facilitado quando as uvas são o resultado da minuciosa escolha orientada por António Magalhães, o outro membro desta equipa vencedora. Defensor acérrimo dos lagares, da pisa a pé e da co-fermentação, David Guimaraens conseguiu nesta declaração atingir com os seus vintages um patamar de excelência que é a todos os títulos notável. Há agora melhor aguardente, melhor viticultura, e mais preocupação ambiental, mas tudo isso não ofusca o trabalho de mestre com que David Guimaraens nos brindou. J.P.M.
www.taylor.pt
Viticultura
Vanda Pedroso

Há nomes que passam ao lado dos menos atentos, mas que são autênticos diamantes em bruto. É o caso de Vanda Pedroso, a viticóloga-investigadora sem a qual o património genético do Dão não seria o mesmo. De facto, Vanda será das pessoas que mais sabem de vinha no Dão. As videiras são as suas filhas e a elas se dedica quase em exclusividade. Vanda Pedroso é uma lisboeta de gema, sem qualquer relação familiar com o vinho. No terceiro ano da licenciatura em Engenharia Agronómica, surgiu a disciplina de Viticultura e foi aí que a coisa ficou séria. “Deu-me um clique, não consigo explicar melhor, é daquelas coisas que simplesmente se sentem”, diz Vanda Pedroso, que todos conhecem na região por “Engenheira Vanda”. Quando acabou o curso, disse aos pais que “não ia ficar pela horta da Praça do Comércio” e foi estagiar para a Estação Vitivinícola Nacional, em Dois Portos, Torres Vedras. Findo o estágio, decidiu não ficar porque tinha vontade de fazer mais. Ao procurar um local onde fizesse realmente falta, surgiu Nelas e o Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, onde não havia ninguém na parte “viti” da questão, começando em 1982 a trabalhar ao lado do enólogo Alberto Cardoso Vilhena. Vanda, além do profundo trabalho de investigação que faz, da poda à condução, passando pela salvação de castas perdidas, é a melhor amiga que um produtor do Dão pode ter. Quando lhe batem à porta, ela ajuda sempre, mesmo que não tenha o tempo ou os recursos. “Se tive algum êxito nisto dos vinhos, parte desse êxito deve-se à Eng. Vanda”, declara Eurico Ponces, proprietário da Quinta da Fata. “Sempre me ajudou, até nos fins de semana. Ela até ao Domingo anda no meio da vinha”, acrescenta. Sónia Martins, enóloga da Lusovini, está convicta de que “se não fosse a Eng. Vanda, provavelmente o Centro de Estudos já teria fechado há muito tempo. Além do extraordinário trabalho prático que faz, ainda gere o sítio”. E tanto Eurico Ponce como Sónia Martins dizem o que todos os produtores da região sabem, que Vanda Pedroso trabalha com enorme escassez de recursos. “Se não gostasse da experimentação e se não fosse apaixonada por isto, já me tinha ido embora, porque as dificuldades são muitas nestes centros de estudos. Acho que posso ser útil à região, ajudando os viticultores que, quando é preciso, também me ajudam de volta”, confessa Vanda. Não é preciso dizer mais nada. M. L.
www.drapc.min-agricultura.pt/drapc/cev_dao.htm
Iniciativa
Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo

Iniciativa|s.f.: Acto de ser o primeiro a pôr em prática um plano ou uma ideia; qualidade de uma pessoa que está disposta a ousar ou a empreender algo. O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo é isso mesmo, o primeiro programa de sustentabilidade de uma região vitivinícola portuguesa. Desde que foi implementado, em 2015, o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) viu aumentar o número de associados de 94 para mais de 300, representando mais de 46% da área dos vinhos do Alentejo e ultrapassando os 60% do volume de produção. Impulsionado pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, o PSVA tem como principal objectivo apoiar os agentes económicos do Alentejo na melhoria do desempenho ambiental, social e económico da actividade vitivinícola, e também promover o reconhecimento da sustentabilidade dos vinhos da região. Além do impacto positivo no ambiente, estas medidas propulsam a afirmação da marca Vinhos do Alentejo no mercado interno e no externo. Tudo isto é feito através de uma metodologia eficaz que inclui, entre outros processos: monitorização do consumo de água, utilização de embalagens, rótulos e outros produtos certificados; monitorização do consumo energético; instalação de caixas-ninho ou poleiros para aves de rapina e morcegos; criação de um grupo dedicado a desenvolver e ajudar a implementação de práticas sustentáveis; prevenção de erosão dos solos; uso de compostos naturais como fertilizantes; e formação profissional. Também premeia os produtores exemplares nestes campos, com selos do programa, depois de identificar o desempenho dos agentes económicos e de comparar resultados entre eles, definindo ainda áreas onde estes podem melhorar. Nunca uma região vitivinícola se dedicou de forma tão estruturada e complexa ao desempenho ambiental dos seus produtores. É, por isso, uma Iniciativa a premiar. M. L.
sustentabilidade.vinhosdoalentejo.pt
Enoturismo
Quinta da Pacheca

No Douro, há produtores com história e outros mais recentes. Há quem aposte no enoturismo há muito e quem só agora esteja a começar. Há enoturismos de massas e outros onde procuramos um atendimento mais personalizado. Há tudo isso e, depois, há a Quinta da Pacheca.
A propriedade está referenciada em documentos oficiais desde 1738; foi das primeiras a engarrafar DOC Douro em nome próprio com o lançamento das marcas Quinta da Pacheca e Quinta de Vale Abraão em 1977; é pioneira no enoturismo, actividade que acolhe desde 1995. Se vamos falar de história, a Quinta da Pacheca não receia a comparação com ninguém. Mas nesta propriedade na margem esquerda do Douro, em frente à Régua, o passado é a maior alavanca do futuro. E o futuro faz-se todos os dias.
Quando, em 2009, abriu o The Wine House Hotel, com 15 quartos, a aposta no enoturismo ganhou outra dimensão, complementada nos anos seguintes com o reforço das opções de visita, um restaurante com cozinha de autor, a abertura de um wine-bar. Em 2018, no entanto, o grau de notoriedade da marca turística Quinta da Pacheca sofreu um impulso gigante, com a inauguração dos Wine Barrels, dez quartos instalados em grandes pipas com vista para as vinhas.
Este investimento, que rondou o milhão de euros, revelou-se um sucesso estrondoso. A experiência de dormir em quartos que aliam o requinte à atmosfera quase infantil de uma casinha de madeira conquistou o mundo. E serve de cartão de visita da quinta, do Douro e do país vínico um pouco por todo o lado. Mas os quartos em barricas de madeira não são a única face da cada vez mais assumida aposta dos responsáveis da Quinta da Pacheca no sector turístico. Para 2020 está prevista a abertura de um novo hotel na propriedade, com spa e 29 quartos.
Juntem-se a esta vertente hoteleira o ritmo constante de visitas e provas e a popularidade do restaurante e percebemos que estamos na presença de um enorme caso de sucesso no panorama enoturístico nacional. Os números falam por si: 12.000 visitantes em 2006, mais de 68.000 em 2017, quase 90.000 em 2019 e as expectativas são de um crescimento exponencial nos próximos anos, em função das novas valências agora disponibilizadas. Sempre com a garantia de o atendimento, apesar do elevado número de visitantes, nos fazer sentir em casa. Imperdível. L.F.
www.quintadapacheca.com
Garrafeira
Néctar das Avenidas

A nova loja da garrafeira Néctar das Avenidas é bem maior que a anterior e, atrevemo-nos a dizer, bem mais bonita. A distância é curtinha e isso é bom porque os clientes fiéis da casa não tiveram que desviar muito caminho. Os turistas aqui não são muitos porque, afinal, estamos numa zona com pouca atracção turística. Mas nada disso preocupa João e Sara Quintela, os gestores deste espaço fundado em 2011. Pai e filha, João e Sara têm o ingrediente essencial para uma casa destas ter sucesso: são apaixonados por vinho, provando tudo que conseguem. Têm assim uma boa selecção de vinhos, a maioria pouco ou nada disponível em grandes espaços comerciais. Muitos da zona centro, como o Dão e Bairrada. A escolha costuma ser feita em conjunto e, verdade seja dita, existe normalmente harmonia. Especialmente se falarmos de bons brancos com idade, uma predilecção de João e Sara. A este propósito, os vinhos velhos são aqui muito bem tratados, mas pai e filha têm muito cuidado com o que compram: “temos que saber onde é que os vinhos estiveram armazenados ao longo dos anos”, disse-nos Sara. Quase tudo é nacional, incluindo nos destilados e espumantes.
A casa possui ainda uma boa selecção de produtos gourmet, com predominância para os produtos açorianos de qualidade, incluindo o Bolo Lêvedo. E uma boa selecção de acessórios.
Se o portefólio gourmet é bom, o vínico é grande, mas o conjunto de actividades é quase insuperável: existem jantares vínicos todos os meses, com toda a espécie de produtores e restaurantes. E não podemos, claro, esquecer o BairraDão, uma feira realizada em Maio e que já tem seis edições, contemplando apenas vinhos da Bairrada e do Dão.
Com quase 9 anos de actividade, João e Sara Quintela conseguiram criar uma fórmula vencedora, apostando decididamente no conhecimento. São por isso mais do que merecedores deste prémio. A. F.
garrafeiranectardasavenidas.com
Loja Gourmet
Corriqueijo

Até há uns anos ninguém estranhava que, num país que se vangloriava de ter os melhores queijos do mundo, houvesse tão poucas queijarias de qualidade. Hoje, os apreciadores de queijo artesanal já valorizam a loja especializada e essa falha começou a ser colmatada. Primeiro, abriram lojas de referência em Lisboa e no Porto, mas a Corriqueijo, em Braga, não lhes fica atrás, sendo até, porventura, a mais dinâmica e entusiasta de todas.
O nome Corriqueijo já diz da sua missão. Na origem, está um trocadilho com a palavra “corriqueiro”. Daqui se infere que o objectivo da sua proprietária e mentora, Ana Rita Lima, é pôr Braga — e não só — a comer queijo de qualidade como uma prática quotidiana e não apenas como algo para dias de festa.
A representar Portugal estão quase sempre pequenos produtores que Ana Rita Lima conhece pessoalmente. Há clássicos, como o excelente Serra da Estrela DOP da Casa Agrícola dos Arais, de Célia Silva, mas também surpresas raras como um queijo de leite cru de vaca da zona de Azeitão; há desde apostas seguras, como os queijos da BeiraLacte, até aos queijos Prados de Melgaço e às suas experiências com curas em Alvarinho, seja no estilo Camembert, sejam os queijos de cabra curados; ou o Campo Capela, outro vaca, este afinado com infusão de café.
Mas se a secção nacional é forte, a internacional não lhe fica atrás. Esse mundo que Ana Rita Lima nos traz mostra-nos como a oferta lá fora é muito diversificada e ajuda-nos a pôr a produção nacional em perspectiva. As secções francesa e espanhola estão, claro, bem representadas, pontificando desde o Camembert de Normandie, ao Brie de Meaux Dongé, passando pelo DOP San Simón da Costa da Galiza, entre muitos outros. R.F.
www.facebook.com/corriqueijo/
Wine Bar
Wines By Heart

O nome não surgiu por acaso. Os vinhos foram literalmente escolhidos pelo coração de três profissionais, com intensa experiência internacional nesta área – Guilherme Corrêa Dip WSET, Igor Beron Dip WSET e Rômulo Mignoni.
Fica pertíssimo da Avenida da Liberdade, na rua Rosa Araújo. A decoração sóbria e de bom gosto cria um ambiente descontraído, onde se pode focar no essencial: o vinho. Tudo gira à sua volta em três vertentes que se complementam – wine bar, restaurante e garrafeira com cerca de mil referências. Os preços vão de 14-15 euros até várias centenas. Metade são nacionais e metade estrangeiros, dos pequenos produtores até os mais reconhecidos, muitos importados em exclusividade.
Mais de 80 vinhos podem ser servidos a copo (Riedel de vários tipos para abrir o potencial de cada vinho). O preço varia entre os 6 e 175 euros por copo, este preço quando se quer provar um dos clássicos mundiais – Château Mouton Rothschild, Vega Sicilia Único ou o Silex da Domain Didier Dagueneau.
Qualquer vinho adquirido na loja pode ser servido no bar ou no restaurante mediante uma taxa de rolha de 15 euros.
O menu do bar vai muito para além das habituais tábuas de queijos e enchidos. Ostras, pratos com patés ou foie gras, são algumas das iguarias servidas no Wines by Heart. Há forte componente de sazonalidade, como, por exemplo, caça ou trufas (encomendadas directamente da Itália). O foco é nos ingredientes de melhor qualidade, confeccionados de forma simples, mas saborosa, com grande equilíbrio em termos de acidez, gordura, condimento, excluindo os produtos “inimigos do vinho”, como o ovo cru, os temperos avinagrados ou com alho. Harmonização aqui é a palavra-chave. V.Z.
www.winesbyheart.com
Restaurante
Epur – Vincent Farges

Vincent Farges está em Portugal desde 1998, veio para oficiar como subchefe de Antoine Westermann, na Fortaleza do Guincho. Nascido em Lyon, era o braço direito do chef alsaciano no Burehiesel, Estrasburgo, então detentor de três estrelas Michelin. Depois de um périplo por Marrocos e Grécia, assumiu em 2005 a chefia da cozinha, que elevou a um outro patamar. Sentiu-se o “efeito Farges” em vários pequenos detalhes, sobretudo a liberdade criativa e a utilização de especiarias fortes nos pratos outrora espartanos e contidos na intensidade de sabor. Ao longo de quase dez anos, pesquisou, formou muita gente e deu prazer a outros tantos à mesa com as suas abordagens ao pescado e receituário tradicional. Com um arsenal técnico de grande gabarito, superou sempre os objectivos da casa, até que em 2015 decidiu sair para se aventurar num projecto seu, orientado para a simplicidade e de certa forma recuperar as suas raízes genéticas e conceptuais, já imbuído do que absorveu do fantástico reduto português da proximidade. Em boa hora se ligou ao empresário José Pedro Mendonça para no espaço do showroom da Bullthaup no Chiado, no coração de Lisboa, instalarem um restaurante de moldes totalmente diferentes. Minimalista na essência e profundo na abordagem, nasceu assim o Epur, com um layout de cozinha que a aproxima muito do maravilhoso espaço de sala onde se sentam os comensais e onde se vive uma experiência única à mesa. Tecnicamente perfeita, a refeição no Epur é sempre uma viagem, normalmente sem legendas; Vincent Farges não é homem de muitas palavras, a sua mensagem perpassa em cada prato, apontamento e evocação, e é notável a universalidade do que propõe, chega ao coração de todos. É um dos melhores restaurantes lisboetas de sempre e inaugura toda uma nova corrente erudita na cozinha portuguesa. É assim de pleno direito que o Epur é o restaurante do ano. F.M.
www.epur.pt
Restaurante Cozinha Tradicional
Arcoense

Na altura em que Joaquim Barroso deixou o restaurante Arcoense, entregando-o à descendência, muita da sua fiel clientela ficou receosa. O pai fundador, que em 1988 decidira tomar um snack bar numa zona residencial de Braga, era quem cultivava muitos dos hortícolas que apareciam na mesa e quem criava os porcos bísaros para fumeiro ou para a grelha. Mas se a sua presença era importante na parte da produção, na sala também reinou. Figura espirituosa, será lembrado por alguém que não se limitava a entregar o menu, antes procurando conversar com o cliente no sentido de lhe perceber os gostos e lhe servir o prato certo. Ora, saiu Joaquim Barroso, mas a alma do sítio foi prosseguida pelas suas três filhas e pelo genro — já todos experientes na casa e na arte de bem servir.
O restaurante é hoje um espaço confortável, onde podemos espreitar a cozinha e as vitrinas de peixe fresco, tudo do melhor como se estivéssemos à beira mar. Apesar de ser um bastião de carne, o produto marinho sempre foi alternativa muito válida — e continua a ser —, com gorazes, robalos grandes, por vezes cherne, o famoso polvo grelhado com molho verde e, claro, os bacalhaus tão típicos da região, onde se destaca um Islândia lascado e batata à murro, regado à maneira do lagareiro. Ainda falando do gadídeo, é obrigatório começar-se qualquer refeição no Arcoense pelas pataniscas, que o escritor Miguel Esteves Cardoso descreveu assim: “Eu gosto até de más pataniscas, mas estas levam-me a dizer que só comi verdadeiras pataniscas de bacalhau uma só vez: no Arcoense.”
Na secção das carnes, há os clássicos minhotos, mas com algumas originalidades deliciosas fora da região, como é a chanfana de cabrito. Só de lermos a ementa podemos começar a salivar. O cabrito pingado, com o dito a ser servido numa grelha a pingar sobre a travessa de arroz, é um dos pratos mais icónicos, mas não podemos esquecer as papas de sarrabulho com rojões, o garnizé, o arroz de tordos e o de salpicão ou a vitela assada.
O Arcoense é um dos grandes templos gastronómicos do Norte e continua a ser um bastião da cozinha tradicional portuguesa. R.F.
www.arcoense.com
Restaurante Cozinha do Mundo
Go Juu

O restaurante Aya marcou a cozinha japonesa em Portugal. À frente estava Takashi Yoshitake, ainda hoje lembrado como a figura tutelar desta cozinha no nosso país. Foi ele quem formou grande parte dos chefs que haveria de dar cartas na última década, de Tomoaki Kanazawa a Aron Vargas. Mas nenhuma casa foi tão ambiciosa na reprodução do seu legado como o restaurante Go Juu.
Instalado junto ao jardim da Gulbenkian, em Lisboa, a ideia foi, desde o início, não deixar os clientes de Yoshitake órfãos e, ao mesmo tempo, honrar o mestre. Por isso não se inventou nada. A carta é praticamente decalcada da do Aya e a técnica usa dos seus ensinamentos, sem invenções, cozinha japonesa clássica muito bem feita, sempre com peixe de qualidade e empratamentos elegantes.
No interior predominam as madeiras, numa sala que prima por nunca ser muito ruidosa, mesmo quando está cheia (que é quase sempre). Um dos ex-libris é o seu balcão, uma extraordinária bancada para o showcooking do chef Fagner Buzinhani e companhia, sempre disponíveis para explicar confecções ou para indicar os especiais do dia (atenção ao ouriço de mar). Da beringela com molho de miso à cabeça de pargo cozinhada em soja, do sashimi ao chirashi ou à enguia, acabando na magnífica salada de frutas japonesa Anmitsu, é tudo bom e delicado.
A casa nasceu como um clube de amigos, onde existe inclusive uma lista de sócios, mas ninguém é barrado à entrada, sendo o atendimento sempre muito cordial e competente.
O Go Juu não é naturalmente o Aya, mas é certamente o restaurante mais fiel aos ensinamentos do mestre. Um bem-haja. R.F.
www.gojuu.pt
Sommelier
André Figuinha

Entrou para o grupo de hotéis Altis aquando da instalação e abertura da unidade de Belém, em 2009. Conhece por isso bem os cantos à casa e trata todos como se da sua casa se tratasse. A empatia que consegue estabelecer logo no primeiro contacto permite-lhe gerir cada mesa como se fosse a única, aconselhando na componente líquida a forma óptima de tirar maior partido da componente sólida. Tem o olhar firme do cirurgião que sabe o que está a fazer, falhar nem sequer é hipótese, e consegue com isso imprimir uma coreografia diferente e brilhante à sala. Explica tudo na medida em que lhe é pedido, em linguagem acessível e que adapta com mestria aos conhecimentos dos clientes. Na cozinha, o entrosamento é total com o chef João Rodrigues, trabalho que não se vê durante os períodos de serviço e que é feito nos tempos intermédios. O chef Rodrigues explica o que está a pensar fazer e juntos definem afinações e standards de serviço para cada prato. É nesse momento também que são estabelecidas as linhas gerais de harmonização vínica, e André Figuinha nunca deixa nada por dizer, juntos até por vezes corrigem temperos e acompanhamentos, sem complexos. A componente de gestão é muito importante na função de escanção e Figuinha é exímio na tarefa de estabelecimento da carta de vinhos, alinhamento de vinhos a copo e propostas pontuais para a época e acontecimentos específicos. As suas responsabilidades neste aspecto vão para lá do Feitoria, são também assinadas por si as cartas do Mercado, Cafetaria Mensagem, e Avenida, todos do grupo. A discrição e o sentido de serviço são atributos deste escanção exemplar, que cumpre o pleno das funções que convergem na sua profissão. Proximidade dos clientes, interface com o chef e trabalho exaustivo de gestão. É o sommelier do ano. F. M.
www.restaurantefeitoria.com
Prémio David Lopes Ramos
Nuno Diniz

foto de Paulo R. Cabral – Publiçor
Cozinheiro, chefe respeitado, formador, investigador, gastrónomo, cronista, detentor de uma vasta cultura que ultrapassa em muito a sua área de actuação profissional, Nuno Diniz passou 14 anos a percorrer o país. Calcorreou aldeias perdidas e lugarejos que não vêm no mapa, aprendendo com gentes simples gestos e saberes quase esquecidos, para inventariar chouriços, farinheiras, paios, painhos e paiolas. Pode parecer uma obsessão insana, mas para Nuno Diniz foi uma imposição a que se obrigou e que decorria da forma como entendia o seu dever enquanto profissional. Cozinheiro, antes de mais, chefe respeitado, formador, investigador, gastrónomo, cronista, detentor de uma vasta cultura que ultrapassa em muito a sua área de actuação profissional, Nuno Diniz percebeu que uma gastronomia sem raízes e sem memórias é um fogo fátuo, uma exibição vazia de técnicas e virtuosismos sem sustentação.
O resultado deste esforço materializou-se no livro Entre Ventos e Fumos – Fumeiros e Enchidos de Portugal, uma obra fundamental que é, antes de mais, uma forma de generosa retribuição a um povo que lhe deu tanto e que o chefe considerou ser seu dever preservar e honrar.
Este apelo permanente às nossas raízes e à proximidade não esconde nem faz esquecer as bases de uma formação culinária clássica, aliada a uma curiosidade permanente em descobrir ingredientes, processos, técnicas. Um homem do mundo com muito mundo, viajante inveterado, coleccionador de livros, aberto a novas experiências, ele é uma referência incontornável para as centenas de alunos que lhe passaram pelas mãos na Escola de Hotelaria de Lisboa onde lecciona as cadeiras de Gestão e Produção de Cozinha e Culinary Arts. O seu trabalho tem inspirado novas gerações de cozinheiros com a sua paixão pela cozinha e valorizando sempre a autenticidade e qualidade dos produtos. Acérrimo defensor da profissão, da formação e da importância de devolver à profissão, através do seu contributo na formação dos mais jovens, o que a profissão de cozinheiro lhe deu, cultiva uma cultura de partilha de conhecimento intergeracional.
Espírito inquieto, e nunca satisfeito, Nuno Diniz prepara-se agora para abrir novo restaurante no Chiado, onde pretende por em pratica a sua visão da gastronomia portuguesa e justificar o epíteto que um critico lhe colou à pele: ele é o mais português dos cozinheiros portugueses. J.G.
Senhor do Vinho
Orlando Lourenço

Para muitos dos apreciadores mais exigentes, Orlando Lourenço é o “Senhor Espumante”. Os espumantes portugueses devem-lhe bastante, para não dizer quase tudo. Foi com o seu talento e mestria que os espumantes foram pela primeira vez colocados num patamar de qualidade e preço ao nível dos melhores brancos e tintos nacionais. E foi muito por “culpa” de Orlando Lourenço e da Murganheira que as bolhas vínicas ganharam estatuto de coisa séria junto dos consumidores, criando-se o embrião de uma cultura de espumante capaz de apreciar este vinho fora dos momentos festivos. Aos 69 anos mantém-se absolutamente fiel à escola champanhesa, continuando a inovar e a produzir excelência em cada ano que passa.
Nascido em 1950 numa quinta em Lamego, Orlando Lourenço cresceu rodeado de vinhas e cedo acompanhou o bulício das vindimas. O seu pai já produzia vinhos base para espumante sob supervisão da Raposeira. Sua mãe, chegou a ser funcionária da mesma empresa. Ali ao lado, existia a Murganheira, fundada em 1947. O espumante fazia, pois, parte do seu dia a dia, mas nunca imaginaria Orlando Lourenço que, anos mais tarde, Raposeira e Murganheira estariam nas suas mãos. Quando comprou a Murganheira, em 1987, o primeiro passo de Orlando Lourenço foi procurar aprender com os melhores. Vários anos de estudo em Champagne deixaram-lhe as bases e os princípios de excelência pelos quais de rege e que transmitiu também à Raposeira, revolucionando vinhos e mentalidades quando a adquiriu em 2002.
Tal como os clássicos de champagne, Orlando Lourenço também vê na prensagem o factor mais determinante para a qualidade e perfil do produto final. Do fracionamento do mosto na prensa faz cinco tipos de vinhos e apenas menos de um terço do mosto é utilizado para os espumantes do tipo bruto. O afinamento na garrafa ao longo de vários anos, sobre as leveduras livres, em cave apropriada, é outra condição para atingir a excelência. O estágio prolongado faz parte do carácter Murganheira e Orlando Lourenço dele não abdica para os seus melhores vinhos. “O repouso sobre as leveduras livres afina o vinho de uma forma absolutamente única, a todos os níveis, bolha, aroma, sabor, equilíbrio”, afirma o enólogo, que não hesita nas palavras para definir um grande espumante: “corpo e elegância. No meio disso está a acidez. Procuramos chegar a um corpo cheio, que possa casar com a acidez e a elegância.” Incontestado mestre dos espumantes de Portugal, Orlando Lourenço, um notável Senhor do Vinho. L.L.
murganheira.com
A excelência num copo: os 30 melhores vinhos de 2019

Portugal é um país produtor de vinhos de excelência. E se alguém pode afirmá-lo com conhecimento de causa são os provadores da Grandes Escolhas: Dirceu Vianna Junior, João Afonso, João Paulo Martins, Luís Lopes, Mariana Lopes, Nuno de Oliveira Garcia e Valéria Zeferino. Ninguém, no nosso país, avaliou tantos vinhos e tão diversos quanto esta […]
Portugal é um país produtor de vinhos de excelência. E se alguém pode afirmá-lo com conhecimento de causa são os provadores da Grandes Escolhas: Dirceu Vianna Junior, João Afonso, João Paulo Martins, Luís Lopes, Mariana Lopes, Nuno de Oliveira Garcia e Valéria Zeferino. Ninguém, no nosso país, avaliou tantos vinhos e tão diversos quanto esta equipa que conjuga experiência e juventude, irreverência e sensatez, e tem como denominador comum o rigor, a isenção e o sentido de responsabilidade.
Quase 5.000 notas de prova, individuais e colectivas, foram sendo compiladas ao longo do ano, resultando na conclusão já esperada: os vinhos portugueses mostram uma qualidade média elevada, vincado carácter regional e, em muitos casos, aliam notável expressão de terroir à excelência qualitativa.
Identificar e premiar os vinhos que mais se destacaram em cada região ou categoria não foi por isso tarefa fácil; e, de entre estes, seleccionar o nosso Top 30, foi mais árduo ainda. Para levar a cabo esta missão de forma rigorosa e, tanto quanto possível, justa, estabelecemos critérios. Desde logo, não considerámos vinhos já premiados em anos anteriores. Depois, deixámos de fora os vinhos produzidos em quantidade inferior a 1000 garrafas. E, adicionalmente, para ser elegível para o exclusivo “clube” Top 30, o vinho em questão deverá ter sido provado e aprovado como merecedor por, pelo menos, três dos sete provadores.
Este ano fomos mais longe e optámos por escolher ainda o melhor entre os seus pares, nas categorias espumante, branco, tinto e fortificado. É este o vinho que vem em primeiro lugar, a abrir a categoria, sendo que os restantes entram por ordem alfabética.
São todos eles vinhos de primeira grandeza, vinhos de sonho que espelham o Melhor de Portugal.
(nota: os textos estão assinados no final com as iniciais dos nomes dos autores. A descodificação: J.A: João Afonso; J.P.M: João Paulo Martins; M.L: Mariana Lopes; N.O.G: Nuno de Oliveira Garcia; V.Z: Valéria Zeferino)
Murganheira Esprit de la Maison Távora-Varosa Espumante branco 2011
Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa
Nada neste vinho é normal ou corrente, e tudo foi pensado ao pormenor. Afinal de contas, referimo-nos ao novo espumante de topo da Murganheira, produtor com larga experiência e que já nos habituou a várias cuvées especiais. Desde logo, é unicamente comercializado na loja da empresa, e num formato Magnum (1,5 litros), o que lhe confere imediatamente uma aura de elitismo, a somar-se ao rótulo distinto e luxuoso que exibe. Depois, degorjaram-se apenas 1.000 garrafas, o que o torna uma preciosidade rara. Quanto ao vinho propriamente dito, trata-se de uma ‘assemblage’ apenas de Pinot – Noir, Blanc e Meunier – da colheita de 2011, um ano excelente para tintos, brancos e, já agora, para espumantes também. O perfil é de enorme requinte, com pressão média e bolha finíssima que se desfaz numa prova de boca cremosa. É apenas em Magnum e não é barato, mas é absolutamente fabuloso. N.O.G.
É o novo espumante de topo da Murganheira, que procura simbolizar toda a filosofia da casa e é unicamente comercializado na loja da empresa. Feito de uma “assemblage” de Pinot (Noir, Blanc e Meunier) revela profundidade e complexidade aromática impressionantes, com biscoito, brioche, citrinos, especiarias, entrelaçados num conjunto de enorme requinte. A fruta tem notável qualidade, a bolha finíssima desfaz-se na boca cremosa, o vinho brilha intensamente em frescura, sofisticação, classe. Degorjaram-se apenas 1.000 garrafas magnum desta preciosidade. (13%)
Vértice Douro Espumante Pinot Noir branco 2010
Caves Transmontanas
Uma das duas mais requisitadas variedades da região francesa Champagne, Pinot Noir (sendo a outra o Chardonnay), serve de ferramenta às Caves Transmontanas para fazer um dos melhores espumantes portugueses, fácil de se bater com o que de melhor se faz lá fora a nível de bolhinhas. A Celso Pereira tira-se o chapéu, por se estar a tornar num dos maiores mestres nacionais de espumante, mostrando que esta é uma arte que, para atingir a grandiosidade, requer uma alta especialização e um talento que talvez não assista a todos. Isso e terroir, claro. Este Pinot Noir tem origem em solos graníticos de transição, a cerca de 550 metros de altitude, e estagia em garrafa durante mais do que 96 meses. M.L.
Degorjado em Maio de 2019. Cor ligeiramente salmonada, bolha finíssima. Aroma requintado com brioche, tosta, pastelaria e nuances de fruta vermelha. Harmonia e plenitude, cremosidade de mousse incrível, frescura profunda que persiste no elegante e saboroso final de boca com toque de framboesa. (13%)
Parcela Única Vinho Verde Monção e Melgaço Alvarinho branco 2017
Anselmo Mendes Vinhos
A presença recorrente do “Doutor Alvarinho” neste Top 30 não é por acaso. A cada ano que passa, Anselmo Mendes deixa um vinho (no mínimo) no topo das milhares de provas feitas na Grandes Escolhas. Os mais de 20 anos de estudo e experimentação com a casta, fizeram dele o maior conhecedor dela e o mentor que todos os jovens enólogos de Monção e Melgaço, e não só, querem ter. De uma só parcela, com cerca de dois hectares, surge este Alvarinho que prima pela elegância e precisão, cujas uvas são prensadas, inteiras e desengaçadas, muito suavemente. Depois, fermenta em barricas de carvalho francês e estagia nas mesmas durante sensivelmente nove meses, com bâtonnage, sobre borras totais. Uma ode ao Alvarinho desta sub-região. M.L.
As notas minerais invadem o aroma, amparadas por levíssimos fumados, fruta de enorme qualidade, toranja e tangerina em camadas. A boca revela um vinho ainda extremamente jovem, sem querer mostrar tudo, com sublime delicadeza e contenção. Textura cremosa cortada por acidez crocante, sólido e super-elegante ao mesmo tempo. No final, interminável, voltam as notas de pedra molhada, num registo pleno de brilho e distinção. Um branco perfeito, contido, que é quase crime beber agora. Vale o sacrifício de esperar mais três ou quatro anos por ele. (13%)
Grande Druida Homenagem João Corrêa Dão Encruzado branco 2017
C2O
Nuno do Ó tem deixado a sua marca enológica em várias regiões. Foi em Bucelas que, na quinta da Romeira, trabalhou com João Corrêa, o enólogo entretanto falecido e agora muito justamente homenageado com este vinho. Depois disso encontramos o seu nome associado a vinhos de várias regiões, de norte a sul. O gosto pelo Dão levou-o também até às terras beirãs e, com a marca Druida, têm saído para o mercado vinhos cheios de carácter e alma, algo que, estamos certos, muito agradaria a João Corrêa. Aqui, Nuno expressa o terroir específico do Dão, trazendo-nos um branco notável que nos recorda que esta é uma das melhores zonas do país vinhateiro para fazer vinhos brancos que podem durar anos em cave. J.P.M.
Absolutamente primoroso no aroma, muitas notas de sílex, citrinos frescos, vegetal seco, tudo com grande pureza e presença. Na boca revela imenso carácter, com grande cremosidade cortada por vibrante acidez, notas de casca, toranja, suave especiaria, sugestão de fumo. Tenso, longo, distinto, é um branco de enorme sofisticação, feito para crescer ao longo de muitos anos. (12,5%)
Quinta do Regueiro Jurássico Vinho Verde Monção e Melgaço Alvarinho branco
Quinta do Regueiro
Neste projecto não há pressa em nada, o tempo é que faz o seu trabalho. A primeira vinha de Alvarinho foi plantada em 1988 e o primeiro vinho lançado no mercado 10 anos mais tarde, em 1999. Tudo começou com 2 hectares de vinha, hoje já existem 6 hectares plantados e mais 6 através de contratos de longa duração.
Este vinho, absolutamente invulgar, quer na forma de ser feito, quer nas suas características organolépticas. Resulta de um lote de vinhos das colheitas de 2007, 2008, 2009 e 2010, estagiados apenas em inox para mostrar o potencial da região e a capacidade de evolução da casta, mesmo sem estágio em barrica. Foi lançado no ano passado, em que a marca comemora os seus 20 anos. V.Z.
Resulta de um lote de vinhos das colheitas de 2007, 2008, 2009 e 2010, conservados em inox. É um vinho tremendo, desde logo pela complexidade aromática, misturando sugestões de casca de laranja, tangerina, gengibre, resinas, iodo, um leve toque apetrolado. Muito rico e profundo, servido por acidez generosa e crocante, com final elegante e interminável, um verdadeiro hino à casta e à região. (13%)
Série Ímpar Bairrada Sercialinho branco 2017
Sogrape Vinhos
Este é o primeiro vinho de uma linha muito especial. Tudo começou quando Fernando da Cunha Guedes, presidente da Sogrape, desafiou os seus enólogos a criar vinhos diferenciadores, que aliassem criatividade a elevada qualidade, sem qualquer constrangimento comercial ou financeiro. Surgiu assim a Série Ímpar, ideia abraçada com muita vontade pelos profissionais da empresa, a laborar em várias regiões do país. Este branco Bairrada, nascido da Quinta de Pedralvites, é a criação do enólogo António Braga com o apoio de Paulo Prior, o residente na adega desta região. Em 2.5 hectares de solo argilo-calcário, cresce o Sercialinho que fermentou em barricas usadas, para se tornar num branco que encaixa perfeitamente no “pedido do patrão”: único e brilhante. M.L.
A pele das uvas Sercialinho é quase laranja e origina por isso um vinho de cor limão maduro. O aroma é intenso, complexo e elegante, muito centrado nas notas citrinas, frutos secos, erva caril. A presença de boca é brilhante, com corpo cheio e untuoso cortado por crocante acidez limonada. Enorme equilíbrio e firmeza, imenso sabor, longuíssimo final. (12,5%)
Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa Douro tinto 2016
Quinta do Crasto
A vinha Maria Teresa é um tesouro centenário de 4.7 hectares, plantado em socalcos e com exposição nascente, na Quinta do Crasto. Naturalmente, podem encontrar-se nela 49 variedades misturadas. A baixa altitude e com raízes que atingem dezenas de metros de profundidade, a vinha Maria Teresa tem uma média de produção, por videira, de 300g de uvas, uma baixíssima produtividade que gera um nível de concentração muito rico e uvas de grande qualidade. Em anos excepcionais, essas uvas originam este magnificente vinho homónimo, que na colheita de 2016 estagiou em barricas de carvalho novas (90% de carvalho francês 10% carvalho americano) durante 20 meses. O lote final resulta, ainda, de uma selecção primorosa dessas barricas. Um estrondo de vinho tinto, o arquétipo da elegância. M.L.
Impressiona desde logo pela excelente profundidade aromática, com enorme complexidade e qualidade, fruto silvestre, arbusto, esteva, muita especiaria, um leve floral superelegante. O vinho revela uma grande estrutura tânica de taninos maduros, com leves amargos, fantástica textura e cremosidade combinada com bastante frescura, numa mistura de equilíbrio, classe e personalidade que roça a perfeição. Um Douro grandioso, brilhante. (14,5%)
Aeternus Douro tinto 2017
Quinta Nova N. Senhora do Carmo
O nome diz tudo, Aeternus… Inspirado na vida e no legado do empresário Américo Amorim, e fruto da colheita do ano que o viu falecer, é a homenagem ao patriarca e a comemoração dos 20 anos da família Amorim no negócio do vinho. São apenas 3.566 de um vinho verdadeiramente topo de gama num projeto que já constava com outros grandes tintos (Mirabilis e dois Grande Reserva), o que diz muito da sua qualidade. Provém da Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo, de uma vinha centenária com 2.5 há. virada a sul, na margem direita do Douro entre a Régua e o Pinhão. O lote é composto por várias castas típicas da região, incluindo preciosidades quase históricas como Tinta Carvalha, Rufete e Alicante Bouschet. Dado o seu carácter mais aberto e delicado, optou-se por um estágio com grande percentagem em barrica usada. Temos aqui um tinto muito afinado, fruto do desejo de Luísa Amorim, do labor da equipa de viticultura liderada pela Ana Mota e da competência entusiasmada do enólogo Jorge Alves. N.O.G.
Oriundo de uma vinha centenária, impressiona desde logo pela fantástica qualidade da fruta, bagas silvestres, amoras, framboesas, desdobrando-se em camadas, acompanhadas de notas de esteva, menta, cacau amargo, flores campestres. A textura e cremosidade de boca são fantásticas, com taninos maduros de enorme polimento, apesar da óbvia juventude. Equilíbrio ácido perfeito, muita classe e sofisticação. (14,5%)
Carlos Lucas & Carlos Rodrigues Dão tinto 2015
Magnum-Carlos Lucas Vinhos
Os dois enólogos que dão nome ao vinho têm já muitos anos de profissão, tendo acompanhado a renovação da enologia que se operou em Portugal nos anos 90. Essa mudança, que se estendeu a várias regiões, apanhou Carlos Rodrigues na Bairrada e Carlos Lucas no Dão, regiões vizinhas que, apesar da proximidade, fazem vinhos diferentes. A vizinhança levou-os, no entanto, a interessarem-se por outros vinhos e esta colaboração é disso um bom exemplo. Carlos Lucas está agora mais centrado na região de origem, com um portfólio alargado de vinhos do Dão, região que nos traz os melhores exemplares de algumas das mais conceituadas castas nacionais, quer em brancos quer em tintos. As parcerias querem-se assim. J.P.M
Surpreendentemente jovem na cor e no aroma, com fruta silvestre de elevada qualidade, suaves fumados e especiarias, leve floral, um toque de cassis, caruma. A textura de boca é um espanto, muita cremosidade envolvendo taninos sólidos, mas maduros, com imprevista acidez a dar muita vibração, frescura e persistência. Grande vinho. (14%)
Cortes de Cima Reg. Alentejano Reserva tinto 2014
Cortes de Cima
Um dos grandes clássicos do Alentejo, produzido apenas em anos de excelência. Hans e Carrie Jorgensen chegaram a Portugal em 1988 e descobriram “Cortes de Cima” na zona de Vidigueira no Alentejo, terras, onde resolveram criar a sua segunda casa. Plantaram as castas tintas, onde se plantava habitualmente, brancas, porque acreditaram no seu projecto.
Lote de cinco castas: Aragonez, Syrah (e foram eles a introduzir esta casta no Alentejo), Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Touriga Franca. Antes da fermentação ocorre uma longa maceração pelicular. Segue o estágio de 14 meses em barricas de carvalho francês e 10% de carvalho americano. V.Z.
Aragonez, Syrah, Touriga Nacional, Petit Verdot. Fruto vermelho de enorme qualidade, balsâmicos, toque vegetal seco, terra húmida, musgo, cogumelos shitake. Equilíbrio perfeito entre taninos, corpo, acidez, enorme frescura de boca, sofisticado, com classe, todo ele integrado e elegante. (14%)
Estremus Reg. Alentejano tinto 2015
J. Portugal Ramos Vinhos
Este é, sem dúvida, um vinho muito especial desde a origem. É certo que João Ramos dispensa apresentações, sendo um dos responsáveis pela revolução dos vinhos em Portugal sentida nos anos ’80 e ’90 do século passado. Mas, na verdade, este tinto provém de uma vinha única, plantada na encosta do castelo de Estremoz e com uma beleza extrema e enorme fotogenia (uma das mais belas do país). Tem 25 há. e data de 2001, tendo sido escolhido para este tinto apenas a parcela – somente 1,5 há – na zona mais alta da encosta onde mais mármore se encontra à superfície. Com as tradicionais Trincadeira e Alicante Bouschet, em iguais proporções, fermentação em lagares feitos de mármore tal como o solo onde nasceu, João Ramos decidiu produzir um tinto único, naturalmente assente numa pequena produção (4 toneladas por ha). São 3.288 garrafas preciosas e raras, onde a fruta se destaca pela beleza e os taninos pela sofisticação. N.O.G.
Com Trincadeira e Alicante Bouschet, duas uvas clássicas do Alentejo, pisado e fermentado em lagares de mármore. A fruta é de enorme qualidade, assente em notas de groselhas pretas e amoras, ligada por muito discretos fumados e especiarias da barrica. Os taninos de seda estão perfeitamente envolvidos pelo corpo cheio, a que a fina e vibrante acidez do Alicante empresta leveza e frescura. As típicas notas de vegetal seco da Trincadeira conferem-lhe evidente carácter alentejano, sem sombra de rusticidade, antes um notável equilíbrio e elegância que perduram no muito longo final. Com tudo no sítio certo, um tinto de puro prazer. (14%)
Ganita Reg. Lisboa tinto 2015
Quinta do Gradil
A região de Lisboa é extensa e tem sido o cadinho de múltiplas experiências vínicas. A quinta do Gradil é um dos grandes operadores da região e os seus vinhos reflectem exactamente esse ambiente de experiência e vontade de inovar. Este tinto surge um pouco nessa linha, optando, num trio de castas, por uma pouco vulgar entre nós, a Tannat que, embora francesa, foi no Novo Mundo (Uruguai) que brilhou. Difícil a solo, é casta que, no entanto, é uma boa parceira em conjunto com outras. A região permite quase tudo, jogando com orientação solar, diferenciação de solos, formas de condução e técnicas enológicas diferentes. Tudo com o mar bem perto, o que lhe confere o seu traço dominante, a frescura. J.P.M.
Alfrocheiro, Touriga Nacional e Tannat, constituem uma pouco vulgar mistura de castas, mas que resulta maravilhosamente neste tinto que combina a fruta madura e a nuance floral das variedades portuguesas com a textura e músculo da francesa, tudo isto envolvido pela frescura atlântica deste terroir. Apesar do tempo de estágio, está extremamente jovem ainda, escuro e concentrado, vigoroso e opulento, com menta e pimenta no final muito longo e refrescante. Um grande tinto, que não liga a modas, e que continuará connosco ao longo das próximas décadas. (14,5%)
Gene Bairrada tinto 2007
Kompassus Vinhos
Já não é a primeira vez que o produtor João Póvoa tira “coelhos da cartola” (se me permitem a expressão!?). O primeiro foi o Quinta de Baixo Garrafeira 1991 (re)lançado em 2016 e que nos espantou pela robustez e juventude, esgotando pouco tempo depois de ser posto à venda. Este ano é o Gene que comprova a capacidade do legado genético deste produtor para fazer vinhos admiráveis que nos continuam a surpreender muitos anos depois de serem engarrafados. Este tinto, que em 2007 João Póvoa acreditava que seria o último da sua carreira, deu origem, 12 anos depois, a um lançamento único com uma apresentação inovadora e com um conteúdo absolutamente extraordinário. Um tinto inesquecível, uma autêntica e irrepetível raridade. J.A.
Muito escuro de cor. No aroma a dupla barrica desapareceu por completo, obliterada pelo vinho. Extremamente complexo, carnudo e profundo. Caixa de charuto, cravinho, pimenta, amoras silvestres, levíssima nota de cacau. Na boca é gordo, mas imensamente fresco, taninos fantásticos, muita especiaria, excelente acidez e frescura, longuíssimo e clássico final. Sublime. (14%)
Gloria Reynolds Cathedral Reg. Alentejano tinto 2004
Reynolds Wine Growers
A aposta de Julian Reynolds, e do seu enólogo Nelson Martins, em entregar os vinhos ao mercado com muitos anos de estágio, origina tintos como este Gloria Reynolds Cathedral, um autêntico monumento em forma de garrafa. Julian sabe bem o quer, desde muito cedo, e isso transparece nos vinhos criados à sua imagem e à dos seus antepassados. De Alicante Bouschet em maior parte (a uva porta-estandarte da Reynolds) e Trincadeira, o Cathedral é um dos lotes do vinho Gloria Reynolds (nome da sua mãe) que Julian manteve na adega para um lançamento tardio, 12 anos depois. E se valeu a pena… Evoluído de forma perfeita, mas ainda com muito para dar, é um autêntico portento, um tinto super-complexo, apaixonante. M.L.
Aroma quase jovem, com leves notas de mogno, frutos compotados e também secos. Muito fresco e bem vivo, está ainda nervoso com acidez para durar, chega a todos os cantos do palato e por lá fica. Um grande vinho, pleno de qualidade, sabor e finesse, potente. Excelente no estilo clássico. (13,5%)
Lavradores de Feitoria Três Bagos Douro Grande Escolha tinto 2015
Lavradores de Feitoria
A Lavradores de Feitoria, apesar dos seus 20 anos, mantém-se um projeto único, resultante da união de 15 produtores, proprietários de 18 quintas distribuídas pelas três sub-regiões do Douro (Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior). Ano após ano, vários vinhos da Lavradores de Feitoria merecem destaque da crítica. A par do Meruge (branco e tinto) e clássico Sauvignon Blanc (quase um precursor na região), tem sido o topo de gama tinto Grande Escolha o vinho que, desde a sua estreia em 2000, tem merecido mais elogios. Com origem em vinhas velhas, todas com mais de 60 anos provenientes das quintas da Costa, Mata e Estrada, o enólogo Paulo Ruão (que é o responsável por este tinto desde 2004) criou um vinho assente em mineralidade e profundidade na prova de boca. Num ano de grande qualidade para o Douro, e após uma afinação longa em barrica nova e em garrafa, este Grande Escolha é um dos vinhos mais irresistíveis do Douro! N.O.G.
Tem origem em vinhas velhas. Mostra tremenda complexidade aromática, onde a mineralidade é sentida, onde a fruta é madura, com bagas negras e algumas notas balsâmicas, sempre com distinta elegância. O ambiente na boca é de enorme harmonia e profundidade. Conjunto notável, de absoluto polimento, repleto de sabor. (14,50%)
Palácio dos Távoras Gold Edition Trás-os-Montes Grande Reserva tinto 2016
Costa Boal Family Estates
O projecto da Costa Boal Family Estates abrange as duas regiões – Douro e Trás-os-Montes e consiste em recuperação de vinhas da família. A responsabilidade enológica recai sobre o já conceituado enólogo Paulo Nunes.
Este vinho resulta de uma parcela específica de uma vinha velha com 50-60 anos perto de Mirandela, onde, para além de Alicante Bouschet, encontra-se uma grande percentagem de Baga, o que não é muito comum nas vinhas em Trás-os-Montes. Na adega repararam que a uva desta parcela tinha características analíticas diferentes (pH mais baixo). Fermentou em lagares com algum engaço e estagiou 16 meses em barrica nova. A edição é limitada a 1.145 garrafas e mais 115 magnum. V.Z.
Oriundo de pequena parcela de vinha velha. Aroma refinado e complexo que merece uma prova atenta. Revela amora madura, pasta de azeitona preta, tomilho, cominho e pimenta preta, alguma noz moscada e notas de terra. Entra em grande, com potência e afirmação de estrutura e tanino, deixando acidez e elegância a brilhar no fim. Fruta fresca e especiaria persistem no sabor com muita personalidade. (14,5%)
Pintas Douro tinto 2017
Wine & Soul
Com sede e centro de operações em Vale de Mendiz, a Wine & Soul tem vindo, paulatinamente a alargar o seu portefólio e agora a consolidá-lo. O primeiro vinho foi o Pintas, da colheita de 2001, depois surgiram outros tintos, brancos e Portos. Apesar de todas as vinhas para os tintos se encontrarem exclusivamente no Vale de Mendiz, não muito distante da Vila do Pinhão, mas com maior altitude, as várias referências apresentam características diferentes. A vinha que origina o Pintas permite sempre maturações muito intensas, graças à sua exposição e idade vetusta. Depois de mais de 15 edições, e na edição de 2017 (bem diferente da de 2016, com maior concentração no centro de boca e final mais pujante) todos os vinhos do produtor voltaram a brilhar, mas o Pintas mais uma vez destacou-se pela profundidade da prova de boca e complexidade aromática. Cada vez mais fino e quase inalcançável no perfil polido e generoso, o Pintas 2017 mantém-se um dos melhores de Portugal. N.O.G.
Aroma muito complexo, com alguma opulência de fruta vermelha e negra com a barrica especialmente bem inserida. Impressiona enormemente os sentidos, mas sem ser impositivo, o que é muito bom. Tem perfeita elegância de boca, taninos muito finos, mas ainda bem presentes, deixando um final acetinado, longo e com frescura. Notável. (14,5%)
Quinta da Pellada “Mata” e “Casa” Dão tinto 2015
Quinta da Pellada
Há 30 anos que Álvaro Castro nos vem mostrando o que de melhor a região do Dão tem para oferecer. Isto é válido quer para brancos quer tintos e Álvaro tira partido de pequenas parcelas onde muitas vezes com inúmeras castas diferentes misturadas na vinha, consegue obter vinhos de grande complexidade, muito originais e que nos relembram que do lote de muitas castas também se conseguem obter vinhos ricos e singulares. Álvaro Castro tem desenvolvido um grande esforço de preservação das vinhas velhas e também de reprodução, a partir de velhas cepas, de variedades que fizeram história no Dão, mas que hoje estão quase esquecidas. A região e os consumidores só têm a beneficiar com isso. J.P.M.
Vinho oriundo de duas parcelas de vinha com 69 anos, 48 castas identificadas. Excelente complexidade aromática, fruto bonito e muito puro, mato, cogumelos, flores do bosque, num registo ainda bem jovem. Perfeito polimento de taninos, enorme subtileza, mas ao mesmo tempo bastante sabor, cheio de delicadeza e classe. (13%)
Quinta das Bágeiras Pai Abel Bairrada tinto 2013
Mário Sérgio Alves Nuno
De uma vinha de 0.6 hectares em solo argilo-calcário, a vinha Costeira, nasce este Pai Abel de Baga e Touriga Nacional, castas que estão misturadas na parcela, num rácio de 80% para 20%. A produção é limitada a três cachos por videira, para replicar o comportamento de uma vinha centenária e as estas uvas fermentam com engaço durante uma semana em lagar aberto, e durante esse tempo são feitas remontagens com maços compridos de madeira, várias vezes ao dia. O vinho estagia em barricas usadas de Borgonha, passando depois para um tonel de madeira antes de ser engarrafado. O pai de Mário Sérgio, Abel, pode ser visto a equilibrar-se em cima destes mesmos lagares a fazer a remontagem, e isso é só mais um motivo para que lhe seja dedicado este tinto de classe mundial. M.L.
Baga (80%) e Touriga Nacional (20%) de mãos dadas num perfil sumamente elegante. Fruta de enormíssima qualidade, pimenta, especiaria, erva seca, musgo. Os taninos são perfeitos, fortes, mas polidos com esmero, a acidez vibra e potencia todo o conjunto com brilhante frescura quase salina. Um Pai Abel de imprevista sofisticação, mas que nunca perde o carácter da terra nem o tom austero e clássico da marca. Um tinto absolutamente notável. (13,5%)
Quinta do Noval Douro Reserva tinto 2016
Quinta do Noval
É um nome icónico no Douro e no horizonte de vinhos de Portugal. O Quinta do Noval Reserva é o ex-libris dos vinhos tranquilos da casa.
O 2016 foi um ano de extremos. Após uma Primavera chuvosa, o Verão apresentou-se muito quente e seco, com alguns picos extremos de calor em Agosto e Setembro. Em meados de Setembro caiu chuva necessária para a maturação prosseguir em condições ideais. A vindima decorreu com tempo seco e muito sol.
A Touriga Nacional é responsável pelos 60% do lote, acompanhada pelos 25% de Touriga Franca e 3% de Tinto Cão. O estágio decorreu em barricas de carvalho francês durante 10 meses, das quais 40 % eram barricas novas. V.Z.
Concentrado e rico, num registo menos denso e escuro do que em anteriores edições, está aqui muito bem trabalhada a fruta com a madeira, com fantástica frescura de fruta negra e erva seca. Muito bem esculpido na boca, com grande polimento de taninos, mas sem perder a garra e carácter. Um tinto cheio de futuro, mas já com muito presente. (13,5%)
Quinta do Vale Meão Douro tinto 2017
F. Olazabal & Filhos
No ano passado a Quinta do Vale Meão comemorou os 20 anos da marca. No lote deste vinho predominam Touriga Nacional (55%) e Touriga Franca (40%), acompanhadas por Tinta Barroca e Tinta Roriz, vinificadas separadamente. É pisado a pé em lagares durante apenas 4 horas e depois transferido para cubas de pequena capacidade para fermentar com adição de 10% de engaço. Estágio ocorre em barricas de carvalho francês de 225 litros, das quais 60% são novas e 40% de segundo ano.
O ano foi extremamente quente e seco, com valores muito baixos de água nos solos, originando uma antecipação de cerca de três semanas no ciclo. A vindima foi antecipada, mas deu resultados bastante interessantes do ponto de vista enológico. V.Z.
Muito fino no aroma, a fruta está muito presente, com a madeira superiormente inserida no conjunto, polido e delicado, mas sem perder concentração. Esta é uma característica recorrente neste vinho. Sedutor na prova de boca, com textura macia, mas nervosa, em virtude de taninos bem delicados. Um enorme Douro. (14%)
Quinta do Vallado Field Blend Douro Reserva tinto 2017
Quinta do Vallado
De todos os tintos da vaga moderna duriense este Quinta do Vallado Reserva mantém, desde o início, uma enorme identidade regional, aliada a uma frescura e profundidade pouco habitual entre os grandes tintos do Douro. Em prova cega este é um tinto que rapidamente nos fala das características da região que o faz nascer. Nunca são vinhos de estilo ‘fashionable’, antes sim vinhos com uma solidez de carácter admirável.
Vem de uma vinha velha com cerca de 34 diferentes castas onde predominam Tinta Roriz, Tinta Amarela, Touriga Franca e Tinta Barroca. Estagiou 18 meses em barricas de carvalho francês (60% usadas) e encheu 41.500 garrafas de 075L e 800 de 1,5L. Uma boa maquia de um grande vinho tinto. J.A.
Concentrado na cor, mas não opaco, excelente nota vegetal e resina ao lado de fruta viva de enorme qualidade, com ameixas vermelhas e cerejas negras. Super elegante e sofisticado na boca, com textura e taninos finos, belíssima frescura, predomina a elegância sobre a potência num conjunto de excelência. (14,5%)
Scala Coeli Reg. Alentejano Alicante Bouschet tinto 2016
Fundação Eugénio de Almeida
Produzido pela primeira vez em 2008, o vinho Scala Coeli, nome original do mosteiro que é hoje conhecido como Mosteiro da Cartuxa, resulta daquilo que a equipa enológica da Fundação Eugénio de Almeida, liderada por Pedro Baptista, considera como as melhores vinificações de cada ano. Em 2016, isso verificou-se com este Alicante Bouschet de grande categoria, em solos de granito, que foi vindimado a 11 de Outubro, sofreu maceração pré-fermentativa e estagiou dezasseis meses em barricas novas de carvalho francês, que estão genialmente integradas no vigor e profundidade deste tinto fenomenal. Pegar numa casta que tem uma rusticidade natural e conferir-lhe este perfil equilibrado e elegante, não é para todos. M.L.
Nariz de pendor levemente vegetal e também com pimento, cacau, num aroma profundo que adivinha também profundidade de boca. Excelente textura, vigoroso, mas muito fresco, mineral e quase citrino. Uma versão da casta que nada tem de rusticidade, mas tudo de poder, com grande vibração e equilíbrio. Um vinho quase interminável, ainda extremamente jovem. (15%)
Tapada de Coelheiros Reg. Alentejano Garrafeira tinto 2012
Herdade de Coelheiros
Nome incontornável dos vinhos alentejanos nos anos 90, a herdade de Coelheiros sempre incluiu nos encepamentos algumas castas francesas entre as quais se contam a Chardonnay e a tinta Cabernet Sauvignon. Esta variedade bordalesa tem o grande mérito de ser perfeita em climas e solos variados, podendo originar vinhos que se tornam referência. Foi o caso dos Coelheiros onde ligada, com é este o caso, com Aragonez, gera um tinto de grande riqueza e concentração, daqueles que têm tudo para viver em cave. O clima quente, a maturação lenta e a grande resistência às maleitas da vinha, fazem da Cabernet a casta que todos querem. Gera vinhos bons e, ocasionalmente, está na base de tintos notáveis. É o caso. J.P.M.
Cabernet Sauvignon e Aragonez de vinha plantada em 1981. A cor intensa revela que o tempo mal passou por ele, o aroma mostra uma evolução perfeita, com enorme profundidade e complexidade, muita pimenta e noz moscada, bagas maceradas, musgo e vegetais secos. Na boca sente-se um vinho austero e muito sério, com taninos vigorosos, mas perfeitamente domados pelo tempo e pela sólida estrutura. Rico e requintado, com leves amargos a dar garra e muita frescura no final interminável. (14,5%)
Taylor’s Vargellas Vinha Velha Porto Vintage 2017
Taylor Fladgate & Yeatman
Vem de uma das quintas mais famosas de todo o vale do Douro. A sua impressionante arquitectura de terraços e a grande área de vinha velha neles plantada, fazem dela uma autêntica “jóia da coroa” do sector Vinho do Porto. Para a feitura deste Porto inexcedível são seleccionadas as uvas das 4 parcelas de vinha com maior estatuto de qualidade da Quinta: Polverinho, Renova do Depósito, Renova do Armazém e Gricha. No total somam apenas 2% da produção total. Este vinho Vargellas Vinha Velha (feito, na minha perspectiva, numa filosofia do mais puro hedonismo) representa a selecção da selecção. As uvas desta Quinta são a base do famoso Vintage Taylor’s e este Taylor’s Vargellas Vinha Velha é o seu, não menos magnífico, alter ego. J.A.
O aroma apresenta um forte lado vegetal, abundantes notas de esteva, de urze, leve menta e muita pimenta. A fruta está guardada, mas surge na boca fruta negra de amoras e ameixas e uma sensação química a revelar a austeridade do vinho. Enorme concentração de sabor, um vinho que se mastiga, e onde taninos vigorosos lhe asseguram longa vida. Absolutamente notável. (20%)
Alambre Moscatel de Setúbal 20 anos
José Maria da Fonseca
A José Maria de Fonseca é uma empresa incontornável na Península de Setúbal. Continua a ser de cariz familiar, nas mãos da 6ª e 7ª geração da família.
Este Moscatel de Setúbal demonstra uma enorme harmonia, proveniente de vários factores, a começar pela casta Moscatel de Setúbal com grandes propriedades aromáticas, enfatizadas pelos 5 meses de maceração pelicular depois de adição de aguardente ao mosto. O estágio oxidativo em madeira usada confere complexidade, mantendo, ao mesmo tempo, uma frescura aromática. O profundo equilíbrio vai da arte de fazer blend. Este vinho é um lote de 6 colheitas em que a colheita mais nova tem pelo menos 20 anos e a mais antiga data de 1911. V.Z.
Engarrafamento de 2019. Muitos tons esverdeados quando se agita o vinho no copo, enorme riqueza aromática, com farripa de laranja, frutos secos, compotas e mel, mas sem que se perca a frescura e elegância. Muito bom volume de boca, com uma acidez muito refrescante, um moscatel acetinado, gordo e macio que deixa um rasto citrino que se prolonga muito no final. Um grande exemplo da casta e da região. (18%)
Bacalhôa Setúbal Moscatel Roxo Superior 20 anos 1998
Bacalhôa Vinhos
A casa Bacalhôa tem vindo a habituar os seus consumidores a moscatéis com um perfil muito rico e exuberante, sempre generosos na entrega e no prazer. Nesse campeonato, o Moscatel Roxo reina muito alto, proporcionando sempre néctares de incrível complexidade e magnifica cor âmbar. Existem no produtor lotes com classificação de Superior e indicação do ano lançados mais novos com grande qualidade, mas têm sido, sobretudo, os lotes de 20 anos da casa, também com ano de colheita, a revelar-se sempre ao melhor nível da região. Este 1998 vem na sequência das quatro edições anteriores, 1997, 1996, 1995 e 1983. Está pronto a beber, mas grande mal não lhe virá se só o abrir daqui a algum tempo. A melhor notícia é que continuam em estágio barricas com a mesma colheita de 1998 que poderão originar futuros engarrafamentos, quem sabe um 30 e/ou 40 anos. N.O.G.
Enorme profundidade e complexidade aromática, casca de laranja cristalizada, flor de laranjeira, passa de Corinto, anis estrelado. Perfumado, combina de forma majestosa uma grande untuosidade e textura de boca com uma finíssima acidez citrina. Muito rico, vibrante, concentrado e leve ao mesmo tempo, de extrema harmonia no final intenso e interminável. Sublime. (20,5%)
Barbeito Madeira Frasqueira Sercial 1993
Vinhos Barbeito
A casta Sercial (Esgana Cão de Bucelas) é uma das castas mais atraentes na ampelografia nacional. Na Madeira, a sua dimensão nos vinhos que produz dilata-se de forma quase incompreensível originando nos melhores casos, vinhos de uma concentração, impacto e intensidade de prova tão inesperados quanto admiráveis. Este Frasqueira Sercial 1993 é um destes exóticos e insondáveis vinhos. Vem da costa Norte, de vinhas muito próximas da povoação do Seixal, propriedades da descendência de Manuel Eugénio, partidista que fornece uvas e vinhos das castas Sercial e Verdelho à Barbeito desde a sua fundação. A paisagem onde se enquadram esta vinhas únicas transmite uma força impressionante a quem dela desfruta. O vinho corresponde na integra ao que vemos e sentimos. J.A.
Potente e com grande impacto aromático. Frutos secos, cravinho, caixa de charuto, leve vinagrinho, resina, verniz. Muito seco e cortante na boca, secura angulosa e salivante, muito profundo, salino e iodado, longuíssimo e largo final. Um Sercial de barba rija. (20%)
Graham’s The Stone Terraces Porto Vintage 2017
Symington Family Estates Vinhos
Verdadeira “essência” de vinho do Porto Vintage é, no final de contas, o bilhete de identidade deste Porto. Acontece em 2011, 2015, 2016 e 2017. Vem de duas pequenas parcelas de vinha em socalco junto à casa da Quinta de Malvedos: Parcela 43 (antiga Port Arthur), voltada a nascente (1,2 ha) e vinha dos Cardanhos, voltada a Norte (0,6 ha). Socalcos altos, construídos à força de braço no século XVIII, quase todos apenas com um bardo de vinha, produzem a uva desta quintessência. São parcelas protegidas do Sol poente, mais agressivo, com produções reduzidas e extremamente equilibradas. E não há segredos; para se fazer grandes vinhos temos de ter sempre grandes uvas. E é esta a grande proeza destes Stones Terraces. J.A.
Extremamente concentrado, mas sem perder elegância. Figo, leve noz, resina de cedro, esteva, chocolate, citrino e alguma salvia. Extremamente aromático e complexo. Na boca é largo, cheio e profundo, com taninos vigorosos, extremamente sedosos. Muito complexo, muito longo e espantosamente sedutor. (20%)
Vista Alegre Porto Colheita 1969
Vallegre Vinhos do Porto
Um Porto Colheita com 50 anos é sempre um vinho do qual esperamos muito. O tempo de casco, os cuidados que lhe são prestados e a atenção ao pormenor, fazem destes vinhos um perfeito companheiro do serão. Se por um lado o ano de origem do vinho já não é perceptível em virtude da oxidação a que foi sujeito, por outro este é o verdadeiro representante do Porto de outrora, do Porto que qualquer lavrador gostaria de ter na sua cave e que guardaria religiosamente. Engarrafado anualmente em pequenas quantidades, o Colheita é um vinho-bandeira para uma empresa e a Vallegre não foge à regra. Complexidade, enorme riqueza, textura de veludo, tudo aqui temos em dose perfeita. Um Colheita de sonho. J.P.M.
Muito rico, intenso e complexo de aroma, com toque de volátil, aromas concentrados de frutos secos, licores de ervas, tofa. Impressiona muito no nariz, sugerindo ser bem mais velho. Excelente presença de boca, profundo e aveludado na textura, untuoso e envolvente, de sabor interminável, um Colheita de enorme categoria, qualquer que seja o ângulo de apreciação. (21,5%)
Magos Irrigation Systems inaugura novas instalações em Beja

A Magos Irrigation Systems é uma empresa de serviços de projecto, instalação, assistência técnica e venda de sistemas de rega, envolvida em mais de 25.000 hectares/ano de regadio e com vendas anuais de mais 150 milhões de quilómetros de fita de rega. Através de soluções globais de rega que aumentam a rentabilidade dos agricultores, esta […]
A Magos Irrigation Systems é uma empresa de serviços de projecto, instalação, assistência técnica e venda de sistemas de rega, envolvida em mais de 25.000 hectares/ano de regadio e com vendas anuais de mais 150 milhões de quilómetros de fita de rega. Através de soluções globais de rega que aumentam a rentabilidade dos agricultores, esta empresa gera valorização da produção agrícola.
A 20 de Fevereiro, a Magos Irrigation Systems vai inaugurar as suas novas instalações na Zona Industrial de Beja, onde passa a contar com o mais moderno armazém de material de rega do Sul do país e uma equipa local de 20 colaboradores.
A modernização e ampliação das instalações da Magos Irrigation Systems em Beja, com uma área coberta de 1800m² (armazém, loja de venda ao público e escritórios), vem dar resposta à expansão da agricultura de regadio no Alentejo, onde os clientes são cada vez mais exigente quanto aos timings de execução das obras e entrega de materiais de rega.
“Com as novas instalações em Beja reforçamos a capacidade de stock e aceleramos a prontidão das entregas de material. Este investimento acompanha o dinamismo da agricultura de regadio no Alentejo, onde a Magos Irrigation Systems cresceu a um ritmo superior a 20% ao ano em área de rega instalada nos últimos cinco anos”, afirma António Gastão, administrador da empresa.
A Magos Irrigation Systems tem uma equipa multidisciplinar de 20 colaboradores em Beja, nas áreas de Projecto, Obras, Assistência Técnica, Logística e Técnico-Comercial, especialistas em rega de olival, amendoal e vinha. As equipas locais trabalham em estreita articulação com a sede da empresa em Salvaterra de Magos e são reforçadas sempre que necessário. A nível nacional são 92 colaboradores.
“Acreditamos no crescimento sustentável da agricultura no Alentejo e estamos a contribuir para o uso eficiente dos recursos – água e energia – fornecendo tecnologias de rega inovadoras”, acrescenta Miguel Empis, também administrador.
Península de Setúbal cresce em quota de mercado e na produção em 2019

A Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS) registou, em 2019, um aumento global de produção de 5% face a 2018, aproximando a produção total da região dos 50 milhões de litros. A nível de consumo no mercado nacional, os Vinhos da Península de Setúbal registaram um aumento de 2% na quota de vinhos […]
A Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS) registou, em 2019, um aumento global de produção de 5% face a 2018, aproximando a produção total da região dos 50 milhões de litros. A nível de consumo no mercado nacional, os Vinhos da Península de Setúbal registaram um aumento de 2% na quota de vinhos certificados, sendo considerada pela consultora Nielsen a região mais dinâmica neste período homólogo de crescimento, face a 2018.
Para Henrique Soares, Presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal, o ano de 2019 foi “mais um ano de crescimento para a região, quer na quota de mercado, quer ao nível da produção e das exportações”.
A região fechou o ano de 2019 também com um crescimento de 14% no volume de certificação dos vinhos com Denominação de Origem Setúbal (Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo de Setúbal) e Palmela, bem como nos Vinhos Regionais da Península de Setúbal, a que correspondeu a certificação de um volume superior a 55 milhões de garrafas, vendidas no mercado nacional e nos seus muitos mercados de exportação, onde se destacam Brasil, Canadá, E.U.A., China, Angola e vários países da União Europeia.
Os dados são da consultora Nielsen e colocam os Vinhos da Península de Setúbal na terceira posição entre os vinhos certificados mais consumidos no mercado nacional, com uma quota de mercado de 16,5%, em volume, entre os vinhos com Denominação de Origem e/ou Indicação Geográfica das várias regiões portuguesas. Os Vinhos da Península de Setúbal foram os que mais subiram em termos de vendas em volume (1,6%), tendo também o valor aumentado em 2.3%, face ao mesmo período de 2018. O preço médio dos vinhos da região subiu 0.19 euros por litro, tendo ultrapassado os 56 M€ (56 274 134 €) de vendas globais no mercado nacional, nos três primeiros trimestres de 2019.
Sugestão: A festa efervescente

O som da rolha a saltar de uma garrafa de espumante assinala o início de uma festa e Imediatamente se cria o ambiente e o estado de espírito. Embora estejamos longe de considerar um espumante uma bebida exclusivamente festiva, para isso torna -se indispensável. Provámos 14 espumantes para todos momentos da época que se avizinha. […]
O som da rolha a saltar de uma garrafa de espumante assinala o início de uma festa e Imediatamente se cria o ambiente e o estado de espírito. Embora estejamos longe de considerar um espumante uma bebida exclusivamente festiva, para isso torna -se indispensável. Provámos 14 espumantes para todos momentos da época que se avizinha.
TEXTO Valéria Zeferino
Existem muitas formas de criar efervescência no vinho. A ideia é sempre a mesma – captar (ou introduzir no caso de vinhos gaseificados) o dióxido de carbono (CO2) no vinho. Isto pode ser feito em cubas especiais sob pressão como no método Charmat (aka Martinotti ou Autoclave na Itália, Granvas em Espanha entre outros sinónimos), ou como no método Ancestrale numa única fermentação em garrafa. Mas quando estamos a pensar num espumante de qualidade, referimo-nos ao método tradicional, desenvolvido na região de Champagne em França, com mais ou menos sofisticação na sua elaboração e paciência no estágio.
Este método implica duas fermentações. A primeira resulta no vinho base, a segunda é responsável pela criação de bolhas – “prise de mousse”, como dizem os franceses.
Criar bolhas
Há vários detalhes no processo de espumantização que influenciam a qualidade do vinho final. A vindima normalmente ocorre mais cedo, quando as uvas apresentam menos grau provável e preservam a acidez. O melhor é vindimar à mão para apanhar apenas cachos saudáveis e minimizar a possibilidade de extração fenólica das películas e oxidação. Prensam-se cuidadosamente os cachos inteiros, muitas vezes com engaço que ajuda a criar canais de drenagem, evitando desta forma maior contacto de sumo com as películas. Depois segue a primeira fermentação para obter o vinho base. Normalmente é conduzida em cubas de inox, mas em certos casos acontece em barrica, como por exemplo, fazem Bollinger e Krug. A nível nacional, por exemplo, o vinho base para a Cartuxa Reserva fermenta também em barricas.
A fermentação maloláctica é opcional. Alguns produtores preferem bloqueá-la para preservar acidez e frescura e é mais válido para regiões quentes. Outros promovem-na para amaciar a textura e evitar excesso de acidez, sobretudo em regiões frias, como a Champagne.
O estágio do vinho base em barrica também é muito raro. A Bollinger faz isto, tirando o vinho depois da fermentação maloláctica e enchendo novamente as barricas, onde este fica com borras finas durante mais alguns meses. Os exemplos em Portugal são Cartuxa, Soalheiro, Vértice, que estagiam alguns dos vinhos base em barricas; no caso da Companhia das Lezírias este estágio é parcial.
O loteamento de vinhos base é extremamente importante. Em Champagne, onde as condições climáticas adversas não permitem todos os anos uma excelente vindima, por hábito juntam-se os vinhos de várias colheitas guardadas em cave para obter o melhor resultado e manter o estilo de casa. Os Champagnes com a indicação do ano de colheita são feitos apenas nos anos de excelência e, salvo algumas excepções, representam os topos de gama. No novo mundo, sobretudo nas regiões com clima mais estável, onde a variabilidade dos anos não é crítica, a maior parte dos espumantes são datados, independentemente da qualidade. Em Portugal não existia tradição de guardar propositadamente os vinhos das colheitas anteriores para fazer um lote final de espumante. Na Bairrada, por exemplo, esta possibilidade para os espumantes aptos a designação DOC surgiu com as alterações ao Estatuto da Região pela Portaria nº212/2014.
A segunda fermentação no método clássico ocorre em garrafa através de adição de leveduras e açúcar no chamado licor de tiragem. É nesta fase que todo o dióxido de carbono criado como o subproduto da fermentação, não tendo a forma de escapar, fica diluído no vinho.
O tempo de contacto com as borras dentro da garrafa tem um papel crucial na qualidade e no perfil do espumante. As leveduras mortas entram em decomposição (autólise), libertando aminoácidos, polissacários e manoproteinas, entre outras substâncias, que contribuem com textura e complexidade aromática. Isto não acontece de forma imediata, começa passado 4-6 meses depois de segunda fermentação for finalizada, e com o pH baixo e presença de CO2 fica ainda mais lenta.
Por esta razão, quanto mais paciência tiver o produtor, mais aromas autolíticos típicos de panificação, brioche, biscoitos e tosta terá o espumante. Durante o tempo de estágio sobre borras, o vinho é protegido da oxidação pelo ambiente redutor. O Champagne non-vintage tem que ficar sobre borras em garrafa durante pelo menos 12 meses e o millésimé 3 anos. Em Portugal, os estágios exigidos pela regulamentação, são mais curtos. O espumante corrente estagia 9 meses. Com um estágio de 12 meses já é considerado Reserva, com 24, Super-Reserva ou Extra-Reserva, mais de 36 meses, Grande Reserva ou Velha Reserva. A Murganheira, por exemplo, dá-se ao luxo de manter alguns dos seus espumantes em caves de 6 a 12 anos.
Para remover o sedimento das borras, as garrafas tradicionalmente são colocadas em “pupitres” onde são rodadas gradualmente para ficarem com o gargalo para baixo, deixando o depósito deslizar e acumular-se lá. Esta operação demorada (de 4 a 6 semanas) e trabalhosa, pode ser substituída pelo uso de giropaletes, equipamento que efectua a remuage sem prejudicar a qualidade e permite reduzir tempo até uma semana, poupar espaço e mão-de-obra.
Segue-se o dégorgement – o gargalo é congelado e as leveduras são expulsas com a abertura da cápsula. O vinho perdido neste procedimento é atestado com o licor de expedição que também permite ajustar o teor de açúcar, produzindo espumantes Extra-Bruto, Bruto, Meio-Seco e até Doce. Mesmo depois do dégorgement os açúcares de licor de expedição continuam a reagir com proteínas libertas durante a autólise, formando aromas de biscoitos, mel, frutos secos e tosta.
Quando o atesto é feito apenas com o próprio vinho sem ajuste de açúcar, estamos a falar do Bruto Nature com menos de 3 g/l de açúcar. Neste caso o produtor acredita que não mascarando o vinho com açúcar, interpreta melhor a pureza da casta ou do vinho. Assim faz Mário Sérgio da Quinta das Bágeiras – tudo de forma tradicional, manual e sem adição de licor de expedição.
É uma tendência relativamente recente. Antigamente os Champagnes e espumantes queriam-se doces. Basta lembrar que até meados do século XIX o Champagne podia conter cerca de 100 g/l de açúcar (é uma doçura de um vinho licoroso!).
Actualmente também existe opção de uso de leveduras encapsuladas (adotado, por exemplo, pela Soalheiro) e membranas com leveduras colocadas dentro do gargalo de garrafa. Neste caso não é preciso rodar as garrafas e a remoção de leveduras é mais fácil e rápida. Entretanto, como tudo, esta opção tem as suas particularidades que nem todos os produtores apreciam, sobretudo os que seguem mais de perto o método clássico champanhês. Com leveduras presas dentro das cápsulas ou membranas a sua actividade é mais lenta o que torna a fermentação mais demorada, propícia à criação de compostos oxidativos. Além de que, defendem o clássicos, a tal autólise (contacto com as leveduras) durante o estágio é muito mais limitada, originando geralmente vinhos com menos complexidade.
A performance no copo
Depois do dégorgement e opcionalmente algum tempo em garrafa para integrar o licor de espedição, o espumante está pronto a consumir.
O CO2 diluído no líquido encontra-se sob uma pressão de 5-6 atm, igual à pressão de um pneu de um camião. Na abertura de uma garrafa o gás irrompe com força, empurrando a rolha com velocidade de 40-60 km/h para restabelecer o equilíbrio de pressão dentro da garrafa com o ambiente. Os estudos do físico francês Gérard Ligier-Belair mostram que, neste momento, de uma garrafa de 750 ml liberta-se 5 litros de CO2, perdendo-se cerca de 80% de gás que estava na garrafa. Mas os restantes 20% contêm cerca de 20 milhões de bolhas por copo.
Quando se enche o copo, o CO2 continua a escapar o que se pode reduzir inclinando ligeiramente o copo durante o serviço.
Mas não basta o gás estar diluído na garrafa para se observar a dança das bolhas a dirigirem-se para cima. Segundo o mesmo estudo, existem factores necessários para as bolhas se formarem no copo – chamados pontos de nucleação – que podem ser pequenas imperfeições do fundo, microparticulas de pó ou microfíbras invisíveis à vista, deixadas pela toalha com que foi limpo o copo. As casas de Champagne, por exemplo, utilizam para as provas copos fabricados com incisões a laser para garantir constante e elegante perlage. Copos perfeitamente limpos também prejudicam a performance das bolhas e os resíduos de detergente são os maiores inimigos de efervescência.
Subindo, as bolhas formadas no fundo do copo, ganham velocidade e aumentam em tamanho. Isto explica porque os copos à antiga mais largos e rasos quase não têm espaço para as bolhas se desenvolverem e os flutes finos e altos oferecem mais show, mas bolhas mais grossas no fim acabam por ser mais agressivas para a sensibilidade do nosso palato. Por isto nem um nem outro modelo são as melhores opções para apreciar um espumante de nível superior. Escolham os copos mais largos em baixo e afunilados em cima ou simplesmente copos de vinho branco.
As moléculas aromáticas agarradas às bolhas levam aromas à superfície. Paradoxalmente, quando mais intensa é a perlage, mais bonito o copo fica à vista, mas mais depressa se esvazia de aromas e sabores que vão acabar à superfície do copo. Por outro lado, quanto menos bolhas se formarem, mais aromas e sabores retidos no vinho ficam disponíveis ao provador.
Método clássico no mundo e em Portugal
Champagne é Champagne e terá sempre o estatuto especial (como o Vinho do Porto). Mas não é raro de encontrar no mundo, Velho ou Novo, uns bons espumantes feitos pelo método tradicional, a começar pela própria França com crémants de Borgonha, Alsácia e Vale de Loire, só para nomear algumas regiões. Na Itália temos o Franciacorta produzido de Pinot Noir, Chardonnay e Pinot Blanc; em Espanha – Cava feito de castas autóctones Xarel-lo, Macabeu e Parellada para além de Chardonnay e Pinot Noir; e sem se esquecer o recente sucesso de espumantes ingleses.
Do Novo Mundo vem o espumante da África do Sul, onde o método clássico é conhecido como Cap Classique; Na Austrália as regiões mais promissoras são Yarra Valley e Tasmania. Na Nova Zelândia alguns produtores que apostam na qualidade estabeleceram regras de produção de espumantes a partir de castas clássicas (Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier), chamado Méthode Marlborough. Nos Estados Unidos, as regiões mais frescas como o Anderson Valley em Mendocino County, Carneros e River Valley apostaram seriamente na elaboração de espumantes. Graças ao investimento das casas de Champagne também se nota o progresso na America Latina.
Em Portugal temos duas regiões com mais tradição em vinhos espumantes: Távora-Varosa e Bairrada. No início do século passado foram criadas as primeiras caves de espumante em Lamego e em 1989 à Tavora-Varosa tornou-se a primeira região demarcada de espumantes em Portugal.
Na Bairrada o primeiro espumante surgiu em 1890 por iniciativa do director da Escola Prática de Viticultura e Pomologia da Bairrada (que deu origem à actual Estação Vitivinícola da Bairrada), José Maria Tavares da Silva. Em 1991 foi oficialmente regulamentada a produção de espumantes com denominação de origem na região.
Hoje em dia, espumantes fazem-se em todas as regiões, do Minho ao Algarve, e há muito bons exemplos. Um deles, será as Caves Transmontanas no Douro com a marca Vertice desde 1989 (que mais uma vez presta a homenagem à região que é capaz de produzir grandes vinhos em categorias tão distintas como Vinhos do Porto, vinhos de mesa e espumantes).
Precisamente por isto, não querendo concentrar-nos apenas nas regiões “clássicas”, alargámos esta selecção de espumantes a outras regiões, nomeadamente, Vinho Verde, Douro, Lisboa, Alentejo e Beira Interior, procurando antes de tudo qualidade. Estes vinhos são de gama média-alta, até porque na maioria dos casos o estágio é prolongado que significa a retenção de capital durante vários anos.
Em termos de castas para fazer espumantes de topo, em Portugal do trio clássico de Champagne utilizam-se Chardonnay e Pinot Noir, mas as variedades nacionais também têm muito protagonismo. No Minho produzem-se espumantes bastante aromáticos de Alvarinho. Na Bairrada a Baga é uma das castas principais a assumir, de certa forma, o papel de Pinot Noir. Maria Gomes e Bical também são muito convincentes. A casta Arinto, tendo uma óptima acidez natural, mostra bons resultados na vertente de bolhas (e Cartuxa explora isto de uma forma brilhante). O Ribeiro Santo Blanc de Noir do Dão dá primazia a Touriga Nacional e Tinta Pinheira (Rufete) e a Ravasqueira aposta no Alfrocheiro para fazer o seu espumante.
O espumante, pela sua natureza é extremamente versátil. É claro que podemos entrar em detalhe e escolher os mais leves e nervosos para um aperitivo e mais encorpados e complexos para acompanhar um prato principal. Mas a verdade é que um espumante, melhor do que qualquer outro vinho, é capaz de acompanhar uma refeição de aperitivo até à sobremesa. Sendo assim, na dúvida – beba espumante![/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][fancy_box box_style=”default” icon_family=”none” color=”Accent-Color”]
O açúcar no espumante
- Bruto natural < 3 g/l
- Extra bruto 0 – 6 g/l
- Bruto < 12 g/l
- Extra seco 12 – 17 g/l
- Seco 17 – 32 g/l
- Meio seco 32 – 50 g/l
- Doce > 50 g/l
-
Ribeiro Santo Blanc de Noirs
Espumante - 2014 -
Ravasqueira
Espumante - 2013 -
Côto de Mamoelas
Espumante - 2016 -
1836 Companhia das Lezírias
Espumante - 2016 -
Casas Altas
Espumante - 2016 -
Soalheiro Barrica
Espumante - 2014 -
Quinta do Rol
Espumante - 2010 -
Quinta das Bágeiras
Espumante - 2015 -
Kompassus
Espumante - 2014 -
Cartuxa
Espumante - 2012 -
Murganheira Vintage
Espumante - 2009 -
Vértice
Espumante - 2010
Edição n.º32, Dezembro 2019