Sardinhas: A delícia marinha mais popular

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Enquanto não chega a primavera, o português vive inquieto e suspira junto ao mar pela sua muito amada sardinha. O necessário e obrigatório defeso termina em Abril, e a grande corrida começa. A abundância varia de ano para ano, e a festa dura até ao Outono. Preparemos, então, as grelhas e as brasas, que elas […]

Enquanto não chega a primavera, o português vive inquieto e suspira junto ao mar pela sua muito amada sardinha. O necessário e obrigatório defeso termina em Abril, e a grande corrida começa. A abundância varia de ano para ano, e a festa dura até ao Outono. Preparemos, então, as grelhas e as brasas, que elas aí vêm.

Todo o peixe tem a sua época ideal de captura e consumo e na costa portuguesa continental a reprodução ocorre numa janela temporal bastante alargada. É entre Outubro e Abril que acontece, o que coincide com o defeso decretado sobre a espécie “Sardina pilchardus”, que é a nossa.
Cerca de um ano depois, a sardinha atinge a fase adulta, pronta a dar-nos muitas alegrias. É essa que nos é oferecida por esta altura do ano, e é com essa que somos muito felizes. Apresenta-se com cerca de quinze centímetros de comprimento e forte conteúdo de ácidos gordos do tipo ómega-3, estruturante na alimentação humana.

A pescaria dá-se sobretudo no Atlântico norte e nenhuma sardinha é mais saborosa que a nossa. A atestá-lo estão a fecundidade e os nutrientes do nosso maravilhoso oceano. São, além disso, muitas as espécies marinhas e aves especiais que se alimentam da amiga sardinha. De certa forma, o frágil equilíbrio do planeta seria ainda mais complexo se não existisse o irrequieto e vigoroso peixe. A abundância, contudo, faz-nos acreditar que há sempre sardinhas. Pesca-se através da arte do cerco, afectando-se uma área grande e profundidade suficiente para que os pequenos peixes fiquem retidos e a pescaria abranja peixes semelhantes. Cavala, sarda, biqueirão, carapau e petinga são confinados nas redes e a segunda arte consiste em devolver ao mar o que não pertence na altura capturar. Pequenos crustáceos, por exemplo, essenciais na alimentação da própria sardinha, vêm frequentemente para cima, juntamente com o peixe.

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Dá gosto assistir à chegada à lota para ver e sentir a tremenda azáfama dos enérgicos peixes quando as caixas começam a levar destino

 

Vinhão e… vinho Madeira da casta Malvasia

Valorizamo-la mais quando a canícula aperta e os santos populares despertam, mas pode não ser essa a melhor altura para a comer. Uma fatia de pão com uma sardinha assada em cima é festa bastante para o português, e come-se com batata cozida e pimentos assados nas brasas. Quanto ao vinho, precisamos geralmente de treinar. Estamos perante um peixe gordo, pelo que o vinho deve ter acidez pronunciada para cumprir correctamente a sua missão de neutralizar pelo corte da acidez fixa.

Um verde tinto da casta Vinhão pode ser o indicado, mas há sempre opções a considerar. Na prova pública que me coube organizar, aquando da eleição das sete maravilhas da cozinha portuguesa, foram servidas sardinhas com dois vinhos. Vinhão e… vinho Madeira da casta Malvasia. E todos preferiram a maridagem com o Madeira. Não pela doçura, mas pela acidez do vinho, que conseguiu destruir o núcleo gordo do peixe, tornando-o mais digerível. Foi um momento feliz, há que dizê-lo. Os dogmas só fazem sentido quando são interrogados e postos em causa. A prova aconteceu em 2011 e deixou algumas marcas profundas.

A sardinha desperta em nós a sensação de abundância. No nosso entendimento, há sempre sardinhas. Mas nós queremo-las gordas e ovadas. E sobretudo baratas, que a vida não está para excessos. O que acontece é que acabamos por facilitar e contemporizar com as pequenas adversidades com que deparamos. A irrequieta sardinha está sempre a ginasticar-se e gosta da vida de cardume. Dá gosto assistir à chegada à lota para ver e sentir a tremenda azáfama dos enérgicos peixes quando as caixas começam a levar destino. Ficamos logo mais enérgicos só de ver a energia disponível que têm. E no fundo a reacção é real. A sardinha faz bem ao corpo e à alma.

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Uma fatia de pão com uma sardinha assada em cima é festa bastante para o português, e come-se com batata cozida e pimentos assados nas brasas

 

As sardinhas congelam e conservam bem

Se encontrar na praça sardinhas que lhe agradam muito, não hesite, congele! Desde que ao descongelar respeite a integridade do paixe, vai correr bem. Respeitar a integridade significa aqui manter o peixe inteiro e intacto, como se de um peixe de bitola maior se tratasse. Há que embalar muito bem, para evitar propagação do cheiro. O facto de estarmos a temperaturas de 15 graus negativos não impede que o cheiro povoe o congelador. O ideal é utilizar sacos de congelação individuais e herméticos, feitos por um bom fabricante. Depois deixe na parte mais baixa do frigorífico de um dia para o outro, e no dia seguinte vai ter belas sardinhas para cozinhar ou transformar como mais gosta. Trata-se de um peixe rico em ácidos gordos e só por isso é já capaz de preservar melhor as características e propriedades originais. Se há vontade e arte, pode optar por filetar e depois congelar. Em preparações do tipo tempura, vai fritar muito bem e ficar cheia de sabor. As boas peixarias fazem esse trabalho por si e em casa vai poder dar asas à sua criatividade.

Chegamos a um momento chave da exploração da sardinha enquanto alimento de elevado valor nutritivo: a conserva. Para muitos, trata-se de uma opção menor, mas não há qualquer razão para assim acontecer. Uma boa lata de sardinhas contém peixe de elevadíssimo gabarito, que podemos e devemos trabalhar para os mais elevados fins. Sabemos que é staple food, mas isso não significa que seja encarada como comida de emergência. É notável o que a indústria conserveira moderna evoluiu, e o que tem feito para dignificar ao mais alto nível o produto dos nossos mares. Temos hoje petinga – a sardinha mais pequena – que facilmente integramos em saladas frias e legumes e que podem bem constituir refeição completa. Ovo cozido, feijão-frade e pimentos assados, por exemplo, dão uma salada fria maravilhosa. Falando de maridagens de sucesso, o resultado pode ser brilhante com um Alvarinho jovem da região dos vinhos verdes, especialmente se a salada incluir frutos tropicais. Seja como for, há glória em cada pequenina lata de sardinhas, glória essa que contém muita história.

Nos santos populares e não só

A sardinha assada nas brasas estala nos santos populares. Mas até pelo que atrás se disse nessa altura não está no seu zénite. Há que a deixar engordar para estar no seu melhor de textura e rendimento de sabor. O momento é excelente para dar a conhecer as maravilhosas festas de Santa Bebiana, que ocorrem em pleno Inverno em Belmonte e Caria. Trata-se de uma festa pagã que promove sempre o casamento entre São Martinho e Santa Bebiana. Importante é que se beba a rodos. Curiosamente, há uma irmandade que, ano após ano, garante a continuidade das festas. Em Caria festeja-se no dia dois de Dezembro, já dia de São Martinho aconteceu e a água-pé já se produziu, a seguir às pisas nos lagares. Se eu não tivesse assistido, ainda hoje não acreditaria.

Cumpridos vários rituais, que incluíram, por exemplo, a confissão de que tínhamos falhado porque estivemos sóbrios na maioria do ano, a procissão termina num largo, com as competentes e rubras brasas à espera das sardinhas geladas, e o povo vai soltando glosas como “Santa Bebiana, senhora de muita Graça, não tem capela mas tem o Largo da Praça”. E é neste largo, com uma multidão a postos, que se leva as sardinhas à grelha. Estamos em contraciclo total com os santos populares, mas a devoção popular é impressionante. Está prestes, de resto, a ser classificado como património imaterial pela Unesco. É mais que bem vindo um vinho tinto da casta Rufete. Mineralidade a toda a prova, taninos presentes sem dominar, e muito sabor. Viajar é mesmo ganhar. A sardinha representa bem a portugalidade.

Em plena Expo’98, coube-me acolher e acompanhar um dos grandes empresários do Japão, accionista principal de uma grande empresa americana. As coisas não correram muito bem na véspera, quando fui recebê-lo ao aeroporto de Lisboa. Estendi-lhe a mão para o cumprimentar, o que vim a saber mais tarde nunca devia ter feito. Não se pode olhar nos olhos nem tocar num shogun. Já na exposição universal, visitámos o pavilhão do Japão, de onde saiu irritado por assistir ao vídeo em português, para mais com a música “Vamos fazer um farol”. A desgraça anunciava-se. Seguimos para jantar no pavilhão dos EUA, buffet tipicamente americano, convenientemente harmonizado com excelentes Cabernet Sauvignons e Merlots de Napa Valley. Gostou muito dos vinhos, odiou a comida. “Aqui não há nada para eu comer, quero ir para o hotel”. Lindo serviço, e eu com vontade de perder a cabeça com os maus modos do japonês poderoso. Combinámos almoçar no dia seguinte.

Ele estava mais calmo e pediu-me que o almoço fosse de peixe. Assim foi. Fomos ao Mercado do Peixe, no Caramão da Ajuda. Ao contrário do sucedido na véspera, estava muito bem disposto, até contou duas anedotas no caminho para o restaurante. Fui-lhe explicando que iria escolher o peixe e que o mesmo iria ser cozinhado como ele determinasse. Deu uma gargalhada grande e aproveitou para dizer que não me preocupasse, que ele iria gostar. Confesso que temi o pior, face à sua boa disposição. Chegámos e tínhamos a nossa mesa reservada num espaço relativamente reservado. Propus-lhe um Arinto fresco de Bucelas para a empreitada gastronómica, que de novo com maus modos rejeitou liminarmente. Escolheu um Cabernet Sauvignon da Península de Setúbal. Tinto, portanto. Fomos até ao expositor de peixe, para escolher o conteúdo do apaziguador almoço que forçosamente teríamos de conseguir realizar. Fui-lhe descrevendo os diferentes peixes do expositor, e como poderíamos cozinhar cada um.

De repente, apontou para as sardinhas e começou a bater palmas. Não cabia em si de felicidade. E começou a conversar directamente com o cozinheiro, dando-lhe indicações de como queria o peixe. Grelhado fechado, como nós grelhamos as sardinhas, servido sobre uma fatia grossa de pão, salada de pimentos grelhados ao lado. Fiquei de boca aberta, nunca podia ter imaginado que a catástrofe da véspera podia ter sido evitada de forma tão simples. Foi notável a sua desenvoltura na exploração das sardinhas grelhadas sobre a fatia de pão, directamente com as mãos.

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Uma boa lata de sardinhas contém peixe de elevadíssimo gabarito, que podemos e devemos trabalhar para os mais elevados fins

 

Gostamos de arraiais

Qualquer dia de festa com amigos, em casa ou restaurante, vira arraial, e o assunto invariavelmente vai ter às sardinhas. Dei-me conta, há poucos meses, de uma verdade insofismável. O português sabe acender o lume certo com carvão e acendalhas em três tempos. Tenho convivido ao longo da vida com argentinos e absorvi este facto notável: aprende-se na escola primária da Argentina a grelhar carne. Com algumas varas de lenha, até num lavatório de casa de banho conseguem criar condições para grelhar uma peça de carne. Tive acesso a preciosa e ricamente ilustrada literatura argentina que faz parte o programa de ensino básico. Consta, por exemplo, o repto de jamais passar demasiado a carne, com desenhos das fibras a suar e sofrer pelo excesso de calor. Passar o ponto ideal de cozedura é para os argentinos carbonizar a carne.

A conversa mais recente sobre o assunto aconteceu justamente em casa de amigos da Argentina. Mas eles têm a casta Malbec, que o tempo e a tradição depuraram até chegar à harmonização ideal. Claro que fico enciumado e claro que já experimentei com as nossas sardinhas nas brasas. Não funciona. Curiosamente, com um bom Tinta Roriz jovem sem estágio em madeira consegue-se excelentes resultados com grelhados no carvão. Se nunca experimentou, não hesite em fazer o teste no seu jardim ou varanda. Sardinhas em sal grosso, pimentos, batatas, melancia, e está montado o arraial da nossa satisfação. Não há português que não adore um bom arraial, mas geralmente o comportamento em relação ao vinho é entre o incerto e o incorrecto. Triunfa normalmente a sangria. Os amigos espanhóis têm o “Tinto de Verano”, que é vinho traçado com gasosa e cumpre a missão importante de afastar a canícula da mesa. Conseguimos, com um bom Roriz servido frio, o mesmo efeito. Fica aqui a confissão.

O piquenique perfeito e a sardinha

Uma das experiências vínicas que gosto muito de fazer acontece com a bôla de sardinha de Lamego. Perto de São João de Tarouca, onde hoje encontramos algumas casas produtoras de excelentes espumantes, foi onde outrora os monges de Cister instalaram e cuidaram a casta Malvasia Fina. Que é também provavelmente a primeira casta importada para Portugal. Juntando as peças todas como num puzzle, por que não fazer uma prova de vinho do Porto branco com bôla de sardinha? Melhor ainda, por que não fazer essa experiência sentados no chão de uma vinha dessa casta? As interrogações sucedem-se, assim como as inquietações. Temos de ser ousados e não ter receio de enveredar por caminhos menos usados. Na dúvida, sigamos a sardinha!

(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)

Rosés para as férias: As nossas melhores sugestões

rosés

Outrora considerados vinhos “menores”, os rosés têm conquistado os favores dos consumidores e revelam-se uma boa aposta para os tempos mais quentes e para acompanhar pratos mais leves. Aperitivos, saladas, pizzas, massas, cozinhas orientais dão-se muito bem com vinhos rosés. Há-os agora para todos os gostos e carteiras. Desde os mais simples que se bebem […]

Outrora considerados vinhos “menores”, os rosés têm conquistado os favores dos consumidores e revelam-se uma boa aposta para os tempos mais quentes e para acompanhar pratos mais leves. Aperitivos, saladas, pizzas, massas, cozinhas orientais dão-se muito bem com vinhos rosés.

Há-os agora para todos os gostos e carteiras. Desde os mais simples que se bebem descontraidamente na praia ou à borda da piscina, aos mais sérios que pedem mais atenção.

Entre estes 10 rosés que escolhemos para si, há-se haver um que lhe enche as medidas!

Raposeira entra no portefólio da PrimeDrinks

A marca de espumantes com mais de 125 anos de história junta-se à distribuidora, com propostas leves, frescas e versáteis para o Verão. Desde há muito a acompanhar brindes no nosso país, a marca de espumantes nacionais Raposeira anuncia, agora, a sua chegada ao portefólio da PrimeDrinks. Esta parceria vem reforçar a presença deste nome […]

A marca de espumantes com mais de 125 anos de história junta-se à distribuidora, com propostas leves, frescas e versáteis para o Verão.

Desde há muito a acompanhar brindes no nosso país, a marca de espumantes nacionais Raposeira anuncia, agora, a sua chegada ao portefólio da PrimeDrinks. Esta parceria vem reforçar a presença deste nome icónico e garantir que este produto chega a mais lugares e momentos. Ao mesmo tempo, reafirma a presença da distribuidora neste segmento.

Afinal, há sempre bons motivos não só para celebrar as datas especiais previamente marcadas na agenda, mas também saborear cada momento e tardes sem fim entre amigos e em família. Como? Com os Raposeira Super Reserva Rosé, produzidos a partir das castas Touriga Franca e Tinta Roriz, e Blanc de Blancs, elaborado exclusivamente com a casta Malvasia Fina, a dupla de sugestões refrescantes e versáteis para os dias quentes de Verão.

Quinta do Noval: Para além do Porto Vintage…

Quinta do Noval

A Quinta do Noval é uma das mais icónicas e respeitadas propriedades vitivinícolas da região do Douro, com uma história que remonta ao século XVIII. Localizada em Vale de Mendiz, no coração da região demarcada do Douro, beneficia de um terroir único, caracterizado por solos de xisto e uma exposição solar privilegiada, que conferem, aos […]

A Quinta do Noval é uma das mais icónicas e respeitadas propriedades vitivinícolas da região do Douro, com uma história que remonta ao século XVIII. Localizada em Vale de Mendiz, no coração da região demarcada do Douro, beneficia de um terroir único, caracterizado por solos de xisto e uma exposição solar privilegiada, que conferem, aos seus vinhos, uma identidade distinta. No ano de 1993 entrou numa nova fase da sua história, quando foi adquirida pelo grupo francês AXA Millésimes. Esta integração, liderada por Christian Seely, marcou o início de um período de forte investimento, renovação e reafirmação da identidade da Quinta do Noval como referência de qualidade e inovação no setor vitivinícola.

A casa tornou-se particularmente célebre pelo seu lendário Porto Vintage Nacional, um vinho raro produzido a partir de uma pequena parcela de vinhas velhas não enxertadas. “Desde 2011 que declaramos todos os anos um Porto Vintage Quinta de Noval, apenas e só porque tivemos a oportunidade de, em cada ano, fazer pelo menos uma pequena quantidade de vinho que teve a qualidade necessária para ser declarada como tal. Estamos perfeitamente sensíveis e muito conscientes do privilégio e responsabilidade de gestão da Quinta do Noval. Já no caso do Vintage Quinta do Noval Nacional só sai mesmo nos anos em que o consideramos monumental, como é o caso do 2023 que vamos provar hoje”, contou Christian Seely no dia do lançamento. Para além dos vinhos do Porto e da aposta crescente nos vinhos Douro, a Quinta do Noval também produz azeite de elevada qualidade, proveniente de seis hectares de olival cultivados com as variedades tradicionais portuguesas: Cordovil, Verdeal e Madural.

O azeite é produzido a partir de azeitonas colhidas manualmente e prensadas a frio, garantindo a preservação dos aromas e sabores naturais da fruta e um produto de excelência. Em 2019, a Quinta do Noval deu um passo estratégico importante ao adquirir a Quinta do Passadouro, propriedade vizinha situada também em Vale de Mendiz. A aquisição da Quinta do Passadouro permitiu à Quinta do Noval expandir a sua área de vinha de 145 para 181 hectares, consolidando-se como uma das maiores propriedades da região.

A aposta forte nos Douro

Num dia fresco de primavera fomos recebidos na lindíssima propriedade da Quinta do Noval pelo enólogo Carlos Agrellos, o CEO Christian Seeley e a Brand Embassador Ana Carvalho. A ocasião revelava-se de festa por dois momentos muito especiais. Por um lado, a apresentação dos novos Portos Vintage 2023, incluindo o lendário Noval Nacional. Por outro e não menos importante, o lançamento e prova de vários vinhos brancos e tintos, fruto de uma estratégia recente de forte aposta na produção de vinhos Douro, com a construção de uma adega com capacidade para umas impressionantes 1100 barricas que tivemos o privilégio de visitar. “Estávamos muito focados nos vinhos do Porto e o mercado, maioritariamente o premium onde nos posicionamos, pedia-nos vinhos de mesa, sobretudo brancos, dos quais tem aumentado significativamente a procura nos últimos anos. Com a construção deste armazém para armazenamento e envelhecimento de vinhos de mesa, contamos chegar às 400 mil garrafas produzidas”, refere Carlos Agrellos.

A diversidade e quantidade de barricas e a vinificação por castas, na sua maioria, permite criar o perfil desejado em cada vinho. Nota-se também, nos novos vinhos provados que daremos destaque nesta peça, uma menor extração, sem perder o caráter único do terroir e a capacidade inegável de evolução que os vinhos possuem em garrafa. Após a visita e antes de um almoço que foi acompanhado por diversas preciosidades da garrafeira particular de Christian Seely, as entradas foram servidas sob a sombra do majestoso Cedro da Quinta do Noval. Com sua imponente estatura, esta árvore centenária domina a paisagem da propriedade, guardião silencioso da história da quinta, testemunha de muitas gerações que trabalharam ali e cuidaram da terra com dedicação. E foi neste cenário que provámos alguns dos brancos de colheitas anteriores, para atestarmos a sua evolução positiva. E que bem que estavam!

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)

Quinta de Paços: Há 500 anos a produzir vinho

Os proprietários da secular Quinta de Paços, localizada em Rio Côvo (Santa Eulália), no concelho de Barcelos, descobriram recentemente documentos a comprovar que, dentro da propriedade, existiram vinhas no ano 906. De acordo com os documentos escritos, no auto de partilhas de Santa Eulália de Rio Côvo, entre Dom Nausto, Bispo da Sé de Coimbra, […]

Os proprietários da secular Quinta de Paços, localizada em Rio Côvo (Santa Eulália), no concelho de Barcelos, descobriram recentemente documentos a comprovar que, dentro da propriedade, existiram vinhas no ano 906.

De acordo com os documentos escritos, no auto de partilhas de Santa Eulália de Rio Côvo, entre Dom Nausto, Bispo da Sé de Coimbra, e Dom Sesnando, Bispo da Sé de Iria, coube à parte do Bispo Dom Sesnando, que refere o seguinte, na versão original: “todo o campo do ribeiro; o pomar de Teoderizo, na totalidade; metade do campo de Gonçalo; o pomar de Gonçalo e de Leovigildo e toda a vinha (hoje as propriedades em redor do lugar do Agro)”. Este lugar e campo do Agro fazem parte da Quinta de Paços desde o século XVI e tem como nome de família mais comum Gonçalo, e de apelido Gonçalves (filho de Gonçalo) e Silva. No mesmo período temporal, esta propriedade minhota, já tinha a designação actual, tendo como proprietário Thomé Gonçalves da Silva, “falecido em 1585, e 3ª vida do Prazo (contrato) feito à Comenda de Chavão, onde uma parte da renda era já paga em vinho”.

Em suma, a Quinta de Paços, inserida na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, está na mesma família há cerca de 16 gerações, “criando, assim, um elevando sentido de legado e de continuidade geracional”.

Grande Prova: Monção e Melgaço – O expoente do Alvarinho

GRANDE PROVA MONÇÃO E MELGAÇO

Se fossem necessárias algumas razões, bastariam duas para justificar o presente trabalho: por um lado, a fama secular dos vinhos desta sub-região e, por outro, a sua originalidade centrada na casta Alvarinho que ganhou, e bem, um lugar especial nos consumidores nacionais e estrangeiros. Mas voltemos atrás para recordarmos o nosso colega João Paulo Martins […]

Se fossem necessárias algumas razões, bastariam duas para justificar o presente trabalho: por um lado, a fama secular dos vinhos desta sub-região e, por outro, a sua originalidade centrada na casta Alvarinho que ganhou, e bem, um lugar especial nos consumidores nacionais e estrangeiros. Mas voltemos atrás para recordarmos o nosso colega João Paulo Martins quando este referia, nas edições do seu Guia de Vinhos de Portugal nos finais dos anos 90, que existiam Vinhos Verdes e, depois, existiam os Alvarinhos, numa clara alusão ao elevado padrão qualitativo destes últimos, e sempre com destaque para os provenientes de Monção e Melgaço. Claro está que os Verdes de hoje nada têm a ver com os dos anos 90, numa evolução que acompanhou a da generalidade dos brancos nacionais. Mas os vinhos de Monção e Melgaço continuam a ser algo de muito especial, diferente em todos os sentidos, com uma notoriedade histórica onde, já naquela altura, pontificavam marcas como Cêpa Velha, Deu-la-Deu ou Palácio da Brejoeira, todas elas verdadeiros marcadores de um perfil de Alvarinho proveniente de um território de excelência.

Solos e altitudes

Mas afinal que território é este? Protegido por montanhas, com um microclima mais continental do que a média da restante região dos Vinhos Verdes (ou seja, com maior amplitude térmica), Monção e Melgaço caracteriza-se climatericamente por invernos frios e chuvosos e verões que se podem qualificar como quentes. Tanto assim é que, no verão, entre Caminha no litoral e Monção, separada do mar por uma cadeia montanhosa, a diferença de temperatura pode chegar aos 15ºC apesar da mera distância ser de 35 quilómetros. Tal como sucede um pouco pelo país, existem em Monção e Melgaço diferenças de solos e altitudes, sendo que tanto o Alvarinho como as suas declinações de perfil são mais moldadas pela importância dos primeiros. Com efeito, mais do que a altitude, é o tipo de solo de origem granítica (terraços fluviais, com ou sem calhau rolado, aluviões ou franco-arenosos) que melhor determina o resultado de cada néctar. Da mesma forma, é considerando cada tipo de solo que se deve privilegiar o uso de barrica, nova ou usada sendo que, por regra, é nos solos franco-arenosos aqueles em que as barricas de segundo ano dão melhores resultados, originando alguns dos melhores vinhos da sub-região e do país.

Reconhecido há quase um século, em 1929 (vinte anos depois da demarcação da Região dos Vinhos Verdes), este território já foi terra de tinto, com grande sucesso na exportação no final do século XIX, quer pela sua qualidade, quer pela crise na produção europeia que se seguiu à filoxera. Conhecida desde o século XVII como “a terra dos vinhos”, Monção tem fama desde a Idade Média e, como todas as vetustas regiões de vinho no mundo, foi-se adaptando. Mas foi preciso chegar a meados do século XX para o Alvarinho se começar, aos poucos, a impôr. Com referências desde o século XVIII, só a partir da segunda metade do século passado se começa a comprovar que o Alvarinho, em Monção e Melgaço, é especial. Nos anos 60 começam os relatos dos bons resultados da casta e, já nos anos 70 surgem, ainda que timidamente, marcas que engarrafam um branco com base em Alvarinho de perfil tendencialmente seco e delicado (em garrafa escura para não oxidar…), longe das versões mais ácidas e desequilibradas que se encontravam em restaurantes e pensões por todo o norte do país.

O Alvarinho e a barrica

Saltando vários anos em diante, encontramos dois outros marcadores essenciais do tempo para este sub-região. Um primeiro, em 1974 e 1982, respetivamente a data da plantação da primeira vinha contínua de Alvarinho e a data da criação da primeira marca de Alvarinho de Melgaço, ambas pela conhecida Quinta de Soalheiro. Depois, em 1987, quando Anselmo Mendes começa os seus ensaios de Alvarinho fermentado em barrica. A escolha do carvalho e da floresta, das tostas, a dimensão da barrica, o aperfeiçoamento da bâttonage (considerando que o bago do Alvarinho é pequeno, originando mostos intensos à partida) e o controlo da oxidação, tudo são técnicas que vários produtores da sub-região vão abraçar e que Anselmo Mendes preconizou com antecipação. De tal forma que, já no presente século, encontramos quase duas dezenas de Alvarinhos de Monção e Melgaço fermentados e/ou estagiados em barrica, muitos deles num patamar altíssimo de qualidade.

A par de Anselmo Mendes e da Quinta do Soalheiro (sobretudo na referência Reserva) já referidos, há vários anos que encontramos produtores a usar parcial, ou totalmente, barricas, casos da Quinta do Regueiro, Quinta de Santiago, Quintas de Melgaço, sem esquecer a Provam ou a Adega Cooperativa de Monção, João Portugal Ramos, entre outras referências. Na prova que relatamos abaixo, e a par dos nomes já referidos, também os produtores Márcio Lopes, Casa de Paços, Constantino Ramos e, bem assim, as marcas Milagres, Barão do Hospital e Nostalgia usam barrica parcial ou totalmente.

Não espanta, assim, que a área de vinha em Monção e Melgaço não tenha parado de crescer, sinal de vitalidade da área. O número de hectares aproxima-se dos 2000 (grandíssima parte plantados com Alvarinho), sendo a zona de Melgaço a que mais cresce. A notoriedade da casta e da sub-região está consolidada a nível nacional, os vinhos são procurados sobretudo nos restaurantes, e o preço médio é claramente mais alto comparado com o restante Vinho Verde e com muitos dos brancos do país. Para tudo isto também contribuiu o bom trabalho das respetivas cooperativas. Falta, talvez, uma maior projeção internacional, havendo caminho a percorrer na especificação e destaque de Monção e Melgaço relativamente à região dos Vinhos Verdes, já de si bastante internacionalizada e procurada, mas muito centrada em gamas de entrada. Nota final para uma nova vaga de produtores na região, alguns deles enólogos noutras parte do país, caso de Luís Seabra, Márcio Lopes, Constantino Ramos, David Baverstock e António Braga. Isto para não falar de players de mercado que não querem perder a oportunidade de ter uma operação em Monção e Melgaço, casos de João Portugal Ramos e, mais recentemente, da Symington Family Estates. Esta circunstância de atratividade de excelentes profissionais espelha bem o potencial da região e os vinhos em prova, cujas notas deixamos abaixo, confirmam plenamente.

(Artigo publicado na edição de Julho 2025)

 

Tomate em festa no coração do Douro

Em Agosto, este fruto carnudo da época de estio tem direito a concurso, prova de azeite e flor de sal, mercadinho e muita animação. Paralelamente, é estrela em restaurantes da mais antiga região demarcada do mundo. A Festa do Tomate Coração de Boi já vai na 10ª edição. Como tal, dia 29 de Agosto está […]

Em Agosto, este fruto carnudo da época de estio tem direito a concurso, prova de azeite e flor de sal, mercadinho e muita animação. Paralelamente, é estrela em restaurantes da mais antiga região demarcada do mundo.

A Festa do Tomate Coração de Boi já vai na 10ª edição. Como tal, dia 29 de Agosto está de regresso à mesa da prova, às 18h00, na Quinta da Pacheca, em Lamego. Eis o ponto de encontro de chefs, enólogos, jornalistas e outros players na área da gastronomia, cuja missão é eleger o melhor tomate da temporada a concurso. Há ainda tempo para uma conversa sobre a mais-valia dos produtos tradicionais do Douro, um jantar volante e a revelação do vencedor da referida competição. Para participar no repasto (80€ por pessoa), é necessário proceder à reserva e ao pagamento prévios via e-mail, para greengrape@greengrape.pt.

No dia 30 de Agosto, a Festa do Tomate Coração de Boi ruma à praça da Capela Barroca de Arroios, em Vila Real. Aqui, a festa começa às 17h30, com a degustação deste produto com vários perfis de azeite. Este momento é conduzido por Francisco Pavão, nome maior no que a este líquido de ouro diz respeito. Em modo tempero, participam chefs de cozinha e Jorge Raiado, rosto da empresa algarvia Salmarim. O evento continua com um mercadinho, petiscos e muita animação.

No âmbito deste evento anual, criado por Celeste Pereira (Greengrape), Edgardo Pacheco (jornalista) e Abílio Tavares da Sila (produtor de vinho), durante o mês e Agosto há Tomate Coração de Boi para todos os gostos em 24 restaurantes desta região vinhateira. Na lista de participantes, constam o DOC, do chef Rui Paula (Folgosa, Armamar), o Seixo by Vasco Coelho Santos (Tabuaço) e o Bonfim 1896 by Pedro Lemos (Quinta do Bomfim, Pinhão), o São Luiz by Vítor Oliveira (Quinta de S. Luís, Tabuaço), o Vale Abraão do hotel Six Senses Douro Valley (Lamego), o Lagar (Torre de Moncorvo), a Taberna do Carró (Torre de Moncorvo), o Cais da Villa (Vila Real), a Casa de Pasto Chaxoila (Vila Real), a Toca da Raposa (Ervedosa do Douro), o Cais da Ferradosa (São João da Pesqueira), o Cêpa Torta (Alijó), o Flor de Sal (Mirandela), The Wine House (Quinta da Pacheca, Lamego), Cantina de Ventozelo (Quinta de Ventozelo, S. João da Pesqueira), o Castas e Pratos (Régua), o Calça Curta (Foz do Tua). Novidades este ano, surgem os restaurantes o Panorâmico (Quinta de S. José do Barrilário, Armamar, da Quinta da Pacheca), o Terraçu’s (Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo) e o The Bridge 1870 (Pinhão).

Foto de entrada: Paulo Pereira

A nova era da Symington Family Estates em Portugal

Há uma nova fase de liderança na Symington Family Estates em Portugal. Cinco membros da 5ª geração desta casa assumem novos cargos. São eles Charlotte, Harry, Anthony, Vicky e Teresa, que assumem as novas funções de liderança nas respetivas áreas de Marketing, Vendas e Enoturismo. Em conjunto, reúnem muitos anos de experiência nos referidos domínios […]

Há uma nova fase de liderança na Symington Family Estates em Portugal. Cinco membros da 5ª geração desta casa assumem novos cargos. São eles Charlotte, Harry, Anthony, Vicky e Teresa, que assumem as novas funções de liderança nas respetivas áreas de Marketing, Vendas e Enoturismo. Em conjunto, reúnem muitos anos de experiência nos referidos domínios e vão continuar a trabalhar com Rupert Symington (Presidente e Director-Geral Conjunto) e com Charles Symington (Director de Produção e Director-Geral Conjunto), ambos representantes da 4ª geração, bem como com Hugh Symington, primo de ambos, que integra a equipa da empresa importadora da família nos Estados Unidos.

Já Rob Symington, que, durante os últimos oito anos, se dedicou à Symington Family Estates em Portugal, assume o cargo de Director-Geral da Berry Bros. & Rudd (Reino Unido e Irlanda), sediada em Londres. Paralelamente, fica como Director não executivo na Symington e na Fells, a importadora britânica detida maioritariamente pela família. Ao mesmo tempo, vai manter a presidência no conselho da Hambledon, produtor de espumantes inglês detido conjuntamente pela Symington e pela Berry Bros. & Rudd.