Um geógrafo com Quórum

Tiago Emanuel Santos mudou de Aveiro para Lisboa, mas a mensagem é a mesma: continuar a espalhar conhecimento e sabor. TEXTO Ricardo Dias Felner FOTOS Ricardo Palma Veiga Há uma tendência na alta cozinha que é gostar de “elegância”. Ora, Tiago Emanuel Santos, 31 anos, é o contrário disso. Tudo na sua comida — e […]
Tiago Emanuel Santos mudou de Aveiro para Lisboa, mas a mensagem é a mesma: continuar a espalhar conhecimento e sabor.
TEXTO Ricardo Dias Felner
FOTOS Ricardo Palma Veiga
Há uma tendência na alta cozinha que é gostar de “elegância”. Ora, Tiago Emanuel Santos, 31 anos, é o contrário disso. Tudo na sua comida — e na bebida —, para além de ser nacional, é explosivo ou exótico. Sabores subtis, capazes de agradar a papilas sensíveis? O menos possível. Vinhos suaves? Nem pensar. Os molhos são puxados ao limite. Os vinhos são exuberantes, por vezes oxidados. A experiência é intensa. “Gosto de levar uma chapada na boca. É um traço meu”, assume, no final de um almoço recente, na sua nova casa.
A sua nova casa é o Quórum, em Lisboa, que mantém o nome e os proprietários, depois da saída de Rui Silvestre, que se mudou recentemente para o Vistas, no resort Monte Rei, em Vila Nova de Cacela, no Algarve. A decoração também se mantém e o posicionamento no mercado é semelhante, com uma oferta de alta cozinha à base de menus de degustação, preços a partir dos 70 euros — ou seja, um nível abaixo dos valores para os fine dining de estrela Michelin.
Dito isto, a cozinha é outra. Tiago traz muito do que andou a fazer nos últimos tempos. Lembre-se que passou pelo Areias do Seixo e que, há cerca de um ano, escrevemos aqui sobre a sua passagem pelo Anna’s, em Aveiro.
O espírito no Quórum é o mesmo, mas este geógrafo, com um conhecimento profundo do território e do produto português, conceptualizou ainda mais a cozinha. A ideia, adianta, é usar técnicas internacionais com produtos portugueses, mas fugindo a “clichés”. “Carabineiros e salmonetes, por exemplo, não usamos”, esclarece.
Aquilo que faz brilhar os olhos de Tiago é o grão que descobriu na Comporta — e que usa no prato de barriga de porco bísaro; ou os queijos da dona Lurdes, de Tarouca; ou a chaputa que lhe trazem de Sesimbra, e que acompanha com um puré de cebola fermentada. Estas descobertas fazem-se pelo estudo, mas também pela viagem. Sempre que pode, Tiago mete-se na estrada com a sua equipa e vai à fonte, a quem produz.
O restaurante está a servir almoços mas aposta sobretudo nos jantares, até pelo perfil do espaço, mais intimista. Se gosta de descobrir vinhos de pequenos produtores, alie o menu de degustação às harmonizações apresentadas por Bruna Esteves, chefe de sala e escanção. No fim, a ideia é a mesma de sempre: comer, beber e aprender com o chef-geógrafo.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”parallax_image_grid” images=”34246,34245,34244,34243″][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” bg_color=”#ddaaaf” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_column_text]
Quorum
R. do Alecrim 30B, Lisboa. 21 604 0375. Ter-Sábado 12h-15h, 19h-23h.
Edição Nº21, Janeiro 2019
Na rota do chá de Fornelo

O casal Nina Gruntkowski e Dirk Niepoort está prestes a lançar no mercado o primeiro chá verde feito na Europa Continental. A Grandes Escolhas foi à aldeia de Fornelo ver a plantação e fazer a prova. TEXTO Ricardo Dias Felner A estrada faz-se ziguezagueando por entre aldeias e campos, o ar rupestre de lareira e […]
O casal Nina Gruntkowski e Dirk Niepoort está prestes a lançar no mercado o primeiro chá verde feito na Europa Continental. A Grandes Escolhas foi à aldeia de Fornelo ver a plantação e fazer a prova.
TEXTO Ricardo Dias Felner
A estrada faz-se ziguezagueando por entre aldeias e campos, o ar rupestre de lareira e estrume. Estamos a uns 10 quilómetros de Vila do Conde, para interior, e temos de nos socorrer do velho boca-a-boca para chegarmos ao destino, que o GPS já não ajuda. “Vai-se até àquela casa ao fundo e vira-se no caminho de terra batida para cima”, diz-nos um habitante de Fornelo.
Toda a gente conhece a Camélia, apesar de a camélia ainda não se ter dado a provar. Os resultados do cultivo não são imediatos, é preciso esperar — sobretudo se estiver em causa um produto premium biológico. São necessários cinco anos desde que é feita a plantação até que as folhas da camellia sinesins estejam prontas para se transformarem em bebida.
Mas esse tempo está quase a chegar. Assim que passamos o portão da quinta, Nina Gruntkowski leva-nos até ao topo da propriedade. “As plantas mais antigas são estas, têm quatro anos”, diz, num português com sotaque germânico, afagando uma sebe quase à altura da cintura. “Para o ano, já teremos o nosso chá no mercado”, congratula-se.
O projecto Camélia começou a ser pensado desde 2011 e a imprensa começou a dar-lhe destaque a partir de 2016. A expectativa é grande, até porque atrás da marca está o consagrado produtor de vinhos Dirk Niepoort, marido de Nina, grande apreciador de chá. E há uma curiosidade adicional: esta é a única plantação de camellia sinensis, para produção comercial de chá, em toda a Europa Continental (ver entrevista nestas páginas).
A planta é produzida, essencialmente, em países asiáticos, nomeadamente na China, Japão e Índia, mas também na Turquia. Na Europa, Portugal parece ter condições particulares e culturais para a plantação, com a região dos Açores à cabeça e, agora, Vila do Conde. “Esta é uma região de camélias, sempre foi. Tem solos ácidos, por causa do granito. E tem humidade, um microclima próprio. E como nós já tínhamos este terreno, porque os pais do Dirk viviam aqui, decidimos arriscar”, diz esta jornalista alemã reconvertida em agricultora biológica, acrescentando ainda um factor: “É preciso ter uma grande panca”, conclui, sorrindo e desprendendo um botão de flor de camélia. “Podem provar, são bons para comer assim.”
Enquanto, a folha de chá não fica pronta, a única coisa que a Camélia está a vender, exclusivamente de produção própria, são as flores, que “tecnicamente não são chá, mas tisanas”. Nessa mesma tarde, as pétalas estão a ser desidratadas na zona do escritório, numa máquina do tamanho de um fogão. Nina faz questão que provemos o produto final sob uma laranjeira, no exterior, para aproveitarmos o sol de Inverno.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”34231″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” bg_color=”#e8e8e8″ scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Luís Mendonça de Carvalho”][vc_text_separator title=”“Preparar chá já é, em si, relaxante”” title_align=”separator_align_left” align=”align_left” color=”custom” accent_color=”#888888″][vc_column_text]Um dos maiores especialistas portugueses em chá explica-nos sobre a geografia da planta e sobre os seus benefícios para a saúde. A palavra a Luís Mendonça de Carvalho, biólogo e director do Museu de Botânica de Beja.
Já ouviu falar do chá que está a ser produzido perto de Vila do Conde?
Consumo, habitualmente, o chá que vendem, em especial o verde japonês e o de Assam, embora também já tenha provado outros. Apenas provei uma vez o chá produzido no Minho, quando a Nina o apresentou na Companhia Portugueza do Chá, em Setembro de 2017, se a memória não me falha. A minha opinião sobre o mesmo é muito positiva.
É verdade que não há outra produção de chá, com estas características, na Europa Continental?
Poder-se-á sempre dizer que é o único produzido comercialmente em Portugal Continental ou mesmo até na Europa Continental (embora em Itália também se produza uma pequena quantidade de chá). Não se poderá, com rigor, dizer (acho eu) que seja o primeiro chá plantado e comercializado na Europa Ocidental porque, pelo menos em termos administrativos, os Açores também são Ocidente e a plantação na Cornualha também. A Turquia é um grande produtor e, tecnicamente, um país europeu, embora o centro de produção se situe na parte asiática da Turquia, no Norte da Ásia Menor (região de Rize).
Mas sempre ouvimos falar do chá dos Açores como sendo único na Europa.
O que acontece nos Açores é que estão há cerca de 140 anos a produzir chá de forma ininterrupta. E as cerca de 40 toneladas que produzem por ano são muito significativas em relação ao que se produz no Minho, na Cornualha ou em Itália, onde a produção é meramente simbólica, pelo menos até hoje.
Uma questão recorrente, tem a ver com os benefícios para a saúde. Há quem diga que faz bem a quase tudo; e há quem garanta não haver evidências científicas disso.
Quando se pensa em benefícios para a saúde, dever-se-á sempre pensar numa perspectiva de prevenção e de longo prazo. Ou seja, o chá não é uma panaceia que cura tudo, nem uma poção mágica que promove a metamorfose de um corpo doente num corpo são de forma imediata. O que o chá tem (em especial o chá verde, oolong e pu-erh) é substâncias benéficas para o corpo, que actuam a longo prazo, como é o caso dos antioxidantes.
E é preciso saber beber chá.
O consumo em excesso não é aconselhado e a selecção dos chás que se consomem (preferencialmente biológicos, para tentar reduzir a carga de pesticidas que possam ter, verde ou oolong) deve ser integrada numa prática de vida saudável. O chá não anula os potenciais efeitos negativos do stress contínuo, da poluição, de uma vida sem objectivos definidos ou sem paixão pelo que se faz e pelas pessoas que nos rodeiam. Por outro lado, o chá também é uma forma de beber água, e esta questão não é de importância menor. Há evidências científicas de que o chá promove a saúde e o bem-estar, mas não há evidências científicas de que o chá tudo cura. Repare que o facto de “fazer chá”, ou seja, de o preparar para nós ou para os amigos, já é, em si, relaxante.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”parallax_image_grid” images=”34232,34233,34234,34235″][/vc_column][/vc_row]De chávena na mão
Em cima da mesa da casa de apoio — rodeados pela plantação — já estão todos os utensílios necessários. E é tudo simples e bonito e especial. A chaleira eléctrica tem regulador de temperatura, por exemplo. “É essencial. Algumas pessoas dizem-me que não gostam de chá verde, porque é muito amargo e adstringente. Mas isso pode só ter a ver com a temperatura e o tempo de infusão”, explica Nina, deixando os valores de referência: 70 ºC se o chá verde for japonês, para 1,5 minutos de imersão. Mas há mais: o bule é de porcelana e a amplitude do coador permite que as folhas tenham espaço entre elas.
O chá de flores, vendido como Florechá no site da Camélia, é muito aromático e elegante, com um adocicado ligeiro. Nina dá-nos depois a provar a criação mais original, ideia do marido: o Pipachá são folhas de chá do tipo oolong, com uma oxidação intermédia (entre o preto e o chá verde), que estagiaram em pipas de Vinho do Porto da Niepoort, durante seis meses. No nariz sobe logo um aroma a passa e tem um final doce. “Há um chef de Macau que gostou tanto que nos leva a maior parte da produção”, diz Nina.
As primeiras experiências da Camélia começaram em pequenos vasos no quintal dos Niepoort, no Porto. Eram cerca de 200 e as plantas foram transplantadas com sucesso para o terreno de Fornelo. Ao todo, Nina diz que hoje em dia terá cerca de um hectare de plantação, contando já com as camélias que acabaram de ser semeadas. À plantação própria somam-se marcas premium que Nina importa, sobretudo do Japão. É o caso dos chás Morimoto, apelido do casal produtor, que já provou e aprovou a Camélia. “Eles têm-nos ajudado com a plantação, vieram visitar-nos. E disseram-nos uma coisa que nos deixou muito satisfeitos: que o nosso chá tem terroir, tem um sabor próprio.”
É esse chá que bebemos, por fim. Não está à venda, ainda é só uma experiência. A colheita foi feita na Primavera e é uma espécie de segredo por revelar. A expectativa sobe à medida que as folhas imergem na água. Sente-se logo um aroma marinho, típico dos melhores chás verdes japoneses. A prova confirma isso: algas, final doce, típico de chás plantados próximos do mar.
Nina olha a nossa expressão de felicidade, agarrando na chávena com as duas mãos. Tem um sorriso aberto. Está quase, está bom.
Edição Nº21, Janeiro 2019
Queijo

TEXTO Ricardo Dias Felner FOTO Ricardo Palma Veiga É um segredo que o sector não gosta de revelar. Mas é mesmo assim. O queijo também é sazonal. Os melhores queijos de pasta mole, como os Serra da Estrela ou os Azeitão de produção artesanal — mas também os frescos e os requeijões —, são particularmente […]
TEXTO Ricardo Dias Felner
FOTO Ricardo Palma Veiga
É um segredo que o sector não gosta de revelar. Mas é mesmo assim. O queijo também é sazonal. Os melhores queijos de pasta mole, como os Serra da Estrela ou os Azeitão de produção artesanal — mas também os frescos e os requeijões —, são particularmente bons em Janeiro e Fevereiro. É nesta altura que eles estão com a máxima pujança e isto tem a ver com uma lógica simples: há mais pasto, logo os animais comem melhor, logo o leite tem mais gordura, logo o queijo tem outra potência.
Pedro Cardoso, dono da Queijaria, em Lisboa, e fornecedor de restauração de topo, estende este período até Março, altura em que o queijo ganha outras notas. Pedro Silveira, especialista em queijos beirões, antigo director do Museu do Queijo, na Covilhã, explica que os queijos de Março e Abril ganham notas florais interessantes, próprias da paisagem primaveril. Mas aduz: “Pessoalmente, nos Serra da Estrela, prefiro os de Janeiro e Fevereiro, com mais gordura.”
Como é que então é possível comer-se queijo de pasta mole o ano inteiro? Por um lado, mesmo alguma produção artesanal usa ração para compensar a falta de pasto ou então compra leite fora — e não se coíbe de produzir o ano inteiro, mesmo se tem de baixar a qualidade. Por outro lado, recorre-se frequentemente à congelação e isso quebra a textura da pasta. Foi isso que aconteceu, provavelmente, com aquele Serra da Estrela DOP que estava na sua mesa de Natal. Um luxo de época pode não ter sido um luxo de queijo.
Edição Nº21, Janeiro 2019
Vinhos & Sabores: Jesus e Teresa formaram o Par Perfeito

O dono do restaurante Jesus é Goês e a sommelier da João M Barbosa Vinhos foram os grandes vencedores do primeiro concurso de pairings da Feira Vinhos & Sabores. TEXTO Ricardo Dias Felner FOTO Ricardo Palma Veiga Quando pensou no prato para apresentar a concurso, Jesus Lee teve dúvidas. Ainda ponderou levar o caril de […]
O dono do restaurante Jesus é Goês e a sommelier da João M Barbosa Vinhos foram os grandes vencedores do primeiro concurso de pairings da Feira Vinhos & Sabores.
TEXTO Ricardo Dias Felner
FOTO Ricardo Palma Veiga
Quando pensou no prato para apresentar a concurso, Jesus Lee teve dúvidas. Ainda ponderou levar o caril de gambas, mas acabou por escolher o seu preferido: chacuti de cabrito. A decisão foi solitária e talvez por isso o homem por trás do restaurante Jesus é Goês, em Lisboa, não tenha dado importância, para efeitos de pairing com o vinho, ao facto de se tratar de uma das comidas com mais especiarias de toda a gastronomia indo-portuguesa e indiana.
Não deu ele, mas deu a sua parceira de concurso. Teresa Matos Barbosa, sommelier e directora comercial da empresa João M Barbosa Vinhos, que tem no Ninfa a sua marca mais conhecida, começou por ficar aflita. Valeu-lhe o facto de já ser fornecedora de Jesus, bem como cliente do restaurante. “Conhecia bem o chacuti dele e sabia das dificuldades”, disse à Grandes Escolhas, num almoço dias depois do concurso, no próprio Jesus é Goês. “Tem tantas especiarias e picante, o sabor é tão intenso, que a proteína no caso nem importa muito.”
A dupla actuou no segundo dia da feira Grandes Escolhas Vinhos & Sabores, que teve lugar na FIL, entre 26 e 29 de Outubro. Como todos os restantes concorrentes, o chef teve de cozinhar ao vivo um prato, enquanto a sommelier escolhia o vinho que com ele melhor casava. A selecção de garrafas disponíveis (num total de 30) foi da responsabilidade da revista Grandes Escolhas e os concorrentes só tiveram conhecimento dela no momento.
No final do showcooking, o público que acorreu à FIL pôde provar cada um dos pratos, com o vinho escolhido. Cada provador fez também de crítico gastronómico e votou, em boletim fechado, no melhor pairing.
Entre as seis duplas concorrentes, estavam chefs de cozinhas de várias regiões do mundo, desde Luís Cardoso, do Soão – Taberna Asiática, a Ivo Tavares, do Izcalli (mexicano), até chefs de cozinha portuguesa ou de fine dining, como Tiago Emanuel Santos, do restaurante Quorum, Leopoldo Garcia Calhau, muito influenciado pela cozinha alentejana, e Guilherme Spalk, chef executivo da Taberna Fina.
Assim que Jesus e Teresa acabaram a sua performance foi evidente o sucesso entre o público, que esgotou os lugares sentados e ficou de pé, em volta da cozinha móvel. Mal o chacuti foi posto ao lume, o aroma a cardamomo, anis, gengibre, cominhos — e muitas outras especiarias — espalhou-se pelo pavilhão da FIL, provocando uma afluência recorde.
Jesus ensinou a receita do prato e no fim ainda ofereceu a cada membro do público um saquinho com a sua mistura de especiarias, para levarem para casa.
Quanto a Teresa Matos Barbosa, a sua preocupação foi arranjar um vinho que “apagasse o fogo provocado pelas especiarias e pelo picante”. Ainda pegou num branco de Susana Esteban, o Procura, e também no Bombeira do Guadiana Reserva Tinto, mas acabou por ser o Beyra Grande Reserva 2015, tinto, a cumprir a função de “dar doçura, com algum tanino, não muito seco”. Truque importante para a vitória e para todos os que gostam de cozinha indiana e goesa: o vinho foi refrescado e servido a cerca de 14 graus.
Gala Michelin: Céu estrelado, com nuvens

A cerimónia de apresentação do Guia Michelin España Portugal foi o acontecimento gastronómico do ano, mas não choveram estrelas, como alguns previam. A Grandes Escolhas esteve lá e conta quem brilhou e quem ficou enevoado. TEXTO Ricardo Dias Felner O primeiro restaurante a aparecer no ecrã gigante foi A Cozinha, de António Loureiro. Pouco passava […]
A cerimónia de apresentação do Guia Michelin España Portugal foi o acontecimento gastronómico do ano, mas não choveram estrelas, como alguns previam. A Grandes Escolhas esteve lá e conta quem brilhou e quem ficou enevoado.
TEXTO Ricardo Dias Felner
O primeiro restaurante a aparecer no ecrã gigante foi A Cozinha, de António Loureiro. Pouco passava das 19h30 e Mayte Carreño, responsável comercial da Michelin na Península Ibérica, dava assim início à apresentação das novas mesas a merecerem uma estrela Michelin. O aplauso não foi estrondoso. O auditório estava cheio, mas a grande maioria dos convidados eram espanhóis; e entre os portugueses, grande parte de Lisboa, poucos conheciam o restaurante de Guimarães.
Para muita gente na assistência, o anúncio era só uma meia surpresa. É que já há alguns dias que se sabia que quer o chef António Loureiro, quer Óscar Geadas, do G Pousada, quer Pedro Almeida, do Midori, haviam sido convidados para a gala; e, nos últimos anos, os chefs que têm recibo convite não têm ido só assistir, regressando a casa com a lapela estrelada.
Seja como for, o contraste com o anúncio dos restaurantes espanhóis a merecer o galardão, logo a seguir, tornou-se confrangedor. Nas filas mais recuadas (onde não estavam as autoridades portuguesas), uma chuva de urros e palmas acordou finalmente o pavilhão Carlos Lopes e parecia que a gala era em Madrid. Os aplausos em castelhano haveriam de se repetir 22 vezes, com apenas mais três interrupções à fiesta a serem protagonizadas pelos restaurantes Midori (Sintra), G Pousada (Bragança) e Alma (Lisboa).
A discrepância entre os dois países, não sendo novidade, foi desde logo notada. A comitiva oficial portuguesa, sentada na primeira fila do Pavilhão Carlos Lopes, parecia particularmente desconfortável e desiludida. Minutos antes, Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, era a voz do excesso de confiança. Durante o discurso oficial, o autarca brincara que tinha de se despachar, justificando: “É que preciso de fazer uns telefonemas para fazer reserva em alguns restaurantes antes de ganharem estrela e ficarem mais caros.”
O grande momento para as hostes lusas só aconteceria durante a evocação dos novos restaurantes com duas estrelas. Henrique Sá Pessoa foi chamado ao palco para mudar de jaqueta (a que tinha vestida só mostrava uma estrela) e ouviu o maior aplauso da noite para um chef português, com Rui Sanches, o homem da Multifood, empresa por detrás do Alma, a ostentar um sorriso rasgado, e muita gente a aplaudir de pé. Esta apresentação foi a única da categoria que não foi feita por Mayté, mas pelo próprio director internacional da Michelin, que até então só posava para a foto com os chefs.
Se nas hostes do Alma havia festa, entre a equipa do restaurante Feitoria, os ânimos estavam mais deprimidos. O restaurante do hotel Altis Belém, liderado pelo chef João Rodrigues, limitou-se a manter a estrela que já tinha. Os inspectores da Michelin, mais uma vez, trocavam as voltas aos apostadores.
Com o Alma a ficar com duas estrelas, a zona do Chiado, em Lisboa, passava assim a contar com dois restaurantes bi-estrelados, num raio de poucos metros. Mas um deles podia em breve mudar de escalão. Faltava ainda chamar os novos três estrelas e o Belcanto, de José Avillez, era para muita gente um forte candidato a alcançar o olimpo da gastronomia. Os outros restaurantes em Portugal com essa ambição eram o Ocean, do chef Hans Neuner, no hotel Vila Vita Parc, em Porches, no Algarve; e o The Yeatman, de Ricardo Costa, no Porto.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”33319″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row]Avillez em branco
Ainda durante a tarde, surgira a notícia de que Avillez poderia ficar em branco, um pequeno escândalo sussurrado sobretudo entre jornalistas. Antes de a gala começar já havia quem soubesse da lista completa de novos estrelados, enviada para as redacções sob embargo, e o mais conceituado chef português estava de fora.
Avillez era certamente a figura mais destacada do lado português e andava de um lado para o outro a receber os muitos convidados ilustres, com destaque para os chefs-vedetas espanhóis. Martin Berasategui, o homem que mais vezes haveria de subir ao palco (aumentando para 10 as estrelas na lapela, mais duas do que no ano passado), estava presente. Joan Roca (do restaurante El Celler de Can Roca, que já foi considerado o melhor do mundo no The World’s 50 Best Restaurants) estava presente. Como estavam presentes a estrela televisiva Jordi Cruz, do ABaC, em Barcelona, que manteve as três estrelas, e o homem do DiverXo, David Muñoz, o chef do moicano.
No lado português, destaque para a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, grande responsável pela vinda da gala para Portugal, depois de nove anos consecutivos a acontecer em Espanha — um investimento estimado em mais de 400 mil euros, segundo o Governo; e para Dirk Niepoort e Luís Pato, a dupla mais simpática e contrastante, o produtor do Douro com o seu habitual colete creme de repórter de guerra, o homem da Bairrada na sua camisa branca e lacinho.
O ambiente era animado, mas sentia-se uma alegria tensa — porventura antecipando-se o antí-climax que seria o Belcanto não ter a terceira estrela.
Quando Dani Garcia, do restaurante com o mesmo nome, em Marbella, foi chamado a palco, as dúvidas dissiparam-se. Quase toda a gente percebeu que os restaurantes em solo português ficariam de fora do grupo de elite, com três estrelas. José Avillez, no meio da assistência, foi dos primeiros a levantarem-se para aplaudir efusivamente o colega espanhol. Na cabeça de muitos havia a sensação de que aquele momento de glória, a ovação da noite, deveria ter ido para ele.
A cerimónia prosseguiu com os 11 galardoados com três estrelas Michelin, todos espanhóis, em cima do palco e caras mais fechadas na plateia. Um dos mais desiludidos era José Bento dos Santos, o português que faz parte da Academia Internacional de Gastronomia e que, este ano, ajudara a eleger Avillez como “Melhor cozinheiro do ano”, no Grand Prix de L’Art de la Cuisine.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”33323″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row]Nacionalismo espanhol ou incompetência lusa?
No final, toda a gente seguiu para o espaço de comidas — dando-se início ao habitual período de comentários por especialistas habilitados, em volta de pequenos snacks de comida. As análises eram as mais díspares, mas o tom geral havia mudado significativamente desde há meia dúzia de meses. Nessa altura, entre os jornalistas e chefs era mais ou menos assente que o Belcanto levaria a terceira estrela. Um chef estrelado confidenciara então à Grandes Escolhas: “O Zé vai ter a terceira, tanto mais sendo ele a organizar o jantar da gala, como o anfitrião. É alguém que sabe comunicar e nisso ganha, por exemplo, ao Hans, do Ocean, que eu acho que merecia a terceira também.” A mesma leitura era feita por outros jornalistas gastronómicos, todos portugueses.
Agora, entre uma dentada numa empada de perdiz e uma colherada num risoto de caça, dois pratos que o Belcanto serviu na gala, a tónica mudara. Um gastrónomo, conhecedor do modus operandi dos inspectores da Michelin, sublinhava: “Eles são muito imprevisíveis, gostam de surpreender e não apreciam chefs que se desdobrem por muitos projectos” — como é o caso de José Avillez, a braços com vários restaurantes sem a mesma ambição gastronómica do Belcanto e com muitas solicitações e participações fora da cozinha, sobretudo nos media. Num timing difícil de aceitar como coincidência, nesse mesmo dia foi anunciado que o chef vai ser júri num programa na RTP, intitulado Famílias Frente a Frente – Desafio na Cozinha.
No final da apresentação, Avillez esteve boa parte do tempo no balcão do seu restaurante, onde havia queijadinhas de Sintra e um prato com tinta de choco que deixou muita gente com a dentição manchada. Os restantes balcões do jantar estavam espalhados pela entrada do pavilhão, mas houve quem criticasse o aperto do espaço. Comia-se de pé e não havia louça nem talheres de metal, mas colherzinhas e pratinhos de cartão, tudo muito parecido com o que acontece nalguns festivais de comida.
Mas não era a ementa que dominada as conversas. Por mais que se evite o debate sobre nacionalismos, a questão, invariavelmente, acabava no mesmo. Está a ser justo quem decide? Será que o guia favorece Espanha? Em off, muitos admitiam que sim. Espanha tem muitos mais restaurantes de topo, mas a diferença real relativamente a Portugal não é tão grande como a expressa no guia. “A questão de quem avalia pode ter alguma coisa a ver com isso. E quem avalia, seja em restaurantes em Espanha, seja em restaurantes em Portugal, são inspectores espanhóis. Não haver sequer um português é ridículo”, defendia um jornalista.
Do outro lado do hall da comida, um elemento da Secretaria de Estado do Turismo, bebericando de um tinto que o produtor Dirk Niepoort trouxera para o jantar (o Charme 2015), mostrava-se surpreendido com esta informação sobre a nacionalidade dos inspectores. “Não sabia disso. Mas é bom sabermos, para podermos actuar.”[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Restaurantes Michelin em Portugal”][split_line_heading]2 ESTRELAS
*Alma – Lisboa (chef Henrique Sá Pessoa)
Belcanto – Lisboa (José Avillez)
Il Gallo d’Oro – Funchal (Benoît Sinthon)
Ocean – Porches (Hans Neuner)
The Yeatman – Vila Nova de Gaia (Ricardo Costa)
Vila Joya – Praia da Galé (Dieter Koschina)
1 ESTRELA
*A Cozinha – Guimarães (António Loureiro)
Antiqvvm – Porto (Vítor Matos)
Bon Bon – Carvoeiro – (Louis Anjos)
Casa de Chá da Boa Nova – Leça da Palmeira (Rui Paula)
Eleven – Lisboa (Joachim Koerper)
Feitoria – Lisboa (João Rodrigues)
Fortaleza do Guincho – Cascais (Miguel Rocha Vieira)
*G Pousada – Bragança (Óscar Geadas)
Gusto by Heinz Beck – Almancil (Heinz Beck e Daniele Pirillo)
Henrique Leis – Almancil (Henrique Leis)
LAB by Sergi Arola – Sintra (Sergi Arola)
L’ And – Montemor-o-Novo (Miguel Laffan)
Largo do Paço – Amarante (Tiago Bonito)
Loco – Lisboa (Alexandre Silva)
*Midori – Sintra (Pedro Almeida)
Pedro Lemos – Porto (Pedro Lemos)
São Gabriel – Almancil (Leonel Pereira)
Vista – Portimão (João Oliveira)
William – Funchal (Luís Pestana e Joachim Koerper)
Willie’s – Vilamoura (Willie Wurger)
* Nova entrada
[/split_line_heading][/vc_column][/vc_row]
Edição Nº20, Dezembro de 2018
Pedro Braga ensina a acreditar nos mitos

No mês em que lança nova carta, o restaurante Mito, no Porto, do chef Pedro Braga, continua só a querer dar prazer às pessoas. TEXTO Ricardo Dias Felner FOTOS Anabela Trindade Nos dias de hoje, abrir um restaurante sem um conceito, sem uma narrativa, é uma coisa rara. Mas foi isso que Pedro Braga, um […]
No mês em que lança nova carta, o restaurante Mito, no Porto, do chef Pedro Braga, continua só a querer dar prazer às pessoas.
TEXTO Ricardo Dias Felner
FOTOS Anabela Trindade
Nos dias de hoje, abrir um restaurante sem um conceito, sem uma narrativa, é uma coisa rara. Mas foi isso que Pedro Braga, um chef de apenas 35 anos mas já experiente, ousou fazer. “O Mito pretende ser um restaurante cujo conceito é não ter conceito. Eu sei que isto do ponto de vista do marketing é irracional. Mas acho que também foi por isso que a palavra ‘Mito’ encaixou tão bem no restaurante”, diz, sentado na sala do seu restaurante da Rua José Falcão, na Baixa do Porto.
O que é, então, o Mito? “A preocupação principal é que a pessoa coma e beba bem. E que o serviço tenha formação e experiência, mas seja sobretudo atencioso e relaxado. Um serviço sem luva branca”, explica Pedro Braga. Na mesa, isso significa que um dia pode encontrar um frango frito (hidratado em salmoura com ervas), noutro um arroz de tamboril com Sriracha, ou se preferir comer à mão tem um bao (pão chinês, feito na casa) com caranguejo de casca mole ou os croquetes de boi velho.
Daqui já se percebe que, apesar da introdução, estamos num sítio distinto. A própria sala do Mito é sofisticada e o mesmo acontece com a comida, sobretudo ao jantar, quando impera a carta. Ao almoço, as opções recaem quase sempre sobre o menu, com três opções e três preços muito competitivos, uma das melhores relações preço/qualidade do Porto, com as contas a começarem nos 9,50€.
“Não nos esquecemos de que somos cozinheiros e temos conhecimento: é tudo feito cá, desde o caldo de carne aos pães dos bao. Mas não há cá há micro-ervas: há ervas grandes, boas, frescas. Não há nada no prato que seja só decorativo”, concretiza o chef, que já passou por cozinhas de muitos floreados e estrelas Michelin.
Na altura do fecho desta edição, o restaurante estava a preparar a nova carta, a ser lançada em Novembro, onde constam coisas como cavala marinada, ovos rotos de beringela e miso e gelado de pêssego assado.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32762″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Apesar de jovem, Pedro Braga tem tido uma vida intensa na cozinha. Tirou a licenciatura na Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo de Faro, mas rapidamente percebeu “que era mais um operacional do que um administrativo”. Começou a entrar na cozinha por via de um familiar, que tinha o restaurante Arte & Sal, em Sines, e a partir daí o bichinho ficou. Aos 26 anos, decidiu que teria de ir aprender cozinha numa escola a sério e inscreveu-se no Le Cordon Bleu, de Londres. Esse passo haveria de lhe abrir a porta da alta cozinha.
De seguida passou pelo restaurante Koffmann’s, de Pierre Koffmann, um chef francês à antiga, com muitas estrelas Michelin na lapela, que um dia lhe deu “um estalo” por não lhe responder, mas com quem aprendeu as maravilhas que a manteiga pode fazer por um prato. Voltou então para o Porto, mas manteve-se na alta cozinha. O restaurante de Pedro Lemos, na Foz, marcou-lhe o regresso a Portugal.
A maioridade aconteceu com o convite para o Reitoria, onde se torna chef responsável. O restaurante marcou a oferta de carnes de qualidade na grelha do Porto, duas paixões (a carne e a grelha) que Pedro Braga não mais largou. Seguiu-se o Tenra, uma steakhouse pura e dura, também no Porto, e por fim este Mito, onde brinca com tudo o que lhe apetece.
Se é o fim da viagem? Nada disso. Pedro Braga olha já para a frente, admitindo que faria sentido “ter um segundo restaurante”. Se é mito ou não, o tempo o dirá.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32763″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” bg_color=”#dda1a5″ scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
MITO
Rua José Falcão, 183, Porto. 22 208 1059.
Seg 12.30-15.00, 19.30-23.00, Ter 12.30-15.00, Qua-Sex 12.30-15.00, 19.00-23.00, Sáb 19.30-01.00.
Edição Nº19, Novembro 2018
Fortaleza do Guincho: 20 anos, 20 curiosidades

O restaurante com uma estrela Michelin, instalado na praia do Guincho, comemora duas décadas este mês. Fomos abrir o álbum de memórias, guiados por Petra Sauer, directora do hotel. TEXTO Ricardo Dias Felner FOTOS Cortesia Fortaleza do Guincho Por lá passaram reis, presidentes da República, actrizes e outras celebridades, mas a Fortaleza do Guincho, integrada […]
O restaurante com uma estrela Michelin, instalado na praia do Guincho, comemora duas décadas este mês. Fomos abrir o álbum de memórias, guiados por Petra Sauer, directora do hotel.
TEXTO Ricardo Dias Felner
FOTOS Cortesia Fortaleza do Guincho
Por lá passaram reis, presidentes da República, actrizes e outras celebridades, mas a Fortaleza do Guincho, integrada na associação Relais & Chateaux, sempre teve uma clientela fiel de gourmands portugueses e anónimos. Desde 1998 que o hotel mudou de perfil e de proprietários e se tornou num bastião da alta cozinha em Portugal. No início, mandava a cozinha francesa e tudo seguia a linha definida pelo carismático Antoine Westermann, o homem que conseguiu a primeira estrela Michelin para o restaurante. Hoje, quem está aos comandos é Miguel Rocha Vieira, que trouxe mais descontração e inventividade à cozinha, desde que assumiu a liderança dos fogões, em 2015, juntamente com o jovem Gil Fernandes (ex-The Ocean) como sub-chefe. Pelo meio há muitas histórias por contar. Conheça algumas delas.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32197″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row]1. Tudo começou em 1998 com o chef Antoine Westermann como consultor, ele que tinha três estrelas Michelin no restaurante Buerehiesel, em Estrasburgo. Como chef executivo estava Marc Le Ouedec, que seria substituído nesse cargo por Vincent Farges, em 2001. Em 2015, mudou não só o chef, mas também o conceito. Com a entrada de Miguel Rocha Vieira, já com estrela Michelin no restaurante Costes, na Hungria, mas mais conhecido do grande público pela participação no programa de TV Masterchef, o restaurante deixou para trás a tradição francesa e ganhou portugalidade e criatividade.
2. A primeira estrela Michelin surgiu em 2001, três anos depois de o hotel ter renascido tal como é hoje.
3. Os pratos mais populares do restaurante, no consulado de Rocha Vieira, desde há três anos, são o “Carabineiro do Algarve, cenoura e curcuma” e as “Dunas do Guincho”, este uma sobremesa à base de pinhão que recria a paisagem em redor do hotel.
4. A carta de vinhos tem mais de 850 referências, com vários vinhos exclusivos. O mais caro neste momento é um Taylor´s Vintage de 1945. A garrafa custa 1955€.
5. O prato de confecção mais exigente, na carta actual, é o “Porco preto da cabeça aos pés”, o único prato de carne na carta. São utilizadas peças de todo o animal, cada parte com uma confecção diferente, “algumas delas bastante demoradas”.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”32199,32198,32200″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_no”][/vc_column][/vc_row]6. Os empregados do restaurante têm formação clássica, quase todos com mais de 10 anos de casa, destacando-se Virgílio Tabosa, com 20 anos de serviço, o simpático chefe de sala do restaurante.
7. Madonna, Shakira e Cristiano Ronaldo são apenas algumas das celebridades que já passaram pelo restaurante.
8. Mário Soares, o ex-Presidente da República, fez um dos pedidos mais estranhos de sempre. Num restaurante na altura de conceito francês, decidiu que só queria comer uma canja e uma maçã assada à portuguesa.
9. A “família do Dr. Stanley Ho”. É assim que a directora do hotel, Petra Sauer, designa os proprietários do hotel. Mas quem dá a cara por ele e toma decisões, desde 2004, é a própria Petra Sauer, que antes passou pelo InterContinental de Nova Iorque e Berlim, e pelo Vila Joya, no Algarve. Petra Sauer foi convidada para o cargo em 2004, sendo hoje uma figura carismática e querida da gastronomia portuguesa.
10. O preço dos menus de degustação varia entre os 95€ (quatro pratos, mais quatro pratinhos) e os 135€ (seis pratos e outros tantos pratinhos).[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”32204,32202,32203″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_no”][/vc_column][/vc_row]11. A carta muda sempre que “a natureza” manda mudar. A cozinha da Fortaleza é muito sazonal, mas as estações já não são o que eram, pelo que não há datas definidas.
12. Os únicos dois pratos que não saíram da carta, desde que Miguel Rocha Vieira está no comando da cozinha, são também os preferidos do público: o “Carabineiro do Algarve com cenouras e citrinos” e as “Dunas do Guincho”.
13. O restaurante já teve vários sommeliers, entre eles o premiado Inácio Loureiro, que lá esteve durante dez anos e que saiu com Vincent Farges, em 2015 (irá integrar a equipa de Martín Berasategui, no Fifty Seconds, restaurante que deverá inaugurar brevemente, na antiga Torre Vasco da Gama, atual hotel Myriad by Sana Hotel). No momento em que se fechava esta edição, o restaurante estava a finalizar o processo de entrevistas para recrutar um novo escanção.
14. O peixe é a grande estrela do restaurante e provém, na “grande maioria”, da costa de Peniche. O restaurante tem uma relação antiga com a Nutrifresco, especialista na distribuição de peixe de qualidade.
15. A carne com que o restaurante está a trabalhar (porco) é nacional (de origem alentejana), “tal como o são 95 por cento dos produtos que entram na cozinha”.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][image_with_animation image_url=”32201″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row]16. A clientela do restaurante divide-se entre 50 por cento de portugueses e 50 por cento de estrangeiros, entre hóspedes e passantes.
17. Parte das peças decorativas, como uns mexilhões em cerâmica colocados em cima da mesa, são da autoria da artista Marta Galvão, do atelier Estúdio, nas Caldas da Rainha.
18. Na cozinha trabalham 19 pessoas, entre padaria, pastelaria, cozinha e copa. A mesma equipa trata da carta do bar do hotel, também concebida por Miguel Rocha Vieira.
19. A nacionalidade portuguesa domina na cozinha da Fortaleza. Dos 19 empregados, 17 são portugueses, um é mexicano e outro cabo-verdiano.
20. O ticket do restaurante (preço médio por refeição) é de 135€, no caso das degustações com wine pairing.
Edição Nº18, Outubro 2018
Pode uma padaria ajudar a rejuvenescer um bairro?

O bairro de Alvalade tem a população mais envelhecida de Lisboa, mas foi aí que nasceu a padaria mais cool do país. Bem-vindos ao Isco. TEXTO Ricardo Dias Felner FOTOS Ricardo Palma Veiga São 10h30 de uma quarta-feira e as pessoas não param de chegar. A fila vai até à porta da rua e é […]
O bairro de Alvalade tem a população mais envelhecida de Lisboa, mas foi aí que nasceu a padaria mais cool do país. Bem-vindos ao Isco.
TEXTO Ricardo Dias Felner
FOTOS Ricardo Palma Veiga
São 10h30 de uma quarta-feira e as pessoas não param de chegar. A fila vai até à porta da rua e é heterogénea. Há de tudo: a lojista da boutique, uma vizinha anciã, um rapaz com rastas e um cão rafeiro pela trela, dois hipsters e um rockabilly, um chef de um restaurante da moda. O Isco apareceu como um ovni no bairro de Alvalade e toda a gente lá quer ir.
“É muito gratificante ver que as pessoas daqui estão a gostar, mas também que vem gente de fora. Os vizinhos dizem-me que vêem pessoas por aqui que nunca viram”, conta Paulo Sebastião, sócio e padeiro chefe, o habitual boné de pala na cabeça, o avental cheio de farinha. “Está a ser um desafio, porque não esperávamos tanta gente. Sábado, durante todo o dia, a fila estendeu-se pela rua.”
E podia não ter sido assim. A oferta do Isco, inaugurado em Setembro, é bem diferente da que se encontra nas padarias de supermercado ou mesmo nas padarias de rua. Boa parte do pão, amassado e cozido à vista dos clientes, usa massa-mãe como fermento natural, aposta em côdeas mais tostadas e nalguns ingredientes invulgares, como a alcaravia ou o cardamomo.[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”32186,32184,32182″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_no”][/vc_column][/vc_row]O cardamomo está na base, aliás, da grande surpresa até agora. “O nosso bestseller são os kardemummabullar.” Perdão?! “São uns bolos de cardamomo suecos, feitos com massa de trigo, ovo, açúcar e cardamomo.” E como é que se lembraram disto?
A história obriga a recuar no tempo. Há dez anos, Paulo teve um convite para ir trabalhar como consultor informático para Estocolmo. Um dia, sentiu saudades de comer pão “a sério” e aceitou um emprego em part-time, numa das melhores padarias da cidade. Nascia aí o bichinho pelo pão e foi também aí que aprendeu a fazer os kardemummabullar, espécie de bolo nacional na Suécia.
À partida, julgar-se-ia que a clientela mais conservadora do bairro fosse preferir os bolos de canela, mas a verdade é que o cardamomo tem ganho aos pontos, mesmo entre a comunidade do bairro, com a média de idades ao alto.
Não se pense, contudo, que a oferta é toda exótica, que só há pães com muita acidez, muita massa-mãe, farinhas integrais e especiarias. No Isco, tanto se encontram pães com trigo persa (conhecido como Kamut), integral e biológico, como se fazem baguetes clássicas, à francesa, com o miolo branco, ou pains au chocolat, bons para comer com um bom café de saco de arábica da Etiópia.
Por agora, o modelo tem funcionado. Ao bairro de Alvalade chega gente de todo o lado para experimentar a padaria. Alguma coisa está a mexer por ali. E sabe bem.
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” bg_color=”#ddc1c3″ scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom” shape_type=””][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
ISCO
Rua José D’Esaguy 10D (Alvalade), Lisboa.
Ter-sex 10h00-19h00, sáb 10h00-17h00.
Edição Nº18, Outubro 2018