Madeira Wine Company: Novidades e velhidades Blandy’s

Detesto o velho clichê de “os estrangeiros gostaram muito”, mas sempre lembrarei que foi com vinho Madeira que se brindou na assinatura da Constituição dos Estados Unidos da América. Foi em 1776. Onde há uma igreja católica há vinho, portanto, desde o séc. XV que há vinha na Madeira. As condições naturais da ilha não […]
Detesto o velho clichê de “os estrangeiros gostaram muito”, mas sempre lembrarei que foi com vinho Madeira que se brindou na assinatura da Constituição dos Estados Unidos da América. Foi em 1776.
Onde há uma igreja católica há vinho, portanto, desde o séc. XV que há vinha na Madeira. As condições naturais da ilha não favorecem o amadurecimento das uvas. Os terrenos são muito férteis, as temperaturas moderadas, as altitudes elevadas. Por outro lado, a acidez é excepcional, e, ao amuar a fermentação com álcool vínico a 96%, nasce um vinho que, sendo envelhecido em velhos cascos de madeira e sujeito às condições climáticas dos velhos sótãos, se torna indestrutível. A Blandy’s é uma empresa familiar, com mais de 200 anos de história na ilha, hoje dentro do universo da Madeira Wine Company, mas sempre com gestão familiar, desde 2010 personificada em Chris Blandy, jovem de 40 e poucos anos.
Gerir uma empresa antiga de Vinho Madeira é gerir um tecido de incrível complexidade. Na apresentação dos novos lançamentos, no restaurante Kabuki, em Lisboa, Chris e o seu enólogo principal e master blender, Francisco Albuquerque, foram sempre citando números: “De Bual há 14ha na ilha, com 104 viticultores na Calheta. A MWC tem 1 ha”. “A Madeira tem 22ha de Sercial, são 125 produtores”. E continuando. Vocês percebem, é só fazer as contas, como dizia o António Guterres. É preciso gerir as nossas vinhas, decidir os tratamentos e datas de colheita, acompanhar as vinhas dos outros (muitas dezenas de) viticultores, colher e separar todas as parcelas, com as castas separadas, já que na Madeira cada casta é também um estilo de vinho.
Francisco Albuquerque, que começou a carreira na Blandy’s em 1990 (e aliás, começou imediatamente a mudar o sector) disse-nos que experimentou fazer algumas castas ao estilo de outras (ou seja, com o nível de doçura “errado”) e descobriu que o resultado era horrível. Diz ele: a doçura está bem assim: Sercial seco com um máximo de 60g de açúcar por litro, Verdelho meio-seco com 60 a 75g de açúcar, Bual meio-doce com 75 a 100g e Malvasia doce com mais de 125g.
Mais um problema: fazer chegar as uvas ao Funchal. Muitas vinhas são em sítios bastante isolados. Há imensa pressão demográfica na Madeira, com apenas 13,5% dos terrenos com declives inferiores a 16%, as vinhas têm de lutar pelo seu espaço contra os hotéis e as habitações. Felizmente, a viticultura tem evoluído e os porta-enxertos aguentam cada vez mais altitude. 80% da ilha da Madeira está acima dos 700m.
Mas a complexidade não termina aqui: feitos os vinhos há que envelhecê-los. E segundo Albuquerque, o sítio onde fica o armazém de envelhecimento também determina o estilo dos vinhos. A Blandy’s tem 16 armazéns de envelhecimento, e em cada localização, as diferentes castas desenvolvem de forma diferente os ácidos orgânicos que dão ao Madeira o seu carácter. Por exemplo, o Caniçal é mais húmido do que o Funchal e há castas que envelhecem lá melhor. É preciso diminuir os factores aleatórios para manter o estilo de cada vinho.
Depois de mais de 30 anos de trabalho, Francisco Albuquerque conseguiu pela primeira vez fazer 4 vinhos do mesmo ano, os 2010 hoje apresentados. Para além desses, viajámos um pouco no tempo para provar alguns vinhos históricos, e comparar estilos da Blandy’s com a sua marca-irmã, Cossart-Gordon. Ao jantar, mais desafios: o IG Madeirense (“de mesa”) Atlantis, Verdelho da Fajã da Ovelha, feito em parceria com Rui Reguinga, e a provocação de harmonizar vinho Madeira com os pratos da cozinha japonesa, uma proposta desenhada com a ajuda de Victor Jardim, escanção do Kabuki e também ele madeirense. Sashimi de atum com Sercial, toro com Sercial e Verdelho, wagyu com Bual. Aposta ganha, num dia em que honrámos as tradições da Madeira com os seus vinhos de enorme delicadeza, etérea profundidade e eterna longevidade.
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2023)
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Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 1976 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 2010 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 1982 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 1991 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 1990 -
Cossart-Gordon
Fortificado/ Licoroso - 1995 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 2010 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 2010 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 2010
Arnozelo vs. São Luiz: os bons confrontos

É sempre entusiasmante receber um convite destes: “Olha, podes no dia tal? Vamos fazer uma prova vertical de Quinta do Arnozelo e Quinta de São Luiz.” Acendem-se logo os sonhos. Estas poucas palavras, mais o autor do telefonema, colocam na mente do velho crítico os contextos todos em zoom próximo: falamos de Vinho do Porto; […]
É sempre entusiasmante receber um convite destes: “Olha, podes no dia tal? Vamos fazer uma prova vertical de Quinta do Arnozelo e Quinta de São Luiz.” Acendem-se logo os sonhos. Estas poucas palavras, mais o autor do telefonema, colocam na mente do velho crítico os contextos todos em zoom próximo: falamos de Vinho do Porto; falamos do grupo Sogevinus, aglutinador de algumas das mais antigas e prestigiadas marcas do sector; falamos da Burmester, pequena empresa de ourivesaria vínica, onde a Quinta do Arnozelo, no Douro Superior, zona da Ferradosa, é das mais acarinhadas; falamos da Kopke, a mais antiga empresa do sector, com fundação no século XVII (1636, a Burmester é muito mais recente, de 1750…), e da sua jóia maior, a Quinta de São Luiz, na frente de rio entre o Pinhão e a Régua. A palavra vertical é já mais ambígua, visto que nestas empresas específicas poderíamos estar a falar de uma prova de vinhos de vários anos e alguns deles poderiam ser muito, muito antigos, com mais de 100 anos. Mas a desambiguação vem da palavra “Quinta” e aí cheira-nos a Porto Vintage, em particular, a Single Quinta. No sector, nos melhores anos o Vintage é feito com a fórmula de misturar os vinhos de várias origens e quintas, originando os Porto Vintage normalmente chamados de clássicos. Single Quinta significa os outros anos, nos quais a longevidade poderá não ser tão prometedora, mas isso é compensado por uma maior ênfase no conceito de “terroir”, a origem geográfica dos vinhos, e também, porque não admiti-lo, por preços de venda mais moderados, e uma maior acessibilidade na sua evolução. Costuma-se resumir isto tudo na fórmula: vinhos para comprar e ir bebendo enquanto esperamos que os anos clássicos cheguem ao seu melhor, depois de pacientemente conservados no escuro e no frio. Tudo isto está já na minha cabeça quando dou a reposta óbvia: “sim, claro que vou, com muito prazer.”
Kopke fundada em 1638, Burmester fundada em 1750. Aqui, falamos da história do vinho do Porto.
O prazer ainda é maior quando chego ao pé da Ponte Luiz I e entro na belíssima cave que a Burmester tem em Vila Nova de Gaia, ali rente ao rio Douro. O edifício é comprido e desdobra-se em sucessivas salas, paredes de granito, vistas e entrevistas do Douro e do Porto. Lá no fundo, espera-nos o staff da Sogevinus, uma textura de copos, uma promessa de complexidade e prazer. Mistério agora completamente decifrado, não há surpresas, há uma mini-vertical paralela de Burmester Quinta do Arnozelo e Kopke Quinta de S. Luiz, Vintages dos anos 2009, 2012, 2015, 2019, e a apresentação ao público do 2021.
A Quinta do Arnozelo foi adquirida pela Burmester em 2004, e fica na fronteira entre o Douro Superior e o Cima Corgo. Tem 200ha dos quais 93 têm vinha. Tem ainda 38 de olival, 6 de amendoal, 2 de citrinos e mata. O encepamento foca-se na Touriga Nacional e Touriga Franca, as altitudes vão dos 110 aos 520m, e recentemente foi instalada rega para encarar os desafios climáticos. São Luiz fica no coração do Cima Corgo, na margem Sul do Douro, mesmo em frente à estação do Ferrão. Tem 125ha, dos quais 90 têm vinha, e a sua altitude vai dos 80 aos 450m. As suas vinhas são anteriores a 1930, com renovação do encepamento nos anos 1980. A sua exposição a Norte, com talhões também a Noroeste e Nordeste confere aos vinhos uma particular frescura ácida.
Burmester Quinta do Arnozelo e Kopke Quinta de São Luiz: os Porto Vintage 2021 da Sogevinus.
Cada ano é um ano, e cada provador um provador. Como disse acima, estes single quinta permitem-nos uma visão mais precoce da sua evolução, e alguns dos vinhos estavam já muito acessíveis. Mas os Vintages jovens dão também muito prazer, e em todos os vinhos encontrei qualidades para encarar uma tarte de maçã, um brownie de chocolate, ou uma tábua de queijos. Para os amantes de desporto, e encarando cada ano como um confronto amigável, direi que o Kopke ganhou 4-2.
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2023)
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Kopke Quinta S. Luiz
Fortificado/ Licoroso - 2021 -
Burmester Quinta do Arnozelo
Fortificado/ Licoroso - 2021 -
Kopke Quinta S. Luiz
Fortificado/ Licoroso - 2019 -
Burmester Quinta do Arnozelo
Fortificado/ Licoroso - 2019 -
Kopke Quinta S. Luiz
Fortificado/ Licoroso - 2015 -
Burmester Quinta do Arnozelo
Fortificado/ Licoroso - 2015 -
Kopke Quinta S. Luiz
Fortificado/ Licoroso - 2012 -
Burmester Quinta do Arnozelo
Fortificado/ Licoroso - 2012 -
Kopke Quinta S. Luiz
Fortificado/ Licoroso - 2009 -
Burmester Quinta do Arnozelo
Fortificado/ Licoroso - 2009
Português Tiago Macena prestes a tornar-se Master of Wine

Master of Wine. Um título, um estatuto, que abre portas no sector do vinho um pouco por todo o mundo. Mas tão, tão difícil de atingir que, até agora, todos os portugueses que o tentaram foram obrigados a desistir. O volume de horas (dias, meses, anos) de estudo, o dinheiro para comprar vinhos e viajar […]
Master of Wine. Um título, um estatuto, que abre portas no sector do vinho um pouco por todo o mundo. Mas tão, tão difícil de atingir que, até agora, todos os portugueses que o tentaram foram obrigados a desistir. O volume de horas (dias, meses, anos) de estudo, o dinheiro para comprar vinhos e viajar pelo mundo, a disponibilidade e empenho totais que quase impedem seguir em paralelo uma actividade profissional ou manter uma relação familiar, tudo isso são entraves no caminho de quem ambiciona o título outorgado pelo Institute of Masters of Wine (IMW) e que pouco mais de 400 pessoas possuem (das quais mais de 200 originários do Reino Unido, onde nasceu o conceito).
Tiago Macena está muito próximo de ser o primeiro português a alcançá-lo, após ter hoje, dia 15 de Setembro, recebido a notícia de que passou no exame prático. Conversando com ele, dá para perceber não apenas a emoção pelo feito alcançado mas também o muito que penou para aqui chegar. Tudo começou em 2012, numa master class promovida pela Symington Family Estates, onde esta empresa procurava motivar (e ajudar a financiar) os primeiros passos de um português neste percurso. ”Só nesse momento entendi com alguma clareza o que estava por detrás das famosas letras MW”, diz Tiago. Aceite como estudante no ano lectivo de 2012/2013, transitou em Junho de 2013 para o segundo ano, onde já teve acesso ao famoso “Exame”. Mas logo, em Janeiro de 2014, Tiago Macena percebeu que lhe faltava preparação e, sobretudo, “mundo”, para o nível exigido. Fez uma pausa e prosseguiu a sua actividade como enólogo, na adega de Cantanhede, com Osvaldo Amado.
Passados três anos reformulou a sua vida profissional e passou a trabalhar como enólogo consultor. Então, corria o ano de 2017, pediu a readmissão ao IMW e falou com Dirceu Vianna Junior (colaborador da Grandes Escolhas desde a sua fundação e o único Master of Wine de língua portuguesa), pedindo-lhe que fosse seu mentor e “coach” neste árduo caminho. Em Setembro de 2017 voltou assim à estaca zero, ao primeiro ano do curso. Em Junho de 2018 passou ao segundo ano e em 2019 sentou-se pela primeira vez no temido “Exame”: 3 provas práticas (12 vinhos brancos, 12 tintos e 12 vinhos doces, tranquilos, fortificados, efervescentes…) com muitas perguntas para responder em 2h15m. Tiago Macena dá os detalhes: “Este exame exige imensa experiência de prova, rapidez e clareza de discurso. Precisamos de 65% dos 300 pontos (ou seja, 195 pontos) nos 3 exames para aprovar o exame prático. Nas tardes desses dias de prova prática temos o exame teórico com 5 elementos – Viticultura, Enologia, Qualidade, Marketing/Comercial e Assuntos Contemporâneos, onde temos de responder a 13 perguntas no formato de “Essay”, mostrando conhecimento, visão global e opinião.”
Nesse primeiro exame de 2019 o sucesso foi parcial, pois Tiago passou na prova teórica, mas não na prática. “Assim, desde de 2019, tornei-me um estudante ‘practical only’, focado em exclusivo na prova prática”, diz o enólogo. Em 2020, por causa do covid-19, não houve exame, e em 2021, Tiago sentou-se pela segunda vez frente aos 36 vinhos e falhou em cumprir o exigido, o mesmo sucedendo no ano seguinte. Nunca desistiu, porém. Sempre apoiado por Dirceu Vianna Junior, que lhe trazia para Portugal vinhos de todos o mundo que provavam em conjunto, em Junho de 2023 estava de novo no IMW frente a 36 vinhos. “Desta vez desfrutei dos vinhos, entendi-os, ‘li-os’ bem, senti-me confiante de ter feito um bom trabalho”, refere Tiago. Mas só hoje chegou o mail há muito aguardado: prova superada! Ou seja, 95% do mais difícil está feito. Resta escrever e entregar o trabalho de fim de curso, o chamado “research paper”, para Tiago Macena ter, finalmente, o direito de se intitular Master of Wine. E agora, Tiago? “Agora, depois de celebrar a vitória, é tempo de voltar ao trabalho e acabar uma difícil vindima no Dão…”.
Casa Américo: O “sonho americano” na Serra da Estrela

Américo Seabra nasceu em 1927 e emigrou para os Estados Unidos, em 1967. Consigo levou a mulher e os seus seis filhos, ainda crianças. A razão foi a mesma que levou tantos outros portugueses a deixar o país, em vagas sucessivas, ao longo da década de 60: buscar uma vida melhor para si e para […]
Américo Seabra nasceu em 1927 e emigrou para os Estados Unidos, em 1967. Consigo levou a mulher e os seus seis filhos, ainda crianças. A razão foi a mesma que levou tantos outros portugueses a deixar o país, em vagas sucessivas, ao longo da década de 60: buscar uma vida melhor para si e para os seus.
Anos e anos de trabalho duro permitiram à família criar um autêntico império comercial e de serviços, em diversas áreas, entre elas a restauração, a logística, os supermercados, com a cadeia Seabra Supermarket, e a distribuição de vinhos e bebidas, com a Aidil Wines, que muito tem feito pela implantação local dos vinhos portugueses.
Porém, o coração serrano de Américo Seabra ficou sempre em Vila Nova de Tazem, onde manteve uma pequena vinha cujas uvas vendia para a cooperativa local. Quando ele e a mulher regressaram às origens, em 2000, deixando os filhos à frente dos negócios americanos, resolveu produzir o seu próprio vinho. O que veio a acontecer na vindima de 2005, com o apoio dos filhos que construíram uma pequena adega em Tazem. O tinto resultante, segundo consta na família, não era nada de especial. “Mas deu uma alegria enorme ao meu pai”, revela Albano Seabra, que com seus irmãos António, Américo e José, resolveu, em 2009, ajudar o progenitor a dar outra dimensão ao seu sonho. Surgiu assim a Seacampo, empresa familiar sedeada em Vila Nova de Tazem e dedicada à produção e comercialização de vinhos do Dão.
Casa Américo tornou-se marca e assinatura da empresa que o pai Américo Seabra, falecido em 2011, ainda viu nascer e produzir os primeiros vinhos.
Ano após ano a Casa Américo foi crescendo e aumentando o seu património. O que começou com uma vinha de 5 hectares transformou-se em seis quintas mais algumas parcelas, num total de 150 hectares de vinha, onde se inclui já a Quinta da Garrida e a Quinta das Casticeiras, adquiridas em 2022 à Aliança/Bacalhôa. É uma área impressionante para a região e mais ainda se pensarmos que toda ela se insere na sub-região da Serra da Estrela, talvez a mais vincadamente diferenciadora de entre as sete sub-regiões do Dão. Já em 2017 tinha sido adquirida a Adega Cooperativa de São Paio. Com essa aquisição, foi possível preservar um pedaço da história vinícola da região, implicando embora um forte investimento na sua renovação e actualização. A adega pode vinificar milhão e meio de litros e armazenar dois milhões, algo que ultrapassa em muito a produção da Casa Américo, que está ainda assim em crescendo, passando dos 525 mil litros em 2021 para os 650 mil em 2022. Muitos antigos viticultores associados da adega de São Paio continuam a ali entregar as suas uvas. O património completa-se com um solar/palacete adquirido em 1999, situado no centro de Vila Nova de Tazem e rodeado por 1 hectare de vinha. Foi ali que a família desenhou de raiz o projecto Casa Américo.
Um empreendimento desta magnitude, ainda para mais com os seus proprietários a viver nos Estados Unidos da América, necessita de uma gestão profissional no seu dia a dia. “A dada altura percebemos que isto não podia ser somente uma paixão, era importante profissionalizar, criar dimensão, economias de escala. Só assim poderíamos corresponder ao propósito de trazer valor para Vila Nova de Tazem e honrar o nome do nosso pai”, refere Albano Seabra, dos quatro irmãos sócios aquele que está mais tempo em Portugal. Assim, uma equipa liderada pelo director geral David Lopes e composta pelo enólogo consultor Pedro Pereira (técnico com vasta experiência no Dão e, em particular, na sub-região da Serra da Estrela), pelo enólogo residente João Cantão e pelas irmãs Dora Caseiro (marketing) e Beatriz Caseiro (comercial) assegura o bom desempenho do projecto que tem como principais mercados de consumo Portugal, EUA, Brasil, Europa e Suíça, por esta ordem.
No coração da Serra
As vinhas da Casa Américo Wines estão distribuídas por 6 quintas e mais algumas propriedades dispersas entre Vila Nova de Tazem e S. Paio, Gouveia. A Quinta Nova é a maior, constituída por 68,5ha de vinha em produção. São distintas parcelas com diferentes idades e castas, rodeadas por pinhal, oliveiras e afloramentos graníticos. Para além das castas, brancas e tintas, mais comuns e tradicionais do Dão, existe também aqui uma parcela recentemente plantada com castas antigas e, algumas delas, quase desaparecidas da região, existentes apenas nas vinhas velhas. Variedades brancas como Alvadurão, Gouveio, Barcelo, Uva Cão, Terrantez e tintas como Baga, Alvarelhão, Camarate, Sousão, Bastardo e Rufete têm aqui uma nova oportunidade. “É também uma forma de preservar a nosso património vitivinícola para as gerações futuras”, diz a propósito David Lopes. Também em Tazem encontramos a segunda maior propriedade, a Quinta da Garrida. São 18ha de vinhas, algumas com mais de 50 anos, onde estão presentes diversas castas antigas. Aqui só existem variedades tintas, com destaque para a Tinta Roriz e Touriga Nacional. A Quinta do Aral situa-se perto de Gouveia, sendo a vinha de maior altitude (todas as vinhas da casa estão entre os 400 e 650 metros), de onde saem os brancos e tintos Casa Américo 625. No Aral encontramos 15ha de vinha (com parcelas, brancas e tintas, muito velhas, remontando aos anos 30 e também uma parcela plantada em 2017 com varas das vinhas velhas) e 4ha de pomar Bravo de Esmolfe. A Quinta do Paço, localizada igualmente nos arredores de Gouveia, tem um total de 27ha, dos quais 15ha de vinha, em bonitos patamares, de onde vem a marca Vinha de Púcaros. Um olival em modo de produção biológica, uma casa antiga recuperada e uma capela são outros destaques da propriedade.
Já a Quinta das Casticeiras, adquirida no ano passado, está situada em Moimenta da Serra, bem próxima da encosta da Estrela. Rodeada por muro de granito, tem 12ha de vinhedos, a 580 metros de altitude. Segundo o enólogo Pedro Pereira, é daqui que vem a melhor Touriga Nacional da empresa. Finalmente, a Quinta da Cerca. Tem apenas 1,5ha de vinha, cercada por um muito de granito, mas a sua importância é bem maior do que a dimensão. É que esta é a vinha mais antiga da Casa Américo, com mais de um século de idade, feita de cepas retorcidas com uma grande variedade de castas brancas e tintas. Aqui nasce o ex-libris da casa, o Vinhas Centenárias.
Mais de 75% das vinhas da empresa têm uma idade entre os 10 e os 50 anos e as castas tintas predominam largamente nos encepamentos, com 85%. A aquisição de propriedades vai ficar por aqui, a ideia agora será, sobretudo, aumentar a área de uvas brancas, provavelmente à custa da Tinta Roriz, casta que Pedro Pereira não aprecia particularmente. O que aprecia, isso sim, é a disponibilidade de diversas vinhas “maduras” e em altitude, com dias quentes que contrastam com as noites frescas e orvalho nas madrugadas, conduzindo a vinhos de forte personalidade e muita frescura. “O perfil de vinhos que ambicionamos são os que expressam a identidade da Serra da Estrela, terra natal do Sr. Américo Seabra”, diz o enólogo. “Daí todo o investimento na preservação do património vitivinícola da região e das castas autóctones.”
O portefólio começa a ser vasto (são seis linhas distintas de produto, cada qual com várias referências, sendo que Casa Américo é a marca mais sonante) mas isso não assusta David Lopes. “Temos opções para diferentes momentos de consumo, para diferentes tipos de consumidores e diferentes canais”, justifica. “Queremos ser uma referência entre os vinhos portugueses, como embaixadores da sub-região da Serra da Estrela, Dão.”
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2023)
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Casa Américo Vinhas Centenárias
Tinto - 2018 -
Casa Américo 625
Tinto - 2019 -
Casa Américo
Tinto - 2016 -
Casa Américo
Tinto - 2018 -
Casa Américo
Tinto - 2016 -
Casa Américo
Tinto - 2018 -
Casa Américo
Rosé - 2021 -
Vinha de Púcaros
Branco - 2020 -
Casa Américo Branco Pelicular
Branco - 2021 -
Casa Américo 625
Branco - 2020 -
Casa Américo
Branco - 2021 -
Casa Américo
Branco - 2020
Sogrape e chef Vasco Coelho Santos juntos em pop-up na estação do Pinhão

A Sogrape abriu o pop-up gastronómico Douro Bites na estação ferroviária do Pinhão, reforçando a parceria com o chef Vasco Coelho Santos. Situado no piso superior da estação, o Douro Bites “leva um pouco da gastronomia do restaurante Seixo para este local emblemático duriense, num conceito diferente, mais leve e descontraído”, explica a Sogrape, que […]
A Sogrape abriu o pop-up gastronómico Douro Bites na estação ferroviária do Pinhão, reforçando a parceria com o chef Vasco Coelho Santos.
Situado no piso superior da estação, o Douro Bites “leva um pouco da gastronomia do restaurante Seixo para este local emblemático duriense, num conceito diferente, mais leve e descontraído”, explica a Sogrape, que já tinha e mantém, neste edifício, uma loja de vinhos e provas harmonizadas com produtos da região.
A carta do Douro Bites começa por propor gaspacho de tomate coração de boi, e segue com sugestões de bolinhos de bacalhau, cabeça de xara ou sardinha de escabeche. As sanduíches hokaido, um tipo de pão da família do brioche, e as saladas de polvo e tomate também marcam presença.
Para sobremesa, em enquadramento com o Douro e a época de vindimas, há torta de chocolate e uvas. Na carta de vinhos, encontra-se uma selecção de vinhos do Douro e do Porto do grupo, com destaque para Casa Ferreirinha e Porto Ferreira, duas referências históricas no portefólio da Sogrape.
“O Douro Bites vem reforçar a presença da Sogrape no Douro com um conceito muito complementar à oferta que existe actualmente na região”, refere Joana Pais, responsável de Relações Públicas e Hospitalidade da Sogrape, acrescentando que este é “um espaço muito confortável, com uma carta leve e diversificada, num local fascinante pela sua história e beleza”.
O pop-up Douro Bites — localizado no Largo da Estação, 5085-037 Pinhão — está aberto todos os dias, das 10H30 às 18H30, até ao final de Outubro.
Quinta do Monte Travesso: Navegar com maré alta

À Quinta do Monte Travesso chega-se sem dificuldade. É provável que, quer no caminho, quer ao chegarmos à quinta, nos cruzemos com viajantes em autocaravanas. A razão é que Bernardo Nápoles facilita o estacionamento destes visitantes na propriedade, favorece o uso de instalações sanitárias e não esconde as vantagens que daí advêm quando nos lembra […]
À Quinta do Monte Travesso chega-se sem dificuldade. É provável que, quer no caminho, quer ao chegarmos à quinta, nos cruzemos com viajantes em autocaravanas. A razão é que Bernardo Nápoles facilita o estacionamento destes visitantes na propriedade, favorece o uso de instalações sanitárias e não esconde as vantagens que daí advêm quando nos lembra que “é gente diferente, muito interessada em vinho, em fazer provas e, o que nos interessa particularmente, em comprar vinho. Quando vão embora levam caixas na carrinha”. Chegam através de sites como o Park4night e o resultado tem sido muito animador, “é gente diferente das caravanas de praia”, recorda. À quinta acorrem turistas para provas, eventualmente para refeições ou para usarem as duas casas que estão disponíveis para receber visitantes. Tal como acontece cada vez com mais frequência no Douro, o enoturismo está a ter um peso muito importante na facturação, cerca de 40%, diz-nos Bernardo. É claro que uma das primeiras medidas práticas para poder receber visitas foi ter copos de qualidade e frigoríficos para manter os vinhos à temperatura certa. Das provas passou-se às refeições, abriu-se uma mini loja e às duas casas já em uso poderão juntar-se mais duas, por ora em plano.
De há muito tempo ligado à Symington Family Estates, como profissional de campo, Bernardo recorda que esteve vários anos como responsável da quinta do Vesúvio, depois Senhora da Ribeira. Como todos temos assistido, a Symington continua a adquirir propriedades de diferentes dimensões e isso “é um sufoco de trabalho”, disperso por muitas zonas distintas da região. E, como nos diz, rindo “há sempre mais um telefonema do Paul Symington que tem um pequeno problema na sua quinta e lá vou a correr”. O desejo de voltar ao mar está assim cada vez mais distante e mais ainda o sonho (louco, dizemos nós que não somos dados a navios…) de dar a volta ao mundo!
Pezinhos na terra
Sonhos à parte, é a quinta que herdou da família que lhe toma o pouco tempo disponível. Com referências que remontam a 1896, a quinta está na posse da família desde 1931. A casa solarenga foi considerada de interesse municipal e ostenta as armas da família, destacando-se, nesta história, a figura matriarcal de Judith de Barros Caupers de Sousa Nápoles, agora homenageada em marca de vinho.
O “novo” projecto arrancou em 1996 e tem sido construído aos poucos, sempre com fundos próprios, passo a passo. Como é tradição da região, o direito de benefício e as correspondentes uvas são vendidos, uma vez que aqui não se produz Porto “Temos 35 pipas de benefício que desde sempre entregávamos à Ferreira mas agora, com a adega da Granvinhos aqui ao lado, é para lá que vão as uvas”, diz Bernardo. O desejo de vir a fazer um vinho do Porto de marca própria existe mas a concretização é que não está para breve, já que continua a existir a obrigação da lei do terço e isso implica um grande empate de capital e muito vinho em stock. É um sonho para já adormecido. As boas uvas são usadas para fazer os DOC Douro da marca da quinta mas a rentabilidade é muito complicada porque, diz-nos, o Douro está a ter um problema de quebra significativa de produção por hectare e “mesmo com rega as produções tendem a baixar, não sabemos bem porquê, mas poderá ter a ver com a qualidade das plantas, dos enxertos prontos” E dos 60 hectares de vinhas que existiam no tempo do avô, Bernardo herdou os 12 que agora compõem a quinta, situada perto dos 500 m de altitude. Daqui saem anualmente de 35 a 50.000 garrafas, muito para exportação, sobretudo para o Brasil, o principal mercado. No mercado interno, com a excepção das lojas El Corte Inglès, o vinho encontra-se nas garrafeiras e restauração. A venda à porta é um negócio interessante e é para continuar.
Na vinha disponível vamos encontrar de tudo: uma parcela velha com 90 anos (1,5 ha) onde já se identificaram 14 castas brancas e 7 tintas, já objecto de uma tese de mestrado na UTAD; vinha em patamares, vinha ao alto e pilheiros (são vides colocadas nos buracos dos muros para aproveitar todo o espaço disponível). Para já nada é para alterar, a vinha velha é para continuar e as reestruturações estão feitas. Agora é preciso, isso sim, rentabilizar. Mesmo os modelos de vinho estão encontrados e o portefólio apenas virá a conhecer um novo rosé da cor aberta que agora se tornou o padrão e que poderá ser feito de Touriga Nacional. O rosé que já existe tem muita cor mas “os visitantes das caravanas assumem esse vinho com um tinto de Verão e tem funcionado bem”.
O grande salto em termos de profissionalismo das tarefas da quinta foi dado com a entrada de um jovem enólogo, Daniel Souto, um verdadeiro “apaga fogos” que está presente em todas a tarefas, da vinha à adega. A equipa fica completa com Pedro Francisco que é enólogo consultor e proprietário da vizinha Quinta da Padrela. Com a limitação da área da vinha, o crescimento apenas é possível com as entregas de pequenos lavradores da zona que há muitos anos fornecem uvas. Antigamente porque a quinta tinha produção insuficiente e hoje porque é uma alavanca para aumentar a produção da marca de entrada, Travesso.
Por aqui pratica-se a protecção integrada na viticultura e na adega são sempre usadas leveduras para inocular os mostos; depois são usadas barricas de várias tanoarias, sobretudo de 225 litros de capacidade. As novas tendências de enologia “no fio da navalha” não encontram aqui muita receptividade. Joga-se na segurança, algo que, estamos certos, vem também quer do trabalho na Symington quer nas quintas da Prats & Symington, recentemente acrescentadas de 10ha e que serão, diz-nos, objecto de reconversão total. A boa surpresa tem sido o comportamento da Touriga Nacional que “a esta altitude e, quem sabe, fruto das alterações climáticas, está a dar resultados excelentes”. As duas castas brancas de eleição (Gouveio e Viosinho) estão encontradas, não há que inventar.
A vindima ainda é uma festa, com um grupo que se tem mantido ano após ano e que não dispensa a festa final da “entrega do ramo”, momento de boa disposição sempre animado pelas quadras que a D. Salete (na quinta há 30 anos) faz para o evento. E se a vindima e o negócio correrem de feição, “há uma prenda especial no Natal”, diz Bernardo.

Um portefólio fechado
Das provas que fizemos na quinta percebemos que existe uma hierarquia muito segura dos vários tipos de vinhos e das gamas de preços. A altitude ajuda a uma acidez sempre muito evidente nos diferentes vinhos. O branco de 2022 é apenas feito em inox e sem maloláctica para preservar a acidez. Os brancos são vinificados por casta e por parcela e só no final se faz o lote, o que permite ter um melhor retrato das parcelas da quinta e do comportamento das castas. O Vinhas Velhas branco é fermentado em barricas usadas e vai agora na 5ª edição.
Nos tintos destaca-se o Reserva, um vinho sempre com edição anual e do qual se produzem cerca de 3000 garrafas e também Magnum, muito fruto do pedido de alguns restaurantes. Os topos de gama da casa são o Capela e Judith. No caso do Capela juntam-se a Touriga Francesa da vinha velha junto à capela e a Touriga Nacional mais antiga que existe na quinta, agora com 30 anos. Teve a primeira edição em 2021 e fizeram-se 1300 garrafas. O tinto Judith é um varietal de Touriga Nacional, criado pela primeira vez na vindima de 2015.
Crescer, mas com passos seguros, é o lema. Com o pai a ajudar e a aprovar as iniciativas de Bernardo, e a D. Salete a criar pratos gulosos para servir aos visitantes, algo que, com prazer, pudemos constatar, a Quinta do Monte Travesso está aí para continuar a revelar o que nesta zona do Douro é possível fazer de bom. Não é um navegar à vista, é um jogo de orientação entre o saber e a força, por vezes telúrica, dos elementos. Neste caso algo parecido com o que se passa em alto-mar.
(Artigo publicado na Edição de Agosto de 2023)
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Quinta do Monte Travesso Vinhas Velhas
Branco - 2021 -
Quinta do Monte Travesso Judith
Tinto - 2020 -
Quinta do Monte Travesso Capela
Tinto - 2021 -
Quinta do Monte Travesso
Tinto - 2020 -
Quinta do Monte Travesso
Tinto - 2021 -
Travesso
Tinto - 2022 -
Quinta do Monte Travesso
Branco - 2022 -
Quinta do Monte Travesso
Branco - 2021 -
Quinta do Monte Travesso
Branco - 2022
Editorial: A outra Bairrada

Editorial da edição nrº 77 (Setembro 2023) Manuel F. Silva (Casa de Saima) 1981, Luis Pato Vinhas Velhas 1990, Quinta das Bágeiras Garrafeira 2001, Kompassus Reserva 2013. O que têm em comum estes quatro vinhos que, em conjunto, atravessam quatro décadas? Diversas coisas: são brancos, nasceram na Bairrada e mostram, à data de hoje, qualidade, […]
Editorial da edição nrº 77 (Setembro 2023)
Manuel F. Silva (Casa de Saima) 1981, Luis Pato Vinhas Velhas 1990, Quinta das Bágeiras Garrafeira 2001, Kompassus Reserva 2013. O que têm em comum estes quatro vinhos que, em conjunto, atravessam quatro décadas? Diversas coisas: são brancos, nasceram na Bairrada e mostram, à data de hoje, qualidade, complexidade, carácter e longevidade notáveis. Não menos significativo, pelo menos para mim, existem cá em casa algumas garrafas de cada um deles, abertas com parcimónia quando a ocasião e a companhia o justificam.
Aquele que pode, muito justamente, ser considerado o pai da Bairrada moderna, Luís Pato, sabe-a toda. Desde há muito que tem a opinião formada a este respeito e emite-a com frequência, originando reacções de surpresa ou escândalo, consoante as almas mais ou menos sensíveis: “A Bairrada é, acima de tudo, região de vinhos brancos. Tintos e espumantes apenas complementam a oferta”.
A prova de vinhos brancos da Bairrada publicada nesta edição da Grandes Escolhas parece dar-lhe razão. São 25 vinhos (e poderiam estar aqui mais alguns) oriundos de distintos produtores e terroirs da região, nenhum classificado abaixo de 17 e sete deles alcançando 18 ou mais pontos. Tenho muitas dúvidas que igual número de espumantes ou tintos Bairrada atingisse esta impressionante consistência qualitativa.
Razões para isso, existem várias. O clima, desde logo. Escrevo estas linhas em Sangalhos, às 10:30 de um dia de Agosto. O sol ainda não apareceu e estão 22ºC. Ontem estive no Baixo Alentejo. À mesma hora, debaixo de um sol radioso, estavam 39ºC. O Atlântico dita aqui a sua lei. Depois, os solos. Tradicionalmente, os melhores (e mais raros) terrenos da Bairrada, de argila com maior ou menor presença de calcário, eram reservados para casta Baga, pois só ali seria expectável alcançar grandes tintos. Com algumas excepções, as castas brancas eram assim “empurradas” para os solos arenosos, e destinadas, sobretudo, ao espumante. Na última década, porém, muita coisa mudou. Por um lado, a crescente valorização dos brancos tranquilos, levou vários produtores a plantar castas brancas em solos de maior potencial. Por outro, a ascensão do “blanc de noirs” Baga-Bairrada desviou a Baga menos boa do tinto para o espumante, libertando mais e melhores uvas para vinhos brancos.
A tudo isto, acrescentemos as castas brancas da Bairrada. Em que outro local de Portugal é possível encontrar mostos de Maria Gomes (Fernão Pires) com 13,5% de álcool e 8 gramas/litro de acidez total? Da primeira vez que me anunciaram estes resultados não acreditei e pedi para ver o boletim de análise. Agora, já estou acostumado. Se a Maria Gomes dá estrutura e intensidade, a Bical confere elegância e finura, a Cercial (não confundir com Cerceal-Branco do Dão nem com Sercial/Esgana Cão da Madeira/Bucelas) oferece frescura e tensão. E ainda há a ubíqua Arinto, que sempre considerei (na Bairrada, atenção!), inferior às outras três, mas que, progressivamente, me tem vindo a convencer.
A consistência demonstrada pelos 25 produtores cujos vinhos entraram nesta prova não deve ser confundida com uniformidade. E esse é o ás de trunfo da Bairrada: à diversidade de castas, solos e microclimas, junta-se uma profusão de conceitos e práticas de vinificação que fazem com que os vinhos sejam muito distintos entre si, sem nunca perderem os traços que os remetem para a sua origem – complexidade, carácter, frescura, longevidade – e os destacam entre os melhores brancos de Portugal.
Symington com boas perspectivas para a vindima

Após uma sucessão de anos desafiantes no Douro, com vagas de calor prolongadas e baixas produções, a Symington Family Estates encontra-se bem posicionada para uma das vindimas com maior qualidade dos últimos tempos de acordo com o comunicado feito hoje à imprensa. De acordo com a Symington Enquanto uma grande parte do sul da Europa […]
Após uma sucessão de anos desafiantes no Douro, com vagas de calor prolongadas e baixas produções, a Symington Family Estates encontra-se bem posicionada para uma das vindimas com maior qualidade dos últimos tempos de acordo com o comunicado feito hoje à imprensa.
De acordo com a Symington Enquanto uma grande parte do sul da Europa sofreu neste verão ondas de calor intensas, Portugal foi, de um modo geral, poupado. As temperaturas registadas em Julho estiveram próximas do normal e, aliás, no Douro até um pouco abaixo da média. A região, bem como uma grande parte do país, beneficiou do anticiclone dos Açores que gerou ventos fortes do quadrante norte (a ‘Nortada’) ao longo do litoral, trazendo massas de ar mais frescas e condições de maior humidade. As temperaturas moderadas, aliadas a índices razoáveis de humidade nos solos – assegurados pelas chuvas do final da primavera –, proporcionaram bons níveis de acidez, maturações equilibradas e boa evolução fenólica.
A Symington iniciou a vindima no Douro com uvas brancas (Viosinho) no dia 21 de Agosto nas vinhas em cotas mais elevadas no Cima Corgo. No final do mês, começaram a vindimar
gradualmente uvas tintas (Sousão, Tinta Roriz e alguma Touriga Nacional) em parcelas selecionadas em algumas propriedades no Douro Superior (vale da Vilariça).
A época das vindimas já arrancou nas principais quintas da família Symington, que destaca a maturação final dos bagos possibilitada pelas chuvas de 2 e 3 de Setembro e as temperaturas máximas abaixo dos 30 graus, que se deverão manter ao longo das próximas semanas de Setembro.