Chocapalha: Uma família, uma quinta, uma adega

Legenda da foto: Sandra Tavares da Silva a enóloga do projecto com os pais Paulo e Alice Tavares da Silva e a irmã Andrea Tavares da Silva, directora executiva da casa.

A paisagem é convidativa, montes e vales em ligeira ondulação, serras ao fundo, mar não muito longe, terrenos apropriados, vento quanto baste e javalis também por perto. Tudo assim se conjugou para o desenvolvimento de um projecto de família, que assentou arraiais numa quinta em tempos pertença de um inglês e, posteriormente, na posse da família de João Portugal Ramos. Foi em resultado da conjugação feliz de vários factores que a família Tavares da Silva tomou posse da quinta nos finais dos anos 80. E não faltou muito para que Sandra, uma das filhas, já então ligada à enologia, desafiasse o pai para fazer um vinho. Assim começou a história dos vinhos Chocapalha, inicialmente numa adega de garagem (que ainda conheci), e mais tarde apostando numa adega de raiz que comemora agora 10 anos. Motivo mais que suficiente para mostrar o que se tem feito e o que está para vir. À nossa espera estavam os pais de Sandra, Paulo e Alice, a irmã Andrea (economista e directora executiva da casa) bem como toda a equipa da adega e quinta.
Logo no projecto inicial houve castas que marcaram território – Arinto, Castelão e Touriga Nacional, esta última com garfos que se foram buscar ao Dão. O Castelão, dizem-nos agora, “era difícil de vender porque tinha pouca cor. Mas com a mudança do gosto, agora o ter pouca cor é uma vantagem. É incrível como tudo muda tão depressa»”, refere Sandra. A aposta no Arinto revelou-se muito acertada e a área de vinha irá alargar-se. Sandra Tavares da Silva não esconde que «” Arinto é a casta de eleição do meu pai; ele é o verdadeiro guardião das vinhas, às vezes sai de casa fora de horas para ir ver como está tudo”. Com sorte, dizemos nós, ainda se cruza com um javali, dos muitos que há na zona e que se escondem nos arvoredos que proliferam na propriedade. Apontamos para uma parcela vazia, sem nada plantado e indagamos o que se vai plantar ali; a resposta é desconcertante: nada, aquele terreno vai ficar em pousio por 3 ou 4 anos, dizem-nos! Para que conste…

 

Chocapalha família quinta

A Arinto é a casta de eleição de Paulo Tavares da Silva; ele é o verdadeiro guardião das vinhas, às vezes sai de casa fora de horas para ir ver como está tudo.

 

Adega nova, problemas antigos

Foi para comemorar os 10 anos da nova adega que se juntaram na quinta a família e a comunicação social. Passados estes anos, está a acontecer o que era previsível: a adega já não comporta tudo o que é preciso e já se suspira por um espaço que possa albergar mais cubas e mais barricas. Porquê? Porque a filosofia da casa, a saber, conservar os vinhos mais tempo em cave antes de os colocar no mercado, obriga a mais espaço. São as dores do crescimento numa empresa familiar que, de repente, percebeu que já tem 15 referências no portefólio. A quinta produz mais do que comercializa, “ainda vendemos muitas uvas, infelizmente pagas a muito baixo preço”, como Paulo Tavares da Silva (oficial de marinha, convertido em agricultor) nos confidenciou, e a produção actual – situada nas 180.000 garrafas -, poderia alagar-se mais. Mas a ideia de conservar os vinhos em cave por longo tempo acaba por impedir esse crescimento. Para termos uma ideia, somos informados que ainda têm em cave as colheitas de 2019, 20 e 21 engarrafadas e a de 22 em barrica, tudo à espera de um dia ir para o mercado. Internamente são distribuídos pela Decante e só vendem no canal Horeca, com a excepção do Corte Inglès e do Supermercado Apolónia, no Algarve. Exportam boa parte da produção e, no caso do Quinta de Chocapalha tinto, as vendas lá fora atingem mesmo 65% do engarrafado.
A casta Arinto é a menina dos olhos de Paulo Tavares da Silva. Ele é, de resto, o verdadeiro guia do processo, apaixonado pela terra e pela vinha, sempre atento e vigilante. Foi do Centro de Estudos de Nelas que trouxe as primeiras varas de Touriga Nacional que aqui plantaram e que depois alargaram a outras castas, como a Viosinho, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Alicante Bouschet e Castelão, por exemplo. Na adega estão a dar cada vez mais uso às barricas usadas e, mesmo comprando apenas 25 a 30 barricas novas por ano, a verdade é que adega das barricas começa a ficar sobrecarregada.

 

A filosofia da casa, a saber, conservar os vinhos mais tempo em cave antes de os colocar no mercado, obriga a mais espaço. São as dores do crescimento numa empresa familiar que, de repente, percebeu que já tem 15 referências no portefólio.

Chocapalha família quinta

Fizemos uma prova alargada dos vinhos da casa e ao almoço provámos apenas vinhos da colheita de 2013, a colheita que, tal como a adega, comemora agora 10 anos de vida. Foi uma prova e tanto, com os vinhos a mostrarem que 10 anos não é tempo demais para eles, com o Arinto a dar cartas, terpénico e num registo que se poderia confundir, tanto com Alvarinho como com Riesling. Parentescos, quem sabe…
Toda a família presente, pais, irmãs e equipa de enologia e viticultura que mantém o projecto bem vivo. Nos vinhos há novas edições de marcas já consagradas, como Vinha Mãe, os Reserva e o CH (Confederação Helvética) que “é um tributo à minha mãe que é suíça”, diz Sandra. Alice Tavares da Silva, nascida no cantão alemão, o tal que fala uma língua que ninguém entende mas, como nos confidenciou “vou várias vezes por ano à Suíça e acabo por falar a minha língua natal”.
Nas novas edições, destaca-se o Arinto Antigo, um branco de curtimenta que tem longa espera antes de ser comercializado e o Guarita, um varietal de Alicante Bouschet, uma casta bem difícil porque, como lembrou Sandra “é preciso muita paciência porque só nos dá uma pequena janela para fazermos a vindima no ponto certo; se deixarmos passar esses dias fica tudo em passa; e só quando a vinha atingiu os 30 anos é que entendemos que as uvas tinham qualidade suficiente para o vinho ser comercializado como varietal”.
Em final de vindima estavam os lagares com pisa mecânica a trabalhar e na adega a azáfama era a habitual – mangueiras por um lado, água em abundância para tudo lavar, bombas a trasfegar e aquele cheiro característico das adegas onde fermentam as uvas. Tudo normal, portanto…

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2023)

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