Editorial Maio: Bolhas

Editorial

Editorial da edição nrº 85 (Maio 2024) A capa desta edição da Grandes Escolhas é dedicada à Raposeira, notável casa de espumantes. Para quem cresceu nos anos 80, espumante era Raposeira. Na época, os vinhos nem seriam grande coisa, (a compra pela Seagram levou ao desinvestimento no produto e foco na distribuição, ciclo negativo que […]

Editorial da edição nrº 85 (Maio 2024)

A capa desta edição da Grandes Escolhas é dedicada à Raposeira, notável casa de espumantes. Para quem cresceu nos anos 80, espumante era Raposeira. Na época, os vinhos nem seriam grande coisa, (a compra pela Seagram levou ao desinvestimento no produto e foco na distribuição, ciclo negativo que durou duas décadas, até à entrada da Murganheira) mas estavam em todo o lado. Eu que o diga, já que, na adolescência, cabia-me ir à pastelaria buscar o bolo e a garrafa de Raposeira meio-seco para comemorar aniversários e festividades familiares.

O espumante, no Portugal urbano nas décadas de 80 e 90, era isto. Doce e meio-seco, bebido a acompanhar sobremesas (a Bairrada e o leitão eram caso à parte) e reservado para eventos e momentos especiais. Esses tempos já lá vão, felizmente. Hoje, nos principais mercados vínicos do mundo, o espumante é a categoria que mais cresce. E apesar desse crescimento ser feito, sobretudo, à conta de Champagne, Prosecco e Cava, outras regiões e países produtores surfam velozes a onda das bolhinhas. Portugal não é excepção. A tendência não passa despercebida aos produtores nacionais e sinal disso é encontrarmos espumante no portefólio de tantas marcas, mesmo em regiões onde nunca houve tradição desta bebida.
A “democratização” da produção de espumante, evidentemente positiva, esconde uma vertente menos boa. É que, para muitos produtores, produzir espumante parece ser coisa fácil. Ainda mais facilitada, nos dias de hoje, pelas leveduras encapsuladas, que simplificam (não oferecendo, embora, os mesmos resultados que as leveduras livres) o moroso trabalho de removimento das garrafas. Mas se produzir um bom vinho com gás é algo aparentemente simples, criar um grande espumante não está ao alcance de todos.

Acontece que o espumante é a bebida vínica mais especializada que existe. Produzir um espumante de nível superior requer não apenas um profundo conhecimento (feito de experiência e ciência) como também condições e equipamentos muito específicos, que vão desde a prensagem da uva para o vinho base até ao degorgement da garrafa espumantizada. Não é certamente por acaso que a quase totalidade das mais famosas marcas de espumante do mundo têm origem em casas totalmente focadas neste tipo de vinho.
Poderia dar muitos exemplos, mas um bastará para percebermos o que quero dizer. Absolutamente crucial na definição da qualidade e complexidade de um espumante é a fermentação na garrafa e o estágio em cave a uma temperatura constante (idealmente 13/14ºC) ao longo de todo o ano. O tempo passado nesse ambiente faz toda a diferença. Sabendo isso, os empresários portugueses que, nas primeiras décadas do século XX, se dedicaram à produção de espumante, construíram laboriosamente túneis debaixo do chão, para ali colocar as preciosas garrafas. Apropriadamente, chamamos Caves a estas empresas.

Como é então possível que, quase 100 anos depois, e quando temos ao dispor tecnologia de climatização que os antigos nem sonhavam, tantos produtores nacionais acreditem que é possível fazer um espumante de qualidade superior deixando as garrafas empilhadas em locais que atingem 7ºC no inverno e 35ºC no verão?
É por isso que os vinhos elaborados pela Raposeira (e pelos produtores que, em diversas regiões, encaram o espumante como produto principal) têm algo de diferente. Quem quiser fazer tão bem quanto eles, só tem um caminho a seguir: pensar o espumante não como um simples complemento de gama, mas como um vinho de topo, digno da máxima atenção e de particulares cuidados. O espumante e os seus apreciadores merecem.

Millèsime: A festa do espumante na Bairrada

Millèsime

(veja todas as imagens do evento AQUI) Durante dois dias, muitas centenas de pessoas rumaram de todo o país até à Curia, para viver de perto o Millèsime, festa que celebra o espumante e toda a sua essência. A festa decorreu, pelo segundo ano consecutivo, no Curia Palace Hotel, um pedaço de charme da arquitectura […]

(veja todas as imagens do evento AQUI)

Durante dois dias, muitas centenas de pessoas rumaram de todo o país até à Curia, para viver de perto o Millèsime, festa que celebra o espumante e toda a sua essência.

A festa decorreu, pelo segundo ano consecutivo, no Curia Palace Hotel, um pedaço de charme da arquitectura imaginado, no início do século 20, por Manuel Joaquim Norte Júnior, e inaugurado e conservado, até agora, pela família Alexandre Almeida como ícone de uma vida de outros tempos, mesmo após a renovações mais recentes.

Era difícil de encontrar um sítio melhor para um evento de encanto como aquele que reuniu 45 produtores de espumantes portugueses e internacionais.

Nos dois dias, quem comprou o bilhete foi trazido em carros dos anos 20 do século passado, motorizados e puxados a cavalo, passando pelos jardins fronteiriços ao Palace Hotel, para entrar no seu foyer de época, marcado pela grandiosa escadaria em caracol, pelo elevador e pela elegante varanda do andar superior. Lá dentro, um músico tocava piano de cauda e algumas personagens, que retratavam as pessoas dos dourados (ou loucos, segundo se diz também) anos 20, passeavam e conversavam com os visitantes sem sair dos seus papéis.

No interior dos grandes salões estavam os produtores, principalmente os da Bairrada, a apresentar os seus espumantes, mas também havia representações das regiões dos Vinhos Verdes, Douro, Távora Varosa, Dão, Beira, Tejo, Lisboa, Alentejo e Cava, em Espanha e decorria a festa, com muita gente interessada em provar os seus vinhos e conhecer melhor quem os fez. Para além da degustação de espumantes, havia também, nas amplas varandas viradas para os jardins da propriedade, uma mostra e venda de produtos gourmet. Em paralelo ao evento, decorreram visitas para jornalistas, escanções, profissionais de turismo e proprietários de garrafeiras, convidados pela organização para visitar os produtores Luís Pato, Quinta dos Abibes, Idálio Estanislau Wines e Caves da Montanha. J.M.D.

MILLÈSIME – 2º ENCONTRO NACIONAL DE ESPUMANTES A 23 E 24 DE MARÇO

Depois do êxito que constituiu a 1ª edição do Millèsime, consumidores e produtores exigiram voltar de novo à Curia, Anadia,  para a grande festa dos espumantes portugueses. Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes reúne no mesmo espaço os melhores produtores nacionais de espumantes com denominação de origem e alguns convidados internacionais. No cenário deslumbrante do […]

Depois do êxito que constituiu a 1ª edição do Millèsime, consumidores e produtores exigiram voltar de novo à Curia, Anadia,  para a grande festa dos espumantes portugueses.

Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes reúne no mesmo espaço os melhores produtores nacionais de espumantes com denominação de origem e alguns convidados internacionais.

No cenário deslumbrante do Curia Palace Hotel, este é um evento sofisticado, com uma imagem inspirada na época dourada dos primeiros anos do século XX, com glamour e classe. Cada produtor presente têm um espaço / stand próprio para mostra e degustação dos seus espumantes.

Millèsime é um evento único, concebido para apreciadores de espumantes e que convoca também os profissionais ligados ao sector. O acesso do público ao evento faz-se mediante a compra de um copo que tem o valor de 10€. Uma loja de espumantes a instalar no espaço permite a venda ao público dos espumantes dos produtores presentes que o desejarem. Para além da degustação dos vinhos presentes, teremos também a mostra e venda de produtos gourmet.

Programa:

Sábado, 23 de Março 2024

15:00 – Inauguração do Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes – Abertura da mostra e degustação dos Espumantes

16:00 – Prova comentada: «Espumantes de Portugal e Espanha» por Luís Lopes, Director da Grande Escolhas

18:00 – Prova comentada: «Harmonias – Espumantes e Leitão» por Agostinho Peixoto, especialista em gastronomia, turismo e vinhos

20:00 – Encerramento da Exposição

 

Domingo, 24 de Março 2024

15:00 – Abertura da mostra e degustação dos Espumantes

16:00 – Prova comentada: «Espumantes da Bairrada» por Luís Lopes, Director da Grande Escolhas

18:00 – Prova Comentada: «Harmonias – Espumantes e Iguarias» por Agostinho Peixoto, especialista em gastronomia, turismo e vinhos

19:00 – Encerramento do Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes

 

Inscrições nas Provas Comentadas através de: inscricoes@grandesescolhas.com

Inscrições limitadas à Capacidade da sala.

Valor de cada inscrição: 10€ (IVA incluído)

 

GRANDE PROVA ESPUMANTES: As bolhas da nossa alegria

Grande Prova Espumantes

Entre um espumante barato de grande superfície e outro de uma grande marca de Champagne pode haver um intervalo de várias centenas de euros. Tudo terá começado em França mas hoje é um tipo de vinho que se produz em todo o mundo. Todos têm bolhas, mas são muitas as diferenças que os separam. Os […]

Entre um espumante barato de grande superfície e outro de uma grande marca de Champagne pode haver um intervalo de várias centenas de euros. Tudo terá começado em França mas hoje é um tipo de vinho que se produz em todo o mundo. Todos têm bolhas, mas são muitas as diferenças que os separam. Os que são feitos segundo as regras da região francesa apelidam-se de Método Clássico, uma vez que a palavra “champagne” e derivados, como “método champanhês” estão interditos, são de uso exclusivo daquela região francesa. Falamos assim do método de produção que implica a segunda fermentação na garrafa. No entanto existe um outro método – Charmat – muito vulgarizado em Itália mas também presente entre nós em que a primeira e segunda fermentações são feitas em grande depósitos e não na garrafa. No caso dos espumantes da segunda fermentação na garrafa, existe ainda a divisão entre os que usam leveduras livres e os que utilizam leveduras encapsuladas (ver texto em baixo). Finalmente há que referir que existe um outro tipo de vinho com gás natural – o chamado Pet Nat – em que a efervescência deriva do facto do vinho ser engarrafado ainda antes da fermentação alcoólica terminar e, consequentemente, ao terminar na garrafa, acaba por libertar algum gás, conservando também as levaduras mortas que então se apresentam como depósito na garrafa, exigindo cuidados especiais no serviço. Este método – chamado de método antigo ou método rural – corresponde à pré-história do espumante e tem tido actualmente um certo renascimento pelo interesse demonstrado por alguns produtores, sommeliers e consumidores adeptos de produtos alternativos. A prova que aqui publicamos não contempla esses vinhos, tal como não contempla os vinhos feitos pelo método Charmat.
A produção de espumantes, se feita com os requisitos que o progresso científico vem aconselhando, é um trabalho de enorme exigência técnica e laboratorial, com muitas análises e procedimentos que não estão ao alcance de qualquer produtor. Tem pouco equipamento, instalações mal habilitadas, ausência de laboratório? Faça tinto em lagar, faça branco num tonel usado mas…esqueça o espumante!
Decorre da leitura de um texto técnico sobre a produção de espumante que esta é provavelmente a bebida mais manipulável com que nos cruzamos; requer intervenção e decisões em inúmeras fases da produção e por isso se começa também a perceber porque uns custam €5 e outros custam €200. É verdade que os de €5 podem ser muito bem feitos, mas só vende caro quem consegue e o verbo conseguir custa por vezes uma geração (ou várias) a conjugar.

Grande Prova Espumantes

 

Qualquer enólogo que faça espumantes dirá que a prensagem é uma etapa absolutamente crucial no processo produtivo. A razão para isso prende-se com a indispensável separação dos mostos.

Da vinha à garrafa

Quando falamos de espumantes feitos pelo método clássico da segunda fermentação na garrafa temos tendência apenas a valorizar essa etapa e esquecemo-nos de tudo o que se passa antes de introduzir o vinho na garrafa para então se dar a tal segunda fermentação. Para sermos correctos, a produção de espumantes reveste-se de muito planeamento porque tem de ser pensada quando as uvas ainda estão na cepa e não se iniciou a vindima. Vejamos então os passos que têm de ser dados para se produzir um bom espumante. Tudo começa na vinha com a escolha das castas a utilizar. Vamos passar esta parte, partindo do princípio que o produtor já fez essa selecção. A verdade é que a história da região de Champagne demonstrou que a Chardonnay e a Pinot Noir são das que melhor se adequam a este tipo de elaboração. Temos, no entanto, em Portugal algumas variedades que têm dado muito boa conta de si, desde as castas do Vinho Verde, sobretudo a Alvarinho e Loureiro mas com a Alvarelhão a recolher aplausos (como acontece com Anselmo Mendes), a Gouveio no Douro (espumante Vértice, por exemplo), a Baga e a Cercial na Bairrada e, claro, a Arinto, a ubíqua casta portuguesa de múltiplas utilizações.
Seleccionada a casta passamos à etapa seguinte que é a marcação da vindima. Aqui começam as decisões importantes porque é determinante colher as uvas com baixo potencial de álcool e uma acidez elevada. Na Bairrada, por exemplo, as castas que apresentam uma acidez mais elevada são a Arinto e Cercial e as outras variedades, Maria Gomes, Bical e Baga tendem a apresentar uma acidez um pouco mais baixa. Desta forma, uvas com bom equilíbrio para espumante deverão ser colhidas com um potencial alcoólico que não ultrapasse os 11% e uma acidez compreendida entre os 7 e 9 gr./litro (medida em ácido tartárico); deverão ser seleccionadas variedades com baixo teor de substâncias fenólicas (no caso das brancas) e baixo teor de antocianinas (cor) nas uvas tintas.
Seguidamente vem a etapa que antecede ainda a fermentação do vinho-base. Qualquer enólogo que faça espumantes dirá que esta – a prensagem – é uma etapa absolutamente crucial no processo produtivo. A razão para isso prende-se com a indispensável separação dos mostos. Ainda antes de começar a prensar e apenas devido ao peso, poderá haver mosto a sair da prensa; esse será descartado e junto às prensagens finais. A primeira prensagem importante – a cuvée – deverá ser separada da prensagem seguinte – a taille – ainda dividida em duas partes, uma primeira e segunda taille. Na cuvée vamos sobretudo recolher o sumo dos bagos e, no caso das uvas tintas pobres em cor (como a Pinot Noir), recolher um sumo que quase se apresenta idêntico ao das uvas brancas, um mosto rico em açúcares, ácidos e substâncias aromáticas; na taille vamos obter um mosto mais rico em polifenóis e taninos, sobretudo na 2ª taille. Na região de Champagne estabeleceu-se uma regra como segue: uma prensa com 4000 kg de uvas deverá permitir obter 2050 litros de mosto de lágrima (cuvée), 410 litros da 1ª taille e 205 litros da segunda taille. Por norma, após a prensagem os mostos são clarificados e filtrados antes de fermentação em cuba (ou barrica). Percebe-se assim porque se diz que é importante a vindima ser manual e não mecânica, afim dos cachos chegarem inteiros à prensa. Por razões económicas pode juntar-se parte da taille à cuvée, aumentando assim a quantidade final produzida.

A importância do vinho-base

Para se fazer um espumante tem de se fazer primeiro o vinho-base que fermenta como qualquer mosto, normalmente com leveduras inoculadas, sobretudo nos mostos que foram clarificados que têm mais dificuldade em fermentar com as leveduras indígenas. Por norma a fermentação decorre em inox mas, em caves com boa temperatura (que não ultrapasse os 15ºC) pode decorrer em barrica, uma prática que tinha sido abandonada mas está a regressar, sobretudo em produtores de pequena dimensão. Como noutros vinhos também aqui a fermentação tem de ser bem monitorizada, assegurando a total transformação dos açúcares e evitando paragens de fermentação e desvios. É a este vinho base (que poderá incluir vinhos de vários anos que permitem manter o “estilo da casa”) que, após clarificação e estabilização tartárica, se irão adicionar as leveduras e o açúcar que irão operar a segunda fermentação em garrafa fechada. O licor de tiragem, deverá respeitar, grosso modo, a proporção de 24 gr/açúcar por litro e a quantidade de leveduras poderá variar entre 10 e 20 gr por hectolitro, correspondendo a uma quantidade que varia ente 1,5 e 2 milhões de leveduras activas por mililitro de vinho. Após enchimento as garrafas serão colocadas na posição horizontal em cave fria e aí permanecerão por tempo a definir pelo produtor, podendo ir de 1 até 10 anos de estágio. Como vedante usa-se principalmente a carica, mas alguns produtores, após ensaios convincentes, estão a regressar ao antigo método de rolhar as garrafas usando um grampo para ajudar a manter o gás. Diz Celso Pereira que “no Vértice Chardonnay estamos, na sequência dos ensaios dos espumantes Gramona (Penedès), a usar rolha para a segunda fermentação e estágio” Considera-se que quanto mais tempo estagiarem cave, mais fina é a bolha no final. A etapa seguinte é o do removimento das leveduras mortas (remuage) operação cada vez mais automatizada pelo recurso a giropalettes que “mexem” 500 garrafas em cada movimento, poupando assim mão-de-obra, tempo e espaço.
Um outro método consiste na utilização de leveduras encapsuladas em vez de leveduras livres. O método tem várias vantagens, nomeadamente no limitado uso de mão-de-obra e na rapidez com se consegue um vinho pronto (dispensando a remuage das garrafas) e consequente poupança de espaço na adega. O método tem defensores (como o enólogo Osvaldo Amado) mas requer um controle rigorosíssimo da higiene para se evitar a contaminação de leveduras, quer na adega quer na linha de engarrafamento. Esta exigência afasta o método dos pequenos produtores, que têm muita dificuldade em controlar as leveduras “até do ar da adega”, como nos afirmou. Osvaldo recorda que esteve presente nos primeiros ensaios na Estação Vitivinícola da Bairrada com o seu responsável António Dias Cardoso em 1987 e 88 e que foi nas Caves Primavera que se produziu o primeiro espumante comercial de leveduras encapsuladas, com a marca Chave d’Ouro.
Também Francisco Antunes – responsável por cerca de 1,2 milhões de garrafas de espumante nas Caves Aliança – participou nestes primeiros ensaios que tiveram a chancela da Proenol, a empresa produtora das leveduras encapsuladas. Reconhece que é um pouco mais caro mas se se contar os custos de tempo, remuage e mão-de-obra, pode ser um recurso importante mas, também ele refere, “é um método muito exigente” que não está ao alcance de todos. Na Aliança “chegámos a usar no espumante Danúbio mas agora só usamos leveduras livres”. Também Marta Lourenço (Murganheira) recorda que “para se fazer um grande espumante são precisos 10 a 12 anos e que a autólise (degradação natural das leveduras), no caso das leveduras encapsuladas não acrescenta mais nada a partir dos 4 anos.” E, relembra “quanto menor o tempo de estágio mais agressiva é a bolha”, razão suficiente para ser defensora do método clássico, também aplicado na Raposeira.
Já Celso Pereira sustenta que o tempo de estágio é um dado muito importante mas, salienta, “a qualidade depende de tantos factores que não podemos afirmar peremptoriamente que com 8 anos é melhor que seis ou com 15 melhor que 12”. No caso de Champagne, as grandes marcas apostam, nos seus topos de gama, em estágios de cave muito prologados.
Quanto mais se lê sobre espumantização mais se percebe que fazer um vinho com bolhas é relativamente fácil mas fazer um grande espumante é um trabalho que resulta de uma enorme soma de pequenos pormenores, ensinamentos que foram sendo acumulados ao longo de séculos e aos quais a ciência deu validade. Todas a operações relacionadas com a espumantização estão minuciosamente descritas num trabalho académico de grande fôlego que vivamente se recomenda a quem quiser aprofundar o assunto: Pedro Guedes “Fizziologia”, Quântica Editora, 2021.

De Norte a Sul

O espumante produz-se em todas as regiões do continente e ilhas. Naturalmente que as regiões onde as quantidades são mais significativas são a Bairrada e Távora-Varosa, as mais clássicas zonas produtoras. A tradição bairradina remonta aos finais do séc. XIX e em Távora aos inícios do séc. XX. Actualmente a produção em todo o país pode ser dividida em dois grupos distintos: os espumantes com Denominação de Origem (DO e IG) e os restantes, os chamados espumantes IVV. Na Bairrada, por exemplo, os dados mais recentes revelam que a produção DO tem vindo a aumentar de 2017 até 2022. Assim, se se incluir vinhos Bairrada e Regionais (Beira Atlântico) brancos, rosados e tintos, a região tem originado, em 2022, 2 317 329 garrafas. Neste valor global há a destacar algumas tendências, como a produção de espumante tinto, mas com tendência a diminuir, sobretudo se comparado com 2017 (de 110 720 garrafas para 72 436 em 2022); outra tendência curiosa tem sido o crescimento da nova designação Baga-Bairrada (que a partir de 2019 obriga a 18 meses de estágio), e que cresceu de 330 000 garrafas em 2019 para 415 000 em 2021. Também o espumante rosé tem conhecido um crescimento significativo, passou de cerca de 208 000 garrafas em 2017 para 311 000 em 2022.
A região de Távora-Varosa certificou em 2022 cerca de 2 869 740 garrafas, não tendo certificado nada como IG, ou seja, Vinho Regional, dos quais cerca de 2 100 000 garrafas de vinho branco da variedade Bruto. Aqui as Caves da Murganheira assumem claramente o papel de maior produtor, com 1 100 000 garrafas na Murganheira e 2 500 000 na Raposeira. Marta Lourenço, à frente dos destinos enológicos da empresa, confirmou-nos que a Raposeira não certifica nada (ou seja, todos os espumantes têm selo IVV) porque os vinhos incorporam uvas quer do Douro quer de Távora-Varosa.
No caso do Vinho Verde há a salientar a produção de espumantes varietais — sobretudo de Loureiro, estável nas cerca de 36 000 garrafas entre 2020 e 22 — e Alvarinho com um aumento exponencial de 46 500 garrafas em 2020 para cerca de 88 000 em 2022. Como um todo, a região tem mantido a produção regular (com oscilações decorrentes das variações de colheita) entre 548 888 garrafas em 2020 e 493 052 garrafas em 2022.
Segundo informação recolhida junto do IVV, a produção nacional certificada andará em 2022 pelas 7 868 933 garrafas (valor mais alto desde 2014) e o espumante não certificado cifra-se em 15 769 600 garrafas, igualmente o valor mais alto desde 2014.

 

Grande Prova Espumantes

Foi com a intenção de fazer dele uma bebida de comemoração que se generalizou em Champagne o consumo de vinho com algum açúcar residual.

 

Todos são momentos certos

Muito se escreve sobre a ligação do espumante com a comida. Por um lado, sabemos que se trata de uma bebida que frequentemente é consumida sem qualquer acompanhamento; por outro cada vez mais consumidores associam o espumante a vários momentos da refeição. Foi com a intenção de fazer dele uma bebida de comemoração que se generalizou em Champagne o consumo com algum açúcar residual, numa quantidade que apenas ajuda a que o vinho não seja tão marcado pela elevada acidez quando é consumido. Assim, a variedade Bruto, sem dúvida a mais generalizada, costuma ter de 5 a 8 gramas de açúcar, quantidade que ajuda consumir o vinho sem qualquer acompanhamento. Já à mesa são as variedades Extra Bruto ou Bruto Natural que melhor ligam com a refeição.
É aqui que começam as diferenças de opinião. Sendo uma bebida que tem a plasticidade de se ligar a qualquer prato, da entrada à sobremesa, quase todas as opiniões são possíveis. Seguindo no rasto de um sommelier americano, podemos considerar três hipóteses: o vinho é mais forte que o prato; o sabor do prato sobrepõe-se ao vinho ou, terceira hipótese, o prato faz com que o vinho saiba melhor e o vinho favorece o sabor do prato. Não parece difícil mas muitas vezes só se chega lá por tentativa/erro e nem sempre temos possibilidade de o fazer.
A escolha pode recair num produto local. Assim, conforme o sítio onde estamos poderemos querer associar um prato a um espumante da terra; é uma hipótese sempre interessante sobretudo como proposta para turistas que estão de passagem.
As ligações clássicas começam nos peixes fumados como aperitivo, mas podem estender-se rapidamente aos pratos de marisco e peixe com pouco tempero. Depois, ainda mais rapidamente podemos passar aos pratos de massas, risotos, pratos mais puxados nas especiarias e picantes e na culinária oriental. Também os pratos vegetarianos poderão ser perfeitos companheiros para o espumante. Deixe-se levar pelo instinto e procure ousar em ligações menos óbvias. Mas, claro, é sempre bom ter um plano B para quando a ousadia dá para o torto.
Provámos quase 30 espumantes de várias zonas do país e, pese o facto de algumas empresas terem “faltado à chamada” e outras não terem enviado o seu topo de gama, a verdade é que temos aqui muito por onde escolher e a preços muito razoáveis. Agora, só resta desfrutar.

 

(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)

Aliança: Como alfaiataria para espumantes

Aliança Espumantes

Foi em 2018 que a Aliança Vinhos de Portugal decidiu dar mais um passo na produção dos seus espumantes de topo na Bairrada, com a casta Pinot Noir. Em versão blanc de noirs (branco de uvas tintas), este “bruto natural” vem juntar-se à gama onde já se encontrava o Aliança Grande Reserva branco, um lote […]

Foi em 2018 que a Aliança Vinhos de Portugal decidiu dar mais um passo na produção dos seus espumantes de topo na Bairrada, com a casta Pinot Noir. Em versão blanc de noirs (branco de uvas tintas), este “bruto natural” vem juntar-se à gama onde já se encontrava o Aliança Grande Reserva branco, um lote de Chardonnay e Baga cuja colheita de 2018 sai também agora para o mercado.

No evento de apresentação de ambos, que teve como palco as Caves Aliança e o Underground Museum, em Sangalhos (concelho de Anadia) a equipa da casa proporcionou um dia totalmente dedicado a este tipo de vinhos. Mas, antes de uma prova de bases de espumante, de outra das várias colheitas do Grande Reserva branco e do novo espumante Pinot Noir, conduzidas pelo enólogo Francisco Antunes, foi visitada a nova vinha da empresa em Sangalhos — Quinta da Rigodeira II — concebida exclusivamente para originar vinhos base para os espumantes. E isto, na verdade, é coisa rara…

Aliança Espumantes

Em solo argilo-calcário, com algumas manchas arenosas, a Quinta da Rigodeira II teve os seus primeiros quinze hectares plantados em 2021, e mais nove já em 2023, sendo que para 2024/2025, estão previstos seis hectares adicionais. O que se encontra nesta vinha em início de vida, que terá este ano a sua segunda produção, são as castas mais emblemáticas na produção de espumantes da Bairrada: Baga, Chardonnay e Pinot Noir.

“Os clones deste Chardonnay e deste Pinot Noir são específicos para espumante. Já o material vegetativo da Baga, que provém da Estação Vitivinícola da Bairrada, é enviado para Itália, voltando enxertos já prontos para plantar”, elucidou Francisco Antunes. O director de enologia da Aliança, que chegará aos 30 anos de casa em Setembro de 2023, é actualmente um dos maiores especialistas em espumante do país. Também responsável pelos vinhos de outras regiões onde o grupo opera — Vinhos Verdes, Douro, Beira Interior e Dão — e pelas aguardentes, Francisco Antunes formou-se em Engenharia Agrícola na Universidade de Évora, e em Enologia em Bordéus.

“Queremos ter matéria-prima nossa, que possamos controlar totalmente, para o projecto dos espumantes de topo” afirmou, junto à vinha da Quinta da Rigodeira II, onde Eduardo Medeiro, vice-presidente executivo do grupo Bacalhôa (proprietário da Aliança Vinhos de Portugal), salientou ter sido “muito importante definir um foco para a Bairrada, nomeadamente os espumantes e a casta Baga”. Este incremento na região levou a que, segundo o viticólogo e director técnico Clemente Almeida, o custo da uva Baga passasse de cerca de 15 cêntimos, por quilo, para mais de 50 cêntimos em apenas 15 anos.

Aliança Espumantes

Francisco Antunes, director de enologia da Aliança, chegará aos 30 anos de casa em Setembro. É um dos maiores especialistas em espumantes do país.

De volta às caves, estiveram em prova três bases de espumante, de vinhos que sairão a partir de 2026: Quinta da Rigodeira 2022, um novo espumante que nasce na vinha agora plantada, de Baga, Chardonnay e Pinot Noir; Grande Reserva branco 2022 e Pinot Noir Grande Reserva branco 2022. Surpreendentemente, os três mostraram enorme equilíbrio e harmonia, a fugir da “agressividade” que se espera numa base de espumante. Depois da prova vertical do Grande Reserva branco — colheitas 2012, 2015, 2016, 2017 e a mais recente 2018 — chegou-se à estrela do dia. O Aliança Pinot Noir Grande Reserva branco 2018 viu o seu vinho base estagiar durante 5 meses, antes do engarrafamento, e permaneceu depois, “sur lies”, 43 meses em cave.

A Aliança produz, de acordo com Francisco Antunes, um milhão de garrafas de espumante por ano, das quais 156 mil são do Baga-Bairrada, outro produto “flagship” da empresa. Ainda segundo o alfaiate dos espumantes Aliança, em Setembro deste ano será lançado um vinho branco Bairrada Clássico, 100% Bical, proveniente de uma parcela descoberta na Quinta da Rigodeira… de 1931.

(Artigo publicado na edição de Julho de 2023)

Bairrada, Vinho Verde e Alentejo afirmam-se no concurso de espumantes Brut Experience

espumantes Brut Experience

O júri do 6º Concurso Internacional de Espumantes Brut Experience atribuiu o prémio Pestígio (distinção mais elevada) a dois espumantes da Bairrada, um da região dos Vinhos Verdes e outro do Alentejo: Montanha 2010 e Montanha Cá da Bairrada 2012 Grande Cuvée; João Portugal Ramos 2015 Alvarinho Grande Reserva; e Ravasqueira Grande Reserva 2014, respectivamente. […]

O júri do 6º Concurso Internacional de Espumantes Brut Experience atribuiu o prémio Pestígio (distinção mais elevada) a dois espumantes da Bairrada, um da região dos Vinhos Verdes e outro do Alentejo: Montanha 2010 e Montanha Cá da Bairrada 2012 Grande Cuvée; João Portugal Ramos 2015 Alvarinho Grande Reserva; e Ravasqueira Grande Reserva 2014, respectivamente.

Os quatro espumantes de Prestígio conseguiram mais de 95 pontos em 100 no concurso. Foram atribuídas ainda 11 Medalhas de Ouro e 12 de Prata.

“O Brut Experience pretende distinguir e dar a conhecer, aos consumidores, os melhores espumantes nacionais e internacionais, estimular a produção de espumantes de qualidade e contribuir para a expansão da cultura do espumante”, refere a Enóphilo, organizadora da competição.

No evento deste ano — que decorreu em Lisboa no Hotel Holiday Inn Lisbon Continental — um júri (na foto) composto por professores universitários, jornalistas e críticos da especialidade, sommeliers, enólogos e proprietários de lojas de vinho, avaliou a qualidade de 100 espumantes produzidos na Alemanha, Espanha, França, Itália e Portugal.

Pinot Noir é o novo espumante de topo da Aliança

Aliança espumante Pinot Noir

Num evento que teve como palco as Caves Aliança e o Underground Museum, em Sangalhos (concelho de Anadia), a Aliança Vinhos de Portugal apresentou, no dia 22 de Maio, um novo espumante topo de gama, Aliança Pinot Noir Grande Reserva branco 2018. Este vem juntar-se ao espumante Aliança Grande Reserva branco, de Chardonnay e Baga, […]

Num evento que teve como palco as Caves Aliança e o Underground Museum, em Sangalhos (concelho de Anadia), a Aliança Vinhos de Portugal apresentou, no dia 22 de Maio, um novo espumante topo de gama, Aliança Pinot Noir Grande Reserva branco 2018. Este vem juntar-se ao espumante Aliança Grande Reserva branco, de Chardonnay e Baga, cuja edição de 2018 foi também lançada nesse dia, sendo ambos Brut Nature (sem adição de açúcar depois do dégorgement).

Antes de uma prova de bases de espumante, de várias colheitas do Grande Reserva branco e do novo espumante Pinot Noir, conduzida por Francisco Antunes (enólogo com quase 30 anos de casa), foi ainda visitada a nova vinha da Aliança na Bairrada — Quinta da Rigodeira II — com 26 hectares e concebida exclusivamente para originar vinhos base para os espumantes de topo da Aliança.

Leia a reportagem completa na edição de Julho da revista Grandes Escolhas

Bairrada à Mesa e no Copo: Menus especiais entre Aveiro e Coimbra

Bairrada Mesa

Começou a Primavera e são muitos os motivos para aproveitar e viajar. A Comissão Vitivinícola da Bairrada e a Associação Rota da Bairrada desafiaram os restaurantes da Região (entre Aveiro e Coimbra) para criarem um motivo adicional de visita à Bairrada. De 24 de Março a 6 de Abril várias são as hipóteses para que […]

Começou a Primavera e são muitos os motivos para aproveitar e viajar. A Comissão Vitivinícola da Bairrada e a Associação Rota da Bairrada desafiaram os restaurantes da Região (entre Aveiro e Coimbra) para criarem um motivo adicional de visita à Bairrada.

De 24 de Março a 6 de Abril várias são as hipóteses para que venha provar as iguarias da região acompanhadas de um copo de vinho (ou espumante) Bairrada ou Beira Atlântico. Leitão à Bairrada, Chanfana, Cabrito ou uma boa Caldeirada de Enguias fazem parte das propostas com que se vai poder deliciar.

É possível descarregar a lista de restaurantes e ementas em www.bairrada.pt, verificar datas e horários, fazer a(s) sua(s) escolha(s), reservar (preferencialmente) e apreciar o que de bom existe para oferecer nestas “Terras de Bem-Viver”. Aproveite e visite a Região, as suas belezas naturais e os seus produtores.

Bairrada à Mesa – Menus Especiais – 2023 

Menus de 20€e 35€ em 46 restaurantes da Região.

Data: de 24 de Março a 6 de Abril

Horário: informação disponível em www.bairrada.pt