Tintos de 2015: Notável demonstração de classe

Numa prova em que todos os vinhos são de uma só colheita, no caso de 2015, é fundamental começar por recordar como foi esse ano. Ora, como tantas vezes sucede, o ano meteorológico esteve em linha com o ano vitivinícola, ainda que não inteiramente coincidentes, como veremos. Ou seja, enquanto os registos revelam que o […]
Numa prova em que todos os vinhos são de uma só colheita, no caso de 2015, é fundamental começar por recordar como foi esse ano. Ora, como tantas vezes sucede, o ano meteorológico esteve em linha com o ano vitivinícola, ainda que não inteiramente coincidentes, como veremos. Ou seja, enquanto os registos revelam que o ano 2015 em Portugal Continental foi extremamente seco e muito quente, sendo, até então, o sétimo ano mais quente desde 1931, e o segundo desde 2000, já os relatórios de vindima e os vinhos provados revelam esse ano cálido, mas ainda assim com muito equilíbrio nas maturações e menos stress hídrico do que outros anos.
Chuva nos momentos certos
Comecemos, então, pelo calor… Em 2015, o valor médio da temperatura máxima do ar foi o mais alto dos 18 anos anteriores, sendo que em cada mês o registo foi sempre superior ao normal, exceto nos meses de janeiro, fevereiro e setembro. Olhando para estes números, imaginar-se-ia que o ano vitivinícola seria de pouca produção, com ciclo vegetativo curto, e/ou marcado por uvas num perfil de grande maturação. Mas não foi bem assim… A grande pluviosidade sentida de setembro a novembro em 2014, e chuvas ocasionais nos ‘momentos certos’ de 2015 ajudaram, desde o início, ao favorável desenvolvimento da videira e ao bom vingamento do fruto.
Por outro lado, o tempo seco ao longo do ciclo evitou o desenvolvimento de doenças, mesmo nas áreas costeiras e chuvosas com maior pressão, e permitiu que os trabalhos de viticultura decorressem adequadamente em todas as regiões, contribuindo para que as uvas terminassem o seu ciclo vegetativo em muito boas condições. Houve, é certo, alguns picos de calor, mas a sorte esteve com os produtores, pois nas épocas mais determinantes para a colheita o calor não foi extremo e existiam reservas de água no solo decorrentes das chuvas de setembro e outubro do ano anterior. No Alentejo, por exemplo, as temperaturas veraneantes foram altas como é habitual, mas longe de terem sido extremas. A circunstância da vindima ter sido feita num período seco e temperado também ajudou e muito. Não espanta assim que, de norte a sul do país, a produção tenha aumentado e qualidade foi evidente.
Foi unânime, entre os provadores, que esta prova dos tintos de 2015 foi a melhor das já realizadas com este objetivo de provar topos de gama com 10 anos de evolução.
Muita qualidade e equilíbrio
Sim, foi um ano quente, com vinhos de grande expressão de fruta, mas, ao lado de outros anos, revelam-se muito equilibrados, o que se comprova pelos níveis de álcool que, na nossa prova, não excederam os 14,5%. 2015, mais quente que 2014 ou 2010, revelar-se-ia menos intenso que 2016 e 2017 que lhe sucederam, no que a vinhos tintos diz respeito. No que a Porto Vintage concerne, sempre, um bom indicador para anos quentes, os vinhos de 2015 revelaram-se excelentes desde o início, e logo com boa evolução, com alguns produtores a pretenderem mesmo que fosse declarado ano clássico. Porém, já com a certeza de que os vinhos de 2016 (e 2017) eram mais maduros e tensos, a declaração não vingou. Nos Vinhos Verdes, 2015 foi uma das melhores colheitas até à altura, muito boa também na Bairrada e Dão, e as regiões a sul beneficiaram de um verão menos escaldante que o habitual.
A expetativa era, assim, enorme. E a prova não defraudou, pelo contrário. Com efeito, fazemos esta prova de topos de gama tintos com 10 anos há muito tempo, e temos os registos, pelo menos, desde a colheita de 2003. Pois bem, foi unânime entre os provadores que esta prova dos tintos de 2015 foi a melhor das já realizadas com este objetivo de provar topos de gama com 10 anos de evolução. Naturalmente, para tal não contribuiu apenas o ano vitícola quase perfeito, mas também a experiência e o acerto das equipas de viticultura e enologia. Contatámos enólogos que trabalharam nesse ano em várias regiões do país e todos recordaram uma colheita com poucos problemas (para tintos, mas também para brancos), boa produção geral, e um perfil de fruta limpo e definido.
Trabalho feito, tudo na prova correu muito bem, com os vinhos a darem excelente prestação, muito limpos e com fruta definida, acidezes ainda presentes, e quase todos num perfil jovem e com muitos anos pela frente. Mais, todos vinhos mostraram-se com ótima integração de barrica, revelando, também neste campo, uma evolução significativa face a provas de outros anos. Olhando para o grau alcoólico, houve também surpresa positiva, com vários vinhos a declararem 13,5%, e um com 12,5%, valores muito sensatos num ano quente, comprovando que é possível combinar, com harmonia, maturação com comedimento no grau. Registou-se, por fim, um único caso de TCA e só por três vezes houve necessidade de provar nova garrafa para confirmar algum aspeto mais discutido entre os provadores. Nos primeiros lugares, com as classificações de 19 e 18,5, tivemos vinhos de praticamente todas as regiões em prova o que é bem demonstrativo da qualidade geral da colheita de 2015 pelo país inteiro. Que venham mais colheitas assim, é o nosso desejo!
Todos vinhos mostraram-se com ótima integração de barrica, revelando, também neste campo, uma evolução significativa face a provas de outros anos.
19 M.O.B. Gauvé
Dão tinto 2015
Moreira, Olazabal & Borges
Cor e aroma denotando juventude. Fruto puro, negro e azul, leve grafite, bosque, percepção de vibração e tensão, presumindo-se terroir frio. Mais fino em boca do que o aroma faria prever, cremoso e saboroso, tanino fino mas acutilante, especiado, e focado em frescura com notas de floresta. Fabuloso. (14%)
19 Quinta da Manoella VV
Douro tinto 2015
Wine & Soul
Aroma espantoso, com muito fruto, quase exuberante, azul e negro, perfil fino e elegante, notas a chocolate e pêssego, leves apontamentos da barrica. Amplo e saboroso em boca, médio-encorpado, cremoso, novamente fruto azul, agora com apontamentos de pimenta, acidez média, taninos perfeitos e final longo. (14%)
19 Quinta de Foz Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria
Reg. Beira Atlântico tinto 2015
Conde Foz de Arouce Vinhos
Baga. Aroma muito jovem, com a casta a sentir-se numa versão mais madura, mas envolta em frescura. Fruto negro, mentol, chocolate, evidente perfil bordalês. Prova de boca encorpada, ágil e saboroso, nota a café, fruto negro, muito especiado, belíssima textura polida, termina fresco e longo. (14%)
19 Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa
Douro tinto 2015
Quinta do Crasto
Aroma típico da referência, que entrega fruto azul e preto em camadas, muita especiaria, fruta cristalizada, cachimbo, tudo rico e num perfil barroco. Taninos polidos em boca, muito sabor, fruto encarnada e perfil mais fresco que no aroma faria prever, termina amplo, macio e longo, pontuado por doçura frutada. (14,5%)
18,5 Júlio B. Bastos
Alentejo Alicante Bouschet Grande Reserva tinto 2015
Júlio Bastos
Aroma jovem que abre para um perfil marcadamente vegetal, alcaçuz, louro fresco, nota de eucalipto e perfil balsâmico, tudo com sensação frescura. Meio corpo em boca, novamente jovem com taninos sérios, fruto negro não macerado, com a madeira mais descoberta do que no aroma. Termina com leve secura gastronómica. (13,5%)
18,5 (1500ml) Marquês de Borba
Alentejo Reserva tinto 2015
J.Portugal Ramos
Aroma complexo a revelar óptima evolução, com fruto encarnado maduro, notas a café, grafite, musgo, especiados da barrica, floral fresco no fundo, leve pimento, tudo com ótima intensidade e muito limpo. Muito bem também em boca, tenso e frutado, tanino presente sem ferir, saboroso e longo. (14,5%)
18,5 Mouchão
Alentejo tinto 2015
Vinhos da Cavaca Dourada
Cor muito concentrada e o aroma a revelar boa evolução. Nota a terra molhada, chão de tijoleira, fruto encarnado, flores maduras, rosa e figo, especiaria fina. Mais jovem na prova de boca, com muito tanino, maduro e sério, boa acidez geral, revela grande equilíbrio entre maturação e uma percepção surpreendente de frescura. (14,5%)
18,5 O.Leucura
Douro tinto 2015
Duorum Vinhos
Muito jovem na cor e no aroma. Fechado, pede arejamento e abre com notas latentes de fruto negro e azul, caruma, fruto seco, chocolate negro, tudo muito bonito num perfil clássico do Douro Superior. Concentrado na boca, mas muito polido, saboroso, ervas secas e fruto azul, tanino sério e maduro, mais fresco do que o aroma dá a entender e grande qualidade geral. (14%)
18,5 Poeira
Douro tinto 2015
Jorge M. Nobre Moreira
36 barricas. Aroma fino e latente, a pedir arejamento, abre para notas de fruto azul, ervas do monte, leve violeta, e chá. Muito bem em boca, com bom volume, todo proporcionado, bela textura, envolvente e saboroso nos taninos, revela-se num perfil de finesse com final longo. (14%)
18,5 Quinta do Vale Meão
Douro tinto 2015
F. Olazabal & Filhos
Muito aromático desde o início, muito fruto à frente, toque mineral, matizes da barrica perfeita, chocolate, num conjunto que denota classe. Especiado em boca, ervas do monte, alcaçuz, textura cremosa e com alguma potência, termina com muito sabor. Conjunto impressionante. (14%)
18,5 Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo Referência
Douro Grande Reserva tinto 2015
Quinta Nova de Nossa Sr.ª do Carmo
Tinta Roriz e vinha velha em field blend. Muito jovem no aroma, abre com barrica de qualidade, seguida de fruto negro puro e de grande intensidade, amora, pimenta, leve balsâmico. Prova de boca mais vegetal, intenso e saboroso, novamente chocolate, bastante mais fresco na boca do que o aroma faria prever. Excelente! (14%)
18,5 Villa Oliveira
Dão Serra da Estrela Touriga Nacional tinto 2015
O Abrigo da Passarela
Aroma cativante com notas complexas de fruto encarnado e azul, amparadas por presença significativa de barrica, num perfil complexo e sedutor, com a casta a não se evidenciar. Jovem em boca, complexo e de nuances várias, boa acidez, envolvente e saboroso, termina amplo mantendo um registo de elegância. Belíssimo! (14%)
18,5 Luis Pato Vinha Barrosa
Bairrada tinto 2015
Luis Pato
Um pouco aberto na cor, de cor encarnada escura e muito brilho. No aroma abre com notas a eucalipto, fruto encarnado aberto, bagas frescas, vegetal seco, denotando frescura. Mantém o registo em boca, leve e ginasticado, com óptima acidez, fruto vermelho, floral fresco também, termina vibrante e gastronómico. Para durar! (12,5%)
18 Chryseia
Douro tinto 2015
Prats & Symignton
Tourigas Nacional e Franca. Aroma muito polido, com nota de fruto negro e encarnado (cereja), especiados da barrica, chocolate, tudo num perfil limado e apurado. Meio corpo em boca, tanino granulado e maduro, muito sabor e alguma frescura, mantém o perfil de grande equilíbrio e sedução. (14%)
18 Esporão
Alentejo Alicante Bouschet tinto 2015
Esporão
Aroma exuberante com notas balsâmicas, vegetais, casca de árvore e azeitona, fruto maduro, leve couro também. Mantém o perfil em boca, mas com maior frescura e nitidez, saboroso, novamente vegetal seco, boa acidez, com boa saúde para viver mais anos em garrafa. (14,5%)
18 Dolium by Paulo Laureano
Alentejo Vidigueira tinto 2015
PL Wines
Field Blend. Aroma exuberante e jovem, com notas sedutoras de ameixa, pimentas, terra húmida, groselha preta, orégãos e manjericão. Na boca revela-se lácteo e arredondado, com tanino firme e saboroso, acidez média, nota a especiaria doce e muito fruto negro. Óptima evolução! (14,%)
18 J de José de Sousa
Reg. Alentejo tinto 2015
José Maria da Fonseca Vinhos
Grand Noir, Tourigas Francesa e Nacional. Aromaticamente segue o perfil desta referência com notas vegetais atractivas, louro, azeitona, leve couro, cacau preto. Esta silhueta mais rústica continua em boca com terra húmida, pimentas, fruto maduro e notas terciárias. Está muito bem no perfil que proporciona imenso prazer, sobretudo à mesa. (13,5%)
18 Kompassus Private Collection
Bairrada Baga tinto 2015
Kompassus Vinhos
Vinhas velhas, 18 meses de barrica. Aroma austero, com notas de barro molhado, terra húmida, tomilho, barrica muito discreta, e boa percepção de frescura. A prova de boca confirma um perfil sólido e firme, meio corpo, óptima acidez, fruto encarnado maduro, leve fruto seco, termina austero. (14%)
18 Quinta da Leda
Douro tinto 2015
Sogrape Vinhos
Aroma com muito fruto, encarnado e azul, nota floral evidente também, café, bagas silvestres, e barrica ao fundo. Mantém o perfil em boca, ágil e com meio corpo, fruto encarnado, resina de esteva, chocolate e cacau, tanino saboroso de média intensidade e final elegante. (13,5%)
18 Quinta das Bágeiras
Bairrada Garrafeira tinto 2015
Mário Sérgio Nuno
Revela bem o perfil da marca, com fruto encarnado, aroma a tonel avinhado, tijoleira, vegetal seco, verniz. Tanino firme em boca, fruto mais maduro do que o nariz faria prever, muito saboroso e jovem, meio corpo, tenso e com óptima acidez num final longo e bem apimentado. (13,5%)
18 Quinta do Monte d’ Oiro Parcela ‘24
Reg. Lisboa tinto 2015
José Bento dos Santos
Syrah. Aroma muito sedutor e complexo, com fruta encarnado e negro, bagas silvestres, muita especiaria (cominhos), nota a carne e chocolate. Mais ligeiro e ginasticado no corpo, muito fruto novamente, chocolate, acidez média, belíssimos taninos, termina longo com leve secura final. Cheio de classe! (14%)
18 Quinta dos Roques
Dão Reserva tinto 2015
Quinta dos Roques
Jovem no perfil, com fruto encarnado, floral evidente, alguma nota a barrica no fundo. Muito sabor em boca, envolvente, taninos finos, mas com boa estrutura geral, fruto negro e ervas do campo, acidez no ponto, leve doçura frutada que surpreende mas fica bem. Notável harmonia de conjunto. (13,5%)
18 Scala Coeli
Reg. Alentejano Touriga Nacional tinto 2015
FEA
Aroma exuberante e jovem, abre com notas de grafite, fruto negro, muitas nuances da barrica, cereja e violetas também, canela ao fundo, com a casta pouco evidente. Na boca revela-se encorpado e intenso, saboroso na vertente frutada, chocolate, café, bom equilibro apesar de muita intensidade, termina com amargos finais. (14,5%)
18 Terrenus
Alentejo-Portalegre Reserva tinto 2015
Rui Reguinga
Aroma bonito e elegante, com ataque a fruta madura, ameixa, ervas do monte, pimentas, percepção de barrica de qualidade e muita sedução. Saboroso em boca, meio corpo com boa frescura, leve couro, tanino fino mas vivo, perfil seco e gastronómico apesar da vertente frutada em evidência. (14,5%)
18 Tributo
Reg. Tejo tinto 2015
Rui Reguinga
Syrah, Grenache e um pouco de Viognier. Aroma com notas a pimenta preta, fruto maduro bonito e sedutor, nota a carne, leve grafite. Perfil mais barroco em boca, com notas de barrica e muito fruto, largo e amplo, saboroso e cremoso, revela muita especiaria doce e fruto confitado no largo final. (14%)
18 Quinta dos Carvalhais Único
Dão tinto 2015
Quinta dos Carvalhais
Aroma jovem e de perfil floral, bergamota, chá earl grey, musgo e mentol, pinheiro, aroma muito limpo e directo, com a barrica bem integrada. Prova de boca com sabor, leve, mas com intensidade, fruta cristalizada, fruto negro, boa acidez geral, termina longo com doçura frutada. (14,5%)
18 Vallado Vinha da Granja
Douro tinto 2015
Quinta do Vallado
Muito aromático, fruto encarnado complexo, perfil de fruta fresca, muitas ervas, especiado também e com barrica no ponto. Em boca revela tanino vivo e firme, granulado com meio corpo, boa acidez geral, também vegetal bonito e muito especiado, com final longo marcado por fruta encarnada. (14,5%)
17,5 Falcoaria
Reg. Tejo Grande Reserva tinto 2015
Casal Branco
Jovem no aroma, fechado, abre com nota terrosa e levemente química, fruto negro de qualidade e barrica impecável, chocolate e after-eight. Mais vegetal em boca do que o aroma fazia prever, mantém-se, todavia, austero, com tanino muito firme, fruto negro e frescura balsâmica. (14%)
17,5 Quinta da Bacalhôa
Reg. Península de Setúbal Cabernet Sauvignon tinto 2015
Bacalhôa Vinhos de Portugal
Aroma a revelar boa evolução, tudo de pendor vegetal, pimentão doce, casca de árvore, fruto maduro também com nota a ameixa desidratada. Meio corpo em boca, boa leveza de conjunto ágil, tanino fino e maduro, acidez bem presente, termina com leve doçura frutada envolvente. (14%)
17,5 Teixuga
Dão tinto 2015
Caminhos Cruzados
Touriga Nacional. Abre exuberante com nota a fruta encarnada, bergamota, chá earl-grey, cítrico (toranja), barrica muito bem integrada, violeta e café. Fruto maduro em boca, sedutor, denso e cremoso, muita concentração, canela e chocolate, termina amplo e capitoso. (14%)
17,5 Xisto
Douro tinto 2015
Roquete & Cazes
Tourigas Nacional e Franca e Tinta Roriz. Aroma exuberante, nota a violeta, chocolate, mentol, caixa de charutos, marcado ainda por uma nota a verniz. Mais vegetal em boca, envolvente e com óptima barrica, meio corpo, acidez no ponto, termina amplo e com bom comprimento, novamente marcado pelo perfil químico. (14,5%)
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
(A Grandes Escolhas agradece o apoio da Churrasqueira Dom Pedro, casa onde foram realizadas as fotos.)
Artigo publicado na edição de Março de 2025
Concurso Escolha do Mercado: Inscrições até dia 30 de Abril

A revista Grandes Escolhas organiza no próximo mês de 12 de MAIO a 5ª edição de um concurso exclusivamente dedicado aos vinhos brancos de Portugal. De características inéditas, este é um concurso totalmente focado no mercado e para o mercado. E por isso os jurados desta prova são seleccionados entre os compradores profissionais: restaurantes, sommeliers, […]
A revista Grandes Escolhas organiza no próximo mês de 12 de MAIO a 5ª edição de um concurso exclusivamente dedicado aos vinhos brancos de Portugal.
De características inéditas, este é um concurso totalmente focado no mercado e para o mercado. E por isso os jurados desta prova são seleccionados entre os compradores profissionais: restaurantes, sommeliers, lojas de vinhos, wine bars, compradores de grandes e médias superfícies e outros responsáveis de compras.
Um concurso com as regras do mercado.
Se é produtor de vinho e está interessado em participar, saiba todas as informações e inscreva-se AQUI.
PRÉMIOS GRANDES ESCOLHAS 2024: OS MELHORES DO ANO NO VINHO E NA GASTRONOMIA

A revista Grandes Escolhas anunciou os cinco melhores vinhos de 2024, premiando o Melhor Espumante, Melhor Vinho Branco, Melhor Vinho Rosé, Melhor Vinho Tinto e Melhor Vinho Fortificado. Na cerimónia foram também atribuídos os 20 Troféus Grandes Escolhas a restaurantes, sommeliers, enólogos, produtores, projetos de enoturismo e viticultura, garrafeiras e adegas. “Os Prémios Grandes Escolhas […]
A revista Grandes Escolhas anunciou os cinco melhores vinhos de 2024, premiando o Melhor Espumante, Melhor Vinho Branco, Melhor Vinho Rosé, Melhor Vinho Tinto e Melhor Vinho Fortificado. Na cerimónia foram também atribuídos os 20 Troféus Grandes Escolhas a restaurantes, sommeliers, enólogos, produtores, projetos de enoturismo e viticultura, garrafeiras e adegas.
“Os Prémios Grandes Escolhas são já um marco nos sectores do vinho e da gastronomia. Os vinhos seleccionados no TOP 30 representam o que de melhor se faz, em todas as regiões e categorias. Já os Troféus Grandes Escolhas, igualmente prestigiantes, distinguem personalidades, organizações, empresas, instituições e profissionais que, na opinião da equipa editorial da revista Grandes Escolhas, mais se destacaram ao longo de 2024. É um evento único, onde os profissionais do sector se encontram, partilham experiências e têm a oportunidade de provar os vinhos dos seus pares”, refere João Geirinhas, director de negócio da revista Grandes Escolhas.
Dos 30 melhores vinhos portugueses, entre todas as regiões e todas as categorias, de acordo com a redação da Grandes Escolhas, foram distinguidos no TOP 5 o Kompassus Bairrada Espumante Pinot Noir Grande Reserva branco 2016, na categoria de Melhor Espumante, o branco Morgado de Oliveira, Alentejo, como Melhor Vinho Branco, M Mingorra Regional Alentejano Tinto Cão rosé 2023 como o Melhor Vinho Rosé. Já a distinção de Melhor Vinho Tinto foi para a região do Douro, para o Barca Velha 2015, e o Melhor Fortificado fica também no vale do Douro com a premiação do Graham’s PortoTawny 50 anos.

Durante esta gala anual, que reúne os melhores do sector dos vinhos e gastronomia, foram também atribuídos os 20 Troféus Grandes Escolhas, nas suas diversas categorias: Restaurante Cozinha Tradicional Portuguesa – ‘A Cozinha do Manel’, um espaço de referência na cidade do Porto, um valor seguro na preservação da cozinha tradicional portuguesa’; Restaurante Cozinha do Mundo – ‘Kabuki’, uma cozinha que evoca uma viagem de aromas e sabores que une o melhor de duas gastronomias únicas, a japonesa e a ibérica; Restaurante – ‘Plano’, um dos projectos de restauração que melhor expressa a nova culinária de inspiração rural, mas com um perfil moderno; e ainda no sector da restauração, mas já na sua vertente de maior ligação com o mundo dos vinhos, seguiu-se o prémio para o melhor Sommelier – Gonçalo Patraquim, wine diretor do grupo Plateform, que tem a seu cargo a gestão de cartas dos vários restaurantes, bem como a formação e acompanhamento de 17 sommeliers.
Como é já habitual, homenageamos todos os anos uma personalidade com o Prémio David Lopes Ramos, que este ano foi atribuído so chef Nuno Mendes que, com um percurso notável, feito de viagens em que conquistou prestígio e reconhecimento para a gastronomia portuguesa lá fora, chega agora a Lisboa.
Nas restantes, e não menos importantes, categorias foram premiados: Loja Gourmet – ‘Supermercado Apolónia’, que com uma ampla oferta, e um serviço exemplar é um caso de sucesso reconhecido no país e estrangeiro; Garrafeira – ‘Vinho & Eventos’, uma loja de vinhos em Meda, na Beira Interior, exemplar pela oferta disponível, pela qualidade do serviço e pelas iniciativas que desenvolve; Wine Bar – ‘Sala Ogival – Viniportugal’, no coração de Lisboa tem a sua uma sala de visitas do vinho português, em Lisboa, num local que respira história, cultura e tradição; Enoturismo – ‘Taboadella’, uma quinta no Dão com adega, loja e espaço de recepção de visitantes espetaculares, um marco no Enoturismo da região; Organização Vitivinícola– ‘PORVID’, a associação para a conservação e selecção de castas, prova que Portugal é líder destacado na preservação da diversidade da videira; Viticultura – ‘José Luís Marmelo’, responsável por muitas das vinhas do Parque Natural da Serra de S. Mamede; Adega Cooperativa – ‘CARMIM’, uma das maiores cooperativas do país, que produz vinhos exclusivamente a partir das uvas dos seus associados, com a qualidade que todos lhe reconhecem; Produtor Revelação – ‘ODE Winery’, em Vila Chã de Ourique, onde nascem vinhos de grande qualidade, produzidos numa unidade de vinificação de última geração, que surpreenderam critica e consumidores; Produtor – ‘Herdade da Mingorra’, negócio familiar que, ao celebrar 20 anos, surpreende com novos vinhos de perfil original e de grande carácter; Empresa Vinhos Generosos – ‘Justino’s Madeira Wines’ que, para além da inovação constante, é um guardião da tradição, tendo apresentando recentemente um conjunto de Frasqueiras de excecional qualidade; Empresa – ‘Winestone’, um grupo de forte ambição que começou na Ravasqueira, cresceu exponencialmente, e hoje se assume como um dos principais players do mercado. O Prémio Singularidade foi para a ‘Kompassus’ pela sua coerência e expressividade, mas também pelas práticas de viticultura ancestrais e vinificação minimalista assente no mais puro respeito por uma tradição familiar, que faz questão de preservar.
Antes de terminar, os convidados presenciaram ainda a entrega de mais três Troféus Grandes Escolhas, sempre aguardados com grande expectativa: Enólogo Vinhos Generosos – ‘Carlos Agrellos’, que desenvolve um trabalho exemplar – reconhecido internacionalmente -, em duas propriedades do Douro com história secular no vinho do Porto, como são a Quinta do Noval e a Quinta da Romaneira.; Enólogo– ‘Jorge Sousa Pinto, para quem os Vinhos Verdes não têm segredos, e que conhece com ninguém castas, climas e terroirs.
A grande noite termina com a revelação do prémio Senhor/a do Vinho 2024, este ano entregue a Domingos Alves de Sousa, um grande Senhor do Douro, que ao longo de mais de 30 anos lançou vinhos extraordinários de diferentes conceitos e abordagens enológicas, mas sempre de grande personalidade.
“Foi com grande satisfação que reunimos, uma vez mais, algumas das figuras mais marcantes do mundo dos vinhos e da gastronomia, personalidades e entidades que reflectem a qualidade e o talento presentes nestes sectores em Portugal. Reconhecer e premiar os melhores de 2024, entre produtores, chefs, enólogos, viticultores, sommeliers, comerciais, proprietários de restaurantes e outros profissionais da área, manteve-se como o principal foco desta iniciativa. A escolha, como sempre, não foi fácil, dada a enorme qualidade que caracteriza o sector vitivinícola e gastronómico do nosso país”, afirma Luís Lopes, director da revista Grandes Escolhas.
Para além dos prémios referidos, foram ainda anunciados os Melhores Vinhos por região, num total de 310 vinhos, com base nos milhares de provas que os críticos da Grandes Escolhas realizaram durante o ano de 2024.
Os Prémios Grandes Escolhas, organizados pela revista Grandes Escolhas, que vão já na sua oitava edição com a actual equipa, podem ser vistos ou revistos online no site da Grandes Escolhas, uma vez que a cerimónia foi transmitida em streaming, ficando assim disponível a todos, bem como as fotos do evento.
O evento que premeia os melhores vinhos, bem como empresas, profissionais e entidades na área de vinhos e gastronomia, em Portugal, contou com mais de 800 convidados, que se reuniram no Centro de Congressos do Estoril para uma noite dedicada aos Melhores do Ano.
TOP 30 – OS MELHORES 30 VINHOS DO ANO | GRANDES ESCOLHAS
- Aliança XO – Aguardente Vínica Velha 50 anos – Aliança – Vinhos de Portugal
- Anselmo Mendes Tempo – Vinho Verde Monção e Melgaço Alvarinho branco 2020 – Anselmo Mendes Vinhos
- Barbeito O Americano – Madeira Malvasia 50 Anos – Vinhos Barbeito
- Barca Velha – Douro tinto 2015 – Sogrape Vinhos
- Casa de Saima – Bairrada Baga Garrafeira tinto 2016 – Casa de Saima
- Conde Vimioso Edição Comemorativa 30 anos – Regional Tejo tinto 2005 – Falua
- Cossart Gordon – Madeira Boal 1988 – Madeira Wine Company
- Élevage – Alentejo tinto 2022 – Herdade do Sobroso
- Gloria Reynolds – Regional Alentejano tinto 2014 – Reynolds Wine Growers
- Graham’s – Porto Tawny 50 anos – Symington Family Estates
- Kompassus – Bairrada Espumante Pinot Noir Grande Reserva branco 2016 – Kompassus Vinhos
- M.O.B. Gauvé – Dão branco 2019 – Moreira, Olazabal e Borges
- Mamoré de Borba Vinhas de Sequeiro – Alentejo Trincadeira tinto 2020 – Sovibor
- Marquês de Borba – Alentejo Reserva tinto 2021 – J. Portugal Ramos
- Montanha Real 80 Anos – Bairrada Espumante branco 2013 – Caves da Montanha
- Monte Branco XX – Regional Alentejano tinto – Adega do Monte Branco
- Morgado de Oliveira – Alentejo branco – Fitapreta Vinhos
- Outrora – Bairrada Clássico Baga tinto 2019 – V Puro
- Pêra-Manca – Alentejo tinto 2018 – Fundação Eugénio de Almeida
- Poeira – Douro tinto 2021 – Jorge Nobre Moreira
- Quanta Terra Golden Edition – Douro branco 2017 – Quanta Terra
- Quinta da Boavista Vinha do Oratório – Douro tinto 2020 – Sogevinus Fine Wines
- Quinta de Ervamoira – Douro tinto 2021 – Adriano Ramos Pinto
- Quinta da Giesta – Dão Grande Reserva branco 2021 – Soc. Agr. Boas Quintas
- Quinta da Manoella VV – Douro tinto 2021 – Wine & Soul
- Quinta das Bágeiras Pai Abel – Bairrada tinto 2017 – Quinta das Bágeiras
- Quinta do Noval Nacional – Porto Vintage 2022 – Quinta do Noval
- Vasques de Carvalho – Porto Tawny 50 anos – Vasques de Carvalho
- Villa Oliveira Vinha Centenária Pai D’Aviz – Dão tinto 2018 – Casa da Passarella
- Vinha da Micaela – Alentejo-Vidigueira tinto 2021 – Rocim
Estive lá: Cícero, Um restaurante em forma de arte

No cosmopolita e multicultural bairro lisboeta de Campo de Ourique, o restaurante é um espaço deveras singular. Primeiro, porque se apresenta como um restaurante que é também uma galeria de arte, com muitos quadros e esculturas expostos de artistas do país irmão. Depois, porque se assume como um representante da cultura brasileira, unindo cores, formas […]
No cosmopolita e multicultural bairro lisboeta de Campo de Ourique, o restaurante é um espaço deveras singular. Primeiro, porque se apresenta como um restaurante que é também uma galeria de arte, com muitos quadros e esculturas expostos de artistas do país irmão. Depois, porque se assume como um representante da cultura brasileira, unindo cores, formas e sabores onde abundam as referências tropicais. Mais ainda, porque o espaço é dividido em três pequenas salas, Modernista, Contemporâneo e Origem, uma no rés do chão e outras duas na cave, cada uma delas com a decoração e ambiente distintivos, marcados pela cores fortes das pinturas expostas, assegurando, em qualquer delas, uma atmosfera acolhedora e intimista.
Por último, na proposta gastronómica que é, afinal, o mais relevante quando falamos sobre um restaurante. Pois é aqui que Paulo Dalla Nora Macedo, um dos co-fundadores do espaço, arriscou nesta nova versão do Cícero e foi buscar a Chef brasileira Alessandra Montagne, há 25 anos sediada em Paris, onde tem dois restaurantes e uma reputação já bem firmada. Num jantar de apresentação à imprensa, onde estivemos, foi visível como a Chef Alessandra, em conjugação com a Chef executiva residente, Ana Carolina, procuraram unir a técnica francesa, a inspiração de Cícero Dias na composição cromática das apresentações e uma fusão de ingredientes brasileiros e apontamentos portugueses.
Visando nitidamente o fine dinning e com preços condizentes a essa ambição, Alessandra desenhou um menu rico e em alguns momentos surpreendente. Logo no amuse-bouche encantou com a crocância do dadinho de tapioca. Nas duas entradas servidas gostei do contraste entre a suavidade do creme de cenoura e a salinidade da bottarga e sabores terrosos do velouté de cogumelos. Nos pratos principais, o carabineiro, irrepreensível com o risoto de cevada, cremoso como se impunha, pediu meças com o bacalhau fresco, couve e arroz negro. O prato de carne foi poitrine de porco, aipo e beterraba, e talvez porque a refeição já ia farta e longa terá sido o que menos me entusiasmou. Mas o desenho cromático da sobremesa, que a Chef Alessandra assumiu ter sido inspirada numa pintura de Cícero Dias, rematou com brilho o jantar.
Destaque ainda para uma carta de vinhos bem pensada, da responsabilidade do sommelier Rodolfo Tristão, com sugestões interessantes para além do óbvio, mas com preços que não são meigos. Requintado restaurante, galeria multifacetada, tertúlia animada, o Cícero, na sua nova encarnação, tem muito para seduzir. Assim a bolsa o permita.
Cícero
Morada: Rua Saraiva de Carvalho, 171, Lisboa
Tel.: + 351 966 913 699
Site: https://cicerobistrot.pt/pt/home-pt/
Horário: De Domingo a Quinta das 19h15 às 23h45. Sextas e Sábados das 19h15 às 00h00
Preço médio: 90€
Falua: Celebrando três décadas

O Tejo, todos sabemos, tem paisagem variada e sempre, de uma forma ou outra, moldada pelo rio que lhe dá, não só o nome mas também a originalidade e o carácter. E para os que estão menos recordados do facto, a apresentação da Falua, empresa sediada em Almeirim, não podia ter tido o seu início […]
O Tejo, todos sabemos, tem paisagem variada e sempre, de uma forma ou outra, moldada pelo rio que lhe dá, não só o nome mas também a originalidade e o carácter. E para os que estão menos recordados do facto, a apresentação da Falua, empresa sediada em Almeirim, não podia ter tido o seu início em melhor local – a vinha do Convento -, uma parcela assente em solo de calhau rolado que nos lembra que há 400.000 anos estas terras faziam parte do leito do rio. E quem olhar desprevenido para esta vinha em que, no solo, só se vêem calhaus rolados, quase não acredita que seja possível aqui nascer alguma planta. Esta paisagem existe noutros locais do mundo, mas, em Portugal, só no Tejo se encontra uma área desta dimensão. A vinha do Convento começou por ter 15 há. Após a compra pelo Grupo Roullier, em 2017, plantaram-se mais 30 ha em 2019 e, como nos disse Antonina Barbosa, enóloga e gestora de todos os projectos relacionados com o vinho que o grupo tem em Portugal, a área de vinha irá ser alargada com mais 30 ha. Como reserva, a empresa ainda dispõe de mais 85 ha de terra em zona contígua.
O calhau rolado em terrenos muito pobres, e de fraca retenção de água (como é o caso), funciona como regulador de temperatura e obriga a planta a um sistema radicular mais longo, com evidentes benefícios em termos de complexidade. E, segundo nos confirmou, “esta originalidade é válida não só para tintos como também para brancos. Já o Fernão Pires que daqui sai é bem diferente dos que têm origem noutras zonas do Tejo”.
Desta forma, o mais natural é as celebrações terem começado na vinha onde, ao som do fado e dos petiscos preparados no local pelo Chefe Rodrigo Castelo, do Taberna ao Balcão (1 estrela Michelin, em Santarém), o grupo se inteirou das outras novidades, também apresentadas.
Um dos vinhos icónicos da Falua sempre foi o Conde Vimioso Reserva que, desde a colheita de 2000, é tributário da vinha do Convento. A estrela da noite comemorativa e o vinho mais aguardado era, sem dúvida, o tinto Conde Vimioso, edição que comemora os 30 anos da Falua. O vinho teve origem na colheita de 2005 e, após dois anos de barrica, estagiou 17 anos em garrafa. Foi elaborado com todas as castas da vinha do Convento: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Aragonês e Trincadeira Preta, fermentadas e estagiadas em separado. O lote foi feito antes do engarrafamento e produziram-se 1877 garrafas magnum. Ainda segundo Antonina Barbosa, “este é um vinho que se confunde com a história da empresa, é um pedaço da história daquela vinha. Tirámos partido da enorme qualidade do vinho da colheita de 2005 e mantivemos estas garrafas guardadas à espera do momento certo. É agora!”
O grupo Roullier tem presença em inúmeros países e o departamento de vinhos em Portugal iniciou-se com a compra da Falua, a que se seguiu a aquisição da Quinta do Hospital em Monção, as quintas de Mourão e S. José, no Douro. Rui Rosa, administrador em Portugal, recordou que o Grupo Roullier está em Portugal desde 1994, por coincidência o mesmo ano da criação da Falua e que, além dos investimentos acima descritos, a empresa irá dar ao início do plantio de 36 ha de vinha em Vila Verde (região dos Vinhos Verdes). Ao todo, a Falua gere 300 ha de vinhas com mercados dispersos por 30 países.
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)
Herdade da Cardeira: Uma revelação confirmada

É impossível ficar indiferente à paixão com que Thomas Meier se refere a tudo o que acontece no projeto Herdade da Cardeira, localizado em Borba, que fundou em 2010 com a sua mulher, Erika. Fala-nos dos 100 hectares de terra, e detalha todos os respetivos cantos, descreve-nos com rigor a adega e pormenoriza os 21ha […]
É impossível ficar indiferente à paixão com que Thomas Meier se refere a tudo o que acontece no projeto Herdade da Cardeira, localizado em Borba, que fundou em 2010 com a sua mulher, Erika. Fala-nos dos 100 hectares de terra, e detalha todos os respetivos cantos, descreve-nos com rigor a adega e pormenoriza os 21ha de vinha. Individualiza cada casta, as nacionais e as estrangeiras, e lembra-nos que esteve quase para arrancar a Tinta Caiada, mas, agora, entende que pode vir a ser essencial na produção de vinhos com frescura e, sobretudo, carácter alentejano. É, em suma, o atual projeto de vida de um advogado suíço que já dedicou, no passado, a sua vida à tributação internacional. Agora, mais do que reestruturações financeiras e planeamento fiscal, pretende confecionar tudo o que a terra pode materializar. Coisas palpáveis, diz-nos, é o que mais pretende retirar da sua propriedade.
A conversa com Thomas é cordial, mas feita com precisão helvética. Relembra-nos que a produção com a marca da casa iniciou-se em 2016, já com Filipe Ladeiras como enólogo residente e Paulo Laureano como consultor e diretor. Diz-nos que, atualmente, são um pouco mais de 50 mil garrafas por ano, vendidas para os países cujos mercados melhor Thomas e Erika conhecem, como é o caso da Suíça e Luxemburgo. Mais recente, é a distribuição em Portugal que é, todavia, assumida como uma das prioridades para os próximos anos.
O objetivo de Thomas e Erika é só um: fazer mais e melhor a partir da sua terra.
Retorno emotivo
Mas voltemos à propriedade que fica situada em Borba, mais concretamente na freguesia de Orada. Para quem conhece a zona, falamos de uma extensão de terra a 400 metros de altitude, virada a norte, defronte da Serra de São Mamede, com a Serra de Ossa a sul. A sua localização e altitude explicam o vento e nevoeiro matinais, e os solos argilosos com muita influência calcária garantem vinhos com boa acidez.
A produção está em velocidade de cruzeiro, e a crítica tem sido uma grande surpresa. Vencedor, ex-aequo, do Prémio Revelação em 2023, viu, recentemente, o seu Verdelho da colheita de 2022 ganhar o destaque de melhor branco no prémio Escolha da Imprensa. O objetivo de Thomas e Erika é só um: fazer mais e melhor a partir da sua terra. Independentemente dos resultados financeiros, ambicionam um retorno emotivo, dizem-nos com convicção. Pois bem, provados os seus mais recentes vinhos tintos, e um espumante, e a julgar pela emoção que todos são capazes de provocar, temos a certeza de Thomas e Erika estão no caminho certo.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025
Fita Preta: Os (muitos) Alentejos de António Maçanita

É costume dizer-se que o Alentejo é uma região vitivinícola recente. Mas, na realidade, existem zonas nesta região onde a produção de vinho se iniciou há muitos séculos, que entraram nos anais da história como os melhores à época. No fundo, “no Alentejo o local onde se plantava a vinha não era diferente do local […]
É costume dizer-se que o Alentejo é uma região vitivinícola recente. Mas, na realidade, existem zonas nesta região onde a produção de vinho se iniciou há muitos séculos, que entraram nos anais da história como os melhores à época. No fundo, “no Alentejo o local onde se plantava a vinha não era diferente do local onde se vivia – tinha de haver água” – constata o enólogo e produtor António Maçanita, baseando-se nas referências que se encontram nos registos históricos relativos à ribeira da Peramanca e a Enxarrama (do rio Xarrama), nas proximidades de Évora.
Pesquisas históricas revelaram que as terras do Paço Morgado de Oliveira incluíam a zona vinícola do Louredo, onde se produzia vinho desde finais do século XIII
Regresso às origens
O seu primeiro contacto com o Alentejo foi em 2004, quando fundou a Fitapreta Vinhos com David Booth. “Cheguei ao Alentejo contemporâneo, com proliferação de Aragonez, Alicante Bouschet, Syrah, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional… E os primeiros vinhos reflectiram isto. Em 2008 excomunguei o Cabernet Sauvignon e, em 2011, a Touriga Nacional”, conta o produtor. Em 2018 descobriu a vinha Chão dos Eremitas no sopé sul da Serra d’Ossa, plantada nos anos 1969-70 numa espécie de field-blend organizado, ou seja, com várias castas, mas não misturadas. A disponibilidade de água neste sítio é assegurada pelos dois riachos, que trazem as águas das chuvas da Serra D’Ossa, mantendo o nível freático alto e permitindo viticultura de sequeiro.
Nesta vinha, António surpreendeu-se com as castas quase desaparecidas hoje, mas que em tempos dominaram a região: Tinta Carvalha, Moreto, Alicante Branco e Trincadeira das Pratas (conhecida no Alentejo como Tamarez), entre outras. Iniciou-se o regresso às origens, ao Alentejo perdido, com pureza, potência e frescura. O branco Os Paulistas do Chão dos Eremitas, um blend de Alicante Branco, Roupeiro, Tamarez e Rabo de Ovelha e os monovarietais tintos provenientes da mesma vinha transparecem este Alentejo genuíno e multifacetado.
Em 2016, com a aquisição do Paço do Morgado de Oliveira, propriedade medieval do século XIV situada a 10 km a sul de Évora, a mente exploradora de António Maçanita encontrou novos estímulos para um levantamento aprofundado das suas origens. Em paralelo com os trabalhos de recuperação do edifício, o produtor envolveu cinco historiadores para investigar o contexto e o desenvolvimento histórico deste que é o maior paço rural gótico ainda preservado no país. À medida que se iam despindo várias camadas das paredes, revelavam-se verdadeiros tesouros do passado, como uma pintura mural de São Cristóvão na capela-mor, datada de 1567, além de portas e janelas medievais escondidas sob reconstruções e “embelezamentos” de outras épocas.
Em 2018 António Naçanita descobriu a vinha Chão dos Eremitas no sopé sul da Serra d’Ossa, plantada nos anos 1969-70 numa espécie de field-blend organizado.
Recriando o Enxarrama
É preciso ser António Maçanita para conseguir meter uma adega com cubas e barricas dentro desta estrutura monumental. Mas a ideia não foi assim tão disparatada, afinal aqui já se fazia vinho, e era bom! Na actual sala de barricas existe uma antiga lagareta vinária de pedra, com o chamado calcatorium, onde as uvas eram esmagadas com os pés.
Pesquisas históricas revelaram que as terras do Paço Morgado de Oliveira incluíam uma zona vinícola do Louredo, outrora muito afamada, onde se produzia vinho desde finais do século XIII. O mais procurado era o Enxarrama, das vinhas plantadas perto do rio chamado hoje Xarrama. Até os mercadores de fora do país vinham comprar este vinho a Évora. Em 1485, D. João II teve de estabelecer um decreto para que a população local não molestasse os mercadores franceses e bretões. Em 1816, o negociante, enólogo e escritor francês, André Jullien, que viajou pelo mundo para elaborar a sua obra “Topografia de todas as vinhas conhecidas”, escreveu, em relação a Enxarrama, que “os vinhos são de muita fama, sabe-se da sua qualidade, mas mal dão para abastecer a população”, citou António Maçanita. Mais tarde, em 1867, o agrónomo e investigador Ferreira Lapa escreveu: “De todos os vinhos de Évora, o Enxarrama é o mais apreciado e obtém o melhor preço em Lisboa (…) ele é, mais que nenhum outro de Évora, procurado para a venda a retalho nos armazéns de Lisboa.”
Todo este contexto foi mais do que suficiente para António interiorizar a ideia, aliando-a ao vinho que tinha guardado dos anos anteriores. “Entendi que podia ser qualquer coisa acima do que eu tenho feito até agora”. Aqui temos dominante o Alicante Bouschet, com 85%, e também Aragonez, Trincadeira, Castelão e Moreto. O estágio, que soma 10 anos no total, decorreu em barricas de 228 litros durante 36 meses, mais 12 meses em cubas de 500 litros e, por fim, seis anos em garrafa.
Não sabendo como era o Enxarrama de antigamente em termos de castas e vinificação, a nota de prova feita, por Ferreira Lapa, em 1867, serviu de pedra basilar para assegurar o perfil. “O vinho do Enxarrama é bastante tinto e encorpado, crystallino, cheiro tartoso, e não suave, de sabor quente e macio, com travo (…) bem pronunciado. Não é um vinho alcoólico, nem aromático, é um vinho forte e bastão, que bem por causa do seu tanino pode tolerar o seu volume em álcool.” É praticamente o que encontrámos no copo. Assim nasceu o primeiro Enxarrama da actualidade. Foram produzidas 1218 garrafas.
Ao mesmo tempo foi apresentado um grande branco, feito 100% de Arinto de produção biológica, plantado em 2017 em sequeiro na vinha do Morgado de Oliveira. De vindima manual nocturna, com prensagem direta sem esmagamento, fermentação alcoólica e maloláctica espontâneas em barricas. Estágio 15 meses em borra fina, sem battonage, em barricas de carvalho francês. Foram produzidas 1919 garrafas.
Assim são as diferentes faces do Alentejo, interpretadas por António Maçanita. Os vinhos Chão dos Eremitas são de vinha, “vinhos arqueológicos” como o produtor os apelidou, precisos e genuínos. O Morgado de Oliveira é o vinho de casta, que eleva o Arinto (que é uma grande casta portuguesa, sem dúvida alguma) a um patamar excepcional. Por sua vez, o Enxarrama é um vinho de conceito, inspirado pela história do lugar, sendo praticamente uma homenagem à região.
(Artigo publicado na edição de janeiro de 2025)
Prémios Grandes Escolhas «Os Melhores do Ano» hoje em directo

Hoje, 7 de Março, a partir do Centro de Congressos do Estoril e com transmissão em streaming aqui no site e nas plataformas digitais, que se realiza a sempre tão aguardada cerimónia do anúncio dos prémios da Grandes Escolhas. Como habitualmente, prevê-se que centenas de convidados possam assistir ao vivo o anuncio das escolhas da […]
Já no que se refere aos Troféus Grandes Escolhas, serão anunciados no final do jantar os 20 Prémios Especiais, cobrindo as áreas da viticultura, da enologia, da performance dos produtores e das empresas, com assim como sommeliers e restaurantes. Em qualquer destes domínios a equipa da Grandes Escolhas escolhe por consenso os premiados que mais se distinguiram no ano transacto nas seguintes categorias:
Produtor Revelação
Produtor
Cooperativa
Empresa
Empresa de Vinhos Generosos
Produtor Singularidade
Enólogo
Enólogo de Vinhos Generosos
Viticultura
Organização
Enoturismo
Garrafeira
Loja Gourmet
Wine Bar
Restaurante
Restaurante Cozinha Tradicional
Restaurante Cozinha do Mundo
Sommelier
Premio Gastronomia David Lopes Ramos
Senhor/a do Vinho
Toda a cerimonia vai poder ser seguida por transmissão em directo através do site e das plataformas digitais.