António Zambujo: Música numa garrafa

António Zambujo

Foi no eixo Beja-Vidigueira que se conheceram ainda miúdos e a vida levou-os em diferentes direcções, sem nunca os separar totalmente. A dada altura, nos seus regulares encontros à volta da mesa e do vinho (como não podia deixar de ser), uma ideia foi assentando. O conceito inicial poderia formular-se assim: criar uma linha de […]

Foi no eixo Beja-Vidigueira que se conheceram ainda miúdos e a vida levou-os em diferentes direcções, sem nunca os separar totalmente. A dada altura, nos seus regulares encontros à volta da mesa e do vinho (como não podia deixar de ser), uma ideia foi assentando. O conceito inicial poderia formular-se assim: criar uma linha de vinhos que traduzisse, na forma e no conteúdo, os 20 anos da carreira musical de António Zambujo. Uma carreira eclética que passou, primeiro, pelo cante alentejano e pelo fado, mais tarde abrindo-se a influências do mundo, um ecletismo que os vinhos deveriam igualmente expressar.
Dando a liderança técnica ao enólogo entre eles (Luís Leão, profundo conhecedor do Alentejo e da Vidigueira em particular), todos participariam na definição dos lotes e dos perfis dos vinhos que, nesta fase de arranque do projecto, deveriam estar alinhados com as influências musicais de cada um dos 10 álbuns do artista, deles retirando igualmente o nome. Como não têm vinhas nem adega, caberia a Luís selecionar vinhos em diferentes produtores da Vidigueira, adquiri-los, lotá-los e estagiá-los.
Bem dito, bem feito. Só que, a dada altura, foi preciso encontrar um local para colocar as barricas que albergavam os “vinhos musicais”. João Pedro Baião colocou-se em campo e descobriu e adquiriu, em Vila de Frades, centro de um dos mais significativos terroirs vitivinícolas da Vidigueira, um espaço imponente construído em 1879 como adega de talhas e onde mais tarde funcionou uma carpintaria. Quando começaram a reabilitá-lo, acharam que não fazia sentido ficar fechado, apenas um armazém. Porque não abrir ali um wine bar/loja de vinhos? E assim nasceu a Adega da Zabele. O nome encontrado resulta da conjugação das iniciais dos três sócios, mas também tem um lado feminino. Pode significar a maneira alentejana de dizer Isabel.

António Zambujo
António Zambujo, Luís Leão e João Pedro Baião.

 

Vinhos e concertos

A Adega da Zabele funciona às sextas, sábados e domingos. Mas atenção, não é um restaurante. Sem cozinha, apenas com copa, funciona à base de petiscos, pão, azeitonas, azeite, queijos, enchidos, conservas, escabeches e outras coisas boas. As paredes estão forradas com vinhos de quase todos os produtores da Vidigueira, que ali podem ser adquiridos a preço de loja e servidos, mediante módica taxa de rolha. Uma vez por mês, há um jantar-concerto, com a cozinha encomendada a mãos experientes. O primeiro foi, naturalmente, inaugurado por António Zambujo, em Outubro do ano passado, mas por lá já passaram nomes como Pedro Abrunhosa, Ricardo Ribeiro ou Tiago Nogueira. O próximo vai ser protagonizado por uma orquestra argentina. Nestes jantares-concertos (cujos 54 lugares, vendidos através das redes sociais, costumam esgotar em 24 horas, com gente vinda de todo o país) há sempre um produtor local convidado a apresentar os seus vinhos.
A propósito de vinhos, convém falar dos que agora chegaram ao mercado. São três, com rótulos distintos, correspondendo a outros tantos álbuns de António Zambujo: Outro Sentido, Guia e Quinto. Luís Leão procurou que o conteúdo das garrafas fosse ao encontro do perfil das obras musicais, e estes primeiros lotes foram elaborados com base em vinhos comprados em 6 diferentes produtores da Vidigueira. Mas não quer dizer que, no futuro, seja sempre assim. “Defendemos o nosso território, mas não estamos agarrados a ele, diz João Pedro. E Luís exemplifica: “O álbum Avesso vai traduzir-se, naturalmente, num branco da casta Avesso, da região dos Verdes. E, quase certo, vamos ter um vinho da região de Lisboa, para expressar um álbum de fado.”
Dos vinhos agora apresentados fizeram-se 1000 garrafas de cada, em embalagem conjunta. Os dois primeiros álbuns de António Zambujo (O Mesmo Fado e Ode) vão encher 600 garrafas magnum cada um. “O projecto começou de forma descontraída e vai crescer devagarinho, desenvolver-se de modo natural, juntando amigos e vinhos”, comenta António Zambujo. “Hoje já vamos vendo isto como um negócio, mas tudo começou sentados à mesa.” E que boa maneira de iniciar uma coisa destas…

(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)

Real Companhia Velha: São 268 anos, but who’s counting?

Real Companhia Velha

1960: a família Silva Reis assume o controlo da Real Companhia Velha (RCV), com 60% do seu capital. Outros 35% pertencem à Casa do Douro e o resto está disperso. Já há vários anos que a direcção está a cargo de Pedro Silva Reis. Os seus filhos foram entrando pouco a pouco no negócio. Pedro […]

1960: a família Silva Reis assume o controlo da Real Companhia Velha (RCV), com 60% do seu capital. Outros 35% pertencem à Casa do Douro e o resto está disperso. Já há vários anos que a direcção está a cargo de Pedro Silva Reis. Os seus filhos foram entrando pouco a pouco no negócio. Pedro é enólogo e tem responsabilidades nos vinhos de mesa, Tiago é enólogo e blender de vinhos do Porto. Há muitos anos que o enólogo principal da casa é Jorge Moreira, e a viticultura está na mão de Álvaro Martinho Lopes. Hoje banalizou-se chamar paixão a tudo, mas é impossível ouvir Álvaro falar do Douro e não sentir que é essa a única palavra para o descrever.

A vida do Douro

Em evento recente no Hotel Bairro Alto em Lisboa, Álvaro Martinho Lopes explicou apaixonadamente (lá está) a vida do Douro. A vida das plantas, neste caso, e como elas influenciam e são influenciadas pelo homem. Álvaro é um homem da terra, do Douro, e faz compreender tudo muito bem. Quem já foi ao Douro sabe do que ele está a falar. Embevecido, relembra as suas memórias dessa incrível região de vinho. Quem não foi, fica imediatamente com vontade de ir. Vejamos algumas headlines: “uma vinha com 40 anos é jovem”, “o Douro tem um clima óptimo, mas as plantas têm de lutar, o solo é selectivo”, “O Douro é uma equação grande, com muitas variáveis: altitude, castas, exposição, vinhas velhas, vinhas novas. As Carvalhas são uma quinta igual às outras, o que difere são as pessoas.” Jorge Moreira interveio depois e confirmou isto tudo, enfatizando que, com as variações dentro da própria vinha, e tendo como objectivos os estilos de vinho pretendidos para cada parcela ou cada combinação de parcelas, o factor mais importante, quando chega a hora, é a data de vindima.
Quando Jorge Moreira chegou à RCV, em 2010, as Carvalhas estavam dedicadas ao vinho do Porto. Com 500ha, 150ha são de vinha, dos quais 50 são vinhas tradicionais, e nas outras há várias exposições solares, várias altitudes, várias pendências, inclusive algumas parcelas com caraterísticas que obrigam a trabalho com tracção animal. Jorge Moreira afirmou: “Com esta localização única, a quinta tem de tudo e tudo em grande escala, uma conjugação de factores que permite e obriga a fazer vários tipos de vinho. Há várias gerações que faz vinhos incríveis, e esta diversidade inclui pessoas, gente com sabedoria, com cultura de vinho, entre os quais proprietários apaixonados pelo Douro. E tem o Álvaro. Hoje vamos provar cinco vinhos que demonstram variedade. Mas poderíamos mostrar 10 ou 12.”
Uma outra questão interessante que Jorge Moreira abordou foi o terroir dos vinhos. Parece haver a convicção de que há zonas separadas para tawny, para vintage, para branco. Jorge não acredita muito nisso, e provou-o fazendo um branco da Serra de Galgas, a 450m de altitude e com menos 3ºC de média de temperatura e 1h20m diários de luz, ou melhor, tem luz mas não exposição directa ao Sol. Com exposição Norte, esta parcela de Gouveio tem uma fotossíntese gradual e é sempre a última a ser vindimada. O vinho completa-se com Viosinho da parcela Cruz, por cima da estrada interior da quinta, com altitude mais baixa.

“Há várias gerações que a Real Companhia Velha faz vinhos incríveis, e esta diversidade inclui pessoas, gente com sabedoria, com cultura de vinho, entre os quais proprietários apaixonados pelo Douro” – Jorge Moreira

 

56 castas vinificadas em separado…

A Quinta das Carvalhas presta-se a experimentação com castas, e tem grande sucesso nos seus varietais de castas raras. Talvez tanto sucesso que algumas deixem de ser raras. A Tinta Francisca resiste muito bem ao calor sem água. É uma casta nativa do Douro, logo melhor preparada para fazer o seu percurso fisiológico o mais eficientemente possível. Ou seja, amadurecer as sementes. Eficiente é fazer tudo com pouco. Sem desperdício. Segundo nos contou Álvaro Martinho Lopes, estas experiências nem sempre têm sucesso, e o pior é que demoram anos a ter resultados e representam investimentos significativos. A má experiência com o Donzelinho tinto foi uma boa lição, mas saiu cara. Segundo Pedro Silva Reis (filho), em 2023 fizeram na Real 287 vinificações, incluindo 56 castas separadas.
O Vinha do Eirol é a menina dos olhos de Pedro. Vem de uma parcela de vinhas velhas com a habitual mistura de castas, com exposição Poente, a 380m de altitude. A vinificação pouco interventiva assegurou pouca extracção e um perfil elegante, ligeiro e guloso. Um vinho à moda antiga, mas uma moda que regressa para alegria dos apreciadores de “vins de soif”.
Esta masterclass teve muita adesão da imprensa, influencers (?) e escanções. Uma sala cheia que provou depois uma nova referência, o Quinta das Carvalhas Reserva tinto. Este vinho pretende ocupar um lugar vago na gama das Carvalhas, com um perfil clássico, de Douro tradicional, assegurado por um lote de vinhos provenientes de parcelas com exposição Norte e outras de exposição Sul, e incluindo vinhas velhas, as Tourigas e o Sousão.
Em seguida, a apoteose com o Vinhas Velhas de 2020, um ano muito quente, mas de onde vem este vinho contido, mestria da viticultura e enologia da RCV, e seu conhecimento da quinta. Três parcelas específicas, cada vez mais as mesmas para este vinho, uma das quais teve direito a duas vindimas, uma precoce e outra tardia. Raposeira entra parcialmente para dar volume e maturação, Costa da Barca e Cartola garantem acidez e taninos vigorosos. Parece simples, mas representa muita sabedoria e o resultado é espantoso. Para confirmar que isto não é um acaso da Natureza, provámos um VV 2011, cuja elegância e juventude me impressionaram vivamente. Já com a Tinta Francisca tinha vindo uma testemunha de 2012, que fresco e vibrante mostrou uma suavidade que acrescenta garantias de prazeres futuros a todos estes vinhos.

Estilo leve e vibrante

Começa a faltar-me o espaço, mas não o fôlego. Gostei muito deste evento, onde ouvi falar com conhecimento e paixão dos lugares, terroirs, pessoas, vinhos, provei as novidades e suas testemunhas antigas. Em seguida houve um almoço ligeiro de finger food, onde pude ver o desempenho destes vinhos com comida, não esqueçamos que é esse o seu destino. O Hotel Bairro Alto teve recentemente Nuno Mendes como director criativo, que deixou os traços da sua genialidade na oferta gastronómica. Depois do almoço relaxado, numa sala ao lado podiam-se provar as múltiplas referências da empresa, com o bónus de ter a excelente equipa da Real a explicar cada vinho. Valem muito a pena os velhos vinhos do Porto, que a Real cultiva com um estilo leve e vibrante. Também aprecio muito o seu trabalho com castas minoritárias. É das poucas empresas onde se podem provar vinhos de Rufete ou Cornifesto. Tenho a certeza de que esta aposta vai dar frutos, e que mais vinhas serão plantadas com estas castas, para as salvar e preservar o estilo de vinhos que elas oferecem. A Real Companhia Velha é uma das empresas mais influentes do Douro, e eu agradeço-lhes a teimosia.

(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)

Justino’s: Madeirenses 2.0

Justino’s

A Justino´s Madeira Wines, estabelecida na ilha em 1870, como produtora e exportadora dos vinhos da Madeira, dedica-se, desde 2003, também à produção de vinhos tranquilos sob a marca Colombo. O acompanhamento dos viticultores com determinadas parcelas é um dos pressupostos essenciais deste projecto. Cada lote tem vinhas associadas e um trabalho no campo diferenciado […]

A Justino´s Madeira Wines, estabelecida na ilha em 1870, como produtora e exportadora dos vinhos da Madeira, dedica-se, desde 2003, também à produção de vinhos tranquilos sob a marca Colombo. O acompanhamento dos viticultores com determinadas parcelas é um dos pressupostos essenciais deste projecto. Cada lote tem vinhas associadas e um trabalho no campo diferenciado em função das condições do local e das castas. Umas são variedades internacionais, como é o caso de Sauvignon Blanc, único na Madeira, introduzido pela Justino’s há oito anos, outras portuguesas – Aragonez e Touriga Nacional – vindas do continente, e finalmente castas tipicamente madeirenses, algumas quase desconhecidas, que, no sítio certo, dão resultados bem interessantes.

Imagem renovada
Os cinco vinhos apresentados são certificados como DO Madeirense. Revelam uma imagem renovada e uma filosofia enológica focada nos vinhos nítidos e expressivos, à responsabilidade de Juan Teixeira e Nuno Duarte, que se juntou à equipa em 2021.
O primeiro vinho representa o terroir do Norte da ilha. As uvas vêm das vinhas com 20 anos, conduzidas em espaldeira a uma altitude entre 400 e 500 metros. É um lote de Arnsburger (60%), Boaventura e Verdelho (40%) de São Vicente. Arnsburger é uma variedade de origem alemã, obtida por cruzamento de Muller-Thurgau e Weisser Gutedel (também conhecido como Chasselas Blanc) nos meados do século passado. Foi introduzida na Madeira em meados dos anos 80, numa leva de castas oriundas de Portugal Continental, França, Itália e Alemanha. Hoje Arnsburger é mais popular no norte da ilha do que no seu país de origem.
O segundo branco é composto por 70% de Verdelho do Estreito de Câmara de Lobos (Sul da ilha) e 30% de Sauvignon Blanc de São Jorge (Norte da Ilha). A altitude das vinhas, também conduzidas em espaldeira, varia entre 200 e 300 metros.
Ambos os vinhos partilham a mesma abordagem na adega. Fermentam em inox com temperatura controlada. 50% estagia em barricas de 500 litros, novas e semi-novas, 50% em inox com levantamento regular de borras finas. Como são bem providos de acidez, optou-se por permitir parcialmente a fermentação maloláctica, para “domar” a acidez e enriquecer a sensação de boca.

 

Do Caracol ao rosé
O terceiro vinho é uma curiosidade tipicamente madeirense. É praticamente um monovarietal de Caracol, que entra no lote com 97% (mais 3% de Listrão na qualidade de sal e pimenta). A casta foi introduzida na ilha de Porto Santo no início do século passado, onde também é conhecida como Olho de Pargo ou Uva das Eiras, pelo sítio onde foi plantada. A sua origem ainda é desconhecida, mas existe uma relação genética com a variedade Cédres, das ilhas Canárias, e o Listrão (Palomino Fino em Jerez ou Malvasia Rei no Douro). As vinhas bem velhas, com idade de 80 anos, rastejam no chão de areia com compostos calcários ao nível do mar, protegidas por muros de pedra, denominados “crochê”.
Como as duas castas são neutras aromaticamente, optou-se por uma ligeira maceração de cinco horas, antes da prensagem para extrair alguns compostos aromáticos das películas, com fermentação a temperatura ambiente. O estágio decorreu da mesma forma como os outros dois vinhos.
O rosé é originado por um feliz dueto de 57% de Tinta Negra com 43% de Complexa. A primeira é a casta mais plantada na ilha e assegura a maior parte de produção de vinhos da Madeira. As uvas vêm do Estreito da Câmara de Lobos, plantadas a 700 m de altitude e conduzidas em latada, com declives de 45%. A Complexa quase nunca é falada, mas é a segunda casta mais plantada na Madeira. Foi obtida, em 1959, no centro de investigação de Dois Portos, através de uma série de cruzamentos que envolveram Castelão, Alicante Bouschet e Moscatel de Hamburgo e foi introduzida na Madeira nos anos 70. Produz vinhos com nível de álcool moderado, e mais acidez e menos cor do que a Tinta Negra. Não obstante ter a polpa corada, tem poucas antocianas na película, o que faz dela uma óptima escolha para rosés. As uvas vêm de Santana, na parte norte da ilha.
Apenas a primeira lágrima dá origem ao rosé. Fermenta a temperatura controlada e não faz a fermentação maloláctica para preservar a frescura. Trabalham borra fina para dar mais textura e o estágio decorre em barrica usada (com 10 anos) de 500 litros.
A composição do tinto deste ano é diferente: 50% de Aragonês e 30% de Touriga Nacional do Porto Moniz, mais 20% de Merlot da Rocha, vinhas localizadas no Norte da ilha, 400 m acima do mar. Depois de sete dias de curtimenta, só molhando a manta, das fermentações alcoólica e maloláctica, seguiu-se um estágio de 12 meses em barricas de 500 litros, novas e seminovas.

(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)

Os vencedores do Concurso de vinhos do Douro Superior 2024

douro superior

Foram ontem revelados os resultados do Concurso de Vinhos do Douro Superior, uma iniciativa integrada no Festival do Vinho do Douro Superior sempre aguardada com grande expectativa e que culmina três dias intensos num evento marcante para esta região vinícola. Neste concurso em que participaram mais de 180 vinhos nas categorias de vinhos brancos, tintos […]

Foram ontem revelados os resultados do Concurso de Vinhos do Douro Superior, uma iniciativa integrada no Festival do Vinho do Douro Superior sempre aguardada com grande expectativa e que culmina três dias intensos num evento marcante para esta região vinícola.
Neste concurso em que participaram mais de 180 vinhos nas categorias de vinhos brancos, tintos e vinhos do Porto, o júri internacional de 30 profissionais, entre importadores, garrafeiras, restaurantes, wine bares, e jornalistas teve a difícil tarefa de escolher os melhores entre os melhores. Esta foi uma competição de grande nível que demonstrou a excepcional qualidade dos vinhos do Douro Superior.

Luís Lopes, director da Grandes Escolha e presidente do concurso sublinhou não só a grande qualidade dos vinhos provados, mas sobretudo a revelação de novos projectos que surpreendem em cada nova edição do Festival, alguns dos quais alcançam prémios logo no primeiro ano em que participam.

Festival do Vinho do Douro Superior é um evento organizado pelo Município de Vila Nova de Foz Côa e produzido pela Grandes Escolhas.

Aqui fica a lista dos premiados:

BRANCOS

Melhor Vinho:

Duorum Vinha dos Muros 2023 Duorum Vinhos

Medalha de Ouro:

Conceito 2021 Conceito Vinhos
Cortes do Reguengo 2020 Vinaze – Quinta do Reguengo
Cortes do Tua 2021 Cortes do Tua Wines
Crasto Superior Branco 2022 Quinta do Crasto
EspadaCinta Reserva 2022 EspadaCinta Vinhos
Kaputt Orange 2019 Van Zeller Wine Collection S.A.

Medalha de Prata:

Bardo Reserva 2022 Setebagos Vinhos
Cadão Douro PM Vinhas Velhas 2021 Mateus & Sequeira Vinhos
Ensaios Extremes Rabigato 2020 Colinas do Douro
Fonte Cerdeira 2022 Fonte Cerdeira – João Manuel Damas
Golpe Reserva 2023 Família Carvalho Martins
Pai Horácio Branco Grande Reserva 2021 Vinilourenço
Quinta da Pedra Escrita 2022 Rui Roboredo Madeira Vinhos
Quinta da Terrincha 2023 Quinta da Terrincha
Quinta Vale d’Aldeia Grande Reserva 2020 Quinta Vale d’Aldeia
Souza Dias Moscatel 2006 Caves da Quinta do Pocinho
Terras do Grifo Reserva 2022 Rozès, SA

TINTOS

Melhor Vinho:

Quinta do Vesúvio 2021 Symington Family Estates

Medalha de Ouro:

Alto do Pocinho Reserva 2020 Quinta dos Termos
Bardo Real Grande Reserva 2020 Setebagos Vinhos
Cadão Grande Reserva 2018 Mateus & Sequeira Vinhos
Casa Ferreirinha Quinta da Leda 2020 Sogrape Vinhos
Conceito 2020 Conceito Vinhos
Cortes do Reguengo 2019 Vinaze – Quinta do Reguengo
Ensaios Extremes Touriga Francesa 2020 Colinas do Douro
Perdigota Reserva 2022 Caves da Quinta do Pocinho
Quinta Vale d’Aldeia Grande Reserva 2020 Quinta Vale d’Aldeia
Roquette & Cazes 2020 Roquette & Cazes
Terras do Grifo Grande Reserva 2017 Rozès
Villarôco Reserva 2019 Villarôco

Medalha de Prata:

Casa d’Arrochella Reserva Especial 2020 Sociedade Agrícola Casa d’Arrochella
Crasto Superior 2020 Quinta do Crasto
Duorum Reserva 2020 Duorum Vinhos
Ensaios Extremes Sousão 2019 Colinas do Douro
Fonte Cerdeira Reserva 2019 Fonte Cerdeira – João Manuel Damas
Palato do Côa Reserva 2020 5 Bagos – Sociedade Agrícola
Quinta da Pedra Escrita 2020 Rui Roboredo Madeira Vinhos
Quinta da Terrincha Touriga Nacional 3 Altitudes 2021 Quinta da Terrincha
Quinta das Mós Sousão Grande Reserva 2020 Mikael Monteiro Cabral – Quinta das Mós
Quinta de Canivães 2020 Casa Ermelinda Freitas – Vinhos
Quinta do Arnozelo Grande Reserva 2019 Sogevinus Fine Wines
Quinta dos Quatro Ventos Reserva 2020 Bacalhôa Vinhos de Portugal
Rasga Grande Reserva 2019 Artur Rodrigues
Remisi’us Grande Reserva 2020 Edição Limitada Valley & Co.
Selores Premium 2020 Viniselores
Terras do Malhô Reserva 2022 NR de Oliveira
Vale de Pios 2019 Quinta de Vale de Pios
Vinha dos Gatos 2020 Zero Defeitos – Casa Agr. Pinto Barbosa
ZOM Touriga Nacional Grande Reserva 2020 Van Zeller Wine Collection S.A.

VINHO DO PORTO

Melhor Vinho:

Maynard’s Vintage 2021 Van Zeller Wine Collection S.A

Medalha de Ouro:

Burmester Porto Vintage 2022 Sogevinus Fine Wines
Quinta de Ervamoira Vintage 1994 Adriano Ramos Pinto Vinhos

Medalha de Prata:

Ameztoy & Almeida – Ruby Seco Mateus Nicolau de Almeida
Burmester Tawny 10 Anos Sogevinus Fine Wines
Quinta do Grifo Vintage 2019 Rozès

Roquette & Cazes: Xisto, Douro de traço bordalês

Roquette & Cazes

O evento teve lugar no Porto e destinou-se a mostrar a nova edição do tinto Xisto, um vinho com origem na quinta do Meco (Douro Superior), uma propriedade que pertence à família Cazes e que se situa ao lado da quinta da Cabreira, que pertence à Quinta do Crasto. A ideia desta colaboração é muito […]

O evento teve lugar no Porto e destinou-se a mostrar a nova edição do tinto Xisto, um vinho com origem na quinta do Meco (Douro Superior), uma propriedade que pertence à família Cazes e que se situa ao lado da quinta da Cabreira, que pertence à Quinta do Crasto. A ideia desta colaboração é muito antiga. A família Cazes tem uma relação familiar com Portugal, uma vez que o patriarca Jean-Michel, recentemente falecido, casou com uma portuguesa de Moçambique. Embora sempre a viver em Bordéus, a verdade é que, em casa dos Cazes, a conversa entre os filhos e os visitantes se desenrola em português.

A ideia do projecto nasceu em 2002, mas o primeiro tinto Xisto a entrar no mercado foi da colheita de 2003, quando se entendeu que o vinho tinha o perfil e qualidade desejada. Uma segunda marca – Roquette & Cazes – surgiu em 2006. Mais do que ser um rótulo que surge em anos que não há Xisto, esta marca, com um PVP bem convidativo, poderá ter sempre edição, beneficiando da boa produção da quinta do Douro Superior. Neste momento atinge as 85 000 garrafas, mas Tomás Roquette, que conduziu esta apresentação, não deixou de salientar que em breve poderá chegar às 100 000 garrafas. A empresa, para além da quinta, não tem, como lembrou Tomás, “nada de nada. Nem adega nem equipa própria, nem armazém de barricas, nem estrutura comercial: tudo é alugado ou sub-contratado à quinta do Crasto”. No final, metade do stock é comercializado cá e o resto pela família Cazes.

Selecção exigente

A frequência de saída do tinto Xisto não acompanha a outra marca. “Ainda não conseguimos fazer todos os anos” e desde 2003 não teve edição em 2006, 06, 08, 10, 14, 16 e 17. A seguir a este, agora apresentado (2019), é certo que vai haver um hiato. Temos então dois tintos feitos com castas portuguesas, de vinhas do Douro mas com a expertise da enologia de Bordéus. Daniel Llose, consultor de enologia da família Cazes, e que está neste projecto desde o início, não deixou margem para dúvidas: “é preciso ser capaz de dizer não, quando não estamos 100% seguros da excelência. Por isso, creio que a seguir a este 2019, o que se vislumbra como próxima edição, poderá ser o 2023”. Seguro mesmo é que, nos anos em que não há Xisto, é o Roquette & Cazes que vê a sua quantidade aumentar. Mas Daniel ainda não tem todas as certezas, quando lembra que “após 48 vindimas, a única coisa que sei é que não sei tudo e há que continuar a estar atento. Não se pode fazer copy paste de Bordéus para o Douro”. Também não deixou de ser curiosa a sua tese de que, nos anos abundantes, a vinha está mais equilibrada e, por isso, não é dado adquirido que pouca produção seja sinónimo de qualidade.

Manuel Lobo, enólogo da quinta do Crasto e da Roquette & Cazes, salientou que as vinificações se fazem por casta (nos lotes entram Touriga Nacional, Franca e Tinta Roriz) e por parcela, o que permite uma maior atenção a todos os detalhes, acrescentando que não pára de se “surpreender com a qualidade que se obtém naquela vinha, bem diferente da Cabreira que fica mesmo ao lado.” Coisas do terroir, diríamos nós… O estágio do Xisto em barrica requer um acompanhamento permanente, porque quer a casta quer a barrica podem ter comportamentos imprevisíveis e as provas periódicas destinam-se a despistar desvios.
O momento foi também aproveitado para provar o Xisto 2012, que revelou estar em muito boa forma. Os vinhos são agora distribuídos pela Heritage Wines. Desta edição de Xisto fizeram-se 7412 garrafas e 203 magnuns. O tinto Roquette & Cazes está agora a entrar no mercado.

(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)

Chegou o Barca Velha 2015

Barca Velha

O tão aguardado “novo” Barca Velha já aí está, um ícone do Douro curiosamente apresentado no Alentejo. Foi no cenário clássico do Paço Ducal, em Vila Viçosa, que a Sogrape apresentou ontem o Barca Velha 2015, um vinho que, nas palavras do seu enólogo, Luís Sottomayor, conseguiu unir as características dos seus “irmãos mais velhos”: o volume […]

O tão aguardado “novo” Barca Velha já aí está, um ícone do Douro curiosamente apresentado no Alentejo. Foi no cenário clássico do Paço Ducal, em Vila Viçosa, que a Sogrape apresentou ontem o Barca Velha 2015, um vinho que, nas palavras do seu enólogo, Luís Sottomayor, conseguiu unir as características dos seus “irmãos mais velhos”: o volume e a estrutura do 2011 e a harmonia e a frescura do 2008. É, sem sombra de dúvida, um grandíssimo vinho (outra coisa não seria de esperar de uma marca com este histórico e pergaminhos), com muita classe e sofisticação, colocado no mercado em perfeito momento de prova, mas ainda com muito para crescer na garrafa. Como qualquer Barca Velha, o preço acompanha a qualidade e a notoriedade do nome, e até cresceu face a colheitas anteriores, devendo estar no retalho, nesta primeira fase, entre os €800 e €900.

Sogevinus: As novas pepitas da Boavista

sogevinus

A Quinta da Boavista, com uma área de 80 ha, dos quais 36 ha de vinha, está localizada estrategicamente na margem direita do Douro, entre a Régua e o Pinhão. Orgulha-se do seu passado e tem presenteado os enófilos com vinhos DOC Douro de enorme classe. A existência de vinhas velhas na quinta, em particular […]

A Quinta da Boavista, com uma área de 80 ha, dos quais 36 ha de vinha, está localizada estrategicamente na margem direita do Douro, entre a Régua e o Pinhão. Orgulha-se do seu passado e tem presenteado os enófilos com vinhos DOC Douro de enorme classe.
A existência de vinhas velhas na quinta, em particular nas vinhas do Oratório e do Ujo e a intenção de as preservar, levou a Sogevinus a optar pela geolocalização das suas videiras, trabalho que tem tanto de tecnologia avançada (localização por satélite) como de saber empírico acumulado, que hoje só alguns classificadores, já de idade avançada e com trabalho feito na Casa do Douro, são capazes de levar a cabo. Ao que nos disseram, os classificadores não tiveram dúvida alguma na identificação das castas das duas vinhas emblemáticas. Essa tarefa está concluída. Todas as cepas foram identificadas e o resultado é espantoso: 56 castas diferentes na vinha do Oratório e 28 na vinha do Ujo. Este trabalho de minúcia só é possível numa época especial do ano porque, para a identificação das castas, é preciso que as videiras tenham folhas e cachos, os dois elementos que formam o cartão de identidade da casta. A conservação deste património e respectiva variabilidade genética estão assim asseguradas.

 

A Quinta da Boavista irá editar sempre alguns varietais, dependendo do comportamento das castas da propriedade, susceptíveis de serem vinificadas e comercializadas separadamente.

 

Anos quentes e secos

Os vinhos apresentados foram das colheitas de 2020 e 2021, dois anos diferentes, mas com um denominador comum: anos secos e quentes. No caso de 2020, o tempo seco manteve-se durante todo o ciclo e também durante a vindima, com uma (repentina e inexplicável, ao que nos dizem…) desidratação da Touriga Franca, o que ocorreu em Setembro. Já o ano de 2021, ainda que seco, teve chuva na Primavera e permitiu uma maturação lenta. O Verão foi ameno, algo sempre de grande valia, sobretudo para os vinhos brancos. Como resultado das mais recentes alterações climáticas e o gosto do consumidor por brancos com mais frescura e acidez, tudo isso justifica a precocidade das vindimas dos brancos que, aqui, aconteceram ainda em Agosto. Os temores do futuro próximo são óbvios: a precocidade da época da vindima “choca” com hábitos e tradições das pessoas da terra, interfere com as festas das aldeias e pode mesmo levar a que falte mão de obra para tarefas tão indispensáveis como pulverizações de “socorro” a pragas como a cicadela, algo que se verificou na passada vindima.

Para além dos vinhos que já fazem o corpo principal das propostas anuais, a Boavista irá editar sempre alguns varietais, dependendo do comportamento das castas da quinta, susceptíveis de serem vinificadas e comercializadas separadamente. Este ano foi a casta Donzelinho tinto, mas outras estarão na calha.
O branco da Vinha do Levante conheceu agora a segunda edição. As uvas foram vindimadas a meio de Agosto, de vinhas situadas nas cotas altas e viradas a nascente, localização favorável para vinhos brancos. Primeiro a Viosinho, que corresponde a 30% do lote, casta com uma janela de vindima muito apertada e, mais tarde, a Arinto. A fermentação da Viosinho decorreu em barrica nova e usada, a Arinto fez maceração pelicular e fermentou em inox.

Castas antigas

A Donzelinho, que teve a primeira edição em 2017, foi feita exclusivamente em inox, o que acontece com outras castas antigas. É depois da fermentação e estágio que se decide se vai sair como varietal ou se irá integrar lotes com outras castas. O enólogo Ricardo Macedo refere que a casta “tem tudo menos cor”, característica que hoje é aplaudida, mas há 20 anos era altamente penalizadora. A casta fermentou durante duas semanas com as películas mas, mesmo assim, não se consegue outro resultado. “Ela deu tudo o que tinha para dar”. Mas tem a vantagem de ser resistente ao calor, conservando aromas e acidez, factores muito positivos.

No caso do Reserva tinto, a fermentação decorreu em inox e parte em barrica de 500 litros. O estágio em madeira (40% nova) prolongou-se por 18 meses. Ficou dois anos na garrafa antes da comercialização.

Falando dos ícones da empresa, a vindima na Vinha do Oratório foi feita terraço a terraço. Apesar de ter 56 castas diferentes, é de notar que tem sempre cerca de 30% de Touriga Francesa. Fermentado em lagar, teve 18 meses de barrica, 40% nova. A vinha do Ujo tem uma exposição norte e nascente e estende-se por altitude variada, com a vindima a começar de cima para baixo. Fermenta em barrica de 500 litros e estagia na madeira durante dois anos e outros dois em garrafa. Jean-Claude Berrouet, ex-enólogo do Château Pétrus, continua a ser o consultor da Boavista e está sempre presente nas principais decisões enológicas.

(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)

 

Muros de Melgaço: 25 anos de sucesso

Muros de Melgaço

António Barreto, cientista social atento às inúmeras mudanças do nosso país, aponta a transição entre as décadas de 80 e 90 do século passado fundamentalmente como um tempo de diversidade: “o aparecimento e afirmação de uma diversidade e de uma pluralidade até aí inexistentes. Ainda há costumes arcaicos na alimentação e no vestir e já […]

António Barreto, cientista social atento às inúmeras mudanças do nosso país, aponta a transição entre as décadas de 80 e 90 do século passado fundamentalmente como um tempo de diversidade: “o aparecimento e afirmação de uma diversidade e de uma pluralidade até aí inexistentes. Ainda há costumes arcaicos na alimentação e no vestir e já há telemóveis, sapatos de marca e garrafas de vinho grande reserva nos rótulos.”.
Como é evidente, as garrafas de vinho com a designação “grande reserva”, a que se referiu António Barreto, também estiveram ligadas a profundas transformações ocorridas neste período, que mudaram radicalmente o panorama vínico nacional.
A entrada oficial de Portugal, na então denominada Comunidade Económica Europeia, em 1986, ocasionou uma enorme torrente de fundos comunitários, que foram usados para revolucionar o sector. Durante a década de 90 assistiu-se a um enorme incremento de um fenómeno que ficaria na história como o tempo dos “vinhos de Quinta” e alastraria pelo país como uma chama imparável. Muitas das marcas nacionais, que são hoje amplamente reconhecidas dentro e fora de portas, foram criadas ou ganharam notoriedade nesta década.
Não podemos esquecer igualmente o facto da consolidação da profissão de enólogo. Muitos fixaram-se num produtor em particular, mas outros, como Anselmo Mendes, preferiram prestar os seus serviços a diversos produtores.

 

Em 1988, Anselmo Mendes teve a visão inovadora de que a casta Alvarinho podia originar vinhos ainda mais nobres e distintos quando fermentados em barricas de carvalho. Mais de 25 anos de colheitas de Muros de Melgaço provam que tinha razão.

 

Experimentalista e inovador

Em 1987, Anselmo Mendes terminou a licenciatura em engenharia agro-industrial no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa e rapidamente ingressou no mercado de trabalho para se embrenhar na diversidade avassaladora de transformações de então. Entre 1987 e 1997 colaborou em inúmeros projectos vínicos no Norte de Portugal, ligados ao despontar do movimento dos “vinhos de quinta”, e que, ainda hoje, apresentam raízes fortemente alicerçadas em conceitos ligados à qualidade e à distinção.
Após uma visita à Borgonha, em 1988, encomendou duas barricas de carvalho francês instalando-as em casa dos pais, em Monção, para realizar algumas experiências de fermentação com a Alvarinho, a casta rainha da região que o viu nascer.
O estudo foi de tal forma aprofundado e persistente, que decorreu durante cerca de 10 anos e envolveu a compra de uma quinta. Na altura, Anselmo Mendes era um jovem produtor de vinhos com duas mil garrafas da colheita de 1998 para vender e, com ela, comprovar uma visão inovadora na região: a casta Alvarinho podia originar vinhos ainda mais nobres e distintos quando fermentados em barricas de carvalho.
O impacto alcançado pelas primeiras colheitas da marca Muros de Melgaço permitiu a continuação e o alargamento do estudo da casta usando diferentes tostas e volumes nas barricas de carvalho francês. Este êxito proporcionou, em 2008, estender a sua actividade em dois espaços distintos: a Quinta da Torre, uma propriedade com 12 hectares e uma nova adega no Parque Industrial de Melgaço. Estes novos espaços permitiram dominar a produção de uva e aprofundar as experiências com a casta alargando-os aos solos, podas e outros temas que a mente inventiva de Anselmo Mendes perscrutou. O resto é uma história de sucesso, aqui representada por nove colheitas de Muros de Melgaço, a marca pioneira, incontornável referência entre os grandes Alvarinho de Monção e Melgaço.

 

VERTICAL MUROS DE MELGAÇO

16,5 A

Muros de Melgaço Alvarinho branco 1999

Cobre na cor. Aromas e sabores a fruta cozida, mel e mineralidade. A acidez revelada empresta alguma frescura ao conjunto em notório fim de linha, ainda assim importa sublinhar que, apesar dos 25 anos de idade ainda se bebe com prazer. (13%)

18 A

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2002

Coloração acobreada revelando os 22 anos de idade. Notas evidentes a mel, chá, marmelo, funcho e leve fruta cítrica. Numa clara fase descendente, ainda assim fresco e admiravelmente bem preservado para a idade que apresenta. Para beber de joelhos em agradecimento pela forma positiva como evoluiu. (13%)

18,5 A

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2009

Este vinho apresenta uma cor dourada e aromas a favo de mel, chá, folhas secas e leve fruta cítrica envolta em leve manteiga e grande tensão. Esta referência iniciou a sua fase descendente. Ainda assim mostra um surpreendente equilíbrio entre untuosidade e frescura. (13%)

18,5 A

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2012

Fermentado e envelhecido durante seis meses em barricas de carvalho francês usadas.  Aromas a infusão cítrica e sugestão a pedra molhada. De perfil muito fresco e mineral, muito embora mostre alguma evolução em garrafa que o complexifica grandemente. Um hino à região e à casta. (13%)

18,5 B

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2015

De cor dourada. Apontamentos de lima, casca de laranja, pedra molhada e folhas secas. Mostra-se surpreendentemente jovem, muito tenso e fresco. Grande presença de boca, com muito equilíbrio e complexidade. Um grande vinho a mostrar todas as capacidades da casta na região. (12,5%)

18 B

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2016

Apresenta uma coloração amarela fruto da nobre evolução em garrafa. As notas aromáticas remetem para leve chá, folhas secas, fruta cítrica, pedra molhada e leve pimenta branca. No palato, a acidez bem vincada eleva a fruta cítrica, as finíssimas especiarias e alguma evolução. (13%)

17,5 B

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2018

Coloração amarela clara. Esta referência mostra um belíssimo equilíbrio entre os aromas a flores brancas, casca de laranja, toranja, pimenta branca e pedra molhada. Na boca denota boa ligação entre a delicada fruta cítrica e a leve barrica. Boa precisão e complexidade. (13%)

17,5 B

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2020

Aromas florais bem marcados, casca de laranja, algum biscoito, leves especiarias e sílex. Na boca mostra fruta cítrica muito fresca e leves especiarias a amparar o conjunto bastante equilibrado, bem definido e tenso. (13%)

 

(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)