Portalegre – O apelo da Serra

Serra Portalegre

Integrada na denominação de origem Alentejo-Portalegre, a Serra de São Mamede possui características muito particulares que fazem dela um polo vitivinícola absolutamente diferenciador, mesmo dentro desta sub-região. Para perceber o carácter dos seus vinhos, visitámos quatro produtores com histórias, conceitos e abordagens distintas, mas com um denominador comum: a resposta apaixonada e entusiástica ao irresistível […]

Integrada na denominação de origem Alentejo-Portalegre, a Serra de São Mamede possui características muito particulares que fazem dela um polo vitivinícola absolutamente diferenciador, mesmo dentro desta sub-região. Para perceber o carácter dos seus vinhos, visitámos quatro produtores com histórias, conceitos e abordagens distintas, mas com um denominador comum: a resposta apaixonada e entusiástica ao irresistível apelo da Serra.

Texto: Luis Lopes

 

ADEGA DE PORTALEGRE WINERY

A Adega Cooperativa de Portalegre foi fundada em 1954, mas apenas no início dos anos 90, com a demarcação do Alentejo vitivinícola, ganhou estatuto de primeira linha. Os mais antigos recordam o famoso “VQPRD” de 1991 e tantos outros que se seguiram, vencedores crónicos dos concursos locais e nacionais. Já na altura, a Adega recebia a esmagadora maioria da sua matéria prima de pequenos viticultores instalados nas cotas altas de Serra de São Mamede. Em 2005, a então ainda cooperativa terá dado um passo maior do que a perna, adquirindo à família Avillez a Quinta da Cabaça, propriedade de 22 hectares situada no Reguengo, entre 600 e 700 metros de altitude. Devido a conjunturas económicas desfavoráveis, os grandes empreendimentos (nova adega, enoturismo) previstos para a Cabaça acabariam por não se realizar, a Cooperativa entrou em dificuldades, e parte dos seus activos foram adquiridos em 2017 pela família Redondo, proprietária do Licor Beirão, que constituiu a Adega de Portalegre Winery (APW). Desde então, a família tem revitalizado e revolucionado o projecto, procurando tirar o máximo partido da singularidade daquele terroir de excelência.

Serra Portalegre
Miguel Sistelo e João Gabriel dão vida nova à Adega de Portalegre.

Para além da Quinta da Cabaça, seu principal património, a APW possui igualmente a vinha Serra da Penha, com oito hectares e diferentes castas plantadas em solos graníticos, que vão dos 450 aos 650 metros, e compra uva a um conjunto de lavradores locais, cerca de 60 antigos associados da Adega Cooperativa, 40 dos quais situados no Parque Natural da Serra de São Mamede, desde Urra até Marvão e Castelo de Vide. À antiga cooperativa, a APW arrendou as instalações de vinificação e engarrafamento. A consultoria enológica está a cargo de Nuno do Ó, com Miguel Sistelo como enólogo residente e João Gabriel  –  que veio do “grupo Licor Beirão” em 2018 – a assumir a direcção geral.

A Adega de Portalegre foi o primeiro avanço no mundo do vinho por parte da família Redondo, até então centrada nas bebidas espirituosas. Porquê Portalegre, pergunta-se. “Sentíamos que esta região, que na altura começava a mexer, era um diamante por lapidar”, refere João Gabriel, “um Alentejo de altitude, que permite perfis de vinho diferentes.”

A APW arrancou a sua actividade comercial com base nos stocks produzidos pela antiga cooperativa e a primeira vindima, já feita segundo o modelo e perfil pretendido aconteceu em 2017. Em 2020, estreou-se Miguel Sistelo, hoje com 31 anos, vindo da UTAD, com passagem pelos EUA, Nova Zelândia, Austrália e Bordéus. É pois uma equipa jovem mas experiente, e sobretudo motivada, que tem como missão recuperar a notoriedade da marca Adega de Portalegre.

Miguel Sistelo acompanha de perto os viticultores que entregam uvas na APW, dando-lhes apoio técnico no sentido de garantir que recebe a matéria prima correspondente ao pretendido. “Queremos acidez, frescura, capacidade de envelhecimento em garrafa”, diz Miguel Sistelo. Mas também “vinhos fáceis de beber, prontos a apreciar enquanto jovens e capazes de dar prazer passado muitos anos, refere.”

A Quinta da Cabaça é o coração da APW. Com uma parte dos 22 hectares em sequeiro e outra com rega, reúne uma grande variedade de castas regionais, incluindo parcelas plantadas em field blend e ainda um campo experimental com uma colecção de cerca de 30 variedades, uma linha de cada. Miguel Sistelo confessa-se surpreendido com a qualidade das uvas e carácter dos vinhos que a APW conseguiu obter na vindima de 2020. Quando indagado sobre as suas preferências, não hesita: “Para além das vinhas velhas, claro, castas como Trincadeira, Castelão, nos tintos, e Bical e Tamarez, nos brancos, fazem toda a diferença em Portalegre.”

Serra Portalegre
A Quinta da Cabaça tem uma fantástica coleção de castas tradicionais.

No total, a APW vinifica anualmente cerca de 500 mil litros, tendo recentemente efectuado uma parceria comercial com a Niepoort, que seleciona e elabora lotes ali produzidos para engarrafar com as suas marcas. No portefólio da APW, a o vinho bandeira continua a ser o sucessor do icónico “VQPRD”, simplesmente denominado Portalegre. Mas a linha Conventual e o histórico Morgado do Reguengo (marca outrora pertencente à família Avillez) continuam a merecer especial atenção. A ideia não é produzir mais, antes pelo contrário. “Queremos reduzir”, diz João Gabriel, “fazer menos vinho e criar mais valor.”

TERRENUS

Com raízes na região do Tejo e vinhas herdadas de seu pai, em Almeirim, seria natural que o enólogo Rui Reguinga se tivesse estabelecido naquela região enquanto produtor. Mas, embora ali mantenha o seu projecto Tributo, foi no Alentejo e em Portalegre que veio instalar-se, sendo dos primeiros “de fora” a apostar nas vinhas velhas da Serra. “No início da minha carreira, em 1991, enquanto enólogo assistente de João Portugal Ramos, acompanhei vindimas na Tapada do Chaves e, sobretudo, na então Adega Cooperativa de Portalegre”, diz Rui. “Na Adega de Portalegre entrei em contacto directo com as vinhas velhas da Serra e percebi que era aquilo que, um dia, queria para mim. Fui alimentando o sonho com muitas visitas à região – passava as férias em Marvão – até que o sonho se tornou realidade em 2004, nascendo o Terrenus.”

Serra Portalegre
Rui Reguinga instalou o seu projecto na Serra de São Mamede em 2004.

Todas as vinhas do projecto Terrenus se encontram inseridas dentro do Parque Natural da Serra de São Mamede. Foram aquisições espalhadas no tempo, há medida da disponibilidade financeira, e as parcelas escolhidas por serem muito velhas, pela altitude entre os 600 e 760 metros e, em alguns casos, pela exposição a norte. De entre as vinhas Terrenus, três destacam-se claramente não apenas pela qualidade produzida, mas também pelo enquadramento paisagístico. A mais impressionante será, porventura, a Vinha Clos dos Muros, que dá origem ao vinho com o mesmo nome. É a vinha mais antiga de Rui, plantada em 1902, com dois terços de uvas tintas (destaque para a Grand Noir) em pouco mais de meio hectare. “O anterior proprietário contou-me que o seu avô ainda fez a vindima desta vinha antes de partir para a primeira Guerra Mundial”, diz o produtor. Mas não é só a idade que a torna tão especial. O muro de xisto que que a rodeia totalmente, feito com as pedras retiradas do terreno durante a plantação, confere-lhe uma beleza inédita. E a elevada densidade de plantação (mais de 8000 plantas/ha, dois terços de castas tintas) é outro factor singular.

Mas a Vinha da Serra, a primeira a ser adquirida para o Terrenus, não lhe fica atrás. Aqui, a 760 metros de altitude, este vinhedo centenário cultivado em modo orgânico evidencia-se pelo seu declive acentuado, tendo por isso sido plantado em patamares, como no Douro. Cerca de 80% são castas brancas, maioritariamente Bical, entre muitas outras.

Já a vinha da Ammaia, no concelho de Marvão, assim denominada por se encontrar muito próxima das ruínas da cidade romana homónima (séc. I), consiste em 0,6 hectares murados, com cepas de 80 anos de idade, brancas e tintas em igual proporção. Daqui saem as uvas para os vinhos Terrenus “de barro”, com fermentação em talhas antigas e estágio em ânforas novas.

Esta quase obsessão pelas vinhas velhas tem, para Rui Reguinga, inteira razão de ser: “As vinhas velhas fazem muita diferença. Originam vinhos mais complexos, mais minerais.” E para quem torce o nariz à expressão, tão usada e abusada, o produtor reforça: “Sim, a mineralidade nos vinhos existe! E quem tem dúvidas compare um vinho branco de vinhas velhas – e, no meu caso, vinha velha tem mais de 90 anos – e um vinho branco de uma vinha jovem.”

A idade das vinhas é um detalhe, sem dúvida importante. Mas mais importante ainda será o carácter da Serra. “Os vinhos que nascem aqui, a mais de 600 metros de altitude, são mais frescos, com uma acidez mais presente, e obviamente com um grande potencial de envelhecimento em garrafa”, diz Rui. “Além disso, a Serra de São Mamede tem um micro clima, com mais chuva anual – comparado com o resto do Alentejo – e uma grande amplitude térmica entre o dia e a noite, especialmente no verão, com lenta maturação das uvas, preservando acidez e aromas.”

Serra Portalegre
Todo o projecto Terrenus assenta em vinhas velhas da Serra.

Certamente por tudo isso, Rui Reguinga é dos que defende uma zonagem mais precisa dentro das 8 sub-regiões alentejanas, e particularmente em Portalegre. E aí tem mais um objectivo, ambicioso, a conquistar: “Gostaria de lançar as bases para uma associação dos produtores da Serra de São Mamede, para a promoção dos vinhos locais, com vista à criação futura, dentro da DOC Portalegre, da micro-região Serra de São Mamede.”

O projecto Terrenus abarca já cerca de 70.000 garrafas. Até agora, a vinificação tem sido feita em espaço de adega arrendado. Mas na vindima de 2021 foi cumprido mais um sonho: estreou-se a adega Terrenus, em Marvão, na Ponte dos Olhos de Água. Pequena, dimensionada para as diferentes vinhas, permite vinificar cada parcela em recipientes separados e variados: inox, ovo de cimento, balseiro de carvalho, talha antiga. O Terrenus ganhou, finalmente, casa própria.

SUSANA ESTEBAN

Espanhola de nascimento (ou melhor, galega, de Tui), Susana Esteban tem desde há muito Portugal como país de adopção. Foi por aqui que a enóloga construiu carreira, primeiro no Douro, a partir de 1999, depois no Alentejo, desde 2007, trabalhando em diferentes produtores e acumulando em cada vindima um enorme capital de prestígio, assente no seu conhecimento, capacidade de trabalho, segurança e talento. Como todos (ou quase todos) os enólogos que atingem um elevado nível profissional, também Susana sentiu, a dada altura, a necessidade de um projecto vitivinícola a que pudesse chamar seu. Dois anos andou à procura em várias regiões do Alentejo, por vinhas que fizessem sentido para os vinhos que queria fazer. E certamente por isso, quando finalmente encontrou o que buscava, em 2011, o vinho de estreia chamou-se Procura.

Na verdade, não foi uma, mas sim duas vinhas, situadas em Portalegre, que a fizeram dar a busca por concluída. A primeira, uma vinha velha em Salão Frio, pleno Parque Natural da Serra de São Mamede, com muitas castas misturadas e baixíssima produção. A outra, uma parcela de Alicante Bouschet, na altura com 25 anos. Aqui teve início a aventura (já agora, Aventura é o nome de outro vinho da enóloga/produtora).

Serra Portalegre
Susana Esteban aposta na mistura de castas existente nas vinhas antigas.

“Quando encontrei Portalegre, deparei-me com um Alentejo que não parecia Alentejo”, diz Susana Esteban. “Ainda que erradamente, associamos sempre Alentejo a planície, quando há muitos Alentejos. Mas Portalegre foi para mim uma enorme surpresa, pela altitude, pelo granito, pelas castas tradicionais. Vi desde logo que era, para mim, a região perfeita, com as vinhas perfeitas”, acrescenta.

A frescura que a região de Portalegre, e em particular a Serra de São Mamede, imprime aos vinhos foi algo que desde logo a fascinou. “A altitude, a maior humidade, o granito, fazem com que um tinto com 14,5% de álcool tenha uma enorme frescura natural”, realça. “A vinha, aqui, é completa. Podemos interpretá-la de uma forma ou de outra, mas ela dá-nos tudo o que precisamos para fazer o vinho que queremos.”

Granito. Outro factor que Susana não dispensa. Todas as vinhas que trabalha hoje em Portalegre estão plantadas em solos de granito, embora também exista bastante xisto na sub-região. “O granito oferece vinhos muito mais directos, francos, minerais”, defende. A quase obsessão pelo granito não veio pré-concebida, no entanto. Desde 2011 que Susana Esteban experimenta e vinifica uvas de diferentes origens em Portalegre e, a dada altura, tomou consciência de que o granito era o denominador comum aos vinhos que mais gostava.

Numa dezena de anos, o portefólio de Susana Esteban, que representa hoje 35 mil garrafas por vindima, entende-se já por 10 referências diferentes. A “culpa”, mais uma vez, é das vinhas, pois cada um destes vinhos tem uma origem concreta, uma parcela, um terroir. As fontes de matéria prima distribuem-se por distintas áreas de Portalegre e resultam de contratos com lavradores locais. Quatro pequenas parcelas estão na localidade de Salão Frio, todas com vinhas velhas, entre 80 e 90 anos de idade, a cerca de 700 metros de altitude e viradas a norte. Ali, as castas brancas dominam em 60%. Susana compra igualmente uvas de uma parcela maior, em Castelo de Vide, com 2 hectares, cepas com 45 anos e uma mistura de uvas brancas e tintas que utiliza na linha de vinhos Aventura. Em Marvão, a produtora arrendou recentemente duas parcelas de vinha velha, das quais em breve irão sair novos vinhos. Finalmente, Alicante Bouschet e o Castelão têm origem em vinhas mais recentes (cerca de 35 de anos) e a vinha de Touriga Nacional tem à volta de 25 anos.

Todas estas vinhas estão sob contratos de arrendamento ou de compra de uvas. A única excepção é a mais recente paixão de Susana, a Quinta das Sesmarias, que adquiriu em Alegrete, com vista para o castelo. Com 24 hectares, 15 deles de montado de sobro, plantou ali este ano 5 hectares de bacelo, em sequeiro, bacelo esse que será enxertado em 2022 com varas das melhores cepas das vinhas velhas que utiliza. A ideia é reproduzir o encepamento e o carácter das vinhas tradicionais. “Vou fazer ali uma vinha à antiga, para durar 100 anos!”, diz Susana Esteban com um brilho nos olhos.

Serra Portalegre
A bacelada da Quinta das Sesmarias, em Alegrete, vai ser enxertada no próximo ano com varas das vinhas velhas.

Mas afinal, o que procura nas vinhas velhas? “Antes de mais, uma vinha não é boa por ser velha. E já fiz excelentes vinhos com vinhas jovens. Mas a verdade é que os melhores vinhos que consigo fazer aqui, na Serra de São Mamede, têm por base as vinhas velhas. E acredito que a razão para isso está na mistura de castas, e na complexidade que isso traz. Mas não sou fundamentalista de vinhas velhas. Estou certa, aliás, que a vinha que estou a fazer em Alegrete, em field blend, vai em poucos anos atingir a riqueza de uma vinha velha pois, além da mistura de castas, não tem água, terá de lutar para viver. Por isso, para mim, a vinha velha é mais um conceito do que uma idade concreta.”

Até agora, Susana Esteban tem vinificado os seus vinhos num espaço arrendado em Mora, onde montou uma pequena adega. Como fica fora da DOC Alentejo-Portalegre não tem tido, por isso, direito à denominação de origem, com os vinhos a serem comercializados como Regional Alentejano. Um problema que fica resolvido a partir desta vindima de 2021. A vinificação foi feita em aluguer de serviços na Herdade do Porto da Bouga, bem dentro da sub-região, e os vinhos serão depois estagiados na sala de barricas já montada em “casa” de Susana, a Quinta das Sesmarias, em Alegrete, onde mais tarde nascerá também uma adega.

QUINTA DA FONTE SOUTO

A aquisição, em 2017, da Quinta da Fonte Souto a João Lourenço (fundador do projecto Altas Quintas) por parte da família Symington, apanhou quase toda a gente de surpresa. Não apenas porque estávamos a falar de uma das maiores e mais imponentes propriedades da Serra de São Mamede, com 207 hectares no total, dos quais 42 hectares de vinha, como também por serem os compradores quem eram. Profundamente enraizada no vinho do Porto e no Douro desde há 135 anos e 5 gerações, com todos os seus investimentos empresariais e pessoais naquela região, poucos imaginavam a família Symington a sair da sua “zona de conforto”, que conhece como poucos, para se lançar numa região que até então desconhecia.

Serra Portalegre
Charles e Rupert Symington acreditam que o primeiro investimento da família, fora do Douro, tem tudo para dar certo.

“Já tínhamos há algum tempo a ideia de diversificar investimentos, fora do Douro”, diz Rupert Symington, administrador do grupo familiar. “E a partir de muita pesquisa e muitas conversas com diferentes pessoas, chegámos à conclusão de que Portalegre, e em especial a Serra de São Mamede, seria o local ideal para encontrar a qualidade e perfil de vinhos que buscávamos”, acrescenta. Mas o “mapa” para o tesouro escondido em Portalegre veio também com um aviso: “Fomos alertados de que a generalidade dos investimentos feitos na produção de vinho do Alentejo, por parte de empresas de fora da região, tiveram dificuldades de afirmação. Mas avançámos mesmo assim, conhecendo os riscos – desde logo, não sabíamos se os vinhos iam atingir o nível que esperávamos – , mas também o potencial. O resto é história…”, refere Rupert.

A verdade é que, para quem está acostumado a vinhos Porto e Douro de primeira grandeza, a vindima de estreia na Quinta da Fonte Souto foi uma enorme surpresa. “O branco, de 2017, foi logo uma revelação, pelo seu brilho e personalidade, qualidades que se vieram a confirmar nas colheitas seguintes”, lembra Charles Symington, director de enologia da casa. “Do mesmo modo, o topo de gama tinto, Vinha do Souto 2017, embora fechado no início, como por vezes acontece num grande vinho, evidenciou rapidamente toda a sua classe”, reforça. “Até fazer os vinhos, nunca sabemos se demos o passo certo numa nova propriedade. Mas aqui, não podíamos ter começado da melhor forma.”

Ainda assim, a dimensão e diversidade da Quinta obrigou a um estudo profundo das suas características, para suprir carências nos vinhedos e orientá-los no sentido pretendido. O enólogo José Daniel, que trabalha com a família Symington desde 2010, foi logo em 2017 “deslocado” para Portalegre. “Viemos para cá sem quaisquer preconceitos, antes de tudo queríamos conhecer a vinha e aprender com ela”, assume. Para a sua primeira vindima, realizada na adega existente na quinta (entretanto bastante reformulada) trouxeram com eles pequenas cubas para experimentar diferentes castas em distintas fases de maturação, o que desde logo lhes trouxe novos conhecimentos. E nada é deixado ao acaso, quando se trata de tomar decisões com efeitos de longo prazo, como reestruturar uma vinha: pequenas quantidades de uvas de vinhas da serra têm sido compradas localmente e microvinificadas, para “perceber o terroir”. “Não estamos amarrados ao que sabemos do Douro, nem sequer ao que é o vinho ‘clássico’ de Portalegre”, diz José Daniel, “pretendemos fazer o melhor que pudermos e soubermos”.

Plantada entre os 490 e 550 metros de altitude, em solos de xisto e granito, a vinha de 42 hectares que encontraram em 2017, com cerca de 20 anos de idade,  já não é exactamente a mesma, com mudanças quer ao nível das práticas vitícolas (nutrição, podas, etc.) quer das variedades. Isto, apesar de, como faz questão de vincar Charles Symington, “o encepamento inicial estava, globalmente, muito bem escolhido.” Assim, e sempre através de sobreenxertias (técnica que permite mudar castas conservando um vinhedo maduro), foi reforçada a aposta nos brancos, Arinto e Verdelho (Gouveio, no caso), eliminado o Cabernet Sauvignon, reduzido o Aragonez, e introduzido o Grand Noir (casta tradicional de Portalegre) e a Touriga Nacional (já com alguma presença na região). Para além destas, a propriedade conta igualmente com Syrah, Alicante Bouschet (as duas castas que, com 5 vindimas feitas, Charles coloca no patamar mais alto de consistência qualitativa), Tinta Amarela, Alfrocheiro, e ainda 2,5 hectares de vinha velha em field blend.

Serra Portalegre
Sala de barricas, na Quinta da Fonte Souto.

Que estilo de vinho pretende a família Symington para Fonte Souto? “Queremos vinhos, brancos e tintos, com grande potencial de envelhecimento, mas também com muito boa fruta, sem precisarem de esperar muito tempo para serem bebidos”, esclarece Charles Symington. “E, acima de tudo, estamos focados em vinhos que, além da superior qualidade, evidenciem o carácter da Quinta da Fonte Souto e da Serra de São Mamede.”

A Quinta da Fonte Souto é um “work in progress” permanente. “Desde que chegámos que ainda não parámos de fazer obras”, diz Rupert Symington. O enoturismo vai, por isso, ser uma ambição concretizada a breve prazo. “Fonte Souto tem dimensão, com floresta, montado, vinha, castanheiros, e um potencial tremendo em termos de turismo de natureza. Juntando a isso os maravilhosos vinhos que aqui produzimos, temos tudo o que ambicionámos.”

(Artigo publicado na edição de Outubro de 2021)

Península de Setúbal – Mais tinto, por favor

Tintos Península Setúbal

Os tintos da Península de Setúbal estão cada vez melhores, não só pela qualidade absoluta que apresentam, mas porque combinam em sim dois factores que garantem sucesso nos mercados: complexidade e, em simultâneo, enorme harmonia, o que os faz apelar a um grande leque de consumidores. Texto: Mariana Lopes Fotos: Ricardo Palma Veiga  A região […]

Os tintos da Península de Setúbal estão cada vez melhores, não só pela qualidade absoluta que apresentam, mas porque combinam em sim dois factores que garantem sucesso nos mercados: complexidade e, em simultâneo, enorme harmonia, o que os faz apelar a um grande leque de consumidores.

Texto: Mariana Lopes
Fotos: Ricardo Palma Veiga

 A região da Península de Setúbal tem um nome que chama a atenção para o factor “peninsular”, mas nem só da Península é feita. De Almada e Sesimbra ao Montijo, e deste até Santiago do Cacém — passando, grosso modo, por Seixal, Barreiro, Moita, Setúbal, Alcochete, Palmela, Alcácer do Sal, Grândola e Sines — temos Indicação Geográfica Península de Setúbal, delimitando, assim, toda uma região de clima misto de influência atlântica, sub-tropical, mas com um forte cunho mediterrâneo, condicionado pelos rios Tejo, Sado, e pela Serra da Arrábida. Embora isto signifique uma extensão de terra nada pequena, com uva e vinho a serem produzidos um pouco por toda ela, há três polos que se afirmam por características climáticas e orográficas marcadamente díspares que influenciam de maneira diferente os vinhos que nascem num sítio ou no outro. Por um lado, temos a zona junto à Serra da Arrábida, de solos de maior relevo (com altitudes que variam entre os 100 e os 500 metros), predominantemente argilo-calcários, zona essa que vai desde o Cabo Espichel até aos montes de Palmela, incluindo Sesimbra e Setúbal. Origina, de modo geral, vinhos tintos com maior acidez, frescura e elegância, e menos álcool. Por outro, as famosas “areias de Palmela”, o que na verdade é uma simplificação das planícies de solos arenosos que se estendem sobretudo por este concelho e até ao limite Este do Montijo. Esta é a área com mais vinha plantada, maiores amplitudes térmicas, e onde reina a uva Castelão. Os vinhos tintos que lá nascem costumam ser mais estruturados, potentes e concentrados, pois as uvas apanham mais sol e mais calor e os solos são menos férteis, mais pobres. Apesar de muita gente ficar por aqui quando o assunto são os terroirs da Península de Setúbal, há obviamente um terceiro (sem desprezar os micro-terroirs dispersos), que vai de Tróia para Sul, até ao final de Santiago do Cacém, onde o clima é mais quente e seco, mas onde o Oceano Atlântico tem bastante influência, oferecendo frescura às noites. Aqui já se encontram algumas manchas de xisto. É certo que os dois primeiros são aquilo que podemos considerar como os terroirs mais clássicos da Península de Setúbal, albergando a maioria das também mais clássicas (ou mais antigas) empresas da região — como José Maria da Fonseca, Bacalhôa, Adega de Palmela, Adega de Pegões, Quinta do Piloto, Venâncio da Costa Lima, Horácio Simões ou SIVIPA, entre outros — mas o terceiro é também muito importante: inclui em si produtores mais pequenos, alguns relativamente recentes, a fazer um belo trabalho — falamos de Herdade da Arcebispa, Herdade da Barrosinha, Quinta Brejinho da Costa, Herdade do Cebolal, Monte da Carochinha ou Herdade do Portocarro, entre outros — e é a zona com mais espaço e potencial para brotarem novos projectos.

Tintos Península SetúbalUma região em afirmação

A área de vinha total, inscrita na Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), está neste momento acima dos 7112 hectares e, segundo Henrique Soares, presidente da CVRPS, tem havido, nos últimos anos, um aumento da dimensão média das parcelas. Desta área de vinha, 75% é tinta, com a Castelão a representar quase metade do encepamento da região (mais de 3252 hectares), seguindo-se Syrah (473), Alicante Bouschet (309), Aragonez (289,55), Cabernet Sauvignon (258), Touriga Nacional (223), Trincadeira (163), Merlot (96), Touriga Franca (72), Moscatel Roxo (52,99), entre outras. Na última década, Syrah e Alicante Bouschet têm vindo a ser as tintas mais plantadas — provavelmente por serem uvas que permitem consistência nos factores rendimento/qualidade — bem como Moscatel Roxo, pela sua valorização. Já as Castelão, Aragonez e Trincadeira têm perdido expressão nos encepamentos, talvez por serem castas que, face a outras, não garantem tanta consistência face às variações climáticas anuais.

E se os vinhos da Península de Setúbal têm cada vez mais quota no mercado nacional (20 605 442 litros em 2020 face a 14 042 265 litros em 2016, apenas atrás do Alentejo, em volume), também é verdade que nos últimos dez anos a produção total da região aumentou em 166 278 hectolitros, dos 308 857 em 2011/12 para os 475 135 em 2020/21, com algumas oscilações pelo meio (dados de Abril de 2021, do Instituto da Vinha e do Vinho). No entanto, é bem mais impressionante o aumento da produção DO (Setúbal + Palmela) no mesmo período, tendo passado dos 86 072 hectolitros para os 207 283, incrementada sobretudo pelo crescimento da produção DO Palmela. A evolução da IG Península de Setúbal foi igualmente positiva, em 2020/21 com 228 548 hectolitros, face a 157 851 em 2011/12.

As exportações para o mercado intra-comunitário têm também registado um aumento anual, tanto em volume como em valor, fixando-se em 2020 nos 1 641 363 litros e acima dos 6 milhões de euros, com a Polónia, os Países Baixos e o Luxemburgo à cabeça da lista dos maiores importadores de vinho da Península de Setúbal. Já a exportação para países terceiros, alavancada pelo Brasil (sobretudo), Canadá e Reino Unido, foi de 4 534 976 litros em 2020, o que correspondeu a mais de 12 milhões de euros.

Vinhos que fazem sonhar

Nesta Grande Prova brilharam tintos de vários “cantos” da Península de Setúbal. À data de escrita do texto (durante a vindima) não foi fácil falar com os responsáveis pelos vinhos mais bem pontuados, mas todos acabaram por dedicar algum tempo à causa, o que muito agradecemos. António Saramago tem mais de 50 anos de enologia e é um dos maiores advogados da uva Castelão (todos os vinhos do seu portfólio a incluem), que integra em 100% o tinto António Saramago Superior. “Não é uma casta fácil de trabalhar, mas eu gosto de coisas difíceis. Para sair bem, temos de dar tudo de nós. Na minha opinião, os grandes vinhos da região serão sempre Castelão, é a nossa identidade e não podemos fugir dela!”, afirmou. Este vinho foi feito numa cuba pequena e estagiou em barrica nova, de tosta média, durante 18 meses. Depois, ficou em cuba mais 6 e, em garrafa, mais de 4 anos. Vasco Penha Garcia, coordenador de enologia da Bacalhôa, é da opinião de que se encontra o maior equilíbrio nos solos de transição franco-arenosos. E é precisamente na zona de transição das colinas da Arrábida — com forte influência do mar, maiores amplitudes térmicas durante o período de maturação e exposição Norte — que estão localizadas as vinhas da Quinta da Bacalhôa, zona que o enólogo acredita ser “capaz de produzir vinhos de Cabernet Sauvignon, e Merlot, de classe mundial”. O Quinta da Bacalhôa Cabernet Sauvignon 2016 é, na sua opinião “das melhores colheitas desta marca que existe desde 1979”. Com 10% de Merlot, foi sujeito a macerações longas, fermentativas e pós-fermentativas, e a um estágio de 13 meses em carvalho francês e de 6 em garrafa. Já o Hexagon teve a sua primeira colheita em 2000 e, segundo Domingos Soares Franco, vice-presidente e enólogo da José Maria da Fonseca, “foi um produto de experimentação de castas e da sua longevidade, que demorou 12 anos a apurar”. Domingos contou: “Quis fazer um desafio a mim próprio, um vinho com 8 castas, mas não saiu como eu queria. Deitei uma fora, Castelão, ficaram 7, e mesmo assim não deu. Deitei outra fora, o Aragonez, ficaram 6 e cheguei ao resultado pretendido. É por isso que o vinho se chama Hexagon, e não por sermos a sexta geração da família, como por vezes é interpretado. Este 2015 é já muito diferente dos primeiros, porque nós, enquanto pessoas, também vamos evoluindo com os anos. Hoje é um vinho com menos madeira, menos álcool e mais elegância, que é actualmente o meu conceito de vinhos”. O lote de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Trincadeira, Syrah e Tannat — provenientes de solos arenosos e calcários, pois Domingos considera que é na mistura dos dois que está o maior equilíbrio — vinificou em lagar de inox e acabou a fermentação em barricas de carvalho, onde ficou em borras finas durante 3 meses, com bâtonnage. O estágio deu-se durante 10 meses em meias pipas novas de carvalho francês.

Já o Quinta do Monte Alegre Homenagem Grande Reserva é feito por André Santos Pereira, e revelou-se uma excelente surpresa. Também fã de Castelão — com uma queda mais recente para a Touriga Nacional, confessou o enólogo — considera que um dos factores mais importantes dos vinhos da casta é, quando muito bons, a grande capacidade de envelhecimento em garrafa. “Este vinho reflecte o nosso propósito de homenagear as vinhas velhas de Castelão que ainda persistem, muitas vezes por mera teimosia de quem as cuida e pelo afecto que se cria ao longo dos anos. É um vinho de uma vinha só, plantada pelo meu avô há cerca de 45 anos, em chão de areia e com produções baixíssimas.”, explicou. Fermentou em lagar de inox “com remontagens manuais durante quase toda a fermentação, recriando a vinificação tradicional, mas com recurso a controlo de temperatura”. Depois da maceração pós-fermentativa, terminou a maloláctica em barricas novas e nelas estagiou por 12 meses. Em garrafa, ficou 24 meses antes de sair para o mercado. Por sua vez, Jaime Quendera, enólogo consultor da Casa Ermelinda Freitas (e da Adega de Pegões), aponta a abundância de horas de sol e a proximidade ao mar como dois trunfos que fazem maravilhas pelos tintos da região, “juntamente com a tradição e ‘saber fazer’ existente na Península de Setúbal, que leva à produção de uvas de grande qualidade e, consequentemente, a vinhos de grande qualidade “. O tinto Dona Ermelinda Grande Reserva “surgiu da ideia de fazer um grande vinho, produzido apenas nos melhores anos, mas sem Castelão, para não conflituar com o outro topo de gama da casa, o Leo d’Honor, que é feito exclusivamente com esta casta”, lembrou Jaime Quendera. Assim, surgiu um lote de Touriga Nacional, Touriga Franca, Aragonez, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Syrah, vinificadas e estagiadas (em barrricas) separadamente. Por último, mas não em último lugar, Luís Mota Capitão, enólogo e cara actual da Herdade do Cebolal, falou-nos do Lufinha 100/10, um tinto com muita personalidade. Devido à localização da Herdade, na zona Sul da região, em Santiago do Cacém, Luís elege não só a Castelão como sua favorita, “a casta-mãe da região com provas dadas nas últimas gerações”, mas também Alicante Bouschet, que diz ser “ideal para a região da ‘Costa Alentejana’, onde encontramos uma maior diversidade de solos e climas, que favorecem as maturações fenólicas”. A vinha que dá origem a este tinto encontra-se a 9 quilómetros da praia de Porto Covo, em solos argilo-calcários e argilo-xistosos proporcionados pela “proximidade da Serra de Santiago do Cacém e da Serra do Cercal”. O nome do vinho, Lufinha 100/10, suscita curiosidade e tem uma explicação bem interessante: “Este vinho vem fazer a ponte entre passado e presente: o 100 representa o centenário do nascimento do meu avô, António Lufinha, e o 10 refere-se aos meus 10 anos de vitivinicultura. O símbolo labiríntico circular, presente no rótulo, é uma alusão à Pedra de Lufinha, testemunho neolítico encontrado na Serra do Caramulo. Associamos esta pedra à parte holística da nossa família e à filosofia do nosso trabalho agrícola”, desenvolveu o enólogo. As castas plantadas pelo avô António — Castelão, Alicante Bouschet, Aragonez e Cabernet Sauvignon — vinificaram em lagares antigos com pisa tradicional, e estagiaram durante 42 meses em barricas de carvalho francês.

Quase 30 tintos da Península de Setúbal foram aqui provados e confrontados, e, a par da tipicidade de cada um e das diferentes origens, há um denominador comum à maioria: são tintos complexos, estruturados e acima de tudo muito harmoniosos e suculentos, com o poder de nos deixar a pedir… “mais tinto, por favor”.

(Artigo publicado na edição de Outubro 2021)[/vc_column_text][vc_column_text]

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Poejo d’Algures: Os vinhos da garrafeira Néctar das Avenidas

Garrafeira Néctar Avenidas

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Texto: Nuno de Oliveira Garcia

Fotos: Néctar das Avenidas

A garrafeira lisboeta Néctar das Avenidas já mereceu atenção da nossa revista anteriormente, tendo mesmo sido destacada com o prémio Garrafeira do Ano. O projeto, sempre sito no bairro das Avenidas Novas (daí o nome e a referência a “avenidas”) em Lisboa, foi inaugurado em 2011, tendo mudado uma vez de lugar, apenas para poucas dezenas de metros de distância, agora na Rua Pinheiro Chagas 50.  Fica numa esquina com o troço final da Avenida Luís Bívar (quase antes de se tornar Marquês de Tomar) e basta entrar na loja para, repentinamente, nos apercebemos de que estamos numa garrafeira ligeiramente diferente de tantas outras. Mais do que Douro e Alentejo, são as estantes com vinhos dedicados à Bairrada e ao Dão que se impõem ao olhar. Dir-se-ia que é uma preferência dos sócios (eles não confirmam, todavia sabemos ser verdade), mas somos informados que o público fiel da casa opta mesmo por aquelas duas regiões do Centro do país. As outras regiões estão, obviamente, presentes, e nota-se uma seleção criteriosa dos produtores e vinhos à venda. Ora, a par de uma especial atenção a vinhos mais velhos, e a alguns produtos originais dos Açores (que não apenas vinhos), há algo mais que nos capta a visão… Uma marca que desconhecíamos, de nome Poejo.

Trata-se, afinal, de uma marca criada pelos sócios Pedro Garcia e João Quintela, sendo que a palavra “poejo”, para além de retratar a conhecida cespitosa, funciona como um falso acrónimo formado pela junção de algumas das primeiras letras dos fundadores. O impulso de começar a desafiar alguns produtores a fazerem lotes especialmente para serem vendidos na loja começou em 2012 e, segundo nos dizem, todos os produtores que foram abordados para o efeito aceitaram de imediato. Ambos os sócios do projeto têm como lema principal “se não vendermos os vinhos, bebemo-los nós”, o que, bem vistas as coisas e perante a qualidade dos vinhos, é uma ótima ideia! Para evitar problemas de marcas e de propriedade intelectual, dada a utilização comum da erva poejo na gastronomia e em produtos alimentares, a versão final do nome/marca ficou Poejo d’Algures embora, quer a imagem dos rótulos, quer a gíria de quem o pede, privilegie apenas a referência a Poejo. A ideia fecundadora terá surgido pelo desejo de Pedro Garcia, que nos diz gostar “de fazer marcas”, em ter uma marca própria, sendo que o proprietário acumula ainda as tarefas burocráticas e de design gráfico. João Quintela – enófilo conhecedor e colecionista – concordou com a ideia, e ajuda na seleção dos produtores e na escolha dos lotes finais. Conhecendo os dotes de prova do João, imagino que o faça sem grande dificuldade e com muita alegria. De alguma forma, o projeto Poejo nasceu de forma independente da loja, mas está a ela inevitavelmente ligado por ser o seu único posto de venda. A imagem da marca (se é que assim se pode dizer de uma marca com tantas variáveis) é, efetivamente, a excelência dos produtores e enólogos escolhidos, o que se deve, estamos certos, à experiência de ambos os sócios no mundo do vinho. Aliás, em vários casos o produtor ou o enólogo escolhidos foram já premiados pela nossa revista como Melhores do Ano, sendo que a maioria dos preços dos vinhos que foram lançados se encontra no intervalo entre 9 e 19 euros, valores acessíveis perante a qualidade geral. Tivemos a oportunidade de provar todos os vinhos, e fazemos de seguida um périplo cuja ordem assenta na cronologia dos lançamentos.

Garrafeira Néctar Avenidas

Em julho de 2014 foi lançado o primeiro vinho: um branco da região do Alentejo, produzido em Estremoz por Margarida Cabaço (Monte dos Cabaços) com enologia de Susana Esteban. A colheita de 2012 rapidamente esgotou sendo lançada de seguida a colheita de 2013, com sucesso repetido. Motivados com o sucesso da estreia, uma segunda fase do projeto surgiu em outubro de 2014 e contou com dois tintos do Douro Superior, ambos produzidos pelo produtor Vinilourenço, com enologia de Virgílio Loureiro: um Reserva de 2011 feito com castas tradicionais da região – muito Douro, esteva, fruto negro, leve rusticidade (16,5) – e um Grande Reserva 2011 feito apenas com a casta Sousão – surpreende pela elegância, vivo e especiado (17,5).

Um ano volvido, é lançado um vinho tinto da colheita 2013 produzido também na região do Douro, mas agora pelas mãos de Sandra Tavares da Silva e de Jorge Serôdio, a dupla da Wine&Soul – fruto bonito e elegante com ótima frescura e evolução (17,5). No mesmo mês foi lançado outro tinto de 2013, desta vez da Região de Lisboa, produzido na Quinta de Chocapalha – fruto encarnado, tanino vivo, leve doçura frutada (16,5) e, em setembro de 2016, Pedro e João regressaram ao Alentejo e lançaram um novo tinto, da colheita de 2011, novamente com enologia de Susana Esteban, produzido no Monte dos Cabaços – fruto encarnado, vegetal seco, ameixa (16,5).

Pouco tempo volvido, chegou a vez de ambos os sócios viajarem até à Serra da Estrela, região do Dão, onde produziram dois novos vinhos brancos mais uma vez com enólogo e produtor premiados, Paulo Nunes da Casa da Passarella (Abrigo da Passarela); um de lote com as castas brancas tradicionais – mineral e ervas frescas no nariz, lácteo e potente em boca (16,5) – e outro só Encruzado, sem barrica – fresco e preciso (17).

Mais uma vez os vinhos esgotaram depressa e dois novos vinhos do Dão foram gizados, desta vez da casta tinta Jaen, um “rótulo branco” – fruto encarnado e especiaria, guloso e bonito (16,5) – e um “rótulo azul” – mais estágio, afinado e fresco (17) – ambos também de colheita de 2015, e ambos a mostrarem boa evolução (contrariando algum estigma que a casta a este respeito sofre).

Em outubro de 2017, chega uma nova edição duriense da dupla Jorge Serôdio e Sandra Tavares da Silva, da colheita de 2014, vinho que estabeleceu um novo recorde de vendas, tendo ficado esgotado ainda antes do Natal desse mesmo ano – Tourigas Nacional e Franca e Tinta Roriz, fruto silvestre e final explosivo (17). Em 2018 são lançados dois tintos de 2015 de Lisboa, produzidos pela Quinta de Chocapalha – ambos bons, mas a merecer destaque a segunda edição que junta duas barricas de Syrah e uma de Touriga Nacional, jovem e profundo (17,5).

No final de outubro de 2020, pela primeira vez, é lançado um Vinho Verde Alvarinho com lote de vários anos – colheitas de 2016, 2017 e 2018, metade com curtimenta completa, e barrica de 400 litros: perfil barroco, salino e floral doce, muito interessante – produzido pela Provam, com enologia de Abel Codesso, ainda à venda. Aproveitando a cada vez maior adesão a brancos por parte dos clientes da garrafeira, foi lançado, seguidamente, mais um vinho branco, agora da colheita de 2019 e produzido novamente na Quinta de Chocapalha – Viosinho e Arinto, com salinidade e acidez integrada (16,5).

O último vinho a ser lançado, e dos melhores (diga-se) marca um regresso ao Douro, mais concretamente à Wine&Soul, um tinto de vinhas velhas novamente de colheita de 2014, mas desta feita Reserva – fresco e elegante, com fantástica evolução, longo e saboroso em boca, e tudo isto com apenas 12% de álcool, também disponível para compra.

Garrafeira Néctar Avenidas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Artigo publicado na edição de Outubro 2021)[/vc_column_text][vc_column_text][/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”default”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/3″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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Grande Prova – Bairrada Região de brancos, yes sir!

Grande Prova Bairrada

Estrutura, personalidade, equilíbrio, enorme longevidade. São (também) estas as características dos vinhos que fazem da Bairrada uma grande região de brancos. Mas há muito mais para dizer sobre isso… TEXTO Mariana Lopes FOTOS Ricardo Palma Veiga A percepção da maioria dos consumidores é de que a Bairrada é uma região de grandes tintos — sobretudo […]

Estrutura, personalidade, equilíbrio, enorme longevidade. São (também) estas as características dos vinhos que fazem da Bairrada uma grande região de brancos. Mas há muito mais para dizer sobre isso…

TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Ricardo Palma Veiga

A percepção da maioria dos consumidores é de que a Bairrada é uma região de grandes tintos — sobretudo Baga — e de grandes espumantes. E é, quanto a isso, nada a acrescentar. Mas os brancos… os brancos são qualquer coisa de muito especial. Embora a desvalorização dos brancos face aos tintos atravesse todo o país, quem está do lado da produção na Bairrada sabe bem que é mais difícil ou, pelo menos, mais irregular, atingir a magnificência nos tintos, mesmo tendo as uvas tintas ainda bastante mais encepamento, actualmente na ordem dos 63% (as brancas têm vindo a ganhar terreno, mas sem pressas). E isso deve-se à fragilidade e temperamento da casta Baga, que amadurece tarde e está dependente de condições de solo, exposição solar e clima quase perfeitas e muito específicas para aportar todo o seu esplendor. Já as principais uvas brancas utilizadas na Bairrada oferecem uma (con)sensualidade que é, aqui, difícil de bater.

Por ordem decrescente de encepamento, Maria Gomes, Arinto, Sauvignon Blanc, Bical e Cercial são as uvas que integram com mais frequência os brancos da Bairrada, a solo ou em lote, grupo onde ocasionalmente se insere a Viognier e a Chardonnay, esta também tradicional na região, mas muito vocacionada para espumantes. Segundo os últimos dados da Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), Sauvignon Blanc e Arinto têm vindo a ganhar expressão — esta última, fruto da sua utilização em bases de espumante — bem como a Cercial, embora mais tranquilamente. Já a Bical tem revelado, infelizmente, um decréscimo nos vinhedos. Muito relevante para a caracterização da região é o facto de, nos anos 60 e 70, as uvas brancas terem sido quase exclusivamente plantadas na Bairrada em “field blend”, misturadas na vinha entre as tintas, acima de tudo para dar estrutura e elevar o álcool dos tintos. Isto foi, sem dúvida, um factor que influenciou largamente a interpretação da Bairrada como região tradicionalmente de tintos. Segundo Pedro Soares, presidente da CVB, vinificar as brancas em separado era, nesta altura, residual, e muitos dos vinhos brancos que se elaboravam tinham como destino a produção de espumante. “Há não muito tempo, na Bairrada, dizia-se que o branco era ‘aquele vinho que se bebe quando não há tinto’.”, lembra, e acrescenta que “por outro lado, algumas das marcas de referência de vinhos tintos do país eram precisamente de casas bairradinas, e mesmo outras, de fora da região, vinham aqui adquirir vinho a granel que engarrafavam com a sua própria marca”.

Grande Prova BairradaCom dois tipos de solo principais, argilo-calcários e franco-arenosos, verticalmente a Bairrada começa em Águeda e acaba em Coimbra, estende-se desde a linha costeira para o interior, até às serras do Buçaco e do Caramulo. Região de minifúndio, a sua dimensão média de vinha bate apenas no meio hectare, em parcelas dispersas, que vivem sob um clima atlântico temperado, com Invernos frios e chuvosos e Verões moderadamente quentes, suavizados pelos ventos vindos do mar e pelas grandes amplitudes térmicas, sendo muito frequentes as noites frescas. É uma região sem barreiras orográficas a oeste, o que estende “passadeira vermelha” à forte influência marítima, que por isso se sente em toda a região e que até a nível visual é possível de verificar: é muito característica a imagem mística (e misteriosa) das vinhas bairradinas, sobretudo na zona de Cantanhede, com um manto de nevoeiro matinal vindo do mar. Tudo isto influencia o DNA dos brancos da Bairrada e lhes dá uma personalidade altamente vincada, provando que as condições para a criação de brancos de topo estiveram sempre lá. Mas o que constituiu o pontapé de saída que nos trouxe até eles? Pedro Soares refere que “terá sido decisivo um quadro comunitário que permitiu investimentos em tecnologia, o replantio de vinhas exclusivamente para uvas brancas e, não menos importante, o nível dos recursos humanos. Algo que não correu tão bem assim para as uvas tintas, acabou por ser determinante para a qualidade das brancas e, consequentemente, para os vinhos”.

Quem sabe, sabe…

 Os 24 vinhos desta Grande Prova atestam tudo isto, e ao conversar com quem “suja as mãos” e os produz, ficamos a perceber ainda melhor de onde vem a excelência em tons de branco. Luís Pato sempre afirmou, peremptoriamente, que a Bairrada é uma região de grandes brancos. “Quando se tem uma acidez natural excelente, solos argilo-calcários e arenosos, e noites frias mesmo em Agosto, altura em que chega a haver uma diferença de 20 graus do dia para a noite…”, comenta o produtor. Pedro Guilherme Andrade, enólogo criador em nome próprio do vinho Trabuca, reforça, referindo que estes mesmos factores aliam “o poder e o volume dos vinhos à frescura natural”. Já António Braga, enólogo da Sogrape e autor do Série Ímpar Sercialinho, também aponta as amplitudes térmicas como essenciais e explica que “a componente argilo-calcária assegura um equilíbrio entre a retenção de água e a estrutura do solo” e que “estas condições promovem um ciclo de maturação longo, uma boa preservação de acidez e a construção de uma dimensão aromática ao nível das grandes regiões de vinho branco do Mundo”. Por sua vez, João Póvoa, produtor dos vinhos Kompassus (aqui com o estrondoso Private Collection 2016), indica exactamente os mesmos argumentos dos enólogos e acrescenta as manhãs bem frescas que se fazem sentir na Bairrada, especificamente na região de Cantanhede, onde estão as suas vinhas: “Cantanhede está muito perto de Coimbra, mas a temperatura é cerca de 3 graus mais baixa do que nesta cidade. Além disso, desde 2017, ano em que os incêndios destruíram a barreira de pinhal que tínhamos entre esta zona e a costa, que temos manhãs ainda mais frescas e com ainda mais nevoeiro vindo do mar”. Quanto à extraordinária capacidade que os brancos da Bairrada têm em perdurar no tempo e em envelhecer com enorme classe em garrafa — algo demonstrado pelos vinhos em prova mas, ainda de forma mais flagrante, pelos brancos com várias décadas de idade de grandes casas da Bairrada, como os das Caves S. João, por exemplo — António Braga esclarece o segredo reside na estrutura ácida e recorda que “a vinificação historicamente utilizada, uma vez sendo mais extractiva, promove uma componente fenólica que, ao longo do envelhecimento, se mostra indispensável como elemento estruturante”.

Outro denominador comum nestes vinhos, e factor altamente diferenciador, é o álcool moderado que apresentam. Frequentemente, noutras regiões mais quentes do país, obter um grau alcóolico mais baixo e maior acidez significa colher as uvas mais cedo, o que pode retirar outros componentes importantes como a estrutura e a complexidade aromática, ou seja, os melhores vinhos dessas regiões não têm necessariamente o álcool mais baixo. Na Bairrada, consegue-se o “melhor de dois mundos”, com a maior parte destes grandes brancos a ostentar números na ordem dos 12%/12,5%/13%. Todos os produtores e enólogos com quem falámos referem a maturação longa e suave, conseguida pelo binómio solo/clima, como a grande “culpada”, e Pedro Andrade desenvolve: “Na Bairrada, fazendo um bom controlo da uva na vinha, não somos surpreendidos tão facilmente como em outras regiões, onde, de um dia para o outro, o grau alcoólico provável dispara e consequentemente a acidez total baixa. Neste capítulo conseguimos naturalmente arranjar um excelente equilíbrio grau/acidez, o que faz com que os vinhos brancos da região sejam únicos nesse aspecto”. Em linguagem mais técnica, António Braga explica que, na Bairrada, “a curva de acumulação de açúcares apresenta um desfasamento com o surgimento dos precursores aromáticos e, dessa forma, consegue-se alcançar um perfil de maior expressão com um álcool potencial relativamente baixo e equilibrado”.

Grande Prova BairradaVinhos de classe mundial

Arinto e Cercial é o lote do Kompassus Private Collection branco 2016, o vinho vencedor desta Grande Prova. João Póvoa, que admite ter a Cercial como sua paixão, conta que este vinho nasce de vindima manual com escolha de cachos, desengace, e maceração na prensa de 8 a 12 horas. Depois, é feita uma leve prensagem e a Arinto faz a primeira fermentação em inox, acabando em barricas novas de 400 litros. Já a Cercial, fermenta totalmente em barrica usada. Ambos os vinhos permanecem 10 meses nas barricas e juntam-se apenas 10 dias antes do engarrafamento. O lote finaliza com estágio de 4 anos em garrafa. “Estamos cada vez mais a aumentar o formato das barricas dos brancos. Começámos com 300 litros, passámos pelos 400 e, em breve, iremos para os 600, sempre com tosta ligeira, para obter uma evolução ainda mais lenta no vinho”, adianta João Póvoa.

O Série Ímpar Sercialinho, da Sogrape (segundo mais bem classificado, ao lado do Trabuca), surgiu de um desafio que o presidente da empresa, Fernando Cunha Guedes, fez à sua equipa de enologia, pedindo-lhe que desse largas à criatividade e explorasse novos caminhos, regiões e castas, para fazer vinhos originais. “Para mim, foi o pretexto ideal para vinificar separadamente o quase extinto Sercialinho, plantado na nossa vinha de Pedralvites”, confessa António Braga. Esta casta é actualmente rara e, que se saiba, apenas a Sogrape e Luís Pato a detêm nas suas vinhas, na Bairrada. “Sercialinho, pela originalidade que representa no encepamento nacional, pareceu-me a escolha óbvia para voltar a incluir a Bairrada na ‘rota’ da Sogrape, sobretudo alavancada por um projecto altamente motivador como é a Série Ímpar. Esta é uma casta proveniente de um cruzamento feito pelo Eng. Leão Ferreira de Almeida nos anos 50. Em termos vitícolas, apresenta algumas dificuldades, como sensibilidade a doenças fúngicas e alta sensibilidade ao stress térmico. Na adega, tem uma componente aromática escondida e tensa, sobretudo enquanto vinho jovem, evoluindo mais tarde para uma complexidade difícil de igualar”, afirma o enólogo da Sogrape. O Série Ímpar Sercialinho 2017 fermentou e estagiou em barricas de 500 litros, com bâtonnage.

Pedro Andrade tem a Bical como uma das suas castas favoritas para brancos e foi essa que elegeu para criar um vinho que, segundo o próprio, tem o objectivo de recriar um branco de 1980 feito pelo seu avô, um vinho ”com bom volume de boca, uma persistência incrível e uma frescura inigualável”. O Trabuca Bical 2018 — do qual nasceram apenas 450 garrafas de 0,75cl (mais 30 Magnum) — vinifica em lagar aberto, sem desengace, com pisa a pé, e fermenta cerca de 6 dias no lagar antes de ir para depósito em inox, onde estagia durante o Inverno. Na Primavera, é trasfegado para barricas de 225 litros de carvalho francês, novas e usadas, onde fica durante 6 meses. E a parte mais original é que, depois disso, o vinho volta para o inox e lá passa mais um Inverno e Primavera, sendo engarrafado no início do Verão. O estágio em garrafa é de 12 meses. “A minha tendência é usar cada vez menos madeira nos vinhos, no entanto, todos os grandes brancos do Mundo passam em madeira. Temos de arranjar o equilíbrio necessário, para que, ao invés do que o que provamos seja adulterado pelo excesso de madeira, ela apenas confira complexidade e elegância”, expõe Pedro Andrade.

Havendo mais espaço, a vontade era falar ao pormenor sobre os 24 excelentes vinhos que aqui temos. Não sendo possível, resta dizer que quem pisa as terras bairradinas, quer seja porque lá nasceu ou porque foi para lá fazer vinho, sabe bem do que a região é capaz: brancos eternos, inesquecíveis, únicos. Nós também sabemos. Agora, só falta o Mundo saber.

(Artigo publicado na edição de Setembro 2021)

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Lisboa é nome de (muito bom) tinto

Grande Prova Tintos Lisboa

Bastaria o nome para, a nível internacional, Lisboa ser a zona vitivinícola mais inequivocamente associada a Portugal. Juntando a isso, na última década e meia, os vinhos de Lisboa criaram um modelo de negócio de enorme sucesso, assente em bons vinhos a bom preço, transformando a região na maior exportadora relativa do país (vinho do […]

Bastaria o nome para, a nível internacional, Lisboa ser a zona vitivinícola mais inequivocamente associada a Portugal. Juntando a isso, na última década e meia, os vinhos de Lisboa criaram um modelo de negócio de enorme sucesso, assente em bons vinhos a bom preço, transformando a região na maior exportadora relativa do país (vinho do Porto à parte). Mas Lisboa é bem mais do que isso. Diversidade de solos, castas e clima associam-se ao factor humano para fazer nascer vinhos de primeira grandeza. Como é o caso dos tintos que provámos.

Texto: Valéria Zeferino e Luís Antunes

Notas de Prova: Luís Antunes

 A região de Lisboa começa a partir da capital e estende-se quase 140 km para Norte até Pombal. Em toda a sua extensão é delimitada pelo oceano Atlântico, ocupando em largura entre 20 e 40 km. Pela posição geográfica, a influência Atlântica é a principal “feature” da região, perdendo ligeiramente a sua força à medida que se afasta da orla marítima.

O clima apresenta características da transição entre o Atlântico e o Mediterrânico.  A Serra de Montejunto situada a cerca de 20 km da costa Atlântica, com orientação Noroeste-Sudeste, marca a divisão em parte norte e sul da região, impedindo a progressão das massas de ar marítima. A Noroeste as massas de ar húmido e frio, provenientes do oceano contribuem para a formação de densas neblinas; a Sudeste, ao abrigo dos ventos, com maior exposição solar e menos precipitação, as condições são mais quentes e secas. Até o tipo de vegetação muda de semelhante à da Europa Central para o coberto vegetal mais esparso e rasteiro típico do Mediterrânio.

Os níveis de humidade variam em função da proximidade do mar e orografia. Assim, o clima em Óbidos e Encostas d’Aire é considerado húmido; em Bucelas, Carcavelos, Colares e Torres Vedras – sub-húmido chuvoso; e em Alenquer e Arruda – sub-húmido seco, sendo esta uma zona de tintos por excelência.

Os solos ao longo da região também apresentam grande variedade. A Norte, as vinhas estão assentes no maciço calcário ao longo das encostas das serras de Sicó, Aire e Candeeiros, onde o terreno é formado por ondulações relativamente suaves. Nos vales, assim formados, os solos são bastante mais férteis. Mais a Sul, na zona de Bombarral, Cadaval e Caldas de Rainha variam de calcários aos argilo-calcários. Na zona litoral à volta de Óbidos, Peniche, Lourinhã, encontram-se arenitos, argilas e margas de elevada fertilidade. Em Alenquer e Arruda os solos são predominantemente argilo-calcários e em Bucelas derivados de margas e calcários duros. Carcavelos está assente em solos de formação calcárea e não podemos esquecer o famoso chão de areia de Colares. Assim, olhando para a localização da propriedade é relativamente fácil fazer a leitura das condições climatéricas que acompanham o ciclo vegetativo.

Tiago Correia, da equipa de enologia da Quinta do Gradil, localizada a 18 km do mar no lado norte do sopé da Serra de Montejunto, conta que de manhã há sempre humidade, que desaparece durante o dia. Em comparação, na Quinta do Rol, em Lourinhã ou em São Mamede da Ventosa a cerca de 8 km do mar, há dias de verão em que o sol não aparece.

Sandra Tavares da Silva, responsável pela enologia do projecto familiar na Quinta da Chocapalha em Alenquer (do outro lado da Serra de Montejunto) refere que naquela zona a influência Atlântica nota-se, mas não é “cáustica”. No verão, pode-se falar da clássica brisa marítima suave que até às 10h da manhã faz desaparecer as orvalhadas matinais.

A história é diferente em Torres Vedras, com exposição quase directa ao Atlântico. Os dias de amadurecimento das uvas são mais amenos e nas noites sente-se a frescura marítima. O enólogo da Adega Mãe, Diogo Lopes, nota a diferença em temperatura, por exemplo, desde a saída de Lisboa, com 30˚C, até chegar à adega já com 22-23˚C. É por isso que, para a produção de vinhos tintos, a Adega Mãe explora a Quinta de Dom Carlos em Alenquer.

Grande Prova tintos LisboaVinhas e castas

 Segundo os dados do Instituto da Vinha e do Vinho, a área de vinha da região de Lisboa ocupa 17 989 ha e, pela informação da CVR Lisboa, 10 000 ha correspondem à vinha certificada, apta a produzir uvas para vinhos DO e IG. Este valor mantém-se estável, mas com tendência para crescer, sendo a Região de Lisboa uma das que mais candidaturas tem apresentado para a plantação de novas vinhas. Estes 10 mil hectares são explorados por 2 mil viticultores o que dá uma área média por viticultor de 5 hectares, muito superior à média nacional.

O vinho tinto predomina na região com 75%, deixando 20% para branco e 5% para rosé. Em termos de diversidade varietal, se desconsiderar a Caladoc, utilizada maoiritariamente para vinhos sem denominação de origem, as castas com maior expressão são Castelão, Syrah, Aragonez/Tinta Roriz, Alicante Bouschet e Touriga Nacional. Sandra Tavares da Silva não hesita em afirmar que a Castelão sempre foi aposta da Quinta da Cocapalha, mas é preciso ter paciência. Está numa parcela virada à norte, produzindo vinhos com menos densidade e mais frescura.

Diogo Lopes confessa que hoje dá mais atenção a Castelão do que no início do projecto Adega Mãe. Gosta da sua acidez franca e fruta vermelha. Em parcelas certas com boa exposição e tendo em conta as alterações climáticas é uma opção interessante. Deve-se é evitar a tentação de extrair demais, procurando a sua originalidade e elegância.

Tiago Correia adianta que, no caso de Castelão, é preciso saber trabalhar com os clones certos.

A Tinta Roriz mostra-se bastante bem, mas nem todos os anos. “Dá grandes alegrias, mas também anos com dificuldade de amadurecer; mas é muito boa nos rosés”, – diz Tiago; e Sandra Tavares refere que a casta é extremamente sensível ao stress hídrico, mas em solos argilo-calcários profundos, virada a poente, consegue maturação suave e longa.

Com Alicante Bouschet conseguem-se bons resultados, mas, segundo Tiago Correia, precisa de gestão de produção muito cuidada, começando pela poda de inverno curta para controlar a rebentação, desladroamento a tempo, e monda de cachos ao pintor, se for preciso. A partir dos 8-9 toneladas perde completamente a identidade, acrescenta. No que toca a Touriga Nacional, é fácil de reconhecer o seu carácter, com descritores aromáticos bem presentes, mas às vezes pode faltar-lhe a maturação fenólica e corpo; não é homogénea, conclui Tiago.

Já Sandra Tavares gosta muito da sua experiência com Touriga Nacional, cujas varas trouxeram de Nelas. Dá vinhos com boa concentração, frescura e densidade. Surpreendentemente bem, deu-se na zona de Alenquer, a Touriga Franca. Foi difícil encontrar solos certos, pois fica melhor em terrenos mais pobres e com inclinação. Também é mais sensível à humidade, precisa de zonas bem arejadas e controlo do vigor. Mas segundo Sandra, o resultado vale a pena o esforço.

Já a variedade Ramisco, não tendo muita expressão em termos da área plantada, tem a sua importância, porque não existe em mais lado nenhum do país e no binómio com Colares origina vinhos de carácter único que ultimamente estão a gozar um merecido renascimento.

Algumas castas estrangeiras são populares na região a contribuir para uma diversidade de estilos, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot. A experiência com Tannat na Quinta do Gradil é um caso de sucesso. O Pinot Noir também aparece na região e consegue amadurecer de forma equilibrada em zonas onde, normalmente, são plantadas castas brancas.

Grande Prova tintos LisboaDe Lisboa para o mundo

 Segundo a informação da CVR Lisboa, as vendas anuais da região rondam os 65 milhões de garrafas. Este valor duplicou nos últimos 5 anos, sendo esta a região que mais cresceu neste período em termos absolutos. Em volume de vendas, é actualmente a 4ª maior região depois de Alentejo, Vinho Verde e Douro (sem Porto). Em 2020 o crescimento em vendas representou 17% (cerca de mais 10 milhões de garrafas). Nos vinhos não licorosos, Lisboa representa 14% das vendas totais de vinhos certificados, por comparação com o Alentejo, que detém cerca de 22%.

Mas o mais impressionante é que 80% do total de vendas da região de Lisboa corresponde à exportação para cerca de 100 destinos. Tirando o Vinho do Porto, é a região que mais exporta em percentagem do total das suas vendas. Nos últimos 5 anos, Lisboa foi responsável por 33% do crescimento das exportações de vinhos certificados ou seja, olhando apenas para o volume adicional das exportações nestes 5 anos, 1 em 3 garrafas exportadas foi de Lisboa. E para onde vai todo este vinho? Dentro da União Europeia, os principais mercados são Polónia e Países Escandinavos. No resto do mundo avultam os Estados Unidos, Rússia, Canadá, Brasil e Austrália.

Os grandes tintos de Lisboa

Em prova, a região mostra uma grande vitalidade neste segmento de topo, aparecendo vinhos de grande qualidade e também de preços altos. Os preços altos são um pau de dois gumes, se nós consumidores preferimos galinha gorda por pouco dinheiro, os produtores precisam de receitas e boas margens para assegurar a sustentabilidade dos seus projectos, e os preços altos são sempre indicador de sucesso e prestígio. Para uma região andar para a frente, é sempre preciso haver vinhos icónicos que lideram e fazem subir a ambição geral. Impressiona ainda a grande variedade de estilos, de castas, de combinações. Temos de ter em atenção que mudar uma vinha é sempre um projecto a longo prazo. Constatamos assim que estas apostas começaram já há muito tempo, e temos agora o resultado dessa experimentação na vinha, a que se segue experimentação na adega, e finalmente a adesão do público que pode ou não validar as apostas. Vemos assim castas trazidas do Douro e do Alentejo, outras de França, pensamos que numa tentativa (conseguida!) de recuperar algum do atraso que Lisboa leva junto da opinião pública, em relação a outras regiões mais populares. Vemos ainda uma gama variada de estilos, desde vinhos mais frescos e leves a vinhos mais concentrados, desde vinhos mais pálidos a vinhos totalmente opacos. Nota-se igualmente um pouco de indefinição de estilo, dentro de alguns produtores, com tintos de Castelão de cor estranhamente carregada, ou vinhos atlânticos com algum peso alcoólico, ou ainda vinhos com alguma idade que já terão passado os melhores dias. Ainda do lado da diversidade de estilo, aqui com traços bem positivos, vemos vinhos extremamente bem desenhados, por exemplo baseados em Syrah mas não só, com apelo e sedução imediatos, vemos o renascimento da Ramisco como uma grande casta com carácter saudoso único, a ser finalmente feito com enologia moderna que lhe dá afabilidade sem desvirtuar esse carácter, vemos ainda vinhos que já venceram a prova do tempo, com enorme qualidade e encanto, mas que se apresentam ainda prontos para durar muitos anos mais.

E nas recomendações gastronómicas que acompanham por vezes as notas de prova, vemos que estes vinhos são versáteis e amigos da mesa. Há excelência nos tintos de Lisboa, há belíssimas relações qualidade-preço, há a história de uma região com história, que agora se agrupa em torno de um nome, sem esquecer o seu passado se aponta para o futuro. Bravo!

(Artigo publicado na edição de Agosto 2021)[/vc_column_text][vc_column_text]

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Quinta da Extrema: Vinhos de fronteira

Quinta da Extrema

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Texto: João Paulo Martins
Fotos: Colinas do Douro

Quando se fala em zona fronteiriça entre Douro e Beira Interior, o que está em causa não são altitudes ou climas diversos. O que verdadeiramente separa as duas regiões é o solo. O xistoso Douro dá lugar à granítica Beira e isso faz toda a diferença. Se a isso associarmos os encepamentos originais de cada uma das zonas então percebemos melhor que se trata de dois universos. No Douro temos castas adaptadas ao calor e à secura – não esqueçamos que o Douro Superior tem um clima semi-desértico –variedades que podem gerar vinhos tensos, volumosos e ricos em taninos, cor e estrutura. Quando se está exactamente na fronteira podemos então jogar nessa diversidade. O projecto das Colinas do Douro cobre actualmente 110 hectares de vinhas, pensadas por Nuno Magalhães, professor universitário e sabidamente um dos nossos maiores especialistas em viticultura – que adaptou cada uma das castas plantadas à altitude e orientação das parcelas. Aqui estamos entre os 500 e os 650 m de altitude, com orientações solares diversas, sobretudo norte e poente. Isso já permite uma esquematização dos vinhedos, trabalhados também em função do objectivo final.

O projecto das Colinas do Douro, até pela dimensão que tem, está focado em vários tabuleiros: os que agora foram apresentados são vinhos de nicho, vinhos experimentais mas não são esses que fazem viver uma empresa desta dimensão que agrega quatro quintas. A marca Quinta da Extrema está vocacionada para os vinhos de topo, para as experiências e para os projectos especiais. As outras marcas são Colinas do Douro, Quinta da Pedra Cavada e Seixo Amarelo, as duas últimas vocacionadas para a chamada distribuição moderna, super e hipermercados. A marca Quinta da Extrema apenas poderá ser encontrada em garrafeiras ou lojas especializadas.

Desde a nossa visita há dois anos que a adega nova está em marcha mas, ao que nos dizem ainda não será para a vindima de 2021. Naturalmente que isto obriga a dispersão de pessoas e meios: armazém em Escalhão, cave de barricas perto da quinta do Grifo na margem norte e a uns bons quilómetros de distância.

O ano 2020, complicado para todos os produtores, acabou por ser compensador para as empresas que têm foco importante no off-trade. Com as vendas de supermercado a crescer, a empresa fechou o ano com um crescimento de 20%, o que é assinalável.

Quinta da Extrema

Provas e castas

Os encepamentos são os habituais na região mas aproveitou-se também para procurar inovar e tentar novas soluções. Foi assim que uma das clássicas da região – a Tinta Barroca – foi preterida, uma vez que está mais vocacionada para o vinho do Porto e introduziu-se as francesas Cabernet Sauvignon e Syrah. Nas brancas surgem, fora do baralho, a Encruzado e a Chenin Blanc, esta última característica de algumas zonas do Vale do Loire, em França.

Os vinhos agora apresentados assentam nos ensaios e experimentações feitos na Quinta da extrema, daí o nome Ensaios Extremes, e merecem algum enquadramento. Como nos disse Jorge Rosa Santos, o enólogo principal, estes vinhos não terão edição anual, dependerá do ano e, caso a caso, será tomada uma decisão. Tive oportunidade de provar os novos vinhos ainda “em bruto”, durante uma visita à propriedade há cerca de dois anos. Pelo número de garrafas produzidas percebe-se facilmente que foi feita uma selecção dos lotes, tendo resultado sempre menos quantidade engarrafada do que a indicação que nos foi dada na altura quando pude provar estes vinhos ainda em estágio de barrica. Por exemplo, do Tinto Cão apontava-se para 900 garrafas e do Tinta Francisca 3500, tudo bem acima do que agora acabou por ser comercializado. Na altura também se provou o Cabernet Sauvignon, um dos dois varietais de castas vindas de fora. Pode considerar-se o Cabernet uma curiosidade mas já em 2018 se mostrava com muita personalidade, apimentado e de taninos bem firmes. Com o clima que o Douro tem e as múltiplas orientações possíveis da vinha, difícil seria imaginar que aqui não se faria um bom Cabernet Sauvignon.

O vinho de Rabigato faz jus à sub-região do Douro Superior, onde esta casta – tardia e de muito boa acidez – melhor se manifesta, ainda que se encontre presente noutras zonas do Douro. Aqui optou-se por uma prensagem suave, uma decantação que se estendeu por 48 horas e uma fermentação que se iniciou no inox mas que depois foi continuada e terminada em barricas usadas onde fermentou entre 12 e 14 dias. Depois de terminada a fermentação o vinho estagiou na barrica mais 11 meses. Pela forma como é conduzida na vinha, com uma parede foliar muito boa que conserva a acidez, o vinho resulta com grande frescura. A vinha tem uma adubação em zebra – linha sim, linha não, método indispensável para fazer face a estes terrenos muito pobres em matéria orgânica. Basta olhar para a paisagem circundante para se perceber que aqui pouco nasce ou cresce se não tiver “alimento”. Conseguem-se produções de 5 toneladas/ha mas também aqui a opção foi por um engarrafamento parcial e apenas se encheram 1200 garrafas.

Quinta da Extrema

Pequenas quantidades

A Tinta Francisca é casta antiga na região e está agora a conhecer algum renascimento. São já vários os produtores que estão a apostar nela. Outrora era muito usada sobretudo para lotes de vinhos do Porto destinados ao envelhecimento. Aquando da visita de 2018 os vinhos ainda estavam em barrica e pensava-se então que poderiam ser feitas 3500 garrafas mas após o estágio optaram por apenas engarrafar 2800. Só têm 2 hectares desta casta que está situada a 600 m de altitude, com uma exposição poente. É uma casta tardia, de baixa acidez, com película fina mas, a favor dela, tem a produtividade que pode atingir a 7 toneladas/ha o que, para o Douro, se pode considerar muito bom. É mais uma casta que dá vinhos com pouca cor, médio corpo, álcool moderado, mas de taninos suaves e aromas terrosos, bem interessantes. Este vinho estagiou em barricas já com seis anos de uso.

Já o Tinto Cão é uva difícil e pouco consensual. Como nos disse Jorge, “só à quarta tentativa é que acertámos no melhor método para vinificar o Tinto Cão. Optou-se por uma maceração curta para evitar taninos demasiado fortes que tendem depois a ficar secos”. Provavelmente foi também por isso que, no final, foi apenas aproveitada uma barrica de 500 litros, de que resultou esta produção experimental. De maturação muito tardia, está instalada na cota mais baixa da quinta – 500m -, onde os cachos (pequenos) estão sempre ao sol. A película é grossa e origina vinhos com pouca cor, óptima acidez e taninos firmes. Depois da fermentação no inox durante três dias, o vinho acaba a fermentação já fora das massas. Foi depois para barrica e fez aí a fermentação maloláctica.

Os vinhos provados agora e os outros que já foram objecto de prova revelam um trabalho de grande precisão quer ao nível da vinha quer na enologia. Intervir quando é preciso, acompanhar a vinha para que possa produzir bons frutos. Os vinhos mostram isso mesmo e são belos representantes desta zona longínqua, extrema em todos os sentidos, e que permite fazer brancos e tintos que aliam a qualidade à personalidade.

(Artigo publicado na edição de Abril de 2021)[/vc_column_text][vc_column_text]

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Os melhores brancos do Douro: Do xisto ao granito

Brancos Douro

É sabido que os brancos nacionais estão cada vez melhores no país de norte a sul. Talvez não se imagine tão facilmente que boa parte dos melhores vinhos desse lote venha do Douro, território até há pouco tempo associado quase exclusivamente a tintos. A cada colheita que passa, sobretudo das gamas superiores, os brancos do […]

É sabido que os brancos nacionais estão cada vez melhores no país de norte a sul. Talvez não se imagine tão facilmente que boa parte dos melhores vinhos desse lote venha do Douro, território até há pouco tempo associado quase exclusivamente a tintos. A cada colheita que passa, sobretudo das gamas superiores, os brancos do Douro impõem-se como vinhos ambiciosos e de carácter, onde a presença do terroir se encontra tão, ou mais marcada, do que nos tintos da mesma região.

Texto: Nuno de Oliveira Garcia                             

Fotos: Ricardo Palma Veiga

Talvez não faça sentido um excurso longo sobre a razão por detrás da percepção de que o Douro é uma região de tintos. De forma resumida, em qualquer caso, relembre-se que tal decorre, antes do mais, do legado do Vinho do Porto, sector que, apesar da significativa e histórica produção de brancos, centrou a sua imagem de prestígio e longevidade nos tintos rubys, com destaque para os vintages. Com efeito, sempre houve a produção de alguma uva branca para Porto, a partir de castas como a Malvasia Fina. Com raríssimas excepções, no entanto, o Porto branco foi relegado para o início da refeição, a solo ou em cocktail, e a pouca apetência dos consumidores nacionais para bebidas de aperitivo (tema cujo desenvolvimento daria um novo artigo) catalogou-o como um vinho menor.

Outra condição natural para o sucesso dos tintos na região relaciona-se com o solo xistoso e com o verão duriense, muitas vezes escaldante. Se o xisto funciona como um intensificador para os vinhos tintos, nos brancos a acidez perde-se com muita facilidade (literalmente, de um dia para o outro…) levando a vinhos, por vezes, demasiado pesados e com menos sensação de frescura. Por isso, a região produz mais tinto, sem dúvida, mas, rigorosamente, tudo depende dos anos agrícolas. Com efeito, existem anos em que a produção de DOP tinto é quatro vezes maior do que a de branco, caso da colheita de 2019, mas outros em que é apenas pouco mais que o dobro, como sucedeu na de 2018. A tendência geral é, em qualquer caso, para que a produção de tinto se manifeste duas a três vezes superior à do branco.

Outra circunstância que explica a associação do Douro a vinhos tintos assenta no facto de terem sido tintos os primeiros Douro não fortificados que, a partir das décadas de ’60 (os pioneiros) e sobretudo de ’90 do século passado, ganharam estatuto de grandes néctares nacionais.  É certo que sempre houve brancos do Douro não fortificados com fama – lembramo-nos do Grantom Branco Especial Seco da Real Companhia Velha (as melhores colheitas que provámos eram as de 1963 e 1965), mas eram tintos os vinhos mais respeitados. Afinal de contas, tanto Barca Velha como Reserva Especial eram, e são, apenas tintos. Como o Quinta do Cotto Grande Escolha, e os primeiros Quinta da Gaivosa. Foi preciso esperar que, três anos depois do Duas Quintas branco já vingar na restauração, e de alguns ensaios mais ou menos sucedidos (como o famoso Riesling da Quinta da Pacheca), o inconformado Dirk Niepoort procurasse na colheita de 1995 a finura das vinhas em altitude, e as melhores barricas francesas para fermentar e estagiar o seu Redoma. Entretanto, o Quinta dos Bons Ares começava a dar nas vistas, precisamente pela frescura da cota alta, e colheitas como 1997 e 1998 são de grande recorte. Apesar destas tentativas bem-sucedidas, em 1997, o quadro de honra de brancos do Roteiro Prático dos Vinhos Portuguese de José Salvador continha apenas um único Douro (maioria para os Vinhos Verdes e Bairrada), nem mais nem menos do que o Sogrape Reserva 1995. Mas, depois do Redoma do mesmo ano, a revolução estava em curso, e bastou poucos anos mais para se encontrarem novos brancos com barrica, sendo disso bom exemplo o Gouvyas Reserva nos primeiros anos do novo século e o Duas Quintas Reserva. E em 2001, Domingos Alves de Sousa lança o seu primeiro Reserva Pessoal, recuperando, segundo o próprio, os brancos “à moda antiga”, um vinho de enorme personalidade e que, à sua maneira, resgatava o passado traçando um futuro novo.

Brancos Douro

Xistos e granitos

O que os primeiros anos do novo milénio vieram mostrar foi, portanto, que o Douro também tinha uma palavra a dizer nos brancos, da mais fresca e chuvosa sub-região do Baixo Corgo até à seca e continental sub-região do Douro Superior, passando pelo Cima Corgo. Por um lado, não se pode dizer que todo o Douro é xisto a torrar ao sol, posto que os altos do Douro – e são vários numa região definitivamente montanhosa – são relativamente frescos mesmo no verão, e os invernos são muito frios. Acresce que existem ilhas de solo granítico, e vários solos de transição, que garantem a tão-procurada sensação de frescura e mineralidade, sem descurar a maturação. Com efeito, nos grandes maciços de xisto penetram frequentemente formações geológicas graníticas como sucede junto a Alijó, ao planalto de Carrazeda de Ansiães e até à foz do Sabor, ou mesmo na zona do Pocinho, Freixo de Numão, Seixo de Numão e entre Fontelo e Sande.  Estas formações graníticas dão origem a solos de textura ligeira, pobres e ácidos, com reduzida capacidade de retenção para a água, que, em altitude, têm-se revelado perfeitos para a produção de brancos de qualidade. Acresce, que foi descoberto o tesouro das vinhas velhas, sendo que, nos últimos anos, foi ver uma autêntica corrida por elas entre produtores e enólogos. Falamos de vinhas entre os 40 e os 100 anos, com várias castas misturadas (cerca de 10 castas diferentes, bem menos do que nas vinhas tintas). Ao longo dos anos, o Douro soube manter (talvez melhor do que nos tintos) quase intacta essa diversidade de castas brancas tradicionais, possibilitando que os enólogos escolham esta ou aquela variedade conforme o perfil pretendido ou conforme o terroir. Seja a exuberância do Gouveio e Moscatel Galego, o corpo e intensidade da Viosinho ou do Folgazão, o floral da Códega, a frescura e acidez do Rabigato e do Arinto, ou a complexidade subtil da Códega do Larinho. O contributo de outras castas “de fora”, como seja o Alvarinho com o seu perfume a acidez, vieram trazer o “sal e a pimenta” que por vezes pode fazer a diferença. Mas o Douro quer mais, e os recentes estudos e ensaios com castas brancas antigas presentes na vinha isso o demonstram, caso bem visível no produtor Real Companhia Velha que tem lançado monocastas como Samarrinho, Donzelinho branco ou Moscatel Ottonel, todas de enorme aprumo. Haverá, então, um lote perfeito no Douro para vinho branco? Não é fácil dizê-lo e dependerá da sub-região e do terroir, mas é seguro afirmar que muitos topos de gama actuais não descuram o Rabigato (sobretudo no Douro Superior) e o Gouveio, sendo que o Arinto e a Códega são também castas de eleição. O Viosinho ainda se monstra muito presente nos lotes, apesar de ter perdido nos últimos anos alguma hegemonia na afirmação como casta branca rainha da região.

Brancos Douro

Estilos e perfis

Para Rita Marques, cujo seu Conceito Único se mostrou imperial em prova, a razão do sucesso da região é um encepamento branco muito bem-adaptado, com castas, essencialmente o Rabigato e Gouveio, na sua opinião, em total harmonia com o terroir. Jorge Serôdio Borges, outro vencedor com o seu Guru, concorda e salienta a necessidade de se procurar solos de granitos e de transição para evitar a perda de acidez que o xisto acarreta na época antes da vindima. Confidencia-nos ser apologista de fermentação de todo o lote em barrica, ainda que prefira a barrica já usada. Jorge Moreira, criador do Poeira (o melhor Alvarinho do Douro), acredita que a região tem enorme potencial pelas diversas exposições, e pela singularidade de ali se conseguirem produzir vinhos com frescura e acidez (perto dos 7g de acidez total) mantendo potência em boca e algum álcool (acima dos 13% com facilidade). Para o enólogo, com vários vinhos sob a sua direção em prova, a combinação perfeita pode muito bem ser os solos ácidos que permitem pH relativamente baixos e maturação completa que o clima da região permite, combinação menos frequente noutros territórios lusitanos.

Como escrevemos noutras provas de Douro, importa ainda sublinhar o papel de mais do que uma geração de produtores (Cristiano Van Zeller, Dirk Niepoort, Domingos Alves de Sousa…) e enólogos (Celso Pereira, Jorge Alves, Jorge Moreira, Jorge Serôdio Borges, Rita Marques…) que souberam criar um novo paradigma de brancos do Douro, vinhos com o corpo e a estrutura tão típica da região sem descurar o factor da diferenciação perante outras regiões.

Criações e marcas como Conceito, CV, Duas Quintas Reserva, Guru, Mirabilis, Quanta Terra, Redoma Reserva, e Vértice, são parte da história recente dos brancos do Douro e, enquanto punhado de grandes marcas, são um adquirido absolutamente fantástico.  Acresce o importantíssimo facto de a generalidade dos vinhos do Douro ser muito valorizada junto dos consumidores o que tem permitido aos produtores selecionarem as suas melhores vinhas e comprarem boas barricas, o que, em conjunto com enologia e viticultura já conhecedoras dos detalhes da região, permite a produção de grandes vinhos. Por outras palavras, a fama da região nos tintos trouxe, como consequência, uma imediata percepção de qualidade pelos consumidores nos brancos, o que permitiu a valorização destes vinhos nos mercados.

Um futuro promissor

Esse factor de rentabilidade tem encorajado mais e mais produtores a lançarem topos de gama, por vezes a preços nunca antes vistos nos brancos nacionais, bem acima dos 50€. Desde jovens enólogos com pequenos projectos pessoais (como Joana Pinhão e Rui Lopes com o seu Somnium, e Márcio Lopes) até novos players como Cortes do Tua, Colinas do Douro, Quinta da Rede ou Costa Boal, passando por adegas cooperativas (destaque para a de Favaios), todos querem fazer parte desta excitante corrida aos grandes brancos do Douro.

Se as últimas duas décadas do milénio anterior permitiram a revolução dos tintos durienses, as primeiras duas décadas no novo milénio foram marcadas pela sublevação nos brancos. O tempo é agora de consolidação das marcas e de alguma expansão na internacionalização dos brancos do Douro. E apostar também em nichos como seja o Porto Branco 10 anos extra-seco, os blends de anos numa só edição (cerca de uma mão cheia de produtores já aderiram, com destaque para o NM da Wine & Soul), os vinhos de parcela específica e ou com castas específicas (caso dos projetos já referidos da Real Companhia Velha, mas também dos Winemaker’s Collection da Kokpe ou do Poeira feito de Alvarinho). Estes são alguns dos grandes desafios que se colocam aos vinhos brancos do Douro mas, como sabemos, a região duriense tem uma especial vocação para superar desafios com distinção!

(Artigo publicado na edição de Julho 2021)[/vc_column_text][vc_column_text][/vc_column_text][vc_column_text][/vc_column_text][vc_column_text][/vc_column_text][vc_column_text][/vc_column_text][vc_column_text]

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Azores Wine Company: O cantar do caranguejo

Azores Wine Company

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Texto: Mariana Lopes
Fotos: Azores Wine Company e Mariana Lopes

Azores Wine Company 

Dizem os antigos que as melhores vinhas dos Açores são aquelas “onde se ouve o cantar do caranguejo”, ou seja, as que estão na bordadura das ilhas, mais próximas do mar. Mas também da nova adega da Azores Wine Company quase se ouve esse cantar, situada em Bandeiras, concelho da Madalena. Esta adega era um sonho da empresa, praticamente desde a sua fundação em 2014, mas já lá vamos… A sementinha que fez nascer o projecto foi plantada quatro anos antes disso. Em 2010, António Maçanita (filho de açoriano e há muito interessado nos vinhos dos Açores) ingressou num projecto de recuperação das castas locais — Arinto dos Açores, Verdelho, mas sobretudo da Terrantez do Pico, em São Miguel — apoiado pelo Governo Regional, que só aumentou ainda mais o seu entusiasmo pela região e pelos seus vinhos.

Em 2013, António teve a iniciativa de dar consultoria aos outros produtores do Pico, que nessa altura eram cerca de seis. Mas esse projecto de consultoria incluía um workshop que, embora gratuito, teve adesão apenas de um dos produtores e, à data, presidente da Comissão Vitivinícola Regional dos Açores, Paulo Machado, dos vinhos Insula. Assim, sem intenção inicial, Paulo foi o “chosen one” de António Maçanita, que acabou por lhe lançar o desafio: “Esquece o workshop, e se fizéssemos um vinho juntos?”. O produtor acabaria por ser a pessoa ideal para formar um projecto vínico com Maçanita, por ser agrónomo, vir de uma família dedicada à viticultura do Pico há varias gerações, e denotar muito conhecimento sobre a vinha e os vinhos da ilha. Desse repto, e ainda em 2013, nasceu um Arinto dos Açores que foi o pontapé de saída para tudo o estava por vir. Pouco tempo depois, juntou-se também Filipe Rocha, formador em hotelaria e turismo, em Ponta Delgada, para assumir a gestão financeira e comercial daquele projecto embrionário.

Estava formado o trio fundador da Azores Wine Company em 2014, e, como hoje é de aceitação generalizada, os vinhos do Pico estavam prestes a passar por uma revolução como nunca antes: voltaram a estar no mapa, a nível nacional e internacional, o que hoje resulta num price point das uvas e dos vinhos muito superior ao que se praticava na altura, e numa bastante maior área de vinha em produção. A qualidade esteve sempre lá, mas afinal o que lhes faltava, era alguém que a alavancasse, e que soubesse comunicar os vinhos com paixão e destreza.

Azores Wine Company
As pedras vulcânicas que compõem os muros dos currais.

(Re)Descobrir o Pico

 A Azores Wine Company começou apenas com as vinhas de Paulo Machado, que na altura totalizavam doze hectares mas, naturalmente, isso não bastava. Assim, o “trio maravilha” lançou-se na recuperação e plantação de vinhas, adquirindo terreno, arrendando parcelas e comprando uvas a outros viticultores. Hoje, têm já 56 hectares de vinha própria — 55 na zona da adega, em Bandeiras, e um na Criação Velha — e arrendam 33 em São Mateus e 38 em Baía de Canas. As castas plantadas, são sobretudo  as brancas Arinto dos Açores, Verdelho (o mesmo que há na Madeira), Terrantez do Pico, Boal de Alicante e Malvasia (chamam-lhe Boal dos Açores) e as tintas Saborinho (Tinta Negra), Bastardo, Rufete e Malvarisco. Falamos de vinhas muito especiais, únicas, diferentes de tudo o que existe no resto do Mundo. Nesta ilha, que é a mais nova do arquipélago dos Açores, com idade entre os 300 e os 400 mil anos (a mais velha é Santa Maria, nos 8.12 milhões de anos), a paisagem vitícola, sempre com o vulcão em plano de fundo, é composta por quadrículas feitas com amontoados de pedras vulcânicas, os chamados currais, que albergam as videiras e as protegem do impacto directo dos ventos salgados, que de outra forma as queimariam. Se pensarmos que já houve um cenário, antes da grande praga de oídio em 1853 e de filoxera algumas décadas mais tarde, em que o Pico teve cerca de 15 mil hectares deste tipo de vinha, é, de facto, impressionante. Em 2003, existiam apenas 120 hectares, que com muito sacrifício e paixão dos viticultores da ilha passaram para 340, em 2014. Mas mais surpreendente ainda, é o facto de, após sete anos de Azores Wine Company, esse número ter passado para o milhar. É o poder do exemplo…

Uma das prioridades da empresa foi, logo desde o início, fazer uma pesquisa genética e histórica sobre as castas, os solos, o clima (moderado a frio) e todo o Pico vitivinícola. As primeiras vinhas foram plantadas no final do século XV. Em 1580, esta já era uma ilha de vinho, com as vinhas distribuídas por toda a orla costeira, o mais próximo do mar possível (as tais vinhas do “cantar do caranguejo”). E isto tinha e tem uma razão de ser: posto de uma forma mais simples, quanto mais próximos estamos da montanha, mais chove.

No centro da ilha, caem mais de 5 mil mililitros de água por ano e, as extremidades, menos de mil. Depois, como demonstrou António Maçanita, há o efeito Foehn, no qual o vento que vem de Norte, húmido e frio, bate na montanha, sobe e depois desce, já quente. Já os solos têm características tão rústicas que só servem praticamente para viticultura, não havendo assim concorrência de culturas. São solos litólicos, extra resistentes que, em certas zonas, são compostos por terra em cima da rocha-mãe. Reduzem-se a dois tipos: o “chão de lagido”, mais duro e opaco, quase exclusivamente usado para vinha, em que as videiras estão plantadas nas fissuras das rochas, indo mais fundo à procura do que precisam; e o “chão de biscoito”, com uma textura mais de calhau (daí o “biscoito”) à superfície, o qual pode ser arável depois de retirados os componentes mais grosseiros. Depois de sabermos isto, de estarmos lá no terreno a olhar com cara de espantados para o que se estende à nossa frente, e de tentarmos transitar pelo meio dos ditos currais, percebemos porque é que a ilha do Pico tem uma das viticulturas mais caras do planeta, com uma produção média de apenas 1200kg por hectare. O trabalho nestas vinhas é todo  manual, muito exigente e minucioso, e Paulo Machado explicou-nos que, hoje, investem em operações que podem fazer diferença, mais tarde, na qualidade das uvas, como as intervenções em verde, para aumentar a exposição dos cachos ao sol e ao arejamento, promovendo a sua suspensão. A tratar das vinhas em permanência, têm 25 pessoas.

Para juntar “à festa”, a Azores está com dois hectares em processo de certificação bio, sendo os primeiros a fazê-lo. Num desses hectares, na Criação Velha, as uvas custam uns impressionantes 18 euros por quilograma. O preço-médio das uvas da ilha é de cerca de 5 euros por quilo, mas Paulo garante que já chegaram “a comprar Terrantez por 7,90, em 2019”. Não é difícil perceber que, para tudo isto ser rentável, o posicionamento de preço dos vinhos tem de ser alto.

Azores Wine CompanyAdega de sonho

 A nova adega ficou pronta este ano, e era a peça do puzzle que faltava para a Azores Wine Company fechar o ciclo. Recuando um pouco, foi em 2015 que António, Filipe e Paulo começaram a pensar no projecto adega. Sempre quiseram que ela fosse construída no meio da vinha porque, como diz Filipe, “a vinha é ela própria um museu”. Em 2018, iniciou-se a obra, que acabou por durar três anos. “Foi um projecto bem caro”, confessou António Maçanita, “só o betão é cerca de 30 a 40% mais caro aqui do que em São Miguel”. A julgar pela quantidade de “betão à vista”, não é difícil acreditar, mas foram três milhões e meio de euros que valeram muito a pena… O edifício — desenhado a quatro mãos, por duas duplas de arquitectos, os portugueses SAMI e os ingleses DRDH — perfaz um quadrado perfeitamente inserido no terreno, e foi revestido, na parte exterior, a rocha vulcânica. A vista a partir dele é idílica, sobre o mar e as ilhas São Jorge e Faial. Mas esta não é apenas uma adega, em stricto sensu.

Com sala de provas, um espaço para eventos e restaurante, cinco quartos com vista mar e um apartamento T2, além das três salas de barricas e da zona mais industrial, com todo o equipamento de recepção de uvas e vinificação, este é um autêntico centro enoturístico de luxo, como nunca antes visto no Pico. Além disto, o edifício foi construído com uma determinada inclinação, para recolher água, especificamente 1500 m3 de água por ano (as vinhas no Pico não retêm água). Bem no centro, está um logradouro com um mini-jardim, onde há tanques com água e Dragoeiras, uma árvore mítica, da Macronésia, muito típica dos Açores, que se diz ter nascido da luta entre um dragão e um leão. É também muito utilizada como tintureira, e a sua seiva vermelha é vulgarmente apelidada de “sangue do dragão”. Os quartos estão mesmo em frente, e foram uma das prioridades do projecto. “Queríamos ter quartos na adega porque, tradicionalmente, no Pico as pessoas não recebem os convidados em casa, mas sim nas adegas”, contou Filipe Rocha. A arquitecta de interiores Ana Trancoso deu-lhes um feeling industrial e minimalista, mas os apontamentos mais calorosos são da curadoria de Judith Martin, responsável de enoturismo e, como ela própria diz, “de tudo um pouco”.

Uma das maiores surpresas, foi o restaurante, que está agora a dar os seus primeiros passos. A equipa deste espaço gastronómico é bem jovem, composta pelo chef José Diogo Costa (curiosamente, Madeirense), a sub-chef Angelina Pedra e a chefe de sala Inês Vasconcelos. O que vem para a mesa, é reflexo de todo o conhecimento que José Diogo acumulou, ao lado de Inês, nas suas viagens e nas dezenas de restaurantes em que trabalharam, pelo Mundo fora: uma cozinha moderna, elegante, culta, com muito foco nas matérias-primas locais e onde todos os sabores se conjugam em harmonia.

Vinhos muito especiais

 Além das novas colheitas de vinhos que já faziam parte do portefólio da Azores Wine Company — como os Rosé e Branco Vulcânico, o Arinto dos Açores, Terrantez do Pico (já provado anteriormente na GE) ou o Vinha Centenária — foram apresentadas quatro novidades absolutas: Arinto dos Açores São Mateus, Arinto dos Açores Bandeiras, Canada do Monte e Vinha dos Utras 1os Jeirões. Estes últimos dois, juntamente com o Vinha Centenária, provêm de vinhas velhas da zona da Criação Velha, o último núcleo de vinhas velhas do Pico. Mas se, até agora, o Vinha Centenária estava no topo da hierarquia de vinhos da empresa, acabou de ser destronado pelo Vinha dos Utras 1os Jeirões 2019 e pelo Canada do Monte 2018. Este branco, com 95% de Arinto dos Açores e o resto de castas misturadas na vinha (como Verdelho, Malvasia Fina e Boal de Alicante), vem de uma parcela adquirida em 2018 pela Azores, com 60 a 80 anos de idade, quase encostada ao mar em “chão de lagido”, que recebe mais horas de sol, o que resulta “numa maior concentração e forte marca marítima”. É uma das que está em processo de conversão para biológico. O sítio é muito especial e, acreditem, tudo isto se reflecte na garrafa. Na adega, as uvas são prensadas directamente, com as primeiras prensagens (70%) a ser vinificadas em inox — em cuba deitada “para que as borras finas se estendam no fundo e fiquem em contacto com o máximo de área de vinho, protegendo-o”, como explicou Maçanita — e as segundas em barricas de carvalho francês de 3º uso, sem bâtonnage, durante 12 meses. O Canada do Monte, por sua vez, tem origem numa bolsa de vinhas com o mesmo nome, que resistiu à extinção pela filoxera. A vinificação é em tudo semelhante à do Vinha dos Utras.

Azores Wine Company
A Viticultura na Ilha do Pico é extremamente dura.

A Azores Wine Company produz hoje mais de 100 mil garrafas por ano, o que não é assim tão pouco quando consideradas as condições difíceis de viticultura e a baixa produtividade das vinhas. Acima de tudo, este foi o projecto que veio fazer a real diferença na ilha do Pico (e nos Açores) enquanto região vitivinícola e denominação de origem. E no futuro, depois deste completar de ciclo para a Azores… talvez um licoroso?

(Artigo publicado na edição de Julho 2021)

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