Codornos e outras iguarias na mesa de Cabeceiras

O restaurante A Cozinha, em Guimarães, foi palco de um jantar especial onde se descobriu a gastronomia de Cabeceiras de Basto. TEXTO Ricardo Dias Felner O jantar já vai a meio e eis que o presidente da câmara de Cabeceiras de Basto tem um desabafo. “Em Cabeceiras, de facto, falta-nos uma sobremesa típica”. A declaração […]

O restaurante A Cozinha, em Guimarães, foi palco de um jantar especial onde se descobriu a gastronomia de Cabeceiras de Basto.

TEXTO Ricardo Dias Felner

O jantar já vai a meio e eis que o presidente da câmara de Cabeceiras de Basto tem um desabafo. “Em Cabeceiras, de facto, falta-nos uma sobremesa típica”. A declaração sai-lhe como uma confissão trágica, uma vergonha pública. A iniciativa serve para mostrar a força da gastronomia do concelho a personalidades da região, no âmbito da iniciativa Mesa de Cabeceiras. Mas há este entrave. “Não há doces em Cabeceiras de Basto”.
À mesa estão outras pessoas da vila, do distrito de Braga. Alguém estranha a falha. E questiona: “E fruta, não há uma fruta tradicional?” Os olhos do autarca reluzem, como se de repente lhe surgisse uma iluminação providencial. “Há, sim! Os codornos!” Toda a gente se entusiasma com a revelação. O codorno é uma fruta antiga, da família das pêras, “dura como cornos, mas muito doce”. Da conversa, renasce comida.
O relato do episódio serve apenas para mostrar como há tanto para se redescobrir a Norte (e a Sul) de Portugal; e como por vezes não se dá valor ao que está mesmo à mão ou em cima da Mesa de Cabeceiras, para usar o feliz trocadilho que dá nome à campanha de promoção da gastronomia da vila.[/vc_column_text][image_with_animation image_url=”40373″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][vc_column_text]Os codornos são um fruto de Inverno, ainda presente em grande parte das mesas de Natal dos cabeceirenses e citados em documentos medievais, como um fruto da realeza. “Podem ainda ser encontrados em alguns mercados de rua, mas é raro”, diz a vereadora da cultura, Carla Lousada. As árvores, algumas centenárias, estão espalhadas por pomares caseiros — mas seria fácil recuperar sementes. O debate continua e Rafael Oliveira, especialista em marketing na área do Enoturismo, lembra a propósito o trabalho feito pelo Banco Português de Germoplasma Vegetal, em Braga, instituição que há mais de 40 anos preserva sementes portuguesas.
Por esta altura, António Loureiro está na cozinha, longe da conversa, mas fez o trabalho de casa. O chef do recém-estrelado restaurante de Guimarães, desenhou um menu com epicentro em Cabeceiras, com base em pesquisas pessoais e no levantamento feito pela investigadora Anabela Ramos, especialista em culinária conventual beneditina.
Entre os produtos mais tradicionais do concelho estão o vinhão tinto, o mel de Basto, as talhadas de presunto, mas também as carnes, da barrosã à minhota, da maronesa até à ovelha churra (com que António Loureiro fez um prato extraordinário, juntando num mesmo cubinho assado vários peças do animal, do cachaço à perna). No final, o chef repescou para sobremesa os ovos reais, aqui em forma de canudos, típicos da doçaria conventual.
A acompanhar desta vez veio bolo de laranja. Mas é possível que numa próxima edição em vez do citrino surjam… codornos.

 

Edição Nº26, Junho 2019

Guia Michelin 2019 – Quatro novas estrelas sob o céu português

O Guia Michelin Espanha Portugal 2019 atribuiu quatro novas estrelas a restaurantes portugueses. As grandes surpresas foram as duas estrelas concedidas ao Alma, de Henrique Sá Pessoa (só tinha uma), e, sobretudo, a entrada na constelação de dois restaurantes do Norte do país. O A Cozinha, do chef António Loureiro, em Guimarães, e o G […]

O Guia Michelin Espanha Portugal 2019 atribuiu quatro novas estrelas a restaurantes portugueses. As grandes surpresas foram as duas estrelas concedidas ao Alma, de Henrique Sá Pessoa (só tinha uma), e, sobretudo, a entrada na constelação de dois restaurantes do Norte do país.

O A Cozinha, do chef António Loureiro, em Guimarães, e o G Pousada, de Óscar Gonçalves, em Bragança, ambos galardoados com uma estrela, eram praticamente desconhecidos das 500 pessoas que esta quarta-feira encheram o Pavilhão Carlos Lopes, durante a gala de apresentação do guia, pela primeira vez a decorrer em Portugal.

O terceiro restaurante a conseguir uma estrela foi o Midori, do chef Pedro Almeida, em Sintra, o primeiro asiático a alcançar o feito em solo nacional.

A maior desilusão foi a não atribuição da ambicionada terceira estrela a uma mesa portuguesa. Até agora nenhum restaurante conseguiu esse feito — e continua sem conseguir. Os melhor posicionados para alcançar esse feito eram o The Yeatman, de Ricardo Costa, no Porto; bem como o Belcanto, de José Avillez, em Lisboa; e o Ocean, do austríaco Hans Neuner, em Albufeira — com muita gente a apostar na chegada ao Olimpo de Avillez, pelo reconhecimento internacional e por ser o anfitrião da gala. Em toda a Península Ibérica, só Dani Garcia, em Marbella, conquistou uma terceira estrela, juntando-se a uma dezena de restaurantes espanhóis já nesse patamar.

Para Espanha, voaram 22 novas primeiras estrelas, mas também houve 13 restaurantes a verem cair o prémio. Já em Portugal parece que a consistência é maior, uma vez que nenhum restaurante perdeu estrelas, desde o ano passado. No total, o país passa a contar com 26 estrelas Michelin.

Lista completa dos restaurantes destacados pelo Guia Michelin em Portugal:

2 estrelas

*Alma – Lisboa (chef Henrique Sá Pessoa)

Belcanto – Lisboa (José Avillez)

Il Gallo d’Oro – Funchal (Benoît Sinthon)

Ocean – Porches (Hans Neuner)

The Yeatman – Vila Nova de Gaia (Ricardo Costa)

Vila Joya – Praia da Galé (Dieter Koschina)

 1 estrela

*A Cozinha – Guimarães (António Loureiro)

Antiqvvm – Porto (Vítor Matos)

Bon Bon – Carvoeiro – (Louis Anjos)

Casa de Chá da Boa Nova – Leça da Palmeira (Rui Paula)

Eleven – Lisboa (Joachim Koerper)

Feitoria – Lisboa (João Rodrigues)

Fortaleza do Guincho – Cascais (Miguel Rocha Vieira)

*G Pousada – Bragança (Óscar Geadas)

Gusto by Heinz Beck – Almancil (Heinz Beck e Daniele Pirillo

Henrique Leis – Almancil (Henrique Leis)

LAB by Sergi Arola – Sintra (Sergi Arola)

L’ And – Montemor-o-Novo (Miguel Laffan)

Largo do Paço – Amarante (Tiago Bonito)

Loco – Lisboa (Alexandre Silva)

*Midori – Sintra (Pedro Almeida)

Pedro Lemos – Porto (Pedro Lemos)

São Gabriel – Almancil (Leonel Pereira)

Vista – Portimão (João Oliveira)

William – Funchal (Luís Pestana e Joachim Koerper)

Willie’s – Vilamoura (Willie Wurger)

* Novo