António Maçanita e Fita Preta: Casa com passado, vinhos de futuro

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Quando começou o seu percurso de enólogo e produtor, António Maçanita nunca pensou vir a restaurar um paço do século XIV. Indomável, construiu-se quando ninguém estava a ver, e agora é um dos players que mais agitam as águas.

TEXTO Mariana Lopes
NOTAS DE PROVA Luís Lopes e Mariana Lopes
FOTOS Mário Cerdeira

De uma das estradas que vai de Évora para Nossa Senhora da Graça do Divor (uma freguesia que, entre menires cromeleques e antas, tem cerca de 500 habitantes), vê-se um edifício que não deixa ninguém indiferente. Pelo seu traçado, percebe-se que é coisa de outro tempo e quase parece, também, de outro lugar. António Maçanita, que na mochila trazia a Fita Preta, empresa que que fundou em 2004 com David Booth e que hoje partilha com a enóloga Sandra Sárria (sócia minoritária), passava naquela estrada inúmeras vezes e a pergunta era sempre a mesma: “O que é aquilo?”. Até que, em Maio 2015, no dia a seguir a um casamento e apesar do cansaço, as palavras “Não passa de hoje” ressoaram na sua cabeça. Foi aqui que deu início ao processo que fez com que a Fita Preta ganhasse casa própria (até aqui estava em adega alugada e não possuía vinha), adquirindo 87% da propriedade em 2016, com usufruto exclusivo e responsabilidade de recuperação. E que bela casa ganhou: um paço medieval fundado em 1306 em regime de morgadio por D. Martim Pires de Oliveira, arcebispo de Braga entre 1295 e 1313 e dono, entre outras, da vila da Vidigueira, um homem muito influente. Este entregou logo a gestão da coisa ao irmão Mem Pires, para garantir a transferência da mesma em linha direita sucessória, e porque a lei da altura era restritiva em relação à posse de bens por parte do clero.

No entanto, à data em que António Maçanita finalizou a compra, o proprietário do Paço do Morgado de Oliveira era D. João Saldanha, e há 700 anos que já estava na sua família. Por ali passaram reis, como D. João II, por exemplo, em Setembro de 1490, acompanhado do seu filho, o Príncipe D. Afonso. Por Garcia de Resende, em “Crónica de D. João II”, sabe-se que o monarca ali justou, no pátio do Paço da Oliveira. Um sítio místico, portanto, onde a Fita Preta colocou cinco historiadores a investigar e que se descobriu ter sido alvo de alterações ao longo do tempo, principalmente no século XIX, altura em que a família Saldanha tomou conta do edifício. Sem ambições museológicas e apenas pela preservação histórica e para fins funcionais, António Maçanita começou a recuperá-lo e, “escavando” as camadas de massa até à pedra, descobriu cinco portas de arco em ogiva, uma fresta e três pares de janelas em ogiva no primeiro piso (que não comunica com o térreo), resgatando o esqueleto original medieval do edifício. “Há aqui salas ‘abonitadas’ no século XVI”, esclareceu Maçanita. Também um lagar de azeite soterrado viu agora luz, que se confirmou sê-lo por um escrito de 1776 onde se lê “armazém de azeite com sua loiça”, e por outro de 1865 que refere a necessidade de obras no lagar.

Toda esta empreitada, sem qualquer financiamento externo, foi iniciada em 2017, bem como a do edifício novo, todo revestido a cortiça e perfeitamente integrado no ambiente e com a parte antiga. Assim, estes dois edifícios formam uma adega de duas naves, a de brancos no antigo e a de tintos no novo, com comunicação por tubos subterrâneos. Para a primeira, as cubas verticais de inox foram feitas com uma medida especial, para que coubessem entre as colunas de pedra originais. Estas coabitam com as barricas de madeira e com cubas horizontais, modelo de fermentação que António trouxe dos Açores, onde por ligação familiar (o pai é açoriano) também produz vinho, sob a umbrela Azores Wine Company. “O meu objectivo, nos brancos, é fazer o máximo de fermentações possíveis, trabalhando com leveduras que não geram novos perfis aromáticos, utilizando zero sulfitos até ao final da fermentação e apenas fazendo bâtonnage como ferramenta de protecção”, explicou o enólogo, apontando para as barricas, cada uma com um tipo de levedura diferente. A capela interior, datada de 1567, é também guardiã de barricas de estágio, cuidadosamente dispostas ao longo das suas paredes e a formar um corredor que leva ao altar original. No edifício novo, além da adega de tintos, espaçosa e muito prática, com as cubas, a prensa e a mesa de escolha, encontra-se a sala de provas, o laboratório, escritórios, loja e espaço para eventos.

A expansão do território

Apesar de, à sua chegada, António Maçanita ter tido um feeling de que ali se fazia vinho, à partida nada o mostrava, o terreno não continha vinha. Em 2017, começou por plantar quatro hectares, em 2019 foram mais dezasseis e em 2020 serão mais treze. Naquele solo, maioritariamente saibro e granito (a 60 metros de profundidade), a relação entre a superfície e o lençol freático é muito próxima. “Quase toda a zona de vinha é tocada pela água”, disse Maçanita. Na verdade, ali encontra-se o ribeiro do Louredo, de onde nasce o rio Xarrama (ou Enxarrama). Na parte com mais água, junto ao Paço, foi plantado Arinto, por exemplo. O historiador Francisco Bilou, autor do estudo “A Quintã da Oliveira, no termo de Évora: território, património e identidade histórica” refere precisamente a abundância de água como justificação para a configuração visual pouco comum da propriedade: “(…) a estrutura residencial não se localiza na parte mais alta da propriedade onde o domínio visual sobre o território envolvente é maior, sobretudo para o quadrante norte, mas antes a meia encosta, sendo apenas visível de sul e nascente. O que reforça a ideia de uma localização de acordo com as particularidades fisiográficas do «lugar», como são a abundância de água e a qualidade dos solos (…)”. Aliás, presume-se que da visita de D. João II, supramencionada, “tenha resultado a decisão de restaurar o velho aqueduto romano fazendo com que a água das fontes da Prata e Oliveira corresse na praça principal da cidade”, como escreveu Francisco Bilou.

Neste momento, o mapa vitícola da Fita Preta conta, além da área própria do Paço do Morgado de Oliveira e de vinte hectares recentemente adquiridos em Aldeia da Serra (no Redondo), com a exploração integral de seis hectares (bio, solos argilo-calcários) em Nora; seis em Craveira, no Redondo (granito); nove de vinha velha em Azaruja (granito); e dezasseis em Bencatel, em solos de xisto. António Maçanita descortinou: “Eu sou um fã de xisto, tínhamos de ter” e explicou que “do ponto de vista mineral é um solo mais complexo, dá textura e potência de boca aos vinhos. Além disso, o xisto faz um melhor doseamento de água para a planta ao longo do tempo. Granito dá elegância, mas é mais simples”. Em todos os locais, a preferência é por vindima manual e nocturna.

A vinha velha de Aldeia da Serra é impressionante. Tem 49 anos, solos graníticos, e está num local antes apelidado de Chão dos Eremitas, e por isso também nome de uma colecção de vinhos da Fita Preta que inclui três monocasta: Tinta Carvalha, Alicante Branco (antigo Boal de Alicante) e Trincadeira-das-Pratas (conhecida no Alentejo por Tamarez). As linhas montanhosas da Serra d’Ossa pintam-se em plano de fundo e dois riachos cortam as parcelas, onde nascem castas como, além das citadas, Fernão Pires, Roupeiro, Castelão, Trincadeira, Alfrocheiro, Moreto ou Grand Noir. É um cenário bastante aberto e solarengo, em planície, que com as imponentes videiras velhas e a presença dos riachos e de oliveiras circundantes, forma uma espécie de oásis, onde o nível freático está apenas entre os três e os cinco metros de profundidade. Aqui, os Pauperes Eremiitas (latim para Pobres Eremitas) de São Paulo faziam as suas vinhas, habitando onde é hoje o Convento de São Paulo. A importância deste local era tal, que a Bula Papal de 1397 isenta os Pauperes Eremiitas de tributos nestas vinhas, como contou Maçanita.

Um portefólio de peso

O portefólio Fita Preta é uma loucura, e não estamos a contar com vinhos de outras regiões que não o Alentejo. Tendo começado em 2004 com o tinto Preta e com o primeiro Sexy Tinto, tem crescido exponencialmente desde então. Vários outros Sexy foram adicionados, os Fita Preta, Branco de Talha, Baga ao Sol, Palpite, A Touriga Vai Nua, entre muitos outros, agora com novidades como os Chão dos Ermitas e o Laranja Mecânica, um vinho feito com dez castas e maceração de uma semana depois da primeira prensagem, fermentação espontânea em inox após segunda prensagem,

e doze meses de estágio sobre borras primárias. Tudo isto surge de uma hiperactividade mental de António Maçanita, que não se cansa de concretizar ideias, por mais mirabolantes que pareçam. Felizmente, tem os enólogos Sandra Sárria e Andrés Herrera ao seu lado que, com o mesmo espírito, alinham em todas as aventuras.
A produção actual da Fita Preta no Alentejo é de 280.000 garrafas anuais e “a vontade é de estabilizar este número”, afirmou António, admitindo que “o foco agora é aumentar o preço médio e lançar os vinhos mais tarde para o mercado”. Daquele número, 60% vai para fora do país, sobretudo para Suíça, Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Alemanha, Holanda, França, Finlândia e Noruega. O envio de pequenas quantidades é já hábito da marca, pois “quem quer vender os nossos produtos não trabalha com grandes quantidades, nem começa com o portefólio todo, mas antes por entender o vinho. Assim, conseguimos construir um mercado exigente e de continuidade”, revela. Cheio de energia, António Maçanita não dá a entender que vá parar por aqui. Mas depois da recuperação de um Paço Medieval, só esperando para ver.

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Edição nº 33, Janeiro 2020

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Covid-19: Gin alentejano fornece álcool para 3 meses ao Hospital de Évora

Como revelou o site Tribuna Alentejo, o empresário António Cuco, produtor do Sharish Gin – empresa com sede em Reguengos de Monsaraz – vai assegurar o stock de álcool do Hospital de Évora para os próximos 3 meses, o que se traduz numa necessidade de 1200 litros do produto. A informação foi inicialmente avançada pelo próprio […]

Como revelou o site Tribuna Alentejo, o empresário António Cuco, produtor do Sharish Gin – empresa com sede em Reguengos de Monsaraz – vai assegurar o stock de álcool do Hospital de Évora para os próximos 3 meses, o que se traduz numa necessidade de 1200 litros do produto.

A informação foi inicialmente avançada pelo próprio e por José Calixto, presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central.

Foto: Gin Foundry

Plansel vai celebrar Touriga Nacional com prova vertical

No dia 5 de Março, a Quinta da Plansel irá organizar uma prova vertical de Touriga Nacional (prova com vários anos de colheita), nas sua propriedade de Montemor-o-Novo, a Quinta de São Jorge. Esta prova, aberta ao público mediante inscrição prévia, a custar €90, tem o objectivo de mostrar a expressão da casta naquele sítio […]

No dia 5 de Março, a Quinta da Plansel irá organizar uma prova vertical de Touriga Nacional (prova com vários anos de colheita), nas sua propriedade de Montemor-o-Novo, a Quinta de São Jorge.

Esta prova, aberta ao público mediante inscrição prévia, a custar €90, tem o objectivo de mostrar a expressão da casta naquele sítio do Alentejo. Serão colheitas da casa, desde 2009 a 2015, sendo a primeira vez que a empresa compõe uma prova deste género. Para harmonizar, estará incluído um jantar tradicional alentejano.

A reservas podem ser feitas através do e-mail quintadaplansel@plansel.com e do telefone 266 898 920.

Entrevista a Francisco Mateus: “O bom e barato não serve o Alentejo”

Francisco Mateus, presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana

Em entrevista à Grandes Escolhas, Francisco Mateus, responsável pelo organismo certificador e coordenador do vinho do Alentejo presenteou-nos com uma visão muito lúcida e sem tabus sobre os temas mais actuais que “mexem” com esta grande região vitivinícola. Do mercado de volume às especialidades, das denominações de origem às castas e às novas plantações, da […]

Em entrevista à Grandes Escolhas, Francisco Mateus, responsável pelo organismo certificador e coordenador do vinho do Alentejo presenteou-nos com uma visão muito lúcida e sem tabus sobre os temas mais actuais que “mexem” com esta grande região vitivinícola. Do mercado de volume às especialidades, das denominações de origem às castas e às novas plantações, da sustentabilidade ao Enoturismo, uma longa conversa com muito motivo de reflexão.

TEXTO Luís Lopes FOTOS Mário Cerdeira

Nascido em 1970, o percurso académico de Francisco Mateus passou pelo bacharelato em Engenharia Agro-Alimentar (ramo vinhos) e licenciatura em Gestão, ambos pelo Instituto Politécnico de Santarém, tendo mais tarde concluído a pós-graduação em Direção de Empresas, pela AESE/IESE Business School da Universidade de Navarra.

Iniciou a sua actividade no sector vitivinícola em 1995, no IVV – Instituto da Vinha e do Vinho, nas áreas do controlo e fiscalização, em Santarém, e posteriormente na gestão de medidas comunitárias de apoio. Ainda no IVV, enquanto director de departamento, integrou a equipa que representou Portugal em Bruxelas na negociação entre estados-membros e Comissão Europeia sobre a reforma da legislação base do sector vitivinícola europeu. Também no IVV, preparou e assegurou a gestão operacional dos dois programas de apoio nacional ao sector do vinho, entre 2009 e 2018. Desde Novembro de 2015 é presidente da direcção da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, com a missão de implementar a estratégia para os Vinhos do Alentejo, potenciando e valorizando a marca “Alentejo” no sector do vinho, a nível nacional e internacional. O Alentejo da vinha e do vinho foi, naturalmente, o tema da nossa conversa.

Grandes Escolhas: O Alentejo continua a ter uma posição absolutamente dominadora no mercado nacional (segundo os últimos dados, cerca de 37% em volume e 40% em valor nos vinhos com certificação regional), mas tem vindo a perder algum peso nos últimos anos. Como avalia a situação actual e sua evolução?
Francisco Mateus: Quando olhamos para a evolução dos números ao longo de um determinado período de tempo, devemos sempre ter em conta o volume de vinho disponibilizado no mercado e o preço a que é vendido. E verificamos que ao longo de 5 ou 6 anos o Alentejo teve boas produções e foi colocando cada vez mais vinho no mercado, mantendo a sua quota em quantidade, mas perdendo alguma coisa em valor. Ou seja, durante anos, o Alentejo “alimentou” o mercado, mas com efeitos ao nível do preço. Acontece que 2016, 2017 e 2018 foram três colheitas sucessivas de quebra de produção na região (algo absolutamente inédito nos últimos 30 anos) e, com menos vinho disponível, os produtores fizeram uma correcção de preço para cima, gerando mais valor. Criou-se assim uma situação em que o mercado nacional cresceu devido ao turismo, há mais vinho a ser consumido, mas o Alentejo tem menos vinho para oferecer, seja internamente, seja na exportação. E também não podemos esquecer que as outras regiões portuguesas também estão a fazer o seu trabalho, não estamos sozinhos no mercado. Tudo isto resulta numa ligeira quebra no volume. Mas é de realçar que o vinho do Alentejo, tendo a enorme quota de mercado que tem, consegue ainda assim ter um preço acima da média, o que é bastante positivo.

Mais de 70% dos vinhos portugueses nos super e hipermercados são vendidos em promoção. Tendo o Alentejo um peso muito grande nas cadeias de retalho, que impacto acha que esta realidade tem, não apenas na valorização do produto, mas também na imagem global do vinho do Alentejo?
As promoções são um facto, e não quero dizer que não tenham aspectos positivos. Mas dou-lhe a minha opinião enquanto consumidor e observador atento do que se passa no mundo do vinho. Julgo que promoções com percentagens de desconto muito elevadas, não são um comportamento leal para com todos os produtores que estão no mesmo mercado. O Alentejo, de facto, é uma região que vende muito vinho em promoção, mesmo apresentando um preço médio entre os mais elevados. E acredito convictamente que o Alentejo tem uma qualidade, notoriedade e procura tais que não justificam tanta promoção. Penso que era preferível vender um pouco menos e ter o vinho ainda mais valorizado. Quero que as pessoas olhem para o Alentejo como uma região de onde vem qualidade e que essa qualidade merece um preço superior. Seja no mercado nacional seja na exportação. É isso que nos vai garantir o futuro.

Ou seja, o rótulo bom e barato não é algo que queira colar aos vinhos do Alentejo…
Decididamente, não. Eu sei que existe, eu sei que vende, não sou contra o bom e barato, mas a nossa opção em termos de mercado não deverá ser por aí.

Apesar do sucesso dos vinhos alentejanos em Portugal, nos mercados de nicho, que valem pouco em volume, mas são muito importantes para construir marca e valor, o Alentejo parece perder terreno comunicacional e espaço de prateleira nas lojas especializadas, onde outras regiões vão crescendo. Como explica isso e o que é preciso fazer para reforçar a notoriedade dos grandes vinhos do Alentejo nos mercados de nicho?
O Alentejo tem um pequeno número de produtores que representam uma grande quantidade do vinho alentejano que vai para o mercado. Nesses mercados de nicho o foco aponta normalmente para os produtores de pequena dimensão, são produtores com esse perfil que constituem a novidade, a coisa de que se fala. Essa é uma razão.
Mas também, porventura, no mercado de nicho, não estaremos a fazer o trabalho que devíamos. Por exemplo, os vinhos de topo do Alentejo são colocados no mercado, normalmente, com alguma idade, o que diz também da sua qualidade e longevidade. Isso merecia ser evidenciado face à concorrência directa. Acredito que tem faltado algum arrojo, alguma inovação, alguma garra por parte do produtor alentejano para mostrar que os seus vinhos merecem estar no topo, nesses mercados especializados, ao lado dos mais cotados.
Por outro lado, a força que o Alentejo tem na grande distribuição leva a que as lojas especializadas sejam porventura menos trabalhadas pelos produtores.
Francisco Mateus, foto de Mário CerdeiraDito de outra forma, não precisam…
Mas não pode ser assim! Temos que ir bater à porta das lojas de nicho, mostrar o nosso produto, comunicar mais e melhor, trazer os compradores à nossa região, impressioná-los com a nossa qualidade e identidade. Temos de potenciar as marcas fortes, mesmo de produtores pequenos. Há todo um trabalho que o Alentejo em tempos fez e que tem de voltar a fazer. Volto a dizer, os produtores das outras regiões não estão parados…

As especialidades (vinhas velhas, castas antigas, talha…), podem contribuir para reforçar a imagem desse Alentejo “de especialidades”, diverso e diferenciador?
Claro! Vou começar pelo vinho de talha. O talha representa um nicho, uma quantidade muito pequena, apenas cerca de 60 mil litros por ano de vinho de talha certificado. Por outro lado, a talha não é um recipiente de fermentação normal, a talha tradicional, que existe em número limitado, é usada para um só vinho, uma vez por ano. Só este facto diz-nos que o vinho de talha será sempre um produto de nicho. Além de que – e isto é uma opinião pessoal – o vinho de talha tem um local e um momento para ser consumido. Não será um vinho que as pessoas vão comprar num supermercado, pela sua raridade, preço e perfil de aroma e sabor. Mas é um vinho para um consumidor exigente e conhecedor, o tal consumidor de nicho.
Quanto à vinha velha, tenho pena de existirem relativamente poucas no Alentejo. A vinha velha foi desaparecendo com as sucessivas reestruturações. Neste momento, segundo os dados de cadastro de que dispomos, numa área total de aproximadamente 22.500 hectares de vinha, existem cerca de 131 ha com mais de 50 anos e 382 ha com mais de 40 anos. No entanto, apesar de não ser grande, é uma área que têm estado mais ou menos estável na última década e estas vinhas mais antigas podem ajudar a reforçar a tal identidade Alentejo de que estava a falar. Sabemos que as vinhas velhas são um património que deve ser preservado e estimado. Mas só pode ser preservado se quem as tem sentir que geram algum valor. Aí há um trabalho que tem de ser feito, até pela própria CVR Alentejana, na exploração comunicacional das nossas vinhas mais antigas. Temos de passar essa imagem para o mercado. E também acho que precisa existir um conjunto de regras que defina, no Alentejo, qual a idade mínima que a vinha deverá ter para se poder usar na rotulagem a designação vinha velha. Isso iria ajudar os produtores a valorizá-las e mantê-las.
No que respeita às castas antigas e mais raras, a mesma coisa. Outro dia bebi um vinho de Tinta Carvalha (uma casta de que dispomos de pouco mais de 4 hectares no Alentejo) de um equilíbrio extraordinário. Nas brancas temos o Perrum, por exemplo, uma casta antiga, com características muito próprias. Tudo isso ajuda a construir uma imagem diferenciadora.

Passando ao mercado de exportação, o Alentejo representa cerca de 20% dos vinhos portugueses com denominação de origem ou indicação geográfica. Como avalia a evolução da exportação ao longo dos últimos anos?
Há um indicador económico muito positivo: a variação de crescimento das exportações é maior do que a variação da certificação. Isto significa que, a cada ano, estamos a exportar um pouco mais entre o volume de vinho disponibilizado no mercado. E, sobretudo, temos aumentado os preços na exportação.
Em termos de mercados propriamente ditos, temos uma grande fatia das nossas exportações em quatro países de fora da União Europeia: Brasil, EUA, Angola e Suíça. Têm sido bons mercados para o Alentejo (a Suíça, em particular, valoriza bem os nossos vinhos) mas sabemos que as oscilações da situação política e económica no Brasil e em Angola têm reflexos no comércio internacional. Depois temos a Polónia, com bons níveis de crescimento, mas a preços inferiores ao que ambicionamos, a França e Benelux, a Rússia, também a crescer, a China, que é um mercado interessante.
Os vinhos do Alentejo chegam a mais de 100 países, há muito por explorar noutros mercados e, de alguma forma, promover a diversificação e evitar a concentração nos quatro mercados que acima referi. Mas isso não é fácil, é preciso fazer escolhas, a capacidade de investimento e de recursos humanos é limitada, sobretudo nas pequenas empresas. Muitas empresas do Alentejo têm pequena dimensão. Num total de cerca de 300 produtores, 13 empresas representam mais de 60% da produção; e mais de metade dos produtores representam menos de 4% do volume de produção. O Alentejo do vinho não é todo formado por grandes empresas, como alguns erradamente acreditam.

O sistema DOC Alentejo assenta em 8 sub-regiões. No entanto, tirando algum movimento que se sente em torno de Vidigueira ou Portalegre, há poucos produtores e consumidores a valorizarem a identidade da sub-região ou a colocá-la nos rótulos. Porquê?
Para lhe responder teria que avaliar região a região. É verdade, em Portalegre há maior utilização do nome da sub-região. Portalegre está a ganhar notoriedade, até porque a maioria das empresas que vieram de fora para o Alentejo elegeram Portalegre como destino. Mas vejo também produtores de Borba e Vidigueira a procurarem comunicar a sua identidade. Há muito vinho de Reguengos a ser comunicado enquanto tal. Já em Moura há poucos produtores, e por isso a sub-região tem pouca visibilidade. O mesmo se passa em Granja-Amareleja. Diria que, porventura, as sub-regiões que utilizam menos o nome na rotulagem serão Évora e Redondo. Mas isso tem a ver com o modelo de negócio e opções de cada um. Para muitos é mais interessante optar exclusivamente pela denominação Alentejo em vez de adicionar o nome da mais pequena unidade geográfica. E outros ainda, podendo utilizar a designação DOC Alentejo, preferem o Regional Alentejano, até por uma questão de flexibilidade, sobretudo nas marcas de maior volume. Por exemplo, se um produtor precisar de comprar vinho ao vizinho e o vizinho só tiver vinho Regional, ficará naturalmente limitado se a sua marca estiver sob a DOC Alentejo.

Uma DOC tem de ter regras e um grau de exigência maior que um IG…
É evidente. Por definição uma Denominação de Origem é algo de conservador. É impensável estar a mexer nas regras de uma DO em cada sete ou dez anos. Podemos fazer ligeiros ajustes ou adaptar as regras à evolução natural das coisas. Mas não podemos recriar uma DO, sob pena de perdermos a identidade. As regras existem para serem aplicadas.

O Alentejo litoral é algo recente no mundo do vinho e o consumidor praticamente não o conhece. No entanto, pode vir a assumir um papel importante no futuro, até num contexto de alterações climáticas. Como vê o investimento de alguns produtores nesta parte menos notória do Alentejo?
Penso que o Alentejo litoral pode vir a tornar-se, no futuro, um daqueles casos que eventualmente justificarão uma alteração às regras da Denominação de Origem. As características especiais que tem, os solos, a influência marítima tão presente, a própria tipologia das castas que estão ali plantadas, tudo isso pode vir a configurar uma nova sub-região. Mas mais importante do que eu achar que pode acontecer, é os produtores que lá estão quererem que aconteça. Se os produtores acham que estão bem assim, porque havemos de estar a mexer nisso?
Penso que essas vinhas litorais são mais um bom exemplo do arrojo e da inovação dos produtores do Alentejo. Os vinhos, nomeadamente os brancos, diferenciam-se claramente dos outros que são produzidos na região e enriquecem a oferta e a diversidade do Alentejo. O investimento que decidiram ali fazer está a dar excelentes resultados e a mostrar um Alentejo diferente, um Alentejo que há 15 anos não existia. Na verdade, há muito Alentejo, é uma região grande e ainda com zonas por explorar.

Francisco Mateus foto de Mário Cerdeira

Em todas as denominações de origem europeias as castas desempenham um papel fundamental na definição da identidade regional. Uma região é dinâmica, mas, como já referiu, o estatuto de Denominação de Origem pressupõe um certo conservadorismo. Uma das últimas alterações que se fizeram na região, abriu a possibilidade de vender como DOC Alentejo um vinho 100% Syrah ou 100% Touriga Nacional, por exemplo. A designação Regional Alentejano para essas castas “não tradicionais” era insuficiente para os objectivos dos produtores?
As alterações que são feitas à legislação resultam sempre de compromissos. Isto quer dizer que nem sempre se consegue aquilo que se ambiciona, consegue-se aquilo em que é possível gerar acordo. A questão das castas é típica deste tipo de “negociações”, digamos assim, nuns casos consegue-se consenso, noutros não.
Em 1988, na primeira legislação para os vinhos do Alentejo, as castas, os lotes, e muitas outras regras eram diferenciados de sub-região para sub-região. Era tudo muito complexo, para a CVR e para os produtores. Na alteração mais profunda que se fez, em 2010, entendeu-se que isso deveria ser simplificado e as regras para as DOC Alentejo serem iguais nas várias sub-regiões. E houve castas que ficaram numa lista das que devem representar, em conjunto ou isoladamente, 75% do lote, e outras que não podem representar mais de 25% do lote.
Acontece que hoje temos mais informação do que tínhamos nessa data. Importaria talvez olhar para o terreno, ver o que existe, o que está cadastrado, com que resultados em termos de vinhos. Interrogo-me se, hoje em dia, se justifica ainda termos essa situação dos 75/25 generalizada a todas as sub-regiões. Se calhar justificava-se um outro modelo. Por exemplo, dizíamos aos produtores que, quem está dentro de uma sub-região, pode usar o nome da sub-região associado ao DOC Alentejo em determinadas condições; deixa de o poder usar se optar por esta ou aquela casta e aí só usa o nome DOC Alentejo; e se entender colocar lá mais umas outras castas, é livre de o fazer, mas o vinho terá de ser Regional Alentejano. Isso tornaria a regra mais fácil e, sobretudo, colocava a decisão nas mãos do produtor. O produtor, conhece as regras, sabe o que pode ou não pode fazer: se decidir num determinado sentido sabe o que pode comunicar no rótulo. A decisão é sua.

No fundo, é assim que funcionam as mais importantes DO europeias…
Sem dúvida. Não podemos esquecer que as regiões não são imutáveis, há inovação, há mudança. E é bom que de quando em vez apareçam umas castas novas. Nós, no ano passado, introduzimos mais uma meia dúzia de castas no Regional Alentejano… É para isso que serve a Indicação Geográfica por oposição à mais conservadora Denominação de Origem.

A área de vinha do Alentejo teve um enorme crescimento desde a demarcação em 1989. Acha que a região não deve ir muito além dos cerca de 22.500 hectares cadastrados até Agosto de 2019?
Em 30 anos do Alentejo mais recente, o que vemos é que a área de vinha cresceu muito até 2003, estagnou alguma coisa até 2013/2014 e, desde então, tem vindo a crescer. Houve um entendimento por parte dos representantes dos agentes económicos regionais de que o Alentejo deveria fazer crescer a sua área de vinha. Assim, referente a autorizações já atribuídas e com possibilidade de plantação até 2022, permitiu-se um aumento de 3.700 hectares, ou seja, uma variação de 17,9% face a 2014. Tem havido, portanto, uma abertura para plantar novas vinhas. Mas entendo que agora a região tem de olhar muito bem para aquilo que tem, avaliar o potencial de crescimento que existe em termos de autorizações já atribuídas, e pensar na produção e no mercado.

Ou seja, na relação entre a oferta e a procura e o seu reflexo no preço…
Exactamente. De forma muito simples, vejo a coisa assim: estamos a permitir que se aumente a área vitícola para mais 3.700 hectares; isso significa que poderemos aumentar, no mínimo, 15 milhões de litros em produção. Ou seja, em 2023 o Alentejo poderá estar a produzir mais 15 milhões de litros do que 2014. E isto se, até lá, não forem dadas novas autorizações! Há que pensar nas adegas que têm de vinificar e armazenar esse acréscimo e no mercado que vai ter de o receber. Vamos colocar este vinho no mercado para o vender ou para gerar valor que ajude a pagar a instalação da vinha?
Já iniciámos este debate no Conselho Geral da CVR Alentejana, estamos a avaliar a informação e a reflectir sobre o futuro próximo da plantação de vinhas no Alentejo. Em tempos decidimos crescer, acredito que agora é tempo de abrandar, ou mesmo parar, para avaliar os dados disponíveis, fazer um balanço e tomar decisões.

O Alentejo foi a primeira região portuguesa a assumir uma preocupação colectiva e institucional com a sustentabilidade. Para além da compensação mais evidente, que é ter um Alentejo do vinho mais sadio e sustentável, acha que é possível fazer reflectir no mercado (em termos de notoriedade e valor) esse investimento ambiental?
Antes de tudo, acredito convictamente que a viticultura sustentável e a produção sustentável de vinho podem ser o trampolim do Alentejo para os próximos anos, um verdadeiro factor diferenciador da região face às suas congéneres.
Quanto à sua questão: a produção sustentável é valorizada pelo consumidor? Pelo menos em duas geografias, os mercados nórdicos e os Estados Unidos da América, temos visto que sim. Mas a verdade é que, globalmente, é algo que o consumidor normal, o consumidor médio, não valoriza. Comunicar uma vitivinicultura sustentável não é fácil. Primeiro porque as pessoas (mesmo os jornalistas) olham para a palavra sustentabilidade e associam-na à questão climática ou económica. Depois, o que é isso de vinho sustentável? O vinho não é sustentável, a forma como foi produzido sim.
Quando o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo foi lançado, em 2014, apresentámo-lo a vários concursos, com sucesso. Muito em breve vamos receber o prémio de Inovação em Meio Rural atribuído pela Comissão Europeia. O nosso programa não é uma coisa académica, é algo que está no terreno, aplicado pelas empresas. Mas como comunicar tudo isto?
Sabemos que o consumidor valoriza uma certificação. Para o ano vamos ter, atribuída por entidades independentes, a certificação de viticultura sustentável e de produção sustentável de vinho. Vamos passar a ter algo concreto, auditável e verificável, que pode ser apresentado ao importador ou ao consumidor final. Porque o que temos até agora é o trabalho efectivo no terreno, coordenado pelo João Barroso de forma incansável, mobilizando os produtores da região no sentido de introduzirem práticas e modelos sustentáveis. A vitivinicultura sustentável é hoje uma realidade no Alentejo, mas é preciso que isso seja levado até ao consumidor através de uma certificação, um selo.

Isso leva tempo…
É verdade. Napa Valley , nos EUA, anda nisto há 20 ou 30 anos e há pouco li uma notícia que referia que 99% da área de vinha está certificada como sustentável. Mas o mercado americano está muito atento a isto e eles são muito bons a comunicar. Nós temos de olhar para os bons exemplos e levar isto até ao consumidor. Mas tenho consciência de que é muito difícil passar esta mensagem no mercado nacional no sentido de criar valor. Hoje em dia, a esmagadora maioria do consumidor português dá muito mais atenção à qualidade e ao preço do que ao modelo de produção do vinho. Isso pouco lhe diz.

Embora os chamados millennials e mais ainda os membros da geração Z, ou geração digital, comecem a pensar de forma diferente…
Ora aí está! Esta geração pesquisa tudo pela internet, está muito mais atenta a tudo o que a rodeia, há uma fatia de consumidores que vai querer saber como os bens que consomem foram produzidos. E quando isso acontecer os vinhos do Alentejo estarão na linha da frente.

A rega é, no Alentejo, um factor de qualidade, não apenas de produção. Mas a disponibilidade de água é limitada. Por outro lado, há quem defenda energicamente que sustentabilidade e rega são incompatíveis. Como gerir a escassez?
Eu não tenho qualquer tabu relativamente à rega da vinha. No entanto, regar intensamente com objectivo de aumentar a produção, não é sustentável, pelo consumo da água e pelo ciclo de vida curto que essa vinha terá. Já a rega optimizada é benéfica. Mas a realidade é que temos um problema de acesso à água no Alentejo. Existe um Alqueva, com uma massa de água gigantesca, mas o Alqueva está longe de Évora e de muitas outras zonas. Há produtores de Reguengos, ali ao lado do Alqueva, e que não têm água. Para além do acesso, há o modelo. A rega de precisão é o caminho que temos de seguir. Não digo “devemos”, digo “temos”. Temos de dar à vinha apenas a água que ela necessita para conseguir viver. No fundo, reproduzir as condições de um ano climático normal. Sem água não há vida. Temos obrigação de dar água à vinha quando não chove. Mas para dar água é preciso tê-la. Acredito que é essencial que consigamos reter a maior quantidade possível de água da chuva, sem colocar em causa, naturalmente, a corrente dos rios e ribeiras. Nestes últimos cinco anos, no Alentejo, tem caído menos água e, quando cai, cai em períodos curtos com enorme intensidade. Se nós entrarmos num período continuado de seca extrema, como tem acontecido na África do Sul ou na Austrália, temos de estar preparados. E isso significa usar bem a água que temos e não desperdiçar a água da chuva.

Uma grande parte do Alentejo vitivinícola é mecanizável, mas não apenas as máquinas dependem de pessoas como também nem tudo se resolve com máquina. Como avalia a carência de mão de obra agrícola e o seu impacto no futuro?
Para isso só tenho uma palavra: dramático. Infelizmente não acontece só na agricultura e vitivinicultura, os outros sectores (a hotelaria, por exemplo), também são afectados pela escassez de mão de obra. Ou não há pessoas para trabalhar ou as que existem não estão disponíveis para aquele trabalho. Para o sector do vinho, tudo isto é um desafio. Quando hoje se instala uma vinha já se prevê o nível máximo de mecanização, não apenas a vindima mas também a poda e outras tarefas. Isto pode derivar numa espécie de “robotização” do sector do vinho (com a conotação negativa junto do consumidor que daí advém), mas eu entendo perfeitamente, se fosse produtor faria a mesma coisa. Se não consigo encontrar pessoas para trabalhar, tenho de mecanizar.

Antigamente dizia-se que a vinha contribuía para fixar populações. Mas cada vez mais a mão de obra vitícola é mão de obra imigrante, os naturais continuam a ir embora…
Há dois factores que para isso contribuem. Por um lado, as vias de comunicação são muito melhores. Posso morar na cidade, em Évora, e trabalhar em qualquer parte do Alentejo. Por outro, o trabalho agrícola não é visto como sendo aliciante. Isto pode ter a ver, como é óbvio, com o nível salarial, mas em muitos outros sectores de actividade os salários não são melhores.
Uma das grandes preocupações da CCDR do Alentejo é a questão demográfica. O Alentejo está a ficar velho e a ficar sem gente. É uma área muito grande do território nacional, uma área onde a agricultura é muito importante e uma área onde há empregabilidade. Mas há muito pouca vontade de ir trabalhar na agricultura. Isto merece uma reflexão dos potenciais empregadores e dos potenciais empregados. No meio de tudo isto, há boas notícias. A Universidade de Évora abriu agora um curso de enologia e, pelo que ouvi dizer, esgotou as vagas. Ainda há pessoas a quererem trabalhar nesta área. E a academia está atenta ao que se passa à sua volta. Este curso em concreto reflecte a dinâmica do sector e questões como eficiência energética e enoturismo são temas curriculares.

Francisco Mateus. Foto de Mário Cerdeira

É precisamente de Enoturismo que queria falar, para terminarmos a entrevista. Uma Rota do Vinho funciona como elemento agregador e multiplicador? Ou na realidade, no terreno, o Enoturismo é cada um por si, uns amadores, outros profissionais, uns fechados ao fim de semana outros abertos todo o ano?
É um pouco tudo isso. Falando do caso concreto do Alentejo, temos enoturismos excelentes, temos enoturismos com boas condições e com pouco movimento e temos enoturismos onde não vai ninguém. E depois temos a Rota do Vinho do Alentejo. A sala da Rota, localizada no centro turístico de Évora, procura ser um elemento agregador, um espaço onde se mostra o Alentejo do vinho. Mas nós sabemos que é muito difícil levar os produtores a trabalhar em rede, em conjunto. Seria importante que se criassem grupos de três ou quatro produtores, com características diferenciadas: um tem vinhos de talha, outro uma adega moderna, outro ainda uma vinha antiga, todos com vinhos bem distintos. É evidente que existem no Alentejo produtores que não precisam de nada disto, até pelo grande número de turistas que recebem. Mas muitos outros não acolhem quase ninguém. Porquê? Porque não têm condições? Porque não publicitam? Porque têm a porta fechada ao fim de semana? Porque dizem que é só por marcação, mas, quando se procura marcar, o telefone toca e ninguém atende?
Naturalmente, quando na Rota do Vinho alguém pede sugestões de visitas ou marcações, as pessoas responsáveis contactam aqueles produtores que respondem aos mails e telefonemas, aqueles que sabemos que dão resposta com uma oferta enoturística de qualidade. É muito mau para a imagem do turismo do Alentejo quando alguém vai de carro, levado pelo GPS até um produtor que surge nos guias de Enoturismo, e depois chega lá, toca à porta, buzina, e mais tarde aparece alguém a dizer “o senhor engenheiro não está cá”. Isso é muito mau. Sinceramente, preferia que esses produtores não estivessem na Rota. Portanto, e resumindo a resposta à sua questão, no Enoturismo do Alentejo há elevados níveis de profissionalismo e elevados níveis de amadorismo.

Edição n.º32, Dezembro 2019

O Melhor do Alentejo: 57 tintos apaixonantes

Provar mais de meia centena de tintos alentejanos de topo é depararmo-nos com um conjunto de vinhos de grande categoria, espelhando conceitos e perfis muito distintos. Entre estilos mais “clássicos” e outros mais “modernos”, o Alentejo é todo um mundo onde a qualidade é o denominador comum. TEXTO Mariana Lopes            […]

Provar mais de meia centena de tintos alentejanos de topo é depararmo-nos com um conjunto de vinhos de grande categoria, espelhando conceitos e perfis muito distintos. Entre estilos mais “clássicos” e outros mais “modernos”, o Alentejo é todo um mundo onde a qualidade é o denominador comum.

TEXTO Mariana Lopes                               FOTOS Mário Cerdeira

O Alentejo tem muitas faces. É como se fosse um prisma que refracta a luz, originando várias cores. A sua multiplicidade de solos, castas, climas e até de conceitos, tornam-no numa região muito rica, apaixonante, diversa, e que transpõe tudo isso para os seus vinhos. Fazer uma prova como esta, de quase 60 tintos do mesmo segmento, já não é um “gira o disco e toca o mesmo”, como seria há uma dezena de anos. São todos diferentes, mesmo que a identidade regional esteja quase sempre presente.
Há duas coisas muito interessantes numa Grande Prova, as curiosas conclusões a que se chega, por comparação, e as várias opiniões, por vezes completamente díspares, das pessoas com quem se fala, quer sejam enólogos ou administradores das empresas. E indagar sobre o que estes pensam sobre as tais conclusões, é ainda mais divertido. Mas vejamos o que se espremeu de tudo isto. Em primeiro lugar, o Alicante Bouschet tem cada vez mais domínio nos lotes, e até em estreme. Mas apesar de uma certa rusticidade habitual na casta, os vinhos que a comportam mostraram-se elegantes, com essa rusticidade bem domada. Pedro Baptista, enólogo da Fundação Eugénio de Almeida e criador de um dos três vinhos melhor classificados na prova, o Scala Coeli Alicante Bouschet, explica que esta casta “acaba por ser muito interessante e importante no Alentejo porque guarda muito bem a acidez, sobretudo na fase de maturação fenólica. Este Scala Coeli, por exemplo, já foi vindimado perto do início de Outubro”, e acrescenta que “por outro lado, esta personalidade de bosque que o Alicante tem, faz dele um vinho muito apelativo”. Quanto à domesticação da rusticidade, afirma que “tem que ver com o momento da vindima e com o saber esperar pelo ponto ideal dos taninos, e para isso é preciso sensibilidade. Além disto, com rigor controlado na produção e solos menos ricos, ele consegue dar a concentração que procuramos, mas também o equilíbrio correcto”.

Já Hamilton Reis, enólogo de Cortes de Cima e de outro dos vencedores da prova, o Cortes de Cima Reserva, concorda com a necessidade de ser controlado na vinha, de forma a produzir menos, mas tem outra convicção quanto à “meiguice” da casta: “O Alicante é uma casta tramada, não é simples como as pessoas dizem. Produz de forma desmesurada e, para ter a identidade que queremos dele, necessita de ter produções menores, entre 7 e 8 toneladas por hectare. Se o deixarmos à solta, pode chegar facilmente às 15”. Na adega, diz ser “um erro extraí-lo demais, porque fica com os tais taninos rústicos. Com maturações delicadas e bem pensadas, e vinificação com engaço, por exemplo, funciona muito bem. É preferível usar um pouco de engaço e acalmar nas maturações. Em vinhas novas, também é difícil obter equilíbrio, tem de ser de uma vinha com alguns anos, para se domesticar a ele próprio. O mesmo acontece com a Touriga Franca”, desenvolveu. Susana Esteban, autora do Procura Vinhas Velhas e também consultora no Monte da Raposinha (produtor do Furtiva Lagrima, que é um 100% Alicante Bouschet), tem uma teoria para esta “tendência”. “O Alicante sempre esteve muito presente nos topos de gama do Alentejo, a questão é que cada vez se fazem melhores vinhos, então há mais com Alicante”. E adiantou que “para o domar, utilizo madeira porque acho que precisa dela, mas com cuidado e, na vinificação, vou mantendo muita atenção à maceração, fazendo uma extracção adequada a cada ano”. Para Luís Patrão, enólogo da Herdade de Coelheiros desde 2016 (o Tapada de Coelheiros Garrafeira ficou no pódio desta prova), é tudo uma questão de identidade. “O Alentejo está a entrar numa nova era, à procura da sua identidade. Neste novo tempo, a identidade para o Alentejo será o Alicante Bouschet. Ele destaca-nos das outras regiões e, talvez por isso, seja essa a tendência”, afirmou. “No caso de Coelheiros, tínhamos muito pouco Alicante mas, agora que eu e esta equipa entrámos, passará a ser a dominante nos vinhos. Terá de ser domesticada através de uma boa viticultura, até de uma condução diferente na vinha. Um factor muito importante é o estágio de barrica e também o de garrafa. É uma casta relativamente neutra de aroma e ganha muito com o estágio em garrafa, onde os terciários começam a aparecer. É isso que a torna não especial”.

Fluxo de imigração

Se se nota bem a predominância de Alicante Bouschet, também é verdade que castas ditas mais recentes, ou menos tradicionais no Alentejo, desempenham um papel considerável nos lotes da região. A Touriga Nacional, por sua vez, é um bom exemplo disso. É aqui que surge a “velha-nova” questão: a sua presença desvirtua, ou não, o carácter alentejano? Afecta, ou não, a sua expressão? É certo e sabido que esta “top model”, como a apelidou Luís Lopes em editorial antigo, chama a atenção onde quer que esteja, polvilhando notas florais expressivas e por vezes cítricas no aroma dos vinhos, mas será que arrebata sempre tudo o que as outras castas conferem, matando assim um sentido de lugar? Luís Cabral de Almeida, enólogo da Herdade do Peso (Sogrape) e do vinho Essência do Peso, é seguro nas suas palavras: “Eu vou contra a opinião da maior parte dos meus colegas. A Touriga Nacional não é diferente do Cabernet no que toca a marcação, por exemplo. Mas claro, tem de ser utilizada com medida. A preocupação é engarrafar vinhos com carácter regional, obviamente, mas é possível tê-lo com essas castas. No nosso caso, estamos muito contentes com a Touriga Nacional. É de ciclo longo e permite-nos garantir acidez. Na nossa zona, confere um carácter arbustivo e não floral, sempre com elegância de taninos, dando prolongamento em boca. Hamilton Reis concorda, e reforça, dizendo que “no nosso Reserva nunca passei sem ela, embora variando na quantidade. Na sua vertente mais fresca, elegante e precisa, a Touriga Nacional entrega ao meu vinho finesse. Nunca deixamos transparecer a expressão da casta propriamente dita, apenas a sua elegância. A Syrah, por exemplo e também neste vinho, também costuma marcar bastante, mas nós não deixamos que comande. Apenas consentimos que o Aragonez comande. É o piloto aromático do vinho. Para mim, a Touriga Nacional não desvirtua, principalmente se usarmos uma que sabemos ser apropriada para um determinado lote, que nem todas são. Uso-a apenas como casamenteira, agregadora de lote”. Na óptica do produtor, Duarte Leal da Costa, da Ervideira, está convicto das vantagens da casta no Alentejo, atestando que “sou favorável a castas novas que já comprovaram melhorar os vinhos do Alentejo. Se for apenas para ter diferente, como o caso do Pinot Noir, não fazem falta nenhuma. Se a Touriga Nacional veio dar coisas boas aos lotes, como o Alvarinho também o fez, sou completamente a favor. Não é uma monocasta para o Alentejo, mas em lote, sim”. Usando do princípio do contraditório, temos Luís Patrão e Pedro Baptista. O primeiro, refere que a Touriga Nacional “afecta e retira um bocadinho de identidade. Ela domina, é assertiva no nariz. É importante no Alentejo para fazer vinhos de entrada, mais jovens, por exemplo. Mas para um público que procura diferenciação, não”, e acrescenta que “há quatro ou cinco anos, a Touriga estava em todos os lotes, caiu-se no exagero. Em sobrematuração, é tudo menos elegante, entra nas compotas. No Alentejo central, é difícil”. Pedro Baptista, na mesma linha de pensamento, retorque que “a Touriga Nacional talvez seja, das mais recentes, com que temos de ter mais cuidado na utilização nos lotes. É importante salvaguardarmos que as características mais importantes dos vinhos alentejanos estejam lá. No entanto, se houver um controle efectivo, e até institucional, sobre isso, tudo tem lugar”.

Moderno vs. Clássico

Esta questão das castas recentes e das antigas, leva imediatamente a outra. São bem evidentes dois estilos base nos vinhos do Alentejo, um mais moderno, assente na pureza de fruta, onde a Touriga Nacional (e a Syrah) muitas vezes tem um papel, e outro mais clássico, no qual predominam notas balsâmicas, resinas, vegetal seco, especiarias. Seria de esperar que os produtores e os enólogos se identificassem mais com um ou com outro, mas isso acontece com poucos. Hamilton Reis e Duarte Leal da Costa são os únicos com uma preferência clara. “O estilo clássico é o que me diz mais, mas na Cortes de cima faço os dois e no mesmo segmento, dos topos de gama. O Reserva é mais clássico e o Incógnito mais moderno”, diz Hamilton. Duarte Leal da Costa é mais radical: “O nosso estilo é mais o da elegância. O problema dos clássicos poderosos é que ao primeiro copo dizemos ‘uau!’ e ao terceiro estamos enjoados”. Uffa, esta foi forte. Mas ninguém podia ter feito da Ervideira o que ela é hoje sem esta franqueza e pragmatismo. Pedro Baptista fala do caso da Fundação Eugénio de Almeida, e expõe que “sendo o Cartuxa que define a casa, será o estilo mais clássico a prevalecer. Mas quando falamos do Scala Coeli, que tentamos que seja símbolo de vitalidade e de outras interpretações da uva, depende da casta que escolhemos em cada ano. Gosto dos dois estilos porque é uma questão de enquadramento. A minha base, e onde me sinto melhor, é a trabalhar a pureza da fruta e o que ela nos dá”. Luís Patrão também toca nos dois estilos, fazendo essa diferenciação entre gamas. “Acho que há espaço para os dois e gosto dos dois”, declara.

A importância do equilíbrio

Praticamente todos os vinhos da prova têm um grau alcoólico de elevado a bastante elevado. Muitos com 14,5%, alguns com 15% e até dois com 16%. Mas o que é surpreendente é a frescura transversal a todos estes tintos, mesmo com evidentes maturações. Para Susana Esteban, é o factor “serra” que lhe dá o equilíbrio. “No meu caso, é o terroir, a serra de São Mamede, e isso foi o que me cativou nela. São solos de granito, o que também contribui em muito para a frescura deste Procura Vinhas Velhas”, explicou. Luis Cabral de Almeida toca num ponto em que todos estão de acordo, a viticultura: “Cada vez temos melhor viticultura. O grande desafio do Alentejo é mostrar que se fazem vinhos de alto nível e de grande equilíbrio, e isso está a conseguir-se agora. O negócio de vinho barato no Alentejo está a desaparecer, porque já todos percebemos que temos de trabalhar muito perto da vinha e vindimar na altura certa, sobretudo. Antigamente, nesta região, estava tudo vendido à partida, não se pensava como agora. Hoje, os produtores e enólogos têm de se virar para dentro da vinha, perceber o que lá há e o que é preciso fazer para produzir vinhos mais caros, e isso são vinhos que têm obrigatoriamente de ter grande equilíbrio. No Alentejo, dois dias de atraso na colheita podem significar um desequilíbrio total”. Pedro Baptista fala de exposição solar e da sua experiência no biológico (a FEA tem 160 hectares em produção bio, 35 dos quais certificados), defendendo que “o álcool no Alentejo é sempre um assunto presente. Fazer vinhos que atinjam um grau de maturação completo sem álcool elevado é muito difícil. Mas a questão aqui é o equilíbrio ácido. Por exemplo, neste Alicante do Scala Coeli (talhão bio) há uma exposição Norte que o protege do excesso de calor, e isso conta muito. Se tivermos condições de solo, exposição, castas, e um bom equilíbrio entre a área foliar e a quantidade de fruta, está aqui a resposta. E outro factor: pela minha experiência de 12 anos no biológico, já constatei que a percepção de acidez é muito diferente nesse modo de produção. A percepção de acidez e frescura é mais directa, mais óbvia, mais limpa”. Hamilton Reis, por sua vez, desmistifica o conceito de frescura, e afirma que “tem a ver com os taninos, se forem bem trabalhados, dão frescura ao vinho. As pessoas muitas vezes confundem tanino com acidez do vinho. Os taninos bem casados entregam muita frescura e reactividade de boca. Daí o engaço ser tão interessante para o Alicante. Engaço bem maduro, claro”. A fugir da tendência, e como não poderia deixar de ser, está o Conde d’Evideira Private Selection, com apenas 13%. Na prova, ficou ao lado de grandes vinhos com álcool bem mais elevado. A isso, Duarte Leal da Costa responde que “apenas é preciso saber trabalhar. Na Ervideira, em finais de Julho, começamos a fazer o gráfico de evolução da maturação das uvas. Temos capacidade de vindima e de vinificação, então podemos controlar tudo, e quando entendemos que as uvas estão no ponto ideal de maturação, ordenamos a colheita ao campo. Não é o que o campo manda, mas o que a adega manda por análise do que se passa no campo”.

Além do factor “F”, de frescura, temos o factor “M”. Nestes topos de gama, é cada vez mais reduzida a percepção de madeira, isto é notável, principalmente se tivermos em conta o segmento de preço e que praticamente todos a têm. Luís Patrão justifica: “O Alentejo, nesta nova fase, percebeu que o exagero não era o caminho. A procura é cada vez mais pelo que vem da vinha, com discrição no uso da madeira. Todos os meus vinhos passam por madeira, em todas as regiões em que trabalho, mas esta nunca se sente. Hoje, a aposta de Coelheiros é nos foudres. Quando tive de renovar o parque de barricas desta casa, foi a melhor forma que encontrei, os formatos grandes, fazendo também estágios longos”. Hamilton Reis fala de um “shift” na maneira de operar das tanoarias e algo que muitas vezes é esquecido: a higiene. “Essa tem sido a evolução do paradigma dos vinhos, até a nível nacional. A madeira é cada vez mais para entregar complexidade, profundidade e reactividade. Consegue-se com menos carvalho novo, muito menos americano do que no passado e tempos de contacto com as barricas muito menores. Existem tanoarias, bosques e tostas cada vez mais adequados aos dias de hoje. Temperaturas também muito mais controladas e baixas, o que dá muito menos impacto aromático de barrica. Todos nós temos vindo a baixar a percentagem de madeira e também a higienizar muito mais as madeiras”, expõe. Luís Cabral de Almeida passou a utilizar tonéis, e apenas utiliza barricas para o Syrah, porque “os 3000 litros não estragam o sentido de origem, mas dão estrutura. O tonel respeita o que queremos engarrafar, os taninos e a acidez da uva, e não interfere, apenas ajuda a amadurecer. O Essência do Peso é o primeiro a ser lançado estagiado nos tonéis (a parte do Alicante Bouschet)”. Pedro Baptista reforça a importância das tostas, “estamos a trabalhar com tostas longas, ditas borgonhesas, mais suaves. Por vezes, fazemos alguma bâtonnage nos tintos, o que também permite essa melhor integração. Há um respeito pelo vinho muito grande”.

Todos os enólogos e produtores têm um input útil e relevante a dar, sobre todas estas matérias e mais algumas. Pudesse-se entrevistar todos os da região, ficaríamos completos, retirando o melhor de cada contribuição. Quase como uma geringonça do vinho, em bom. Talvez um dia.
O Alentejo é o perfeito exemplo da dispersão cromática, um autêntico arco-íris na sua diversidade e qualidade. Estes 57 tintos topos de gama são a prova disso. Infeliz aquele que pensar o contrário.

Nota: A disposição dos vinhos encontra-se aleatória.

Edição n.º32, Dezembro 2019

Vinhos do Alentejo aumentaram 3,8% nas vendas em 2019

De acordo com dados da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), a região do Alentejo colocou no mercado um volume correspondente a 117,4 milhões de garrafas de vinho certificado DOC Alentejo e Regional Alentejano, um aumento de 3,8% face a 2018. O volume total foi de 88,2 milhões de litros, entre vinho tinto, branco e rosé. […]

De acordo com dados da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), a região do Alentejo colocou no mercado um volume correspondente a 117,4 milhões de garrafas de vinho certificado DOC Alentejo e Regional Alentejano, um aumento de 3,8% face a 2018. O volume total foi de 88,2 milhões de litros, entre vinho tinto, branco e rosé.

As vendas incluíram 70% de vinhos da colheita 2018, 21% da colheita 2017, 5% da colheita 2016 e 4% de colheitas anteriores, com os meses de fevereiro, abril e maio a terem maior actividade comercializadora com quantidades médias de 12,5 milhões de garrafas por mês. As vendas de vinho branco e rosé em 2019 foram as mais elevadas dos últimos cinco anos e representaram, respectivamente, 21% e 2% do total, numa quantidade de 24,7 milhões de garrafas nos brancos e 2,2 milhões de garrafas nos rosés. Os vinhos tintos, que foram 77% do total, chegaram a 90,5 milhões de garrafas, menos 7 milhões do que a média dos cinco anos entre 2014-2018. O vinho Regional Alentejano representou 78% da comercialização e o DOC Alentejo 22%, tendo o DOC registado crescimentos mais significativos nos vinhos originários das sub-regiões de Portalegre (+38%) e da Granja-Amareleja (+17%).

Para Francisco Mateus, presidente da CVRA, “Estes resultados revelam que a região está dinâmica e que as produções em cada ano influenciam o potencial comercial dos produtores, dado que a vindima de 2018 teve mais produção o que possibilitou mais vendas em 2019, situação que não se tinha verificado nos três anos anteriores”. Sobre o crescimento dos vinhos brancos e rosés, o presidente da CVRA adianta que “É uma evidência que o Alentejo está a afirmar-se nestas categorias e a conseguir cativar os consumidores, uma tendência que observamos desde há alguns anos com a importância de brancos e rosés a aumentar ano após ano desde 2014”.

Ribafreixo Wines junta-se à distribuidora Vinalda

A Vinalda vai passar a distribuir os vinhos da Ribafreixo Wines, reforçando o seu portefólio no Alentejo. Este é um projecto vitivinícola que nasceu em 2007 na Vidigueira, pelas mãos do empresário Mário Pinheiro e do agrónomo Nuno Bicó. Na totalidade dos seus 114 hectares estão incluídos o assento de lavoura, a adega e cerca […]

A Vinalda vai passar a distribuir os vinhos da Ribafreixo Wines, reforçando o seu portefólio no Alentejo. Este é um projecto vitivinícola que nasceu em 2007 na Vidigueira, pelas mãos do empresário Mário Pinheiro e do agrónomo Nuno Bicó. Na totalidade dos seus 114 hectares estão incluídos o assento de lavoura, a adega e cerca de 80 hectares de vinha. A enologia está, desde a concepção deste projecto, a cargo de Paulo Laureano, sendo esta uma das peças fundamentais do sucesso do projecto Ribafreixo.

“O objectivo desta parceria é construir e fazer crescer no mercado as nossas marcas de forma consistente e coerente, para além da nossa base actual de distribuidores, sem afectar os clientes existentes. Temos muita confiança na gestão da Vinalda, assim como no trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos, que evidencia uma organização proactiva e muito profissional”, afirma Mário Pinheiro, CEO da Ribafreixo Wines, adiantando que “a expectativa é potenciar e alavancar as nossas marcas de forma mais rápida no mercado nacional, com uma estratégia bem definida e sustentável“.

Por seu lado, José Espírito Santo, Director-geral da Vinalda, refere: “Estamos muito satisfeitos de podermos passar a contar com os vinhos da Ribafreixo, que com a sua qualidade e inovação vêm dar uma nova dimensão ao nosso portefólio no Alentejo e muito em especial vinhos provenientes do microclima da Vidigueira”.

Adega de Redondo obtém importante certificação de segurança

A Adega de Redondo acaba de obter uma das mais exigentes e importantes certificações de segurança alimentar, a certificação FSSC 22000. Segundo a própria, “A Adega de Redondo trabalhou afincadamente ao longo do ano de 2019 para a obtenção de uma certificação nesta área”. Este certificado é aprovado e reconhecido pelo GFSI (Global Food Safety […]

A Adega de Redondo acaba de obter uma das mais exigentes e importantes certificações de segurança alimentar, a certificação FSSC 22000. Segundo a própria, “A Adega de Redondo trabalhou afincadamente ao longo do ano de 2019 para a obtenção de uma certificação nesta área”. Este certificado é aprovado e reconhecido pelo GFSI (Global Food Safety Iniciative), significando uma melhoria contínua na qualidade e garantia de comercialização de produtos seguros aos clientes e consumidores. A Adega de Redondo acrescenta ainda que, com este reconhecimento, pretende “fortalecer a posição no mercado nacional e internacional, oferecendo um melhor nível de serviço”.