Sovibor: Mamoré de primeira grandeza

A sede da Sovibor fica no centro de Borba, em instalações com mais de dois séculos e foi estabelecida em 1968, em resultado da fusão de dois negócios de vinhos de famílias diferentes. Produz vinhos a partir de 80 hectares de vinhas próprias, mais 120 de parceiros, uma parte significativa das quais de vinha velha. […]
A sede da Sovibor fica no centro de Borba, em instalações com mais de dois séculos e foi estabelecida em 1968, em resultado da fusão de dois negócios de vinhos de famílias diferentes. Produz vinhos a partir de 80 hectares de vinhas próprias, mais 120 de parceiros, uma parte significativa das quais de vinha velha.
Chegou a ser uma das maiores empresas da região, mas, com o tempo, foi perdendo relevância e o seu negócio entrou em decadência até ser adquirido, em 2014, pelo empresário Fernando Tavares, proprietário da distribuidora Sotavinhos, que opera a nível nacional. Depois dessa data foram feitos investimentos na melhoria das instalações, e do processo de vinificação e engarrafamento da adega, que permitiram, à empresa, seguir novos padrões de qualidade e criar novas marcas de vinho. “A Mamoré de Borba, criada em 2015, é a nossa referência premium”, conta Rita Tavares, filha de Fernando Tavares e enóloga residente da empresa. Inclui uma gama alargada de vinhos e vinhos de talha, bagaceiras e aguardentes vínicas.
A apresentação da nova colheita do topo de gama tinto, o Mamoré de Borba Grande Reserva 2020, decorreu no restaurante Magano, em Lisboa, um lugar de sabores e aromas apropriado para um evento deste tipo, como se notou na parceria de dois dos petiscos que vieram para a mesa no início com o novo Mamoré de Borba Reserva branco 2023, as saladas de bacalhau com grão e de polvo, que se equilibraram muito bem com a sua textura, volume e frescura de boca, ou os sabores e aromas do cabrito assado no forno, que fizeram grande parceria com o Mamoré de Borba Grande Reserva 2020.
“A marca Mamoré de Borba, criada em 2015, é a nossa referência premium”, diz Rita Tavares, enóloga residente da empresa
O conforto das vinhas velhas
Trata-se somente da segunda colheita desta referência, o topo de gama da Sovibor, produzido a partir das vinhas velhas de sequeiro desta casa. Segundo António Ventura, enólogo consultor da empresa, estão situadas numa zona caracterizada por uma precipitação superior à média do resto do Alentejo, a uma altitude de 420 metros, onde existem sobretudo solos xistosos e argilo-calcários. “As vinhas velhas em causa vegetam sobre xistos castanhos, que são porosos, o que contribui para que se sintam confortáveis, porque têm grande capacidade de retenção da água”. Após a vindima, as uvas destinadas a produzir o Mamoré de Borba Grande Reserva 2020 são refrigeradas em camião frigorífico, pisadas a pé em lagar de mármore duas vezes por dia, com maceração pré e durante a fermentação que decorrer durante 48 e 72 horas. O estágio em madeira durou 18 meses, em barricas de carvalho francês de Allier e de Vosges de 300 e 500 litros, de primeira e segunda utilização, antes do engarrafamento. É um tinto que se pode beber agora ou durante muito mais tempo e merece as honras de figurar como estrela de primeira grandeza, não apenas do portefólio Sovibor, mas entre os vinhos do Alentejo.
(Artigo publicado na edição de Novembro de 2024)
Herdade da Lisboa: Da Vidigueira, com ambição

A Herdade da Lisboa pertence à família Cardoso desde 2011. Nesta propriedade produziam-se os vinhos Paço dos Infantes, uns dos clássicos alentejanos nas décadas 80 e 90, feitos, na altura, pela mão de João Portugal Ramos. Com o tempo a propriedade e a marca passaram por uma crise, revertida a partir do momento em que […]
A Herdade da Lisboa pertence à família Cardoso desde 2011. Nesta propriedade produziam-se os vinhos Paço dos Infantes, uns dos clássicos alentejanos nas décadas 80 e 90, feitos, na altura, pela mão de João Portugal Ramos. Com o tempo a propriedade e a marca passaram por uma crise, revertida a partir do momento em que foi adquirida por João Cardoso, empresário com importante percurso em diferentes áreas de actividade, incluindo na vertente agrícola, com destaque para a olivicultura. Fez-se um trabalho extraordinário da recuperação da vinha (mais de 100 ha, com cerca de 15 castas) e do olival e construiu-se, de raiz, uma adega moderna, que se estreou na colheita 2018, com lagares e cubas de inox com controlo de temperatura, cubas de cimento de forma redonda e oval, uma cave climatizada para permitir o estágio de vinhos e espumantes em condições ideais de temperatura e humidade.
Os vinhos com a marca Herdade de Lisboa são produzidos com base em uvas das castas que se comportam melhor na vinha em cada ano.
Aliando as características do terroir com o meio de produção, foi criada uma gama premium com três vinhos em 2021 que, para além de feitos com extremo cuidado, permanecem em cave o tempo necessário para mostrar o seu potencial na altura de lançamento. Ficou também definido conceptualmente que, em cada ano, se elege uma casta com o melhor desempenho que dá origem a um vinho varietal de excelência. Assim, em cada ano cria-se uma colecção única que expressa a casta, o ano, o terroir e a casa. O branco e o tinto são vendidos em pack de dois, com o PVP do conjunto de €67,50. Em 2019 as castas escolhidas foram Viognier e Trincadeira e, em 2020, Alvarinho e Cabernet Sauvignon. O rosé surgiu um pouco por feliz acaso, não sendo planeado de início, mas a Touriga Nacional mostrou-se tão bem em 2019, que em 2020 foi repetida a experiência com a Baga. As castas protagonistas da colheita 2021, lançada agora, são Arinto, Alicante Bouschet e Syrah na versão rosé.
O Arinto estagia parcialmente em barricas novas de carvalho francês de 500 litros, onde permanece oito meses. O Alicante Bouschet passa 18 meses em barricas de 500 litros. O rosé também estagia em barrica, mas de 300 litros, novas, durante oito meses. Para todos os vinhos, até para o rosé, não é dispensado o estágio em garrafa, o que confere integridade e a sensação de harmonia na altura do lançamento.
De colheita 2021 resultaram 1100 packs de dois, mais 120 garrafas de 1,5 litro de cada. O rosé é engarrafado apenas em magnum, o que faz todo o sentido, tendo em conta que é lançado com mais de dois anos de estágio.
(Artigo publicado na edição de Novembro de 2024)
Tiago Cabaço Winery: Alentejo de primeira grandeza

O epíteto de “Cidade Branca” deve-se, para além da cor do casario, às jazidas de mármore branco, o célebre “Mármore de Estremoz”, que tornou a cidade conhecida a nível internacional. Não podia, pois, ser de outra cor que não branca, a adega curvilínea de Tiago Cabaço, mesmo à entrada de Estremoz, para quem vem pela […]
O epíteto de “Cidade Branca” deve-se, para além da cor do casario, às jazidas de mármore branco, o célebre “Mármore de Estremoz”, que tornou a cidade conhecida a nível internacional. Não podia, pois, ser de outra cor que não branca, a adega curvilínea de Tiago Cabaço, mesmo à entrada de Estremoz, para quem vem pela EN 4, ladeada por uma vinha de Alicante Bouschet, a casta favorita do produtor e referência obrigatória do Alentejo. Sensibilidade estética e integração paisagística são o mote.
“Há pessoas que transformam o Sol numa simples mancha amarela. Mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol”, disse um dia Picasso.
A história familiar de Tiago Cabaço é conhecida. Nascido e criado em Estremoz, no coração do Alentejo vinhateiro, desde muito cedo se habituou a partilhar o campo e a trabalhar nas vinhas e na adega com os pais, aprendendo com os mais velhos os pequenos e grandes segredos da vinha, as manias e os truques, as castas e os melhores solos e climas para cada uma delas. Enfim, cedo se habituou a tratar a vinha por tu, e cedo também quis começar a fazer o seu próprio sol.
Tudo começou há 20 anos. Em 2004 criou a marca Tiago Cabaço Winery, foi adquirindo terras e vinhas, que totalizam 123 ha actualmente, construiu a sua adega própria, por si pensada, desenhada e delineada, cresceu de 40000 garrafas para 1400000, e tem uma equipa de cerca de 50 funcionários. Entre pessoal de campo, administrativo, contabilidade, marketing e publicidade, tudo é feito dentro de casa.
Pelo caminho tem obtido respeito e atenção por parte do sector, somando diversos prémios e distinções nacionais e internacionais.
A família de vinhos, sedutores e sérios, modernos no estilo e na forma, mas profundamente alentejanos no carácter, divide-se entre os “.com” de perfil enérgico e jovial, os monovarietais sérios e poderosos, os “Vinhas Velhas” que conjugam a excelência do terroir e as vinhas com mais de 30 anos, o espumante, pensado para momentos especiais, e os “Blog”, simultaneamente vigorosos, subtis e frescos que, juntamente com o “Gerações M”, se reclamam como topos de gama dos vinhos de Tiago Cabaço, e, porque não, do próprio Alentejo.
Há, no entanto, um prémio que Tiago Cabaço mantém bem vivo na sua memória: o “Best in Show” do ano de 2017, com o seu vinho Blog 13 Rótulo Castanho, da revista internacional Decanter, nos seus World Wine Awards, concurso cujo júri é maioritariamente composto por Masters of Wine. Foi a primeira vez que um vinho português alcançou tal feito, e apenas um outro lhe seguiu as pisadas até aos dias de hoje. Impressionante, certo?
Susana Esteban abraçou o projecto Tiago Cabaço como enóloga consultora desde 2007, ano da sua primeira vindima, tendo logo participado na elaboração dos lotes dos vinhos de 2006, ano em que saiu da Quinta do Crasto. “Tem sido um processo de aprendizagem mútuo”, refere Tiago, e assim se tem mantido esta parceria de sucesso até aos dias de hoje.
Um ano de castas
Quem hoje se desloca a Estremoz depara-se com uma enorme extensão de vinhedos, vinhas modernas, bem implantadas e que dão sentido à frase “um mar de vinhas”. Todavia, o potencial da zona para a produção vitícola e a consequente presença de muitas vinhas em Estremoz não é coisa recente. A verdade é que, desde o séc. XIX que são muitas as referências a Estremoz como zona vitícola, onde as vinhas conviviam com oliveiras, num mesmo terreno e numa disposição bem pensada e melhor executada. A presença destas duas culturas juntas é prática antiga, sendo hoje apenas autorizada para vinhas velhas.
A zona de Estremoz beneficia de um micro-clima muito próprio que, em muito, ajuda à produção das uvas. Mesmo no Verão, apesar do intenso calor que se faz sentir, as noites são frescas, há uma grande amplitude térmica dia/noite e isso é excelente para a maturação das uvas. Ao clima acresce a riqueza geológica onde estão plantadas as vinhas de Tiago Cabaço, com muita diversidade de perfis de solo, por vezes à distância de escassos metros, muito quartzo, que contribui para uma mineralidade muito característica, xisto inteiro, negro, barros vermelhos e franco-argilosos.
Fomos recebidos em pleno arranque da vindima de 2024, tudo ainda bastante tranquilo, já com os brancos a entrarem aos poucos. Mas já se sentia no ar aquela electricidade, antecipação e ansiedade próprias desta altura do ano para todos os produtores de vinho.
“Vai ser um ano de castas, ao invés do anterior, em que todas as castas foram boas” refere Tiago Cabaço, explicitando depois: “Vai ser ano de Alicante, Syrah, Tinta Miúda e não vai ser ano de Aragonez. Este ano faz-me lembrar o 2002. A Primavera foi muito boa, com alguma chuva, o que é óptimo para vinhas de sequeiro. Foi fresco até Maio, com temperaturas amenas, alguns escaldões em finais de Junho porque a planta não teve tempo de se adaptar gradualmente à chegada do calor. É um ano heterogéneo, com as uvas nos cachos com diferentes graus de acidez, mas a globalidade da parcela trará o equilíbrio final. Talvez os vinhos não estejam tão prontos de início, mas vão certamente compensar em longevidade.”
Entretanto o almoço esperava-nos, num dos restaurantes emblemáticos de Estremoz, “O Alecrim”, só brancos, porque os tintos “castigam mais” e ainda temos muito que provar no resto do dia.
Curioso como os hábitos de consumo vão mudando com a qualidade cada vez maior dos brancos portugueses. De Norte a Sul do País, o seu consumo veio, sem dúvida, para ficar! Destaque para o Verdelho 2023, da casta madeirense, fresco, estruturado e com alguma complexidade, com um final de boca vibrante e persistente, um caso muito sério à mesa. Boa prova do Vinhas Velhas branco 2016, demonstrando o bom potencial de envelhecimento deste vinho, inserido num segmento de preço médio (€12,99). Belíssimo desempenho, a emparelhar com umas suculentas costelinhas de borrego panadas, dos dois blog Special Edition Arinto 2021 e Arinto/Encruzado 2022, dois brancos de curtimenta parcial provenientes de três barricas e de parcelas identificadas. Mas a(s) Píèce de Résistance estavam programadas para o final de tarde e manhã do dia seguinte, uma Vertical de blog Rótulo Preto, de 2011 a 2021, e outra de blog Rótulo Castanho, um bi-varietal de Alicante Bouschet e Syrah.
Duas verticais inesquecíveis
O blog Rótulo Preto é um vinho de terroir, feito na vinha e escolhido entre as melhores parcelas de baixa produção; é um blend de Alicante Bouschet, Syrah com uma percentagem de Touriga-Nacional, que passa 18 meses em Carvalho Francês, metade novo, metade de segundo ano. Depois de todos os vinhos decantados, como mereciam, começámos pelo mais recente. O 2021 ainda não saiu para o mercado, continuando a afinar em garrafa em cave, muito jovem mas com muito boa prova desde já, com imenso brilho e potencial, fruta de enorme precisão, taninos de luxo e perfeita acidez. Promete imenso.
O blog 2020 evidenciou aromas agradáveis de cerejas vermelhas, groselhas e ameixas, suave e intenso em boca, profundamente mineral, elegante e fresco (18); o 2019 está ligeiramente fechado e austero no palato, mas com taninos muito bem domados, aromas de fruta silvestre e sabores de chocolate negro e pimenta preta (17,5); o 2018 revelou-se muito pronto a beber, com boa prova de boca, e taninos e acidez no ponto certos (17,5); 2017 foi um ano quente mas o vinho não se ressentiu disso, com bela complexidade aromática e boa densidade e presença em boca (17,5); o 2016 revelou-se atractivo, directo e harmonioso com leves notas mentoladas no final (17,5); 2015 estava mais fechado e austero da prova, deixando no entanto antever uma longa vida em garrafa tal a classe de taninos e acidez perfeita (18); em 2014 não existiu blog; o 2013 tem “qualquer coisa” de especial, enorme prova com tremenda pujança aromática, notável juventude, fruta de primeira qualidade, taninos poderosos mas envolvidos em veludo, frescura, tensão e mineralidade, soberbo (18,5); 2012 foi talvez o menos impactante, não deixando todavia de revelar bom equilíbrio de boca, num registo elegante e fresco (17); dizer que 2011 foi grande ano já parece lugar comum, mas a verdade é que é incontornável e este blog demonstrou isso mesmo, num registo muito sério, com alma, tensão e grande frescura, com muito para durar ainda em garrafa, enorme (18,5)!
Por seu lado o blog Rótulo Castanho é um vinho bi-varietal de Alicante Bouschet e Syrah, também um vinho de terroir, feito na vinha e escolhido das melhores parcelas de baixa produção, com 18 meses de estágio em barricas novas de carvalho francês para 50% lote e o restante em barricas de segundo ano.
Foram provadas oito colheitas, começando também por ordem crescente de idade, o 2021 exibiu-se tenso e fechado, mas muito focado na fruta de primeiríssima qualidade, complexo e elegante e com grande potencial de guarda (18,5); 2019 também se revelou muito jovem, primário, mas sedoso e aveludado na textura, estruturado, vigoroso mas não agressivo, com notas terrosas e de chocolate negro no final (18,5); o 2017 exibiu-se em grande nível, ano quente, fruta madura mas com acidez viva e equilibrada prolongando o final distinto e requintado (18,5); 2016 deu boa prova de boca, com bom balanço, provavelmente já num bom momento de prova mas com muita vida pela frente (18); o 2015 revelou-se muito contido no nariz, e algo austero também em boca, mas sempre denotando imensa classe, taninos maduros e sedosos, acidez perfeita e enorme elegância (18), chegados ao 2013, o tal “Best in Show”, a verdade é que não deu hipótese, um portento de vinho, confirmando que, de facto, tem algo especial, um verdadeiro luxo para os sentidos (19); o 2012 revelou um bom equilíbrio, num registo elegante e fresco, com taninos polidos e muito boa acidez (18), finalmente, o 2011 apresentou-se cheio de carácter, muita saúde, belíssima harmonia entre barrica, fruta e acidez, taninos de luxo e final interminável (18,5).
“Corre o tempo velozmente
Como a água da corrente
Nós também da mesma sorte
Correndo vamos à morte”
Esta é a inscrição que pode ler-se sob o plinto onde assenta a estátua do “Gadanha” de Estremoz. Representando, primitivamente, o deus Saturno, símbolo da fartura e da abundância, passou a ser conhecido como o é hoje, “Gadanha”, assim baptizado pelas gentes de Estremoz em virtude da enorme foice que segura numa das mãos. Na outra, uma ampulheta simbolizando a celeridade do Tempo e a fugacidade da vida, não deixando de ser irónico que, ao representar a fugacidade do Tempo, tenha acabado por se tornar eterno, permanecendo na memória colectiva da cidade.
Não sei se os vinhos de Tiago Cabaço serão eternos. Provavelmente não. Mas que recebem a passagem do tempo com suprema elegância e carácter, disso não tenhamos dúvida alguma.
Reza ainda a lenda que quem beber a água da fonte do “Gadanha” fica irremediavelmente preso ao sortilégio do encantamento enfeitiçado de Estremoz e das suas gentes. Pois devo confessar que não bebi água da fonte, mas que Estremoz e as suas gentes têm algo de especial, disso fiquei com a certeza!
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2024)
Esporão: As novas “cartas” a jogo

Prova Grande, ou seja, dia de provas com o Esporão. Nas magníficas instalações do Salão Nobre do Instituto Superior de Agronomia, muitas linhas de mesas equipadas com copos, o staff do Esporão azafama-se nas últimas preparações. O responsável máximo da empresa, João Roquette começa a sessão salientando que o seu pessoal lhe pediu para repetir […]
Prova Grande, ou seja, dia de provas com o Esporão. Nas magníficas instalações do Salão Nobre do Instituto Superior de Agronomia, muitas linhas de mesas equipadas com copos, o staff do Esporão azafama-se nas últimas preparações. O responsável máximo da empresa, João Roquette começa a sessão salientando que o seu pessoal lhe pediu para repetir uma coisa que tem tido de afirmar todos os dias: “o Esporão não está à venda.” Com isto esclarecido, podemos começar.
João anuncia uma parceria de 30 anos com o ISA, com a renovação de um armazém dentro do campus, onde abrirá um restaurante, escritórios para sediar o Esporão, e ainda um museu. A ideia é manter uma maior proximidade com os centros de investigação com os quais o Esporão vai mantendo colaborações. Depois do almoço visitámos as obras, e o sítio promete, com espaço amplo e arquitectura de traça elegante, antiga.
Base agrícola
Roquette apresentou o Esporão como uma empresa de base agrícola, e diferenciada por isso: mais focada no produto do que no mercado. “O sonho é mais importante do que as tendências.” Um desses sonhos foi a conversão para agricultura biológica, em 2007. Como marca multi-produto e multi-região, o Esporão já não é uma empresa de vinho que faz azeite, é uma marca de vinho e azeite, a tal base agrícola. Também aqui em contracorrente, por usar uma base de olivais antigos, com menor produção do que os modernos olivais intensivos e super-intensivos, que esgotam os terrenos em poucos anos.
Desde o arranque, em 1973, o Esporão alargou a sua influência, com aquisição e reunião de parcelas na propriedade original de Reguengos de Monsaraz, e também as aquisições da Quinta do Ameal, perto de Ponte de Lima, e da Quinta dos Murças, perto de Peso da Régua. Desde 1997 que a propriedade está aberta aos visitantes, com os seus vários motivos de interesse enológico, mas também importantes vestígios arqueológicos e um restaurante premiado com uma estrela e uma estrela verde Michelin.
A prova do tempo
No dia da Prova Grande, veio o chefe de cozinha, Carlos Teixeira, dar-nos uma amostra da sua cozinha inspirada e apoiada na terra e suas épocas. Provámos novos vinhos e algumas raridades da biblioteca, que mostraram como os vinhos aguentam e agradecem a prova do tempo. Depois voltámos a provar esses vinhos à mesa, para mostrar como eles são realmente desenhados para serem bebidos, não apenas provados.
Para além do trabalho, houve o convívio com os enólogos das várias regiões, que já antes tinham apresentado cada um dos respectivos terroirs. A enologia é agora liderada por José Luís Moreira da Silva, com Lourenço Charters como responsável pelos vinhos do Esporão, enquanto Mafalda Magalhães faz os vinhos do Ameal e dos Murças. O Esporão lança, ainda nesta altura, uma nova linha de pequenas vinificações experimentais, chamadas Fio da Navalha, onde os enólogos podem livremente ousar coisas novas. Há um excelente Ameal “Pote”, estagiado em pequenos potes de barro, um alentejano “No Campo”, feito por Teresa Gaspar com 104 castas brancas do campo ampelográfico, um Douro “Curtido”, feito por Lourenço Charters com Verdelho de Penajoia, e um minhoto “Primário”, feito por Lourenço Charters com as castas Paço do Curutelo e Padeiro de Basto. Neste caldo de cultura, que o público pode adquirir nas lojas de enoturismo do Esporão, e de onde possivelmente sairão novos vinhos, sairão certamente novas aprendizagens.
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)
Sandra Alves é a nova enóloga do Monte das Herdades

A enóloga Sandra Alves assumiu recentemente a direcção de enologia do Monte das Herdades, com o objectivo de continuar o percurso de viticultura sustentável e produção de vinhos biológicos desta empresa do grupo Laura Varela Mirpuri (LVM Holding), que integra também investimentos na área da produção e distribuição de bebidas, energia, embalagens e produtos de […]
A enóloga Sandra Alves assumiu recentemente a direcção de enologia do Monte das Herdades, com o objectivo de continuar o percurso de viticultura sustentável e produção de vinhos biológicos desta empresa do grupo Laura Varela Mirpuri (LVM Holding), que integra também investimentos na área da produção e distribuição de bebidas, energia, embalagens e produtos de beleza.
Situado em Alcáçovas, no concelho de Viana do Alentejo, o Monte das Herdades integra uma propriedade de 600 hectares, que inclui actualmente cinco hectares de vinha. A forma como esta é cuidada e o vinho é produzido segue os princípios da agricultura biológica, “de forma a promover a preservação dos recursos naturais, a biodiversidade e a resistência das castas do Monte das Herdades”, diz o comunicado da empresa, acrescentando que “a vindima é realizada com precisão e rigor, começando antes do nascer do sol, para que cada cacho mantenha as suas características intactas”. E foi “o caminho já traçado na produção de vinhos, tendo sempre como visão uma enologia sustentável e os valores da agricultura biológica, que levaram à escolha da Sandra Alves que, para além de um percurso notável a nível nacional, também conta com uma experiência internacional que lhe fornece uma visão ampla e multicultural de enologia”, diz Laura Varela Mirpuri.
No currículo da enóloga estão incluídos 22 anos de trabalho na Herdade do Esporão, onde chegou a assumir a direcção de enologia até ter decidido terminar a sua ligação com esta empresa para explorar novos desafios e experiências, e dedicar-se a projectos pessoais onde prevalece a viticultura de sequeiro, a reabilitação de vinhas velhas e a produção de vinhos de talha.
Os novos brancos do Alentejo – Por menos de 12€

Vou contando as minhas aventuras de provador aprendiz (eterno aprendiz, espero), pensando que os jovens se podem interessar pelo processo. Quando comecei a provar vinhos mais a sério, pensava que os brancos das regiões mais quentes não eram para levar a sério. Sempre pesados, um pouco moles, um pouco tristes. O teste decisivo era feito […]
Vou contando as minhas aventuras de provador aprendiz (eterno aprendiz, espero), pensando que os jovens se podem interessar pelo processo. Quando comecei a provar vinhos mais a sério, pensava que os brancos das regiões mais quentes não eram para levar a sério. Sempre pesados, um pouco moles, um pouco tristes. O teste decisivo era feito no copo. Quanto o calor apertava, num almoço de Verão, quando mais apetecia um vinho refrescante, a pequena quantidade no copo faz aumentar rapidamente a temperatura. E aí o vinho logo mostra ao que vem. Se falha neste momento a sua missão de refrescar, então falhou. E muitos falhavam. Todos, para dizer a minha experiência. Sem ser geladinhos, os vinhos morriam no copo. Desilusão.
A desilusão não terá sido só minha, porque, de repente, virava o milénio, e a situação começou a mudar. Lembro-me até de qual o vinho que me fez repensar a minha opinião, e abrir os olhos, a carteira e as garrafas aos vinhos alentejanos. Não interessa agora qual, mas foi um momento eureka. Ou melhor, de “olhem, não querem lá ver…”
E de onde veio então a mudança? Veio certamente da evolução normal de uma região onde a nova enologia entrava e começava a melhorar os processos. Veio da constatação de produtores e enólogos de que os constantes aumentos de temperatura e demais fenómenos climáticos não iriam abrandar, era preciso reagir.
As mudanças mais instantâneas incluíam vindimas nocturnas e vinificações imediatas, para manter a temperatura baixa que ajuda a preservar os compostos aromáticos das uvas. Incluía certamente muitas outras intervenções técnicas e de design dos vinhos, mas as mais importantes serão sempre a marcação da data de vindima (mais cedo para evitar a perda dos preciosos ácidos naturais das uvas enquanto elas amadurecem) e, claro, o rigor absoluto na higiene da adega.
Mas também houve mudanças mais lentas, daquelas decisões que implicam grandes custos em vontade e financeiros. Ou seja, a plantação de vinhas com novas castas que permitissem uma abordagem mais centrada na frescura do que na estrutura. Começou a explosão de castas brancas no Alentejo, uma exploração colectiva que está agora a dar frutos, mas na verdade ainda não terminou. Onde antes os vinhos eram só de Roupeiro, Antão Vaz, Perrum, Rabo de Ovelha, Manteúdo, começaram a aparecer lotes temperados com a salvadora Arinto, com Verdelho, experiências com Alvarinho, Viognier, Gouveio, Chardonnay, Sauvignon Blanc. Depois os “temperos” revoltaram-se e começaram a exigir protagonismo. O seu desempenho validava-os, e nos novos lotes as castas ganharam proporções de ingredientes. O vinho branco do Alentejo está a redefinir-se.
CADA VEZ MAIS FRESCOS
Para esta prova de brancos até €12€ compareceram à chamada um pouco menos de 30 vinhos, com um total de mais de 12 castas, utilizadas em diferentes lotes e proporções. Raros foram os mono-varietais, mas foram alguns, nomeadamente de Antão Vaz e de Arinto. Usualmente, para este segmento de preço a utilização de madeira é rara, e quando aparece, moderada. É impossível que os vinhos se mantenham muito tempo no copo na temperatura de serviço que, neste caso, rondou os 12ºC. Mas foi intencional — até fundamental — que essa prova(ção) fosse feita, para resolver de vez as minhas angústias antigas. Estes são vinhos de um novo Alentejo que se declina em branco, para acompanhar pratos saborosos, por vezes ricos, por vezes delicados, e que usam a sua acidez afirmativa, mas bem integrada, para cortar a gordura e limpar o palato nos pratos mais exigentes, ou para complementar em complexidade a harmonia dos pratos mais subtis.
Esta procura de frescura foi deliberada por parte dos agentes da região. Júlio Bastos, o histórico produtor de Estremoz, explicou-me que o seu Dona Maria é feito com Viosinho, Arinto e Antão Vaz, para que as primeiras, colhidas atempadamente, complementem a estrutura da última com a sua frescura ácida. Plantou essas castas num movimento que de certa forma antecipou, adivinhando, os anseios dos consumidores num planeta que vai aquecendo. Mesmo assim, em 2024 o tempo quente vai-se atrasando a chegar, e Júlio Bastos disse-me que estão a sair muito menos brancos e rosés do que o normal.
Uma trajectória parecida, mas cujo final ainda poderá ser reescrito, foi-me contada por Óscar Gato, enólogo da Adega Cooperativa de Borba. O rótulo de cortiça clássico, dos anos 1960, usava Roupeiro, Rabo de Ovelha, Perrum e Manteúdo. Não houve forma de o manter fresco, e foi descontinuado. A marca ressurgiu em 2009 com Arinto, Alvarinho e Verdelho, com objectivo de ser equilibrado, fresco e estruturado. Mesmo assim, o seu perfil clássico foi mantido. Esta ambição de frescura obriga a enorme rigor entre os associados da adega, que vindimam a partir das 3h da manhã, para entregar as uvas com no máximo 4h de cortadas, e antes das 11h da manhã, para alcançarem o preço com prémio de frescura. Tudo é fermentado em inox, mas o Arinto estagia algum tempo em barricas usadas. Numa cooperativa com centenas de associados, trabalham com 18 castas brancas, e vão fazendo e registando estudos não só das castas em vários sítios, mas também de vários clones de cada casta, a ver onde melhor se adaptam. Uma descoberta talvez surpreendente já originou que peçam aos associados que voltem a plantar Rabo de Ovelha. Segundo Óscar Gato, o carácter estruturado e rico desta casta não consegue ser substituído por nenhuma outra, mesmo que a sua acidez seja mais baixa. No planalto de Borba, o Antão Vaz não oferece as mesmas características do que na sua Vidigueira natal. Assim, o Rabo de Ovelha vai ser uma nova aposta, já que a frescura ácida pode vir da combinação das outras castas. O Rótulo de Cortiça, diga-se, é uma “brincadeira” de 6500 litros, uma gota no oceano da adega.
Falei ainda com Francisco Mateus, presidente da CVRA, que me explicou que o Alentejo passou nos últimos 10 anos de 20% de vinho branco para cerca de 27%, de entre os 85 milhões de litros certificados. Prevê-se que esta percentagem continue a aumentar. O Alentejo é uma região muito extensa e com uma gastronomia muito caracterizada e variada, e é normal que os vinhos acompanhem os pratos. Procurei nas notas de prova fazer uma recomendação de um prato que ligasse com o vinho, e fosse informativa, ou seja, que acrescente algo à nota de prova. O leitor vai constatar que sendo os vinhos brancos nem sempre a recomendação é um prato de peixe ou vegetariano. A verdade é que há muitos vinhos brancos que ligam bem com pratos de carne, e mesmo pratos ricos como assados. Fica o desafio para essa exploração, tal como vejo esta prova como um testemunho da exploração que o vinho alentejano está a fazer no território vinho branco. Temos variedade de estilos, de castas, de lotes, ambição, frescura, estrutura. Os preços macios ajudam a que o leitor participe nesta procura.
(Artigo publicado na edição de Julho de 2024)
Adega José de Sousa cria programa de vindimas tipicamente alentejano

O programa pode ter início na vinha, onde os visitantes têm a oportunidade de cortar os cachos ou, se a vindima estiver numa fase avançada, na adega com a prova de mosto ou com a pisa a pé. Adicionalmente, os participantes podem participar nas atividades a decorrer. Este programa inclui, ainda, uma visita às duas […]
O programa pode ter início na vinha, onde os visitantes têm a oportunidade de cortar os cachos ou, se a vindima estiver numa fase avançada, na adega com a prova de mosto ou com a pisa a pé. Adicionalmente, os participantes podem participar nas atividades a decorrer. Este programa inclui, ainda, uma visita às duas adegas – a Adega Nova e a Adega dos Potes – com uma prova de vinhos e degustação de produtos regionais. E para aqueles que desejam encerrar o dia com uma experiência completa, há a opção de desfrutar de um almoço exclusivo, com os sabores típicos do Alentejo: gaspacho, empadas de galinha, queijos e enchidos, acompanhados de vinhos José de Sousa.
O programa está disponível mediante disponibilidade e marcação prévia. Pode fazer a sua reserva antecipada pelo e-mail josedesousa@jmfonseca.pt ou pelo contacto telefónico através do número 918 269 569.
Programa de vindimas Adega José de Sousa
Datas: 15 de Agosto a 15 de Setembro
OPÇÃO SEM ALMOÇO:
11h00 – Welcome drink
11h15 – Visita guiada à Adega Nova e Adega dos Potes, com participação nas atividades a decorrer*
12h15 – Prova de 3 vinhos e degustação de produtos regionais (enchidos, queijo, pão e azeite)
13h00 – Final do programa
Oferta de t-shirt e chapéu da vindima
Programa disponível de 2 a 16 pessoas
Preço por pessoa: 28 euros (IVA incluído)
Crianças até 10 anos: grátis (sem oferta de t-shirt e chapéu)
Jovens dos 11 aos 17 anos: 13,00 euros
Preço família (2 adultos + 2 jovens): 74,00 euros
OPÇÃO COM ALMOÇO:
11h00 – Welcome drink
11h15 – Visita guiada à Adega Nova e Adega dos Potes, com participação nas atividades a decorrer*
12h15 – Almoço de petiscos regionais: gaspacho, empadas de galinha, folhados de carne, queijos, enchidos variados, azeite, pão regional, azeitonas, compota, biscoitos tradicionais e fruta da época, acompanhado por vinhos José de Sousa.
14h30 – final do programa
Oferta de t-shirt e chapéu da vindima
Programa disponível de 2 a 16 pessoas.
Preço por pessoa: 62 euros (IVA incluído)
Preço crianças (4-8anos): 16,00 €
Jovens dos 9 aos 17 anos: 30,00 euros
Preço família (2 adultos + 2 jovens): 166,00 euros
* A atividade a desenvolver depende da data e da fase em que a vindima se encontrar.
Casa Relvas: Um Pom Pom rosé e outras novidades

Já relatámos, noutros textos, que o percurso da Casa Relvas pode ser descrito como uma história de família. A anteriormente conhecida por Casa Agrícola Alexandre Relvas, nome que realçava a ligação ao empresário que a fundou em 1997, conta hoje com o papel essencial de ambos os filhos. De tal modo que Alexandre Relvas, o […]
Já relatámos, noutros textos, que o percurso da Casa Relvas pode ser descrito como uma história de família. A anteriormente conhecida por Casa Agrícola Alexandre Relvas, nome que realçava a ligação ao empresário que a fundou em 1997, conta hoje com o papel essencial de ambos os filhos. De tal modo que Alexandre Relvas, o fundador (um dos filhos tem o mesmo nome, lá iremos), diz que já não acompanha tudo o que se passa neste negócio agrícola. Mas não acreditamos… Até porque o sucesso raramente vem do acaso e o êxito da Casa Relvas é inegável. Os números comprovam. Pouco mais de 20 anos depois, a produção total é hoje de oito milhões de garrafas por ano.
A gama é extensa, bem pensada, com muitas referências a serem dedicadas ao mercado externo, sendo que a exportação para mais de 30 países representa cerca de 70% das vendas globais, com mais de 15 mil pontos de venda pelo mundo. Para tal, a empresa detém e controla hoje algumas centenas de hectares de vinha no Alentejo em várias localizações, mas como sempre sucede com os projectos sólidos, o começo foi mais cauteloso. Assim, o primeiro passo foi a aquisição da Herdade de São Miguel no Redondo, em 1995, que conta hoje com 35 hectares em produção, tendo a primeira plantação ocorrido só em 2001. Situada em São Miguel de Machede, é nesta propriedade que se mantém a adega fundadora, construída em 2023, aquela que mais recebe eventos de enoturismo. Esta é uma aposta do produtor, com oferta de programas sazonais e eventos personalizados, para além do evento anual “Um dia em São Miguel”, que ocorre na Primavera.
A exportação para mais de 30 países representa cerca de 70% das vendas globais da empresa
Projecto ambicioso
Mais tarde, o investimento passou pela aquisição da Herdade da Pimenta em Évora (geograficamente a meio caminho do Redondo a Évora), que conta com quase 70 hectares, parte em modo de produção biológico. É aqui onde fica a atual morada da empresa. Mais recente foi a aquisição da Herdade dos Pisões, sita na Vidigueira, ainda com maior dimensão do que as anteriores. Esta aquisição foi a que mais contribuiu para que a Casa Relvas seja, sem dúvida, um dos players alentejanos em destaque no que a vinhos diz respeito.
Alexandre Relvas Jr., filho do empresário, que estudou enologia e viticultura em Bordéus, conta-nos que se juntou ao projeto em 2006, ou seja, cinco anos depois da plantação das primeiras vinhas e da contratação do enólogo Nuno Franco, se mantém na empresa. Nuno, que antes da Casa Relvas teve passagens por outros produtores, com destaque para o também alentejano Monte da Penha (F. Fino), é atualmente o diretor de enologia e viticultura e parte de uma equipa com mais de 70 pessoas. Tendo em consideração a dimensão da operação actual, e a necessidade de criar valor em todas as gamas, Nuno Franco conta agora com a companhia do conceituado enólogo António Braga, consultadoria que espelha bem a ambição do projecto. Com efeito, com um passado longo na Sogrape – universo com a dimensão conhecida e vários vinhos topos de gama afamados – António Braga é um trunfo para qualquer produtor que quer ver analisados todos os seus processos, no sentido de crescer em qualidade e posicionamento, sobretudo nas gamas premium e ultra-premium.
A primeira colheita no mercado foi em 2004, a original do Herdade de São Miguel Colheita Selecionada Tinto, então com apenas 26 mil garrafas. A consistência e inegável relação qualidade/preço dos vinhos fez com que esse número se multiplicasse nos anos seguintes. Em 2008, o número de garrafas comercializadas chega já ao meio milhão e, dois anos depois, atinge mesmo um milhão de vendas. Não espanta que, em 2011, tinha sido necessário construir uma nova adega, agora na Herdade da Pimenta. Em 2016, foi a vez do filho António Relvas se juntar à equipa, para desenvolver um projeto de olival, que se concretizou no ano seguinte com a plantação das primeiras plantas na Herdade dos Pisões, na Vidigueira. Atualmente, os azeites são uma aposta evidente.
Paixão pelo Alentejo
Com paixão pelo Alentejo, a Casa Relvas tem desempenhado um papel importante quer na seleção de castas de origem portuguesa e no desenvolvimento tecnológico (trabalhando em conjunto com o Instituto Superior de Agronomia e a Universidade de Évora com o intuito de conhecer e compreender a complexa vida da videira), quer quanto à sustentabilidade dos vinhos, tendo sido o primeiro produtor a receber a certificação do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA). A verdade é que a empresa tem um pouco de tudo, de castas aos tipos de vinificação. Mas em momento algum quis ficar de fora da tradição, tendo sido dos primeiros produtores de grande dimensão a recuperar a técnica de produção de vinho de talha com mínima intervenção humana.
Já atrás dissemos que a gama é alargada, com marcas que identificam o lugar onde são criadas (caso dos vinhos Herdade de São Miguel e Herdade da Pimenta), se referem a sub-regiões (caso dos lotes Redondo e Vidigueira) e privilegiam a variedade, caso dos vários monocastas disponíveis (do Tinta Miúda ao Syrah, passando pelo Rabo de Ovelha e Sauvignon Blanc). Uma novidade saborosa é o sofisticado Pom Pom, o topo de gama rosé do produtor. O sucesso com o rosé Herdade de São Miguel Colheita Seleccionada, que atualmente vende várias dezenas de milhares de garrafas, implicou, há muito, que parte de uma vinha só fosse dedicada a rosés. Ora da seleção de uma parte dessa vinha, e de uma vinificação ainda mais cuidada, surge agora um novo vinho, mais exclusivo e mais gastronómico, tudo numa bonita garrafa. É caso para dizer que a Casa Relvas só tem razão para festejar!
(Artigo publicado na edição de Maio de 2024)