Quinta da Torre: Estórias de uma Casa com história

Quinta da Torre

A região do Minho, situada no noroeste de Portugal, é conhecida pela sua rica herança cultural e histórica, que ao longo dos séculos exerceu influência significativa no país, com uma identidade única, desde a sua geografia e clima até às tradições populares, artesanato, gastronomia e vinhos, cultura e desenvolvimento económico e social. A influência cultural […]

A região do Minho, situada no noroeste de Portugal, é conhecida pela sua rica herança cultural e histórica, que ao longo dos séculos exerceu influência significativa no país, com uma identidade única, desde a sua geografia e clima até às tradições populares, artesanato, gastronomia e vinhos, cultura e desenvolvimento económico e social. A influência cultural e histórica do Minho contribuiu decididamente para a formação da identidade de Portugal e consolidou a sua importância contínua no cenário nacional.
A história da região do Minho remonta à época pré-romana, com vestígios de povoados e fortificações que datam da Idade do Ferro. Durante a ocupação romana, a região foi uma importante produtora de vinho e cereais, beneficiando-se da localização estratégica junto ao rio Minho. No período medieval, o Minho foi palco de várias disputas entre cristãos e mouros, culminando na Reconquista. A região foi então dividida em pequenos condados e senhorios feudais, cada um com sua própria identidade cultural e social. Durante os séculos seguintes, o Minho foi marcado por desenvolvimentos agrícolas e comerciais, e pela influência de diferentes reinados e governantes, moldando sua evolução até os dias de hoje.

Quinta da Torre

Este território caracteriza-se também pela extraordinária oferta de “casas solarengas” com origens na Idade Média, quando as famílias nobres começaram a construir casas fortificadas para se protegerem das invasões. Ao longo dos séculos, essas construções evoluíram para os Solares que conhecemos hoje, com influências arquitetónicas góticas, renascentistas e barrocas. A evolução dos solares no (Alto) Minho está intimamente ligada à ascensão e queda das famílias nobres que os habitavam, refletindo as mudanças políticas e sociais que ocorreram na região ao longo dos séculos. Pode-se, ainda, encontrar em perfeito estado de conservação, outras construções características da arquitetura regional tradicional – as casas abastadas de lavradores e casas agrícolas humildes, localizadas nos espaços rurais e nas aldeias que no Minho abundam, constituindo um quadro perfeito de paisagem, usos, costumes e tradições. Muito deste património, para felicidade do mundo do turismo, encontra-se a funcionar para receber hospedes que aí podem pernoitar e provar o que de melhor tem a região para oferecer em cultura, gastronomia e vinhos.

Numa manhã de sol exuberante que me impelia a sair de casa e a viver a vida, decidi viajar até ao paraíso vínico da sub-Região de Monção e Melgaço e aproveitar o que de melhor o território tinha para me proporcionar, para me fazer feliz. Nunca me canso de fazer um périplo por este destino, também de enoturismo, pelas paisagens, pela história, mas sobretudo pelo Vinho, esse néctar que nos transforma, que nos faz pensar, que nos faz rir e chorar, que nos eleva o ser e a alma. Algo “divino” aconteceu.

O Homem sonhou e a obra nasceu…
Imbuído da missão de me proporcionar felicidade, fui visitar a Quinta da Torre, localizada na freguesia de Moreira, concelho de Monção, propriedade de Anselmo Mendes – um dos mais importantes enólogos deste país, conhecido pelo “Senhor Alvarinho” – e de sua mulher, Fernanda Grilo, responsável por grande parte da gestão da empresa.
Na realidade há Homens cuja importância para o sector e para a região onde gravitam, valem mais que as suas próprias obras. No caso de Anselmo Mendes, o cuidado e a sabedoria que deposita em tudo o que faz é tanta, que acaba por criar uma legião de seguidores e admiradores naturais que o seguem por todo lado, faça o que fizer. Apesar de fazer enologia em vários pontos do país e no estrangeiro, é em Monção que ele se “despe” de corpo e alma e se atira a uma casta, Alvarinho, que domina em toda a sua dimensão.
A Quinta da Torre, nome adotado nos dias de hoje, é um sonho concretizado por Anselmo Mendes, remetendo para as suas recordações de infância, quando vindimava esta terra e acreditava que este era o terroir de excelência, sobretudo, para o icónico Alvarinho.

Quinta da Torre

A Casa da Torre, Paço Quinta da Bemposta (pela boa exposição), como se designava no passado, cheia de estórias e de histórias, foi sendo vivenciada por famílias Nobres. Payo Gomes Pereira e Isabel Soares são os primeiros a habitá-la. Após várias sucessões na família, a partir dos séculos XVII e XVIII, a casa intensificou a produção de vinho, cultivo do milho, do linho, tinha dois moinhos que permitiam elaborar azeite, era um “feudo” agrícola de grande importância para a região. No final da primeira década deste século, Anselmo Mendes começa por tratar os 12 ha de vinhas desta quinta ligeiramente abandonada pelos proprietários da altura. Percebe de imediato que estava perante um terroir (ou vários) que iria permitir elaborar vinhos de grande nível. Entretanto, ao longo dos anos, ainda na modalidade de aluguer, vai plantar mais 30 ha de vinha. Vem a adquirir a Quinta da Torre em 2016. Possui, neste momento, 50 ha de vinha numa dimensão total de 62 ha.
Os solos em aluviões proporcionam vinhos mais florais, mais cheios, mais densos. A vinha do rio (uma delas) proporciona vinhos mais aromáticos, talvez por ter mais matéria orgânica. Os vinhos das parcelas da Rainha e do Olival provêm de solos com mais argila e são mais densos, mais estruturados, apesar de estarem no mesmo vale. Nas vinhas das encostas os vinhos são mais frutados e tensos, salienta orgulhosamente. Esta paleta orgânica que a Quinta da Torre possui permite, a Anselmo Mendes, criar vinhos com enorme capacidade de espera, de guarda, alicerçada na casta Alvarinho. O desafio neste estudo permanente é de elaborar vinhos cada vez mais complexos e diferenciados, permitindo estudar melhor cada uma das parcelas e os vinhos que pode proporcionar, isoladas ou em conjunto.
Na sequência deste mosaico de solos, um dos atrativos é o “Centro de Experiências”, onde se pode aprender tudo sobre a vinificação, estágio em inox por vinha, visionar as diferentes texturas de solos e verificar os estágios em garrafas com vinhos das diferentes parcelas.

No espaço da quinta pode encontrar-se, ainda, nos dias de hoje, corvos, perdizes, faisões, cegonhas, javalis e veados. As oliveiras com mais de mil anos, são, de per si, um atrativo.
A Quinta da Torre, criada para originar vinhos de excelência e proporcionar experiências inesquecíveis na área do enoturismo, localiza-se freguesia de Moreira, concelho de Monção. É fácil de chegar: no local deparamo-nos com um enorme e bonito portão à moda antiga, com o muro típico em granito desta região, onde se pode ler Quinta da Torre.
Entrando, deparamos com um acervo de património cultural construído impressionante, que “transpira” história e se impõe pela beleza e imponência. Existem dois espigueiros e uma eira que nos transportam para os usos, costumes e tradições destas terras, onde o trabalho do milho, do linho, era uma constante, e onde se matava o porco e dele se extraía tudo para se fazer os diversos pratos bem típicos de Monção e do Minho.

Olhando para a esquerda, contigua aos espigueiros, encontra-se uma loja de vinhos contemporânea franqueada com uma enorme esplanada para os vários torrões de vinha que a quinta possui. Uma paisagem de cortar a respiração de tão idílica que é, e de beleza natural que possui. A vontade de pegar num copo e provar um excelente Alvarinho à temperatura correta, provocou em mim pensamentos e devaneios incontroláveis para quem adora esta casta como eu. Por debaixo da loja temos uma sala de provas com capacidade para 25 pessoas, onde se fazem as provas livres e programadas.
Na loja encontram-se devidamente e criteriosamente expostos todos os vinhos que Anselmo Mendes que produz na Região dos Vinhos Verdes, sobretudo na sub-Região de Monção e Melgaço e na Sub-Região do Lima. Em conjunto, o enólogo já faz a gestão de 130 ha de vinha, 50 ha em Monção e mais 70 ha no Lima.

As experiências de turismo e vinhos
A conduzir a visita estava a Sandra Além. Responsável pelo Enoturismo da Quinta, nascida a pouco mais de 700 metros, desperta de imediato a atenção pela sua alegria, simplicidade, genuinidade e profissionalismo. Pode haver a sorte de encontrar o enólogo Anselmo Mendes na Quinta, e ele nunca recusa uma explicação suplementar. Eu tive essa sorte. Todas as provas são acompanhadas com produtos gastronómicos locais e regionais. Na esplanada também se fazem provas. É nesse espaço que a visita começa com uma explicação criteriosa da história da casa e as características da Quinta. O storytelling nunca é o mesmo, pois há muito para dar a conhecer, e a espontaneidade da Sandra, com um sotaque delicioso, rapidamente nos embala para um passado glorioso sem perder o norte da visita, provar vinhos e ter uma experiência turística memorável.

Na visita completa, cerca de hora e meia e “mais uns pozinhos”, calcorreamos a quinta com paragem obrigatória nas oliveiras com mais de mil anos, onde orgulhosamente se realça o histórico e a tradição na produção de azeite na Quinta da Torre, conhecida na terra pelo Paço – Quinta da Bemposta. Os exteriores milimetricamente organizados com um gosto requintado, onde tudo está no sítio certo, remetem-nos para o imaginário do passado onde o tempo durava muito, onde a vida calma e mais prazerosa permitia o disfrute de tal espaço romantizado. Respira-se cultura, natureza, paisagem, que faz-nos sentir em casa e desejar ficar para uns dias de deleite.
Em frente às famosas oliveiras localizam-se cinco suites, num corpo contiguo e construído para o efeito de alojamento turístico, devidamente equipadas, de bom gosto decorativo e qualidade irrepreensível. Nota-se que tudo foi pensado para proporcionar momentos especiais.

Em seguida descemos, perante a fachada sul da casa onde se localizam pormenores arquitetónicos de grande valor, que merecem reflexão, para conhecer o exclusivo e único Centro de Experiências da Região, uma adega de onde, no século XVI, saiam vinhos para Inglaterra e Norte da Europa. Anselmo Mendes guarda todos os anos 1000 litros de vinho por cada uma das oito as parcelas, oito solos diferentes no mesmo vale. Este centro está inteligentemente organizado: o chão mostra a rocha mãe da região – o granito, e dos lados a pedra rolada, 8 cubas em inox com vinhos em estágio por parcela, 16 barricas onde estagiam mais alguns vinhos e uma garrafeira com os vinhos em estágio. Este Centro de Experiências permite constituir também uma mostra do que se faz na Adega que a empresa tem em Melgaço.

 

Na companhia do Anselmo Mendes, esqueça o tempo porque a conversa flui pelos tempos da história, das castas, da terra, dos usos e costumes e sobretudo das tradições.
No andar acima do Centro de Experiências existe uma biblioteca bem apetrechada de aventuras, factos e ciência, com especial atenção para o vinho, e ainda tem uma suite para uso da família. Contudo, no corpo central encontramos a sala vip que permitirá a realização de eventos mais privados, quer para o produtor quer para quem dela necessita para realizar uma ação mais exclusiva. No andar de cima, o corpo central da casa, existe uma sala de jantar para uso comum e uma cozinha que os hospedes podem de igual forma usar.
Na Torre perto das oliveiras existem três suites para alojamento turístico com todo o conforto digno de espaços celestiais que nos remetem para a história de “príncipes e princesas”, bem localizadas, pois podemos admirar o “mar” calmo das vinhas. Na parte de trás da casa, com a fachada virada para as vinhas, temos um pomar para apreciação e “prova” de alguns frutos tirados diretos da árvore.

Quinta da Torre
Fernanda e Anselmo, com seu filho Tiago Mendes, dedicaram-se de corpo e alma à reconstrução da Quinta da Torre.

Na Quinta da Torre, estão plantados 50 ha de Alvarinho. E, numa propriedade vizinha, mais 7 ha de castas tintas (Alvarelhão, Pedral, Verdelho-Feijão). Mas para completar o conhecimento e refletir as viagens que Anselmo faz pelo mundo vínico, a Quinta possui 1 ha vinha, que constitui um raro “Jardim das Castas Brancas”, para proporcionar, de igual forma, mais conhecimento a quem a visita. Das várias existentes destacam-se variedades brancas internacionais como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling, Viognier, Gewurztraminer, Pinot Gris, Assyrtiko, Furmint, Godello, Fiano e, entre as castas nacionais, Encruzado, Viosinho, Azal, Arinto, entre outras.

A quinta possui ainda uma coleção de 400 camélias, que são tratadas com o maior cuidado já que a família adora esta espécie. Este é o cenário ideal para desfrutar de uma prova de vinhos ímpar, repleta de identidade e autenticidade e rodeado pelas vinhas que lhes dão origem, num terroir único, perfeito para a casta rainha da região. A experiência turística é inolvidável.
Os desafios enfrentados, como as mudanças climáticas e as tendências de mercado, têm sido oportunidades para inovar e reafirmar a identidade e notoriedade dos vinhos produzidos nesta quinta. Com várias certificações de qualidade ISO22001 e ISO14001, caminham a passos largos para a obtenção do selo da Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola do IVV. Um espaço de Enoturismo a visitar para ser (muito) feliz.

Nota: o autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.

 

 

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)

Muros de Melgaço: 25 anos de sucesso

Muros de Melgaço

António Barreto, cientista social atento às inúmeras mudanças do nosso país, aponta a transição entre as décadas de 80 e 90 do século passado fundamentalmente como um tempo de diversidade: “o aparecimento e afirmação de uma diversidade e de uma pluralidade até aí inexistentes. Ainda há costumes arcaicos na alimentação e no vestir e já […]

António Barreto, cientista social atento às inúmeras mudanças do nosso país, aponta a transição entre as décadas de 80 e 90 do século passado fundamentalmente como um tempo de diversidade: “o aparecimento e afirmação de uma diversidade e de uma pluralidade até aí inexistentes. Ainda há costumes arcaicos na alimentação e no vestir e já há telemóveis, sapatos de marca e garrafas de vinho grande reserva nos rótulos.”.
Como é evidente, as garrafas de vinho com a designação “grande reserva”, a que se referiu António Barreto, também estiveram ligadas a profundas transformações ocorridas neste período, que mudaram radicalmente o panorama vínico nacional.
A entrada oficial de Portugal, na então denominada Comunidade Económica Europeia, em 1986, ocasionou uma enorme torrente de fundos comunitários, que foram usados para revolucionar o sector. Durante a década de 90 assistiu-se a um enorme incremento de um fenómeno que ficaria na história como o tempo dos “vinhos de Quinta” e alastraria pelo país como uma chama imparável. Muitas das marcas nacionais, que são hoje amplamente reconhecidas dentro e fora de portas, foram criadas ou ganharam notoriedade nesta década.
Não podemos esquecer igualmente o facto da consolidação da profissão de enólogo. Muitos fixaram-se num produtor em particular, mas outros, como Anselmo Mendes, preferiram prestar os seus serviços a diversos produtores.

 

Em 1988, Anselmo Mendes teve a visão inovadora de que a casta Alvarinho podia originar vinhos ainda mais nobres e distintos quando fermentados em barricas de carvalho. Mais de 25 anos de colheitas de Muros de Melgaço provam que tinha razão.

 

Experimentalista e inovador

Em 1987, Anselmo Mendes terminou a licenciatura em engenharia agro-industrial no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa e rapidamente ingressou no mercado de trabalho para se embrenhar na diversidade avassaladora de transformações de então. Entre 1987 e 1997 colaborou em inúmeros projectos vínicos no Norte de Portugal, ligados ao despontar do movimento dos “vinhos de quinta”, e que, ainda hoje, apresentam raízes fortemente alicerçadas em conceitos ligados à qualidade e à distinção.
Após uma visita à Borgonha, em 1988, encomendou duas barricas de carvalho francês instalando-as em casa dos pais, em Monção, para realizar algumas experiências de fermentação com a Alvarinho, a casta rainha da região que o viu nascer.
O estudo foi de tal forma aprofundado e persistente, que decorreu durante cerca de 10 anos e envolveu a compra de uma quinta. Na altura, Anselmo Mendes era um jovem produtor de vinhos com duas mil garrafas da colheita de 1998 para vender e, com ela, comprovar uma visão inovadora na região: a casta Alvarinho podia originar vinhos ainda mais nobres e distintos quando fermentados em barricas de carvalho.
O impacto alcançado pelas primeiras colheitas da marca Muros de Melgaço permitiu a continuação e o alargamento do estudo da casta usando diferentes tostas e volumes nas barricas de carvalho francês. Este êxito proporcionou, em 2008, estender a sua actividade em dois espaços distintos: a Quinta da Torre, uma propriedade com 12 hectares e uma nova adega no Parque Industrial de Melgaço. Estes novos espaços permitiram dominar a produção de uva e aprofundar as experiências com a casta alargando-os aos solos, podas e outros temas que a mente inventiva de Anselmo Mendes perscrutou. O resto é uma história de sucesso, aqui representada por nove colheitas de Muros de Melgaço, a marca pioneira, incontornável referência entre os grandes Alvarinho de Monção e Melgaço.

 

VERTICAL MUROS DE MELGAÇO

16,5 A

Muros de Melgaço Alvarinho branco 1999

Cobre na cor. Aromas e sabores a fruta cozida, mel e mineralidade. A acidez revelada empresta alguma frescura ao conjunto em notório fim de linha, ainda assim importa sublinhar que, apesar dos 25 anos de idade ainda se bebe com prazer. (13%)

18 A

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2002

Coloração acobreada revelando os 22 anos de idade. Notas evidentes a mel, chá, marmelo, funcho e leve fruta cítrica. Numa clara fase descendente, ainda assim fresco e admiravelmente bem preservado para a idade que apresenta. Para beber de joelhos em agradecimento pela forma positiva como evoluiu. (13%)

18,5 A

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2009

Este vinho apresenta uma cor dourada e aromas a favo de mel, chá, folhas secas e leve fruta cítrica envolta em leve manteiga e grande tensão. Esta referência iniciou a sua fase descendente. Ainda assim mostra um surpreendente equilíbrio entre untuosidade e frescura. (13%)

18,5 A

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2012

Fermentado e envelhecido durante seis meses em barricas de carvalho francês usadas.  Aromas a infusão cítrica e sugestão a pedra molhada. De perfil muito fresco e mineral, muito embora mostre alguma evolução em garrafa que o complexifica grandemente. Um hino à região e à casta. (13%)

18,5 B

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2015

De cor dourada. Apontamentos de lima, casca de laranja, pedra molhada e folhas secas. Mostra-se surpreendentemente jovem, muito tenso e fresco. Grande presença de boca, com muito equilíbrio e complexidade. Um grande vinho a mostrar todas as capacidades da casta na região. (12,5%)

18 B

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2016

Apresenta uma coloração amarela fruto da nobre evolução em garrafa. As notas aromáticas remetem para leve chá, folhas secas, fruta cítrica, pedra molhada e leve pimenta branca. No palato, a acidez bem vincada eleva a fruta cítrica, as finíssimas especiarias e alguma evolução. (13%)

17,5 B

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2018

Coloração amarela clara. Esta referência mostra um belíssimo equilíbrio entre os aromas a flores brancas, casca de laranja, toranja, pimenta branca e pedra molhada. Na boca denota boa ligação entre a delicada fruta cítrica e a leve barrica. Boa precisão e complexidade. (13%)

17,5 B

Muros de Melgaço Alvarinho branco 2020

Aromas florais bem marcados, casca de laranja, algum biscoito, leves especiarias e sílex. Na boca mostra fruta cítrica muito fresca e leves especiarias a amparar o conjunto bastante equilibrado, bem definido e tenso. (13%)

 

(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)

 

Alvarinho: Symington e Anselmo Mendes criam empresa conjunta

Symington Anselmo Mendes

“É com enorme gosto e entusiasmo que as famílias Mendes e Symington anunciam a decisão de aprofundarem a cooperação que têm mantido ao longo dos anos e de trabalharem ainda mais estreitamente em conjunto na construção de marcas de Vinho Verde premium com prestígio e qualidade que possam afirmar, ainda mais, o enorme potencial que […]

“É com enorme gosto e entusiasmo que as famílias Mendes e Symington anunciam a decisão de aprofundarem a cooperação que têm mantido ao longo dos anos e de trabalharem ainda mais estreitamente em conjunto na construção de marcas de Vinho Verde premium com prestígio e qualidade que possam afirmar, ainda mais, o enorme potencial que ambas as famílias reconhecem nesta incontornável região vitivinícola de Portugal.

Assim, na sequência da aquisição por parte da Symington Family Estates da histórica propriedade da Casa de Rodas, na prestigiada sub-região de Vinho Verde DOC de Monção e Melgaço, no final do passado ano, as famílias Mendes e Symington decidiram criar uma nova empresa, em partes iguais, com o objetivo de comercializar os vinhos que serão produzidos nesta propriedade. O projeto conjunto incluirá também a aquisição, por parte desta nova empresa, da marca Contacto que tem conhecido um assinalável sucesso tanto em Portugal como no estrangeiro e cujo desenvolvimento ambas as partes acreditam ser possível, em conjunto, potenciar.

Anselmo Mendes (ao centro na foto) afirmou que ‘Monção e Melgaço tornou-se nos últimos anos numa singular região produtora de vinhos brancos de classe mundial. Como oriundo de Monção tenho imenso orgulho em fazer parte daquele sucesso. Esta parceria da minha família com a família Symington deixa-me duplamente satisfeito, pois juntos iremos criar valor acrescentado nas nossas marcas e ainda contribuir para o maior reconhecimento dos vinhos Monção-Melgaço. Ambos partilhamos o gosto pelas vinhas próprias e escolhemos com sabedoria os melhores terroirs. A minha família possui três quintas em Monção-Melgaço num total de 60 hectares, plantadas com a casta Alvarinho, sendo a Quinta da Torre o maior espaço vinhateiro da Região.’.

Rupert Symington afirmou sentir-se muito entusiasmado com este novo projeto nos Vinhos Verdes e que ‘a formalização desta cooperação entre as famílias Mendes e Symington é motivo de enorme orgulho para a nossa família e demonstra bem a importância que a Symington Family Estates dá ao estabelecimento de relações estáveis com famílias que partilham os mesmos valores que nós. Acreditamos muito no futuro dos Vinhos Verdes e iremos dedicar muito do nosso trabalho na sua promoção e valorização”.

Sobre a marca Contacto, Rupert acrescentou que ‘é um excelente exemplo de uma marca de excelência do Vinho Verde produzida inteiramente com a casta Alvarinho. Tem uma boa distribuição em Portugal, bem como noutros mercados internacionais. Acreditamos no enorme potencial do Vinho Verde premium em alguns mercados de exportação, e planeamos utilizar a nossa rede de distribuição internacional para expandir as vendas daquele que consideramos ser o mais famoso vinho branco de qualidade de Portugal.'”.

Granvinhos adquire Quinta de S. Salvador da Torre nos Vinhos Verdes

Granvinhos Vinhos Verdes

A Granvinhos anunciou a ampliação da sua presença noutras regiões vitivinícolas do país, com a aquisição de uma propriedade de 37 hectares na região dos Vinhos Verdes, a Quinta de S. Salvador da Torre. Este investimento foi, segundo a empresa, resultado de meses de negociações com o Grupo Soja de Portugal, ao qual a Granvinhos […]

A Granvinhos anunciou a ampliação da sua presença noutras regiões vitivinícolas do país, com a aquisição de uma propriedade de 37 hectares na região dos Vinhos Verdes, a Quinta de S. Salvador da Torre. Este investimento foi, segundo a empresa, resultado de meses de negociações com o Grupo Soja de Portugal, ao qual a Granvinhos comprou a Agromar S.A., que detém a Quinta de S. Salvador da Torre, no Vale do Lima, concelho de Viana do Castelo.

A Quinta de S. Salvador da Torre, também conhecida como Quinta de Santo Isidoro, localiza-se na margem direita do rio Lima e tem mais de 400 anos de existência. “Uma propriedade agrícola impressionante, com uma casa senhorial datada de 1685”, revela a Granvinhos. Com 30 hectares de vinha, das castas Loureiro e Alvarinho, a quinta beneficia, segundo a Granvinhos, da brisa marítima característica do Vale do Lima, apresentando condições edafo-climáticas excepcionais.

Granvinhos Vinhos Verdes

A Granvinhos manterá o modelo de exploração desta propriedade dos Vinhos Verdes, em parceria com o enólogo Anselmo Mendes, que já era adoptado pela Agromar. Concretiza-se, assim, o primeiro projecto conjunto entre o enólogo e o director-geral da Granvinhos, Jorge Dias, alavancado por uma amizade de mais de 30 anos. Juntos pretendem explorar o potencial da casta Loureiro e a localização privilegiada da quinta, trabalhar na requalificação patrimonial da propriedade e, previsivelmente em 2024, lançar um novo vinho Loureiro.

“Acredito no futuro do Vinho Verde, em particular das castas Alvarinho e Loureiro, produtos bem-adaptados aos novos tempos e hábitos de consumo. No entanto, é necessário valorizar a ligação desses vinhos às respectivas zonas de produção, bem como à dieta atlântica, na qual Portugal tem uma oferta única”, afirma Jorge Dias.

Symington entra nos Vinhos Verdes e “recruta” enólogo Anselmo Mendes

Symington Vinhos Verdes

A Symington Family Estates anunciou hoje a aquisição de uma propriedade na sub-região Monção e Melgaço, na região dos Vinhos Verdes. O sítio é histórico e tem o nome Casa de Rodas (na verdade, uma das mais antigas e históricas marcas de Alvarinho de Monção), incluindo uma casa senhorial do século XVII e 27,4 hectares […]

A Symington Family Estates anunciou hoje a aquisição de uma propriedade na sub-região Monção e Melgaço, na região dos Vinhos Verdes. O sítio é histórico e tem o nome Casa de Rodas (na verdade, uma das mais antigas e históricas marcas de Alvarinho de Monção), incluindo uma casa senhorial do século XVII e 27,4 hectares de vinha de plantada exclusivamente com a casta Alvarinho. Para produção da gama de “vinhos de quinta” — os primeiros serão elaborados em 2023 — apenas com uvas próprias, a Symington Family Estates contará com Anselmo Mendes na enologia e consultoria de viticultura.

Rupert Symington, CEO do grupo familiar nascido no Douro, afirma: “É com enorme satisfação que anunciamos este importante investimento na sub-região de Monção e Melgaço. […] Esta área é, há muito, reconhecida pela qualidade da sua casta Alvarinho. De facto, os vinhos brancos aqui produzidos estão entre os melhores de Portugal. Acreditamos no estabelecimento de relações de longa duração com indivíduos, peritos na enologia nas suas regiões e temos imenso orgulho em trabalhar com o Anselmo Mendes, que muito justamente se tornou num dos mais reputados enólogos de Portugal e num dos pioneiros da região do Vinho Verde”.

Nos últimos anos, a família Symington expandiu o seu negócio para novas regiões vitivinícolas e categorias de vinho, que se vêm juntar à actividade principal da empresa, a produção de vinhos do Porto e Douro. Em 2016, adquiriu uma propriedade de 42 hectares – a Quinta da Fonte Souto – nas encostas da Serra de São Mamede, no Alto Alentejo, sub-região de Portalegre. Em 2022, comprou 50% das Caves Transmontanas, prestigiado produtor duriense da marca de espumantes Vértice.

Anselmo Mendes: “Vinho Verde é a grande região de brancos de Portugal”

Anselmo Mendes

Anselmo Mendes é um nome muitíssimo respeitado junto de apreciadores e críticos nacionais e estrangeiros e, talvez mais significativo ainda, entre os seus pares, enquanto produtor e enólogo. Conhecedor profundo do sector do vinho, tem uma visão clara e objectiva sobre as suas múltiplas vertentes, da viticultura à enologia, passando pela economia, identidade regional ou […]

Anselmo Mendes é um nome muitíssimo respeitado junto de apreciadores e críticos nacionais e estrangeiros e, talvez mais significativo ainda, entre os seus pares, enquanto produtor e enólogo. Conhecedor profundo do sector do vinho, tem uma visão clara e objectiva sobre as suas múltiplas vertentes, da viticultura à enologia, passando pela economia, identidade regional ou modelos de sustentabilidade. Falámos de tudo um pouco com o “senhor Alvarinho”, sem esquecer, é claro, o tema que mais mexe com ele: a Quinta da Torre e a região de Monção e Melgaço.

TEXTO Luís Lopes
FOTOS Hugo Pinheiro

AS ORIGENS

Nascido numa família de agricultores, a lavoura, a vinha, o vinho, eram para ti uma inevitabilidade? Alguma vez equacionaste seguir outro caminho?

Por um lado, era inevitável, pois em criança o meu sonho era ser agricultor. Contrariamente aos jovens da minha geração que queriam fugir da agricultura, e para quem trabalhar na construção civil já era ter mais estatuto. O meu fascínio pela forma como as plantas cresciam e se comportavam levou-me a decidir bem cedo rumar a Lisboa para estudar Agronomia.

Realmente, até poderia ter ido para medicina, mas ser agrónomo era o objectivo. E foi em Agronomia que o meu interesse pelos vinhos cresceu e me levou a escolher Agroindústrias e todas as disciplinas opcionais relacionadas com Enologia.

Como era a vinha e o vinho em Monção e Melgaço na segunda metade dos anos 80, quando concluíste a tua formação académica? Nessa altura pensavas em voltar para a origem?

Na segunda metade dos anos 80, a área de vinha da casta Alvarinho não chegava a um terço da actual. Havia muito mais minifúndio e um fraco conhecimento sobre as mais adequadas formas de condução da vinha. O vinho engarrafado com alguma notoriedade estava confinado à Adega Cooperativa de Monção e ao Palácio da Brejoeira que eram, na verdade, as locomotivas da casta Alvarinho. 

Nessa altura tive um convite para trabalhar na sub-região e não aceitei, pois não estava preparado para tal e tinha acabado de entrar para uma empresa, a Sociedade dos Vinhos Borges, onde pensava aprofundar os conhecimentos sobre vinhos.

A tua primeira relação profissional a sério foi intensa e duradoura: dez anos na Borges, assumindo a viticultura e enologia de uma das maiores empresas do sector. Quais os principais ensinamentos que recolheste dessa experiência?

Em primeiro lugar aprendi o que é a cultura de empresa, sua missão e valores. Desenvolvi projectos de vinhas, de adega e mesmo trabalhos científicos e experimentais em colaboração com Universidades. Mas muito importante foi trabalhar em equipa com multidisciplinaridade, onde entravam para além da área técnica, as áreas comercial, marketing,  gestão e financeira.

Conheci grandes profissionais, administradores vindos das mais diversas áreas e também fiz muitos amigos. Costumo dizer que a Borges foi uma grande escola, onde também se aprende aquilo que não se deve fazer.

“Uma vinha sustentável deve ter excelente relação produção/qualidade para que possa também ser sustentável economicamente.”

©Hugo Pinheiro

Para além do trajecto na Borges, enquanto consultor ajudaste a criar, de raiz, projectos vitivinícolas de grande notoriedade, como o da Quinta da Gaivosa, um dos pioneiros do Douro moderno. Que desafios se colocavam a quem, em 1991, queria fazer uma empresa centrada no vinho do Douro numa região quase exclusivamente orientada para o vinho do Porto? 

Os meus três primeiros anos de Borges foram intensos. Estudava e experimentava tudo o que era tecnologias de vinificação e confesso que tinha bases sólidas de Química, Microbiologia, Bioquímica, Fisiologia, etc. Tive a felicidade de frequentar cursos de formação profissional em Bordéus, fiz pós-graduação em Enologia, e na Viticultura bebi durante muitos anos os ensinamentos do Professor Rogério de Castro.

O desafio na Quinta da Gaivosa era fazer ensaios no quase desconhecido, ainda por cima no Baixo Corgo, na época considerado de baixo potencial vínico. Na altura já dominava razoavelmente a utilização do frio e do calor, a extracção selectiva e a utilização de estágio em barricas e isso foi-me muito útil. Na Gaivosa, foram 22 anos a seleccionar parcelas, estudar pontos óptimos de maturação, afinar vinhos pela elegância. Aprendi muito e dei muito de mim e do meu conhecimento. Tenho imenso orgulho em ter ajudado a construir um projecto que foi, e é, marcante para o Douro.

A tua actividade de consultoria levou-te a trabalhar em quase todas as regiões vinícolas de Portugal. Quais foram aquelas que mais te surpreenderam, revelando qualidades que não esperavas? 

Numa primeira fase, final dos anos 80, princípio dos anos 90, o Douro surpreendeu-me pela diversidade, em relação às vinhas velhas, às diferentes altitudes e exposição. Lembro-me bem de conversas com Jorge Dias [ex-professor na UTAD e actual director geral da Gran Cruz] em que dizíamos convictamente que teria de haver uma revolução no Douro DOC, o Douro “não Porto”. Felizmente ela aconteceu e está para durar. No ano de 1998 foi lançado o projecto Lavradores de Feitoria onde participei na execução e no primeiro ano de enologia. Dirk Niepoort mostrou interesse em alguns vinhos destas quintas e a administração ligou-me preocupada porque não sabia o que fazer. Então disse-lhes: isso é muito bom! Convidem-no para accionista. E assim aconteceu.

Na primeira metade dos anos 90, o Dão fez-me pensar. A cada ano era surpreendido, percorria a região com o saudoso Magalhães Coelho [enólogo que apoiou muitos vinhos de quinta no Dão], homem de muita sensibilidade e saber. Alguns vinhos que encontrávamos eram de tal finura e elegância que influenciei a Borges a comprar a Quinta da Aguieira. Mais tarde, em 2004, iniciei uma experiência própria no Dão, em S. João de Areias, e em 2015 apostei na Quinta de Silvares onde os vinhos mostram elevado potencial. Mas isto só não chega e no final de 2019, em conversa com o amigo Luis Abrantes, dono da Quinta da Alameda (onde cheguei a comprar vinhos para a Borges), decidimos fazer uma parceria no sentido de transformar a Alameda numa marca de referência do Dão. Acho que desta vez o Dão vai finalmente assumir uma importância relevante no meu trabalho. 

“Boas vinhas com floresta precária, é um modelo que não garante equilíbrio nem ordenamento paisagístico.”

E que regiões achas que estão ainda longe de expressar todo o potencial que têm guardado?

Sem dúvida alguma, Beira Interior e Trás os Montes. São regiões com muitas vinhas velhas de alta qualidade, intervenção mínima, castas desafiantes e diferenciadoras…têm tudo para dar certo.

Escolhe uma ou duas castas para cada região onde trabalhas ou trabalhaste: Douro, Vinho Verde, Monção e Melgaço, Alentejo, Dão, Beira Interior, Bairrada, Lisboa, Açores.

Douro: Touriga Franca e Tinta Amarela; Vinho Verde: Loureiro e Avesso; Monção e Melgaço: Alvarinho e Alvarelhão; Alentejo: Alicante Bouchet e Arinto; Dão: Touriga Nacional e Encruzado; Beira Interior: Síria e Rufete; Bairrada: Baga e Cercial; Lisboa: Viosinho e Cabernet Sauvignon; Açores (Terceira): Verdelho e Verdelho Roxo.

©Hugo Pinheiro

A VITICULTURA 

Os enólogos da geração anterior à tua raramente sujavam as botas na vinha. Tu tens com a viticultura uma relação muito estreita e até, diria, invulgar, em termos de conhecimento e comprometimento. Dizer que o vinho nasce na vinha é dizer o óbvio, mas, no teu caso, qual o verdadeiro significado dessa expressão? 

O vinho nasce bem na vinha desde que se cumpra um conjunto de requisitos: fazer a escolha certa do terreno; escolher as castas/porta enxerto adaptadas e a densidade adequada às condições de solo e clima; criar condições para eficiente colonização subterrânea e aérea; fazer a gestão do vigor, fertilização e intervenção em verde; trabalhar o arrelvamento e melhoria da estrutura do solo; regular a produção em função do vinho pretendido; avaliar as parcelas e sua diferenciação; fazer a triagem dos cachos na vinha e não na adega. Ou seja, o vinho nasce bem na vinha se dominarmos por inteiro as operações vitícolas e juntarmos um pouco de “feeling”…

A viticultura sustentável está hoje na ordem no dia, recolhendo a atenção de produtores e consumidores, mas muitas vezes colocando no mesmo saco coisas distintas: sustentabilidade, orgânico, biodinâmico, etc. O que é, para ti, uma vinha sustentável e amiga do ambiente?

Desde logo, sustentável é uma vinha que, na sua concepção, tenha no mínimo 10% de matas com árvores de folha persistente e caduca. Uma vinha sustentável terá de seguir um modo de produção que preserve e melhore a estrutura do solo (produção integrada em regiões mais atlânticas e, se for viável, orgânico em clima continental e altitude). Deve ser adoptada rega com o objectivo de uma forte e profunda colonização subterrânea pelas raízes, de modo a poupar água no futuro, dar maior estabilidade à planta e proporcionar frutos de maior equilíbrio e qualidade. 

Uma vinha sustentável deve minimizar o uso de fitofármacos, adoptando a prevenção por métodos integrados de avaliação online dos riscos de doenças. Deve ser utilizado arrelvamento para melhorar a estrutura do solo e fertilização recorrendo a consociação de gramíneas e leguminosas, minimizando o uso de adubos químicos. Os herbicidas devem ser evitados ou limitados a uma pequena faixa na linha. Finalmente, uma vinha sustentável deve atingir excelente relação produção/qualidade para que possa também ser sustentável economicamente. Só faz viticultura sustentável quem dominar o conhecimento agronómico e tenha consciência ecológica, social e económica. 

“Se a sub-região de Baião fizesse parte da região do Douro, hoje seria o terroir de excelência dos brancos durienses…”

No caso concreto do Vinho Verde, como avalias as mudanças ocorridas na viticultura ao longo da última década? Quais os aspectos positivos e negativos? E que modelo defendes para a viticultura do futuro da região? 

Na região dos Vinhos Verdes, a grande maioria das mudanças ocorridas nos últimos 10 anos foram sem dúvida positivas: a área média da vinha aumentou, as castas plantadas estão bem adaptadas, o melhoramento genético destas é evidente e a condução e intervenção em verde melhorou. Um ponto negativo, é o assentar dos tintos da região numa única casta: o Vinhão. 

Defendo os aspectos acima referidos para a sustentabilidade futura da viticultura dos Vinhos Verdes. Mas há um ponto fundamental: a paisagem envolvente das vinhas tem de melhorar. Boas vinhas com floresta precária, é um modelo que não garante equilíbrio nem ordenamento paisagístico. A nossa floresta, a floresta da região Vinhos Verdes, é um desastre!!!

©Hugo Pinheiro

Nas várias regiões onde trabalhas deparas-te com muitas variedades de uva, castas tradicionais, castas portuguesas que vieram de outras regiões e castas internacionais. Em todo o mundo há regiões “fechadas” e regiões “abertas” nesta matéria. Como encaras esta questão? Tens uma posição genérica ou cada caso é um caso?

Em Portugal, o nosso conhecimento das regiões e dos vinhos ainda não atingiu a maturidade. Ainda continuamos à procura do perfil certo. Temos um problema que só o tempo resolverá: aumento do preço médio que permita remunerar bem a fileira do vinho. A partir daí, poderemos serenamente construir perfis de vinho com originalidade baseados na diversidade e adaptabilidade das nossas castas. De uma forma global temos de encontrar para cada região um perfil próprio que seja competitivo internacionalmente pela originalidade. Por vezes, a demasiada diversidade de castas e estilos dentro de cada região torna-nos pouco competitivos. 

Desde há muito que investigas, experimentas e fazes vinho com a casta Alvarelhão. Muitos consumidores ouviram falar nela pela primeira vez através dos teus vinhos. O que é que vês no Alvarelhão?

O Alvarelhão ou Brancelho não é uma casta fácil na vinha ou na adega. Tem tendência ao desavinho e é muito sensível ao míldio e oídio. Na adega, apanha com facilidade aromas redutores. Mas tem atributos muito positivos: um grande equilíbrio ácido, taninos finos e aromas elegantes e distintos. Aceita com classe o estágio em barricas de carvalho francês e envelhece muito bem em garrafa. É uma casta de que gosto mesmo muito.

A uva Alvarinho resolveu viajar, saiu do vale do Minho e está hoje espalhada por todo o Portugal, do Douro ao Algarve. Tu próprio, a tens usado noutras paragens. Que principais diferenças encontras no comportamento da casta em regiões como Bairrada, Lisboa, Alentejo ou até noutras sub-regiões do Vinho Verde, face a Monção e Melgaço?

A casta Alvarinho dá-se muito bem perto do Atlântico da Bairrada e Lisboa. Aí, em solos argilo-calcários perde acidez e ganha salinidade. Os aromas são menos florais e ganham mais tropicalidade. Mas no Alentejo prefiro o Arinto…

Na região dos Vinhos Verdes, a Alvarinho atinge um bom equilíbrio na sub-região de Basto, mas nas sub-regiões mais atlânticas dos Verdes perde corpo e ganha algum desequilíbrio ácido. A virtude em Monção Melgaço é ter clima temperado de influência atlântica moderada e solos com boa retenção da água. Deste modo, os vinhos têm equilíbrio, corpo e mineralidade. Mas os aromas cítricos com florais só aparecem em alguns solos de excelência. 

VALE DO LIMA E OUTROS VALES

Vamos deixar para mais tarde a tua região estrela, Monção e Melgaço, e falemos de uma outra onde também tens apostado bastante, o vale do Lima. É muito diferente do vale do Minho, não é verdade? O que procuras ali?

O Lima difere do Vale do Minho por ter clima temperado de influência atlântica mais evidente. Os solos de origem granítica têm textura franco-arenosa com baixa capacidade de retenção da água. A casta Loureiro está ali muitíssimo bem adaptada, originando vinhos com aromas intensos, florais e cítricos, e uma acidez firme que lhes permite muito boa longevidade. No fundo, é intensidade, elegância, frescura e longevidade o que procuro (e encontro!) nos brancos do Vale do Lima.

Há três décadas já se falava de Alvarinho com respeito, mas o Loureiro só em tempos relativamente recentes ganhou estatuto de casta e vinho de categoria superior. Achas que o Loureiro do Lima poderá vir a ter, globalmente, a qualidade, notoriedade, longevidade, preço, do Alvarinho de Monção e Melgaço?

Estou absolutamente convicto de que o Loureiro tem potencial para lá chegar. Mas o vale do Lima precisa de mais operadores focados na qualidade, precisa de investidores e precisa de tempo, que é o factor mais limitante neste negócio.

“Neste País as medidas são lentas e a agricultura não tem peso para os decisores. Na hora da verdade, abandonam-nos.”

E como vês a ascensão do Avesso?

O Avesso tem pela frente os mesmos desafios do Loureiro, mas precisará de ainda mais tempo para se afirmar como casta e vinho, em Portugal e no mundo. Mas o potencial está todo lá. Se a sub-região de Baião fizesse parte, em termos de denominação de origem, da região do Douro, hoje toda a gente olharia para ela como o terroir de excelência dos brancos durienses…

©Hugo Pinheiro

O PERFIL DOS VINHOS VERDES 

Na região dos Vinhos Verdes coexistem vários estilos de vinho mas, de forma simplista, podíamos arrumá-los em dois perfis: “leve, doce, com gás, barato” e “intenso, frutado, seco, ambicioso”. Dois perfis que são, quase se pode dizer, dois modelos de negócio distintos ainda que possam ser complementares. Qual a melhor forma de gerir/organizar/comunicar uma região com estas características? 

Não é nada fácil gerir tudo isto, é verdade, pois em alguns mercados Vinho Verde é sinónimo de vinho barato. Nos mercados menos maduros, já senti que a região tem um tecto de preço. E a verdade é que nos últimos 30 anos tenho dispensado muito tempo a desconstruir alguns dos preconceitos e dogmas relativos ao Vinho Verde. 

De qualquer forma, a imagem dos Vinhos Verdes tem melhorado muito, e hoje já há a percepção, por parte dos conhecedores, de que é a grande região dos brancos de Portugal. Fazer chegar esta mensagem ao consumidor menos atento é uma questão de tempo e de investimentos de comunicação/marketing bem pensados, direccionados e executados.

São cada vez mais os Verdes de grande qualidade e ambição. No entanto, esse crescimento qualitativo tem sido quase sempre acompanhado pelo crescimento do teor alcoólico, para níveis (13%, 13,5%…) impensáveis há uma década. É inevitável? Ou é possível fazer um grande vinho Verde branco com 11% ou 11,5%?

Eu gosto dos Loureiro perto dos 12% de álcool e os Alvarinho entre os 12,5% a 13%. É possível, sem dúvida, fazer grandes brancos com 11% ou 11,5%, mas abaixo disso, nesta região dos Vinhos Verdes, dificilmente teremos um vinho equilibrado.

E o Verde tinto, que futuro?

Em Monção e Melgaço com viticultura de excelência e as castas Alvarelhão, Pedral e Verdelho Feijão, estou certo de que podemos fazer tintos finos, elegantes e com capacidade de envelhecimento. Na restante região dos Vinhos Verdes, não tenho experiência suficiente de vinhos tintos para poder emitir uma opinião bem fundamentada. Mas parece-me óbvio que o Verde tinto tem de encontrar um rumo e um perfil.

A ENOLOGIA

Como te defines enquanto enólogo?

Como enólogo sou um insatisfeito, ando sempre à procura da perfeição. E a perfeição, para mim, significa exprimir de forma autêntica e séria o chamado “terroir”. 

Em Monção e Melgaço, fazer um Alvarinho de perfil tropical (manga, maracujá) ou de perfil citrino (laranja, tangerina) é questão de viticultura ou enologia?

É viticultura e enologia. No respeitante à viticultura, excesso de vigor imprime tropicalidade, carácter que pode ser reforçado  na adega por alimentação azotada, baixas temperaturas de fermentação e leveduras próprias para este efeito. Confesso que me incomoda o excesso de tropicalidade, porque desvirtua o perfil muito nobre dos brancos Monção Melgaço. 

Este perfil que associa aromas de fruta branca com caroço, cítricos e, em alguns casos, florais, requere bom controle do vigor, regime hídrico que possibilite maturação lenta, bom microclima dos cachos sem exposição solar excessiva.

O ano de colheita é determinante e, em anos frescos sem stress hídrico, os solos franco-arenosos de encosta dão vinhos muito equilibrados com acidez vibrante e uma componente cítrica forte. Os solos sedimentares, ou seja, de zonas de menos altitude com grande capacidade de retenção para a água em anos quentes, dão vinhos frescos e concentrados com grande complexidade aromática. 

Na verdade, a interação viticultura/enologia é fundamental para perceber o potencial de qualidade e definir o perfil do vinho, sem contudo desvirtuar a expressão mais séria e genuína do Terroir.

Foste talvez o primeiro a fermentar Alvarinho em barrica, ainda nos anos 80. Como avalias hoje a relação dos Alvarinho de Monção e Melgaço com a barrica?

É uma relação perfeita que começa na vinha. Necessita de mostos com grande equilíbrio açúcar/ácido/taninos. Para isso, não chega ter a grande parcela, é necessário sobretudo colher os cachos de acordo com o seu posicionamento na videira, fazer mais do que uma vindima na mesma parcela. A escolha da madeira, a sua origem, dimensão, tosta e controlo do oxigénio são determinantes. Para mim, as temperaturas de fermentação jogam um papel decisivo no objetivo final, em que a madeira contribui para o equilíbrio e complexidade do vinho mas não o marca, deixando aromas discretos ou quase imperceptíveis. 

“Monção e Melgaço é terroir que, de uma forma própria e distinta, exprime vinhos brancos de primeira grandeza.”

Maceração pelicular, curtimenta, “orange wines”. O que tens experimentado nesta matéria?

Comecei em 1999 a estudar a curtimenta e em 2001 lancei um vinho Alvarinho de curtimenta total. Foi um fracasso porque pouca gente o entendeu. Foram necessários 15 anos para compreender este tipo de vinho, foi também importante o estudo das parcelas e, de entre estas, os cachos mais adequados. O meu vinho TEMPO é um exemplo disto. Já o Anselmo Mendes Curtimenta Alvarinho foi o aperfeiçoar da extracção selectiva, limitando a quantidade de polifenóis de modo a ter uma curtimenta “civilizada “. Considero que, no caso da casta Alvarinho, que tem uma relação elevada de sólidos/líquido, o estudo da curtimenta ainda está no seu início. 

E vinho “natural”, o que é?

Melhor do que dizer que o vinho é natural ou que se faz vinho natural é dizer como Pasteur: “o vinho é a mais sã das bebidas”. Sã é muito mais do que natural. Hoje, com boa viticultura e intervenção mínima na adega, conseguimos vinhos com teores de sulfitos muito abaixo do máximo autorizado para biológico. Portanto, o sulfuroso não é problema nem define a “naturalidade“ do vinho. O maior problema do vinho é ter uma molécula tóxica, o álcool. Mas sem álcool não há vinho. Por isso, há que beber com moderação para que o vinho continue a ser a mais sã das bebidas.

A ECONOMIA DO VINHO

Sei que uma das tuas preocupações é enquadrar a sustentabilidade económica na noção geral de sustentabilidade da vinha e do vinho. Deverão ser conceitos compatíveis, presumo…

Sem dúvida, altamente compatíveis. E mais do que isso: sem sustentabilidade económica não há sustentabilidade vitícola, ambiental ou outra.

No quadro em que vivemos, com vários canais de distribuição e consumo limitados por via do covid-19, podes elencar, de forma breve, as principais medidas que defendes para a recuperação do sector do vinho? 

Disse e escrevi logo em março as medidas que defendo: regulação da oferta pela via da destilação; apoio com parte a fundo perdido e parte a crédito, com carência de 2 anos, para investimento em capacidade de armazenamento; passar de 15% para 30% a introdução de uma colheita noutra sem esta perder o direito a data. Acresce a isto um compromisso de não baixar drasticamente o preço das uvas aos viticultores, correndo o perigo de perdermos património vitícola. 

Neste País as medidas são lentas e a agricultura não tem peso para os decisores. Os produtores tem sido contribuintes líquidos para a economia nacional e ilíquidos para o prestígio de Portugal. Na hora da verdade, abandonam-nos. Vamos certamente perder competitividade, pois os outros países produtores foram ajudados, não por Bruxelas mas pelos seus governos. Isto não é só falta de dinheiro: é incompetência para perceber quais são os sectores estratégicos para a economia do País. 

PRODUTOR EM MONÇÃO MELGAÇO 

O teu projecto enquanto produtor em Monção e Melgaço começou na vindima de 1998. Como foram esses tempos iniciais?

Tenho saudades desse tempo. Fazer vinho de uma forma completamente artesanal, literalmente metendo a mão na massa, é algo que hoje é quase irrepetível. Talvez agora no centro de experiências do Alvarinho, na Quinta da Torre, possamos reviver e repetir esses momentos. 

Dez anos depois, estavas a construir a nova adega…

Estava a construir uma nova adega e tomava conta da Quinta da Torre como arrendatário, iniciando a reestruturação das vinhas. Nesse mesmo ano, comecei também a reestruturar quintas no Vale do Lima onde hoje temos 70 hectares, dos quais 20 de Alvarinho e 50 de Loureiro. Em Monção e Melgaço estamos nos 50 hectares, com a maior mancha da casta Alvarinho num terroir que, de uma forma própria e distinta, exprime vinhos brancos de excelência. 

©Ricardo Palma Veiga

E por fim, o grande salto, com a compra da Quinta da Torre em 2016. Que importância tem esta propriedade no teu projecto e no futuro da empresa familiar?

A Quinta da Torre nos seus mais de 60 hectares já nos mostrou que pode originar vinhos diferenciados pelos seus distintos solos, ou melhor, texturas de solos. Vai-nos permitir controlar a produção e garantir autonomia para fazer os grandes vinhos. O controlo da viticultura associado a um terroir de excelência dá-nos esperança para encarar o futuro, tendo como objectivo criar vinhos de grande valor acrescentado.

Esta é uma Quinta com uma história que vem do século XIV e ligada desde sempre à produção de vinho. Possui mais de 1 quilómetro de frente de rio, com matas, levadas de água e moinhos. A casa senhorial tem três torres e capela. Toda a quinta faz parte de uma reserva ecológica onde a viticultura que praticamos está certificada de sustentável. 

“Melhor do que dizer que o vinho é natural ou que se faz vinho natural é dizer como Pasteur: ‘o vinho é a mais sã das bebidas’. Sã é muito mais do que natural.”

O que achas que podes conseguir de diferenciador, em termos de vinhos, com a Quinta da Torre?

Hoje, nas provas cegas, distinguimos com relativa facilidade os vinhos da Quinta da Torre de todos os outros que fazemos com uvas Alvarinho oriundas de outras zonas de Monção e Melgaço. Isto diz-nos que a quinta tem uma forte identidade. Os nossos vinhos superiores estão associados a parcelas distintas e estamos a construir um vinho que só sairá para o mercado com um mínimo de quatro anos de estágio. Num futuro próximo, ambicionamos fazer no centro de experiências vinhos de 8 parcelas distintas, para serem apenas vendidos no enoturismo.

ENÓFILO E GASTRÓNOMO

Quais os vinhos (ou tipo de vinhos) que mexem contigo?

Brancos da Borgonha e tintos do Vale do Rhone.

Diz-me três vinhos portugueses de que gostes muito e onde não tenhas qualquer intervenção.

Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa, um tinto do Douro. Quinta das Bágeiras Cercial, um branco da Bairrada. E Mouchão Tonel 3-4, um tinto do Alentejo.

E três vinhos do mundo?

O Chablis de François Raveneau; o Puligny-Montrachet de Domaine Leflaive; e o Côte Rotie Michel Ogier Belle Helene.

Sei que, quando podes, gostas de te agarrar aos tachos e ao fogão. O que gostas mais de cozinhar? E qual o prato preferido que não sabes fazer?

Gosto de cozinhar muitos pratos diferentes, todos eles da cozinha tradicional portuguesa. Por exemplo, nos arrozes, arroz de cabidela, arroz de lampreia (ou não fosse monçanense…) e arroz de pato. Também bacalhau à lagareiro e açorda de bacalhau, camarões al ajillo, robalo no forno. No capítulo das carnes, ensopado de borrego, favas com chouriço e costelas, cabrito assado no forno e carne de porco alentejana.

Quanto a um prato que aprecio muito e não sei fazer como gostaria, é fácil responder: pataniscas de bacalhau. Mas sei fazer o arroz de feijão…

Artigo da edição nº 39, Julho 2020

A Colonial e Anselmo Mendes lançam Bolo-rei de Alvarinho

Sim, um Bolo-Rei de Alvarinho. O chef pasteleiro Francisco Gomes d’A Colonial — confeitaria de Barcelos com mais de 100 anos — e o produtor e enólogo Anselmo Mendes, tornaram possível esta criação, o tradicional bolo português de Natal com um twist, e que twist… O Bolo-rei de Alvarinho é feito com a massa tradicional, […]

Sim, um Bolo-Rei de Alvarinho. O chef pasteleiro Francisco Gomes d’A Colonial — confeitaria de Barcelos com mais de 100 anos — e o produtor e enólogo Anselmo Mendes, tornaram possível esta criação, o tradicional bolo português de Natal com um twist, e que twist…

O Bolo-rei de Alvarinho é feito com a massa tradicional, sendo acrescentada a amêndoa, a parte de cima leva um crumble e a decoração que o assina: um cacho de uvas feito de pasta cigarrete. O recheio central é uma verdadeira explosão de aromas e sabores, já que tem uma geleia de Alvarinho, obtida a partir do vinho Muros de Melgaço 2018, envolvida por uma mousse de chocolate branco Ivoire, da Valrhona, “uma das marcas mais caras do mundo”, explica António Barbosa, chef pasteleiro d’A Colonial e braço direito de Francisco Gomes. Foi um processo desafiante que, confessam “superou as expectativas”. Esta foi a primeira vez que uma casta portuguesa, rainha da sub-região Monção e Melgaço (região do Vinho Verde) e embaixadora no Mundo, foi usada, e isso enche toda a equipa de orgulho. 

Fotos: Ernesto Fonseca.

A Grandes Escolhas teve oportunidade de provar esta iguaria, e o resultado é um Bolo-rei de qualidade premium, diferente de tudo o que já se provou, de textura muito fofa, sem exageros na doçura e com a geleia de Alvarinho delicadamente tropical e elegante. Um Bolo-rei quase obrigatório, sobretudo para quem não aprecia frutos cristalizados. Está disponível na confeitaria A Colonial, em Barcelos, e no Club del Gourmet El Corte Inglés de Vila Nova de Gaia, a 16 euros o quilo, sendo possível fazer entregas mediante consulta e encomenda prévia.

vinho da casa #24 – Magma Verdelho branco 2018