Baga Friends: Amigos da baga trazem boas novas
Reunir para agitar as águas, criar o movimento para reabilitar a Baga entre os viticultores e consumidores em Portugal e projectar a nossa casta autóctone lá fora é o objectivo dos Baga Friends, grupo de produtores que se uniram à volta desta variedade. A associação formou-se em 2012 e faz-se notar o renascimento contínuo da […]
Reunir para agitar as águas, criar o movimento para reabilitar a Baga entre os viticultores e consumidores em Portugal e projectar a nossa casta autóctone lá fora é o objectivo dos Baga Friends, grupo de produtores que se uniram à volta desta variedade. A associação formou-se em 2012 e faz-se notar o renascimento contínuo da Baga desde então.
“Quando comecei o projecto em 2001, não havia produtores novos a trabalhar com Baga. Merlot e a Cabernet Sauvignon tinham mais popularidade”, conta a produtora Filipa Pato. Os amigos da Baga são muito diferentes na sua visão. Trabalham cada um à sua maneira, mas todos adoram a Baga e a Bairrada. São um núcleo duro, e mesmo não fazendo muitos eventos, conseguiram fazer uma “pequena revolução” na região. “De norte (Fogueira) até ao sul (Souselas) voltou-se a aderir à Baga. Quem já a tinha retirado dos rótulos, voltou a colocá-la em letra grossa”, repara Mário Sérgio Nuno, da Quinta das Bágeiras, que, juntamente com Filipa Pato, foi impulsionador deste movimento.
Bairradino de gema
E quem são os Baga Friends? Desde logo, o bairradino de gema, Luís Pato, sempre foi o grande defensor e promotor da Baga, mesmo quando a maioria dos produtores dava preferências às castas estrangeiras. À Baga dedicou mais de 40 anos da sua carreira e o melhor argumento a favor da casta eram os seus vinhos que mostraram elegância e longevidade da casta, quando trabalhada com sabedoria. “Baga dura 25 anos certamente, 30 talvez, 40 – quem cá estiver que veja!” –, desafia o Senhor Baga. Mário Sérgio, um bairradino incontornável com ligação à viticultura de forma geracional, respira Baga desde 1989, quando começou o seu projecto familiar da Quinta das Bágeiras, produzindo vinhos de identidade inconfundível. Paulo Sousa, o engenheiro químico com 20 anos de experiência no departamento de qualidade de uma empresa produtora de vinhos na região, dedicou-se ao projecto familiar, iniciado pelo seu pai, Sidónio de Sousa, em 1990.
Uma história de pura paixão pela Baga e Bairrada começou quando o sommelier francês e proprietário de uma garrafeira em Paris, François Chasans, provou um vinho da Bairrada pela primeira vez. Instalou-se em terras bairradinas e na sua Quinta da Vacariça produz vinhos densos e longevos, cheios de carácter. Pratica uma viticultura biodinâmica, “não como argumento de marketing, mas para obter a precisão no resultado final”, diz. Filipa Pato é tão dedicada à Baga como o seu pai, Luís Pato, mas num projecto próprio juntamente com o seu marido, o conhecido sommelier belga William Wouters. Os seus Baga, puros e autênticos, nunca passam despercebidos e mostram o lado mais feminino e delicado da casta. O irreverente e carismático Dirk Niepoort, grande produtor de vinhos do Douro e do Porto, confessa que adora a Baga e a Bairrada. Seguindo esta paixão, há mais de uma década, adquiriu a Quinta de Baixo, com 25 ha de vinha, onde tem parcelas centenárias e de onde vem o Poeirinho, num estilo bem diferente do praticado antes – mais leve, com teor de álcool baixo e acidez vincada. Agora o seu filho Daniel continua a trabalhar com a mesma filosofia. O mais recente membro do grupo é o enólogo Luís Patrão, com o seu projecto Vadio, que teve o início em 2005 com 0,5 ha de vinha da família e cresceu até ao 10 ha actuais.
Os sete ilustres amigos da Baga juntaram-se para apresentar a segunda edição do vinho feito em conjunto
Tinto para já, espumante para mais tarde
No final de abril, em antecipação ao Dia Internacional da Baga, celebrado a 4 de maio (graças ao esforço dos Baga Friends, que abrem sempre as suas adegas ao público com festa rija e eventos especiais), os sete ilustres amigos da Baga juntaram-se para apresentar a segunda edição do vinho feito em conjunto – Baga Friends 2015, de que se encheram 1135 garrafas. É um blend comunitário, que expressa o carácter de cada produtor, de cada propriedade, através de um bouquet de filosofias distintas com o denominador comum – a Baga. O carácter e a voz de cada vinho são bem fortes e ainda se sentem. Talvez seja preciso mais algum tempo para estas vozes se tornarem um coro, e para os feitios de cada vinho atingirem a integridade plena. Este pormenor também traz uma complexidade adicional. No nariz dominam os Baga mais aromáticos, enquanto na boca fica bem presente a estrutura dos contributos mais tânicos e texturados. A primeira edição do vinho Baga Friends foi da colheita de 2011, já que não têm a intenção de o fazer todos os anos, só nos de excelência. E, já agora, fica o teaser: a próxima edição dos Baga Friends será um espumante de 2023, que já está em estágio e será lançado em 2029 para brindarmos à Baga e à Bairrada. Afinal, somos todos amigos da Baga no sentido mais lato.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2024)
Casa de Saima: Um clássico inovador
A Casa de Saima começou a produzir vinhos engarrafados há 41 anos. Primeiro apenas com o perfil clássico da Bairrada, que obriga os tintos a estágio prolongado antes de atingirem todo o potencial de proporcionar prazer a quem os bebe, sobretudo porque são feitos com base na casta rainha da região, a Baga. Com o […]
A Casa de Saima começou a produzir vinhos engarrafados há 41 anos. Primeiro apenas com o perfil clássico da Bairrada, que obriga os tintos a estágio prolongado antes de atingirem todo o potencial de proporcionar prazer a quem os bebe, sobretudo porque são feitos com base na casta rainha da região, a Baga. Com o tempo e a chegada ao mercado de vinhos de outras regiões, a concorrência e a evolução dos gostos dos consumidores levaram a casa a inovar e a criar uma gama de vinhos tintos do ano, mais frescos e apetecíveis a algumas faixas de consumidores. Agora, a equipa da casa procura novos caminhos para os seus espumantes, com estágios mais longos em garrafa e já estão também na calha dois novos espumantes de Pinot Noir e Chardonnay. Mas foi sobretudo a teimosia e o bom senso de manter o encepamento tradicional e a produção dos vinhos clássicos que celebrizaram a casa nos anos 90, com base nas castas tradicionais da Bairrada, que contribuiu para que a Casa de Saima mantivesse o rumo e o seu sucesso sustentado.
A casa foi fundada por Carlos Almeida e Silva e Graça Maria da Silva Miranda, a sua mulher na altura, a partir de um negócio herdado pelos pais do primeiro, de produção de vinhos para venda a granel. A mudança resultou do incentivo do enólogo bairradino Rui Moura Alves, quando este lhes demonstrou as vantagens da venda com marca própria em garrafa.
A iniciativa, de Paulo Nunes e Paulo Cêpa, o enólogo e o gestor operacional da Casa de Saima, de produzir vinhos menos graduados, leves e elegantes permitiu, à empresa, alcançar mercados que os preferem no Brasil e Estados Unidos.
Vinhas herdadas
Carlos Almeida e Silva já tinha, na altura, algumas vinhas herdadas da família, que ainda hoje integram a área produtiva da Casa de Saima. Mas o negócio foi sendo alargado, a partir da década de 90, com novas plantações e vinhas, que foram compradas nos melhores terroirs da Bairrada. Um dos objectivos era “agrupá-las para ter propriedades um pouco maiores, mais fáceis de gerir”, conta Paulo Cepa, 44 anos, gestor operacional da empresa. Exemplo disso é a Vinha da Corga, que começou por ter dois hectares e actualmente tem seis, de um total de 20 que constitui o património vitícola da empresa. Inclui, entre as castas tintas, a rainha da região, a Baga, as variedades nacionais Touriga Nacional e Castelão, e internacionais Merlot e Pinot Noir, este inicialmente plantado para dar origem à produção de espumantes. Mas apenas foi usado no blend de tinto e, mais recentemente, dá origem à produção de um monocasta do ano. Nas brancas predominam as variedades tradicionais da região, Maria Gomes, Bical e Cercial, mas também há Chardonnay, casta que também foi plantada para dar origem a espumantes.
Num processo que decorreu ao longo de vários anos, sempre com o objectivo de fazer bem e com qualidade, “foi dada prioridade às castas regionais e tradicionais portuguesas”, conta Paulo Cepa. As internacionais foram escolhidas porque os seus proprietários queriam alargar o potencial comercial da empresa. “Permitiram-nos fazer outros blends e introduzir inovações que enriqueceram o nosso portefólio”, explica.
Após a Casa de Saima ter começado a produzir vinhos engarrafados, “feitos com muita paixão e qualidade”, nos anos 90 do século passado, numa altura em que a região da Bairrada estava na berra, os seus vinhos começaram a surgir nos restaurantes de Lisboa e a ficar na moda. De tal forma que o actual presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, reconheceu os rótulos da marca, em visita à região num evento de vinhos recente. “Era uma época em que o Alentejo ainda não estava na moda e não tinham surgido os vinhos do Douro no mercado”, explica Paulo Cepa, defendendo que a marca ficou na memória dos portugueses, apesar de o início do segundo milénio ter corrido menos bem para o seu negócio, devido à separação do casal fundador.
Novos caminhos
A época que se seguiu, “foi uma altura em que se procurou encontrar caminhos”, explica Paulo Cepa, salientando que “o rumo acabou por surgir, como acontece com tudo o que se faz com empenho e paixão”.
Entretanto a responsabilidade pela enologia da casa transitou das mãos de Rui Moura Alves para as de Paulo Nunes, ou seja, “de uma filosofia mais tradicional para outra mais inovadora”, o que contribuiu para melhorar a visibilidade de uma empresa que passou a ter, para além da sua gama clássica, outros mais experimentais.
“Mesmo quando vivemos momentos menos bons, tal como aconteceu com o resto da Bairrada, nunca arrancámos a casta Baga, como o fizeram outros produtores da região e foi essa teimosia de manter tudo como está, mesmo com algum sacrifício, para produzir vinhos clássicos de qualidade, que levou o nosso barco a tomar de novo o rumo”, conta Paulo Cepa, salientando que a sua casa “é um pequeno produtor de vinhos de quinta, comercializados num número restrito de mercados”.
Para Paulo Nunes, o enólogo consultor da Casa de Saima, esse tem sido o seu principal desafio, de “uma jornada gratificante”, desde que começou a trabalhar nela em 2003, ou seja, há 20 anos: “manter o seu classicismo e ser mesmo o seu guardião e, ao mesmo tempo, criar um lado irreverente através da procura de novas abordagens e caminhos”. Para o enólogo, o percurso tem sido, ao mesmo tempo, de “uma aprendizagem fabulosa, porque não há duas vindimas iguais em lado nenhum, e muito menos na Bairrada, onde há uma condição edafoclimática e uma casta, a Baga, desafiantes”, o que tem contribuído para a empresa ser o que é hoje.
A marca é só uma, Casa de Saima, que inclui 13 referências. São quatro espumantes, um branco e um rosé, e um Chardonnay e um Pinot Noir monocastas que ainda estão em fase experimental, dentro do espírito de uma casa que vai procurando novos caminhos sem perder a sua identidade. Há, também, um branco Vinhas Velhas, o base de gama, e um Garrafeira, “com uma escolha mais apurada da matéria prima e fermentação em madeira avinhada”. O rosé, referência que existe na casa há muitos anos, é feito agora com uvas das castas Baga e Pinot Noir, “refresh dado porque este tipo de vinho está um pouco mais na moda”, o que se reflectiu também numa mudança do design do rótulo e da garrafa. Depois existem dois vinhos que surgiram de uma procura de colocar, no mercado, vinhos mais experimentais, inovadores, o Baga Tonel 10 e um Pinot Noir, ambos monocastas, ambos vinhos do ano, feitos com menos extracção e a gama mais clássica de tintos.
Lufada de ar fresco
A inovação, que já tem alguns anos, foi uma lufada de ar fresco na Casa de Saima, que lhe permitiu colocar vinhos da empresa em mercados que preferem aqueles que são menos graduados, leves e elegantes. “Começámos, primeiro com a venda do Pinot Noir e do Baga Tonel 10 para o Brasil, e depois para os Estados Unidos em 2018”, conta Paulo Cepa, realçando que este último foi destacado pelo crítico Eric Azimov, do New York Times”, aquele que é, afinal “um vinho despretensioso, um Baga do ano, em que muito gente não acreditou”, salienta o gestor.
A Casa de Saima exporta hoje cerca de 40% das suas vendas, principalmente para o Brasil, Estados Unidos e Canadá, e Macau mais recentemente. Na Europa está presente em Espanha, França, Suíça, Luxemburgo e Alemanha. Mas também no mercado da saudade, o dos portugueses que emigraram e estão um pouco por todo o mundo, através de vendas pontuais incentivadas sobretudo pela comunicação feita através da redes sociais. “Têm contribuído muito para isso, sobretudo pela proximidade e facilidade com que se pode comunicar através delas”, explica Paulo Cepa, acrescentando que, na maior parte das vezes, isso acontece “quando alguém vê um post numa plataforma como o Facebook ou Instagram, se interessa e contacta, perguntando como pode comprar os nossos vinhos, por vezes até para o resto da família e amigos”. E explica que foi este mercado que segurou as vendas da empresa quando o nacional estava parado devido à pandemia de Covid-19. Hoje, “ver os posts dos nossos consumidores lá fora, a fazerem coisas como churrascos na companhia do nosso Baga Tonel 10, dá-nos grande orgulho”, afirma o gestor.
A perseverança, desde os primeiros dias, na produção de vinhos clássicos da região da Bairrada, com base nas castas tradicionais e, um pouco mais tarde, a aposta em vinhos mais experimentais para alargar o mercado da empresa a outros consumidores, têm contribuído para diversificar mercados e sustentar melhor o negócio de uma casa que tem apostado sempre, e quase teimosamente, na manutenção da sua identidade. O mais fácil teria sido, há 15-20 anos, quando a Bairrada atravessou uma fase difícil e os seus produtores procuraram outros caminhos que não o da Baga, com a plantação de outras castas, a Casa de Saima ter optado por esse caminho. Mas felizmente manteve-se no certo, procurando, em simultâneo, espicaçar o mercado inovações como um Pinot Noir e um Baga do ano, no início da década passada, sem perder a matriz que identifica a casa. Segundo Paulo Nunes, “foram vinhos que nasceram de alguma inquietude e da necessidade de despertar a consciência do mercado para a nossa presença”. Mas, para Paulo Cepa, isto ainda não chega, porque é difícil, para um produtor como a Casa de Saima, ter um negócio estável e sustentado apenas com base na produção de 20 hectares de vinha, garantindo, em simultâneo, que os seus vinhos bairradinos mais clássicos só são colocados nos mercados após o período de estágio necessário, de cerca de oito anos. Nesta empresa é a venda de vinhos do ano, brancos e tintos, que gera a liquidez que garante o pagamento dos custos correntes e tem sustentado, até agora, o investimento em tempo a armazém para isso. Mas Paulo acredita que um pouco mais de área de vinha, até aos 25 hectares irá assegurar definitivamente uma gestão sem sobressaltos e a sustentabilidade definitiva do negócio da sua empresa. Para já estão 2,5 hectares em estudo, com plantação aprovada, onde irão ser plantadas castas tintas e brancas. “É uma parcela muito boa, onde já houve vinha”, diz ainda Paulo Cepa. Outras se seguirão.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2024)
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Casa de Saima Garrafeira
Tinto - 2015 -
Casa de Saima Grande Reserva
Tinto - 2016 -
Casa de Saima Vinhas Velhas
Tinto - 2018 -
Casa de Saima Tonel 10
Tinto - 2022 -
Casa de Saima
Tinto - 2022 -
Casa de Saima
Rosé - 2022 -
Casa de Saima Garrafeira
Branco - 2021 -
Casa de Saima Vinhas Velhas
Branco - 2022 -
Casa de Saima
Espumante - 2021
Baga Friends com programas especiais no Dia Internacional da Baga
No próximo dia 6 de Maio festeja-se, na Bairrada, o Dia Internacional da Baga, criado em 2022 quando do décimo aniversário dos Baga Friends, a associação de produtores da região fundada, em 2012, para promover a casta tinta mais emblemática da Bairrada. Com o lema “A Baga nas suas 7 quintas”, os sete produtores que […]
No próximo dia 6 de Maio festeja-se, na Bairrada, o Dia Internacional da Baga, criado em 2022 quando do décimo aniversário dos Baga Friends, a associação de produtores da região fundada, em 2012, para promover a casta tinta mais emblemática da Bairrada.
Com o lema “A Baga nas suas 7 quintas”, os sete produtores que actualmente integram os Baga Friends — Filipa Pato, Luís Pato, Quinta da Vacariça, Quinta das Bágeiras, Quinta de Baixo, Sidónio de Sousa e Vadio — terão, neste dia, programas especiais nas suas adegas, das 10h00 às 18h00, com provas de vinho, animação e pratos típicos.
Mário Sérgio Nuno, proprietário da Quinta das Bágeiras, comenta: “A Baga é uma casta muito versátil, que tanto produz vinhos espumantes, rosés e tintos jovens como tintos com grande capacidade de guarda. Num país como o nosso, em que a tradição é o lote de castas, a Baga, sozinha, tem a acidez, os taninos e a estrutura aromática para fazer grandes vinhos, sem precisar de outras castas. Por trabalharmos com a Baga há tantos anos, e lhe conhecermos as qualidades e as dificuldades, sabemos que é uma grande casta e que merece ser distinguida e reconhecida no mundo inteiro, e celebrada com um Dia Internacional dedicado”.
Para participar nas actividades dos Baga Friends, no Dia Internacional da Baga, é necessário adquirir um passe que dá acesso às sete adegas. Este tem duas modalidades: o passe “normal”, com um custo de €30; e o passe VIP, de €80, que inclui entrada no jantar final, que decorrerá no restaurante Rei dos Leitões, na Mealhada (limitado a 200 lugares).
Segundo dados da Comissão Vitivinícola da Bairrada, a Baga “representa 4% da área de vinha plantada em Portugal, sendo a sétima mais utilizada na produção de vinho. Dos mais de 8 mil hectares plantados em todo o país, na Bairrada tem o maior peso, na ordem dos 3500 hectares”.
Luís Pato e Mário Sérgio Nuno: Os amigos da Baga
Há 20 anos, a esmagadora maioria das empresas e produtores apontava a Baga como a razão principal da perda de mercado da Bairrada. Dezenas de variedades entraram então na denominação de origem e a Baga perdeu a posição dominante. Hoje, no entanto, ganhou estatuto de nobreza, é crescentemente utilizada nos vinhos mais cotados da Bairrada […]
Há 20 anos, a esmagadora maioria das empresas e produtores apontava a Baga como a razão principal da perda de mercado da Bairrada. Dezenas de variedades entraram então na denominação de origem e a Baga perdeu a posição dominante. Hoje, no entanto, ganhou estatuto de nobreza, é crescentemente utilizada nos vinhos mais cotados da Bairrada e experimentada fora da região. Globalmente, que motivos encontram para esta alteração na forma de encarar a Baga por parte de produtores e consumidores?
LP – Para responder a isso é preciso contextualizar o momento que se vivia há pouco mais de duas décadas. Logo após a sua demarcação, em 1979, a Bairrada passou a rivalizar com o Dão como as duas mais importantes regiões de vinhos. Uma marca como Frei João era encontrada em todo o lado. Mas o vinho de Baga era fornecido às empresas engarrafadoras pelas cooperativas, que pagavam em grau/quilo. E a cepa de Baga dá bastante uva, pelo que os produtores produziam o máximo possível. E depois, havia outra desvantagem: o vinho tinto era duro, ácido, era preciso esperar por ele, o tinto de Baga não se vendia jovem. O mercado passou a procurar menos Bairrada e as maiores empresas da região apostaram na introdução de castas estrangeiras como a “salvação” do negócio.
Pessoalmente, nunca me incomodei muito com isso. Sempre achei que, independentemente do que cada um plantasse, a economia, o mercado, se encarregaria de resolver o assunto e definir qual o melhor caminho. E a verdade é que resolveu. Hoje estamos a voltar à Baga, como casta diferenciadora e como casta que acrescenta valor. A razão para o retorno à Baga? Aí, sem puxar a brasa à minha sardinha, acredito que os Baga Friends foram os principais responsáveis, individualmente e enquanto organização. O outro impulso para a mudança de atitude em relação à Baga, foi quando se descobriu que a casta podia originar espumantes de grande qualidade.
MSN – Desde que me iniciei como produtor que assisto e participo em colóquios e debates sobre a região e é verdade que a Baga era apontada por muitas das maiores empresas e cooperativas como a desgraça da Bairrada. Algo que nunca entendi, embora reconheça que nós todos, enquanto produtores, tivemos uma quota de responsabilidade na quebra de confiança da região relativamente à Baga. Primeiro, num determinado período, houve uma reestruturação vitícola que se apoiou em enxertos pouco adequados à casta, demasiado produtivos. Por outro lado, a instalação da Sogrape na região, no final dos anos 70, com adega vinificação para rosé (sobretudo), e a pagar bem as uvas, levou os pequenos produtores a entregar a colheita, deixando de vinificar para vender a granel às caves. Muita da melhor Baga desapareceu aí.
LP – Lembro-me que, para esses debates, a Comissão Vitivinícola trouxe grandes nomes da viticultura e enologia francesa, que depois de estudarem as vinhas e os vinhos concluíam, invariavelmente, que a Baga era o caminho. Mas os locais achavam que não, diziam que os franceses não queriam que plantássemos Cabernet e Merlot para evitar a concorrência que lhe iríamos fazer! (risos)
MSN – No entanto, já desde os anos 80 e 90 havia produtores a fazer vinhos de Baga de excelente qualidade. Deixando de lado o caso do Luís e o meu, refiro, entre outros, Casa de Saima, Sidónio de Sousa, Gonçalves Faria, Quinta da Dôna. Isso deveria ser indicador mais do que suficiente de que afinal era possível fazer coisas muito boas com Baga, bastava trabalhá-la na vinha para produzir qualidade e não quantidade. É claro que era muito mais fácil colocar uma vinha a produzir Merlot em quantidade e de forma consistente. Mas isso não nos traria valorização nem futuro. No fundo, sempre faltou uma visão estratégica para a região.
O que mudou? Estou de acordo com o Luís, os Baga Friends foram determinantes na viragem, não porque tenham feito realizações ou eventos especialmente importantes, mas porque deram um sinal de confiança para quem cá estava. E foram (e são) individualmente, exemplos de sucesso com Baga, mostrando que é com esta casta que podemos valorizar economicamente a região.
Como se comporta a Baga na vinha, quais os seus principais defeitos e virtudes?
LP – O principal problema da Baga é o excesso de produção, sobretudo quando enxertada em bacelos vigorosos ou plantada em locais menos adequados. Mas uma coisa é a produção da Baga para tinto, outra é para espumante. Quando utilizada para espumante, a produção “ideal” é completamente diferente. Dez toneladas/hectare, para espumante, não é nada de mais, antes pelo contrário. Mas para fazer um Baga de superior qualidade já não serve.
Para os detractores da Baga, a pior característica da uva é o facto de ter a película fina e apodrecer facilmente com a chuva na altura da vindima, a partir da segunda quinzena de setembro, que é quando está madura. E tudo piora se estiver plantada em terrenos de areia, onde as videiras, carentes, se “embebedam de água”, absorvendo de imediato as primeiras chuvas. Já na argila e calcário, as raízes levam vários dias até receberem a água. Por acaso, neste aspecto, o aquecimento global, até tem ajudado, hoje a chuva no equinócio é mais rara. Mas, mais uma vez, quando se pensa em Baga para fazer espumante, esse problema nem existe, pois as uvas são colhidas muito mais cedo. A maior virtude vitícola da Baga é ser muito resistente ao oídio e ao míldio. É uma casta muito bem adaptada a esta região, foi formatada pela natureza, está aqui há séculos…
MSN – Para mim é inquestionável que a Baga tem um comportamento completamente diferente no argilo-calcário e na areia. A Baga é uma casta de argilo-calcário, de preferência de encosta ou meia-encosta, para não ter problemas de excesso de humidade. Mas muitos desses terrenos foram abandonados por serem difíceis de mecanizar. No início da década de 90, quando veio dinheiro para a vinha, muita gente abandonou a Baga dos terrenos mais complicados de trabalhar e plantou-a nas zonas baixas de areia. Um erro tremendo. Mas isso também se explica pela pequena propriedade, dispersa por muitas parcelas. As pessoas não faziam só vinha, tinham batata, milho. Possuiam um único tractor que servia para tudo, mas não conseguia entrar nas encostas de barro…
Para além da resistência às doenças, uma grande vantagem da Baga, quando plantada nos solos certos, de argila e calcário, é que dificilmente tem problemas de stress hídrico, mesmo nos anos mais secos e quentes. E a Baga resiste muito bem ao escaldão.
O trabalho efectuado ao nível do apuramento dos clones de Baga foi importante para vocês ou, quando plantam uma nova vinha de Baga, preferem confiar na reprodução das melhores cepas das vinhas antigas?
MSN – As duas situações são importantes. Ao longo dos últimos anos, nas vinhas que originam os meus melhores vinhos, tenho feito uma seleção das melhores videiras, para tirar varas e enxertar nas vinhas novas. São cepas que conheço, sei o que dali vai sair. Mas a Estação Vitivinícola da Bairrada tem feito um óptimo trabalho de selecção clonal que eu tenho usado também em algumas plantações. Eu trabalho com algum empirismo, a experiência é importante para mim, mas respeito muito a ciência, não há evolução sem ciência.
LP – A selecção clonal é fundamental para a Baga. E dou um exemplo. Em 1990 plantei a vinha da Quinta do Moinho. E verifiquei que as uvas eram muito mais regulares em termos de maturação, muito mais homogéneas no cacho, do que antes. A história de que a Baga amadurecia mal era também devida a não se ter feito um trabalho de selecção clonal. Infelizmente, nessa época, a Estação Vitivinícola, em vez de trabalhar para melhorar a Baga, seleccionando os melhores clones, por imposição dos agentes económicos entreteve-se a estudar e plantar Cabernet Sauvignon… Quando resolveu apostar na Baga o resultado foi imediato. Sou fiel adepto da selecção clonal, mas não devemos ter só um clone à disposição, devemos poder escolher entre clones mais ou menos produtivos, com bago mais pequeno ou cacho menos fechado, etc.
MSN – Para a região evoluir, é crucial haver um estudo rigoroso sobre a Baga e, nomeadamente, sobre a maturação. Porque o resto, ela tem tudo: cor, corpo, tanino, acidez. Se for feita uma selecção no sentido de obter clones com maturação um pouco mais precoce, para fugir às chuvas, será o ideal. É que ainda há muita vinha de má qualidade na Bairrada. E as pessoas que tem vinhas más de Baga, acham que o problema é da casta, não acreditam que ela pode ser excelente com os clones certos nos locais certos.
Esse é um trabalho que a Estação Vitivinícola deveria desenvolver, orientando os viticultores para clones adequados ao seu modelo de negócio, clones adequados a vinhos tintos e clones adequados a espumantes, estes necessariamente mais produtivos.
O Luis foi o primeiro produtor em Portugal a mencionar as vinhas velhas na rotulagem como elemento diferenciador. Também o Mário Sérgio, desde há muito, comunica as vinhas velhas como mais valia qualitativa em alguns dos seus vinhos. As vinhas velhas da Bairrada, onde a Baga se destaca, fazem realmente a diferença? E porquê?
LP – As vinhas velhas fazem diferença. Primeiro, produzem menos. Depois, são conduzidas num sistema típico da Bairrada, amparadas numa estaca, em que ficam em três dimensões com os cachos dispersos e arejados. Agora, com a mecanização, já ficam em duas dimensões, mais apertadas e por vezes com os cachos sobrepostos. E finalmente, as raízes são mais profundas o que lhes proporciona um superior nível de resiliência. Por exemplo, na Vinha Barrosa as cepas são muito velhas e nos anos de calor extremo ela quase não sente nada…
MSN – Eu acredito que, na vinha velha, o enraizamento profundo é mesmo o factor qualitativo mais importante. É que nem sempre a vinha velha produz pouco… Como o Luís já referiu, há muitos exemplos de vinhas velhas plantadas com porta enxertos que fomentam o vigor e a produção, e que originam fruta de baixa qualidade. Por isso, eu prefiro, de longe, uma vinha nova (15, 20 anos) plantada num local de excelência do que uma vinha velha mal concebida e no local errado. O local, o terroir, é o fundamental.
Como caracterizam, então, o terroir ideal para a Baga?
LP – Em poucas palavras, meia-encosta, solo argilo-calcário e exposição este-sul-poente. A exposição norte é para vinhos brancos.
MSN – Eu também procuro sempre a exposição sul-poente. Da experiência que eu tenho, a Baga de argilo-calcário sofre pouco com o calor, não tem problema em estar virada para o sol. Por vezes, mesmo nas épocas mais secas, basta levantarmos umas pedras na vinha e encontramos humidade…
E, na Bairrada, onde estão, em vosso entender, esses locais de excelência?
LP – Para mim, as melhores zonas da Bairrada para fazer grandes tintos de Baga são Silvã, Enxofães, Murtede, Ventosa, Óis, Ancas e também, a zona já a caminho do Luso, Vacariça.
MSN – Os meus locais preferidos são muito coincidentes com os do Luís, acrescentando aí Barcouço, Pisão, e, mais a sul, Ourentã, Cordinhã e Souselas, que originam um estilo de Baga diferente daquele que nós produzimos aqui. Mas dentro destas zonas, há de tudo. Em Ancas, por exemplo, de um lado da estrada temos areia, do outro existe barro. No Pisão, temos aquelas encostas cheias de argilo-calcário, mas também zonas cobertas de areia de pinhal. A heterogeneidade de solos é enorme.
Falemos de adega e de vinho. Aos 72 anos de idade, Luis é desde há décadas apontado como revolucionário. E Mário Sérgio, ainda que mais jovem (54), ganhou notoriedade como conservador/clássico. Apesar dos vossos conceitos e vinhos serem bem distintos chegam aos mesmos consumidores e são valorizados no mercado por essa assinatura de identidade. Em termos de Baga e Bairrada, o que é ser revolucionário ou rebelde, o que é ser clássico ou conservador? Ou colocando as coisas de forma mais simples, como gostam de trabalhar a Baga na adega?
LP – Logo que comecei a trabalhar em vinhos procurei levá-los para fora da região e do país. E percebi que muitos consumidores, gostando dos vinhos, os achavam algo adstringentes e difíceis, só amaciando com a idade. Aí, a minha “rebeldia” foi procurar perceber como tornar a Baga mais redonda e apreciada desde cedo. Eu fazia uma quantidade grande de vinho tinto e não podia esperar dez anos para o vender. Fazendo a monda de cachos para antecipar a maturação fenólica, utilizando o desengace (tirar o lenho do cacho antes da fermentação), com controlo de temperatura, a minha preocupação foi sempre fazer os vinhos mais elegantes. Mas sempre com Baga, não com Merlot! Aí sou um tradicionalista como o Mário! Há dois anos um crítico internacional disse-me que os vinhos que agora faço são tão redondos e elegantes que já não vão durar o mesmo que antes. E eu respondi-lhe que sim, tem razão, agora só vão durar 30 anos e não 40. Mas para mim chega, já cá não estarei! (risos)
MSN – Eu tenho uma dimensão muito menor do que o Luís [28 para 55 hectares de vinha] e trabalho também por isso de maneira diferente. Basicamente, quando comecei a engarrafar, na colheita de 1987, prossegui o trabalho dos meus avós na adega que eles mesmo fizeram. A dimensão é muito importante aqui, determina tudo. E apesar de os meus vinhos serem mais difíceis para os consumidores que os provam pela primeira vez, a minha dimensão permite-me ir ao encontro dos apreciadores que os valorizam precisamente por isso. Acredito que há mercado para todos os estilos, desde que o vinho seja de qualidade. O meu classicismo vem assim de aproveitar o que já havia: manter os lagares, manter o engaço, utilizar para estágio os grandes e velhos tonéis de madeira. Madeira nova, ali não entra! (risos)
Fazem vinhos de Baga há muitos anos e, naturalmente, a experiência e as exigências de qualidade, levam à evolução. Quais foram as principais mudanças que fizeram na vossa forma de trabalhar a Baga?
MSN – No meu caso, claramente, a grande mudança foi feita na viticultura, sobretudo com a monda de cachos. Ainda tive a sorte de trabalhar dez anos com o meu avô, que me ensinou muito, mas quando comecei a deitar cachos para o chão fui quase excomungado. A monda permitiu uma maturação muito mais regular e acabou com aquela história de “em cada década há dois bons anos de Baga”. Os cuidados na vinha fizeram, na Quinta das Bágeiras, a grande diferença. Depois, o facto de termos um alambique para fazer aguardente e, a partir de determinada altura, termos começado a produzir espumante rosé, permitiram fazer duas ou três passagens na vinha em cada vindima, deixando apenas a melhor Baga para os tintos. De resto, em termos de vinificação, houve muito poucas alterações no processo de vinificação desde 1987. Talvez, a utilização de barricas velhas borgonhesas para o estágio do Pai Abel tinto seja a mais relevante. Claro, fomos aprimorando um ou outro detalhe, mas nada de mais.
LP – Quando comei a fazer o vinho em casa da minha sogra, era em lagares. Em 1980 fui a Bordéus e fiquei fascinado com a remontagem mecânica. O pessoal que trabalhava na adega era mais velho do que eu sou hoje e era complicado e até perigoso andarem em cima do lagar. Fiz então os primeiros vinhos em cuba, ainda com engaço. Na vindima de 1985 comecei a desengaçar. Depois, em 1988 iniciei as fermentações com controlo de temperatura. Em 1989, começaram as experiências de monda (apesar dos professores de viticultura serem, na época, contra a monda…) que só ficaram afinadas em 1995. A partir de 2001, comecei utilizar os cachos da monda para fazer espumante branco de uvas tintas. Hoje, os meus tintos são feitos com cepas que tiveram 50 a 70% de monda.
MSN – Para fazer um tinto a sério, a Baga tem de produzir pouco. Por isso, os Bairrada de Baga só podem ser caros…
Mas a Baga não serve só para tintos. Como avaliam o desempenho da casta no espumante e nos rosés?
LP – Na Bairrada podemos produzir uvas de Baga para espumante muito mais baratas do que para um tinto. Assim, em minha opinião, o espumante de Baga pode alavancar o negócio de vinho da Bairrada em todo o mundo. Desde que os agentes económicos não pensem que vender espumante é vender aos preços miseráveis que encontramos no nosso mercado…
O Baga em espumante é uma categoria fantástica para colocar, sobretudo, no mercado externo. Porque lá fora pagam melhor do que cá aquele nível de qualidade. De qualquer forma, mesmo por cá, o espumante Baga já tem um preço médio acima do espumante Bairrada feito de uvas brancas. E tem mais carácter. Assim, eu vejo o espumante Baga como o produto que vai espalhar o nome da casta e a sua origem. É no espumante Baga que vamos conseguir fazer volume, criar massa crítica. Depois, os grandes tintos serão a cereja no topo do bolo.
MSN – Eu utilizo apenas 5 ou 10% de Baga no meu espumante branco de entrada de gama. Todos os outros espumantes brancos Bágeiras são “blanc de blancs”, só uva branca, porque acredito que a Bairrada tem condições extraordinárias para fazer vinhos brancos e bases para espumantes brancos. Por isso, quando penso na Baga em espumante, penso em rosé. Acho que é aí que ela pode expressar melhor as suas qualidades, em termos de fruta e complexidade. Mas ressalvo que, na Quinta das Bágeiras, não temos ainda um histórico que me permita ser definitivo sobre isto. Vamos continuar a experimentar, claro, mas a minha grande aposta com a Baga é o vinho tinto, primeiro, e o espumante rosé, depois.
O grupo Baga Friends foi criado em 2008 com o objectivo de criar um núcleo duro que ajudasse a promover a região e a casta. Como avaliam os resultados obtidos?
LP – Os resultados são visíveis. Acho que os Baga Friends conseguiram inverter a imagem da Baga na região, levámos os outros produtores a reconhecer que afinal a Baga identificava a Bairrada. Hoje, todos querem ter um vinho de Baga.
MSN – Os Baga Friends são, acima de tudo, um exemplo. Assim como eu vi o Luís Pato a fazer monda e resolvi experimentar e avaliar os resultados, também os produtores da região viram este grupo de produtores, com preços médios bem acima dos seus, conquistar notoriedade no mercado nacional e internacional com vinhos de Baga. E acho que mesmo sem fazer muita coisa, porque nós não fizemos muitos eventos ou acções de comunicação, os Baga Friends acabaram por mudar o modo da Bairrada encarar a Baga. E a mudança veio através do seu exemplo individual e colectivo, isso é incontornável.
LP – Até o sucesso do espumante Baga-Bairrada junto dos agentes económicos e consumidores beneficiou da notoriedade que os Baga Friends trouxeram à casta…
Como sabem, desde 2002, numa garrafa que ostenta a denominação de origem Bairrada pode estar um vinho de uma enorme variedade de castas nacionais e internacionais. Nestas condições, qual a melhor forma de destacar e comunicar a identidade da Baga e da região?
LP – Com tanta casta, eu nem sei como uma câmara de provadores regional consegue detectar se é Bairrada ou não… O Bairrada é Merlot, Syrah, Petit Verdot, Baga, Cabernet? Se juntarmos a isto o facto de a Baga, hoje, significar talvez menos na vinha da Bairrada do que as outras castas tintas juntas, pode estar aí a explicação para o meu vinho mais puro de Baga, o Pé Franco plantado em solos de argila e calcário, ter reprovado na câmara de provadores. E não por questões analíticas, por não cheirar a Baga! A enormidade de castas que foi admitida para DOC teve como consequência que um vinho de Baga hoje não é reconhecido pelos provadores regionais.
Quer isso dizer que, por um lado, temos uma maior notoriedade da casta Baga, mas por outro, uma perda de identidade regional devido às muitas castas exógenas admitidas?
LP – Exactamente, sem dúvida alguma.
MSN – Não devia ter acontecido. Até porque a Bairrada tem o que muito poucas regiões têm: a possibilidade de produzir, comunicar e vender várias categorias de produto: espumante, branco, tinto… Não consigo entender porque é que um produtor da Bairrada, sobretudo se for de pequena dimensão, aposta em vinhos elementares de Cabernet, Syrah ou Merlot. Onde vai fazer a diferença? Ainda se for misturado com Baga… Não sou fundamentalista quanto aos varietais de Baga, até porque sabemos que a Bairrada, tradicionalmente, tem outras castas misturadas na vinha, Jaen, Tinta Pinheira, Castelão, Bastardo, etc. Mas comunicar a sua identidade, nesta região, através de uma casta estrangeira? Não percebo.
É possível fazer marcas de volume, na Bairrada, em torno da Baga, ou as características da casta e da região, nomeadamente o minifúndio, tornam isso muito difícil?
LP – É difícil fazer tintos de grande volume na região. A Bairrada vitícola é pequena (bem menor do que era há 15 anos) e os custos de produção da Baga são elevados.
MSN – Na década de 80, as Caves de São João vendiam 600 mil garrafas de Frei João de muito bom nível. O Frei João era uma grande marca associada a uma grande consistência de qualidade. Só que, entretanto, boa parte das vinhas que o sustentavam desapareceram ou foram plantadas outras castas. Hoje, seria impossível fazer Baga de qualidade naquela quantidade. Também por isso, acredito que os tintos de Baga na Bairrada devem ser vinhos especiais, vinhos cuidados e valorizados pela qualidade, carácter e identidade regional.
Há quem diga que, internacionalmente, Baga é mais conhecida que Bairrada, e o Luís Pato até tem alguma “culpa” no assunto. Isso é bom ou mau?
LP – Eu acho que é bom. É que, apesar de poder existir noutras regiões, a Baga é praticamente indissociável de Bairrada. Portanto, quando se fala de Baga, fala-se quase sempre de Bairrada. E a casta tem uma enorme vantagem internacional: é mais fácil de identificar do que a região e é muito simples de pronunciar em qualquer língua. É uma boa marca.
MSN – Nós não temos só Baga na região. Temos outras castas tintas e temos, acima de tudo, vinhos brancos de nível mundial. Mas a Baga é a nossa casta identitária e devemos associar sempre a casta à região. É o mesmo que o Alvarinho. Hoje planta-se Alvarinho em todo o país, mas para o consumidor português, Alvarinho é Monção e Melgaço. E a Bairrada ainda tem a sorte de a Baga ser menos adaptável do que o Alvarinho, viaja pior para outras regiões. Também há Pinot em muito sítio, mas Pinot a sério é Borgonha. Por isso, bem trabalhada, a Baga pode abrir caminho para comunicar a Bairrada e os outros grandes vinhos que aqui fazemos.
Por último, exceptuando os vinhos de ambos, que tintos de Baga escolhem para a vossa mesa?
LP – Os outros vinhos dos Baga Friends (Sidónio de Sousa, Quinta de Baixo, Filipa Pato e Quinta da Vacariça), e também Outrora, Vadio, Kompassus…
MSN – Acho que estamos sintonizados nas escolhas (risos). Mas dentro do estilo que eu mais gosto, acho que se destacam Sidónio de Sousa, Kompassus, Filipa Pato e Outrora.
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2021)
Casa de Saima em destaque no The New York Times
O produtor da Bairrada Casa de Saima — situado em Sangalhos, Anadia — foi destacado recentemente no The New York Times, por Eric Asimov. Depois de procurar e comprar online vinhos que o fizessem “viajar pelo Mundo, sem sair de casa”, o crítico de vinhos elegeu 20 vinhos com base em alguns critérios: preço inferior […]
O produtor da Bairrada Casa de Saima — situado em Sangalhos, Anadia — foi destacado recentemente no The New York Times, por Eric Asimov.
Depois de procurar e comprar online vinhos que o fizessem “viajar pelo Mundo, sem sair de casa”, o crítico de vinhos elegeu 20 vinhos com base em alguns critérios: preço inferior a 20 dólares, expressão plena do terroir de origem, e excelente relação qualidade/preço. Um deles, e único português, foi o Casa de Saima Tonel 10 Baga tinto 2018.
O artigo de Eric Asimov intitula-se “20 vinhos por menos de 20 dólares: postais do Mundo” e pode ser lido online. Asimov considera que o vinho tem o poder de nos transportar, um elemento essencial para nos acompanhar nos próximos tempos, sendo que, num “quadro de congelamento pandémico, com muitas pessoas confinadas nas suas fronteiras nacionais, o vinho ainda oferece uma oportunidade de provar o Mundo”.
Neste artigo, o crítico destaca a Bairrada como uma região com uma identidade muito vincada – que se reflecte nos vinhos – devido à influência marítima do Atlântico e solos calcários. Este Baga, com enologia de Paulo Nunes, fermenta em lagar de cimento e estagia em tonel de madeira (especificamente um com o número 10, que dá o nome ao vinho).
Quinta dos Abibes lança espumante Arinto & Baga Extra Bruto Reserva 2016
O produtor da Bairrada Quinta dos Abibes lançou recentemente um novo espumante, o Quinta dos Abibes Arinto & Baga Reserva branco, um Extra Bruto (teor de açúcar inferior a 6 g/l) da colheita de 2016. Este espumante — feito pelo método clássico — deu origem a 12400 garrafas. Esteve 36 meses a estagiar em cave […]
O produtor da Bairrada Quinta dos Abibes lançou recentemente um novo espumante, o Quinta dos Abibes Arinto & Baga Reserva branco, um Extra Bruto (teor de açúcar inferior a 6 g/l) da colheita de 2016. Este espumante — feito pelo método clássico — deu origem a 12400 garrafas. Esteve 36 meses a estagiar em cave e três meses em garrafa, após o mais recente dégorgement.
Com um p.v.p. recomendado de 14 euros, está disponível para compra nas Lojas Rota da Bairrada, Loja de Vinho (na Madeira) e através dos distribuidores Wine Teller, Wine Man e Sovipral.
Rotary Club Curia Bairrada lança vinho Baga solidário
A Câmara Municipal de Anadia avançou com um programa de apoio às famílias necessitadas, em que pretende criar uma rede com diversas instituições solidárias, sendo o Rotary Club Curia Bairrada uma delas. Nascido numa região vinícola e com diversos membros eles próprios viticultores ou produtores, nada melhor do que um vinho de qualidade para ajudar […]
A Câmara Municipal de Anadia avançou com um programa de apoio às famílias necessitadas, em que pretende criar uma rede com diversas instituições solidárias, sendo o Rotary Club Curia Bairrada uma delas. Nascido numa região vinícola e com diversos membros eles próprios viticultores ou produtores, nada melhor do que um vinho de qualidade para ajudar a financiar projectos que auxiliam as muitas pessoas e famílias que na zona, e sobretudo após a crise económica provocada pelo covid-19, passam por muitas dificuldades.
Já em tempos o Rotary Club Curia Bairrada tinha engarrafado e comercializado um vinho com este propósito e o sucesso dessa iniciativa levou à sua retoma, agora mais necessária do que nunca. O vinho já aí está, chama-se Companheiros e é um Bairrada Grande Reserva tinto de 2015. Foi elaborado pelo enólogo Osvaldo Amado e para a conclusão deste objectivo colaboraram ainda várias pessoas e empresas: o designer Nuno Teixeira e a pintora Dina Lopes criaram a imagem do rótulo, e garrafas, rolhas, caixas, rótulos e cápsulas foram oferecidos pelas empresas Vidrala, Amorim, Olegário Fernandes, Alves e Alves e Portucap.
O vinho em si é um 100% Baga de superior qualidade, com todo o carácter da casta e da região e que usufruiu do estágio prolongado em barrica e garrafa. Vigoroso mas elegante, complexo e distinto, pode ser adquirido, ao preço de €50 (caixa com 2 garrafas) através do Rotary Club Curia Bairrada (rotarycuriabairrada@gmail.com) ou directamente nas Lojas da Rota da Bairrada. Ao comprá-lo, não apenas vai apreciar um belo Bairrada, como auxiliar uma causa meritória.
Costa Boal lança primeiro Baga de Trás-os-Montes
TEXTO Mariana Lopes “Trabalhar em Trás-os-Montes é como ser uma criança que chega à Toys’r’Us, porque é das regiões com mais diversidade, e mais para explorar, no nosso país”. Desta forma sucinta, Paulo Nunes, enólogo consultor da Costa Boal Family Estates – produtora dos vinhos Palácio dos Távoras – contou como tem sido a sua […]
TEXTO Mariana Lopes
“Trabalhar em Trás-os-Montes é como ser uma criança que chega à Toys’r’Us, porque é das regiões com mais diversidade, e mais para explorar, no nosso país”. Desta forma sucinta, Paulo Nunes, enólogo consultor da Costa Boal Family Estates – produtora dos vinhos Palácio dos Távoras – contou como tem sido a sua experiência na região onde esta empresa labora. A apresentação de quatro vinhos novos, que se deu por videochamada, aconteceu sob o pretexto de lançar uma nova estrela de Trás-os-Montes: o primeiro monocasta Baga desta região.
António Costa Boal, proprietário, explicou o porquê da decisão de criar um vinho destes: “Em 2010, percebi que precisava de mais vinha de Touriga Nacional e o meu viveirista disse-me que já não tinha, mas que tinha bastante Baga. Perguntou-me como eram os meus solos e eu respondi que tinham bastante argila, e aí ele aconselhou-me a plantar esta casta. Perante o dilema de esperar um ano pela Touriga Nacional ou plantar Baga imediatamente, escolhi a segunda opção. Foi um acidente feliz que nos levou a este vinho”. O produtor esclareceu, ainda, que o nome “Parcela CB”, constante no rótulo do Baga, se deve à sua filha Carolina Boal que tinha apenas cinco anos quando da plantação desta vinha e nela queria passar o seu tempo. Agora, com quatorze, reforça que “quer ser produtora de vinho e diz isso desde pequena”, referiu António Boal.
Paulo Nunes falou sobre esta experiência com a uva original do Dão, mas típica da Bairrada, agora com um pequeno carimbo transmontano no seu passaporte: “Fui muito surpreendido pelo comportamento da casta em Trás-os-Montes, onde tem um perfil um pouco mais quente, mas mantendo a frescura típica da Baga. Tudo isto das castas é muito novo ainda em Portugal, e falta-nos muito tempo para percebermos com certeza que região é que as castas se portam melhor. Desta Baga estava à espera de um desequilíbrio que não existiu, muito pelo contrário. Acho que esta uva que pode ser uma ferramenta bastante interessante para a região”. O que é certo é que a nós também nos surpreendeu, revelando-se um vinho ainda bem jovem mas a dar cartas no perfil fortemente vegetal, com fruto vermelho mas também citrinos verdes como lima e toranja. É elegante e tem franca pureza, com taninos secos e a acabar com leve amargo vegetal, a mostrar a longevidade da casta.
As novidades Palácio dos Távoras Vinhas Velhas branco 2018 (1500 garrafas,€18), Palácio dos Távoras Vinhas Velhas tinto 2016 (3000 garrafas, €18), Palácio dos Távoras Vinhas Velhas Alicante Bouschet tinto 2017 (1200 garrafas, €30) e Palácio dos Távoras Parcela CB Baga tinto 2016 (1200 garrafas, €20), terão nota de prova na edição de Junho da revista Grandes Escolhas.