Bairrada: Uma região de “clássicos”

Bairrada

Criada apenas em 1979, após vários anos de hesitações entre o poder político e os interesses dos agentes económicos, a Região Demarcada da Bairrada, antes de acolher regulamentação legal, já se afirmava há mais de dois mil anos nas práticas vitivinícolas, crendo-se, pelo menos, desde a romanização do território. Muitos são os testemunhos, enraizados nos […]

Criada apenas em 1979, após vários anos de hesitações entre o poder político e os interesses dos agentes económicos, a Região Demarcada da Bairrada, antes de acolher regulamentação legal, já se afirmava há mais de dois mil anos nas práticas vitivinícolas, crendo-se, pelo menos, desde a romanização do território. Muitos são os testemunhos, enraizados nos vestígios arqueológicos, que nos reafirmam a vitivinicultura como uma das principais atividades agrícolas que se estenderam desde a ocupação romana e perduram até à atualidade.

Se porventura nos quisermos apoiar no rigor do suporte documental, pode atestar-se que, já no ano 950, o seu território era conhecido como região vinhateira, conforme nos revela um documento existente na Torre do Tombo referente a uma doação ao Mosteiro do Lorvão de terras e vinhas na Silvã (Mealhada). Um outro documento refere uma “vinha em Rippela sob o monte Buzacco”, em 1086. Ou uma outra doação àquele Mosteiro, de “uma casa em São João e vinha na Pocariça” (Cantanhede), em 1176.

Contudo, o documento mais curioso é datado de 1137, e encontra-se igualmente na Torre do Tombo, no qual “D. Afonso Henriques autoriza a plantação de vinha na herdade de Eiras, sob o caminho público de Vilarinum (Vilarinho do Bairro, Mealhada) ao monte Buzacco (Bussaco), com a condição de lhe darem 1/4 do vinho, sem mais encargos e eles fiquem com as primícias e décimas do vinho…”. Um testemunho de inigualável valor que atesta a qualidade do vinho ali produzido, o qual servia de meio de pagamento dos impostos ao Rei.

OS PRIMÓRDIOS DA BAIRRADA

Não se pense que a criação da Região Demarcada do Douro, peticionada por 14 dos “principais lavradores de Cima do Douro e Homens Bons da cidade do Porto”, estribados pela visão de Sebastião José de Carvalho, não terá tido influência em diversas outras regiões do país onde se cultivava vinha e produzia vinho. A representação dirigida ao rei D. José I, em 31 de Agosto de 1756, foi estabelecida por Alvará, confirmado a 10 de Setembro desse mesmo ano, demarcando e, diz-se, protegendo a região duriense dos demais territórios produtores.

Se é certo que a instituição da Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro somente aos vinhedos daquela região dizia respeito, a realidade mostrou-nos que, nos anos seguintes, houve extensas demandas legislativas que intervieram noutras zonas vinhateiras, determinando o arranque de diversas vinhas em “terrenos das vargens, lezírias e campinas” que fossem mais próprias, pela sua natureza, para nelas se promover a cultura cerealífera, tão necessária para a alimentação básica dos portugueses. Medidas drásticas que alteraram a paisagem vitivinícola portuguesa, dizimando a produção de vinha em larga escala. À data, tais medidas eram justificadas pela carência de cereais e falta de pão para o consumo das gentes. Por outro lado, visava-se diminuir a produção excessiva de vinho de qualidade inferior que, em concorrência desleal, acarretava elevados prejuízos para os de qualidade superior.

A região da Bairrada não terá ficado imune a estas medidas, por força dos alvarás que aplicaram a mesma lei às margens e campinas dos rios Mondego e Vouga e a mais terras que fossem de paul e lezírias. E, apesar de nesses alvarás se fazerem referências elogiosas aos vinhos produzidos “nos terrenos de Anadia, Mogofores e outros das mesma qualidade”, igualando estes vinhos aos criados nos “termos de Lisboa, de Oeyras, de Carcavelos, do Lavradio, de Torres Vedras, Alenquer…”, nesses tempos com notoriedade semelhante aos vinhos durienses, certo foi que, outro Alvará, agora de 18 de Fevereiro de 1766, já impunha como sujeição imediata o arranque de vinhas existentes em Anadia, Mogofores, Arcos, Avelãs de Caminho e Fermentelos”, terras bairradinas por excelência, duas delas citadas com louvor cinco meses antes.

Numa visão otimista, podemos considerar que o génio ímpar de Pombal, além de ter criado a primeira Região Demarcada do mundo, terá ensaiado outras demarcações, embora sem lhes ter dado o tratamento legislativo adequado. A da Bairrada terá tido atenção do seu pensamento, pois, pelo menos por duas vezes, referenciou os terrenos Anadia e Mogofores como sendo de óbvia qualidade para a produção de vinho.

 

“A Região Demarcada da Bairrada (…) já se afirmava há mais de dois mil anos nas práticas vitivinícolas, crendo-se, pelo menos, desde a romanização do território”

 

O PAIZ VINHATEIRO

Em 1866, por Portaria de 10 de Agosto, foi nomeada pelo Ministro do Reino, Andrade Corvo, uma comissão encarregada de estudar as diversas regiões do país “durante a vindima e da feitura do vinho nos principais districtos vinhateiros do reino”. Desta comissão faziam parte três membros e a cada um dos quais foi delimitada a respetiva área de estudo.

O Visconde de Villa Maior ficou com a área a norte do Rio Douro, António Augusto de Aguiar ficou responsável pela área de território entre os rios Douro e Tejo, excluindo o distrito de Lisboa, cabendo, por fim, a Joaquim Inácio Ferreira Lapa o distrito de Lisboa e todos os territórios a Sul do Tejo.

Publicado em 1867, nesse trabalho conjunto, mas com as respetivas indicações de cada um dos seus autores, existe um único mapa. E este, no conjunto de tantas outras regiões vitivinícolas nela representadas, refere-se apenas a uma, designado “Paiz Vinhateiro da Bairrada”. Um mapa que, mesmo desatualizado ao tempo da criação da região demarcada, mais de cem anos depois, serviu de base à sua delimitação. Naquele mapa há já uma marcação, a cores diversas, de três sub-regiões, ainda que em moldes distintos daquelas que foram, por exemplo, definidas em França. Neste, as sub-regiões são designadas por região de vinho branco, região de vinho tinto de embarque e região de vinho de consumo. Estabelecem-se, também, limites geográficos, definindo, a Sul, o concelho de Mealhada, ao tempo considerado o coração da Bairrada, e parte do concelho de Cantanhede; ao centro, o concelho de Anadia; a Norte o concelho de Oliveira do Bairro. Excluídos ficaram, a Sul, a freguesia de Souselas, no Centro, parte do concelho de Cantanhede e todos os de Vagos e Aveiro, e, a Norte, parte do concelho de Oliveira do Bairro.

As zonas nobres para vinhos tintos de embarque delimitavam-se, aos concelhos da Mealhada e de Anadia, enquanto as mais aptas para vinhos brancos situavam-se na margem esquerda do rio Certoma, até Óis do Bairro, S. Lourenço e Mogofores. Fora destes limites situavam-se as zonas de vinhos para consumo, classificando-se detalhadamente os de primeira, segunda e terceira categorias. Interessante é constatar o detalhe com António Augusto de Aguiar estudou a composição dos solos, identificando, com denodo, uma zona hoje muito bem conhecida por produzir vinhos de extrema elegância: “da Mealhada para o Luso, do Travasso para a Vacariça encontra-se uma mistura de solos, em que figuram retalhos de arenatas do terreno quaternário…”. Falamos, em parte, da zona de Cadoiços, onde se encontram hoje algumas das mais imponentes vinhas velhas da Bairrada e das quais nasce um dos grandes vinhos que constituem o painel de prova deste artigo.

Elaborado este estudo pouco após a grande crise do oídio, que afetando toda a viticultura nacional também não poupou o território da Bairrada, é um exercício curioso constatar como se dá a evolução do encepamento na região. Em 1850, o oídio surge de modo lancinante e, durante quase uma década, destruiu, quase por completo, toda a produção de uva na região. As castas mais atacadas foram, nas tintas, o Castelão e a Trincadeira, e, nas brancas, o “Boal Cachudo”, o Arinto e Mourisco. Perante estas adversidades, eis que surge uma uva salvífica, a Baga, fortemente resistente ao oídio. A partir de 1860, a atual intitulada casta rainha da Bairrada, conhece uma expansão até então nunca vista, tendo António Augusto de Aguiar, que por ela não morria de amores, escrito que, “se o amor por ella continuar como até agora, dentro de poucos anos toda a Bairrada fará plantações e vinhos extremes de uma casta só”.

A 28 de Dezembro de 1979, nasce a Região Demarcada da Bairrada, e com ela a sua delimitação geográfica que, curiosamente, não é assim tão distante daquela que havia sido desenhada mais de 100 anos antes por António Augusto de Aguiar.

 

ANTEVISÃO DE UMA REGIÃO

Com a industrialização do espumante e o nascimento das grandes casas engarrafadoras a partir dos anos 20 do século passado, assistiu-se a um crescimento exponencial da região. Caves São João, Caves Messias, Caves Aliança ou Caves São Domingos, entre outras, tornam-se os grandes centros produtores do país, engarrafando, comercializando e exportando vinhos para as colónias e Brasil. A demarcação era, à data, e já após o Dão ter procedido à sua demarcação enquanto região em 1908, uma temática não muito do agrado das grandes casas, que adquiriam vinhos em diversas regiões limítrofes para satisfazer a as suas necessidades de grande volume.

No início dos anos 50 dá-se início a uma contenda feroz entre, por um lado, os defensores da não demarcação, liderados pela maior referência da enologia nacional, Mário Pato, e, do outro lado, uma linha vanguardista defensora da necessidade de criar a região demarcada, tendo na linha da frente o Professor Américo Urbano.

Mário Pato, numa publicação de 1 de Outubro de 1953, no Boletim da Federação dos Grémios da Lavoura da Beira Litoral, clamava que a região começava a sofrer de uma “delimitomania” ou mania das regiões delimitadas, que amolece as faculdades mentais dos viticultores e lhes paralisa a atividade. Para o enólogo, o pedido de intervenção do Governo na delimitação da sua região causaria um atavismo e um encerramento dentro de si própria, que motivaria uma não evolução no acompanhamento do desenvolvimento dos métodos enológicos e, consequentemente, uma desvalorização dos vinhos produzidos. À data, dava como exemplo as regiões de Bucelas, Colares e Carcavelos, cujos vinhos começavam a perder notoriedade, invocando igualmente os exemplos do Dão e Vinhos Verdes que também não se mostrariam brilhantes.

Já Américo Urbano trazia para a defesa da demarcação preocupações que não são díspares das da atualidade, mostrando toda a pertinência. A este preocupava-o a concorrência feroz vinda das terras a Sul, onde os custos do granjeio eram muito inferiores e a qualidade dos vinhos, em que “milhentas de pipas de água anualmente são adicionadas aos mesmos”, era manifestamente inferior.

No meio das contendas, Américo Urbano não foi parco em palavras, acusando Mário Pato de ser o principal responsável pelo uso de técnicas enológicas que privilegiavam a produção de vinhos destinados ao lote, ao invés de dar o seu contributo para o aperfeiçoamento das características organoléticas que sempre distinguiram os vinhos da Bairrada. Uma conceção visionária que, ainda hoje, define o modo como se entende uma Bairrada de características muito distintas.

O interesse pela demarcação da região vai crescendo ao longo dos anos 60 e, em 1973, é criado o Grupo de Trabalho incumbido do estudo da Demarcação da Bairrada, composto pelos agrónomos Melchior Barata de Tovar e Octávio da Silva Pato, contando ainda com a colaboração de Mateus Augusto dos Anjos e de Luís Azevedo Correia. O relatório veio a revelar-se extremamente relevante para constituir as bases para a futura demarcação, incidindo sobre a orografia e hidrografia, geologia, solos, clima, práticas agrícolas, castas cultivadas, métodos de vinificação e tipos de vinho, proposta de demarcação e delimitação da região produtora e, entre outras, do direito à denominação de origem. Estava quase…

Para dar força a este movimento, Luiz Ferreira da Costa, figura icónica das Caves São João, agrega uma série de figuras relevantes da região e cria a Confraria dos Enófilos da Bairrada, em Junho de 1979, associação que foi absolutamente determinante, através de diversas iniciativas e contactos com as esferas do Governo, para derrubar as últimas barreiras tendentes à Regulamentação da Região Demarcada da Bairrada.

POR FIM, A DEMARCAÇÃO

A 28 de Dezembro de 1979, pela Portaria nº 709-A/79, nasce a Região Demarcada da Bairrada e, com ela, a sua delimitação geográfica que, curiosamente, não é assim tão distante daquela que havia sido desenhada mais de 100 anos antes por António Augusto de Aguiar. Exigindo-se a condução da vinha em forma baixa, definem-se, desde logo, as castas autorizadas, que serão objeto de apreciação e cadastro pelos serviços competentes, definindo-se, como tintas autorizadas, a Baga com mínimo de 50%, Castelão ou Moreto e Tinta Pinheira, autorizando-se, desde que não excedessem 20% do povoamento total, o Alfrocheiro Preto, Bastardo, Preto de Mortágua, Trincadeira, Jaen e Água Santa. Nas castas brancas, exigindo um mínimo de 60% do povoamento, Bical, Maria Gomes (Fernão Pires) e Rabo-de-Ovelha, autorizando-se com um máximo de povoamento total de 40%, o Arinto, Cercial, Chardonnay e Sercialinho, lista que mais tarde havia de ser revista. Nesta primeira abordagem que, até aos dias de hoje, havia de ter diversas alterações, definiu-se a obrigatoriedade de a vinificação ser realizada dentro da região em adegas inscritas para o efeito, limitou-se a produção a um máximo de 55 hectolitros por hectare de vinha, parametrizou-se um teor alcoólico mínimo de 11% vol. para os vinhos e fixou-se estágios obrigatórios mínimos de 18 meses para tintos e 10 meses para brancos.

Bairrada

Inicialmente, ou seja, em 2003, a menção “Clássico” ficou destinada apenas a vinhos tintos, cingindo-se às castas Baga, Camarate, Castelão (Periquita) e Touriga Nacional

 

“CLÁSSICO”, UM SELO DE IDENTIDADE

Após a demarcação e até ao virar do século, muitas foram as mudanças de paradigma a que se assistiu na Bairrada. As Adegas Cooperativas e as grandes casas engarrafadoras foram colocadas perante uma nova realidade de produção e consumo. O mundo pedia vinhos com maior identidade, vinhos de Quinta, produções menores, mas muito mais exigentes e qualitativamente nos antípodas daquilo que até então se fazia. Os mercados das colónias haviam desaparecido, o Brasil minguava na procura. Uma nova Bairrada despontava e muitas foram as grandes casas que soçobraram. Adegas Cooperativas, como Vilarinho do Bairro, Mogofores e Mealhada, ou casas engarrafadoras como Barrocão, Valdarcos, Monte Crasto, entre outras, finaram-se. Felizmente, houve casos de grande sucesso na mudança, como foram as Caves São João, que já em 1971 haviam adquirido a Quinta do Poço do Lobo, ou as Caves Messias, com produção de vinhos de uvas próprias na Quinta do Valdoeiro.

Algo havia a fazer para contrariar uma certa desorientação estratégica que afetava a Bairrada. A preocupação dos agentes económicos centrava-se na adequação das potencialidades da região, sempre associadas a uma nomenclatura de qualidade e certificação, alcançando a sua melhor valorização no mercado.

A Portaria nº 428/2000, de 17 de Julho, vem fixar as castas aptas à produção de vinho em Portugal. Nessas condições, entendia-se como necessário efetuar algumas alterações relativamente aos encepamentos existentes permitidos para a DOC Bairrada, do mesmo modo que era crível que podia haver uma maior variedade de vinhos de qualidade produzidos na região e reconhecidos no mercado. Subjacente a estas alterações, que viriam alterar substancialmente o número de castas autorizadas à menção DOC, nada mais, nada menos que 26, algumas delas com pouca expressão na região, um juízo avisado justificou a criação de uma certificação especial para os vinhos da Bairrada que pudessem respeitar determinados parâmetros de tradição e práticas antigas, tanto de viticultura como de vinicultura, adotando-se, por via dessa premissa, a menção “Clássico”. Inicialmente, ou seja, em 2003, a menção “Clássico” ficou destinada apenas a vinhos tintos, cingindo-se às castas Baga, Camarate, Castelão (Periquita) e Touriga Nacional, obrigando os vinhos a representar, em conjunto ou separadamente, 85% do encepamento, não podendo a Baga representar menos de 50%. Obrigava, ainda, a que a uva fosse proveniente de vinhas com rendimento não superior a 55 hectolitros por hectare, não podendo o vinho tinto possuir um teor alcoólico inferior a 12,5%. É, no que toca ao tempo de estágio, que surgem as condições mais exigentes, obrigando os vinhos tintos com aquela menção a poderem apenas ser comercializados  após um estágio mínimo de 30 meses, 12 dos quais obrigatoriamente em garrafa. A Portaria 211/2014, de 14 de Outubro, repõe a justiça e concede, igualmente, aos vinhos brancos a possibilidade de ostentarem a menção “Clássico”, definindo como castas aptas à mesma a Maria Gomes (Fernão Pires), Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha. Aqui, houve também a preocupação em regular a produção máxima por hectare, que seria idêntica à das castas tintas, limitando o volume alcoólico dos brancos aos 12% mínimo, obrigando ainda a um estágio mínimo antes de comercialização a 12 meses, seis dos quais em garrafa. Em matéria de reposição de injustiças, a Portaria nº 335/2015, de 6 de Outubro, veio colmatar uma ausência inadmissível, colocando a histórica Arinto, casta já referenciada por António Augusto de Aguiar, em 1867, como uma das mais relevantes uvas brancas do encepamento do território da Bairrada.

Terminamos esta longa, mas rica história de um território abençoado pela proteção das Serras do Bussaco e Caramulo, bafejado pela influência do Atlântico, com a afirmação de qualidade superior dos vinhos que ostentam a menção “Clássico”, concedendo à Bairrada um estatuto de maior relevância em boa hora regulamentada, e que tão bem é expressa nos 12 vinhos que brilharam na nossa prova.

* O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Junho de 2025)

3ª edição do Millèsime na Curia é já este fim-de-semana

MILLESIME

Esta iniciativa reúne os melhores produtores nacionais de espumantes com denominação de origem, e conta com um conjunto de actividades, nomeadamente provas comentadas e de harmonização com iguarias. Será um evento sofisticado e muito inspirado no universo da época dourada dos primeiros anos do século XX, no cenário místico, clássico e grandioso que caracteriza o […]

Esta iniciativa reúne os melhores produtores nacionais de espumantes com denominação de origem, e conta com um conjunto de actividades, nomeadamente provas comentadas e de harmonização com iguarias. Será um evento sofisticado e muito inspirado no universo da época dourada dos primeiros anos do século XX, no cenário místico, clássico e grandioso que caracteriza o Curia Palace Hotel.

Cada produtor terá um espaço próprio para mostra e degustação dos seus espumantes. Além do universo dos espumantes, o visitante poderá ainda usufruir da mostra e venda de iguarias, típicas da Região da Bairrada, que harmonizam com espumante, bem como os doces típicos. Estão ainda previstos alguns momentos de animação no decorrer do evento.

Com o objectivo de incentivar e promover o consumo no comércio e serviços locais de todo o concelho de Anadia, o Município de Anadia promove este ano a acção “Participe no Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes e ganhe Vales de Compra no Comércio Local”.

Esta campanha consiste na atribuição de vales de compras no valor de 5€ para o comércio local, a cada participante que adquira um bilhete para o evento “Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes”. O Vale só pode ser descontado em compras iguais ou superiores a 20€ nos estabelecimentos aderentes.

A entrada no evento tem um valor de 10 euros por dia ou 15 euros para os dois dias de visita. No dia 29, o horário de funcionamento é das 15h00 às 20h00, e no dia 30, das 15h00 às 19h00.

Lista de Expositores presentes no evento:

ADEGA DE CANTANHEDE

ADEGA DE FAVAIOS

ADEGA RAMA

ALIANÇA

ALIEIXO WINES – REAL CAVE DO CEDRO

APLAUSO & REGATEIRO & PEDRA CANCELA

ATAÍDE SEMEDO

BIRTUDES

BORLIDO

CAMPOLARGO

CASA DO CANTO

CASA DOS AMADOS

CAVE CENTRAL DA BAIRRADA

CAVES ARCOS DO REI

CAVES DA MONTANHA

CAVES PRIMAVERA

CAVES SÃO DOMINGOS

CAVES SÃO JOÃO

COOPERATIVA AGRÍCOLA DO TÁVORA – ESPUMANTES TERRAS DEMO

ENCONTRO / CABRIZ / CASA DE SANTAR VINHOS

FUNDAÇÃO EUGÉNIO DE ALMEIDA

GALLIUS – BRUTO NATURAL

GIZ

KOMPASSUS BOUTIQUE WINERY

LENDA E MORGADO DO BUSSACO

LUÍS PATO

MARIA CARVALHEIRA – CARVALHEIRA WINECREATORS

MESSIAS FAMILY WINES & ESTATES

MURGANHEIRA

PEDRA SÓ

PGA – TRABUCA

PRIOR LUCAS VINHOS

QUATRO CRAVOS

QUINTA DA ATELA

QUINTA DA LABOEIRA

QUINTA DA LAGOA VELHA

QUINTA DA MATA FIDALGA

QUINTA DAS BÁGEIRAS

QUINTA DE SANTA CRISTINA

QUINTA DO ORTIGÃO

QUINTA DO PERDIGÃO

QUINTA DOS ABIBES

RAPOSEIRA

RIBEIRO SANTO

SOALHEIRO

VÉRTICE

VINHA DAS PENICAS

VINHOS ANTÓNIO MARINHA

VINHOS SIDÓNIO DE SOUSA

 

Quinta das Bágeiras: De pai para filho…

Quinta das Bágeiras

Mário Sérgio é um homem instintivo e sonhador. A família, desde sempre, foi a argamassa que o moldou e transformou naquilo que o define hoje, um agricultor criador de vinhos enormes. A notoriedade jamais lhe toldou o raciocínio. É na família que encontra a segurança e daí nunca ter adquirido uma propriedade sem antes ter […]

Mário Sérgio é um homem instintivo e sonhador. A família, desde sempre, foi a argamassa que o moldou e transformou naquilo que o define hoje, um agricultor criador de vinhos enormes. A notoriedade jamais lhe toldou o raciocínio. É na família que encontra a segurança e daí nunca ter adquirido uma propriedade sem antes ter a bênção de Abel, seu pai.
Bernardo, dandie errante que passou pela Bairrada, tinha uma estima profunda pela Quinta das Bágeiras. Encontrado por Mário Sérgio a trabalhar no Mugasa, na aldeia da Fogueira, em boa hora o leva para junto de si, assumindo quase uma função de seu cuidador. Versado no inglês falado e escrito, foi um importante impulso aos primeiros tempos, permanecendo nas Bágeiras até ao seu fim terreno.

Nos últimos tempos de vida, Bernardo insistia com veemência para que Mário Sérgio comprasse uma determinada vinha em Mogofores. Uma insistência que, no entanto, não lhe aguçou a curiosidade. O assunto foi esmorecendo e acabou esquecido. Num frio dia de Dezembro, Bernardo entrega-se ao Criador e vai a enterrar, com a família das Bágeiras a acompanhá-lo até à sua derradeira casa. Nesse mesmo dia, alguém se aproxima de Mário e diz-lhe: “Sr. Mário, tenho uma vinha para vender, mas a minha família só aceita vendê-la se for a si”. Mário estranhou a abordagem, hesitou, mas disse que, no dia seguinte iria vê-la com o seu pai. Dito e feito, logo pela manhã puseram-se a caminho e, lá, encontraram a vinha que Bernardo lhe havia confidenciado desejar que adquirisse, situada num local mágico que tantas vezes Mário via de longe e dizia para o seu pai, “ainda vamos ali comprar uma vinha!”. E o que a torna ainda mais especial? As suas características de composição de solos, exposição solar e orientação são absolutamente siamesas à sua vinha de Ancas, donde nasce… o Pai Abel tinto.

Transição geracional

A apresentação comemorativa dos 35 anos da Quinta das Bágeiras, ocorrida por estes dias, marca o início de uma transição geracional. Desde 1989 e até ao seu falecimento, Rui Moura Alves foi o enólogo assumido das Bágeiras. O “Sr. Rui”, não sendo enólogo de formação, praticou-a, desde os anos 60 nas mais prestigiadas casas da Bairrada, algumas entretanto desaparecidas. Com ele nasciam vinhos austeros, fermentados com engaço, duros e bem protegidos da oxidação. Se, nos primeiros anos, eram difíceis e exigentes, volvidos muitos e muitos anos, como que renasciam para mostrar todo o encanto longevo da Bairrada. E, nas últimas três décadas, foi esse o perfil intransigente que transmitiu aos vinhos e espumantes. Somente nos últimos anos se tornou mais permissivo, passando a ouvir Mário Sérgio e a interpretar nos vinhos os seus desejos. Provavelmente, sentia-o, somente agora, preparado para seguir o seu caminho.

Entretanto, Frederico Nuno, o filho de Mário, licencia-se em enologia e passa a acompanhar mais de perto, não apenas a feitura dos vinhos, mas todos os trabalhos de vinha, ainda monitorizados de perto pelo seu avô Abel. Pouco a pouco, é a sua formação e conhecimento técnico que vão deixando marca e, nos vinhos ora apresentados – Quinta das Bágeiras Grande Reserva 2019, Pai Abel branco 2022 e Pai Abel tinto 2017 – ela já é notória.
A transição ainda não é plena, mas a verdade é que já se sente uma outra mão que ajuda a embalar cada um deles. Não será uma mudança de estilo de uma casa que ostenta orgulhosamente a virtude de apenas produzir vinhos de uvas próprias, mas há um refinamento absoluto, transformando aquilo que anteriormente revelava algumas arestas, austeridade e cariz rústico, em vinhos quase imaculados e tocados pelo Divino.

Quinta das Bágeiras
o edifício e adega da Quinta das Bágeiras em Sangalhos.

Pai Abel 2017, na sua versão tinto, é uma edição limitada (1600 garrafas) de um vinho de apenas uma parcela. Num futuro próximo, este número reduzido de garrafas irá crescer, se a vinha siamesa da original de Ancas conferir à uva a qualidade que se lhe exige para aumentar a produção deste vinho de topo da casa. 2017 permitiu acuidade plena na escolha do dia perfeito para vindima. As chuvas chegaram tardiamente, já a tocar Novembro, fator que, na Baga se mostra fundamental para ajuizar um grande ano. Já a Touriga Nacional, que tempera levemente o vinho, não é dada a tais humores. Maior rigor, estágio longo em barricas avinhadas de 225 litros e um descanso de alguns anos em garrafa trouxeram-lhe a fineza e elegância que só o tempo e a região ajudam a transformar em vinhos de culto.

É no Pai Abel branco 2022 que se revela, de modo mais notório, a transição na enologia. Para Frederico Nuno, é no controlo de temperatura que se definem os pequenos detalhes daquilo que faltava fazer na Quinta das Bágeiras. Um refinamento que atinge o seu ponto alto num sublimado Quinta das Bágeiras Grande Reserva, um Bruto Natural da colheita de 2019, elaborado com as locais Maria Gomes e Bical, resultando naquele que, muito provavelmente, será o mais perfeito espumante alguma vez criado naquela aldeia da Fogueira.
De pai para filho, a Quinta das Bágeiras recria-se, refina-se, mantendo inamovível toda a solidez e princípios que definem a casa familiar que, nunca descurando as origens, vai definindo com segurança o futuro.

Nota: O autor deste texto escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)

Caves da Montanha: A arte de bem empreender

Caves da Montanha

As Caves da Montanha são, hoje, o maior produtor da Bairrada e um dos maiores nacionais de espumante, com cerca de 10 milhões de euros de facturação anual. Para Alberto Henriques, o seu proprietário e administrador, só falta agora à sua empresa se tornar numa casa de referência de espumantes na mente dos portugueses. “Seguramente […]

As Caves da Montanha são, hoje, o maior produtor da Bairrada e um dos maiores nacionais de espumante, com cerca de 10 milhões de euros de facturação anual. Para Alberto Henriques, o seu proprietário e administrador, só falta agora à sua empresa se tornar numa casa de referência de espumantes na mente dos portugueses. “Seguramente que só precisamos desse reconhecimento”, afirma, salientando que apenas outra empresa nacional consegue oferecer, ao mercado, uma variedade tão grande de espumantes, com um leque tão abrangente de anos de estágio, algo que levou mais de 20 anos a construir. “E nós fazemos lotes de dezenas de milhar de garrafas com as mesmas características e qualidade, o que é muito mais difícil”, salienta.

É preciso ser bom

As Caves da Montanha foram fundadas em 1943 por Adriano Henriques, empresário de sucesso no sector industrial da cerâmica, que quis ter uma cave de vinho “porque os outros também tinham”, conta Alberto Henriques, 47 anos, proprietário e administrador das Caves da Montanha, sobre o seu bisavô, acrescentando que ele se apercebeu cedo que não era um grande negócio. Revela, também, que quando este faleceu, o seu avô, Adriano Henriques Júnior, era ainda muito novo e “ficou com aquilo que os outros herdeiros não queriam, como parte do capital das Caves da Montanha e uns pinhais para o lado de Lisboa”. Fez a vida e fortuna como investidor no sector imobiliário, mas manteve sempre as Caves da Montanha, à base de suprimentos. Ou seja, todos os anos metia dinheiro na empresa.

Segundo Alberto Henriques, o seu avô dizia, a propósito, que o que era preciso é que o espumante fosse bom e que, se não se vendesse, bebia-se. “Hoje ainda seguimos essa filosofia”, revela, salientando que após o avô ter morrido, em 1993, a sua avó, Teresa Henriques, continuou a injectar dinheiro na empresa todos os anos. No entanto, não deixou de tentar mudar o seu rumo, fosse através da contratação de uma nova equipa de enologia, que passou a ser chefiada por António Selas (que ainda hoje se mantém como consultor) ou mudando os seus administradores.
Pouco após o ano 2000, na altura em que entrou um novo gestor na empresa, Alberto Henriques começou a trabalhar numa consultora norte-americana, após se ter licenciado em Economia pela Universidade Nova de Lisboa. Mas como sentiu que “não estava a aprender nada”, decidiu começar a trabalhar com o pai na Portax, empresa do sector de componentes de móveis com sede em Oliveira de Frades. “Gostei de trabalhar com ele, porque era fácil e a empresa funcionava bem”, conta, revelando que, a certa altura, começou a trabalhar também nas Caves da Montanha, até que um desentendimento com o gestor da empresa o levou a assumir a sua gestão. Decorria o ano de 2003. “Eu fui criado pela minha avó, e vivia em casa dela, e senti a obrigação de assumir as rédeas das Caves da Montanha”, revela, salientando que foram muitos os problemas que teve de resolver desde o primeiro dia.
“Na primeira semana queriam fechar as caves porque não havia electricidade”, conta como exemplo, referindo também que, “na segunda semana, a responsável da produção foi em peregrinação a Fátima a pé e morreu atropelada” e que parte da equipa da altura “tinha entrado na empresa por cunhas”, ou seja, por diversas influências que não o mérito profissional.

Caves da Montanha

O trabalho de toda a equipa das Caves da Montanha tem sido essencial ao sucesso da empresa

 

Trabalho em equipa

Entretanto foi contratando uma nova equipa para a gestão do dia a dia da empresa, incluindo o actual director de Enologia e de Qualidade, Bruno Seabra, e João Moreira, o gestor de Operações e de Exportação, entre outros, “equipa que se manteve até aos dias de hoje”. E apesar das vicissitudes iniciais, Alberto Henriques foi recuperando a pouco e pouco a sua empresa, que dois anos depois já estava a dar lucros. Mas salienta que nunca esteve só nesse caminho, porque o apoio da avó Teresa foi essencial nos primeiros anos, e o de toda a equipa, “que abdicou, muitas vezes da sua vida pessoal em prol da empresa”, desde o primeiro dia até hoje. “São pessoas que passam cá ao fim de semana para consertar isto e aquilo, a fazer facturas para as encomendas saírem mais cedo ou remuages”, explica.

Algumas pessoas foram-se reformando, depois de trabalharem na empresa a vida toda, que foi fazendo o seu caminho tentando “vender bons produtos a preços competitivos”, e mantendo um controlo de custos “muito apertado”, que contribuiu para a sua saúde financeira actual. “Nós trabalhamos por paixão, e não por dinheiro”, salienta Alberto Henriques, acrescentando que os acionistas não retiram dividendos da empresa. Pessoalmente, andou, no início do seu caminho nas Caves da Montanha, a vender vinhos nos restaurantes de Faro a Monção e apostou também na distribuição.

Ainda se lembra que telefonou 35 vezes para o comprador do Feira Nova, cadeia do Grupo Jerónimo Martins, na altura, até ele o ter atendido, e que teve de esperar bastante tempo que o responsável da Sonae dessa área descesse do quarto de hotel, antes de uma feira do sector, para lhe vender os primeiros vinhos. Foi preciso muito empenho e perseverança, numa “luta dura” com muitas dificuldades. Mas “hoje as coisas são mais fáceis”, revela Alberto Henriques, explicando que a empresa já é conhecida “e oferece produtos que poucos ou nenhum dos concorrentes tem e as portas abrem-se mais facilmente”.
Hoje, para além das suas, as Caves da Montanha fazem as marcas de espumante do Pingo Doce, Lidl, Sonae, Auchan, E-Leclerc, Makro e Minipreço. Desde o início que começaram a sentir o mercado, as tendências dos consumidores, e adaptar os produtos ao tipo de procura. “Essa foi a nossa estratégia, muito apoiada nos nossos clientes”, revela o gestor.

As Caves da Montanha produzem lotes de dezenas de milhar de garrafas com as mesmas características e qualidade

10 milhões de euros

Hoje as Caves da Montanha facturam mais de 10 milhões de euros. Já passaram mais de 20 anos desde que Alberto Henriques assumiu a sua gestão. Das cerca de 150 mil garrafas de espumantes comercializadas na altura em que chegou, passou para as actuais 2,5 milhões, numa empresa que também vende vinhos tranquilos de várias regiões nacionais, para além de licores e destilados, que comercializa em Portugal e na exportação, para países como o Brasil ou Canadá, Japão ou do norte da Europa.
Mas vender espumantes para os mercados externos não tem sido trabalho fácil, segundo o gestor, “porque não temos preços para combater os espumosos e porque também não existe um nome que distinga os nossos de todos os outros, como acontece com as cavas, os prossecos ou o champanhe”. O gestor defende que o espumante produzido em Portugal, pelo método clássico, ou champanhês, deveria ter um nome que o diferenciasse. “É um país pequeno, com quatro produtores com volume e deveria ter um nome diferente para ajudar a promover as exportações”, explica, contando que já houve tentativas nesse sentido, e que até havia concordância entre as casas maiores, mas “os trâmites burocráticos” dificultaram o processo.

Recentemente, as Caves da Montanha lançaram um espumante para comemorar os 80 anos de uma empresa que é, hoje, gerida pela quarta geração da família Henriques, e um vinho de celebração da filha de Alberto Henriques, ainda bebé. O primeiro “é um vinho que também pretende demonstrar que, na empresa, nós somos uma equipa que está bem, entende-se bem e rema toda para o mesmo lado, uma família”. O segundo “é a celebração da chegada da quinta geração da família ligada às Caves da Montanha, que ajudará à sua ligação com o futuro da empresa” diz ainda Alberto Henriques.

À procura do espumante perfeito

Nas Caves da Montanha tudo nasce nas vinhas. “Para fazer espumante é preciso direcioná-las para a sua produção, que é completamente diferente da de vinhos tranquilos”, explica Bruno Seabra, director de Enologia e Qualidade das Caves da Montanha. Na adega, as uvas têm, assim, de chegar com as características certas para serem prensadas de forma a separar o mosto de lágrima, que se destina às gamas mais altas, do de prensa, que vai para o resto das gamas.

Durante a fermentação, Bruno Seabra gosta de provar de dois em dois dias, para verificar como o processo está a decorrer, “porque só conseguimos fazer grandes vinhos se soubermos actuar nos seus processos chave”. Depois são escolhidas as bases para cada tipo de produto: Montanha Real, Cá da Bairrada, etc., seguindo-se a sua colagem, processo feito com o adjuvante do Instituto Enológico de Champanhe, selecionado após um estudo comparativo realizado pelo enólogo, “pela limpidez que origina e rapidez do processo”.

Conforme as suas características, as bases são depois analisadas e o seu processamento é orientado tendo em conta o tempo de estágio previsto para os espumantes que originam. “A acidez é essencial na sua produção, mas os lotes têm de ter também em conta objectivos como a longevidade, volume e complexidade”, explica Bruno Seabra. Os vinhos com mais fruta e frescura dão melhor resultados para a produção de espumantes mais novos, onde isso é importante. Nestes é preciso que a bolha não rebente tão facilmente, “que não seja agressiva e bruta”. Por isso são espumantes onde o licor de expedição leva menos açúcar, que têm uma bolha mais fina também por causa das fermentações serem mais lentas nas caves, onde decorrem a uma temperatura de 16/17ºC.

Durante o estágio, os espumantes vão sendo provados para se perceber qual aa sua evolução. “Começo a fazer isso a partir dos seis meses, para perceber qual o caminho a traçar e decidir o licor de expedição, que é importantíssimo na finalização do espumante, sobretudo para definir a sua identidade, pois temos várias marcas e uma gama alargada, que têm de ter, cada uma, as suas características”, explica Bruno Seabra. “Não basta pôr vinho base, um pouco de sulfuroso e goma”, salienta, acrescentando que “é necessário criar outro tipo de sensações, que só podem ser acrescentadas através do licor de expedição”. Depois, é preciso algum tempo de estágio em garrafa, essencial para que o efeito do licor de expedição se se sinta no espumante, “que só actua realmente dois a quatro meses depois”. Para os mais evoluídos, “quanto mais tempo melhor”, defende o enólogo, garantindo ainda que “as características da fermentação, do estágio sobre borras e do licor de expedição são beneficiados no estágio após o dégorgement”.

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2024)

 

Bairrada elege os melhores do Concurso de Vinhos e Espumantes 2024

concurso bairrada

O Quartel das Artes, em Oliveira do Bairro, foi palco do anúncio e entrega de prémios do Concurso de Vinhos e Espumantes 2024, organizado pela Comissão Vitivinícola da Bairrada. Ao palco subiram os vinhos premiados com medalhas de prata (7) e de ouro (30), num total de 37 referências, que se destacaram entre as 132 […]

O Quartel das Artes, em Oliveira do Bairro, foi palco do anúncio e entrega de prémios do Concurso de Vinhos e Espumantes 2024, organizado pela Comissão Vitivinícola da Bairrada. Ao palco subiram os vinhos premiados com medalhas de prata (7) e de ouro (30), num total de 37 referências, que se destacaram entre as 132 amostras submetidas a prova cega nesta edição.

concurso bairrada
Os vencedores da noite.

O Quinta dos Abibes Sublime branco 2019 foi o Grande Vencedor desta competição, tendo sido laureado com os títulos de Melhor Vinho do Concurso e Melhor Branco: um 100% Arinto, da autoria da quinta que lhe dá nome. Já é o segundo ano consecutivo em que é branco o melhor vinho do concurso.

Os rosados continuam a aparecer de forma tímida, com dois premiados apenas: ao Quinta do Poço do Lobo Reserva Baga e Pinot Noir 2022, das Caves São João, foi atribuída Medalha de Ouro e distinção de Melhor Rosé. Nos tintos, a Adega de Cantanhede destacou-se com o Marquês de Marialva Confirmado Baga 1995, ao arrecadar Ouro e o prémio de Melhor Tinto. No que toca a espumantes, o melhor da categoria foi o Primavera Velha Reserva Bruto 2015 (Caves Primavera). O Quinta da Laboeira Baga Bairrada Reserva Bruto Natural 2021 (Alberto da Silva Marques) foi eleito o Melhor Baga Bairrada.

O Concurso de Vinhos e Espumantes da Comissão Vitivinícola da Bairrada 2024 realizou-se no dia 30 de Outubro, perante um painel de jurados composto por quinze pessoas, entre enólogos e elementos eleitos pela Associação Escanções de Portugal. A prova foi dirigida por Francisco Antunes ,acompanhado por Pedro Soares.

Concurso de Vinhos e Espumantes da Comissão Vitivinícola da Bairrada – 2024
Lista de Premiados

O GRANDE VENCEDOR
Quinta dos Abibes Sublime branco 2019 (Quinta dos Abibes)

VINHOS BRANCOS
Quinta dos Abibes Sublime branco 2019 (Quinta dos Abibes)
Medalhas de Ouro (7)
Quinta dos Abibes Sublime branco 2019 (Quinta dos Abibes)
Todos by Osvaldo Amado branco 2023 (Casa dos Amados Vinhos de Portugal)
Todos by Osvaldo Amado Reserva branco 2022 (Casa dos Amados Vinhos de Portugal)
Quinta da Lagoa Velha Singular branco 2020 (Quinta da Lagoa Velha)
Medusa Reserva branco 2018 (Cave Central da Bairrada)
Pranto branco 2022 (Rui António Rodrigues Francisco)
Barão da Pocariça Bical e Fernão Pires branco 2023 (Francisco Augusto Rebocho Pessoa Vaz)
Medalhas de Prata (3)
Conde de Cantanhede Reserva branco 2021 (Adega de Cantanhede)
Mata Fidalga Reserva 2023 (Quinta da Mata Fidalga)
Quinta do Poço do Lobo Reserva 2020 (Caves São João)

VINHOS ROSÉS
Medalha de Ouro
Quinta do Poço do Lobo Reserva 2022 (Caves São João)
Medalha de Prata
António Marinha 2022 (António Marinha)

VINHOS TINTOS
Marquês de Marialva Confirmado Baga tinto 1995 (Adega de Cantanhede)
Medalhas de Ouro (7)
Aleixo Grande Reserva Baga tinto 1997 (Real Cave do Cedro)
Marquês de Marialva Confirmado Baga tinto 1995 (Adega de Cantanhede)
A. Henriques tinto (Caves da Montanha)
4 Patamares Virgílio de Sousa Clássico tinto 2015 (Quinta da Mata Fidalga)
António Marinha Grande Reserva Vinho de Homenagem tinto 2015 (António Marinha)
Giz Vinha das Cavaleiras Baga tinto 2020 (Luis Gomes)
Frei João Clássico tinto 2018 (Caves São João)
Medalhas de Prata (3)
Primavera Clássico tinto 2019 (Caves Primavera)
Rabarrabos tinto 2022 (Fundação ADFP)
Todos by Osvaldo Amado Baga tinto 2022 (Casa dos Amados Vinhos de Portugal)

ESPUMANTES

O melhor Espumante  Primavera Velha Reserva Bruto 2015 (Caves Primavera)
O Melhor Espumante Baga Bairrada
Quinta da Laboeira Baga Bairrada Reserva Bruto Natural 2021 (Quinta da Laboeira)
Medalhas de Ouro (15)
Primavera Velha Reserva Bruto 2015 (Caves Primavera)
Quinta de S. Lourenço Bruto 2011 (Caves São Domingos)
Caves São João Homenagem a Luiz Costa Bruto Natural 2018 (Caves São João)
D. Duarte Super Reserva Bruto 2020 (Caves Primavera)
Marquês de Marialva Cuvée Primitivo Bruto Natural 2015 (Adega de Cantanhede)
Montanha Real Tributo da Carreira Grande Reserva Bruto 2010 (Caves da Montanha)
Encontro Special Cuvée Extra Bruto 2017 (Quinta do Encontro)
Quinta da Laboeira Baga Bairrada Reserva Bruto Natural 2021 (Quinta da Laboeira)
Todos by Osvaldo Amado Blanc des Noirs 2017 (Casa dos Amados Vinhos de Portugal)
Quinta da Lagoa Velha Cuvée Bruto 2015 (Quinta da Lagoa Velha)
De Sá e Sousa Reserva Bruto (Caves Arcos do Rei)
Aliança Grande Reserva Bruto Natural 2019 (Aliança Vinhos de Portugal)
Pedra Só Reserva Bruto 2021 (Idálio de Oliveira Estanislau)
Borlido Baga Bairrada Super Reserva Bruto 2020 (Borlido)
Campolargo Pinot Blanc Bruto 2017 (M. S. Campolargo Herdeiros)

Caves São João: Serena é a mudança

Caves São João

A inovação e criatividade sempre foram uma forma de estar das Caves São João. As influências do melhor que se fazia lá fora eram trazidas pelos seus fundadores, homens viajados e cosmopolitas. Na segunda metade do século XX, todo o país conhecia e reconhecia as referências “Frei João” e “Porta dos Cavaleiros”, rótulos que encimavam […]

A inovação e criatividade sempre foram uma forma de estar das Caves São João. As influências do melhor que se fazia lá fora eram trazidas pelos seus fundadores, homens viajados e cosmopolitas. Na segunda metade do século XX, todo o país conhecia e reconhecia as referências “Frei João” e “Porta dos Cavaleiros”, rótulos que encimavam todas as mesas da restauração portuguesa. Em 1971, antevendo as mudanças do paradigma de consumo de vinhos e espumantes e o surgimento de consumidores que procuravam maior identidade nos vinhos, é adquirida a Quinta do Poço do Lobo, no concelho de Cantanhede e, a partir dali, nasce a marca homónima, passando as caves a possuir vinhos de Quinta.

Como empresa familiar, a Sociedade dos Irmãos Unidos, designação social da mesma, sofreu os reveses das querelas internas. No final da segunda década deste século entrou num período mais conturbado, acabando, por vicissitudes várias, a ser alienada a quase totalidade do capital social a um conjunto de investidores em 2022. A partir daí, aguardavam-se as mudanças que os novos sócios, da área imobiliária e financeira, iriam imprimir à empresa centenária e que é a mais antiga em atividade na Bairrada. Fernando Sapinho, Enrique Castiblanques, Mário Vigário, Nuno Ramos, Paulo Morgado e Mário Mateus, são empresários em diversos ramos de atividade. O vinho surge-lhes como uma paixão racional de quem olha para as Caves São João como um diamante a lapidar.

No centro destas mudanças, ficou Célia Alves, ela que em tempo de marés violentas e tormentas várias, não largou o leme de uma marca secular e histórica, não permitindo que, em momento algum, ficasse à deriva.

Serenamente, os últimos anos foram de restruturação, dando uma nova luz à empresa que, com os seus fundadores, esteve no passado ligada à criação da região demarcada da Bairrada e à Confraria dos Enófilos da Bairrada, que, curiosamente, teve na sua liderança nos últimos anos Célia Alves, que mantém a gerência das Caves conjuntamente com os ativos sócios Fernando Sapinho e Enrique Castiblanques

No passado dia 24 de Junho, Dia de São João, as Caves São João destaparam o véu da revolução tranquila que têm operado, celebrando o seu 104º aniversário com várias novidades. A maior, e porque o palco escolhido para os festejos foi a Quinta do Poço do Lobo, revelou-se na expansão que aquela propriedade teve com esta nova estrutura societária. Ao longo dos últimos dois anos, entre reconversão de área de floresta em vinha e aquisição de parcelas contíguas, houve um aumento da área de vinha em 10 hectares, que se somam aos 30 já existentes. Com o aumento da produção de espumante no horizonte, nascem ali novas plantações das castas brancas Bical, Arinto e Maria Gomes (Fernão Pires).

Do Poço do Lobo ao Porta dos Cavaleiros

A casa, que mantém o classicismo que sempre a caracterizou, não descura o arrojo e ousadia e, na apresentação dos novos vinhos, mostrou que segue de perto as tendências e, para isso, não deixou de surpreender. O Baga Novo Natcool, um tinto da colheita de 2022, mostra toda a irreverência da casta, num vinho disruptivo mas totalmente assertivo. Nascido de uma parceria com a Niepoort, empresa familiar que possui relações comerciais com a empresa bairradina que remontam a meados do século XX, rompe com estigmas e mostra o quanto a Baga em jovem é capaz de criar vinhos absolutamente emocionantes. Nos espumantes, deu-se a conhecer a nova edição do Quinta do Poço do Lobo, na sua versão rosé, da colheita de 2021 e já com mais de 24 meses de estágio. Aqui reinam, num blend que casa com sucesso, a Baga e o Pinot Noir.

Os Porta dos Cavaleiros, marca criada nos anos 60 do século passado, consagrando a investida da empresa bairradina na região do Dão, surgem agora totalmente renovados, impondo, na rotulagem, um maior sentido histórico e arquitetónico, onde o monumento representativo – Porta dos Cavaleiros, como uma das medievais portas da cidade de Viseu – ganha um maior rigor e sentido iconográfico. Nos vinhos, a tradição mantém-se. As Caves adquirem os melhores lotes de tintos e brancos produzidos no Dão e, à maneira antiga, procedem à sua “afinação”, lançando-os no mercado. As duas propostas apresentadas foram o Porta dos Cavaleiros tinto 2022, e o Porta dos Cavaleiros Reserva Especial branco, este uma categoria rara no Dão, apenas ao alcance dos vinhos que se destacam em enorme qualidade na câmara de provadores.

Crescer, solidificar mercados, impor-se como marca de prestígio, aumentar área de vinha e ser um verdadeiro referencial da Bairrada do futuro. Este é o caminho que as Caves São João tão bem está a trilhar para este segundo século de vida que se segue.

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.

(Artigo publicado na edição de Setembro de 2024)

Grande Prova: A Bairrada em grande com barro, Baga e muito mais

grande prova bairrada

A Bairrada raramente é a primeira paragem numa viagem de descoberta enófila pelas regiões do nosso país. Inicia-se pelos vinhos mais acessíveis e regiões mais sonantes e presentes no imaginário do consumidor e nas prateleiras das garrafeiras. A Bairrada revela-se aos enófilos com alguma maturidade. É uma das poucas regiões em Portugal (e no mundo) […]

A Bairrada raramente é a primeira paragem numa viagem de descoberta enófila pelas regiões do nosso país. Inicia-se pelos vinhos mais acessíveis e regiões mais sonantes e presentes no imaginário do consumidor e nas prateleiras das garrafeiras. A Bairrada revela-se aos enófilos com alguma maturidade.
É uma das poucas regiões em Portugal (e no mundo) que facilmente pode apresentar, para uma prova, um vasto conjunto de vinhos com mais de uma década de idade, com grande qualidade e personalidade marcante. Nesta prova tivemos vinhos de colheitas mais antigas, como 2016, 2015, 2014, 2012 e até Marquês de Marialva Confirmado Baga de 1995 da Adega Cooperativa de Cantanhede e Aleixo Grande Reserva de 1997 da Real Cave do Cedro, todos eles correntemente no mercado e em óptimo estado de saúde.
Dos 26 tintos, 16 eram exclusivamente de Baga, quatro da parceria de Baga e Touriga Nacional, e mais uns vinhos com castas estrangeiras, um lote com 96% Baga, 3% de Maria Gomes e 1% de Bical e um “rol” de oito castas não misturadas na mesma vinha, mas covinificadas, onde entram Baga, Castelão Nacional, Trincadeira, Bastardo, Sousão, Tinta Pinheira e Alfrocheiro.
E impressionante que os grandes vinhos da Bairrada de hoje sejam produzidos tanto pelas Caves históricas ou uma Adega cooperativa, quanto pelos produtores mais antigos e outros bem recentes, em estilos completamente distintos, desde os mais clássicos até aos mais modernos.

Bairrada de outrora, de hoje e de sempre
A história da vinha na Bairrada remonta ao aparecimento do homem nestas terras. Desde os tempos alto-medievais, há documentação que assinala a presença significativa da vitivinicultura na região, destacando a sua importância na vida e na economia local.
A proximidade de Coimbra e da região de Aveiro, aliada à relativa navegabilidade dos rios, permitiu à Bairrada desenvolver a sua agricultura e viver um período de prosperidade. Contudo, após o Tratado de Methuen, em 1703, o aumento descontrolado da plantação de vinhedos, em detrimento das áreas destinadas aos cereais, chamou a atenção do Marquês de Pombal. As medidas severas por ele decretadas incluíram o arranque das vinhas e a proibição de comercialização dos vinhos. Foi apenas no reinado de D. Maria I, a partir de 1777, que o plantio de cepas foi novamente autorizado.
Na segunda metade do século XIX, graças a alguns factores internos e externos (tendência para o consumo de vinhos menos alcoólicos e palhetes, prémios de vinhos da Bairrada nas exposições internacionais e a abertura de novos mercados no Brasil e países do Norte da Europa), a Bairrada afirmou-se como região e os seus vinhos ganharam identidade própria. E não podemos esquecer que, em 1890, foi iniciada, em Anadia, a produção dos primeiros vinhos espumantes, que se tornaram um ex-libris da Bairrada graças ao pioneirismo de Tavares da Silva.
Na década de 1920 começam a proliferar as Caves, que basicamente eram negociantes. Não possuindo vinha própria, compravam vinho feito, loteavam, estagiavam e comercializavam-no. Muitas destas caves continuam a fazer história na região, como as Caves São João, Caves do Solar de S. Domingos e Caves Messias, entre outras. Os anos 1950 foram marcados pela criação de várias adegas cooperativas, dos quais apenas sobreviveu, e com boa saúde, a Adega de Cantanhede.

Na década de 1990, com o fim do mercado das ex-colónias e da saudade, os vinhos mais frutados e redondos do Alentejo, seguidos, pelos do Douro, com a sua potência e complexidade, por contraste com os vinhos tânicos e ácidos da Bairrada, conquistaram os consumidores. Foi neste período que surgiram os primeiros produtores-engarrafadores na região.
Os produtores com visão, como Luís Pato, Casa de Saima, Carlos Campolargo, Sidónio de Sousa, Mário Sérgio Nuno, da Quinta das Bágeiras, e João Póvoa (primeiro na Quinta de Baixo, depois na Kompassus) começaram a engarrafar com a marca própria e trouxeram a inovação necessária, tanto na vinha quanto na adega, para alterar o paradigma dos vinhos bairradinos.
Começou-se a fazer monda dos cachos que, naquela época, era considerada uma heresia, mas permitia controlar a produção. Outra alteração foi o desengace, que retirou os taninos mais duros. Hoje o uso de engaço pode variar em função do ano e do estilo do vinho que se pretende produzir. Luís Pato foi o primeiro a usar pipas de 650 litros ao contrário dos habituais tonéis velhos, o que tornou os vinhos mais polidos.

O renomado e carismático produtor dos vinhos do Porto e Douro, Dirk Niepoort, ao expandir os seus projectos à Bairrada, atraiu ainda mais atenção para a região. Hoje produz vinhos com o seu filho Daniel na Quinta de Baixo e faz parte do grupo “Baga Friends”.
Curiosamente, a nova geração dos produtores, que têm surgido nos últimos 10-15 anos, como Nuno do Ó e João Soares (V Puro) e Luís Gomes (Giz) adoram vinhas velhas e mostram a sua interpretação da Bairrada, valorizando a tradição e o legado vitícola da região.

O terroir da Bairrada
A Bairrada fica numa plataforma litoral de baixa altitude (entre os 40 e 120 metros), fortemente influenciada pelo Atlântico e limitada a leste pelos maciços do Bussaco e Caramulo. No sentido Norte-Sul situa-se entre as cidades Águeda e Coimbra e os rios Vouga e Mondego. Caracteriza-se por um clima ameno, com invernos suaves e verões moderados e alta humidade relativa ao longo do ano. Os dois/três meses mais secos no verão conferem ao clima uma nuance mediterrânica. A abertura para o oceano permite a entrada da nortada, que sopra regularmente durante o verão, especialmente à tarde, trazendo ar húmido do Atlântico para o interior. A frequente ocorrência de nevoeiros matinais origina a redução de insolação que, em combinação com as temperaturas amenas, facilita a proliferação dos fungos que dificultam a maturação das uvas, mas favorecem o desenvolvimento da sua componente aromática.
Enquanto no Douro e no Dão as variações no comportamento das videiras são principalmente atribuídas à exposição e altitude das vinhas, na Bairrada estas diferenças decorrem do solo. A Bairrada é um verdadeiro mosaico geológico, com solos que variam desde margas, argilas e calcário a areias. Se no lugar dos bairradinos fossem os franceses a explorar a região, cada pedaço de terra da Bairrada seria transformado em Premier Cru e Grand Cru, tanto para brancos quanto para tintos, como na Borgonha. Temos terroirs excepcionais, mas ainda nos falta o desenvolvimento de um conceito que permita classificá-los de acordo com a geologia e a tipologia dos solos.

Dos tempos idos, existe apenas a informação de que, no século XIX, existiam dois tipos de vinho: de Consumo, de qualidade inferior, e de Embarque, que eram os melhores, destinados à exportação. A melhor zona para os tintos de Embarque foi limitada, a Norte, por Horta, Tamengos e Aguim; a Nascente por Grada e Barrô; a Sul por Travassô, Lendiosa e Silvã e, a Poente, por Murtede, Escapães e Póvoa do Garção. Isto foi considerado nos primeiros contornos da Bairrada vitivinícola propostos, em 1867, por António Augusto de Aguiar.
A Bairrada fazia parte da Beira Litoral, que era uma sub-região das Beiras. Apesar do seu legado vitivinícola, só obteve o estatuto de denominação de origem em 1979. A DOC Bairrada insere-se na geograficamente mais vasta IG Beira Atlântico.

Encepamento – para além da Baga
No final do século XVIII, o encepamento da Bairrada era dominado por castas brancas. Esta realidade começou a mudar devido a vários factores. O primeiro foi o surgimento do oídio em 1852, que levou à preferência por castas mais resistentes à doença. Isto facilitou a disseminação da Baga, uma casta menos susceptível ao oídio e altamente produtiva, o que representava uma vantagem significativa para os viticultores da época. Mais tarde, a globalização também influenciou esta transformação, ampliando o leque de castas autorizadas na região.
No primeiro documento oficial de demarcação, os “direitos” da Baga eram vincados com 50% do total. As castas Castelão, Moreto e Tinta Pinheira também eram autorizadas, enquanto Alfrocheiro Preto, Bastardo, Preto de Mortágua (o nome antigo da Touriga Nacional), Trincadeira, Jaen e Água Santa não podiam exceder 20% do encepamento. Em 2003, entendeu-se que a abertura a outras castas iria ser benéfica para a região e na DO Bairrada foram autorizadas, em termos de tintas, algumas variedades nacionais (Aragonez, Tinta Barroca, Tinto Cão, Touriga Franca) e estrangeiras (Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Petit Verdot e Syrah).

Simultaneamente, para preservar a tradição, foi introduzido o termo “Clássico” que, embora se refira ao mesmo território demarcado, limita as castas às tradicionais Baga, Camarate, Castelão, Jaen, Alfrocheiro e Touriga Nacional. Além disto, para que um vinho seja certificado como “Clássico”, deve cumprir requisitos adicionais: o rendimento não pode exceder 55 hl/ha (em comparação com os 80 hl/ha permitidos para outros vinhos tintos), e o vinho deve passar por um estágio mínimo de 30 meses, sendo 12 desses em garrafa (praticamente como um Garrafeira tinto).
A Camarate, também bastante cultivada na Bairrada, é conhecida localmente como Castelão (mas nada tem a ver com a Castelão “oficial”) e ainda Moreto, ou Moreto de Soure em Cantanhede. Carlos Campolargo considera-a “mais bairradina do que a Baga, que vem do Dão.” Luís Pato observa que a Camarate produz cachos e bagos grandes, o que originava altos rendimentos, dava muito sumo e suavizava os taninos da Baga. Paulo Nunes, o enólogo na Casa de Saima e com grande experiência no Dão, vê a casta como um componente de lote para os vinhos de entrada, pois confere uma fruta mais imediata, contrastando com a Baga, que tende a ser mais vegetal e austera. No entanto, a Camarate apresenta certos desafios devido ao seu vigor e sensibilidade ao oídio.
O Castelão, também conhecido como Periquita, Castelão Francês ou João de Santarém, tem uma expressão reduzida na Bairrada, onde é chamado de Trincadeira (e, de novo, nada tem a ver com a Trincadeira “oficial”…). Conta Luís Pato que o Castelão suavizava a Baga e acrescentava riqueza aromática, pois um bom Castelão cultivado nos solos arenosos pode ter um perfil semelhante ao da Baga, combinando características aromáticas com uma acidez vincada.

A Touriga Nacional, apesar de se adaptar bem a diversas condições, desperta sentimentos díspares na região. Segundo Paulo Nunes, a casta não apresenta aqui as camadas e a complexidade que exibe no Dão. Mário Sérgio Nuno salienta que a Touriga Nacional resiste melhor à podridão e mantém um equilíbrio ácido satisfatório, amadurecendo quase sempre antes da Baga. Luís Pato acrescenta que, quando plantada em solos argilo-calcários, a Touriga Nacional tende a perder acidez, como aconteceu em Ois de Bairro, na parcela Cândido, onde acabou por substituí-la pelo Cercial. No entanto, em solos argilo-arenosos, a Touriga Nacional mostra-se fantástica e, ao contrário da Baga, neste tipo de solo não corre o risco de entrar em desidratação e, com chuva, inchar e ter rupturas na película. O mestre também observa que, enquanto o rendimento da Baga não pode ultrapassar quatro tn/ha para entregar a qualidade, a Touriga Nacional pode oferecer bons resultados com rendimentos de oito a nove tn/ha. Basicamente, a Touriga Nacional na Bairrada é utilizada para arredondar os ângulos da Baga e contribuir com componente aromática, oferecendo vinhos com um apelo rápido.
Entretanto, a Aveleda, na sua Quinta de Aguieira, dá muito mais protagonismo à Touriga Nacional, plantada propositadamente após a aquisição da quinta em 1997. O responsável de enologia, Diogo Campilho, e o responsável de viticultura, Pedro Prata, contam que a propriedade está situada na parte norte da Bairrada, no concelho de Águeda, perto do rio Vouga. A Touriga foi plantada numa parcela mais quente, em solo de aluvião, em cima do calhau rolado, areia grosseira e alguma argila. Dá algum trabalho na vinha, não só pelo seu porte prostrado, como também pela necessidade de desfolhas e mondas, em função do estilo de vinho e dos anos vitícolas. Os nevoeiros são bem presentes, dada à proximidade do Atlântico e do rio. Há dias que só se dissipam por volta das duas da tarde. Nestas condições, neste extremo norte da Bairrada, dificilmente a Baga resistiria tão bem quanto a Touriga Nacional.

Castas de menos expressão
A Jaen tem mais expressão no Dão do que na Bairrada, onde, segundo Paulo Nunes, “não funciona, só se aproveita nos rosés” porque degrada os ácidos sem atingir maturações fenólicas. É uma casta muito sensível ao terroir e, na Bairrada, não é o lugar dela, embora faça parte das castas permitidas no Bairrada Clássico. Já o Alfrocheiro não tem muita expressão na Bairrada e, segundo a experiência de Paulo Nunes, é muito inconstante: há anos que funciona, outros que não, sem uma razão aparente. Na Casa de Saima deixaram de trabalhar com ela.
O Rufete, conhecido na Bairrada como Tinta Pinheira, pode não ser a melhor escolha para vinhos tintos, mas é excelente para a produção de rosés, segundo Paulo Prior, enólogo com a experiência de mais de 20 anos no sector, agora com responsabilidade na Global Wines. Quanto ao Bastardo, que amadurece extremamente cedo, Paulo comenta que a casta carece de expressão e ressalta: “Ninguém quer iniciar as vindimas a 10 de agosto…”

Entre as castas bairradinas consta também a Água Santa, um cruzamento entre Touriga Nacional e João de Santarém. Paulo Prior relata que esta casta foi criada nas décadas de 1960-70, numa época em que a grande parte do vinho produzido era destinado às ex-colónias, e havia uma demanda por vinhos de maturação mais rápida e perfil macio. A Água Santa é altamente produtiva, mas tem pouca cor e é extremamente susceptível ao oídio e míldio. Hoje, está praticamente abandonada. Embora possa ainda ser encontrada em vinhas velhas, ninguém a planta actualmente. Carlos Campolargo também menciona que, no início, tinha um talhão com Água Santa em São Mateus, mas acabou por reenxertar a vinha por falta de interesse na casta.
De uma forma ou de outra, as castas tintas, e também brancas presentes na Bairrada, são usadas com o propósito de limar as arestas da Baga. Há quem diga que, antigamente, “para três pés de Baga plantava-se um pé de Maria Gomes”, que aumentava grau, amaciava tanino e também ajudava a fixar a cor e conferir mais complexidade aromática.

Relativamente às castas estrangeiras, parece que já tiveram o seu auge. Houve quem as plantasse por moda e quem o fizesse por convicção. Os últimos continuam a fazer um bom trabalho com elas, como é o caso de Carlos Campolargo. Sempre achou que, na Bairrada, existem condições climáticas semelhantes a Bordeaux, pela influência atlântica. Embora na Bairrada o oceano esteja mais perto, em compensação tem mais horas de sol e as típicas castas bordalesas na Bairrada amadurecem bem sem experienciar o calor em demasia. Desde cedo apostou no Cabernet Sauvignon e no Merlot. Mais tarde plantou Petit Verdot. Normalmente utiliza estas castas para blends, com excepção de Petit Verdot, que em alguns anos sai como monovarietal. Carlos Campolargo dá um exemplo: se adicionar 15% de Touriga Nacional à Baga, a primeira marca muito o vinho, enquanto o Merlot não tem este efeito supressor. “É uva perfeita. No início de Setembro já está pronta, antes das chuvas”. Também foi pioneiro em lotear Pinot Noir e Baga ainda em 2000, porque as duas castas se desenvolvem na mesma direcção. Luís Pato corrobora esta opinião, confirmando que se juntar Pinot Noir à Baga, ninguém nota. No início, Luís Pato também experimentou trabalhar com Cabernet Sauvignon para facilitar a venda de Baga no mercado dos Estados Unidos, Mas depois abandonou esta ideia, após ter concluído que não é através do Cabernet que a Bairrada vai construir a sua identidade nos mercados estrangeiros.
Paulo Prior considera o Merlot uma casta essencial, destacando a sua viticultura fácil e maturação precoce. Diferente da Baga, que tem um porte mais retumbante, o Merlot cresce de forma direita e pode-se vindimar logo após as uvas brancas. Paulo também observa que o Merlot e a Baga funcionam bem juntos, criando uma combinação harmoniosa. Já o Cabernet Sauvignon atua como “sal e pimenta” no blend, adicionando um toque extra.

A saga da Baga
Embora originária do Dão, e parecendo que a união entre a Baga e a Bairrada fosse por conveniência, esta acabou por evoluir para uma relação profunda e duradoura.
No século XIX, António Augusto de Aguiar descreveu a Baga como “uma casta de qualidade inferior”, reconhecendo, porém, que “podia tirar-se dela mais algum partido se fosse vindimada no tarde, mas, como isto não sucede, quase sempre entra para o lagar sem estar bem madura”. Entretanto, Cincinnato da Costa, no seu “O Portugal Vinícola”, de 1900, referia-se à Baga, dizendo que “são notáveis os seus vinhos tintos de magnífica coloração, bem equilibrados e de qualidades muito apreciáveis para o comércio de exportação, pela sua solidez e fácil conservação”, acrescentando que a casta era “muito apreciada pela viva cor e forte adstringência que dá aos vinhos”.

O grande calcanhar da Baga é a sua susceptibilidade à podridão. Com os seus cachos compactos, “como nem uma pinha” e película bastante fina, na Bairrada, com a alta humidade e pluviosidade que torna a região num resort para a Botrytis, quase que se poderia pensar que não há hipótese de fazer grandes vinhos. Percebe-se, assim, o abandono da casta e a antiga “crença” de que só há grandes tintos na Bairrada uma vez por década.
Luís Pato, Mário Sérgio e Paulo Nunes estão de acordo com a ausência de sentido nesse pressuposto. É óbvio que ocorrem anos muito difíceis, que levam a perdas significativas de produção (como, por exemplo, este ano, devido ao míldio). No entanto, uma viticultura adequada, a começar por clones e porta-enxertos certos, gestão da parede vegetativa e mondas qualitativas, pode combater ou atenuar as adversidades de um ano mais complicado. Antigamente era impossível convencer o viticultor a fazer três vindimas na mesma vinha. Agora, com outro entendimento e dedicação, é possível gerir bem a vindima e não culpar sempre a casta ou São Pedro. Mário Sérgio salienta que a casta se afirmou por si, com resultados evidentes: “de norte a sul da região voltou-se a aderir à Baga e, quem já tinha retirado “Baga” dos rótulos, voltou a colocá-lo em letra grossa”.

Por muitos desafios que a casta e a região apresentem mutuamente, a Baga é e sempre será a variedade identitária da Bairrada. É um dos binómios mais fortes no mundo vitivinícola português. Os grandes vinhos da Bairrada podem não ser feitos exclusivamente de Baga, mas os grandes vinhos de Baga (quase) só podem ser da Bairrada.

(Artigo publicado na edição de Setembro de 2024)

Os vinhos apresentados não estão por ordem de classificação

 

Baga Friends: Amigos da baga trazem boas novas

baga friends

Reunir para agitar as águas, criar o movimento para reabilitar a Baga entre os viticultores e consumidores em Portugal e projectar a nossa casta autóctone lá fora é o objectivo dos Baga Friends, grupo de produtores que se uniram à volta desta variedade. A associação formou-se em 2012 e faz-se notar o renascimento contínuo da […]

Reunir para agitar as águas, criar o movimento para reabilitar a Baga entre os viticultores e consumidores em Portugal e projectar a nossa casta autóctone lá fora é o objectivo dos Baga Friends, grupo de produtores que se uniram à volta desta variedade. A associação formou-se em 2012 e faz-se notar o renascimento contínuo da Baga desde então.
“Quando comecei o projecto em 2001, não havia produtores novos a trabalhar com Baga. Merlot e a Cabernet Sauvignon tinham mais popularidade”, conta a produtora Filipa Pato. Os amigos da Baga são muito diferentes na sua visão. Trabalham cada um à sua maneira, mas todos adoram a Baga e a Bairrada. São um núcleo duro, e mesmo não fazendo muitos eventos, conseguiram fazer uma “pequena revolução” na região. “De norte (Fogueira) até ao sul (Souselas) voltou-se a aderir à Baga. Quem já a tinha retirado dos rótulos, voltou a colocá-la em letra grossa”, repara Mário Sérgio Nuno, da Quinta das Bágeiras, que, juntamente com Filipa Pato, foi impulsionador deste movimento.

Bairradino de gema
E quem são os Baga Friends? Desde logo, o bairradino de gema, Luís Pato, sempre foi o grande defensor e promotor da Baga, mesmo quando a maioria dos produtores dava preferências às castas estrangeiras. À Baga dedicou mais de 40 anos da sua carreira e o melhor argumento a favor da casta eram os seus vinhos que mostraram elegância e longevidade da casta, quando trabalhada com sabedoria. “Baga dura 25 anos certamente, 30 talvez, 40 – quem cá estiver que veja!” –, desafia o Senhor Baga. Mário Sérgio, um bairradino incontornável com ligação à viticultura de forma geracional, respira Baga desde 1989, quando começou o seu projecto familiar da Quinta das Bágeiras, produzindo vinhos de identidade inconfundível. Paulo Sousa, o engenheiro químico com 20 anos de experiência no departamento de qualidade de uma empresa produtora de vinhos na região, dedicou-se ao projecto familiar, iniciado pelo seu pai, Sidónio de Sousa, em 1990.
Uma história de pura paixão pela Baga e Bairrada começou quando o sommelier francês e proprietário de uma garrafeira em Paris, François Chasans, provou um vinho da Bairrada pela primeira vez. Instalou-se em terras bairradinas e na sua Quinta da Vacariça produz vinhos densos e longevos, cheios de carácter. Pratica uma viticultura biodinâmica, “não como argumento de marketing, mas para obter a precisão no resultado final”, diz. Filipa Pato é tão dedicada à Baga como o seu pai, Luís Pato, mas num projecto próprio juntamente com o seu marido, o conhecido sommelier belga William Wouters. Os seus Baga, puros e autênticos, nunca passam despercebidos e mostram o lado mais feminino e delicado da casta. O irreverente e carismático Dirk Niepoort, grande produtor de vinhos do Douro e do Porto, confessa que adora a Baga e a Bairrada. Seguindo esta paixão, há mais de uma década, adquiriu a Quinta de Baixo, com 25 ha de vinha, onde tem parcelas centenárias e de onde vem o Poeirinho, num estilo bem diferente do praticado antes – mais leve, com teor de álcool baixo e acidez vincada. Agora o seu filho Daniel continua a trabalhar com a mesma filosofia. O mais recente membro do grupo é o enólogo Luís Patrão, com o seu projecto Vadio, que teve o início em 2005 com 0,5 ha de vinha da família e cresceu até ao 10 ha actuais.

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Os sete ilustres amigos da Baga juntaram-se para apresentar a segunda edição do vinho feito em conjunto

Tinto para já, espumante para mais tarde
No final de abril, em antecipação ao Dia Internacional da Baga, celebrado a 4 de maio (graças ao esforço dos Baga Friends, que abrem sempre as suas adegas ao público com festa rija e eventos especiais), os sete ilustres amigos da Baga juntaram-se para apresentar a segunda edição do vinho feito em conjunto – Baga Friends 2015, de que se encheram 1135 garrafas. É um blend comunitário, que expressa o carácter de cada produtor, de cada propriedade, através de um bouquet de filosofias distintas com o denominador comum – a Baga. O carácter e a voz de cada vinho são bem fortes e ainda se sentem. Talvez seja preciso mais algum tempo para estas vozes se tornarem um coro, e para os feitios de cada vinho atingirem a integridade plena. Este pormenor também traz uma complexidade adicional. No nariz dominam os Baga mais aromáticos, enquanto na boca fica bem presente a estrutura dos contributos mais tânicos e texturados. A primeira edição do vinho Baga Friends foi da colheita de 2011, já que não têm a intenção de o fazer todos os anos, só nos de excelência. E, já agora, fica o teaser: a próxima edição dos Baga Friends será um espumante de 2023, que já está em estágio e será lançado em 2029 para brindarmos à Baga e à Bairrada. Afinal, somos todos amigos da Baga no sentido mais lato.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2024)