Chef Vítor Sobral cria “vinhos da casa” com Casa de Santa Vitória

TEXTO Luís Francisco “Matar a ideia de que o vinho da casa é a pior opção da carta” foi a ideia que levou um dos mais conceituados chefs portugueses a juntar-se à Casa de Santa Vitória para criar uma oferta personalizada. Os novos vinhos Vítor Sobral, branco e tinto, já estão disponíveis nos espaços Tasca […]

TEXTO Luís Francisco

“Matar a ideia de que o vinho da casa é a pior opção da carta” foi a ideia que levou um dos mais conceituados chefs portugueses a juntar-se à Casa de Santa Vitória para criar uma oferta personalizada. Os novos vinhos Vítor Sobral, branco e tinto, já estão disponíveis nos espaços Tasca da Esquina, Peixaria da Esquina, Padaria da Esquina e Restaurante Dom Roger, todos em Lisboa. “Já há algum tempo que ambicionava este projecto: dar a cara por um vinho”, explica Vítor Sobral, cuja imagem aparece nos rótulos, de braços e sorriso abertos, como quem saúda quem se senta à mesa.

O processo de selecção passou por um trabalho prévio da dupla de enologia da Casa de Santa Vitória, a enóloga residente Patrícia Peixoto e o consultor Bernardo Cabral, que prepararam um leque de “blends” e os apresentaram ao “chef”, durante um almoço, como convém. A vocação gastronómica balizou as escolhas de Vítor Sobral, em duas séries limitadas (596 garrafas de branco e 998 de tinto) que se destinam apenas ao serviço nos restaurantes do “chef”. O branco, da colheita de 2019, é feito com Arinto e Chardonnay; o tinto, de 2018, junta Touriga Nacional, Trincadeira, Syrah e Cabernet Sauvignon. Frescura, equilíbrio e, naturalmente, uma vincada capacidade para se “darem bem” com a interpretação moderna da tradicional gastronomia portuguesa que faz a imagem de marca de Vítor Sobral são o denominador comum a ambas as propostas: “Esta é a minha garantia aos clientes de que o preço que estão a pagar pelo vinho é justificado.”

As melhores sombras de Beja

Assim à primeira vista, falar de Beja como terra de vinhos pode parecer estranho. Mas no “forno” de Portugal a cultura da vinha não é um capricho de insensatos nem uma missão impossível: há bons e grandes produtores de vinho. Com um foco muito especial no enoturismo. Talvez seja difícil encontrar em Portugal uma concentração […]

Assim à primeira vista, falar de Beja como terra de vinhos pode parecer estranho. Mas no “forno” de Portugal a cultura da vinha não é um capricho de insensatos nem uma missão impossível: há bons e grandes produtores de vinho. Com um foco muito especial no enoturismo. Talvez seja difícil encontrar em Portugal uma concentração de unidades de grande fôlego como a que descobrimos na cintura sul da capital do Baixo Alentejo.

TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Palma Veiga

Imaginemo-nos em Beja. De preferência à sombra, que o Verão está esquisito, mas não falha. Se apontarmos a sul, não precisamos de ir muito longe para encontrarmos pequenos paraísos onde o vinho marca o ritmo dos acontecimentos. Num raio de duas ou três dezenas de quilómetros, são várias as unidades de enoturismo que se afirmam como referência a nível nacional. É como se quem recebe fizesse questão de recompensar quem ali chega, longe das principais rotas turísticas e debaixo de um sol abrasador.
Nesta surtida por terras de estio, visitámos a Herdade da Mingorra, a Casa de Santa Vitória e a Herdade do Monte Novo e Figueirinha. Não terão, talvez, a notoriedade de alguns dos seus vizinhos, como a Herdade da Malhadinha Nova ou a Herdade dos Grous, mas os padrões de excelência impostos por estes enoturismos de elite estabelecem um padrão a que não se pode fugir, para se ser minimamente competitivo…
Ponto prévio à mesa: quando a equipa de reportagem da Grandes Escolhas se dirigiu a Beja, o Verão estava a dar os seus primeiros sinais de vida. Calorzinho já a rondar a barreira dos 30 graus, os primeiros escaldões do ano a darem sentido a uma paisagem que ganha a sua real dimensão quando o termómetro se anima. Nas terras onde se registou a mais alta temperatura de sempre em território português (47,4ºC na Amareleja, em 2003), o calor não é propriamente notícia, mas este ano de 2018 está a dar cabo de muitas ideias feitas…
Enfrentemos então o que o Verão tem para nos atirar contando com três bons aliados: as sombras que a Natureza e os humanos souberam criar, os planos de água onde podemos reequilibrar o termostato e os bons vinhos da região, pretexto ideal para fazer uma pausa e respirar o silêncio de uma terra imensa. A primeira paragem é na Herdade da Mingorra, onde tudo está preparado para alargar o leque de ofertas turísticas.]Um pequeno desvio do IC2 leva-nos até à Herdade da Mingorra, onde os 170 hectares de vinha acabam por nem ser a marca mais forte de uma paisagem onde encontramos oliveiras, sobreiros e – agora – também amendoeiras. Estamos a entrar numa propriedade com 1.400 hectares, na qual, além da agricultura, também a actividade cinegética (essencialmente, caça à perdiz, mas também javalis) sustenta a aposta turística. Aliás, surpresa, quando esperamos visitar uma unidade com visitas e provas de vinho, eis que encontramos um projecto já com alojamento em fase de afirmação!
A adega, situada num pequeno cabeço, a escassa distância do núcleo habitacional, funciona como pólo central da actividade agrícola e turística, concentrando os escritórios, o laboratório e todas as restantes unidades de apoio num edifício moderno e pensado para receber visitantes. Prova disso mesmo é a galeria metálica que permite dar a volta à adega lá pelo alto, enquanto ficamos a conhecer os processos de vinificação e a história dos vinhos da casa.
O aumento da produção, das actuais 900 mil garrafas/ano para umas expectáveis 1,3 milhões, impõe um alargamento do edifício e, com essa intervenção, ficam prometidas novidades também neste circuito turístico, nomeadamente o alargamento e enriquecimento do espaço da loja, que é também recepção. Já passámos pela cave de barricas e espreitámos a varanda panorâmica onde os visitantes se podem sentar para saborear um copo de vinho. A paragem seguinte fica a escassos 100 ou 200 metros de distância, mas há muito para falar durante o percurso.
Acontece que a Herdade da Mingorra há muito recebe grupos de caça e criou condições para que os visitantes pudessem pernoitar. Agora, a aposta é divulgar esta oferta e alargar o leque de visitantes que podem desfrutar desta funcionalidade. Ao todo, são quatro quartos independentes e mais dois (no espaço comum da casa de família) para quem cumpra o exclusivo programa Wine Experience. Para além dos quartos, mobilados em estilo rústico e com camas em ferro, os turistas têm ao seu dispor vários espaços comuns.
Sim, há uma sala de estar, uma cozinha e até um ginásio (!), mas o que se destaca é mesmo o belo pátio interior, enquadrado por um telheiro onde se fazem as refeições, cadeiras, mesas (cada uma com o seu guarda-sol) e um tanque de água tratada onde cabem todas as tentações de frescura. É por aqui que ficamos, de volta da mesa, dos petiscos e do vinho. As horas passam ao ritmo da conversa. Talvez soe a desculpa, mas está muito calor lá fora…

HERDADE DA MINGORRA
Herdade da Mingorra, 7800-761, Trindade, Beja
Tel: 284 952 004
Fax: 284 952 005
Mail: geral@mingorra.com
Web: www.mingorra.com
Solicita-se marcação com uma semana de antecedência para as visitas à adega com prova de vinhos, cujos preços variam entre os 17 euros por pessoa (três vinhos), os 24 euros (cinco vinhos + queijo) e os 30 euros (sete vinhos + aperitivos). A prova de seis vinhos com almoço, por 60 euros, exige um mínimo de seis participantes. O programa Wine Experience, que possibilita o contacto directo com os proprietários, tem um custo de 160 euros por pessoa (mínimo: seis participantes) e os alojamentos custam 90 (quarto single) ou 95 euros (duplo). O aluguer conjunto dos quatro quartos sai por 350 euros.
Originalidade (máx. 2): 1,5
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 3
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2

AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5
E, no entanto, é preciso seguir caminho. Não muito longo, mas rumo a uma realidade bastante diferente. Não na exuberância dos números, que agora sobem para um total de 1.620 hectares de propriedade e um milhão de garrafas/ano, mas sim na filosofia do projecto. Da exploração familiar para a unidade mais distintiva de um grande grupo hoteleiro, as diferenças são muitas, mas na Casa Santa Vitória, apesar do “peso” dos 81 quartos da unidade (Vila Galé Clube de Campo) com ela geminada, a actividade agrícola também é nuclear.
Com mais de 16.000 visitantes anuais, este é dos enoturismos alentejanos com maior movimento e se é verdade que a “colagem” a um hotel pode inflacionar os números, a verdade é que a adega e a propriedade têm todos os argumentos necessários para receber bem quem as visita. Esta é uma peça única no universo Vila Galé, grupo com três dezenas de unidades hoteleiras em Portugal e no estrangeiro, mas em breve terá companhia, quando a Quinta da Amendoeira, no Douro, for apresentada. Até lá, os vinhos do grupo são todos originários daqui – e uma parte significativa, mais de 30%, da produção, acaba por ser consumida internamente.
A adega, situada a menos de 50 metros do hotel, é espaçosa e desenhada a pensar nos visitantes (todos os corredores da área visitável são verdadeiras galerias), que podem começar a visita assistindo a um vídeo sobre o vinho – a sala onde é projectado tem janelas panorâmicas sobre a adega. E também se fazem aqui provas de azeite (há 150 hectares de olival e azeites da casa para descobrir). Depois de conhecer a adega e as caves (onde dezenas e dezenas de barricas abrigam a lenta alquimia do envelhecimento dos vinhos), saímos para um átrio mobilado com peças antigas e dirigimo-nos à loja para a prova de vinhos e petiscos.
Do outro lado do parque de estacionamento, há restaurantes, bares, quartos acolhedores, piscina, relvados, fontes, esplanadas, uma quinta pedagógica, courts de ténis, quartos ecológicos em tendas índias, picadeiro. À volta, terras agrícolas, com pomares, vinha e olival. Uma capela espreitando do outro lado do espelho de água da barragem do Roxo, onde se podem fazer passeios de caiaque. Do alto dos seus ninhos, as cegonhas presidem solenemente a esta paisagem que conjuga o melhor de dois mundos: o Alentejo rústico e o cosmopolitismo de um moderno hotel de família.[

CASA SANTA VITÓRIA
Vila Galé Clube de Campo
Herdade da Figueirinha – Santa Vitória, 7800-730 Beja
Tel: 284 970 100 / 284 970 170 (adega)
Fax: 284 970 150 / 284 970 175 (adega)
Mail: campo@vilagale.com / campo.reservas@vilagale.com
Web: www.santavitoria.pt
GPS: N37º 53º ’20’ – W8º 01′ 14′
As provas de vinho custam quatro euros por pessoa (3 vinhos Versátil), 6€ (três vinhos Santa Vitória), 11€ (quatro vinhos Santa Vitória) e 23€ (quatro varietais Santa Vitória). Regularmente, há jantares vínicos (40€), os piqueniques custam 20 ou 35€ e o programa de actividades no hotel é vastíssimo, incluindo passeios de balão, jipe, moto4 ou bicicleta, tiro aos pratos, cavalos, ténis e badmington, canoagem e gaivotas, paintball…
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 3
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2

AVALIAÇÃO GLOBAL: 18
E, por falar nisso, na ligação entre tradição e modernidade, eis chegada a altura de deixar um alerta à Câmara Municipal de Lisboa, proprietária, e à Casa Santos Lima, entidade exploradora: o título de “vinha do aeroporto”, aplicado à exploração situada junto à rotunda do Relógio, na capital, pode muito bem ser contestado pela Herdade do Monte Novo e Figueirinha, cujas vinhas se estendem na planura contígua ao novo (e polémico) Aeroporto Internacional de Beja. Na verdade, entre a saída da aerogare e a entrada da adega, mediam umas meras centenas de metros de estrada…
O volume de produção é aqui semelhante aos dois destinos visitados anteriormente: a Herdade do Monte Novo e Figueirinha (com perto de 80 hectares de vinha, aqui e na zona da Vidigueira), produz um milhão de garrafas por ano. E também se afirma em outros produtos, como o azeite (200ha de olival) ou as amêndoas (30ha). Tudo fica bem visível quando subimos ao alto da torre metálica que integra o complexo do lagar, uma “aventura” não recomendável a quem sofra de vertigens, mas que proporciona uma vista fantástica sobre a herdade.
Não é por causa do aeroporto, cujo reduzido movimento (para sermos simpáticos) não potencia a localização privilegiada da propriedade, mas a ligação especial à Alemanha (entre 1967 e 1987, a Base Aérea nº11 foi ocupada em exclusivo pela Luftwaffe, que a usava para instrução) criou aqui raízes e os alemães são o principal (e esmagador) contingente de visitantes – cerca de 15.000 por ano. À sua espera encontram uma adega com muitas histórias para contar e uma característica muito especial: uma nascente no interior, que ajuda a refrescar as instalações.
Depois de passarmos pela loja e recepção, visitamos a zona de produção do azeite (outra semelhança com os dois projectos visitados neste roteiro é a valorização crescente da vertente turística desta cultura) e entramos depois na adega. Deparamos de imediato com cinco talhas (a mais antiga data de 1843), que em breve servirão para ensaiar o primeiro vinho de talha do produtor. A sala de barricas (há mais de 400 unidades), um salão com varanda capaz de albergar uma centena de pessoas e a sala de provas com janelas panorâmicas para a zona de vinificação são os espaços mais marcantes do complexo.
Provamos alguns vinhos dos depósitos e depois regressamos ao calorzinho de Junho e à luz forte que reinam cá fora. A atmosfera é informal e familiar – bem adequada a um projecto criado por avô e neto, em 1998. Há gente a trabalhar um pouco por todo o lado, os passarinhos cantam e um Airbus está estacionado na placa do aeroporto. Até pode parecer estranho, mas tudo se encaixa.[

HERDADE DO MONTE NOVO E FIGUEIRINHA
Herdade do Monte Novo e Figueirinha, 7800-740, São Brissos, Beja
Tel: 284 311 260
Fax: 284 311 269
Mail: adega@figueirinha.pt
Web: www.figueirinha.pt
GPS: N38º03.032 – W7º55.615
A herdade está aberta a visitas de segunda a sexta-feira entre as 9 e as 13h e das 14 às 18h; ao fim-de-semana, recomenda-se marcação. As visitas ao lagar e adega, com possibilidade de provas de vinhos do depósito, são livres. Caso os clientes queiram provar vinhos específicos, ou acompanhar com petiscos, será acordado um preço.

Originalidade (máx. 2): 1,5
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 3
Arquitectura (máx. 3): 2
Ligação à cultura (máx. 3): 2
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2

AVALIAÇÃO GLOBAL: 17

ESTAÇÃO DE SERVIÇO
Com um roteiro muito curto em termos de quilometragem, concentrando-se na região sul de Beja, e uma cidade com tanto para conhecer, o mais lógico é concentrar os “reabastecimentos” sólidos e líquidos na capital de distrito. Ficam duas sugestões, uma mais típica e tradicional (A Pipa, no centro), a outra moderna e funcional (Espelho d’Água, no parque da cidade). Em comum, a atenção muito especial dedicada aos vinhos da região.
TABERNA A PIPA – Rua da Moeda, 8, Beja; 284 327 043 / 968 115 032
ESPELHO D’ÁGUA – Rua de Lisboa, Restaurante do Parque da Cidade, Beja; 284 325 103 / 966 427 113 / 917 553 487; espelho_dagua@sapo.pt

Edição nº15, Julho 2018