Casa Santos Lima-Um fenómeno da exportação

Casa Santos Lima

Estamos a 45km a Norte de Lisboa, na Quinta da Boavista, lugar da Merceana, em Alenquer, no coração e na origem deste que é um negócio multi-regional e multi-marca, fenómeno além-fronteiras, mas que tem muito mais para contar.  Texto: Mariana Lopes Fotos: Ricardo Palma Veiga A Casa Santos Lima, empresa familiar, nasceu em Alenquer, na […]

Estamos a 45km a Norte de Lisboa, na Quinta da Boavista, lugar da Merceana, em Alenquer, no coração e na origem deste que é um negócio multi-regional e multi-marca, fenómeno além-fronteiras, mas que tem muito mais para contar.

 Texto: Mariana Lopes

Fotos: Ricardo Palma Veiga

A Casa Santos Lima, empresa familiar, nasceu em Alenquer, na primeira metade do século XX, pelas mãos de Joaquim Santos Lima, cujo negócio já era o vinho desde o final do século XIX. Nessa altura produzia e exportava, sobretudo para o Brasil, onde acabou por casar com a filha do seu importador neste país, no Estado da Bahia. Depois, voltou para Portugal e comprou mais vinhas em algumas regiões portuguesas, no Dão, por exemplo, onde tinha nascido, expandindo o seu negócio. A base da empresa, formalizada por volta de 1920 e na altura com outro nome, nunca deixou de ser em Alenquer. Mas foi em 1990 que o bisneto de Joaquim, José Luís Santos Lima Oliveira da Silva — que vinha de um percurso de 20 anos de banca — a revolucionou, instituindo a Casa Santos Lima como tal, restruturando-a, replantando as vinhas e arrancando com o projecto de engarrafamento ainda nessa década, comercializando em 1996 os primeiros vinhos com marcas próprias: Quinta da Espiga, Quinta das Setencostas, Palha-Canas e alguns varietais. Durante 5 anos, ainda conjugou a actividade financeira com a Casa Santos Lima. Como o próprio diz, “sempre que podemos, compramos terreno e plantamos vinha”, o que vai de encontro ao mais recente plano de alargamento, com aquisições, parcerias e produção em regiões como o Douro, Vinhos Verdes, Alentejo e Algarve.

Casa Santos Lima
José Luís Oliveira da Silva revolucionou a Casa Santos Lima nos anos 90.

Tendo herdado o espírito empreendedor e exportador do seu bisavô, José Luís — que nos recebeu na Quinta da Boavista, ao lado do seu “braço direito” Luís Almada, administrador — transformou a Casa Santos Lima num “gigante com coração”, um grupo que hoje tem mais de 200 referências de vinho, uma produção de quase 35 milhões de garrafas por ano (mais de 25 milhões de litros no total das cinco regiões), 90% de exportação e 300 postos de trabalho. É também o maior produtor de DOC Alenquer e de vinho Regional Lisboa, detendo 55% de “quota” na região. Enquanto passeamos pelas vinhas da propriedade e arredores, fazendo uma viagem pelo universo vitícola da casa e conversando sobre a actividade nas outras regiões, percebemos que “gigante” é uma palavra que ali é apenas consequência dos números, pois é com muito “coração” que José Luís Oliveira da Silva e a sua equipa olham para a matéria-prima que cultivam e para o produto que engarrafam. “Este Alicante Bouschet vai para o Opaco”, ou “Aqui está o Castelão que entra no Palha Canas”, indica José Luís, que sabe exactamente onde está cada casta plantada e qual o seu fim. Nas várias parcelas, é possível ver o cuidado e alguns métodos característicos de produtores mais pequenos, como o enrelvamento entre linhas, por exemplo. “O enrelvamento protege da erosão e promove alguma concorrência com a vinha, o que origina maior concentração e cria uma biodiversidade que é muito positiva para a Natureza”, desenvolve José Luís.

Dos Vinhos Verdes ao Algarve

 Nas vinhas de Alenquer, região de Lisboa, a distância ao mar é de 25 quilómetros e a influência deste é grande, pois o clima torna-se temperado, com Invernos amenos e noites de Verão bem frescas. Os 400 hectares de videiras que a Casa Santos Lima tem aqui, em sua propriedade ou em parceria com mais de 90 viticultores, estendem-se por encostas entre os 110 e os 220 metros de altitude, com uma exposição solar privilegiada, dada a suavidade das inclinações. As castas são mais de 50, mas as principais passam pelas tintas Pinot Noir, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Preto Martinho, Sousão, Camarate, Syrah, Malbec e Tinto Cão; e as brancas Alvarinho, Moscatel, Antão Vaz, Rabigato, Loureiro, Roupeiro, Sauvignon Blanc, Gewürztraminer. Entre vinhos leves, brancos, rosés, tintos e colheitas tardias (Late Harvest), as marcas são dezenas, praticamente todas criadas por José Luís Oliveira da Silva, materializadas graficamente pela equipa interna de design, ocasionalmente com input externo: LAB, Azulejo, Portuga, Vale Perdido, Alteza, Valmaduro, Colossal, Confidencial, Sem Reservas, Red Blend, Duas Uvas, OMG, Portas de Lisboa, Casa Santos Lima, Cabra Cega, Touriz, Lisbonita, Joya ou Quinta das Amoras são algumas delas, a juntar às já referidas anteriormente neste texto.

Casa Santos LimaAdicionalmente, a Casa Santos Lima explora também a famosa “Vinha do Aeroporto”, dois hectares junto ao aeroporto da capital — com Arinto, Touriga Nacional e Tinta Roriz — que dão origem ao vinho Corvos de Lisboa.

Na região dos Vinhos Verdes, em Lousada, o grupo explora a Casa de Vila Verde, sob a égide de uma empresa criada para esse efeito e com o mesmo nome. Esta quinta, com 44 hectares de vinha, tem plantadas sobretudo as variedades Espadeiro, Vinhão, Touriga Nacional, Arinto, Loureiro, Trajadura, Avesso e Alvarinho. Com elas, produzem-se os vinhos Pluma, Tiroliro, Espada, Cardido ou Casa de Vila Verde, entre outras marcas comuns a mais regiões.

Desde 2011 que a Casa Santos Lima é sócia da Quinta de Porrais, no Douro, propriedade em Murça que pertenceu a Dona Antónia Adelaide Ferreira e que hoje ainda está, em parte, na sua família. Esta quinta tem 35 hectares de vinha, com idade média de 65 anos, plantada em solos de xisto e quase todas a 600m de altitude, com as castas brancas (60%) Rabigato, Códega do Larinho, Viosinho e Verdelho; e as tintas Touriga Nacional, Touriga Francesa, Sousão e Tinta Barroca. No entanto, em toda a região, a Casa Santos Lima trabalha cerca de 100 hectares de vinha. Os vinhos durienses do grupo têm os nomes “Quinta de Porrais”, “Porrais” ou “Vinhas de Murça”, sendo o enólogo consultor Francisco Olazabal (Vale Meão), e Jaime Quelhas, o residente.

Já no Alentejo, a Casa Santos Lima escolheu a zona de Beja, onde explora 150 hectares de vinhedos em solos argilo-xistosos. O clima é bem agreste aqui, como sabemos, tanto no Inverno como no Verão, e as castas presentes nestas parcelas são as tintas Touriga Nacional, Tinta Roriz, Petit Verdot, Syrah, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon; e as brancas Arinto, Viosinho, Verdelho, Antão Vaz, Fernão Pires e Sauvignon Blanc. É daqui que saem os vinhos Valcatrina, Fortíssimo, Caçada Real, Palaios, Monte das Promessas, Rebelde, Primoroso, Coccinela, Quid Pro Quo, entre outros.

Por fim, o grupo detém, em Tavira, região do Algarve, 45,7 hectares de vinha própria e a exploração de outros 6,5, em solos secos, de arenito vermelho e amarelo. As castas Touriga Nacional, Tinta Roriz, Negra Mole, Syrah, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Arinto, Viosinho, Verdelho e Alvarinho dão origem aos vinhos Al-Ria, Portas da Luz, Barrocal ou Talabira do Algarve. “Todos os anos plantamos vinha nova ou restruturamos parcelas. Só nos últimos dois anos, plantámos, no total das regiões, mais de 70 hectares”, afirma José Luís, que refere ser já responsável por cerca de 30% de todo o vinho produzido no Algarve…

História encontra tecnologia

É muito curiosa a facilidade com que se observa, na Quinta da Boavista, a passagem dos tempos e das gerações. Na parte mais alta, situa-se a casa original, construída nos anos 30 por José Santos Lima, avô de José Luís. Tímida, a casa esconde atrás de plantas trepadeiras a face mais exposta aos visitantes, e respira pelo lado virado para uma paisagem quase infinita, de vinhas multicor e agregados de casas espalhados pela manta de retalhos. Ao seu lado, um curioso jardim de grandes pedras arredondadas dispostas num círculo, a sugerir que foi ali invocada, de alguma forma, a mãe-natureza. Mas isto nem José Luís Oliveira da Silva consegue explicar…

Logo a seguir à casa, está a primeira adega da quinta, com mais de 90 anos, uma de um total de três adegas próprias nesta região, além da adega nova, um pouco mais abaixo da primeira, e das instalações da antiga Adega Cooperativa da Merceana, compradas pela Casa Santos Lima.

A adega nova foi criada de raiz na Quinta da Boavista, construída a tempo da vindima de 2014. Toda ela está bastante automatizada, feita numa disposição vertical e com parte da mesma enterrada, o que além de potenciar os movimentos por gravidade, mantém mais facilmente as temperaturas ideais. Os quatro enormes depósitos de 250 mil litros são também pilares de sustentação do edifício, que alberga outros de 100 e 30 mil litros, bem como cerca de mil barricas distribuídas por vários locais. Luís Almada explica que a vindima é sempre feita por variedade, para que a vinificação seja também feita, em todos os casos, separadamente.

Por sua vez, as instalações da antiga Adega Cooperativa foram totalmente reequipadas desde a sua aquisição — com dezenas de cubas, quatro prensas, filtros e muito mais — constituindo, de acordo com José Luís Oliveira da Silva, “uma parte muito importante da operação da Casa Santos Lima”.

Ainda na Quinta da Boavista, um dos armazéns acolhe uma linha de engarrafamento e embalamento impressionante, que ocupa todo o espaço disponível, em várias direcções. Quando lá entrámos, o entusiasmo foi imediato, qual criança a chegar a um parque de diversões. Logo ao início, as grandes e altas máquinas de rotulagem chamam a atenção, pois assemelham-se aos robôs das farmácias mas, em vez de medicamentos, vão ao interior buscar o rótulo que é pedido. Mas há várias estações de rotulagem, não só de rótulo e contra-rótulo, mas também de medalhas obtidas em concursos e na imprensa. Como é natural numa empresa desta dimensão, há também uma produção significativa de bag-in-box (cerca de ⅓) e de um formato que, mais recentemente, se tornou popular, o “pouch”, que se assemelha a uma bolsa com pega. Com 9 mil garrafas cheias por hora, a Casa Santos Lima “não engarrafa para stock, é tudo para saída imediata e com destino definido”, informa José Luís, e acrescenta que “com a pandemia de Covid-19, aumentámos muito as vendas para níveis que ainda se mantêm”. Isto deve-se ao facto de a maior parte dos clientes que têm nos principais mercados — EUA, Finlândia, Suécia e Noruega — não terem sido impactados negativamente pela pandemia. Nos três mercados escandinavos de monopólio, a Casa Santos Lima é o maior produtor português e, na Finlândia, o vinho mais vendido, de todo o Mundo, é o Duas Uvas Premium, que provamos no final desta reportagem. Em virtude deste crescimento, na continuação destes armazéns, está neste momento a ser construído mais um, com 11 mil metros quadrados.

O que o futuro reserva

 Mas a expansão não pára nas cinco actuais regiões, e a Casa Santos Lima está em processo de alargamento para os Açores, com vinhas já compradas na ilha do Pico. Além disto, há um projecto para construir uma adega na região dos Vinhos Verdes e outra no Douro, e um plano de Enoturismo para Tavira, no Algarve.

Antes de irmos embora, deixamos uma pergunta mais pessoal a José Luís Oliveira da Silva. “Quais os vinhos da casa, que mais gosta de beber?”, interrogámos. Perante a natural hesitação de alguém que tem orgulho em tudo o que produz, o CEO acabou por retorquir: “Nos brancos, os varietais Casa Santos Lima Sauvignon Blanc e Gewürztraminer, e o Essencial Reserva; nos tintos, o Touriz e o Quid Pro Quo. Nos rosés, varia muito…”.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2022)

“Vinha do Aeroporto” será vindimada amanhã

É já amanhã, dia 16 de Setembro, que se vai realizar a vindima no Parque da Vinha de Lisboa, local mais conhecido por “Vinha do Aeroporto”. A colheita irá iniciar com casta branca Arinto, seguindo-se as tintas Touriga Nacional e Tinta Roriz.  Este foi um projecto que nasceu de um protocolo entre o Município de […]

É já amanhã, dia 16 de Setembro, que se vai realizar a vindima no Parque da Vinha de Lisboa, local mais conhecido por “Vinha do Aeroporto”. A colheita irá iniciar com casta branca Arinto, seguindo-se as tintas Touriga Nacional e Tinta Roriz. 
Este foi um projecto que nasceu de um protocolo entre o Município de Lisboa e a Casa Santos Lima, e que deu origem ao vinho Corvos de Lisboa, em branco e tinto, produzido e comercializado pela empresa.Segundo a comunicação da Casa Santos Lima, na vindima do ano passado a colheita traduziu-se em cerca de 20 toneladas de uva (tinta e branca), “estando prevista também para este ano uma boa vindima”.

Casa Santos Lima destaca-se nos EUA com vinho Red Blend Portugal

O vinho tinto “Blend Portugal”, produzido pela Casa Santos Lima (CSL), foi escolhido pelo blogger Mike Veseth, como o primeiro a fazer parte do TOP 10 dos melhores vinhos abaixo dos 10 dólares à venda nos Estados Unidos da América. Mike Veseth, editor do blog The Wine Economist, lançou o desafio aos seus leitores de […]

O vinho tinto “Blend Portugal”, produzido pela Casa Santos Lima (CSL), foi escolhido pelo blogger Mike Veseth, como o primeiro a fazer parte do TOP 10 dos melhores vinhos abaixo dos 10 dólares à venda nos Estados Unidos da América.

Mike Veseth, editor do blog The Wine Economist, lançou o desafio aos seus leitores de nomearem os seus vinhos preferidos com valor inferior a 10 dólares até final de Abril, momento em que irá publicar o seu TOP 10.

Wine Economist Red Blend Portugal

 

Mal iniciou este desafio, Mike Veseth avançou com a sua escolha e com o primeiro vinho tinto da lista, o Vinho Regional Lisboa “Blend Portugal”, que descreveu da seguinte forma:
“Para começar vou nomear o Blend Portugal da Casa Santos Lima, que podemos comprar na Costco [nota: cadeia de retalho americana] por $5,99 por garrafa. Durante o Verão passado, bebemos uma caixa deste vinho – ligeiramente fresco – a acompanhar churrasco e mais recentemente, já na quarentena, bebemos novamente este vinho (…)”. O ‘bebemos’ de Mike Vesh inclui a mulher, Sue, que também participa no blog. E eventualmente alguns amigos, claro. Pode ler o artigo completo neste site.

A Casa Santos Lima diz que “Blend Portugal é uma das marcas portuguesas mais vendidas nos Estados Unidos da América”. De destacar os 90 pontos atribuídos por Roger Voss, da revista Wine Enthusiast, para as colheitas de 2017 e 2018 desta marca.

O comunicado de imprensa da CSL refere ainda boas notícias: “apesar das conhecidas condicionantes da realidade atual, as exportações de vinho da Casa Santos Lima para os EUA, o seu maior mercado, têm crescido de forma considerável”.

Sucesso para vinhos lusos no Berliner Wein Trophy

Berliner Wein Trophy

Este concurso alemão vangloria-se de ser o maior do mundo com as regras da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV). Tem duas fases de provas: uma no Verão e outra no Inverno, a que estes resultados se reportam. A prova decorreu na Alemanha durante 4 dias, de 20 a 23 de Fevereiro, englobando […]

Este concurso alemão vangloria-se de ser o maior do mundo com as regras da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV). Tem duas fases de provas: uma no Verão e outra no Inverno, a que estes resultados se reportam. A prova decorreu na Alemanha durante 4 dias, de 20 a 23 de Fevereiro, englobando cerca de 400 provadores.

A organização (DWM – Deutsche Wein Marketing) limitou o ano passado o número de entradas a 7.000, por razões de qualidade da prova. Na verdade, o número das provas de Inverno acabou por ser um pouco maior, com 7.590 vinhos, oriundos de 34 países.
No total, foram atribuídas 2. 113 medalhas neste concurso, incluindo 26 Grande Ouro (2 para Portugal), 1.924 Ouro (124 para Portugal) e apenas 163 Prata (6 para Portugal). O baixo número de ‘pratas’ tem a ver com as regras da OIV, que limitam o número de prémios a apenas 30% do total em prova. Como houve muitos vinhos com pontuação para Ouro, a quota de medalhas foi primeiro para estes e só depois para os ‘Pratas’, que ficaram com os ‘restos’.

Em termos de países e número de medalhas, as 132 medalhas portuguesas só foram superadas pela Itália (455), Espanha (385), Alemanha (371) e França (285). Qualquer destes países com muito maior produção que Portugal (Alemanha não tanto, mas estava a ‘jogar em casa’).

Destaque ainda para os Prémios Especiais, os troféus. Conforme os resultados de cada produtor (normal, orgânico, de espumante), cooperativa, retalhista e distribuidor, assim são atribuídos estes troféus. Para se ficar com uma ideia, para ter um troféu, um produtor tem que ter, pelo menos, 3 medalhas de Ouro. Uma Cooperativa passa a 5. Nos dois casos portugueses, tanto a Casa Santos Lima como a Coop. Agr. Sto. Isidro de Pegões cumpriram e excederam largamente estes requisitos. A Casa Santos Lima conseguiu 9 medalhas de Ouro, quase tantas como Pegões, com 10 medalhas de Ouro!

Pode ver todos os resultados no site da organização.

Prémios especiais (Troféus) para Portugal
Produtor: Casa Santos Lima
Cooperativa: Coop. Agr. Sto. Isidro de Pegões

Medalha Grande Ouro
Quinta da Devesa Vinhas Velhas Douro tinto 2013
Quinta da Gaivosa Porto LBV 2015

Mundus Vini: Cantanhede em grande

Primeiro dia de provas no Mundus Vini 2020 (cortesia Ralf Ziegler - Ad Lumina)

Já terminou a 26ª edição do concurso alemão Mundus Vini – Spring Tasting. O contingente vínico português não se portou nada mal, trazendo para casa 5 Grandes Medalhas de Ouro (das 43 atribuídas), 140 de Ouro (das 1.546) e 130 de Prata (das 1.406). Para conseguir uma Grande Medalha de Ouro, um vinho tem que […]

Já terminou a 26ª edição do concurso alemão Mundus Vini – Spring Tasting. O contingente vínico português não se portou nada mal, trazendo para casa 5 Grandes Medalhas de Ouro (das 43 atribuídas), 140 de Ouro (das 1.546) e 130 de Prata (das 1.406). Para conseguir uma Grande Medalha de Ouro, um vinho tem que receber, pelo menos, 95 pontos (numa escala até 100). Daí até aos 90 pontos leva Ouro.
A Itália foi o país que levou mais distinções, com 658. A seguir ficou a Espanha (631) e a França (325), Portugal (286) e a Alemanha (239). A organização informou também do número de amostras de cada país: Itália (1.747), Espanha (1.543), França (819), Portugal (724) e Alemanha (620).
Entraram quase 7.500 vinhos, de 45 países, que foram avaliados por um conjunto de 268 provadores, oriundos de 54 países diferentes. A competição durou uma semana e desenrolou-se em Neustadt.
Destaque, em termos de qualidade dos prémios, para a Adega de Cantanhede, responsável por 3 dos 5 Grande Ouro e o Best of Show Bairrada. Esta casa bairradina trouxe ainda dois ‘Ouros’ e duas ‘Pratas’. Curiosamente (ou não), a Vinho Grande Escolhas tinha atribuído, uma semana antes, o prémio Grandes Escolhas Cooperativa de 2019 a esta mesma empresa. A Casa Santos Lima também se destacou, trazendo 28 medalhas (!): 8 de Ouro e o restante de Prata.
Veja agora as principais medalhas que vieram para Portugal, as Grande Ouro. Além destas, alguns vinhos levaram, ao mesmo tempo, a distinção Best of Show, indicando que foi o melhor na sua região/denominação.
Pode consultar todos os resultados no site da organização.
(texto de António Falcão.  Foto cortesia Ralf Ziegler – Ad Lumina)

Grande Ouro e Best of Show Douro
Carm Reserva tinto 2017 (Casa Agr. Roboredo Madeira)

Grande Ouro e Best of Show Bairrada
Foral de Cantanhede Baga Grande Reserva tinto 2011 (Adega de Cantanhede)

Grande Ouro
Marquês de Marialva Grande Reserva tinto 2013 (Adega de Cantanhede)
Colinas de Ançã Baga Reserva tinto 2015 (Adega de Cantanhede)

Grande Ouro e Best of Show Tawny Port
Quinta do Pego Porto Colheita 2011 (Quinta do Pégo)

Rosés Casa Santos Lima distinguidos pelo Washington Post

Os vinhos rosé Confidencial Reserva e LAB, foram distinguidos como duas das três melhores escolhas do mundo, na categoria rosés, para a Primavera/Verão de 2019, pela publicação norte-americana The Washington Post. Na descrição que faz do Confidencial Reserva, Dave McIntyre, colunista no Washington Post e especializsta em vinhos, ressalta que este vinho é “Muito bem […]

Os vinhos rosé Confidencial Reserva e LAB, foram distinguidos como duas das três melhores escolhas do mundo, na categoria rosés, para a Primavera/Verão de 2019, pela publicação norte-americana The Washington Post.
Na descrição que faz do Confidencial Reserva, Dave McIntyre, colunista no Washington Post e especializsta em vinhos, ressalta que este vinho é “Muito bem produzido, de cor rosa pálido, leve, fresco, descomplicado para um consumo do dia-a-dia”.
Relativamente ao LAB Rosé, o mesmo colunista descreve-o como uma excelente compra: “(…) procure este vinho com personalidade atractiva e cativante, com uma excelente relação preço/qualidade e aromas intensos a frutos vermelhos, que o transportará para os dias de lazer de Primavera/Verão. A garrafa que provei parecia ter uma fuga, pois ficou vazia muito rapidamente!”.
As marcas LAB e “Confidencial Reserva”, são referências que têm elevado sucesso comercial nos Estados Unidos e também em outros mercados.

Foto de Stacy Zarin Goldberg para The Washington Post

96 medalhas lusas em concurso francês

hallenge International du Vin

O concurso chama-se Challenge International du Vin 2019 e esta foi a 43ª edição, disputado no Palácio dos Congressos de Bordéus, França, a 12 e 13 de Abril. A organização cabe à empresa Concours Des Vins (CDV). Durante dois dias, cerca de 560 provadores franceses e estrangeiros avaliaram perto de 3.600 vinhos de todo o […]

O concurso chama-se Challenge International du Vin 2019 e esta foi a 43ª edição, disputado no Palácio dos Congressos de Bordéus, França, a 12 e 13 de Abril. A organização cabe à empresa Concours Des Vins (CDV). Durante dois dias, cerca de 560 provadores franceses e estrangeiros avaliaram perto de 3.600 vinhos de todo o mundo. No total, foram atribuídas 1.120 medalhas, entre Ouro, Prata e Bronze.
Os vinhos portugueses não se saíram mal, trazendo 52 medalhas de Ouro, das 674 atribuídas.
De Prata foram atribuídas 361 medalhas no geral e os vinhos portugueses trouxeram 31. Finalmente, no Bronze, houve 85 no geral e 13 para Portugal. O produtor português mais premiado foi a Casa Santos Lima, que só à sua conta trouxe 14 medalhas de ouro! Nenhum outro produtor português conseguiu passar dos 4 Ouros. Mas, verdade seja dita, também não sabemos quantas amostras enviou cada uma das casas lusas para este concurso. Pode consultar todos os resultados no site do concurso.

Lisboa premeia 48 vinhos no concurso anual 2018

Um total de 48 vinhos foram premiados no Concurso Vinhos de Lisboa 2018, organizado pela Comissão Vitivinícola da Região (CVR) de Lisboa e pela Confraria de Enófilos da Estremadura – Vinhos de Lisboa. Entre um total de 150 vinhos a concurso, foram entregues 34 medalhas de ouro e 14 de prata. As distinções de ouro […]

Um total de 48 vinhos foram premiados no Concurso Vinhos de Lisboa 2018, organizado pela Comissão Vitivinícola da Região (CVR) de Lisboa e pela Confraria de Enófilos da Estremadura – Vinhos de Lisboa. Entre um total de 150 vinhos a concurso, foram entregues 34 medalhas de ouro e 14 de prata.

As distinções de ouro foram entregues a 15 vinhos brancos, 16 vinhos tintos, 1 espumante e 2 aguardentes com Denominação de Origem, o que significa que todos registaram avaliações entre os 88 e os 95 pontos. As 14 medalhas de prata foram atribuídas a 4 vinhos brancos e 10 tintos, o que se traduz numa classificação que oscilou entre os 83 e os 87 pontos. 

“A região de Lisboa está muito sólida na sua qualidade e diversidade, como se denota pelo nível muito elevado dos vinhos apresentados a concurso, o que revela fundamentalmente um grau muito elevado de exigência dos produtores e agentes económicos dos vnhos de Lisboa”, adianta Bernardo Gouvêa, presidente da CVR Lisboa. O presidente da Confraria de Enófilos da Estremadura – Vinhos de Lisboa, José Afonso, salientou também “a qualidade muito elevada que, de ano para ano, se reforça na apresentação de vinhos, sobretudo de novos produtores que se apresentam a concurso”.

Os produtores em maior destaque foram a Quinta do Gradil (três ouro nos vinhos brancos), a Casa Santos Lima (quatro ouro entre os tintos) e a Quinta do Rol (ouro nos brancos, nos rosés e nas aguardentes). O júri do concurso foi formado por 12 elementos ligados ao mundo do vinho.

Adega do Cartaxo brilha no concurso Mundus Vini

Mundus Vini Spring Tasting 2018

Os vinhos da Adega do Cartaxo ficaram especialmente bem cotados no concurso Mundus Vini Spring Tasting, que se celebrou recentemente na Alemanha. Das quatro medalhas portuguesas Grande Ouro – o prémio máximo – a Adega do Cartaxo trouxe três! (A quarta foi para o Douro, para o duriense Quinta da Gaivosa 2013). Não contente com […]

Os vinhos da Adega do Cartaxo ficaram especialmente bem cotados no concurso Mundus Vini Spring Tasting, que se celebrou recentemente na Alemanha. Das quatro medalhas portuguesas Grande Ouro – o prémio máximo – a Adega do Cartaxo trouxe três! (A quarta foi para o Douro, para o duriense Quinta da Gaivosa 2013). Não contente com isto, a Adega do Cartaxo conseguiu ainda 6 medalhas de Ouro. Outro produtor que se saíu muito bem foi a Casa Santos Lima, conquistando 11 medalhas de Ouro e o título de “Melhor Produtor Português”. A Adega de Cantanhede, com 10 Ouros, ficou logo a seguir.
Portugal trouxe 321 medalhas no total, entre as 2.702 atribuídas (cerca de 11,9% do total). Para além das 4 Medalhas Grande Ouro (das 33 atribuídas), os vinhos lusos conseguiram 130 de Ouro (1.102) e 187 de Prata (1.575). A organização atribuiu ainda a designação “Best of Show” para o vinho melhor classificado dentro de determinada região ou denominação.
O concurso decorreu em finais de Fevereiro na Alemanha e contou com a participação de quase 6.770 vinhos de mais de 150 regiões produtoras de vinho de todo o mundo. Os vinhos foram avaliados por um conjunto de 270 provadores de mais de 40 países diferentes. (AF)

Grand Gold para vinhos portugueses
Quinta da Gaivosa tinto 2013 (Alves de Sousa) (Best of Show Douro)
Bridão Touriga Nacional Tejo tinto 2015 (Adega do Cartaxo) (best of Show Tejo)
Coudel Mor Tejo Reserva tinto 2015 (Adega do Cartaxo)
Bridão Tejo Reserva tinto 2015 (Adega do Cartaxo)

Gold e “Best of Show”
Best of Show Vinho Verde
Quinta da Raza Alvarinho Trajadura branco 2017 (Quinta da Raza)
Best of Show Bairrada
Quinta dos Abibes Reserva tinto 2013 (Quinta dos Abibes)
Best of Show Dão
Titular Reserva tinto 2015 (Caminhos Cruzados)
Best of Show Lisboa
Touriz tinto 2014 (Casa Santos Lima)
Best of Show Reg. Alentejano
Blog Alicante Bouschet e Syrah tinto 2015 (Tiago Cabaço)
Best of Show Alentejo
Herdade do Peso Essência do Peso tinto 2015 (Sogrape Vinhos)
Best of Show Port
Cálem Porto Colheita 1998 (Sogevinus)

Fulgor lisboeta

O percurso da Casa Santos Lima é, no mínimo, brilhante. Graças a uma gestão cuidada e rigorosa, vem crescendo desde a sua fundação nos tempos modernos, há menos de 30 anos. Com muitos, muitos prémios à mistura…   TEXTO António Falcão NOTAS DE PROVA João Paulo Martins FOTOS Ricardo Palma Veiga QUANDO chegámos à Quinta […]

O percurso da Casa Santos Lima é, no mínimo, brilhante. Graças a uma gestão cuidada e rigorosa, vem crescendo desde a sua fundação nos tempos modernos, há menos de 30 anos. Com muitos, muitos prémios à mistura…

 

TEXTO António Falcão NOTAS DE PROVA João Paulo Martins FOTOS Ricardo Palma Veiga

QUANDO chegámos à Quinta da Boavista, a cerca de 15 quilómetros a leste de Torres Vedras, a azáfama estava no auge, por causa das vindimas. A sede da Casa Santos Lima (CSL) exibe um alargado conjunto de edifícios, onde pontua a recente adega que contrasta, de forma elegante, com os imóveis de traça mais antiga que quase a rodeiam.

José Luís Oliveira da Silva não estava mas chega pouco depois, montado numa moto 4. Tinha acabado de vir das vinhas, controlando trabalhos e verificando maturações.

Ninguém suspeitaria de que estamos a falar de um ex-executivo, com trabalho internacional, transformado em produtor de vinhos. Até 1990, o mundo profissional deste gestor girava à volta da finança. Em grande parte localizado em Londres, uma das maiores praças financeiras mundiais. A partir desse ano, José Luís e uma tia ficaram com esta quinta e o gestor decide mudar de vida.

Do património constavam 60 hectares de vinha, usada sobretudo para fazer vinhos a granel, que por aqui eram produzidos por familiares desde o século XIX. O encepamento tinha pouco interesse para quem quisesse fazer vinhos mais ambiciosos. José Luís ficou assim com um problema: o que fazer? Estudar foi uma das vias, mas a outra foi ouvir quem já estava no mercado há muitos anos. O experiente e pragmático Luís Pato foi, por exemplo, um grande auxílio, que José Luís ainda hoje agradece.

Uma das primeiras resoluções foi assim a completa reestruturação da vinha, com a entrada de novas castas, consideradas mais nobres e com maior interesse enológico. Muitas experiências foram feitas, umas com grande sucesso, outras nem por isso. Mas a filtragem gerou a qualidade.

A área de vinha foi também crescendo e, com ela, foi-se alargando o portefólio ampelográfico. A CSL chegou a ter a maior colecção de monovarietais do país. Hoje a quinta tem 250 hectares e um larguíssimo leque de castas, tintas e brancas. A área de terra também cresceu, claro, e a última ‘grande’ aquisição foi na freguesia da Bemposta, em direcção ao Atlântico. A propriedade não tinha vinha e por isso foram plantados mais 40 hectares. Se tal não fosse suficiente, nestes últimos anos a empresa foi produzindo vinhos em outras regiões do país, através de compra ou parcerias com famílias locais. Hoje, para além de Lisboa, a Casa Santos Lima produz e vinifica no Alentejo, Douro e Vinhos Verdes. E também no Algarve, um dos projectos mais recentes, mas que tem sido dos mais bem-sucedidos. No total, explora directamente cerca de 400 hectares de vinha!

A aposta na internacionalização
Pelo caminho, a Casa Santos Lima foi lançando novos vinhos, abraçando outros mercados. “As coisas foram acontecendo sem qualquer plano”, revelou-nos o homem forte da CSL. Mas começaram bem, com o mercado londrino, onde o gestor fez as primeiras vendas. Rapidamente se estendeu a outros países, conquistando consumidores como poucas empresas do sector. Hoje o portefólio de marcas supera a centena e as vendas os milhões de garrafas. A esmagadora maioria dos vinhos (cerca de 90%) vai para exportação, para perto de 50 países nos 5 continentes. E a Casa Santos Lima é hoje a empresa que mais vinhos certifica na CVR de Lisboa.

Talvez a sua marca principal seja a qualidade geral que os néctares ostentam, apesar de, na sua maioria, serem vinhos de preços bastante acessíveis. A amostra que avaliamos em baixo constitui uma pequena parte do portefólio total e estão todos dentro de segmentos superiores em termos de preço.

A nível internacional, poucos produtores portugueses podem ombrear com a notoriedade que a CSL possui. O sucesso dos vinhos não é o único factor aqui em consideração. A aposta é muito forte em concursos internacionais (milhares de euros anuais) e a CSL tem conseguido ocupar lugares cimeiros no único ranking conhecido de empresas de vinhos de todo o mundo. Em 2016 ficou em 3º lugar, este ano em 2º!

Em termos de vinhos, a CSL tem também lugar de destaque: o seu tinto Valcatrina 2014 ficou em 15º lugar da lista dos 100 mais medalhados, o melhor entre os portugueses e alcançando o primeiro lugar mundial se apenas considerarmos tintos de lote. Outro vinho da casa, o Colossal Reserva tinto 2014, ficou em 25º lugar.

Um feito impressionante se considerarmos que o ranking World Ranking Wines and Spirits é elaborado com base nos resultados dos concursos internacionais de vinhos ocorridos durante o respectivo ano. Quantas mais e melhores medalhas recebem os vinhos de um produtor, mais sobe a posição no ranking desse mesmo produtor. O ranking é elaborado pela Associação Mundial de Jornalistas e Escritores de Vinhos e Licorosos.

Pode argumentar-se que a constante presença nos concursos ajuda (e muito) a esta posição. Ou pode ainda considerar-se que muitos e prestigiados produtores não enviam vinhos para concursos e/ou que alguns que o fazem não enviam os seus melhores e mais caros vinhos. É verdade e abundam esses casos. Mas, não havendo um ranking mais fiável, este é o melhor indicador que conhecemos sobre a valia vínica de uma empresa…

Avançar passo-a-passo
Nada foi feito com grandiosidade ou ostentação. Tanto a(s) adega(s), como a vinha (área e encepamento) foram crescendo à medida das necessidades. Ou seja, não foram feitos investimentos desnecessários. Só em 2014 foi construída a nova adega na Quinta da Boavista e nesta altura está a ser terminado um generoso espaço de armazenamento, com muitos milhares de metros quadrados de área coberta. Pelo meio, José Luís foi usando antigos espaços de armazenamento na região, que levaram remodelações para acomodar muitos milhares de litros de vinho.

A enologia na região de Lisboa está a cargo Diogo Sepúlveda, um jovem técnico que, a julgar pelos produtos, está a liderar uma equipa de adega de grande qualidade. A equipa de campo é também bastante jovem, tal como quase toda a restante equipa, incluindo a bonita e completa loja de vinhos.

Usar o que está bem
Tentamos resumir em pouco espaço uma história com quase 30 anos. Muito mais haveria para contar e certamente muito mais existirá para a frente. Com crescimentos constantes, ano após ano, a Casa Santos Lima ainda irá dar muito que falar. O mercado nacional, outrora pouco relevante na organização, vai ser alvo de maior atenção para o futuro, uma boa notícia para os enófilos nacionais. A ingressão comercial nos Estados Unidos está a correr tão bem que o mercado americano será já este ano o maior da casa. Há por isso ainda muito espaço para crescer. Nada que faça José Luís Oliveira da Silva ficar com mais alguns cabelos brancos: o líder de toda esta operação já está habituado a desafios complicados e provou que sabe como os conseguir superar. Mas, refere ele, “há mais de 20 anos, não imaginava estar onde estamos hoje. Foi acontecendo…”

Os Corvos de Lisboa
Às oito da manhã do passado dia 24 de Agosto, pudemos assistir a uma das vindimas mais ‘sui generis’ deste país. Presentes o vereador da Câmara Municipal de Lisboa (CML) José Sá Fernandes, de tesoura na mão, e o líder da Casa Santos Lima, José Luís Oliveira da Silva, representando, respectivamente, a entidade proprietária da vinha (a CML) e a empresa que a explora. Estamos na chamada Vinha do Aeroporto e o vinho que dela sairá também já tem nome: Corvos de Lisboa.

Os próprios vindimadores estavam surpresos com a actividade constante dos aviões que aterravam ali ao pé, a menos de um quilómetro de distância. Mais perto ainda, o trânsito da congestionada 2ª Circular ajudava a criar um ruído ambiente que certamente contrasta com a calma a que estão habituados os vindimadores presentes, vindos da zona de Alenquer.

Toda a uva foi apanhada nesse dia, recolhendo-se cerca de 15 toneladas de Arinto, Tinta Roriz e Touriga Nacional, dos dois hectares de vinha. “E até poderia ser mais, mas a passarada (pombos bravos, rolas, estorninhos, entre outros) fartou-se de comer uvas”, dizia-nos José Vicente, um dos dois jovens técnicos que orientavam os trabalhos de vindima, realizados por uma equipa de 20 pessoas. João Duarte era o outro.

As uvas foram para a adega da Casa Santos Lima, ao pé da Aldeia Galega da Merceana, onde foram vinificadas. Esta é a segunda vindima e o vinho proveniente da primeira estará prestes a sair para o mercado (e para CML, que vai ficar com uma parte). Esta vinha tem ainda sido usada como educação para crianças e idosos. Neste último grupo, por exemplo, têm surgido reacções muito interessantes de gente que há muitas décadas não pisava uma vinha e ali teve hipótese de regressar, nem que seja por momentos, a felizes tarefas de infância em outros lugares do país. Só isso já faz valer a pena ter plantado esta vinha…

6 perguntas a José Luís Oliveira da Silva
A Casa Santos Lima tem vindo a crescer ano após ano. Quais são os factores chave para conseguir singrar em mercados tão competitivos?

Procuramos surpreender o cliente pela positiva, entregando uma qualidade acima do que ele esperaria pagar. Isto foi acompanhado de uma política multimarca e multi-região, que suscita mais oportunidades de negócio. Por exemplo, um consumidor que quer provar um vinho do Algarve acaba por provar também outros do portefólio. Depois temos vinhos muito diferentes, graças a mais de 50 castas (só aqui, em Alenquer). Finalmente, a imagem também contribuiu: temos da mais clássica à mais moderna, do popular ao sofisticado. E assim muitas pessoas não se apercebem de que duas garrafas nossas, lado-a-lado, vêm do mesmo produtor.

Que importância tem a viticultura na criação dos preços? E na qualidade dos vinhos?
Muita. Precisamos de escala na viticultura. Para além da área, que é grande, a região de Alenquer tem condições extraordinárias para a produção de uvas de qualidade, com vales que mantêm humidade para a devolver à planta ao longo do ano. E isso permite-nos, por exemplo, não precisar de rega, o que, logo à partida, é uma economia de custos. Esta vantagem é transferida, em termos de preço, para o consumidor final.

A enorme variedade de marcas e vinhos leva a que alguém já tenha dito que “é tudo igual”. Como reage a essas críticas?
Ignoro ou não dou muita importância. Ficaria preocupado se os nossos importadores e consumidores tivessem essa opinião. Pelo número de castas e de operações de adega – altura de vindima, método de vinificação, o tempo e o tipo de estágio (madeira nova ou usada, por exemplo), lote final, etc – fazemos vinhos diferentes, mesmo que o estilo possa ser semelhante. Isso tem sido confirmado em muitos concursos internacionais e em críticas de revistas especializadas. E várias vezes contra vinhos que à partida seriam bem mais prestigiados… Por outro lado, o cliente não gosta de ser enganado e se puder comprar qualidade por 10, não vai para o de 20. E se foi enganado uma vez, não volta lá.

No meio do portefólio, onde é que se ganha dinheiro?
Em cada garrafa, da maior produção à mais pequena. Será que eu poderia comercializar milhões de garrafas a 10 euros cada? Poderia, mas não ia vender. Esses vinhos chegam às prateleiras a preços fora do alcance da generalidade dos consumidores. Nós também produzimos vinhos para momentos mais especiais, mas produzimos sobretudo para consumo diário; ora, existem muitos mais dias ‘normais’ do que ‘especiais’. Repare ainda que a imagem de Portugal nos vinhos ainda não é a que desejaríamos. Por isso parto logo em desvantagem. A solução é oferecer melhores vinhos do que os meus concorrentes internacionais, ao mesmo preço.

Se a Quinta da Boavista estivesse em outra região, acha que a sua vida seria mais fácil?
Se a minha estrutura de clientes fosse nacional, seria uma mais-valia. Mas como é sobretudo estrangeira, os nomes das regiões não têm o peso que têm aqui. Nos mercados nórdicos, por exemplo, o vinho português que mais vende não é do Alentejo ou do Douro.

Se o consumidor estrangeiro não liga às regiões, porquê estender-se a outras fora de Lisboa?
Porque muitos dos nossos importadores (e eles sabem) nos pediam vinhos de outras regiões. Mas a única que surgiu de minha iniciativa foi o Algarve, por questões pessoais e familiares. As outras foram-me propostas. E posso dizer que somos regularmente confrontados com ofertas em outras regiões, mas não podemos fazer tudo ao mesmo tempo…