Viúva Gomes, restaurando Colares

Viúva Gomes, a clássica marca de Colares fundada em 1808 e adquirida em 1988 pela família Baeta, continua a renovar-se com os olhos colocados na tradição. Ou, como dizem, José e Diogo Baeta, pai e filho, “a fazer o futuro com o passado”. Desta vez, esse revisitar da história passou pela plantação de uma nova […]

Viúva Gomes, a clássica marca de Colares fundada em 1808 e adquirida em 1988 pela família Baeta, continua a renovar-se com os olhos colocados na tradição. Ou, como dizem, José e Diogo Baeta, pai e filho, “a fazer o futuro com o passado”. Desta vez, esse revisitar da história passou pela plantação de uma nova vinha, em pé-franco, como não poderia deixar de ser.

A chamada Vinha Grande, já contribuiu outrora para a produção de Colares, tendo sido arrancada há cerca de meio século e substituída por pinhal. Localizada em Fontanelas, a 350 metros das arribas atlânticas, consiste em 1 hectare de solo arenoso, agora preparado e plantado com Ramisco e Malvasia de Colares sem recurso a porta-enxerto. Para iniciar o processo foi necessário realizar sondas em vários pontos do terreno, com o intuito de avaliar a espessura da camada de areia assente sobre a rocha-mãe argilo-calcária. Esta profundidade raramente é linear, pelas movimentações dunares ao longo dos anos. Assim, com alturas de areia compreendidas entre 1,5m e 2,5m, a plantação foi realizada com recurso a uma retroescavadora que permitiu abrir trincheiras até ao chamado “solo rijo”. Aqui foram “unhadas” as videiras de seleção massal das longas varas de poda do ano anterior. E assim se mantém viva a história de Colares.

Gordon Ramsay nas vinhas de Colares? Estreou o aguardado episódio

Gordon Ramsay Colares

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Foi no dia 15 de Outubro de 2021, às 22h10, que estreou o primeiro episódio da terceira temporada de “Gordon Ramsay: Uncharted”, gravado na totalidade em Portugal, com cenas em Colares. Transmitido no canal National Geographic e, […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Foi no dia 15 de Outubro de 2021, às 22h10, que estreou o primeiro episódio da terceira temporada de “Gordon Ramsay: Uncharted”, gravado na totalidade em Portugal, com cenas em Colares.

Transmitido no canal National Geographic e, em simultâneo, no 24Kitchen, o programa mostra o famoso chef a visitar as vinhas de Colares (e não só), na companhia do enólogo Helder Cunha, da Casca Wines, que levou Ramsay a descobrir as videiras com cerca de 200 anos.

“Um dos tesouros mais bem guardados de Portugal”. Foi assim que Gordon Ramsay descreveu as parcelas plantadas nos solos arenosos de Colares, dizendo que “nunca tinha visto uvas impregnadas em areia”.

Este episódio de Uncharted incluiu ainda uma das cenas mais hilariantes do programa, que envolve o “Sr. Gonçalo”, as canas que sustêm as videiras, e as “jóias da família” de Gordon Ramsay… é ver para saber mais.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”default”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/3″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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Casal Sta. Maria premiado nos Travel & Hospitality Awards 2021

O produtor de Colares (Lisboa), Casal Sta. Maria, foi recentemente vencedor na categoria “Unique Tour Company of the Year”, dos prémios Travel & Hospitality Awards 2021. Esta é uma celebração internacional anual, para os melhores hotéis, spas, restaurantes e operadores de turismo. O objectivo destes prémios é, segundo a empresa, “distinguir o trabalho desenvolvido no […]

O produtor de Colares (Lisboa), Casal Sta. Maria, foi recentemente vencedor na categoria “Unique Tour Company of the Year”, dos prémios Travel & Hospitality Awards 2021. Esta é uma celebração internacional anual, para os melhores hotéis, spas, restaurantes e operadores de turismo.

O objectivo destes prémios é, segundo a empresa, “distinguir o trabalho desenvolvido no sector do turismo a nível mundial e servir de guia para os viajantes mais exigentes que procuram umas férias de luxo”.

O projecto Casal Sta. Maria, com uma quinta que remonta ao início do século XVIII, é gerido pelo neto do Barão Bodo von Bruemmer, Nicholas von Bruemmer. Os seus vinhos têm origem em vinhas situadas na orla costeira da Serra de Sintra.

Vinhos Casal Sta. Maria são agora distribuídos pela Garcias

Após três anos e meio de trabalho com a Decante, a Casal Sta. Maria, localizada em Colares, vê agora os seus vinhos distribuídos pela Garcias. Filipa Garcia, directora-geral da Garcias S.A. – distribuidora de grande calibre que conta já com 15 mil referências de bebidas no mercado nacional – explica: “Este produtor de vinhos muito […]

Após três anos e meio de trabalho com a Decante, a Casal Sta. Maria, localizada em Colares, vê agora os seus vinhos distribuídos pela Garcias.

Filipa Garcia, directora-geral da Garcias S.A. – distribuidora de grande calibre que conta já com 15 mil referências de bebidas no mercado nacional – explica: “Este produtor de vinhos muito especial vem reforçar uma gama de produtos mais exclusivos, a Garcias Gourmet, orientada para o segmento médio-alto”. Para Nicholas von Bruemmer, proprietário da Casal Sta. Maria e herdeiro do legado do seu avô Bodo, esta mudança de distribuidora “representa uma nova etapa de maior dinamismo e pro-actividade. O objectivo é duplicar ou triplicar as vendas, continuando a investir no canal HORECA, nas garrafeiras e em pontos de vendas gourmet e diferenciados. Esta nova etapa que agora se inicia será certamente de crescimento”.

A quinta em Colares está já também aberta para visitas guiadas e provas de vinho – na sala de provas com vista sobre o mar – sendo obrigatória marcação.

Colares: O renascimento da Fénix

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text] É uma micro-região com denominação de origem, salpicada pelo Atlântico, com as uvas mais caras do país continental, uvas que não se encontram mais em parte nenhuma, com as videiras a rastejar pelos terrenos arenosos, transmitindo […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

É uma micro-região com denominação de origem, salpicada pelo Atlântico, com as uvas mais caras do país continental, uvas que não se encontram mais em parte nenhuma, com as videiras a rastejar pelos terrenos arenosos, transmitindo o carácter vincado e irreverente aos vinhos que aqui nascem para viver dezenas de anos em garrafa. É uma região sobrevivente, uma autêntica Fénix que está a renascer das cinzas.  

TEXTO Valéria Zeferino
FOTOS Ricardo Gomez

Se existisse uma Lista Vermelha para as regiões vitivinícolas em risco de extinção, Colares constava lá de certeza. Fazer hoje um painel completo de, por exemplo, 30 vinhos de Colares seria impossível – não há tantos! Talvez no futuro. E há um interesse crescente por parte dos consumidores esclarecidos.  Colares é para quem procura autenticidade e tradição, onde os factores de solo, clima, castas e práticas culturais estão na sua expressão máxima, onde o conceito de terroir não é apenas uma palavra de moda, mas tem um verdadeiro significado que pode ser (com)provado.

Os vinhos de Colares só podem ser provenientes de chão de areia (permitindo incorporar apenas 10% das uvas do chamado “chão rijo”).  A legislação estabelece um estágio obrigatório mínimo de 18 meses em vasilhame de madeira, seguido de 6 meses em garrafa para os vinhos tintos e, respectivamente, 6 e 3 meses para brancos. Na realidade, todos os produtores estagiam os vinhos tintos durante muito mais tempo para domar os taninos vigorosos do Ramisco.

Por exemplo, Francisco Figueiredo, enólogo da Adega Regional de Colares responsável pela maioria dos vinhos no mercado, aponta para 7-8 anos de estágio para vinho tinto.

Adega Regional de Colares.

Contra ventos e marés

Colares fica na faixa costeira a norte da Serra de Sintra. O clima é mediterrânico, mas de sub-tipo oceânico dado à forte influência Atlântica com ventos marítimos e nevoeiros frequentes. A precipitação anual é cerca de 750-780 mm. Aqui acontece o fenómeno das “chuvas orográficas”, quando a massa de ar carregada de humidade, ao encontrar a barreira da Serra de Sintra, é obrigada a subir, precipitando-se sob a forma de chuva.

Outro fenómeno que caracteriza esta zona é o efeito Foehn com formação de uma nuvem enorme a fazer lembrar uma onda gigante que se vê do outro lado da Serra, onde por sua vez, sopra um vento forte e seco, deixando sombra e humidade do lado norte da barreira montanhosa.

Daí a importância do chão de areia, que é mais quente e bem drenado, evitando excesso de água e ajudando à maturação. Estas zonas arenosas da período terciário estão assentes sobre um solo argiloso do cretáceo (com calcário formado por conchas de micro-organismos) que pode ficar a 4 ou mais metros de profundidade. As videiras estão plantadas em pé franco e é preciso chegar ao estrato argiloso para poder “unhar” na terra uma vara de poda que mede 2-3 metros. Para isto abre-se uma vala profunda com uma broca ou escavadora. Depois da plantação no primeiro ano é preciso regar e adicionar estrume, preenchendo a vala gradualmente com areia até à superfície à medida que a nova videira vai crescendo. Há que ter paciência durante 3-4 anos até fazer a primeira vindima depois da plantação. Segundo José Baeta, proprietário da Adega Viúva Gomes, a taxa de sucesso é de 85-90%.

Os ventos salgados do norte que sopram o ano inteiro, obrigam à condução baixa, em poda corrida. As videiras ficam suportadas por pequenas forquilhas de madeira para evitar que os cachos toquem no chão. Os muros de pedra ou paliçadas de cana também servem para a protecção do vento e criam um microclima mais quente e favorável à maturação completa.

A produção é muito baixa, apenas 4-5 tn/ha ou menos, como diz o Presidente da Adega Regional de Colares Vicente Paulo, as plantações antigas eram “uma cepa aqui, outra em Ceuta”. Os novos produtores já vão colher mais das plantações mais recentes.

Casca Wines.

Identidade varietal

No panorama multi-varietal do país, é uma denominação única em Portugal com a identidade associada a apenas duas castas, uma branca e uma tinta – Malvasia de Colares e Ramisco, respectivamente. Há outras castas autorizadas, mas são poucas e ficam como “tempero”, espécie de sal e pimenta da Malvasia e do Ramisco.

De acordo com a legislação em vigor, o vinho DOC Colares tem que ser elaborado com, no mínimo, 80% de casta recomendada, que é Ramisco para os vinhos tintos e Malvasia para os vinhos brancos. Os restantes 20% podem ser compostos por outras castas autorizadas: João de Santarém (aka Castelão), Molar (aka Tinta Negra na Madeira) e Parreira-Matias (que é um cruzamento de Alfrocheiro e Airen) para os tintos; e Arinto, Galego-Dourado e Jampal para os brancos.   Dada a escassez da matéria prima e dificuldade de cultivo, um quilo de Ramisco custa cerca de 3,40 euros e um quilo de Malvasia de Colares 3,30 euros.

Ramisco

Não há dúvidas que é uma das castas portuguesas com mais personalidade. Não é consensual, mas apaixonante. Origina vinhos de cor aberta, corpo médio mas tenso, baixo grau alcoólico, acidez vincada e tanino pouco amigável. É preciso tempo para equilibrar estes extremos que conferem aos vinhos um carácter diferenciador e inconfundível.

É uma casta muito tardia em tudo: abrolhamento, floração, pintor e maturação. Por isto, na zona mais saloia, com os solos franco-argilosos frios (o tal chão rijo), o ciclo começa ainda mais tarde e há risco de não conseguir maturação completa.

Ramisco em chão de areia. Casca Wines

Para o enólogo de Casal Sta. Maria, Jorge Rosa Santos, Ramisco é uma espécie de Pinot Noir rústico. Extracto seco baixo, um bom esqueleto, rusticidade, robustez e complexidade. Aromas balsâmicos e resinosos, cogumelos. Um pouco “quadrado” na boca quando novo, com os seus taninos frontais. Precisa de tempo e só fica no ponto com 10-15 anos.

Na opinião de Francisco Figueiredo, Ramisco representa um maior desafio do que a Malvasia. É uma casta de maturação difícil, varia muito de ano para ano. Nunca amadurece antes da última semana de Setembro que calha precisamente no início das chuvas de Outono. Para além disto, a grande dificuldade neste momento é a qualidade de material genético, estando uma grande percentagem infectada com vírus GLRaV 3 que provoca doença do enrolamento foliar da videira, causando forte redução da capacidade fotossintética e afectando a maturação.

Na adega, Ramisco aumenta rapidamente a acidez volátil logo a seguir à fermentação, depois estabiliza. Nos últimos anos fazem a fermentação espontânea, quando o ano permite, ou utilizam levedura neutra. Fermentam com engaço se estiver maduro. Estagiam o vinho cerca de 2 anos em barrica usada de carvalho francês e mais 5 em antigos (cerca de 200 anos) toneis de mogno e castanho de 1000 e 1500 litros.

O enólogo e produtor da Casca Wines, Helder Cunha, confessa que em 2009 a experiência inicial com Ramisco foi traumática: os primeiros aromas de vinificação eram pouco agradáveis. Passado um ano – um ano e meio de estágio, desapareceram e começou a revelar-se o Ramisco com notas de folha seca e tabaco. Nos primeiros anos não usavam engaço. Depois começaram a adicionar – primeiro 30%, no ano a seguir 50% e agora 50-70%, mas claro, desengaçando primeiro e escolhendo o engaço maduro.

No primeiro dia fazem uma pisa a pé dentro das cubas abertas, e depois só baixam a manta com “macacos”. No final de fermentação deixam as massas em maceração pós-fermentativa durante cerca de 4 semanas. Estagiam 3-4 anos em barricas velhas (no início usavam uma barrica nova e repararam que tapava um pouco o carácter da casta).

Perfil aromático – tinta da China, tabaco, algum herbáceo, funcho. A acidez volátil já nasce alta (0,5-0,75 g/l), mesmo com barricas atestadas. Dado o álcool baixo, é a salinidade que adiciona volume ao vinho, na opinião de Hélder.

Malvasia de Colares

Malvasia de Colares.

À boa maneira portuguesa, a Malvasia de Colares, que muitas vezes é chamada simplesmente Malvasia, não tem nada a ver com a família de Malvasias, sendo um cruzamento das variedades Gibi (Mourisco Branco) e Amaral (utilizada na região dos Vinhos Verdes).

Tem bagos convenientemente soltos e película grossa a resistir bem às condições adversas.

Jorge Rosa Santos reconhece a Malvasia como uma casta semi-aromática. Película grossa dá estrutura e secura (costumam fazer macerações peliculares longas). Aguenta-se bem na vinha. Desenvolve aromas de fermento, champignon, brioche, flor de laranjeira e fica assim durante anos. Salinidade e mineralidade são outras características da casta.

Hélder Cunha lembra-se que quando começaram com o projecto em Colares em 2008, pareceu mais seguro avançar com um branco primeiro. Fizeram uma vinificação convencional com protecção do oxigénio ao máximo (inertização com azoto, sulfuroso etc.). O vinho mostrou-se logo diferente de outras regiões – muito salino. Evidenciou que a região é mais forte do que a casta, o tipo de vinificação ou de estágio. A partir de 2010 já não se preocuparam com oxidação de mosto, fermentam em barrica e estagiam 18 meses com borras totais em barricas velhas. O vinho fica sem sulfuroso até Abril, onde adicionam um pouco e depois só no engarrafamento. Dá aromas de iodo, maresia, deixa sal na boca. Não é uma casta muito aromática (de 1 a 10 fica mais ou menos nos 5), nem se for fermentada a temperaturas mais baixas; neste caso, desenvolve aromas herbáceos e vegetais.

Colares em retrospectiva

Segundo alguns documentos históricos, o cultivo da vinha em Colares remonta ao século XIII. D. Afonso III doava as terras com a obrigação de plantar vinhas. Algumas crónicas indicam que as primeiras exportações foram feitas no reinado de D. Fernando (segunda parte do século XIV) e que o vinho de Colares também era carregado nas naus com destino à Índia na época dos descobrimentos.

A desgraça de uns faz a felicidade de outros. Em 1865 foi assinalada a devastadora marcha da filoxera pelas vinhas de Portugal que deixou intocáveis apenas os terrenos arenosos de Colares. O insecto malicioso que destrói as raízes das videiras, praticamente não se consegue mexer em solos de areia, fica sufocado. Para os vinhos de Colares começou uma era de ouro.

Adega Regional de Colares.

Na viragem para o século 20, a importância de Colares cresceu de tal forma, que em 1908 foi uma das regiões demarcadas para o “vinhos de pasto”, ao mesmo tempo com Dão, Vinho Verde e Bucelas entre outros, compreendendo toda a freguesia de Colares e terrenos de areia solta das freguesias de S. Martinho e S. João das Lampas do concelho de Sintra. Naquela altura o vinho era considerado regional.

Em 1931 foi fundada a Adega Regional de Colares, associação cooperativa que também passou a ter as funções de entidade certificadora. Esta medida foi necessária para proteger a origem e genuinidade dos vinhos afamados das aldrabices e das tentações de vender vinhos de outras zonas como Colares.

Sempre existiu distinção entre vinhas plantadas em “chão de areia”, que davam origem aos vinhos de qualidade superior, e outras plantadas em “chão rijo” que produziam vinhos menores. Inicialmente, foram criados dois tipos de marcas para aplicar nos recipientes em que se vendia o vinho: “de origem” – para o vinho tinto das areias soltas, considerado de excelência e “de garantia” destinadas aos demais vinhos tintos e brancos dos restantes terrenos da região. Mas a partir de 1934 os últimos deixaram de poder usar selos e o nome de Colares.

A Adega também era a principal promotora dos vinhos da região no mercados nacional e internacional. Mas não foi fácil. A viticultura trabalhosa e lenta, os estágios longos, os vinhos ásperos, duros e pouco frutados e a falta de massa crítica comparativamente com outras regiões, faziam com que o funcionamento de Adega não fosse viável financeiramente. Os anos da crise vieram substituir os anos da glória. A Segunda Guerra Mundial também não ajudou. Nos anos 70-80 estagnaram as vendas nos mercados de exportação como brasileiro e norte-americano devido ao crescimento da produção própria. A Adega precisava de investimento em modernização. Mas mesmo com a entrada de Portugal na União Europeia em 1986, a Adega, sendo uma entidade pública, não se podia candidatar para beneficiar dos fundos comunitários, – comenta Vicente Paulo.

Em 1994 criou-se a Comissão Vitivinícola de Bucelas, Carcavelos e Colares, responsável por estas três denominações, até que em 2008 a Comissão Vitivinícola de Lisboa (Estremadura na altura) passou a exercer funções de controlo da produção e comércio e de certificação de produtos vitivinícolas na Região de Lisboa, onde Colares pertence.

Enquanto algumas regiões sofreram do isolamento e do afastamento dos grandes centros, para Colares, ao contrário, a proximidade da capital constituiu um dos grandes problemas. O destino às vezes é irónico: uma das pouquíssimas regiões na Europa que resistiu à filoxera, foi vítima da rápida urbanização que praticamente expulsou a vinha daquela zona. Construir prédios era mais proveitoso.

Nos últimos 20 anos do século passado, a região encontrava-se na miséria e sob risco de extinção.

Colares hoje

A partir de 2006 começou a renascer das cinzas. No final da primeira década apareceram novos produtores (Fundação Oriente, Casca Wines, Casal Sta. Maria) e a pouco e pouco, novas plantações.

Na altura da demarcação, havia 2.000 hectares de vinha. Hoje, nos registos da CVR de Lisboa constam apenas 12 hectares, onde Malvasia e Ramisco, em conjunto, representam cerca de 50% da área, em partes sensivelmente iguais. Poderão existir outras vinhas destinadas à produção de vinho de mesa ou de vinhos de Lisboa, que não contam para a Região Demarcada de Colares.

Casal Sta. Maria.

12 hectares é uma área que facilmente poderia ter um produtor relativamente pequeno. Algumas vinhas classificadas como Grand Cru na Borgonha (Chambertim, Clos de la Roche ou Clos de Vougeot, por exemplo) ultrapassam as vinhas de Colares.

Grande densidade populacional e imobiliária inflaccionou o preço de terra. Vicente Paulo refere que um metro quadrado chegou a custar 15-20 euros. Agora, com o novo Plano Director Municipal de Sintra, em alguns terrenos já não se pode construir e o preço tem descido. Já é possível encontrar terrenos por 6-7 euros/m2.

E já há mais plantações de vinha por iniciativa de produtores como Adegas Beira-Mar, Viúva Gomes, Casal Santa Maria.

Segundo informação da CVR Lisboa, a produção anual é muito dependente do ano, ficando entre 10 e 20 mil litros. Por exemplo, em 2019 foi produzido apenas 12.500 litros de vinho (tinto e branco). É cem vezes menos do que 1.276.041 litros de vinho tinto das vinhas de areia, referentes à colheita de 1930. E segundo Vicente Paulo, a Adega Regional no passado longínquo chegou a produzir até 1.500.000 litros de vinhos.

Neste momento o vinho que há não chega para as solicitações. Daqui a 3 ou4 anos haverá mais produção, mas nunca crescerá muito dada a limitação da área.

A realidade de produtores de Colares é bem diferente do resto da região, fortemente orientado para exportação (mais de 80%). O enoturismo de excelência (finalmente a proximidade da capital traz benefícios), as vendas na adega, e a presença dos vinhos em garrafeiras e restaurantes de topo têm-se revelado uma grande mais valia para os produtores.

Na exportação vê-se também uma apetência crescente, em especial, no mercado dos Estados Unidos. E até na loja dos Vinhos de Lisboa no mercado da Ribeira, há muitos turistas americanos a perguntar e comprar vinhos de Colares.

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Edição nº 35, Março de 2020

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BUCELAS, CARCAVELOS, COLARES: A cintura verde de Lisboa

De outros tempos mantêm o nome e o prestígio, mas onde havia tradições agrícolas dominam agora as pressões imobiliárias. Em Bucelas, Carcavelos e Colares, a vinha luta agora pela sobrevivência. Roteiro enoturístico pela cintura verde que enfrenta a maré de betão da zona metropolitana de Lisboa. TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga Em Oeiras, […]

De outros tempos mantêm o nome e o prestígio, mas onde havia tradições agrícolas dominam agora as pressões imobiliárias. Em Bucelas, Carcavelos e Colares, a vinha luta agora pela sobrevivência. Roteiro enoturístico pela cintura verde que enfrenta a maré de betão da zona metropolitana de Lisboa.

TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Palma Veiga

Em Oeiras, um hectare de terra em zona urbanizável pode custar entre um e dois milhões de euros. Que ainda prosperem vinhas é quase inimaginável, mas os terrenos da Estação Agronómica Nacional resistem à pressão urbanística e é aqui que se mantém erguida a bandeira do histórico vinho Carcavelos. Em Colares, há menos de 20 hectares de vinha em chão de areia, em tempos a imagem de marca da região. Até em Bucelas os ecos da expansão urbana se fazem ouvir há já algum tempo. Pode a viticultura resistir na franja de uma grande cidade?
A resposta não é fácil, nem linear, mas os sinais apontam para que sim. Haverá até quem diga que a viticultura, em particular, e a agricultura, em geral, são indispensáveis para conter os delírios urbanísticos e preservar a identidade dos locais. Nos últimos tempos, o processo de extinção dos vinhos da periferia lisboeta parece ter sido travado. Ainda é cedo para cantar vitória, mas as notícias são animadoras.
No que ao enoturismo diz respeito, a proximidade de um grande centro populacional – para mais, no centro da atenção mediática mundial – é um manancial de oportunidades. Resta aproveitar a maré humana que todos os dias desagua em Lisboa e saber cativá-la com propostas interessantes. E este processo parece estar a ser (ainda) mais lento do que o da recuperação do entusiasmo pela vitivinicultura. Normalmente, a prioridade é dada ao vinho e só depois vem o enoturismo. Mas neste cenário, as receitas e notoriedade que se garantem através dos turistas podem ser a verdadeira locomotiva para os vinhos da cintura verde da capital.A região é Bucelas, mas, para quem vai de Lisboa pela A8 ou A9, nem é preciso fazer o caminho todo: A-das-Lebres fica logo ali, junto a Loures. E a Quinta das Carrafouchas está na linha da frente, não só da actividade enoturística como também vitivinícola – num dos seus extremos já cresce uma pequena urbanização. São quatro hectares de vinha (3,5 tinta e 0,5 branca) e um mundo de surpresas que se escondem por trás da longa fachada cor-de-rosa estendida ao longo da estrada.
Entramos por uma sala de provas, com painéis de cortiça para os turistas assinarem e um balcão de madeira africana e pedra que já conta mais de 80 anos. Cá fora, uma extensão do espaço, para dias mais quentes; a seguir um salão para eventos com decoração rústica e onde as mesas redondas são, na verdade, bobinas de cabos eléctricos; no exterior, uma zona coberta limitada por paredes de vidro para apreciar a paisagem de copo na mão. Um dia, essa paisagem incluirá o rebanho de ovelhas saloias, uma espécie em risco de extinção, pastando por ali. As ovelhas já existem, o terreiro está a ser preparado.
É assim nas Carrafouchas: há sempre alguma coisa a ganhar forma. Mas também há sempre alguma coisa a acusar os efeitos do tempo. Nos últimos anos, a propriedade foi ganhando espaços funcionais para o turismo, mas o seu verdadeiro encanto está na profusão de recantos românticos que nos transportam para outros tempos. A construção actual data de 1714, mas já havia edifícios no local antes disso.
Descemos um caminho que bordeja as vinhas e damos de caras com um tanque rodeado em anfiteatro por painéis de azulejo representando as quatro estações. A água chega de uma mina encaixada num retábulo com uma enorme bacia em pedra e mais azulejos do século XVIII (num deles, são bem visíveis enormes garrafas de vinho num recipiente com água – a preocupação com as temperaturas de serviço não são uma modernice!). Mais à frente, um enorme tanque de 20x10m também semi-rodeado de muros ornamentados; colina acima encontramos uma nascente encaixada num pequeno edifício quadrangular, com azulejos, claro. Junto à casa, para lá de uma sebe de cedros, a surpresa de um jardim romântico de planta semicircular. O pátio exterior, com chão em calçada portuguesa e painéis de azulejos na varanda sobranceira. E a surpresa final da bem preservada capela.
Ainda um relance pela adega antiga, com o lagar e os velhos pipos de madeira, antes de regressar à sala de provas. Mesmo às portas de Lisboa, há muito para descobrir. Não esquecendo os vinhos, claro.

QUINTA DAS CARRAFOUCHAS
R. Francisco Franco Cannas, A-das-Lebres, Santo Antão do Tojal
Tel: 917 262 385
Mail: quintadascarrafouchas@gmail.com
Web: www.quintadascarrafouchas.com
A prova de vinhos (dois tintos e um branco, com petiscos regionais) custa 15 euros por pessoa, se incluir visita ao património da quinta o preço passa para 25 euros. Solicita-se marcação antecipada. O proprietário recebe pessoalmente, todos os dias (das 9 às 20h de segunda a sexta, das 9 às 12h e das 18h às 21h aos sábados e domingos).
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2
Venda directa (máx. 3): 2
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2

AVALIAÇÃO GLOBAL: 17
Há edifícios em volta praticamente em todas as direcções e lá fora, para além dos muros de pedra e dos portões (abertos), há carros a circular, gente que se apressa a caminho sabe-se lá do quê, um supermercado com grandes letreiros. Mas aqui, nos terrenos da Estação Agronómica Nacional, entre oliveiras, cedros e vinhas, um ventinho frio soprando de norte, o brilho do mar cintilando ao longe para lá das colinas, estamos noutro mundo.
Estamos em Oeiras e quase soa a bónus que nestes terrenos cresçam as uvas que mantêm viva a tradição de um vinho generoso à beira da extinção. Mas é assim mesmo. Com 12,5 hectares de vinha (castas: Galego Dourado, Ratinho e Arinto, nas brancas; Castelão e Trincadeira, nas tintas) e duas adegas funcionais, a Câmara Municipal de Oeiras é, neste momento, o único produtor com actividade continuada que faz DOC Carcavelos, o mais esquecido dos nossos grandes vinhos licorosos.
A visita começa na Adega do Casal da Manteiga, instalada num edifício de planta hexagonal que era, a um tempo, infra-estrutura produtiva (abrigava os animais de trabalho e espaços para manteigaria e queijaria) e um local de lazer (a torre que remata o edifício funcionava como pavilhão de caça para o Marquês de Pombal (também conde de Oeiras) e seus convidados. Agora, uma das alas serve de adega, a outra está repleta de barricas, em galerias onde ainda são visíveis as antigas manjedouras em pedra.
Mas é mais abaixo, no vale, que esta dupla função produtiva e de lazer se afirma de forma mais evidente, testemunhando o pensamento pragmático do Marquês e exibindo soluções arquitectónicas e conceptuais que hoje parecem evidentes, mas que teriam o seu quê de revolucionário no século XVIII. A segunda adega, a Adega do Palácio, ocupa um edifício que inclui o recuperado Lagar de Azeite e ambas as infra-estruturas são contíguas ao palácio e seus jardins românticos cruzados pela ribeira da Lage.
Com 70 metros de comprimento e orientação Norte-Sul, a adega auto-ventila-se por acção dos ventos dominantes e a frescura no Verão é assegurada pela mina de água que corre por baixo do chão. Em cima, um telhado “flutuante” deixava espaço para a secagem de cereais, o que funcionava como isolamento natural. As surpresas aparecem por todo o lado – na casa de banho das senhoras, por exemplo (uma parte das instalações alberga escritórios dos serviços da câmara), ainda são visíveis vestígios dos antigos lagares em pedra.
Entre as duas adegas, há quase 1200 barricas e é neste cenário que provamos os vinhos, com a novidade de um Carcavelos tinto (10 Anos) que em breve sairá para o mercado. Cá fora, silêncio e luz. No total, a Quinta do Marquês tem 135 hectares murados. Um oásis de verde no mar de betão.

VILLA OEIRAS
Adega Casal da Manteiga
R. da Mina, Tremês (GPS: 38º 42′ 16,04″ N, 9º 19′ 13,72″ W)
Adega do Palácio Marquês de Pombal
R. Aqueduto 222, Oeiras (GPS: 38º 41’ 34,44” N, W 9º 18’ 52,54” W)
A filosofia de animação turística do Palácio do Marquês está a mudar e, com ela, também os horários e os programas de enoturismo. Para informações actuais, consultar o site da Rota dos Vinhos Bucelas, Carcavelos e Colares (www.rotadosvinhosbcc.com), a Confraria do Vinho Carcavelos (Paulo Rocha: 912 714 554 / 924 014 860) ou a Câmara Municipal de Oeiras (www.cm-oeiras.pt).
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 1,5
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 3
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2

AVALIAÇÃO GLOBAL: 17
De uma região que esteve à beira da extinção para outra que também parece ter escapado a esse destino. Em Colares, onde nunca foi fácil fazer vinho, a pressão imobiliária levou ao desaparecimento de muitas vinhas e o sector acabou reduzido a um punhado de produtores. Hoje, há menos de 20 hectares plantados em chão de areia, a imagem de marca destes vinhos feitos em cima do mar. Também aqui, tal como acontece em Bucelas e Oeiras, a natural preocupação com a sobrevivência tem deixado o enoturismo para segundo plano. Mas as coisas estão a mudar e Colares, neste particular, segue na frente.
A Adega Regional de Colares, fundada em 1931, é a mais antiga adega cooperativa do país (hoje tem cerca de 35 sócios) e um destino turístico com movimento muito significativo – são dezenas de visitantes, em média, por dia, levando os números anuais para cima dos 20.000. Mesmo quem chega sem aviso tem acesso à adega dos tonéis, que se estende a partir do espaço da loja ao longo de dezenas de metros. Estão aqui mais de 90 tonéis, o maior dos quais com capacidade para 19.590 litros – a capacidade total é de 700.000 litros. A lista de madeiras (tropicais) usadas nos depósitos é, só por si, um achado: câmbala, macaúba, vinhático…
Se é um enoturista viajado, não se espante se a visão lhe trouxer à memória o Moscatel de Setúbal – o edifício onde se encontra pertenceu, em tempos, à José Maria da Fonseca, que aqui tinha um armazém, e a traça arquitectónica é semelhante à que encontramos em Azeitão. Hoje, a Adega de Colares produz cerca de 100.000 litros anuais (só uma pequeníssima fracção provém de chão de areia, como se imagina; o resto é do chamado chão rijo, terrenos argilo-calcários) e a sua capacidade de armazenamento fala-nos de um passado em que Colares era uma generosa fonte de vinho para todo o país.
A visita guiada leva-nos pelos espaços sociais que estão a ser dinamizados (salas com capacidade para receber até 600 pessoas), pelos jardins e acessos que ligam os vetustos edifícios do complexo murado. E desagua na adega, uma verdadeira montra da evolução tecnológica do sector da vinificação – encontramos, lado a lado, equipamento técnico moderno e antigo (lagares em cimento, depósitos em inox, cubas troncocónicas em madeira com taça para remontagem automática), o que permite explicar a evolução das técnicas ao longo do tempo.
De regresso à loja, podemos optar por uma das várias provas disponíveis no cardápio e saborear o carácter único de uma região cheia de história. É uma bela forma de encerrar o périplo pela cintura verde de Lisboa, porque em nenhum outro lugar ele é tão intenso como aqui, na face Norte da serra de Sintra.

ADEGA DE COLARES
Alameda Cel. Linhares de Lima 32, 2705-351 Colares
Tel: 219 291 210
Mail: geral@arcolares.com
Web: www.arcolares.com
As visitas guiadas (com prova de dois vinhos) custam 15 euros por pessoa e estão sujeitas a marcação prévia e disponibilidade. Mas quem aparecer na loja sem aviso pode sempre dar uma volta pela adega dos tonéis e decidir depois se pretende fazer alguma das provas disponíveis, com preços que vão dos 4 aos 10,65 euros por pessoa. Horário: de segunda a sexta, das 9h30 às 12h e das 14h30 às 17h. Eventos para grupos com preços sob consulta.

Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 1,5

AVALIAÇÃO GLOBAL: 17

ESTAÇÃO DE SERVIÇO
Não faltam opções para reconfortar o estômago neste périplo pelos arredores de Lisboa e seus sobreviventes vínicos. O carácter cosmopolita da região permite encontrar de tudo um pouco, mas escolhemos três restaurantes que simbolizam outros tantos estilos: o toque regional do Barrete Saloio, em Bucelas; a cozinha mais elaborada da Casa da Dízima, em Paço de Arcos; e a pureza dos produtos do mar do Adraga, na Praia da Adraga. Sempre com bons vinhos a acompanhar. Bom apetite!
BARRETE SALOIO – R. Luís de Camões 28-30A, Bucelas; 219 694 004
CASA DA DÍZIMA – R. Costa Pinto 17, Paço de Arcos; 214 462 965
ADRAGA – Praia da Adraga, Sintra; 219 280 028 / 961 910 833

Edição nº14, Junho 2018