Enoturismo: Madeira – Uma pérola cheia de surpresas

A ilha da Madeira oferece, aos seus visitantes, uma experiência única e bastante diversificada no que se refere ao turismo vitinícola. Para além de permitir mergulhar a vista em paisagens de sonho e absorver uma cultura vínica ancestral, o seu principal encanto é precisamente a possibilidade de uma vivência de experiências contrastantes, todas elas ricas […]
A ilha da Madeira oferece, aos seus visitantes, uma experiência única e bastante diversificada no que se refere ao turismo vitinícola. Para além de permitir mergulhar a vista em paisagens de sonho e absorver uma cultura vínica ancestral, o seu principal encanto é precisamente a possibilidade de uma vivência de experiências contrastantes, todas elas ricas de histórias e autenticidade.
Estamos em presença de uma nova forma de conhecer a ilha, desfrutando de espaços que oferecem serviços e funcionalidades que podem ir de uma simples visita com prova de vinhos, a actividades recreativas, passando por experiências eno-gastronómicas e alojamentos em sítios idílicos. Há de tudo, para todos os gostos e (quase) todas as bolsas e não faltam bons exemplos de novas abordagens e descobertas inovadoras. Nesta edição trazemos ao leitor a primeira parte de uma visita memorável.
Boneca de Canudo
Foi no meio de uma disputa familiar sobre o destino a dar a uma pequena parcela de vinha em Santo da Serra, pitoresco vilarejo dividido entre os concelhos de Santa Cruz e Machico, que Elsa Franco, engenheira civil de formação, impôs a sua vontade de se dedicar à produção de vinhos tranquilos e, depois, de vinhos da Madeira. A expressão zombeteira com que foi, na altura, mimoseada – “Lá vem esta boneca de canudo” – serviu de mote e inspiração ao projecto, que hoje lidera com visível orgulho.
Como acontece quase sempre na Madeira, estamos a falar de pequenas áreas de vinha que totalizam 13 hectares, divididas por Santo da Serra, Machico e Ponta do Sol. Tudo começou em 2006, quando Elsa Franco começa a conversão das vinhas para produzir vinhos secos: Touriga Nacional, Merlot e Syrah são as tintas escolhidas. Nas brancas mantém o tradicional Verdelho, mas arrisca a inovação de introduzir o Chenin Blanc. Em 2013 faz a sua primeira vindima e, no ano seguinte, começa a comercialização dos primeiros vinhos produzidos, apenas 500 garrafas. No processo de produção Elsa teve o apoio da Justino’s, mas está em projecto a edificação de um nova adega em Machico, daqui a três anos. Entretanto uma nova experiência, com uvas da casta Caracol vindas da ilha de Porto Santo, permitiu fazer, em 2022, um vinho branco singular que, parafraseando o poeta, “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. O próximo passo é a produção de um vinho Madeira nas versões de meio doce e meio seco que tivemos oportunidade de provar. A intenção de crescer é evidente e a distribuição, que até agora tem estado confinada a alguns restaurantes na Madeira, arrisca agora na exportação e no mercado do continente, de que a sua presença na última edição da feira Grandes Escolhas Vinhos & Sabores foi um exemplo de vontade.
Na Boneca de Canudo, o Enoturismo ainda está a dar os primeiros passos. Disponível para já estão as instalações de Santo da Serra, onde estivemos, em que o visitante pode ter uma experiência com visita às vinhas e ao pomar, uma prova de vinhos acompanhada por pão caseiro, queijos, enchidos e frutos secos, para além de chocolates próprios, azeite e mel.
Boneca de Canudo
Morada: Santo da Serra, Machico
E-mail: geral@bonecadecanudo.com
Tel.: + 351 969 237 520
Prova de Essência – Inclui vinhos, queijos, enchidos regionais, pão e frutos secos: 25€
A oferta inclui visita às vinhas e ao pomar e prova de vinhos acompanhada por pão caseiro, queijos, enchidos e frutos secos, para além de chocolates próprios, azeite e mel
Quinta de Santa Luzia
Nos arredores do Funchal, dispondo de uma vista soberba sobre a cidade e a baía, a Quinta de Santa Luzia é uma propriedade agrícola na posse da família Blandy há quase 200 anos (adquirida em 1826). Possui uma pequena área de vinha arrendada, de apenas um hectare, num patamar ligeiramente inclinado de rara beleza. As vinhas são destinadas à produção de vinho da Madeira, pelo que as castas plantadas são as tradicionais: Terrantez, Sercial, Boal e Verdelho, sendo que estas duas últimas são as mais adaptadas ao local. Integrada nesta propriedade está a unidade de Agro Turismo denominada Quinta das Malvas, que possui alojamento com seis quartos com nomes de ervas aromáticas e mais uma villa independente com oito quartos. No dia da nossa visita fomos recebidos e guiados, num curto mas interessente passeio, por Emily Blandy, responsável pelo Enoturismo da Madeira Wine Company, de que a Blandy’s faz parte.
A propriedade, vocacionada para o turismo de qualidade, revela uma natureza acolhedora, onde o verde da paisagem e o azul do Atlântico, a majestade das frondosas arvores centenárias, os pitorescos recantos dos seus jardins e a arquitectura inglesa colonial dos vetustos edifícios compõem uma atmosfera singular de charme, convidativa à contemplação e ao lazer.
O empreendimento disponibiliza um conjunto alargado de serviços, que começa na prova clássica de quatro vinhos Madeira Blandy’s 10 anos, Sercial, Verdelho, Boal e Malvasia, com o custo por pessoa de 37,50€, Estão ainda disponíveis outras provas de vinho Madeira, como verticais de Verdelho e Boal com 5, 10 e 15 anos, para além do Colheita de 2011, ao preço de 60€. Pode ainda o turista usufruir de refeições privadas para pequenos grupos, confecionadas pelo chefe Filipe Janeiro, com seis momentos, harmonizadas com os vinhos tranquilos Atlantis, depois de visita guiada à quinta, pelo custo unitário de 195€. Na época própria há ainda possibilidade de programas de vindimas com a duração de quatro horas, almoço incluído. Na mansão Quinta das Malvas, renovada em 2004, vigora o sistema de bed and breakfast, com utilização opcional de cozinha e outros equipamentos e a possibilidade de marcação de sessões de massagens e yoga.
Quinta de Santa Luzia
Morada: Rua de Santa Luzia, 113, Funchal
Site: www.quintadesantaluzia.com/pt
Tel. : + 351 291 281 663
Programas de provas de vinhos, visitas, refeições, a partir de 37,50€ por pessoa. Estadia na Quinta das Malvas em regime de bed and breakfast a partir de 90€ (época baixa)
Nos arredores do Funchal, dispondo de uma vista soberba sobre a cidade e a baía, a Quinta de Santa Luzia é uma propriedade agrícola na posse da família Blandy há quase 200 anos
Quinta das Vinhas
No Estreito da Calheta, encosta sul da ilha, a Quinta das Vinhas é uma propriedade com cerca de quatro hectares, pertença da família Welsh desde o século XVII. Existe documentação que situa o ano de 1675 como aquele em que esta família de ascendência inglesa tomou posse da propriedade. Esteve, desde sempre, ligada à actividade agrícola, primeiro com o cultivo da cana de açúcar e mais tarde com vinha. Nas primeiras décadas do século XX, a quinta esteve alugada ao Instituto do Vinho da Madeira, que ali implantou um campo ampelográfico experimental com a finalidade de estudar adaptação das diversas castas ao terroir da Madeira. Foi este projecto que permitiu a plantação de cerca de 70 castas vínicas e de sobremesa espalhadas por diversas parcelas e pequenos patamares, que deu justificação ao nome que hoje ostenta. Este contrato durou até 2017, findo o qual as vinhas passaram para o controlo dos donos, que lhe imprimiram uma orientação diferente convertendo-as em biológicas seguindo os princípios da biodinâmica. Na fase actual, segundo explicou Isabel Freitas, responsável pela gestão da propriedade, procura-se um compromisso entre a preservação da herança recebida e a sua exploração, com fortes preocupações ambientais. Isto significa uma avaliação cuidada e permanente da viabilidade das diversas castas, perante condições particulares de humidade entre 60 e 70%, privilegiando, naturalmente, aquelas que demonstram mais aptidão para a produção de vinhos de qualidade.
Em 2021 foi lançado o primeiro vinho fruto da agricultura biológica, um branco Verdelho da marca Fanal, um projecto experimental feito em colaboração com a Justino’s, a que se seguiu, em 2023, um blend de Verdelho e Boal. Em sentido inverso, as castas Terrantez e a Tinta Negra têm sido abandonadas por inaptidão, enquanto aposta recente aponta para o Bastardo e Malvasia Cândida. Comum a estes desenvolvimentos é a preocupação permanente de respeitar o ecossistema e introduzir a biodiversidade, ao mesmo tempo que se adicionam, através de aquisição, novas parcelas de vinhas à propriedade.
Mas a Quinta das Vinhas está hoje longe de se esgotar na sua vertente agrícola. Em 1997, os proprietários procederam à recuperação da Casa Mãe e a receber, a partir daí, os seus primeiros hóspedes. Depois da restauração do edifício principal e de um outro anexo, foram recuperadas ou construídas de raiz novas habitações, chamadas Casinhas Mezanines, com quarto e kitchenette e Apartamentos mais amplos para famílias numerosas, espalhadas pelos socalcos, proporcionando alojamentos familiares independentes que garantem comodidade, mesmo para estadias mais longas, e a privacidade que o perfil dos turistas reclama. Todos os quartos estão virados a sul e têm vista para o jardim e/ou vinha, e os dos pisos superiores têm também vista para o mar. Os quartos do andar térreo da casa principal oferecem, aos hóspedes, acesso direto ao terraço e à área da piscina. No total a quinta pode alojar até 70 hóspedes. Os quartos do anexo têm vistas sobre a vinha e o mar e uma área de estar privada no exterior. Pormenor curioso revelador da filosofia do projecto é a ausência de televisão em todos os quartos. O Restaurante Bago, localizado no topo da quinta, completa a oferta turística da propriedade, oferecendo uma esplanada com vista sobre a vinha até ao mar. Aberto aos jantares, pratica uma cozinha de fusão com toque local. O visitante, além das refeições, pode fazer provas de vinhos produzidos exclusivamente a partir das uvas da quinta.
Quinta das Vinhas
Morada: Estrada Regional 223, 136, Calheta
Tel.: +351 291 824 086
E-mail: infoqdvmadeira.com
Provas de três vinhos a partir de 25€.
Restaurante aberto diariamente a partir das 17:00 horas para chá e bebidas e. a partir das 18:00. para jantares. Alojamentos a partir de 120€
No Estreito da Calheta, encosta sul da ilha, a Quinta das Vinhas é uma propriedade com cerca de quatro hectares, pertença da família Welsh desde o século XVII
HM Borges
Em pleno centro do Funchal situa-se uma das mais conhecidas empresas de produção de vinho da Madeira, a H. M. Borges. Fundada em 1877 por Henrique Meneses Borges, mantém-se, desde essa data, na posse da mesma família. Hoje, na direcção da casa encontram-se duas primas, Helena e Isabel Borges, representantes da quarta geração. O edifício contempla, no mesmo espaço físico, a sede social, o centro de visitas, caves de envelhecimento e uma loja. Está em funcionamento numa das ruas mais movimentadas da cidade desde 1924.
É um local cheio de história e tradição, onde o visitante pode mergulhar no mundo fantástico do vinho da Madeira. A casa não dispõe de vinhas próprias e compra, a mais de 100 viticultores, as uvas necessárias à produção do vinho fortificado. O centro de visitas está preparado para receber, em simultâneo, dezenas de turistas, proporcionando, a todos, um programa que começa com a apresentação da história da casa e do vinho da Madeira, e continua com a visita às caves e uma prova de vinhos no final. É ali que o visitante fica a conhecer os detalhes que fazem, do Madeira, um dos grandes vinhos fortificados do mundo. São pormenores como a condução das vinhas em latadas ou pérgolas, o sistema de condução das videiras típico da ilha, que permite a utilização dos solos por outras culturas, o trabalho dos borracheiros, assim chamados aos homens que transportavam o vinho às costas dentro de um recipiente em pele e, sobretudo, o processo de estufagem indispensável ao seu amadurecimento e envelhecimento.
É impossível esquecer a história do vinho de roda que, depois de uma longa viagem marítima, cruzando os trópicos, voltava à casa de partida com qualidades em aromas e sabor que não tinha quando embarcava. A estufagem do vinho, em grandes tanques, elevando a sua temperatura a 35ºC durante 90 dias, tenta reproduzir, nas condições das caves, os maus tratos dessa infeliz/feliz viagem, Este processo, utilizado para vinhos de entrada de gama, feitos a partir da casta Tinta Negra até três anos de idade, é substituído, para os vinhos das castas nobres, com objectivo de maior tempo de envelhecimento, pelo método de canteiro, em que o vinho envelhece natural e lentamente nas barricas colocadas em locais com exposição ao calor.
A visita à cave, com os seus grande tonéis e pilhas de barricas amontoadas em altura, não deixa de impressionar o visitante que percebe, assim, o trabalho e esforço por detrás do famoso vinho. As provas de estão disponíveis na modalidade Silver (15€) para vinhos de três e 10 anos, Gold (17,50€) para vinhos de cinco e 15 anos e Diamond (34€) para seis vinhos da Madeira desde os cinco anos, chamados Frasqueiras, vinhos com mais de 20 anos de envelhecimento.
H.M. Borges
Rua 31 de Janeiro, 83, Funchal
Site: www.hmborges.com
Tel. : + 351 291 223 247
Visita e provas de vinhos desde 15€
O centro de visitas proporciona um programa que começa com a apresentação da história da casa e do vinho da Madeira, e continua com a visita às caves e uma prova de vinhos no final
(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)
Enoturismo: Caminhos Cruzados

A história do vinho no Dão é mais do que uma simples sucessão de acontecimentos. É um emaranhado intrincado de natureza, cultura e tempo. A vinha, arraigada nas encostas escarpadas e nos planaltos graníticos, é um testemunho vivo da relação ancestral entre o homem e a terra. As raízes que se aprofundam no solo, buscando […]
A história do vinho no Dão é mais do que uma simples sucessão de acontecimentos. É um emaranhado intrincado de natureza, cultura e tempo. A vinha, arraigada nas encostas escarpadas e nos planaltos graníticos, é um testemunho vivo da relação ancestral entre o homem e a terra. As raízes que se aprofundam no solo, buscando a água e os nutrientes, espelham a própria busca do homem por significado e pertencimento.
Mosaico de tradições
A cultura vínica do Dão é um mosaico de tradições transmitidas de geração em geração. As mãos calejadas dos vinhateiros, moldadas pelo trabalho árduo, são a expressão de um saber ancestral, um conhecimento tácito que se perde nas brumas do tempo. A vindima, celebração da colheita, é um rito de passagem que marca o ciclo da vida e da natureza. É nesse momento que a uva, fruto da terra e do sol, se transforma em néctar divino.
As suas paisagens exuberantes e aldeias pitorescas constituem o palco onde a história se desenrola. Os castelos e as quintas, testemunhas silenciosas do passado, guardam os segredos de um tempo em que o vinho era sinónimo de poder e riqueza. As adegas, com suas barricas de madeira e aromas inebriantes, são templos dedicados ao culto de Baco. A vinha, com as suas paisagens exuberantes e a variedade de castas, é a primeira tela do artista vinícola. A escolha do local de cultivo, a orientação das fileiras, a poda e a adubação são decisões que moldam o caráter do vinho. O terroir, conjunto de fatores naturais que influenciam o sabor da uva, é a paleta de cores do artista, oferecendo uma infinidade de nuances e tonalidades.
O vinho do Dão é mais do que uma bebida, é uma expressão da alma da região. Cada garrafa conta uma história, um reflexo do terroir, do clima e do homem que o criou. A diversidade de castas e solos confere, aos vinhos do Dão, uma personalidade única e inconfundível. A cor, o aroma e o sabor são elementos que compõem a sua estética. Um vinho tinto encorpado e complexo pode ser comparado a uma pintura barroca, rica em detalhes e contrastes. Um vinho branco fresco e mineral pode lembrar uma aquarela, leve e delicada.
A filosofia do vinho ensina-nos a apreciar a simplicidade das coisas, a saborear cada momento e a encontrar beleza nas pequenas coisas. O ato de degustar um vinho é uma experiência sensorial e espiritual que nos conecta com a natureza e com a história. É um convite à reflexão sobre a vida e a passagem do tempo.
Na pincelada da minha escrita transborda um sentimento artístico pela felicidade que os vinhos do Dão me proporcionam. Nesta região sinto no vinho uma forma de expressão artística que une a natureza e a cultura.
Ao brindar com um vinho do Dão, celebramos não apenas a excelência de um produto, mas também a riqueza de uma cultura e a beleza de uma região. A vinha, o tempo e a alma do Dão estão inextricavelmente ligados, formando um património único e valioso que devemos preservar para as futuras gerações.
Inovação na tradição…
As minhas viagens pelo mundo do Enoturismo em Portugal têm-me proporcionado momentos inesquecíveis e gratificantes, ao conhecer a história e a tradição das regiões vitivinícolas, ao descobrir vinhos únicos, caminhar por vinhas exuberantes, onde a beleza se une à qualidade dos vinhos, admirar paisagens deslumbrantes e conhecer pessoas apaixonadas por essa arte milenar.
Na minha “árdua” felicidade de conhecer o país enoturístico, numa jornada introspetiva, numa espécie de convite à filosofia, à contemplação da existência e à busca por significados profundos no mundo do Vinho e porque não dizer da Gastronomia, escolhi o Dão para esta viagem.
Nesta região somos convidados a um diálogo íntimo com a natureza. A terra paciente oferece os seus frutos. A videira, símbolo da vida e da renovação, tece uma narrativa milenar, onde cada folha é um capítulo escrito pelo tempo. A cada passo, somos lembrados da nossa própria finitude e da impermanência de todas as coisas. O Dão é isto. É fantasia, é mistério. Obriga-me a viver como se amanhã fosse o último dia da minha vida.
A escolha estava feita – a Quinta da Teixuga e a sua Adega Caminhos Cruzados, encaixa-se “como uma luva“ neste espírito filosófico, na busca interminável do saber e do sabor. Nesta adega o vinho, que é o resultado de um processo alquímico entre a terra, o sol e o trabalho humano, revela-se como uma metáfora da vida. Assim como o vinho amadurece em barricas, transformando-se numa bebida complexa e multifacetada, nós também evoluímos com o tempo, moldados pelas experiências e pelas relações que estabelecemos.
Paixão pelo vinho
A Adega Caminhos Cruzados é mais do que apenas um local de produção de vinho. É um verdadeiro manifesto de paixão pelo vinho e pela sua região. Fica na Quinta da Teixuga, situada em Vilar Seco, concelho de Nelas, no distrito de Viseu, propriedade de 30 hectares no coração do Dão, e destaca-se pela sua arquitetura moderna e arrojada, que se funde perfeitamente com a paisagem circundante, desenhada pelo Arquiteto Nuno Pinto Cardoso
Na chegada à Adega Caminhos Cruzados percebe-se, de imediato, que se entra num espaço com claras preocupações estéticas e integradoras na paisagem rural. De forma natural, cria de imediato uma elevada expectativa do que se vai encontrar. A inovação da arquitetura funde-se com a tradição vínica da Região do Dão, como a de dois amantes num eterno tango, alicerçado num abraço apaixonado. A tradição vitivinícola guia a inovação pelos caminhos da história, enquanto esta, com sua energia vibrante, insufla nova vida nas raízes ancestrais. É nessa dança harmoniosa que a criatividade encontra a sua inspiração, e o futuro a sua essência.
Encontrei o Luis Filipe, coordenador do Enoturismo da Caminhos Cruzados, na empresa desde 2019, que orgulhosamente explica que começou como embaixador/promotor da marca na zona centro do país. Sente-se a sua paixão pelo que faz e representa. A quinta localiza-se em pleno planalto do Dão, em Terras de Senhorim, que são excelentes para a plantação de videiras e produção de uva, salienta. As amplitudes térmicas locais são apropriadas para a boa maturação das uvas e o seu lento amadurecimento dá origem a vinhos de aromas ricos e boa acidez, elegância e estrutura, diz também.
A Caminhos Cruzados surge do amor que a família Santos, natural de Nelas, têm à Região do Dão. É em 2012 que Paulo Santos, empresário têxtil, decide voltar a dar vida a esta tradição e criar uma empresa familiar, dirigida por Lígia Santos, a sua filha, que troca Lisboa e a advocacia pelo vinho e ruma a Nelas para dirigir os destinos do projeto.
Paulo Santos, que fazia vindimas em família e com amigos, desde cedo, produzindo vinho caseiro num pequeno lagar, salienta que, na adega produz vinho de qualidade, com uma vertente de tradição aliada ao modernismo e constante diferenciação que o mercado exige”. Desde o início, que a visão da Caminhos Cruzados foi surgir como “O Novo Dão” e a sua adega emergiu das vinhas da Quinta da Teixuga em 2017. Em algumas delas, cuja idade média é de 50 anos, podemos encontrar as castas tintas Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen e Alfrocheiro e brancas Malvasia-Fina, Encruzado e Bical. É a partir desta riqueza varietal que são feitos os vinhos na adega. Os caminhos cruzados da vida podem proporcionar algo mágico e fantástico, experiências e vivências diferentes que nos transformam e enriquecem a alma. São como um labirinto cheio de surpresas e desafios, de complexidade e imprevisibilidade. É desta paleta filosófica que surge a ideia de designar a Adega de “Caminhos Cruzados”. “A sua estética inspira-se no logótipo da empresa, duas linhas que se cruzam, e encontra-se perfeitamente integrada no ambiente”, sustenta Luis Filipe com um brilho nos olhos de quem adora o que faz.
Um tesouro escondido
Escondida entre as serras do Caramulo, Montemuro, Buçaco e Estrela, a Quinta da Teixuga é um refúgio para os amantes do vinho que buscam experiências autênticas. Com 42 hectares de vinhas, a propriedade oferece um panorama único da viticultura portuguesa, onde a natureza e a tradição se entrelaçam.
As vinhas, situadas entre os 400 e 700 metros de altitude, beneficiam de um terroir excecional. Os solos xistosos e graníticos, aliados ao clima mediterrâneo influenciado pela altitude, conferem aos vinhos uma mineralidade e complexidade únicas.
Com o objetivo de preservar a alma do Dão, a Quinta da Teixuga investe na recuperação de vinhas velhas, com mais de 50 anos. Essas vinhas, verdadeiros tesouros, guardam um património genético único que se traduz em vinhos com uma identidade própria.
Em paralelo, a Quinta da Teixuga aposta na plantação de novas vinhas, com variedades que complementam as castas tradicionais do Dão, como a Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen, Tinta Roriz, Encruzado, Bical, Cercial, Malvasia Fina e Verdelho. Consciente da importância da preservação do meio ambiente, a Quinta da Teixuga iniciou, em 2019, um projeto de conversão de uma parcela de vinha para a agricultura biológica.
Uma experiência única de Turismo, Gastronomia e Vinhos
Visitar a Quinta da Teixuga e a sua adega é uma viagem no tempo. Ao percorrer as vinhas e a adega, os visitantes podem conhecer de perto o processo de produção dos vinhos e apreciar a beleza da paisagem. Provar os seus vinhos é uma boa oportunidade para descobrir a sua complexidade e elegância.
Na adega Caminhos Cruzados todas as atividades começam com uma visita guiada, uma imersão nas paisagens e processos vitivinícolas da região do Dão. O circuito tem início no exterior, próximo das vinhas, onde os visitantes são contemplados com uma vista panorâmica da Serra do Caramulo. Nesse momento é apresentada a história da empresa, desde sua fundação, em 2012, até os dias atuais, além de uma breve e objetiva explicação sobre os vinhedos, que se estendem para além da Quinta da Teixuga. A visita inclui uma introdução às características geográficas e vitivinícolas da região do Dão.
Em seguida, os visitantes são conduzidos ao setor de produção, localizado no subsolo da adega. Neste espaço é explicada cada etapa do processo, desde a colheita até o processamento das uvas. O tour passa então pelas cubas de inox, onde são abordadas as diferenças entre os tipos de fermentação, destacando as distinções entre as cubas cilíndricas e as troncocónicas.
A visita continua pela área de enchimento e rotulagem, onde os participantes conhecem os processos de finalização do produto e podem observar o laboratório, onde a enóloga Carla Rodrigues realiza análises detalhadas e define os lotes finais dos vinhos.
O ponto alto da visita é a deslumbrante sala das barricas, que impressiona todos os que percorrem o seu interior. Neste espaço, os visitantes são apresentados aos diferentes estágios de envelhecimento em madeira, um processo essencial para a qualidade dos vinhos produzidos na adega. No final, as pessoas são direcionadas para o local onde participarão na atividade escolhida, encerrando uma experiência enriquecedora no mundo do turismo de vinhos.
Viagem gastronómica
A cozinha do restaurante está sob o comando do talentoso chef Miguel Vidal, que combina ingredientes regionais com influências da sua experiência internacional, oferecendo uma verdadeira viagem gastronómica, que destaca a autenticidade dos produtos locais com toques inspirados nas passagens por vários países.
Entre as suas especialidades encontram-se pratos como Bacalhau com broa, Escabeche de truta, Vitela em púcara de barro preto e o tradicional Arroz de carqueja em vinha d’alhos, que encantam pelo sabor e apresentação cuidadosa.
Além do cardápio regular, o chef oferece a possibilidade de se realizar experiências gastronómicas personalizadas. Com reserva prévia, pode criar menus exclusivos, ajustados às preferências e ocasiões específicas dos clientes, seguindo um conceito tailor made que garante um toque único em cada refeição. Para aproveitar esses almoços ou jantares especiais, acompanhados pelos vinhos da adega, é necessário agendar com pelo menos 24 horas de antecedência.
Seja através de uma visita breve ou de uma imersão completa, a Caminhos Cruzados proporciona uma experiência única: a alegria que surge da perfeita harmonia entre o vinho, a natureza e a inovação na tradição.

CADERNO DE VISITA
COMODIDADES
– Kids friendly
– Línguas faladas: inglês, espanhol
– Loja de vinhos
– Diversas salas com capacidades máximas de 8 a 40 pessoas para diferentes atividades e refeições
– Parque para automóveis ligeiros e autocarros
– Provas comentadas (ver programas)
– Conceito open kitchen com o chef Miguel Vidal
– Turismo acessível
– Wifi gratuito disponível
– Visita às vinhas
– Slow tourism (conceito de receber sem apressar o visitante, com abertura para poder caminhar livremente pela quinta ou apreciar um vinho à lareira, por exemplo)
EVENTOS
Corporativos
Atividades team building
Privados variados, incluindo aniversários, reuniões familiares, despedidas de solteiro (a) e batizados
PROGRAMAS DE ENOTURISMO
VISITA À ADEGA & PROVA DE 3 VINHOS
Duração média da experiência: 60 minutos
Horários: 11h/14.30h/16.30h de segunda a sábado
Limite mínimo de visitantes: 2
Limite máximo de visitantes: Não tem
Preço: 15€/Pax
VISITA À ADEGA, VINHA & PROVA DE 3 VINHOS PREMIUM
Tábua de enchidos e queijos. A tábua vegetariana necessita de marcação prévia de 24 h.
Duração média da experiência: 90 minutos
Horários: 11h/14.30h/16.30h de segunda a sábado
Limite mínimo de visitantes: 2
Limite máximo de visitantes: 28 sentados e 40 de pé
Preço: 30€/Pax
WINE AND FOOD
Atividade composta por visita à adega/quinta seguida de almoço vínico. As provas são harmonizadas com a gastronomia local. Opção vegetariana. necessita de marcação prévia de 48h
Duração da visita e almoço: 120-150 min
Horários: 12.30h de segunda a sábado
Limite mínimo de visitantes: 2
Limite máximo de visitantes: 28 sentados e 40 de pé
Preço: Almoço 50€/Pax; Jantar 55€/Pax
ENOLOGIA CRIATIVA
Nesta atividade o visitante poderá criar e engarrafar o seu próprio vinho, loteando e produzindo amostras para chegar ao perfil que gosta mais. No final leva a garrafa, para partilhar a experiência com os amigos ou família.
Duração média da atividade: 120 min
Horários: 11h/15h de segunda a sábado
Limite mínimo de visitantes: 2
Limite máximo de visitantes: 10 (equipas de 2)
Preço: 40€/Pax
PIQUENIQUE NA VINHA
Inclui prova de vinhos, um cesto de piquenique com uma garrafa de vinho, uma garrafa de água, compotas, pão regional, biscoitos, enchidos, queijo e fruta.
Duração da visita: Ilimitada.
Horários: A partir das 10.30h de segunda a sábado
Limite mínimo de visitantes: 2
Limite máximo de visitantes: Não tem
Preço: 40€ (2 Pax)
PROVA VINHO E CHOCOLATE
Nesta experiência, que agradará aos amantes de vinhos e de chocolates, são harmonizados cinco bombons com quatro vinhos.
Duração média: 90 min.
Horários: 11h/14.30h/16h de segunda a sábado
Limite mínimo de visitantes: 2
Limite máximo de visitantes: 20
Preço: 25€/Pax
PEDDY PAPER NA VINHA
O objetivo é passar um momento divertido com familiares e amigos a descobrir pistas no meio de uma vinha, através da leitura e descodificação de um road-book. Após o jogo, recupera-se a energia com a prova de um vinho na adega.
Duração média do jogo: 90 min
Horários: 11h/15h de segunda a sábado
Limite mínimo de visitantes: 2
Limite máximo de visitantes: Não tem
Preço: 20€/Pax
JOGO DOS AROMAS
O Jogo dos Aromas permite, aos jogadores, pôr à prova a sua capacidade de identificar os aromas do vinho, envolvidos em contexto vitícola.
Duração média do jogo: 90 min
Horários: 11h/14.30h/16.30h de segunda a sábado
Limite mínimo de visitantes: 2
Limite máximo de visitantes: 24
Preço: 20€/Pax
WINE SURPRISE
Partilha de o espaço da adega criar e oferecer surpresas aos outros.
WORKSHOPS
Possibilidade de participar em workshops temáticos criados pela Caminhos Cruzados, que são anunciados num futuro próximo.
EVENTOS CORPORATIVOS
Espaço único para eventos especiais, team buildings e formações com possibilidade de conhecer a adega e os seus vinhos.
CONTACTOS
Quinta da Teixuga, Estrada Municipal Algeraz – Carvalhal Redondo
3520-011 Nelas – Portugal
Tel.: +351 232 940 195
Email: enoturismo@caminhoscruzados.net
Responsável pelo Enoturismo – Luis Filipe
Notas
Aos domingos e feriados é necessária marcação prévia.
Preços especiais para crianças.
Nota: o autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
São José do Barrilário: Dois vinhos e uma janela aberta para o Douro

A história da Quinta São José do Barrilário começa oficialmente em 1747, quando foi reconhecida como tal. Reza a lenda que, há muitos anos, ainda antes dessa data, um dos trabalhadores da quinta, ao lavar um dos barris, caiu acidentalmente dentro dele e rolou até ao ribeiro. Quando finalmente parou, agradeceu a São José, o […]
A história da Quinta São José do Barrilário começa oficialmente em 1747, quando foi reconhecida como tal. Reza a lenda que, há muitos anos, ainda antes dessa data, um dos trabalhadores da quinta, ao lavar um dos barris, caiu acidentalmente dentro dele e rolou até ao ribeiro. Quando finalmente parou, agradeceu a São José, o santo padroeiro da capela. Assim nasceu a Quinta São José do Barrilário e, em homenagem a esse acontecimento, todo o hotel foi inspirado nos barris de vinho.
Chegados ao Douro Wine Hotel & Spa fomos recebidos pelos administradores Maria do Céu Gonçalves e Álvaro Lopes, que nos proporcionaram uma visita guiada pelo espaço, que conjuga tradição com sofisticação, com um olhar na sustentabilidade. Adquirida pelo Grupo Terras & Terroir em 2017, a quinta, localizada em Armamar foi alvo, de um profundo e dedicado processo de revitalização, reabrindo ao público em agosto de 2024.
O projeto, com assinatura do arquiteto Henrique Gouveia Pinto, envolveu a construção de um hotel de cinco estrelas, o Douro Wine Hotel & Spa, com 31 unidades de alojamento (27 quartos e quatro suites, com áreas entre os 28 e os 50 metros quadrados), infinity pool exterior, Spa panorâmico, restaurante e loja de vinhos, assim como a reconversão da casa, a recuperação da capela dedicada a São José e o lançamento da marca de vinhos São José do Barrilário.
Herança e sustentabilidade
O respeito pela história da Quinta São José do Barrilário é comprovado com a recuperação da casa senhorial, convertida em palco privilegiado para a realização de eventos, e da capela dedicada a São José, verdadeiramente um dos ex-libris da propriedade.
A oferta é diversificada e focada na sustentabilidade, com uma cuidadosa seleção de materiais que refletem a autenticidade, a tradição e a profunda ligação com a região do Douro, enquanto proporcionam conforto e sofisticação aos hóspedes: “Acreditamos que o Douro ainda tem muito para crescer, que tem potencial para desenvolver a sua proposta de valor. Pretendemos contribuir para essa evolução com uma oferta de qualidade superior, dentro do segmento de luxo, apostando num hotel de cinco estrelas que tem uma vista fantástica sobre o rio Douro, e na revitalização das estruturas já existentes na Quinta, cumprindo a missão do grupo, de valorizar o património de Portugal”, frisa a administração do Grupo Terras & Terroir”.
Apenas a título de exemplo, é possível degustar mel na propriedade, proveniente de 10 colmeias já instaladas que, no futuro, farão parte da oferta diferenciada de serviços disponíveis, pois está prevista a construção de um apiário que poderá ser visitado pelos hóspedes. A breve prazo, o mel colhido será também comercializado pelo grupo Terras & Terroir. O mesmo se passa com o azeite obtido das 400 oliveiras do olival da propriedade ou o pomar em crescimento, ofertas verdadeiramente diferenciadas para quem procura luxo e diversificação na região duriense.

Um terroir de eleição
Após a visita à propriedade, foi tempo de provar os novos reserva São José do Barrilário – um branco e um tinto. As garrafas apresentam o logotipo da quinta, inspirado na iconografia da Companhia de Jesus, também conhecida como Ordem dos Jesuítas, exibindo três pregos estilizados que representam os usados na crucificação de Cristo. O rótulo com relevo evidencia igualmente os losangos perpetuados na capela do século XVIII, dedicada a São José, que foi restaurada.
A Quinta São José do Barrilário perfaz um total de 28 hectares, dos quais 15 são de vinha, 11 dos quais com idades compreendidas entre os 25 e os 50 anos, três hectares com cerca de cinco anos e um hectare com cerca de dois anos. Predominância, nas variedades tintas, para a Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca e Tinta Barroca nas vinhas mais velhas, e Tinto Cão e Sousão nas vinhas novas. As uvas para o branco, maioritariamente de Gouveio e Viosinho provêm de uma vinha localizada em altitude, em Carrazeda de Ansiães, no Douro Superior.
“O facto de estarmos localizados numa encosta exposta a nascente implica menos sol após o meio-dia, resultando numa maturação equilibrada, sem calor excessivo, produzindo vinhos tintos muito frescos, com boa acidez. Nos brancos, a altitude da vinha localizada no Douro Superior é determinante para a sua frescura”, refere Hugo Fonseca, diretor de Produção do Grupo Terras & Terroir.
Os vinhos – 4500 garrafas de branco e 6600 garrafas de tinto – são produzidos em Lamego, a curta distância, no centro de vinificação da Quinta da Pacheca, com a assinatura da dupla de enólogos da principal unidade do Grupo Terras & Terroir: Maria de Serpa Pimentel e João Silva e Sousa. Será sempre uma produção limitada, focada na qualidade, estando na forja apenas mais um tinto, um Grande Reserva a sair em breve.
Para a dupla de enólogos o objetivo foi criar vinhos “com longevidade em garrafa” e cujo mote é “frescura, frescura, frescura”. Pudemos comprová-lo na prova efetuada e posteriormente à mesa, ao almoço, no restaurante do hotel, com o traço distintivo da carta criada pelo chef Luís Guedes.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
(Artigo publicado na edição de Novembro de 2024)
Estive Lá: Ilha da Armona, mais próximo do paraíso

Assistir ao movimento das marés na barra da Ilha da Armona proporciona uma sensação muito agradável. E não só para mim. Sente-se na forma de estar das pessoas que passam a pé pela beira de água, nas que se banham nela e nas que apenas se sentam a apreciar a vista, como gosto de fazer […]
Assistir ao movimento das marés na barra da Ilha da Armona proporciona uma sensação muito agradável. E não só para mim. Sente-se na forma de estar das pessoas que passam a pé pela beira de água, nas que se banham nela e nas que apenas se sentam a apreciar a vista, como gosto de fazer por vezes. À medida que a maré baixa vários bancos de areia vão surgindo, convidando a um mergulho nas águas límpidas das lagoas que se vão formando ou a apanhar conquilhas e berbigões. Mais uma vez não resisti ao convite aos mergulhos. Quanto às conquilhas, este ano só as encontrei no prato, como se verá adiante.
É pelo prazer que me dá que volto à Armona todos os anos, mesmo que isso me obrigue a dar pelo menos 12 mil passos ida e volta, desde o lugar onde costumo deixar o automóvel até ao cais onde apanho o barco e, depois, pelo interior da ilha até à barra. Tal como é habitual o meu dia começou com uma tosta mista num dos cafés do mercado de Olhão, aquele onde vou sempre, na companhia de um sumo de laranja algarvia bem-apessoado, e de um café para acordar. A verdade é que não há melhor tosta mista para mim, principalmente pelos sabores e aromas irresistíveis e inimitáveis do pão, ligeiramente barrado, por fora, com manteiga, onde se aconchegam molemente o queijo e o fiambre. É impossível deixar de repetir.
Enquanto espero a encomenda, vou sempre ao mercado do peixe porque me sabe bem fazê-lo e me ajuda a manter o olhar treinado. No verão, se se for cedo, há quase sempre sardinha, carapau de todos os tamanhos, safia, dourada e sargo, pescada, robalo, salmonete, chaputa, raia, cação, atum e muitos outros peixes e mariscos. Por isso, vou sempre lá abastecer-me, o melhor que consigo, antes de voltar para Lisboa. Mas se, for sábado, tem de ser cedo, porque, a partir das 10h, a oferta já rareia. A frescura, os sabores e aromas e a relação qualidade/preço valem sempre o investimento.
A ida mais recente à Armona levou-me, na volta, ao Restaurante Grupo Naval de Olhão. Estava a apetecer-me lá voltar e fica mesmo perto do cais de embarque para as ilhas. Foi um lanche ajantarado que se iniciou perto das 4h30 da tarde, na esplanada, composto por ostras da Ria Formosa, como não podia deixar de ser, conquilhas à Bolhão Pato que ainda souberam melhor na companhia do pão fresco, cheiroso e gostoso que só se consegue arranjar no Algarve, tal como a salada de polvo de cores vivas e os carapaus alimados. Tudo na boa companhia do vinho Sebastião, da casta Chardonnay, que seleccionei entre as cerca de duas dezenas de sugestões de uma carta com opções para todos os gostos e bolsas. A sua frescura, a fruta discreta mas presente e o ligeiro toque de madeira e de especiarias contribuíram para que fizesse boa companhia a todos os petiscos. Foi um belo final de tarde de beira ria neste verão.
Restaurante Grupo Naval de Olhão
Morada: Av. 5 de Outubro, Olhão
Tel.: 289 050 543
Mercados de Olhão
Morada: Av. 5 de Outubro, Olhão
Tel.: 289 817 024
Site: www.mercadosdeolhao.pt
Bilheteira Olhão – Ferry para as Ilhas
Morada: Av. 5 de Outubro 2A, Olhão
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2024)
Quinta da Torre: Estórias de uma Casa com história

A região do Minho, situada no noroeste de Portugal, é conhecida pela sua rica herança cultural e histórica, que ao longo dos séculos exerceu influência significativa no país, com uma identidade única, desde a sua geografia e clima até às tradições populares, artesanato, gastronomia e vinhos, cultura e desenvolvimento económico e social. A influência cultural […]
A região do Minho, situada no noroeste de Portugal, é conhecida pela sua rica herança cultural e histórica, que ao longo dos séculos exerceu influência significativa no país, com uma identidade única, desde a sua geografia e clima até às tradições populares, artesanato, gastronomia e vinhos, cultura e desenvolvimento económico e social. A influência cultural e histórica do Minho contribuiu decididamente para a formação da identidade de Portugal e consolidou a sua importância contínua no cenário nacional.
A história da região do Minho remonta à época pré-romana, com vestígios de povoados e fortificações que datam da Idade do Ferro. Durante a ocupação romana, a região foi uma importante produtora de vinho e cereais, beneficiando-se da localização estratégica junto ao rio Minho. No período medieval, o Minho foi palco de várias disputas entre cristãos e mouros, culminando na Reconquista. A região foi então dividida em pequenos condados e senhorios feudais, cada um com sua própria identidade cultural e social. Durante os séculos seguintes, o Minho foi marcado por desenvolvimentos agrícolas e comerciais, e pela influência de diferentes reinados e governantes, moldando sua evolução até os dias de hoje.
Este território caracteriza-se também pela extraordinária oferta de “casas solarengas” com origens na Idade Média, quando as famílias nobres começaram a construir casas fortificadas para se protegerem das invasões. Ao longo dos séculos, essas construções evoluíram para os Solares que conhecemos hoje, com influências arquitetónicas góticas, renascentistas e barrocas. A evolução dos solares no (Alto) Minho está intimamente ligada à ascensão e queda das famílias nobres que os habitavam, refletindo as mudanças políticas e sociais que ocorreram na região ao longo dos séculos. Pode-se, ainda, encontrar em perfeito estado de conservação, outras construções características da arquitetura regional tradicional – as casas abastadas de lavradores e casas agrícolas humildes, localizadas nos espaços rurais e nas aldeias que no Minho abundam, constituindo um quadro perfeito de paisagem, usos, costumes e tradições. Muito deste património, para felicidade do mundo do turismo, encontra-se a funcionar para receber hospedes que aí podem pernoitar e provar o que de melhor tem a região para oferecer em cultura, gastronomia e vinhos.
Numa manhã de sol exuberante que me impelia a sair de casa e a viver a vida, decidi viajar até ao paraíso vínico da sub-Região de Monção e Melgaço e aproveitar o que de melhor o território tinha para me proporcionar, para me fazer feliz. Nunca me canso de fazer um périplo por este destino, também de enoturismo, pelas paisagens, pela história, mas sobretudo pelo Vinho, esse néctar que nos transforma, que nos faz pensar, que nos faz rir e chorar, que nos eleva o ser e a alma. Algo “divino” aconteceu.
O Homem sonhou e a obra nasceu…
Imbuído da missão de me proporcionar felicidade, fui visitar a Quinta da Torre, localizada na freguesia de Moreira, concelho de Monção, propriedade de Anselmo Mendes – um dos mais importantes enólogos deste país, conhecido pelo “Senhor Alvarinho” – e de sua mulher, Fernanda Grilo, responsável por grande parte da gestão da empresa.
Na realidade há Homens cuja importância para o sector e para a região onde gravitam, valem mais que as suas próprias obras. No caso de Anselmo Mendes, o cuidado e a sabedoria que deposita em tudo o que faz é tanta, que acaba por criar uma legião de seguidores e admiradores naturais que o seguem por todo lado, faça o que fizer. Apesar de fazer enologia em vários pontos do país e no estrangeiro, é em Monção que ele se “despe” de corpo e alma e se atira a uma casta, Alvarinho, que domina em toda a sua dimensão.
A Quinta da Torre, nome adotado nos dias de hoje, é um sonho concretizado por Anselmo Mendes, remetendo para as suas recordações de infância, quando vindimava esta terra e acreditava que este era o terroir de excelência, sobretudo, para o icónico Alvarinho.
A Casa da Torre, Paço Quinta da Bemposta (pela boa exposição), como se designava no passado, cheia de estórias e de histórias, foi sendo vivenciada por famílias Nobres. Payo Gomes Pereira e Isabel Soares são os primeiros a habitá-la. Após várias sucessões na família, a partir dos séculos XVII e XVIII, a casa intensificou a produção de vinho, cultivo do milho, do linho, tinha dois moinhos que permitiam elaborar azeite, era um “feudo” agrícola de grande importância para a região. No final da primeira década deste século, Anselmo Mendes começa por tratar os 12 ha de vinhas desta quinta ligeiramente abandonada pelos proprietários da altura. Percebe de imediato que estava perante um terroir (ou vários) que iria permitir elaborar vinhos de grande nível. Entretanto, ao longo dos anos, ainda na modalidade de aluguer, vai plantar mais 30 ha de vinha. Vem a adquirir a Quinta da Torre em 2016. Possui, neste momento, 50 ha de vinha numa dimensão total de 62 ha.
Os solos em aluviões proporcionam vinhos mais florais, mais cheios, mais densos. A vinha do rio (uma delas) proporciona vinhos mais aromáticos, talvez por ter mais matéria orgânica. Os vinhos das parcelas da Rainha e do Olival provêm de solos com mais argila e são mais densos, mais estruturados, apesar de estarem no mesmo vale. Nas vinhas das encostas os vinhos são mais frutados e tensos, salienta orgulhosamente. Esta paleta orgânica que a Quinta da Torre possui permite, a Anselmo Mendes, criar vinhos com enorme capacidade de espera, de guarda, alicerçada na casta Alvarinho. O desafio neste estudo permanente é de elaborar vinhos cada vez mais complexos e diferenciados, permitindo estudar melhor cada uma das parcelas e os vinhos que pode proporcionar, isoladas ou em conjunto.
Na sequência deste mosaico de solos, um dos atrativos é o “Centro de Experiências”, onde se pode aprender tudo sobre a vinificação, estágio em inox por vinha, visionar as diferentes texturas de solos e verificar os estágios em garrafas com vinhos das diferentes parcelas.
No espaço da quinta pode encontrar-se, ainda, nos dias de hoje, corvos, perdizes, faisões, cegonhas, javalis e veados. As oliveiras com mais de mil anos, são, de per si, um atrativo.
A Quinta da Torre, criada para originar vinhos de excelência e proporcionar experiências inesquecíveis na área do enoturismo, localiza-se freguesia de Moreira, concelho de Monção. É fácil de chegar: no local deparamo-nos com um enorme e bonito portão à moda antiga, com o muro típico em granito desta região, onde se pode ler Quinta da Torre.
Entrando, deparamos com um acervo de património cultural construído impressionante, que “transpira” história e se impõe pela beleza e imponência. Existem dois espigueiros e uma eira que nos transportam para os usos, costumes e tradições destas terras, onde o trabalho do milho, do linho, era uma constante, e onde se matava o porco e dele se extraía tudo para se fazer os diversos pratos bem típicos de Monção e do Minho.
Olhando para a esquerda, contigua aos espigueiros, encontra-se uma loja de vinhos contemporânea franqueada com uma enorme esplanada para os vários torrões de vinha que a quinta possui. Uma paisagem de cortar a respiração de tão idílica que é, e de beleza natural que possui. A vontade de pegar num copo e provar um excelente Alvarinho à temperatura correta, provocou em mim pensamentos e devaneios incontroláveis para quem adora esta casta como eu. Por debaixo da loja temos uma sala de provas com capacidade para 25 pessoas, onde se fazem as provas livres e programadas.
Na loja encontram-se devidamente e criteriosamente expostos todos os vinhos que Anselmo Mendes que produz na Região dos Vinhos Verdes, sobretudo na sub-Região de Monção e Melgaço e na Sub-Região do Lima. Em conjunto, o enólogo já faz a gestão de 130 ha de vinha, 50 ha em Monção e mais 70 ha no Lima.
As experiências de turismo e vinhos
A conduzir a visita estava a Sandra Além. Responsável pelo Enoturismo da Quinta, nascida a pouco mais de 700 metros, desperta de imediato a atenção pela sua alegria, simplicidade, genuinidade e profissionalismo. Pode haver a sorte de encontrar o enólogo Anselmo Mendes na Quinta, e ele nunca recusa uma explicação suplementar. Eu tive essa sorte. Todas as provas são acompanhadas com produtos gastronómicos locais e regionais. Na esplanada também se fazem provas. É nesse espaço que a visita começa com uma explicação criteriosa da história da casa e as características da Quinta. O storytelling nunca é o mesmo, pois há muito para dar a conhecer, e a espontaneidade da Sandra, com um sotaque delicioso, rapidamente nos embala para um passado glorioso sem perder o norte da visita, provar vinhos e ter uma experiência turística memorável.
Na visita completa, cerca de hora e meia e “mais uns pozinhos”, calcorreamos a quinta com paragem obrigatória nas oliveiras com mais de mil anos, onde orgulhosamente se realça o histórico e a tradição na produção de azeite na Quinta da Torre, conhecida na terra pelo Paço – Quinta da Bemposta. Os exteriores milimetricamente organizados com um gosto requintado, onde tudo está no sítio certo, remetem-nos para o imaginário do passado onde o tempo durava muito, onde a vida calma e mais prazerosa permitia o disfrute de tal espaço romantizado. Respira-se cultura, natureza, paisagem, que faz-nos sentir em casa e desejar ficar para uns dias de deleite.
Em frente às famosas oliveiras localizam-se cinco suites, num corpo contiguo e construído para o efeito de alojamento turístico, devidamente equipadas, de bom gosto decorativo e qualidade irrepreensível. Nota-se que tudo foi pensado para proporcionar momentos especiais.
Em seguida descemos, perante a fachada sul da casa onde se localizam pormenores arquitetónicos de grande valor, que merecem reflexão, para conhecer o exclusivo e único Centro de Experiências da Região, uma adega de onde, no século XVI, saiam vinhos para Inglaterra e Norte da Europa. Anselmo Mendes guarda todos os anos 1000 litros de vinho por cada uma das oito as parcelas, oito solos diferentes no mesmo vale. Este centro está inteligentemente organizado: o chão mostra a rocha mãe da região – o granito, e dos lados a pedra rolada, 8 cubas em inox com vinhos em estágio por parcela, 16 barricas onde estagiam mais alguns vinhos e uma garrafeira com os vinhos em estágio. Este Centro de Experiências permite constituir também uma mostra do que se faz na Adega que a empresa tem em Melgaço.
Na companhia do Anselmo Mendes, esqueça o tempo porque a conversa flui pelos tempos da história, das castas, da terra, dos usos e costumes e sobretudo das tradições.
No andar acima do Centro de Experiências existe uma biblioteca bem apetrechada de aventuras, factos e ciência, com especial atenção para o vinho, e ainda tem uma suite para uso da família. Contudo, no corpo central encontramos a sala vip que permitirá a realização de eventos mais privados, quer para o produtor quer para quem dela necessita para realizar uma ação mais exclusiva. No andar de cima, o corpo central da casa, existe uma sala de jantar para uso comum e uma cozinha que os hospedes podem de igual forma usar.
Na Torre perto das oliveiras existem três suites para alojamento turístico com todo o conforto digno de espaços celestiais que nos remetem para a história de “príncipes e princesas”, bem localizadas, pois podemos admirar o “mar” calmo das vinhas. Na parte de trás da casa, com a fachada virada para as vinhas, temos um pomar para apreciação e “prova” de alguns frutos tirados diretos da árvore.

Na Quinta da Torre, estão plantados 50 ha de Alvarinho. E, numa propriedade vizinha, mais 7 ha de castas tintas (Alvarelhão, Pedral, Verdelho-Feijão). Mas para completar o conhecimento e refletir as viagens que Anselmo faz pelo mundo vínico, a Quinta possui 1 ha vinha, que constitui um raro “Jardim das Castas Brancas”, para proporcionar, de igual forma, mais conhecimento a quem a visita. Das várias existentes destacam-se variedades brancas internacionais como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling, Viognier, Gewurztraminer, Pinot Gris, Assyrtiko, Furmint, Godello, Fiano e, entre as castas nacionais, Encruzado, Viosinho, Azal, Arinto, entre outras.
A quinta possui ainda uma coleção de 400 camélias, que são tratadas com o maior cuidado já que a família adora esta espécie. Este é o cenário ideal para desfrutar de uma prova de vinhos ímpar, repleta de identidade e autenticidade e rodeado pelas vinhas que lhes dão origem, num terroir único, perfeito para a casta rainha da região. A experiência turística é inolvidável.
Os desafios enfrentados, como as mudanças climáticas e as tendências de mercado, têm sido oportunidades para inovar e reafirmar a identidade e notoriedade dos vinhos produzidos nesta quinta. Com várias certificações de qualidade ISO22001 e ISO14001, caminham a passos largos para a obtenção do selo da Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola do IVV. Um espaço de Enoturismo a visitar para ser (muito) feliz.
Nota: o autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)
Adega José de Sousa cria programa de vindimas tipicamente alentejano

O programa pode ter início na vinha, onde os visitantes têm a oportunidade de cortar os cachos ou, se a vindima estiver numa fase avançada, na adega com a prova de mosto ou com a pisa a pé. Adicionalmente, os participantes podem participar nas atividades a decorrer. Este programa inclui, ainda, uma visita às duas […]
O programa pode ter início na vinha, onde os visitantes têm a oportunidade de cortar os cachos ou, se a vindima estiver numa fase avançada, na adega com a prova de mosto ou com a pisa a pé. Adicionalmente, os participantes podem participar nas atividades a decorrer. Este programa inclui, ainda, uma visita às duas adegas – a Adega Nova e a Adega dos Potes – com uma prova de vinhos e degustação de produtos regionais. E para aqueles que desejam encerrar o dia com uma experiência completa, há a opção de desfrutar de um almoço exclusivo, com os sabores típicos do Alentejo: gaspacho, empadas de galinha, queijos e enchidos, acompanhados de vinhos José de Sousa.
O programa está disponível mediante disponibilidade e marcação prévia. Pode fazer a sua reserva antecipada pelo e-mail josedesousa@jmfonseca.pt ou pelo contacto telefónico através do número 918 269 569.
Programa de vindimas Adega José de Sousa
Datas: 15 de Agosto a 15 de Setembro
OPÇÃO SEM ALMOÇO:
11h00 – Welcome drink
11h15 – Visita guiada à Adega Nova e Adega dos Potes, com participação nas atividades a decorrer*
12h15 – Prova de 3 vinhos e degustação de produtos regionais (enchidos, queijo, pão e azeite)
13h00 – Final do programa
Oferta de t-shirt e chapéu da vindima
Programa disponível de 2 a 16 pessoas
Preço por pessoa: 28 euros (IVA incluído)
Crianças até 10 anos: grátis (sem oferta de t-shirt e chapéu)
Jovens dos 11 aos 17 anos: 13,00 euros
Preço família (2 adultos + 2 jovens): 74,00 euros
OPÇÃO COM ALMOÇO:
11h00 – Welcome drink
11h15 – Visita guiada à Adega Nova e Adega dos Potes, com participação nas atividades a decorrer*
12h15 – Almoço de petiscos regionais: gaspacho, empadas de galinha, folhados de carne, queijos, enchidos variados, azeite, pão regional, azeitonas, compota, biscoitos tradicionais e fruta da época, acompanhado por vinhos José de Sousa.
14h30 – final do programa
Oferta de t-shirt e chapéu da vindima
Programa disponível de 2 a 16 pessoas.
Preço por pessoa: 62 euros (IVA incluído)
Preço crianças (4-8anos): 16,00 €
Jovens dos 9 aos 17 anos: 30,00 euros
Preço família (2 adultos + 2 jovens): 166,00 euros
* A atividade a desenvolver depende da data e da fase em que a vindima se encontrar.
Estive lá: Arte e o vinho em terras de Amarante

Há muito que tinha o desejo de rever a obra de Amadeo de Souza-Cardoso, algumas dezenas de anos depois da exposição, na Fundação Gulbenkian, deste pintor único do início do século 20, pela sua criatividade, técnica e sentido estético emocionante. Por isso fiquei um pouco mais feliz quando tive a oportunidade de ver as suas […]
Há muito que tinha o desejo de rever a obra de Amadeo de Souza-Cardoso, algumas dezenas de anos depois da exposição, na Fundação Gulbenkian, deste pintor único do início do século 20, pela sua criatividade, técnica e sentido estético emocionante. Por isso fiquei um pouco mais feliz quando tive a oportunidade de ver as suas obras e rever a sua curta história de vida no pequeno museu dedicado ao artista em Amarante, durante um dos fins de semanas prolongados que gosto de dedicar a conhecer um pouco melhor o meu país. Depois, foi uma pequena passeata pela zona antiga da vila com entrada, de novo, na Igreja de S. Gonçalo e uma paragem para um doce de formato fálico com o mesmo nome, que, ao que parece, homenageia os dotes casamenteiros de um santo, para os locais, e apenas beato, para a igreja, para arranjar maridos para senhoras mais velhas. A um par de cafés, seguiu-se uma passeata de beira rio Tâmega, nesse dia um pouco cheio e belicoso, de tal forma que nos impediu o caminho por já ter estendido as suas águas até ao caminho que iriamos percorrer.
O pôr do sol levou-nos ao Hotel Monverde, propriedade da Quinta da Lixa, para um par de noites que foram tão repousantes e agradáveis, que ficámos com pena de não permanecermos mais um pouco. Os quartos com vista para as vinha, o seu conforto, a ausência de ruído para além dos da natureza e o pequeno quintal à beira da piscina individual, quase nos fizeram perder a vontade de sair, o que me acontece muito raramente quando durmo em hotéis. Mas um espírito irrequieto como o meu não se consegue segurar num quarto, por mais acolhedor que seja, e nesse dia tinha um jantar aprazado com Carlos Teixeira, o enólogo da Quinta da Lixa, empresa proprietária deste hotel, para um repasto com prova dos seus vinhos. Foi sobretudo uma bela conversa, que se prolongou noite dentro, para lá das 12 badaladas. Do repasto destaco, para além da qualidade do serviço os sabores e aromas do Atum braseado com couli de suave de manga e pólen de mel de rosmaninho e do Gambão Argentino flambê, aveludado de ervilha e manteiga branca de açafrão, os dois primeiros pratos do repasto. Entre os vinhos gostei do Alvarinho de entrada, um vinho muito fresco e equilibrado e uma boa opção para pratos de peixe e marisco, e o Quinta da Lixa Alvarinho Reserva 2015, pela sua frescura, volume e complexidade, um vinho que se pode beber agora e durante muito mais tempo.
Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso
Morada: Alameda Teixeira de Pascoaes, Amarante
Tel.: 255 420 282
Site: www.amadeosouza-cardoso.pt
Monverde Wine Experience Hotel
Morada: Quinta de Sanguinhedo 166, Castanheiro Redondo, Telões, Amarante
Tel.: 255 143 100
E-mail: geral@monverde.pt
Site: www.monverde.pt
Estive Lá: Vila Real – Os sabores do Chaxoila e da Lapão

O tempo estava frio, chuvoso, mas não nos demoveu de uma passeata húmida por terras de Vila Real, cidade onde passei inúmeras vezes, sobretudo a caminho da Região do Douro, mas onde apenas tinha parado para almoçar. Depois de um pequeno-almoço na Casa Lapão, feito de imperdíveis covilhetes, uma espécie de ex-libris da cidade, bem […]
O tempo estava frio, chuvoso, mas não nos demoveu de uma passeata húmida por terras de Vila Real, cidade onde passei inúmeras vezes, sobretudo a caminho da Região do Douro, mas onde apenas tinha parado para almoçar.
Depois de um pequeno-almoço na Casa Lapão, feito de imperdíveis covilhetes, uma espécie de ex-libris da cidade, bem pecaminoso, feito de massa folhada com recheio de carne, e de uma fatia da sua saborosa e bem recheada bôla, a meias, na companhia do indispensável galão de máquina, foi hora de passeio à chuva, com muitas paragens para usufruir da paisagem. Primeiro na pequena zona velha do centro da cidade. Depois, numa descida até ao rio Corgo, que estava cheio de água, ruidoso e bem bravo, para uma longa caminhada pelas suas margens. Foram várias as paragens, como não podia deixar de ser, sobretudo para ver e ouvir as águas a passar em turbilhão e a cair em cascata no meio daquela zona verde, aquilo que mais tarde alguém de lá disse ser o Parque da Cidade.
Quase três horas depois de termos iniciado o percurso, feito com a calma que todos os fins de semana prolongados merecem, estávamos de volta ao carro, de partida para o nosso destino de almoço, a Casa de Pasto Chaxoila, nesse dia para um Naco de carne de Cachena (raça bovina) fatiado com batatas de forno, na companhia de um tinto Terra a Terra reserva de 2021, depois de mais um par de covilhetes, porque são irresistíveis. Para terminar, dois tentadores bolos locais: uma Crista de Galo, que é recheada com doce de ovos, e um Pito de Santa Luzia, que leva, no interior, doce de abóbora e canela, dois dos mais tentadores bolos locais. Excesso de gulodice, eu sei, mas teve de ser, até porque não vamos a Vila Real todos os dias. A oferta da casa é mais vasta, e ainda lá voltámos para petiscar polvo à galega e umas pataniscas que estavam mesmo boas, apenas para reconfortar o corpo antes de voltar para a Casa Agrícola da Levada, um turismo de habitação familiar, com casas e quartos independentes, que fica numa quinta bem cuidada no interior da cidade. Ficámos no lagar, e gostámos.
Casa de Pasto Chaxoila
Morada: Estrada Nacional 2, Borralha, Vila Real
Tel.: 259 322 654
Pastelaria Casa Lapão
Morada: R. da Misericórdia 64, Vila Real
Tel.: 259 324 146
Casa Agrícola da Levada Eco Village
Morada: Casa Agrícola da Levada, Vila Real
Tel.: 916 594 404