Quinta de Ventozelo, 10 anos depois
Existe desde 1500, data em que se verificam os primeiros registos da quinta como fazendo parte do património do mosteiro de São Pedro das Águias. Desde aí, a propriedade passou por várias épocas, umas prósperas, outras desafortunadas, mudando os proprietários e modelos de gestão, até que, em 2014, foi adquirida pela Gran Cruz (agora Granvinhos), […]
Existe desde 1500, data em que se verificam os primeiros registos da quinta como fazendo parte do património do mosteiro de São Pedro das Águias. Desde aí, a propriedade passou por várias épocas, umas prósperas, outras desafortunadas, mudando os proprietários e modelos de gestão, até que, em 2014, foi adquirida pela Gran Cruz (agora Granvinhos), empresa do grupo francês La Martiniquaise. Esta aquisição foi estratégica, permitindo um grande investimento na propriedade para explorar todo o seu potencial. Por outro lado, esta que é uma das maiores empresas nacionais de produção do Vinho do Porto (cerca de 30 milhões de litros segundo o seu director de enologia, José Manuel Sousa Soares) obteve condições para produzir vinhos Douro DOC de alta qualidade. Dos 15 milhões de euros investidos, 75% foram destinados ao turismo e 25% ao ambiente.
Tudo o que se faz na Quinta de Ventozelo faz-se com amor. E não apenas no sentido do bom gosto, mas também da responsabilidade ambiental. A sustentabilidade na quinta é transversal. Não se limita à produção de vinho, pois abrange toda a intervenção feita na Quinta, onde se pretende proteger e enriquecer os recursos naturais e a biodiversidade.
Todas as parcelas com vinha têm um coberto vegetal constituído pela flora autóctone espontânea ou resultante da sementeira de mistura de gramíneas e leguminosas. Esta técnica tem efeitos benéficos na protecção contra a erosão hídrica, principalmente em vinhas ao alto, na formação e estabilidade da estrutura do solo, no aumento da porosidade e na conservação da água durante o verão, sendo ainda abrigo da biodiversidade e de auxiliares no combate a pragas e doenças. As leguminosas ainda ajudam a fixar o azoto no solo.
Com a redução de utilização de agroquímicos em mais de 30%, criou-se espaço para crescerem espécies autóctones e restauraram-se habitats naturais nas galerias ripícolas. Na Quinta já foram identificadas um total de 224 espécies de plantas, sendo mais de 20% caracterizadas como RELAPE (Raras, Endémicas, Localizadas, Ameaçadas ou Protegidas) e 185 espécies de animais, parte delas também ameaçadas ou consideradas criticamente em perigo.
Enoturismo de referência
Enquanto projecto de enoturismo, Ventozelo Hotel & Quinta oferece o conforto de um hotel num ambiente rural de uma quinta do Douro.
O restaurante da quinta chama-se Cantina de Ventozelo, por ter sido uma cantina para os trabalhadores em tempos idos. Um amplo terraço oferece uma sombra compacta, que permite relaxar enquanto se observa a vista deslumbrante sobre as vinhas. A ementa, construída pelo Chef José Guedes, tem por base os produtos cultivados nas hortas da quinta, alguma caça e funciona num conceito “quilómetro zero”, o que significa trabalhar com fornecedores de proximidade, dando preferência a produtos regionais.
O Centro Interpretativo, aberto ao público já há alguns anos, é uma espécie de museu vivo e interactivo, que oferece uma espectacular experiência sensorial (incluindo efeitos visuais, sons e aromas) na descoberta de Ventozelo e da sua história.
As vinhas
A vinha ocupa metade da área da quinta. Dos 200 ha cerca de 40 ha foram reabilitados recentemente. Andar de jipe pelos trilhos da Quinta de Ventozelo, com mais ou menos emoção em função do percurso escolhido, é uma actividade tão hedonística como intelectual. Enquanto se desfruta a beleza paisagística das vinhas, testemunham-se as suas variadíssimas condições, moldadas pelas altitudes que vão desde o rio (a 100 metros) até aos 500 metros; pelos solos com diferentes níveis de evolução, textura e capacidade de retenção de água e nutrientes; e pelas exposições, que se apercebem melhor sobretudo ao aproximar-se o pôr-do-sol, quando algumas vinhas já se encontram ensombradas e outras ainda iluminadas pelo astro rei.
Pelo caminho, o director geral da Granvinhos, Jorge Dias conta as aventuras com as pragas dos javalis que, sobretudo nos anos quentes, vão à vinha à procura de água, mordem e estragam os cabos de rega gota-a-gota e servem-se à vontade de uvas. O problema resolve-se com 1000 euros por mês, através da colocação de comedores com milho em três lugares estratégicos para desincentivar os animais de irem às vinhas.
10 anos numa prova
A melhor forma de comemorar os primeiros 10 anos é ver o tempo a passar pelos vinhos numa prova vertical, desde 2014. Das 28 referências de vinhos produzidos na Quinta de Ventozelo, foram escolhidas duas – o branco monovarietal de Viosinho e o tinto Essência.
A casta mais emblemática da Quinta de Ventozelo é o Viosinho, sem dúvida. É a casta do Douro “com maior volume de boca” e bem expressiva; “aguenta o escaldão e tem uma janela de oportunidade na vindima bastante grande”. “As notas tropicais que surgem nos vinhos novos, desaparecem ao fim de dois anos em garrafa”. 10 vinhos numa prova vertical mostram bem a história, a aprendizagem e a variação anual.
O 2014 (em magnum) apresenta notas apetroladas e amendoadas, ervas aromáticas, fruta contida e algo terroso também. Muito bom no volume, acidez não impositiva, que dá frescura suficiente. Termina com notas citrinas e leve amargo (17,5). O 2015 (em magnum) mostra-se mais tropical no nariz marcado pelo aroma de ananás e manga, não tão fino e ligeiramente mais amargo no final (17). O 2016 revela fruta mais evoluída e menos finesse em expressão de nariz e de boca (16). O 2017 está em grande forma com aroma muito apelativo, vivo e complexo a revelar lima, laranja e kumquat, ervas aromáticas e nuances apetroladas também; grande volume de boca, expressão e prolongamento (17,5). O 2018 parece mais novo, tem uma nuance floral a lembrar madressilva e fruta delicada; quase crocante, cristalino e delicado, textura e corpo muito equilibrado com frescura persistente (17). O 2019 é exuberante, tropical, com ananás, manga e laranja, muito jovem ainda, de corpo amplo e muita vida (16,5). O 2020 é intenso, com alguma expressão tropical, aipo, manga, pêra, estragão e uma nota floral, com bastante corpo e acidez bem inserida, termina com leve nota amarga (17). O 2021 é jovem e exuberante com notas de tília, tisanas, funcho, vertente tropical, muito ananás (16,5). 2022 parece mais tímido no nariz, talvez por contraste com o super terpénico 2021, com fruta branca a lembrar pêra (16,5).
Essência no topo
Essência é o topo de gama tinto da Quinta de Ventozelo – a melhor expressão da quinta, que varia conforme a quantidade e proporção de Touriga Franca e Touriga Nacional, as duas castas responsáveis pelo lote. É produzido em anos que a uva entrega a qualidade pretendida. Por exemplo, em 2021 e 2022 optaram por não o fazer. A vinificação ocorre em lagar. Depois vai para as barricas de 500 litros de carvalho francês, novas e usadas, onde passa 18 meses. Por ser o vinho mais importante, ainda estagia bastante tempo em garrafa antes de ser lançado para o mercado. É por isto que os três vinhos mais recentes da prova vertical não se encontram ainda em comercialização, permanecendo em cave, onde evoluem potencializando as suas qualidades.
O 2019 (amostra da cave) tem nariz muito apelativo com um floral de violetas, cereja preta e ameixa madura, louro. Tem ainda muito da juventude, mas a complexidade está presente com promessa de ainda maior afinação com o tempo. Mastigável, tanino maduro e textura aveludada, macio na boca, com bom volume, mas não pesado. O tanino fica mais evidente no final, mas não tem secura. É suculento. Termina com especiaria doce (18). O 2018 (amostra da cave) tem menos corpo e mais frescura, menos exuberante na fruta, com cereja contida e tanino suculento (18). O 2017 (amostra da cave) revela nariz elegante com fruta vermelha, pimenta preta, louro e tomilho, ligeiramente terroso. Menos corpo, mais seco no fim, tanino bem firme e menos suculento, boa acidez e bonitos nuances de framboesa (17,5). O 2016 está ligeiramente fechado e terroso, a lembrar terra húmida, em combinação com louro, caruma e nuances de bergamota. Agradece arejamento, mais austero na boca, denso, compacto e especiado, com tanino ainda bem presente (17,5). O 2015 mostra-se lindamente no nariz, complexo, com muita fruta ainda a lembrar cereja preta e amora para além das notas de couro, caruma, especiaria e violetas. Óptima performance em boca, longo, suculento com tanino maduro e polido pelo tempo, austero q.b. e envolvente ao mesmo tempo (18,5). O 2014 nariz com notas de esteva, alcaçuz, resinas, eucalipto e reminiscência de fruta. Maior percepção de acidez transmite maior grau de frescura ao conjunto (17,5).
Ao jantar provámos outra bela amostra de cave, que será uma estreia absoluta em Setembro – o Quinta de Ventozelo Essência branco 2019, feito de Viosinho e Malvasia Fina. Que vinho! Fino e cativante, elegante com fruta branca séria e lindas notas citrinas, tudo bem proporcionado. Fantástico na prova de boca, com barrica certa, filigrano, com frescura natural, um vinho cheio de finesse, que mostra já uma super afinação (18,5). Segundo Jorge Dias, a Quinta de Ventozelo foi uma aventura de 10 anos e o projecto que deu um enorme gozo de fazer. “Que venham mais 10!” – resumiu com regozijo e confiança.
(Artigo publicado na edição de Setembro 2024)
Granvinhos adquire Quinta de S. Salvador da Torre nos Vinhos Verdes
A Granvinhos anunciou a ampliação da sua presença noutras regiões vitivinícolas do país, com a aquisição de uma propriedade de 37 hectares na região dos Vinhos Verdes, a Quinta de S. Salvador da Torre. Este investimento foi, segundo a empresa, resultado de meses de negociações com o Grupo Soja de Portugal, ao qual a Granvinhos […]
A Granvinhos anunciou a ampliação da sua presença noutras regiões vitivinícolas do país, com a aquisição de uma propriedade de 37 hectares na região dos Vinhos Verdes, a Quinta de S. Salvador da Torre. Este investimento foi, segundo a empresa, resultado de meses de negociações com o Grupo Soja de Portugal, ao qual a Granvinhos comprou a Agromar S.A., que detém a Quinta de S. Salvador da Torre, no Vale do Lima, concelho de Viana do Castelo.
A Quinta de S. Salvador da Torre, também conhecida como Quinta de Santo Isidoro, localiza-se na margem direita do rio Lima e tem mais de 400 anos de existência. “Uma propriedade agrícola impressionante, com uma casa senhorial datada de 1685”, revela a Granvinhos. Com 30 hectares de vinha, das castas Loureiro e Alvarinho, a quinta beneficia, segundo a Granvinhos, da brisa marítima característica do Vale do Lima, apresentando condições edafo-climáticas excepcionais.
A Granvinhos manterá o modelo de exploração desta propriedade dos Vinhos Verdes, em parceria com o enólogo Anselmo Mendes, que já era adoptado pela Agromar. Concretiza-se, assim, o primeiro projecto conjunto entre o enólogo e o director-geral da Granvinhos, Jorge Dias, alavancado por uma amizade de mais de 30 anos. Juntos pretendem explorar o potencial da casta Loureiro e a localização privilegiada da quinta, trabalhar na requalificação patrimonial da propriedade e, previsivelmente em 2024, lançar um novo vinho Loureiro.
“Acredito no futuro do Vinho Verde, em particular das castas Alvarinho e Loureiro, produtos bem-adaptados aos novos tempos e hábitos de consumo. No entanto, é necessário valorizar a ligação desses vinhos às respectivas zonas de produção, bem como à dieta atlântica, na qual Portugal tem uma oferta única”, afirma Jorge Dias.
Grupo Gran Cruz cresce e agora chama-se Granvinhos
Granvinhos é a nova denominação do grupo até agora apelidado de Gran Cruz. A recente designação decorre do processo de fusão por incorporação das empresas C. da Silva e Companhia União dos Vinhos do Porto e Madeira, na Gran Cruz Porto, agora redenominada para Granvinhos. “Esta fusão enquadra-se numa estratégia de racionalização e crescimento do […]
Granvinhos é a nova denominação do grupo até agora apelidado de Gran Cruz. A recente designação decorre do processo de fusão por incorporação das empresas C. da Silva e Companhia União dos Vinhos do Porto e Madeira, na Gran Cruz Porto, agora redenominada para Granvinhos. “Esta fusão enquadra-se numa estratégia de racionalização e crescimento do grupo”, revela a Granvinhos, em comunicado de imprensa, que adianta ainda: “Na sequência deste processo, todas as actividades de produção e comercialização de vinhos, bem como da distribuição das bebidas espirituosas da La Martiniquaise em Portugal, passam a estar concentradas no grupo Granvinhos”.
Contudo, esta alteração da denominação não afecta individualmente as designações comerciais das marcas já existentes e de maior destaque dentro das empresas fusionadas: Porto Cruz, Porto Dalva, Porto Presidential e C. da Silva mantêm os seus nomes no mercado.
Mas não é só o novo nome que o grupo agora comunica, há também aquisições importantes e recentes, que vão permitir, além do reforço da presença nas regiões onde o grupo já opera, a expansão para outras Denominações de Origem. Através da aquisição de 60% do capital social da Vicente Faria Vinhos S.A., a Granvinhos passa a deter o controlo accionista desta empresa, “a segunda maior empresa exportadora de vinhos do Douro”, refere o grupo. Adicionalmente, é com esta compra que a Granvinhos inicia a comercialização de Vinho Verde e vinho de Lisboa, num total de mais de 4 milhões de garrafas por ano.
A Granvinhos adquiriu, ainda, uma marca às Caves Borlido, “Albergaria”, criada em 1972, que comercializa dois dos licores portugueses mais populares no mercado nacional: o Licor de Amêndoa Amarga e o Licor de Ginja, com vendas superiores a um milhão de garrafas por ano.
“Na forja está ainda a construção de uma moderna adega, eficiente e sustentável, na Quinta do Cedro, no Rodo, em Peso da Régua. Trata-se de um centro de vinificação dotado de capacidade para vinificar mais de 8 mil toneladas de uva, com tecnologia adaptada à produção quer de vinho do Douro, quer do Porto. O projecto pretende ainda dar resposta ao referencial de sustentabilidade ambiental, económico e social, com que a empresa se quer comprometer. Esta adega insere-se na Agenda Mobilizadora para a Inovação Empresarial ‘Vine and Wine Portugal’, que a Granvinhos lidera no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência português (PRR)”, adianta o grupo, no mesmo comunicado de imprensa.