GRANDE PROVA – Late Bottled Vintage

Late Bottled Vintage

Porto de excelência, gastos comedidos  Este é o Porto do nosso contentamento. E tem tudo para nos dar bons momentos: tem complexidade, é polivalente à mesa, tem uma excelente relação preço/prazer e ainda permite a conservação em cave para usufruto futuro. É caso para perguntar: o que querem mais?  Texto: João Paulo Martins Fotos: Ricardo […]

Porto de excelência, gastos comedidos

 Este é o Porto do nosso contentamento. E tem tudo para nos dar bons momentos: tem complexidade, é polivalente à mesa, tem uma excelente relação preço/prazer e ainda permite a conservação em cave para usufruto futuro. É caso para perguntar: o que querem mais?

 Texto: João Paulo Martins

Fotos: Ricardo Palma Veiga

 Esta é sempre uma prova que tem tanto de fácil e agradável como de difícil; fácil porque os vinhos têm uma qualidade muito elevada (como se pode ver pelas classificações), agradável porque estes são vinhos do Porto muito sedutores e atraentes, e difícil porque maioritariamente são vinhos muito parecidos entre si. Esta é também um tipo de prova em que, outro provador, outro nariz e com outra ideia sobre o que é e não é um LBV, originaria porventura algumas avaliações diferentes.

Valerá a pena explicar melhor. A dúvida, se se pode pôr a questão nestes termos, é entre dois perfis de LBV: um que tem muitos pontos de contacto com o “estilo vintage”, profundo, vigoroso e concentrado, e outro onde se sente um Porto mais redondo e amaciado pela madeira, menos complexo e mais pronto para ser bebido de imediato. Qualquer produtor pode fazer dos dois tipos, consoante o perfil da marca, e fazer um ou outro depende muito da matéria-prima e da forma como conservou o vinho durante o estágio. Se a guarda for em grandes cubas ou balseiros há uma menor oxidação e maior preservação da fruta e do vigor; estágios em pipas ou em depósitos de menores dimensões facilitam alguma oxidação e arredondamento do perfil.

A lei que regulamenta as categorias especiais do Vinho do Porto (datada de 1973) é clara: para ter direito à designação de LBV o vinho, de qualidade reconhecida, tem de ser engarrafado entre o 4º e o 6º ano após a vindima. Temos então um vinho que esteve mais tempo em casco do que o vintage – este tem de ser engarrafado entre o 2º e 3º ano – mas que tem com ele muitas similitudes: a concentração da cor, a tonalidade bem escura, quando não opaca, e o mesmo vigor aromático. Cabe então ao produtor “desenhar” o perfil de LBV de acordo com o estilo que se pretende. A verdade é que, cada vez com mais frequência, os produtores estão a fazer os engarrafamentos ao 4º ano, obtendo assim vinhos de grande expressão de fruta e muito robustos que é, dizem os enólogos com quem falámos, o que se pretende neste tipo de vinho.

Enquanto no Porto Vintage os vinhos não são intencionalmente filtrados antes do engarrafamento, nos LBV podem ser ou não, dependendo do estilo de cada marca e de cada casa. Os LBV filtrados – um dos exemplos, nesta prova, é o Graham’s  – são vinhos que já não irão ganhar depósito na garrafa, têm rolha bar-top (com tampa de plástico) e não requerem cuidados no manuseamento. São por excelência os vinhos do Porto do canal HORECA mas que também estão disponíveis no comércio tradicional. Alguns dos outros que não são filtrados trazem essa indicação no rótulo – Unfiltered – sugerindo assim que podem ganhar depósito com o tempo em garrafa. Estes, por norma, são os que melhor enfrentarão a cave. Falo aqui da cave porque estes vinhos ganham com o tempo de guarda.

Há alguns anos promovemos uma prova que procurava exemplificar o que agora afirmo e a conclusão foi bem interessante: só provámos vinhos LBV com idade entre os 10 e 15 anos e mostraram estar ainda com grande saúde. São boas indicações para os leitores.

Temos então perfis de vinhos para todos os gostos. Esta é uma categoria a ganhar cada vez mais adeptos, sobretudo nos mercados externos, para onde é canalizada a grande fatia da produção dos grandes grupos do sector. Repare-se: o grupo que integra a Taylor/Fonseca/Croft tem nos LBV um dos seus principais activos, representando cerca de 20% da facturação; produzem 1 600 000 garrafas/ano, com a Taylor’s a ter aqui uma quota importante; é de resto a marca de LBV mais vendida no mundo. A exportação absorve 95% da produção. Nos outros grandes grupos notamos também que a exportação é o destino da esmagadora maioria dos LBV’s que se produzem. O quantitativo do grupo Taylor é bem significativo porque quer a Sogevinus quer a Sogrape se situam no patamar das 200 000 garrafas/ano nas várias marcas que detêm e o grupo Symington anda pelo milhão de garrafas de LBV.

Os dados do IVDP confirmam que tem havido um crescimento do quantitativo de vinho certificado nesta categoria; é verdade que 2020 foi um ano atípico mas de 2017 a 2019 o crescimento teve algum significado e a quota do mercado interno também tem subido com consistência, situando-se nos 14% dos vinhos do Porto comercializados.

Late Bottled VintageUma história com estórias

A ideia de fazer um vinho que tivesse um estilo próximo do Vintage terá surgido no pós-guerra, quando era difícil vender vinho, o poder de compra era fraco, as exportações diminutas e o clima económico muito retraído. A aposta foi então criar um vinho que pudesse ter edição anual (ou quase) e que fosse mais competitivo em termos de preço. Ora, quando a legislação saiu, como dissemos em 1973, foi possível, dada a conta corrente que o IVDP dispunha de todos os stocks das firmas, autorizar na categoria LBV vinhos que por uma qualquer razão estivessem engarrafados e que cumprissem o requisito do “entre o 4º e o 6º ano”. É por essa razão que a Ramos Pinto tem um LBV dos anos 20, quando na altura a categoria nem sequer existia e a Burmester tem também um LBV de 1964. Aos poucos todas as casas foram percebendo que este era um negócio interessante porque não obrigava a tanto tempo de stock como os tawnies com indicação de idade e por isso havia um retorno mais célere do investimento. Hoje quase todos os produtores, grandes e pequenos, apostam nesta categoria embora, como é normal, as excepções também existam, como é o caso da marca Pintas, que não contempla a categoria LBV.

Em relação ao LBV 1964 da Burmester há uma pequena história curiosa: num curso de iniciação à prova de vinho do Porto, fiz questão de levar este LBV para as provas, um pouco para demonstrar que este não era o tipo de vinho mais aconselhável se queríamos conservar em cave por muitos anos. A minha ideia saiu furada porque, apesar de apresentar uma concentração muito ligeira e na cor ser apenas um “rosé um pouco mais carregado”, o que é certo é que, aromaticamente, estava tão bom que foi o Porto que os alunos mais apreciaram. Temos então como ideia a reter: a guarda é possível e em muitos casos desejável. Tudo com pouco investimento inicial, o que é factor a ter em linha de conta.

Neste momento existem já muitos vinhos da colheita de 2016 (os tais 4 anos a que a lei obriga) mas em prova tivemos igualmente muitos de 2015 (pode especular-se que por diminuição de vendas em 2020 e por isso os 2016 ainda não estão no mercado) e também de 2013. Segundo fonte do IVDP, destas três colheitas e até Dezembro de 2020 estão aprovados 79 rótulos para LBV. Seguramente que no final das contas este número subirá, e muito.

Late Bottled VintageOs destinos e a falta deles

Na resposta a esta pergunta temos um primeiro destinatário óbvio: o Reino Unido e, crescentemente, os Estados Unidos. Os portugueses ficam com uma quota de 14% do que se produz mas canadianos e dinamarqueses são também bons consumidores; são mercados seguros que não têm as mesmas oscilações que os mercados emergentes podem ter, como a Rússia, a China e em geral o Extremo Oriente. Os ingleses sempre tiveram uma atitude cerimoniosa com o Porto Vintage e o LBV procura dessacralizar o consumo e torná-lo mais despreocupado e possível em qualquer momento e não apenas a acompanhar o queijo Stilton.

Por cá não fazemos bem o trabalho que nos competia. A restauração não inclui por norma o Porto nos menus degustação e, mesmo que fosse um “mimo do Chefe”, tudo se teria a ganhar em oferecer um Porto no final da refeição mesmo que não tenha sido pedido e não seja incluído na conta. É uma forma barata de segurar a clientela e fazê-la voltar. Mas as empresas também pouco fazem pelo vinho e as promoções incidem sobre tawnies correntes que podem vender muito mas não acrescentam valor e não são atractivos para camadas mais jovens. Na própria região do Douro é lamentável o que se serve de Porto na restauração e como se serve. As poucas excepções não ajudam a melhorar o panorama geral que é muito desolador. Sabendo-se que um LBV se manterá de boa saúde cerca de um mês após a abertura, não há desculpas para não ser mais usado como complemento da refeição.

Que farei eu com este vinho?

É perante a prova que podemos decidir o que fazer com o vinho. Alguns dos mais vigorosos – como os que classifiquei com notas mais elevadas – podem ter uma dupla forma de consumo. A mais evidente é com o queijo seco no final da refeição. A tradição sugere o Stilton, queijo azul de leite de vaca, e os britânicos do sector do Vinho do Porto também seguem o mesmo padrão, a ver pela sobremesa que habitualmente se serve na Feitoria Inglesa, no Porto. É uma ligação feliz mas que pode ser usada em relação a outros queijos, sempre no registo de queijo seco. E se se quiser manter o queijo inglês, um bom Cheddar (não confundir com as versões baratas de supermercado de bairro) pode também ser perfeito companheiro, tal como será um queijo holandês Gouda Velho de 1000 dias de cura (Corte Inglés, Lisboa) e, claro, os nossos bons queijos secos, desde o Terrincho ao Serra muito curado. Uma proposta mais ousada – já tentada e comprovada – é a ligação destes LBV jovens e taninosos com um steak au poivre; a ligação espúria entre carne e um vinho doce pode ser ultrapassada porque a enorme quantidade de pimenta que o bife leva não facilita a ligação com qualquer outro tipo de vinho.

Num registo de sobremesas doces, a ligação pode ser feita com tartes de frutos vermelhos ou negros, gelados que sejam acompanhados de compotas de ameixas, mirtilos ou outros. E, claro, chocolate. Em qualquer caso o LBV, com a polivalência que apresenta, é sempre uma grande aposta a um preço muito interessante.

(Artigo publicado na edição de Janeiro 2021)

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Ramos Pinto lança o seu Late Bottled Vintage 2015

Proveniente da Quinta de Ervamoira e da Quinta do Bom Retiro, o Ramos Pinto Late Bottled Vintage 2015 acaba de sair para o mercado, depois de estagiar em balseiros de 15 mil litros, em Vila Nova de Gaia.  “As uvas provenientes das nossas Quintas de Ervamoira e do Bom Retiro são vindimadas manualmente e pisadas […]

Proveniente da Quinta de Ervamoira e da Quinta do Bom Retiro, o Ramos Pinto Late Bottled Vintage 2015 acaba de sair para o mercado, depois de estagiar em balseiros de 15 mil litros, em Vila Nova de Gaia. 

“As uvas provenientes das nossas Quintas de Ervamoira e do Bom Retiro são vindimadas manualmente e pisadas a pé em lagar. A fermentação dura entre 3 a 5 dias, produzindo um vinho com excelente extracto e concentração. O blend do LBV 2015 foi feito em Maio de 2019 e o enchimento em Outubro do mesmo ano”, explica a Ramos Pinto em comunicado.

Ana Rosas, Master Blender da Ramos Pinto, refere que este LBV 2015 “revela boa concentração de cor, um ruby vivo, opaco e muito denso com aromas frescos de morango, framboesa e cereja vermelha bem combinados com notas de lavanda e apontamentos de cravinho”.

O Ramos Pinto LBV 2015 tem um p.v.p. de €19,90.

Graham’s completa 200 anos e lança LBV comemorativo

O ano de 2020 é de grande celebração para a casa de vinho do Porto Graham’s, do grupo Symington Family Estates, pois é o ano em que celebra o seu bicentenário. Toda a história e sucesso desta casa foram agora engarrafados em forma de Porto LBV, de 2015, para assinalar estes 200 anos. Este Late […]

O ano de 2020 é de grande celebração para a casa de vinho do Porto Graham’s, do grupo Symington Family Estates, pois é o ano em que celebra o seu bicentenário. Toda a história e sucesso desta casa foram agora engarrafados em forma de Porto LBV, de 2015, para assinalar estes 200 anos. Este Late Bottled Vintage é uma edição especial, produzido a partir de uvas das quatro quintas da casa, situadas em diversos locais do Douro: Quinta dos Malvedos, Quinta do Tua, Quinta da Vila Velha e Quinta do Vale de Malhadas. Com um packaging especial e distintivo, diferente do habitual, este Porto é também uma forma de homenagear o momento da fundação da Graham’s, que aconteceu em 1820 pelas mãos dos irmãos escoceses William e John Graham. A Symington Family Estates pegou nesse legado em 1970, quando adquiriu a casa.

Em comunicado, a Syminton Family Estates explica: “As garrafas do LBV 2015 estão guardadas em tubos, disponíveis em três cores marcantes: vermelho escuro, azul royal e ocre. Os tubos foram desenvolvidos recorrendo a papel marmorizado artesanal, refletindo o ofício e a capacidade da marca de prestar atenção aos detalhes. Ao mesmo tempo, baseiam-se na herança familiar em honrar a arte e habilidade de produzir vinhos do Porto de qualidade de uma forma consistente. Com o objetivo de evocar as memórias das ruas da cidade do Porto, as etiquetas frontal e traseira são estampadas com uma combinação das varandas de ferro forjado da Invicta e dos azulejos tradicionais portugueses. O projeto foi desenvolvido pelos membros da quinta geração da família Vicky e Charlotte Symington e coordenado pela designer da empresa Alexandra Sousa Ribeiro”.

Johnny Symington, administrador, confessa que “enquanto empresa familiar, este é um momento importante para a casa e uma oportunidade para refletirmos nas gerações anteriores, respeitando o nosso passado e com olhos postos no futuro”. Já Vicky Symington, Brand Marketing Manager da Graham’s acrescenta: “Faço parte da nossa empresa familiar ainda há pouco tempo e foi um privilégio ter trabalhado nesta edição comemorativa. O meu trisavô Andrew James Symington veio para Portugal em 1882 e começou a sua carreira no negócio do Vinho do Porto na Graham’s, sendo que, duas gerações mais tarde, o meu avô e os seus primos adquiriam a marca. Assim, a Graham’s tem um significado muito especial para nós, representando o fecho de um ciclo marcante na história da nossa família”.