Peter Eckert: o autodidata da Quinta da Marias

Peter Eckert

Peter Eckert veio pela primeira vez a Portugal de férias, logo a seguir ao 25 de Abril, quando a Revolução dos Cravos ainda se fazia sentir nos rostos dos portugueses. Gostou tanto que quis voltar, o que fez em trabalho, quando veio gerir a Companhia de Seguros Metrópole, hoje Zurique, no nosso país. Oito anos […]

Peter Eckert veio pela primeira vez a Portugal de férias, logo a seguir ao 25 de Abril, quando a Revolução dos Cravos ainda se fazia sentir nos rostos dos portugueses. Gostou tanto que quis voltar, o que fez em trabalho, quando veio gerir a Companhia de Seguros Metrópole, hoje Zurique, no nosso país. Oito anos de trabalho intenso, que o levaram aos quatro cantos do país, reforçaram as suas ligações ao território e às suas pessoas. De tal forma que decidiu investir num terreno na região do Dão, onde pretendia passar a reforma com sua mulher Elisabeth. Pelo menos parcialmente, já que hoje, 15 anos depois de se ter jubilado da sua companhia, reparte o seu tempo entre a Suíça e a casa beirã onde possui 12 hectares de vinha. Ela estava lá, abandonada, quando comprou a primeira parcela de terra. Talvez por isso tenha decidido substituí-la por uma vinha nova, naquela altura com dois hectares, e começar a produzir vinho. Com muito experimentalismo à mistura, alguns erros pelo meio e muito estudo em livros da especialidade, o proprietário da Quinta das Marias foi produzindo vinhos com qualidade crescente, até se tornar uma referência incontornável entre os vinhos do Dão. O seu Touriga Nacional é, talvez, o melhor exemplo disso. Mais recentemente, a entrada do enólogo Luís Lopes, o actual responsável pela produção de todos os vinhos desta casa, veio acrescentar um toque ainda mais experimentalista, naquilo que tem sido a essência e, talvez, a principal razão do sucesso desta empresa familiar.

Peter Eckert
Peter Eckert com a companheira Elisabeth.

Tudo começou na Índia

Peter Eckert nasceu em Fevereiro de 1945 em Berna, na Suíça, “no mesmo sítio e ano do nascimento de D. Duarte, o duque de Bragança”, como gosta de salientar. Trabalhou durante muitos anos na companhia de seguros Zurique, para onde veio como gestor em 1980, quando ainda se chamava Metrópole em Portugal. Mas conta que a primeira vez que ouviu falar do nosso país foi há muito mais anos.
Aconteceu em 1967, quando fez uma viagem entre a Suíça e a Índia num Citroen 2CV, atravessando a Turquia, Irão e Afeganistão antes de entrar na Índia pelo Nepal. Depois percorreu o país até ao sul, onde se cruzou com um padre, de que não se lembra o nome, que o incentivou a rumar a Goa, “por ser um lugar fantástico”. E foi o que fez.
Depois de ter entrado na cidade pelo sul, esteve por lá durante duas semanas a conhecer as suas pessoas e recantos antes de reiniciar a viagem. Durante esse tempo foi, entre outras coisas, convidado por locais para frequentar o Clube Vasco da Gama, onde lhe contaram como era a vida no tempo em que Goa ainda era portuguesa e ouviu pela primeira vez cantar fado. “Naquela altura, as pessoas de lá ainda viviam como se o território pertencesse a Portugal, apesar de isso não acontecer, e algumas diziam-me que o seu único sonho era visitar Lisboa”, conta. Diz, também, que foi durante esse período que se interrogou, pela primeira vez, como é que um país tão pequeno como Portugal, com uma população mais ou menos semelhante à da Suíça, deixara marcas tão profundas em Goa, que as pessoas até falavam de forma completamente diferente do resto dos indianos. Foi algo que o deixou curioso, e com vontade de conhecer Portugal, que visitaria apenas em 1974 pela primeira vez. Dessa altura, quando tinha acabado de acontecer a Revolução dos Cravos, Peter Eckert lembra-se “da alegria das pessoas por se sentirem livres”, e nunca esqueceu a canção Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso, talvez por a ter escutado tantas vezes.

O início da história no Dão

Em 1980 veio para Portugal gerir a seguradora Metrópole e diz que aproveitou bem a estada de oito anos no país. “Fiz mais de 60 mil quilómetros nas estradas portuguesas para visitar os agentes da empresa”, revela, explicando que “é importante fazê-lo, porque são eles que vendem e distribuem os seguros”. Acrescenta que gostou muito, e ainda gosta, de viver em Portugal, onde construiu amizades que ainda perduram. De tal forma que pediu ao delegado da Metrópole em Viseu, quando foi transferido para a Austrália, para lhe procurar um terreno na região para passar a sua reforma.
Alguns anos depois, quando voltou à Suíça para ocupar um lugar na Direção Geral do Grupo Zurique, perguntou-lhe se tinha encontrado alguma propriedade. E ele respondeu-lhe que tinha uma pequena quinta para ele, cujo terreno e a casa estavam abandonados. A aquisição deu início à história da produção de vinhos de Peter Eckert no Dão, naquela que se tornou a Quinta das Marias, por ser o nome comum da mulher Elisabeth e das suas filhas Ester, Isabel e Julia.
A propriedade estava abandonada e era preciso remover a vegetação que a cobria e lavrar a terra. Por isso, a primeira coisa que fez foi comprar um tractor. Mas precisava que alguém o conduzisse. Após algum tempo, encontrou quem o fizesse na junta de freguesia local, António Lopes. E foi ele que realizou os trabalhos de surriba para a plantação da vinha da Quinta das Marias, que deu origem às primeiras uvas dois anos depois. “Foi nessa altura que construi a primeira adega, aquela onde fica hoje o enoturismo, que tinha uma cave onde ficavam os lagares e as cubas de inox”, conta Peter Eckert, que vivia na altura na Suíça, onde trabalhou até 2007, ano em que se reformou. Hoje todos os trabalhos de vinificação, estágio e engarrafamento são feitos numa outra, a pequena distância deste edifício. Naquela altura o gestor vinha a Portugal sobretudo durante as férias, com a família, deixando os cuidados das vinhas a António Lopes, e a supervisão da evolução dos vinhos ao enólogo António Narciso.

Os primeiros destaques

No ano em que se reformou, quando decorreu uma prova de vinhos do Dão em Lisboa, decidiu estar presente, com a sua mulher, a representar a sua casa. Era a primeira vez que o fazia e, por isso, estranhou que a sua mesa fosse frequentada por muito mais pessoas do que as suas vizinhas. Depois soube que o director de uma das revistas da especialidade tinha indicado, a sua mesa, como aquela onde se encontrava o melhor Touriga Nacional do Dão. “Isso deu-nos um grande empurrão, até porque a seguir fomos a Descoberta do Ano da revista e muita gente começou a falar da Quinta das Marias, aumentando o interesse do público pelos nossos vinhos”, diz. Outro contributo, este para o seu sucesso na Suíça, foi um artigo publicado por um jornalista do país num dos principais jornais de Zurique, o Tages-Anzeiger, que o destacou também a seguir ao prémio atribuído, no Concurso organizado pela ViniPortugal, em 2014, para o seu monocasta de Touriga Nacional Reserva de 2011. “Fiquei muito surpreendido, porque nunca tinha esperado uma coisa destas na minha vida”, diz, com convicção, salientando que este prémio contribuiu para que tenha hoje sempre a sala cheia quando faz uma apresentação dos seus vinhos no seu país.
Quando começou a sua aventura no Dão não percebia nada sobre a cultura da vinha e a produção de vinho. E, por isso, acreditou naquilo que os vizinhos lhe contaram, “que toda a gente da região sabia fazer vinho” e pôs mãos à obra. Só que se esqueceu de perguntar “qual era o vinho?” e o resultado do primeiro empreendimento “foi um carrascão terrível, muito mau, com muita acidez”. Então, decidiu aprender a fazer estudando e experimentando. Comprou muitos livros sobre o tema, leu-os, e foi aprendendo também com as conversas que ia tendo com António Narciso, então um jovem enólogo da Adega Cooperativa de Nelas. Numa delas “disse-lhe que iria fazer os vinhos como queria, porque pretendia experimentar, mesmo que ele não estivesse de acordo com isso, e que não o iria responsabilizar se as coisas corressem mal”. E foi assim que foi fazendo os seus vinhos durante muitos anos, sozinho, com o apoio de António Narciso.

Tintos famosos na Suíça

António Lopes tratava da terra, cuja área foi crescendo à medida que o suíço ia comprando mais terrenos à volta dos quatro primeiros hectares, que se transformaram em 12. A vinha, essa, foi plantada entre 1991, a mais velha, e 2006, a mais recente. Na pequena parcela inicial plantou Encruzado, Malvasia Fina, Bical e Cerceal-Branco. Também plantou Touriga Nacional, que hoje representa cerca de 60% do encepamento, Alfrocheiro, Jaen e Tinta Pinheira, que arrancou cinco anos mais tarde, “porque dava muito mosto e originava vinho de fraca qualidade”. Para a substituir, escolheu Tinta Roriz.
Das 60.000 garrafas produzidas anualmente, a Quinta das Marias vende hoje cerca de 40% em Portugal, sobretudo em Lisboa e na região onde está sediada. Outros 30% vão para o mercado suíço e o remanescente para a Bélgica, Canadá, Macau. “Vendia um pouco também para o Brasil, mas cortei por causa da instabilidade do país”, diz. Conta também que as vendas para o seu país começaram através dos seus conhecimentos pessoais e que hoje referências como o Cuvée TT e monocasta Touriga Nacional são um sucesso naquele mercado.
Desde o início, Peter Eckert diz que procurou produzir apenas vinhos de segmento superior, o que se reflecte nos preços de venda à porta da adega. Os mais baratos, o monocasta de Encruzado e o tinto de lote, custam 10 euros, enquanto o Crudos, “um vinho feito com base numa filosofia diferente”, custa 30. “Para além do tinto de lote, um vinho típico do Dão, tinha os monocastas de Alfrocheiro, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Cuvée TT. De vez em quando fazia um Garrafeira”, conta.
Hoje, quando passa metade do tempo na Suíça e outra metade em Portugal, confia todo o aparelho produtivo à sua equipa de cinco pessoas, entre eles Luís Lopes, o enólogo residente, e Victor, o filho de António Lopes, que é hoje responsável pela produção. Para si deixou a visita a clientes e distribuidores e o marketing da empresa. Já a caminho dos 80, mantém o entusiasmo da primeira hora: “Quero ficar aqui, a fazer vinho no Dão, por muito mais tempo…”, remata com um sorriso.

 

Peter Eckert

Um desafio para Luís Lopes

A trabalhar na Quinta das Marias desde 2018, Luís Lopes conta à Grandes Escolhas que foi com muito respeito por todo o trabalho até aí realizado que aceitou o desafio de Peter Eckert para trazer uma nova visão enológica para a empresa. Após provar todas as referências, fez uma proposta com o que sugeria manter e o que achava se podia fazer de diferente. Foram assim mantidos os monocasta Encruzado e Touriga, os vinhos de maior sucesso da casa, tal como o Cuvée TT e o Alfrocheiro. Depois foi criada a linha Out of The Bottle, que permite, ao enólogo, experimentar e fazer um estudo mais aprofundado sobre as variedades plantadas na vinha. Também para Luís Lopes, o factor que diferencia uma casa pequena e familiar como a Quinta das Marias é a qualidade. “Mas não pode ser excessivamente padronizada, porque há pequenas variações nos vinhos conforme decorrem os anos, mas também na maneira como os pensamos e fazemos”, explica, defendendo que “até é bom que haja alguma variação”. Nas duas gamas que esta casa comercializa, o Quinta das Marias é mais consistente no perfil, depende do clima de cada ano. A Out of The Bottle muda um pouco mais, porque resulta de ensaios que faz e considera importante comunicar. Diz que gosta de os explicar, “de escutar as críticas”, para que quem os aprecia conheça qual é o processo criativo e de aprendizagem que lhes dá origem.

 

 

(Artigo publicado na edição de Abril de 2023)

Quinta das Marias Dão com estilo desde 1991

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Peter Eckert é suíço e fez carreira em Portugal, no sector dos seguros. Quando pensou reformar-se optou pela compra de uma pequena propriedade no Dão, em Oliveira do Conde, perto de Carregal do Sal. Nunca se arrependeu da decisão e dos 2 hectares iniciais chegou aos 12. Hoje passa mais tempo entre nós do que na terra natal.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Anabela Trindade[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Todos sabemos que nem sempre é fácil ser estrangeiro em terras do interior, mas também já aprendemos que a maior ou menor receptividade depende muito da atitude de quem vem de fora. Peter, com uma simpatia muito contagiante, não teve problemas, “gosto das pessoas e nunca senti qualquer animosidade, sempre me receberam muito bem; estou muito contente por estar aqui e sinto-me em família”. Isso mesmo foi evidente quando fomos almoçar a um pequeno restaurante não muito longe de Oliveira do Conde: recebido como cliente habitual, com a simpatia das gentes do interior, Peter retribui com aquele sentimento do “somos todos cá da terra”, a mesma terra que teve Aristides de Sousa Mendes como figura emblemática.

Passaram 12 anos desde a minha primeira visita à Quinta das Marias. Na altura foi em época de vindima e, se agora voltasse no mesmo período, muito provavelmente iria encontrar os mesmos personagens, amigos suíços que fazem questão de voltar sempre para a vindima. E o médico ginecologista que então me recebeu poderá estar lá de novo que, diz Peter, “faz questão de ser ele a limpar a prensa”. Por aqui é assim, há amigos, há cumplicidades que se prolongam no tempo e há também a boa colaboração de Luis Lopes, enólogo, que após deixar a Quinta da Pellada assumiu a enologia desta propriedade. Vizinhos são também quintas conhecidas: Quinta Mendes Pereira, Magnum Carlos Lucas e União Comercial da Beira.

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Aquando da visita, em fins de Junho, a vinha estava o que se pode chamar um “mimo”: verdejante, bem tratada, com boa carga de uvas, já com os excessos de folhagem cortados e sem sinais de problemas fitossanitários. Mas Peter e Luis sabem que é cedo para grandes conclusões; é preciso esperar, estar atento, acompanhar e, se for caso disso, intervir. Em frente ao portão principal da quinta, onde entre várias bandeiras hasteadas lá está também a da Suíça, fica uma propriedade que Peter adquiriu e onde tem sobretudo o Encruzado plantado. Conta-nos: “quando comecei, apesar de serem só 2 hectares, a CVR obrigou-me a plantar quatro castas brancas e quatro tintas, mas quando essa obrigatoriedade acabou fiquei só com Encruzado.” É verdade, mas não totalmente porque à volta da vinha de Encruzado que fica do lado de lá da rua, existem várias parcelas “alugadas” a um vizinho em regime de comodato, ou seja, o proprietário mantém a posse da terra, Peter não paga nada pelo aluguer e o proprietário se quiser e quando quiser pode vender a parcela. A vantagem é que tem a terra tratada em vez de abandonada. Aí, nessa vinha, Peter e Luis levaram a cabo um programa de re-enxertia por borbulha (aproveitando a cepa original e o competente sistema radicular) tendo então plantado Uva Cão, Barcelo, Bical e Gouveio.

E, do que plantou no início, concluiu que aquelas não eram terras para  a Tinta Pinheira, “não dava nada, nem sequer cor ou aroma, só líquido” mas, ao contrário da ideia que Luis Lopes trazia da Pellada, a Roriz, de que Peter gosta bastante, dá-se aqui muito bem; Luis conclui que foi uma boa surpresa porque “a Roriz aqui não tem os taninos perros que tinha na Pellada”, e entra por isso sempre na Cuvée TT. Num ponto estão ambos de acordo: aqui é terra de Alfrocheiro, uma casta e tanto, que desde o primeiro momento – as primeiras plantações datam de 1991 – nunca foi uma decepção. Já as alterações climáticas e o aumento previsível da temperatura não auguram nada de bom nem para a Jaen (de que ambos são grandes adeptos) nem para a Bical. É provável que no futuro se tenham de fazer mudanças de castas.

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Uma vertical de Touriga Nacional

Na visita à Quinta das Marias, escolhi alguns vinhos para fazer uma prova mais alargada. Peter optou pela Touriga Nacional, mas foi evidente, ao longo de toda a visita, que a Alfrocheiro é também uva da sua eleição e que, contrariando o que por vezes se ouve dizer, também nunca teve nada contra a Tinta Roriz. A prova de 7 vinhos de Touriga Nacional da Quinta das Marias revela que aqui a casta conserva as suas boas características, mesmo em anos diferentes, e a qualidade é também muito consistente. Iniciámos a avaliação pelo Touriga de 2002, evoluído na cor mas muito fino e elegante, um verdadeiro prazer (17,5);  o 2005, mais jovem de aroma, mantém as notas de fruta em calda, com muita expressão e delicadeza apesar da boa garra (17,5); ainda cheio de cor mostrou-se o 2008, combinando as notas florais da Touriga com um toque vegetal de Alfrocheiro (tem 5% desta casta), intensamente gastronómico (17,5); o 2011 é o que mais se evidencia no momento, vigoroso, complexo e rico (18); muito jovem ainda, o 2014 conjuga o floral elegante, com um tom mais sério dado por taninos finos mas bem presentes (17,5); o 2015, afina pelo mesmo diapasão, fino mas estruturado e cheio de classe (17,5). Publicada à parte nestas páginas, a prova do 2016, agora no mercado, e que confirma a enorme consistência dos Touriga da Quinta das Marias.

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Na Primavera passada estiveram aqui durante três dias o casal Claude e Lydia Bourguignon, verdadeiros gurus da viticultura e especialistas dos solos, conselheiros de múltiplos produtores em todo o mundo. Vieram analisar o solo, perceber a relação entre os vários tipos de solo e os porta-enxertos usados, dar, em função disso, conselhos sobre podas e nutrição dos terrenos. Para isso fizerem doze buracos no terreno, espalhados em várias zonas da propriedade, em geral com 1,5 m de profundidade e depois da análise muito minuciosa de cada um foram feitas sugestões sobre o que fazer e o que mudar. Sobre as castas plantadas “não quiseram dar opinião, mas gostaram muito dos vinhos”, diz Peter, sobretudo Encruzado, Alfrocheiro e Touriga Nacional. Disseram que a terra era de grande qualidade para plantar vinha, mas que tinha muita areia na primeira parte do solo. Há também alguns problemas de excesso de humidade, e por isso aqui a vinha é de sequeiro. Diz-nos Luis, “temos em solos húmidos problemas de armilária, que é um fungo parasitário do carvalho que ficou na terra; nesses solos algumas cepas morreram e outras originam pouca produção. Há compensações a fazer e há erros que não se devem cometer, é para isso que serve um profundo conhecimento do solo que temos à disposição”.

A experiência foi boa conselheira e assim Peter, ao decidir ficar apenas com o Encruzado, arrancou o Borrado das Moscas (Bical), Malvasia Fina e Cercial. Curiosamente, voltou ao Bical nas re-enxertias do comodato. Nessa vinha havia castas como Semillon e Assaraky, um híbrido feito em Portugal de cruzamento de Assario com Sarak, uma casta que veio da Casa da Ínsua. Diz-nos Luis que “temos Uva Cão do Centro Estudos de Nelas e da Quinta da Passarela. Terrantez não plantámos porque não consegui arranjar varas. Falta-nos a Douradinha que é casta antiga e muito ácida que merece ser plantada”. Da vinha do comodato será posteriormente tirada a Tinta Roriz que lá está e em cujos pés se fez a enxertia. As varas de Touriga Nacional vieram também do Centro de Estudos de Nelas mas, como que a confirmar a tese clássica, “os resultados são muito diferentes conforme a localização e orientação da parcela e, claro, em função do subsolo”, lembra Peter. Se voltássemos aos anos 90, era seguro que as vindimas dos tintos só começavam depois de 5 de Outubro mas “actualmente começamos entre 20 e 25 de Setembro”. Coisas do clima, como é evidente. A produção ronda as 60.000 garrafas, das quais 40% se destinam ao mercado interno e o resto é exportado, sobretudo para o Canadá, Brasil e Macau.

[/vc_column_text][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”40686,40687,40688,40689,40690″ bullet_navigation_style=”see_through” onclick=”link_no”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]O estudo e a atenção

Segundo Peter Eckert, quando na Suíça perguntava a opinião sobre os vinhos portugueses, ouvia invariavelmente que faltava consistência de qualidade e oferta no mercado para o consumidor. Foi nesses dois pontos – qualidade e consistência – que procurou pegar para alterar essa imagem. A prova dos Touriga Nacional que fizemos mostra exactamente essa consistência. Mas isso não surge por acaso: a produção de vinho exige alguns cuidados que Peter faz questão de salientar: a higiene é factor primordial em todos os trabalhos ao longo do ano, a atenção a todos os pormenores exige estar sempre em cima do acontecimento, há que manter uma atitude de estudo e curiosidade sobre o que se passa. O enólogo afirma mesmo que “Peter é estudioso e está sempre interessado nas coisas que lhe digo e ele vai informar-se sobre qualquer assunto e, quando voltamos a falar, ele já sabe muito sobre a matéria”, por isso sente-se habilitado para todas as tarefas da adega.

A vinda de Luis Lopes pode também levar à procura de novos vinhos e novas experiências, como Peter refere: “quero conciliar a linha de continuidade com a produção anterior, mas vamos ter projectos que o Luis vai assumir com ensaios e coisas novas que podemos experimentar”. Coisas novas, lembra Luis, como por exemplo o uso de extracto de grainha como substituto do sulfuroso; “já usámos e vamos agora engarrafar o ensaio a ver como se comporta na garrafa; para já, não ganhou acidez volátil nem brett (fenóis voláteis) o que é bom sinal. Mas vamos ver e vamos aprender”. Peter e Luis afinam claramente pelo mesmo padrão, procurando manter um estilo e um histórico, mas sem enjeitar experimentação e novidades. 27 anos depois do seu nascimento, a Quinta das Marias continua em grande no Dão.

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”VINHOS EM PROVA”][divider line_type=”No Line” custom_height=”30″][vc_column_text]

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Edição Nº28, Agosto 2019

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Recantos do Dão

Há tanta coisa, e sempre tão diferente, para descobrir no Dão que cada incursão tem o sabor de uma aventura única. Desta vez, em três saborosas paragens, confirmamos toda a sedução de uma terra dura no contacto, mas generosa nas dádivas. Vinho e muito mais, de Carregal do Sal a Mortágua, passando por Viseu. TEXTO […]

Há tanta coisa, e sempre tão diferente, para descobrir no Dão que cada incursão tem o sabor de uma aventura única. Desta vez, em três saborosas paragens, confirmamos toda a sedução de uma terra dura no contacto, mas generosa nas dádivas. Vinho e muito mais, de Carregal do Sal a Mortágua, passando por Viseu.

TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Palma Veiga

Imaginemos um território de forma quase oval, um planalto delimitado por um anel de serras (Buçaco, Caramulo e Arada, a Oeste; Montemuro, Leomil e Lapa, a Norte; Estrela, a Sudeste; Açor, a Sul) e escavado por rios que correm de Nordeste para Sudoeste (Mondego, Dão e Alva, todos tributários da barragem da Aguieira) ou, na metade setentrional da região, de Leste para Oeste (Paiva e Vouga). Parece a descrição de uma fortaleza inexpugnável, mas esta é uma cidadela de portas abertas.
Resguardado da influência atlântica, o Dão é terra de meteorologia severa, com verões quentes e invernos frios, pedra de toque para gentes rijas e vinhos soberbos. Esta foi a segunda região demarcada de Portugal, em 1908 – e a primeira de vinhos não generosos, já que a do Douro foi criada para regulamentar o Vinho do Porto. Durante décadas, os vinhos do Dão, criados em planaltos e encostas invariavelmente enquadrados por floresta, estiveram no topo do prestígio nacional. Depois, perderam identidade, viram outras regiões conquistar protagonismo. Mas a chama nunca se apagou e os tempos mais recentes mostram uma região apostada em recuperar a alma e o prestígio.
Com uma gastronomia bem própria, abundante património histórico e uma paisagem cheia de contrastes e recantos mágicos, a “fortaleza” do Centro de Portugal está à espera de quem queira descobrir os seus encantos. E, numa altura em que o calor volta a apertar e ainda temos bem vivo na memória o horror dos fogos florestais, visitar esta região é também prestar um tributo solidário às suas gentes.

Oliveira do Conde é uma freguesia do concelho de Carregal do Sal com pouco mais de três mil habitantes, mas uma história pelo menos tão antiga quanto Portugal – recebeu foral de D. Dinis em 1286 – e uma série de edifícios que falam desse passado distinto. E é também terra de vinhos, com vários produtores ali sediados. Um deles é a Quinta das Marias, que resulta de um trajecto inverso ao que levou o nome do país aos quatro cantos do globo: aqui, a obra foi feita por um imigrante.
Peter Eckert, suíço, adquiriu a propriedade em 1991, então uns meros quatro hectares, dois dos quais de vinha, completamente ao abandono. A pouco e pouco, foi juntando parcelas ao seu núcleo original e neste momento são já 16 hectares de área total, com 12 de vinha. A primeira adega nasceu em 1995, a segunda foi inaugurada já no século XXI. Ficam uma de cada lado do terreiro de entrada, onde três mastros exibem as bandeiras de Portugal, da Suíça e de Oliveira do Conde. Uma tradição de sempre, aqui.
Um passeio pelas vinhas permite perceber como cada parcela tem características muito próprias – e essa é a inspiração para os vinhos da casa, sempre definidos tendo por base as uvas de cada parcela, que são vindimadas e vinificadas em separado, antes das decisões na adega. Há oliveiras e pinheiros sempre em linha de vista e lá ao fundo a surpresa de encontrar as ruínas de um antigo lagar, com as bacias em granito, as mós e os apoios das varas resistindo ao passar dos anos. O plano é transformar este local numa sala de provas. Promete.
O granito volta a surgir-nos nos lagares do edifício da adega original, hoje reservada para zona de estágio dos tintos e sala de barricas – a vinificação é feita ali em frente na adega mais recente, onde se organiza também o armazém, rotulagem e o espaço de loja para quem desejar adquirir os vinhos localmente. Mas é do outro lado que nos sentamos (ao balcão!) para provar os vinhos e ouvir as suas histórias.
Cá fora, à saída, procura-se uma sombra para o derradeiro relance pela paisagem. Estamos num planalto, a cerca de 300 metros de altitude, com o Mondego a correr a Sul e o Dão a Norte. No horizonte perfilam-se algumas das serras que vigiam este território: Açor, Gardunha, Estrela. Com um bocadinho de esforço, podemos perceber o volume cilíndrico da construção no alto da Torre. Quando há neve, funciona como um verdadeiro farol.

QUINTA DAS MARIAS
R. Portela, 34, Oliveira do Conde, 3430-364 Carregal do Sal
Tel: 935 807 031 / 964 828 669
Mail: eckert@sapo.pt / quintadasmarias@icloud.com
Web: www.quintadasmarias.com
GPS: 40.442634, -7.967985
A quinta está aberta a visitas das 9h às 12h e entre as 14h e as 17h, mas a flexibilidade é a palavra de ordem. Tanto nos horários como nos preços a praticar, sob consulta e dependente do número de participantes e dos vinhos a provar. Por razões logísticas, a dimensão dos grupos está limitada a 25 pessoas. O programa normal inclui visita às vinhas e à adega, seguida de prova.

Originalidade (máx. 2): 1,5
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 3
Venda directa (máx. 3): 2
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2

AVALIAÇÃO GLOBAL: 17

Rumamos a Norte. Mas, indo nós a caminho de Viseu, havemos de parar antes de lá chegar… Junto à pequena localidade de Soutulho fica o Hotel Rural Quinta do Medronheiro, na margem oposta à do planalto de Viseu, confinando com um rio (o Pavia, afluente do Dão) que continua a lutar contra a poluição e em linha de vista com duas grandes vias rodoviárias (o IP3, em viaduto, e a A25). Pode um local tão “urbano” ser um paraíso bucólico de sossego e comunhão com a Natureza? Pode, pois. Porque houve quem soubesse criar as condições para que quem chega sinta que está a entrar num mundo diferente.
A propriedade tem 37 hectares e assenta a sua actividade em três vertentes principais: três hectares de vinha, um salão de eventos (situado no andar superior da adega, com vista panorâmica) e o hotel rural. Este acomoda 16 quartos em três edifícios contíguos, interligados por um delicioso labirinto de escadarias em pedra, canteiros ajardinados e telheiros de madeira. Ao fundo, a piscina. Lá dentro, o restaurante, que funciona apenas por marcação, para refeições e provas de vinhos.
Aqui a regra é o sossego. Sim, há bicicletas para quem queira dar uma volta e os passeios a pé são altamente recomendados, mas a ideia base é estarmos quietos. A ler, a beber um copo de vinho da casa (há tinto e dois espumantes e para breve estão prometidos um branco e um rosé, todos com enologia de Hugo Chaves), ou simplesmente a ver passar o tempo – de olhos abertos ou fechados…
Mas, por mais sedutora que seja a perspectiva de não fazer nada quando o calor aperta, há tanto para ver que seria pena não pôr os pés ao caminho. As vinhas, os jardins que ladeiam as quatro salas para casamentos e outras cerimónias, os carreiros junto aos prados e pelo meio do arvoredo (muitos medronheiros, nada comuns na região, mas que dão o nome ao local), os penedos de granito, a lagoa lá no alto, as vacas que por ali pastam e os três cavalos que passeiam pela propriedade em regime semi-selvagem.
Fomos encontrá-los junto ao rio. O Oloroso, veterano que até já deu nome a um dos vinhos da casa, a égua Violeta e o jovem Riscado pastam na zona mais fresca, junto às águas que correm por entre as pedras. Dois moinhos de água surpreendentemente bem conservados ilustram uma tradição local, mas estão desactivados e os planos de recuperação deste património ancestral esbarram na má qualidade das águas do rio. Pena, porque esta podia ser a paisagem perfeita.

HOTEL RURAL QUINTA DO MEDRONHEIRO
Quinta do Medronheiro, Soutulho, 3510-744 São Cipriano, Viseu
Tel: 232 952 300 / 968 817 437
Mail: geral@quintadomedronheiro.pt
Web: www.quintadomedronheiro.pt
GPS: 40º37’26.817’’N / 7º57’59.106’’W
O hotel funciona todos os dias do ano, com 16 quartos de diversas tipologias e preços que vão dos 80 euros (duplo standard) aos 115 euros (apartamento T1). Sob reserva, organizam-se jantares com sabores típicos da região (25 euros por pessoa, mais bebidas); as provas de vinhos, com lanche regional, custam 15 euros por pessoa.

Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2
Venda directa (máx. 3): –
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2

AVALIAÇÃO GLOBAL: 18*

* Média ponderada; a filosofia do local não contempla a existência de loja.

E, por falar em paisagem, é impossível não nos arrepiarmos com o cenário que nos espera nas margens da barragem da Aguieira. Estamos a caminho de Mortágua e as cicatrizes do horrível incêndio de Outubro do ano passado acompanham-nos durante quilómetros, arrasando tudo de alto a baixo – não fossem os rebentos espontâneos de eucalipto, que já alcançam um bom metro de altura, e poderíamos imaginar-nos nas encostas de um vulcão…
Mas o fogo não chegou às suaves encostas de vinhas que nos levam até à adega da Quinta da Giesta, da empresa Boas Quintas, onde nos aguarda uma surpresa. Entramos na sala da loja e um ecrã gigante saúda: “A BOAS QUINTAS dá as boas-vindas à Revista Vinho Grandes Escolhas; Luís Francisco e Ricardo Palma Veiga.” São uns queridos, mas claro que isto é especial para jornalistas… Mas não, não é. Sempre que possível, é uma atenção reservada a quem visita esta quinta com vista para Mortágua.
Da loja saímos para a vinha, onde pontificam as castas tradicionais do Dão (Touriga Nacional e o Encruzado à cabeça), mas também outras, incluindo os primeiros pés de Arinto de Bucelas plantados na região – influência evidente do perfil generalista do homem-forte da casa, o enólogo Nuno Cancela de Abreu, que faz vinho em quase todo o país. Aqui e ali descortinamos ninhos em madeira e também caixas para os morcegos, que são os predadores naturais da traça da videira.
Entramos pela adega, moderna e equipada para fazer face às ambições de uma empresa que aponta este ano ao milhão de garrafas. Aqui não encontramos cave de barricas (essa fica na casa de família de Nuno Cancela de Abreu, no centro de Mortágua), mas somos conduzidos ao salão onde se realizam as provas. E é por esta altura que começam as “dificuldades”…
Porque embarcamos em duas enriquecedoras experiências: O Jogo dos Aromas e O Meu Vinho. Na primeira, é preciso identificar os aromas em vários vinhos, usando, para comparar, uma caixa com 88 (!) essências diferentes e uma cábula com as famílias de fragrâncias que podemos encontrar no vinho. O segundo é mais “mãos na massa”: depois de provarmos três castas a solo (Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz), vamos compor o nosso próprio lote e engarrafá-lo. De caminho, se houver crianças no grupo, elas terão desenhado um rótulo. Isso e escrito uma carta para si próprios, que meterão numa garrafa com instruções para só a abrirem daí a cinco anos. Imaginação ao poder.

BOAS QUINTAS
R. Quinta da Gandarada, 14, 3450-335 Mortágua
Tel: 231 921 076 / 925 873 805
Mail: wines@boasquintas.com / rita.mendes@boasquintas.com
Web: www.boasquintas.com
Visitas das 10h às 12h e entre as 14h e as 18h, de segunda a sexta-feira, solicitando-se marcação antecipada com dois dias de antecedência. Visitantes sem marcação ou em horários diferentes e ao fim-de-semana ou feriados ficam sujeitos à disponibilidade da equipa. Há três níveis de prova de vinhos, com preços entre 4,5 euros e os 15 euros por pessoa. O Jogo dos Aromas fica por 20 euros por participante, com prémios por bom desempenho e prova de cinco vinhos; O Meu Vinho custa 25 euros por pessoa, incluindo prova de cinco vinhos e a garrafa criada na ocasião.

Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2

AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5ESTAÇÃO DE SERVIÇO
O Dão é uma manta de recantos e um puzzle de paisagens e experiências. Por isso, não se leve a mal que a nossa recomendação para abastecimento sólido contemple um leque vasto de boas mesas, noutras tantas localidades. E se nunca ouviu falar de lampantana, não deixe de visitar a última das propostas…
ZÉ PATACO – Rua do Comércio, 124, Canas de Senhorim; 232 671 121; restaurantezepataco@gmail.com
3 PIPOS – Rua St. Amaro, 966, Tonda, Tondela; 232 816 851; 3pipos@gmail.com
PALACE – Rua Paulo Emílio, 12, Viseu; 232 284 758; palace.viseu@gmail.com
ALDEIA SOL – Avenida do Reguengo, 281, Vila Meã, Mortágua; 231 929 127; aldeiasol@sapo.pt

Edição nº17, Setembro 2018